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O trabalho escravo no brasil: perpectivas jurídicas sobre os escravos da moda

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Academic year: 2021

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CAROLINA DEBESAITIS HOHEMBERGER

O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: PERPECTIVAS JURÍDICAS SOBRE OS ESCRAVOS DA MODA

Ijuí (RS) 2017

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CAROLINA DEBESAITIS HOHEMBERGER

O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: PERPECTIVAS JURÍDICAS SOBRE OS ESCRAVOS DA MODA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador a: MSc. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho ao meu pai Vilmar e minha mãe Silvia, por sempre me incentivarem e dedicaram o seu trabalho para investir em meu estudo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas orações feitas de pedidos e agradecimentos por toda essa jornada.

A minha orientadora Nelci por toda a sua compreensão em relação ao tema escolhido, as dicas, e a orientação maravilhosa, não poderia ter escolhido outra orientadora que me desse tanto ensinamento.

A minha amiga e minha colega Laura Marcht, que nesse momento não está no Brasil, mas sempre esteve comigo ajudando e apoiando a cada etapa da faculdade e da vida. A minha dinda Nilva, por sempre orar por tudo, sendo bom ou mau.

Agradeço a todos que sempre estiveram comigo, não só família, mas amigos que eu possa ser algum dia um orgulho para vocês. Muito Obrigada!

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“O trabalho é a melhor e a pior das coisas: a melhor, se for livre; a pior, se for escravo.”

Émile-Auguste Chartier

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RESUMO

Essa pesquisa monográfica faz uma análise do trabalho escravo no Brasil, com o seu foco principal na exploração dos bolivianos que vieram para o país e foram escravizados por muitas empresas famosas de roupa em São Paulo/SP, ficando conhecidos como “Os Escravos da Moda”. Relata-se a necessidade da coibição do trabalho escravo como garantia da dignidade da pessoa humana, princípio este perfeitamente aplicável ao direito do trabalho. Há também a análise conceitual, alterado pela Lei nº 10.803/03, o art. 149 do Código Penal, passando de trabalho escravo para trabalho análogo ao de escravo observando-se que a sua abolição ocorreu a partir da Lei Áurea. Analisando as práticas, formas e prejuízos causados aos trabalhadores na atualidade pela excessiva exploração da mão de obra pelas empresas têxteis. Nessa perspectiva, busca-se a erradicação do trabalho em condições análogas a de escravo, com ênfase ao trabalho decente, conforme a Organização Internacional do Emprego.

Palavras-Chave: Dignidade da pessoa humana. Escravos da moda. Erradicação do trabalho escravo. Trabalho escravo.

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ABSTRACT

This monographic research makes an analyses of the slave labor on Brazil with the major focus on bolivians exploitation that came to the country and have already been enslaved by many famous clothing companies in São Paulo/SP, been known as ‘’ The Fashion Slaves’’. I report the slave labor as a guarantee dignity of the human being as the principle of labor law, bringing the concept, that was changed by Law n° 10.803/03, in the art. 149 from Penal Code, in which it went from slave labor, to analogous work of the slave labor, and it abolition since the Áurea Law. Analyzing the practices, ways and damages to these workers, being exploited as hand labor of textile companies. In this perspective, we seek the solution for the eradication of work, in the form of how the Ministries of Labor and employment carry out inspection, the projects and the ones that are in progress for this struggle, in addition to decent labor, acording to International Labour Organization.

Keywords: The Fashion Slaves. Slave labor. Dignity of the human being. Eradication of slave labor

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...09

1 DO TRABALHO COMO GARANTIA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA...11

1.1 A O conceito lícito de trabalho com relação ao trabalho análogo ao de escravo...12

1.2 Evolução histórica a partir da lei áurea ...14

1.3 A dignidade humana como princípio do direito do trabalho...18

2 TRABALHO ESCRAVO NO MUNDO DA MODA ...22

2.1 Práticas de trabalho análogo ao de escravo e suas formas ...22

2.2 Prejuízos aos trabalhadores ...26

3 A FORMAS DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ...29

3.1 Formas de fiscalização pelo Ministério Público do trabalho e Ministério Trabalho e emprego ...29

3.2 Projetos e combate ao trabalho análogo ao de escravo ...32

3.3 Trabalho decente – Organização Internacional do Trabalho ...34

CONCLUSÃO ...38

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INTRODUÇÃO

O trabalho proposto sobre a temática do trabalho análogo ao de escravo é recorrente na atualidade e também em trabalhos de conclusão de curso nas mais diversas instituições de ensino, pois além de ser um assunto interessante é uma problemática pertinente no Brasil e no mundo, infelizmente.

A problemática formulada envolve o questionamento sobre os reflexos jurídicos para os empregadores que se utilizam da mão de obra em condições análogas a escrava, assim como propõe a análise do papel do Estado na erradicação do trabalho escravo no Brasil. A partir desse questionamento, tratar-se-á em especial acerca dos denominados escravos da moda, ou seja, sobre os trabalhadores que estão envolvidos diretamente com a produção de vestuário, e que se encontram vulneráveis pelo consumo no mercado da moda em São Paulo/SP.

Diante do exposto, a pesquisa propõe uma abordagem inicial sobre a conceituação do trabalho escravo, pensado a partir da abrangência de seus sentidos, do direito fundamental perante a Constituição de 1988 e de suas implicações no Direito do Trabalho, que será tratado no primeiro capítulo.

No segundo capítulo, será abordado especificadamente a prática do trabalho análogo ao de escravo, existente no mundo da moda, trazendo de forma explicativa baseado no estudo da Ação Civil Pública promovida pelo MPT, assim demonstrando os prejuízos causados aos escravizados. Todos sabemos que a prática deste é considerada crime, e neste sentido, os empregadores respondem aos processos administrativos, criminais e também trabalhistas, finalizando o capítulo com a análise acerca da implementação de novos artigos na CLT– Consolidação das Leis do Trabalho.

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O Estado, nessas relações, impõe sanções para as empresas que utilizam da mão de obra escrava, desrespeitando todas as normas e seus empregados, fazendo com que a empresa tenha a obrigação de indeniza-los, de maneira a combater o trabalho escravo e também como conforto por tudo o que não ganharam trabalhando de forma desumana.

Em decorrência da escravidão, no terceiro e último capítulo, será analisada a erradicação da escravidão em nosso país, assim como as formas de fiscalização promovidas pelo Ministério Público do Trabalho- MPT e Ministério Trabalho e Emprego– MTE. Dentre elas o recebimento de denúncias, analisando as variáveis e verificando in loco as situações. Ainda, os projetos para combate feitos no Brasil, que contam com a ajuda da Organização Internacional do Trabalho – OIT, sendo de fundamental importância para o sucesso destes projetos fiscalizatórios, que merecem destaque, entre eles o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente, originalmente desenvolvido pela OIT. E na sequência, disseminado aos estados que compõe a entidade objetivando o fortalecimento do combate à pobreza mundial e a promoção do Emprego e trabalho decente.

A promoção da erradicação do trabalho análogo à de escravo, sempre foi muito presente em nosso país, até o surgimento recente da Portaria Ministerial nº 1.129 de 2017, que trouxe drásticas mudanças em relação ao trabalho escravo.

Contudo, as ideias aqui expressas estão explanadas de forma que possam possibilitar ao leitor a compreensão da escravidão no Brasil desde o seu início até a forma como se expressa no cotidiano atual, traçando ao final as ações estatais para a erradicação desta forma de exploração da mão de obra humana, tendo em vista a garantia e a promoção da dignidade da pessoa humana através do trabalho decente.

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1 DO TRABALHO COMO GARANTIA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Nesta primeira abordagem, pode-se destacar que a dignidade da pessoa humana não é esgotável, “trata-se de um tema largamente debatido e objeto de discussão doutrinária e jurisprudencial, sendo alvo de diversos doutrinadores de renome.” (NICOLAO, 2010, p. 6). Sendo que as legislações abordadas a seguir, deixam claro, que a dignidade da pessoa humana é fundamental a todos.

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH (1948, p. 2), em seu artigo 1º, consta que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu preâmbulo, esclarece a função da nossa Constituição, que é resguardar os direitos e valores de todos, nos termos:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 1988).

Além do seu preâmbulo, a Constituição, conforme Brasil (1988) aborda em seu art. 1º, III, a dignidade da pessoa humana como um dos seus fundamentos, e ainda nos incisos II e IV, a cidadania e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Conforme Miraflia (2010, p. 9039), “Constituição desempenha papel essencial na valorização do indivíduo ao elevar os direitos do trabalhador e a dignidade da pessoa humana ao status de direitos fundamentais, constitucionalmente garantidos”. Claramente, não podendo deixar passar os direitos resguardados a valoração dos trabalhadores.

Neste sentido, o primeiro e presente capítulo, tem o objetivo de trazer, teoricamente, o sentido do trabalho, como uma forma de garantia da dignidade da pessoa humana na relação

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trabalhista, com o histórico do trabalho escravo desde a Lei Áurea até os dias atuais, descrevendo os conceitos de trabalho análogo ao escravo, como veremos a seguir.

1.1 O conceito lícito de trabalho com relação ao trabalho análogo ao de escravo

“Cada produto da criação humana envolve acúmulo de conhecimento e de práticas, e muda conforme o meio e a sociedade” (ONG REPORTER BRASIL, 2012). É com esta conceituação de trabalho, que começam a abordagem.

O conceito de trabalho é abrangente, como pode-se conceituá-lo? Há diversas maneiras de ver o sentido do trabalho, muitos veem o trabalho como uma profissão dos sonhos, que deve satisfazer – nos em nossos desejos. Outros então, somente trabalham, não porque gostam ou escolheram, mas sim, porque seria a única maneira para sustentar sua família ou de se sustentar e viver com dignidade.

O Dicionário Aurélio (2016-2017), em sua visão formal de trabalho, traz seu significado ou conceito, que vem de fazer ou preparar algo, rever ou refazer, fazer alguma tarefa, estar em funcionamento, se esforçar, ou seja, tudo isso é, o exercer alguma atividade profissional.

Para Furquim (2001, p. 223), “trabalho em sentido geral é todo esforço físico ou intelectual com o objetivo de realizar alguma coisa”, ou seja, independente do seu trabalho ou profissão, o sentido que o autor quis mostrar, é que com o esforço para a realização de alguma atividade, gere frutos para o empregador, e concomitantemente para o empregado, o remunerando.

Já a diferenciação do conceito de trabalho lícito e ilícito segundo Barros (2016, p. 164), traz que na licitude do trabalho, deve estar sempre de acordo com a lei, que independe da licitude ou ilicitude do empreendimento, já no trabalho ilícito, é prestada de forma ilícita, pois o próprio trabalho, que é o serviço, não está em conformidade com a lei, não podendo reconhecer nenhum efeito de seu contrato, entre empregador e empregado.

Diante dessas definições pode-se perceber que as relações do trabalho lícito e do ilícito, são importes para a caracterização do trabalho análogo ao de escravo. Então, sendo ele

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um trabalho ilícito, em consonância com o Direito Penal, em que fazer de uma pessoa “escravo do/em seu trabalho”, se pratica crime, o art. 149 da Lei nº 2.848/40 (Código Penal), redação dada pela Lei nº 10.803/03, abrange este crime e o conceito legal:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:

I - contra criança ou adolescente;

II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (BRASIL, 2003, grifo nosso).

Entrando no conceito de trabalho escravo, o Repórter Brasil (2012), trouxe em sua página online, um artigo chamado “O que é o trabalho escravo?” Não o conceito em si, mas a sua nova nomeação, que está explicita no próprio art. 149 do Código Penal, em razão do trabalho escravo ser abolido a partir da Lei Áurea no dia 13 de maio de 1.888, – que irá ser tratado no tópico 1.2 –, o termo atual, denomina-se trabalho análogo ao de escravo.

O conceito de trabalho análogo ao de escravo diferencia-se do escravo em se sentido amplo, conforme a ONU BR – Nações Unidas no Brasil (2016, p. 1), “é uma grave violação de direitos humanos, que tem levado milhões de seres humanos a serem explorados e submetidos a condições desumanas, causando o enriquecimento ilícito de outras”.

Segundo Garcia (2012, [s.p.]), além do trabalho escravo, há o trabalho forçado e o trabalho análogo ao de escravo. Como já visto, denomina-se de trabalho análogo ao de escravo, pois este é o gênero. Tendo suas espécies divididas em trabalho forçado e trabalho degradante, este primeiro seria equiparado ao trabalho escravo, ou seja, a restrição da liberdade de locomoção e de trabalho, e nessa segunda, se equipara ao trabalho análogo ao de escravo, que é caracterizado pelas péssimas condições de labor, sem nenhuma segurança.

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O termo trabalho escravo se dá de várias formas de conceituação, porém todos com o mesmo sentido, que conforme a OIT – Organização Internacional do Trabalho (2011, apud LOUREÇO, 2011 p. 1), o trabalho análogo ao de escravo é:

[...]todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob ameaça de sanção e para o qual ela não tiver se oferecido espontaneamente. Além de estar relacionado a baixos salários e más condições de trabalho, inclui uma situação de cerceamento da liberdade dos trabalhadores (OIT 2011, apud LOURENÇO, 2011, p. 1).

Nesta lógica, pode-se entender que trabalho pode ser definido como esforços de pessoas, sendo intelectual ou físico, oneroso e também gratuito, em seu próprio proveito, ou proveito de outros, com o objetivo de produção e desenvolvimento de algum serviço, ou do próprio bem-estar. Não podendo ele ser prejudicial à pessoa do trabalhador, sem normas que o regule, e sem segurança alguma, estando resguardado pelo princípio da dignidade da pessoa humana. O trabalho é um propósito de nossas vidas, e não podemos deixar que nos maleficiemos em razão dele. Contudo, pesquisamos a evolução do trabalho escravo, desde a Lei Áurea, como estaria o “escravo” após a sua abolição.

1.2 Evolução histórica a partir da Lei Áurea

“Brasil está livre do trabalho escravo” (JORNAL SENADO, 1888, [s.p.]). Assim começa a evolução do Brasil, a partir da Lei Áurea.

Este foi o marco da década de 1888, pois no dia 13 de maio daquele ano, foi extinta a escravidão no Brasil, onde a Princesa Isabel assinou e sancionou a lei em que colocou fim aos 300 anos de escravidão do País. Ficou assim conhecida como Lei Áurea, Lei nº 3.353, com apenas dois artigos, que em seu art. 1º foi declarada extinta desde esta data desta lei a escravidão no Brasil, no seu art. 2º é revogado as disposições em contrarias a esta lei. (JORNAL SENADO, 1888).

Com a entrada dessa nova lei em vigor, consequentemente não ocorreu nenhuma orientação destinada aos escravos negros, em relação à inserção desses na sociedade. Pois essas pessoas teriam que ser inclusas na sociedade e possuir direito ao trabalho digno como qualquer outra, sendo remuneradas.

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Todavia, até então os ex-escravos eram discriminados pela cor da pele, e passam a ser discriminados porque se juntaram a população pobre e ficaram conhecidos como os deserdados da República. Aumentando assim o número de desempregados, mendigos, crianças abandonadas, especialmente o aumento da violência, o que era a maioria dos enunciados dos jornais locais chamando-os de pretos.

A escravidão no século XIX era concentrada nas partes mais ricas, ou “mais modernas da economia” e não era tão aderida nas partes pobres. O escravo era como um trabalhador não remunerado, produzindo para que o produtor ganhasse em cima do trabalho suado dele, como se fosse uma peça chave de suas fechaduras. E a partir dessa lei em vigor, não havia ninguém contra o abolicionismo, porque era mais importante não ir contra a ordem institucional, pois seu pilar central era as grandes propriedades de terra (MARINGONI, 2011).

Desde a promulgação da Lei Áurea e a Proclamação da República, 1889 foi considerado um século de “liberdade”. Desde esse momento, a legislação brasileira teria sido toda reformulada no caminho dessa nova liberdade. A Constituição de 1891, promulgando a “Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil”, foi colocada em nossa sociedade com o resultado da libertação dos escravos, e com uma nova estrutura, em relação à organização política, econômica e social, além dos acontecimentos desse século, a exemplo da Revolução Francesa e a Revolução Industrial.

Nessa época, estando em conflitos com o trabalho, sendo ele considerado desvalorização, tornou-se uma necessidade produtiva, pois para a sua valorização necessitava de mão de obra empregada. Por consequência, foram construídas grandes indústrias para o trabalho, surgindo mais empregos, e assim, a riqueza e mais uma vez a desvalorização.

No Brasil, os cidadãos usufruem dos diretos da pessoa como indivíduo que apareceram somente no século XX, dando início na exploração do progresso industrial, e mais duas guerras mundiais que marcaram esse século. Enquanto no Brasil, tinham os direitos garantidos que asseguravam a brasileiros e a estrangeiros que residiam no país, sendo eles, à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, conforme o art. 113 Constituição de 1934.

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Em 1º de maio de 1943, foi aprovado o Decreto-Lei nº 5.452, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo representada pelo trabalho livre no Brasil, enquanto em 1888 foi representada pela transição do trabalho escravo (SOUSA, 2015).

Esse Decreto-Lei tem o objetivo de regulamentar as relações trabalhistas entre empregado e empregador, e vem sendo adaptadas conforme a evolução da sociedade.

As Constituições de 1934, 1946, 1967 e a atual de 1988 (SOUSA, 2015), que quase 50 anos após a CLT abrangem o direito ao trabalho livre, devido ao rol de garantias constitucionais limitando, defendendo e regulamentando o trabalhador brasileiro. Nesse sentido o art. 1º, IV da CF/88, abrange os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além do art. 5º, III e XIII, que traz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. (BRASIL, 1988).

Diante desses artigos, percebemos que a Constituição de 1988, sendo muito garantista, faz com que a liberdade e a igualdade sejam a base que sustenta o trabalho livre, onde todos são iguais, independentemente de sua cor, raça, religião, entre outros. Impondo essas limitações, fazem com que o indivíduo respeite as normas.

No início da década de 1990, com toda a história passada e com as garantias do

trabalhador, ressurge o tema do trabalho escravo, devido sua questão social não resolvida (SOUSA, 2015). Martins (2014 apud SOUZA, 2015 p. 13), deixou claro que a lei Aurea aboliu a escravidão no Brasil e transformou o trabalho escravo, em trabalho livre, mas não houve inserção desses trabalhadores no mercado de trabalho, e nem ofereceram as mínimas condições. “Esta situação está deflagrada na expressão: foram deixados à sua própria sorte” (SOUSA, 2015 p. 13, grifo nosso).

Pode-se dizer que, a partir dos anos 90 já estava presente o trabalho escravo contemporâneo ou moderno. Conforme Rocha e Brandão (2013, p. 199) “foram marcados por

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períodos de grande recessão econômica e pela crescente luta de parcelas da sociedade civil para a construção de políticas de bem-estar social”. Devido ao seu “baque” com a nova Constituição, ocorreram grandes mudanças, pelo caráter “punitivo” do Estado (ROCHA; BRANDÃO, 2013).

A OIT em conjunto com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), constituiu “alianças suficientemente densas para levar denúncias da escravização contemporânea aos organismos internacionais e para forçar o governo a não mais ignorar a questão e a tomar medidas”. (ROCHA; BRANDÃO, 2013, p. 199).

Essas denúncias seriam referidas ao processo em que a Comissão Internacional dos Direitos Humanos, em que violariam esses direitos em relação ao trabalho escravo, foi conhecido como o processo “caso José Pereira”, um trabalhador encontrado em situação escrava, que a DUCH e a Convenção Americana de Direitos Humanos, não resguardando os direitos dos trabalhadores, a não reparação dos danos causados pelas condições de trabalho escravo e a não punição daqueles que se maleficiaram de tal ato criminoso.

Em 1995, ocorreram mudanças, pois conforme iam-se passando os anos, e aconteciam cada vez mais denúncias de trabalhadores em condições escravas, o Governo Federal criou o Grupo de Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf), que junto ao MPT, resgatava as pessoas naquelas situações, além de fazer mapeamento dos focos que seriam explorados.

No ano de 2003, que o Presidente foi eleito, foi dada continuidade nas ações do governo anterior para o combate a escravidão, ampliando os investimentos públicos para tal questão. Além do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, tiveram a iniciativa de criar a “lista suja”, chamado de “Cadastro de empregadores que tenham mantido trabalhadores em condições análogas à de escravo”, esse cadastro enfrenta o trabalho escravo com sanções econômicas aos que praticarem este crime.

O Governo Federal em 2008 deu início ao 2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, em que ouve avanços, do primeiro para o segundo, como a criação do art.

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149 do Código Penal, aumentando de dois anos para quatro anos a pena mínima para quem cometesse esse crime. Ainda trouxe propostas de favorecimento ao combate ao trabalho escravo, com incentivo aos estados e municípios para o desenvolvimento de programas que reconheçam as localidades com trabalho escravo (ROCHA; BRANDÃO, 2013).

Ainda assim, até hoje está em vigência o 2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho (ROCHA; BRANDÃO, 2013), pois busca-se uma sociedade definitivamente livre. De acordo com Marigoni (2011), foi e ainda é uma grande luta com preconceitos e injustiças que existem até hoje. Todos culpam a forma que foi realizada a libertação em 1888, entretanto, a real culpa é da sociedade.

A busca da liberdade do trabalhador vem de anos, décadas, como visto, sendo a preocupação de todos os Governos, tanto aqui no Brasil, como em qualquer outro país. Sempre buscamos uma solução para a erradicação do trabalho escravo, com Organizações, Leis e Princípios. O princípio mais importante é o da dignidade da pessoa humana, como princípio do direito do trabalho, que irá ser tratado.

1.3 A dignidade da pessoa humana como princípio do direito do trabalho

Diante do conceito e do histórico, buscamos ressaltar o princípio da dignidade da pessoa humana como princípio basilar do direito do trabalho.

Esse princípio, conforme os estudos de Silva (2010) vêm de longa data, a partir da vida cristã, pois os humanos se assemelhavam à imagem de Deus, onde teriam todo seu valor próprio, não o podendo se reduzir a outrem. Assim, a pequena noção da dignidade da pessoa humana surgiu pelo cristianismo.

Nesse mesmo sentido, trata-se da dignidade da pessoa humana como uma característica própria, pois se diferenciava das outras criaturas habitadas pela terra, que vincula a noção da liberdade de cada indivíduo, para que possa traçar seu próprio destino.

A concepção de dignidade humana no cristianismo e no estoico foi sustentada durante a idade média. Entretanto, nos meados dos séculos XVII e XVIII, foi sendo substituído gradativamente pela racionalidade, mas ainda com o sentido da liberdade e da igualdade.

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No século XX, a dignidade da pessoa humana foi totalmente abalada com a Segunda Guerra Mundial, pois até então todas as ideias que vinham sendo traçadas como verídicas, foram destroçadas por uma guerra onde foram mortos milhares de pessoas, e até então, a dignidade era o seu sustento.

Após essa barbárie, devido à grande repercussão, muitos países se recuperaram com a base da vida em sociedade e dos Direitos Humanos, a DUDH– Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que traz em seu art. 1º que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade de direitos, e que todos devem agir com a razão e a consciência, em espírito de fraternidade.

Assim, conhecidos como direitos fundamentais, foram objetos de normas internacionais aprovadas pelas Nações Unidas, junto com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, e também o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, todos em 1966.

A partir deste momento, se reconhece o princípio da dignidade da pessoa humana com todos seus direitos iguais, com o fundamento de liberdade, da justiça e também da paz mundial. No que cabe ao Estado, é seu dever e a obrigação de reprimir quem praticar atos contrários à dignidade.

Na Constituição, Brasil (1988), estabeleceu o princípio da dignidade da pessoa humana, como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito no art. 1º, inciso III, além de outros como da ordem econômica e financeira, sendo fundada na valorização do trabalho e da livre iniciativa, no art. 170, da mesma.

Para Silva (2010), a dignidade da pessoa humana na Constituição vai muito além do que uma “mera declaração” de valores morais e éticos, pois se trata de uma regra que deve ser cumprida, ou seja, de acordo com Alexy (2015, p. 87) “princípios são, tanto quanto as regras, razões para juízos concretos de dever-ser.” Ainda, em ralação a princípios e regras:

Como princípio, portanto, a dignidade age como um mandado de otimização, prescrevendo algo relacionado à proteção e à promoção da dignidade da

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pessoa, considerando as possibilidades fáticas e jurídicas, enquanto que as regras expressão prescrição imperativas de conduta. (SILVA, 2010, p. 75).

Portanto a dignidade da pessoa humana na Constituição é inviolável, além do rol de direitos fundamentais elencados nela.

Esse princípio no direito do trabalho é muito importante para a pesquisa em si, pois com a entrada deste, a CLT que foi aprovada em 1943, mudou completamente como era visto o trabalho, e conforme Villela ([s. d.], p. 10):

[...] a ideia de inserção normativa do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana na disciplina do Direito do Trabalho [...], cujo bem jurídico nuclear objeto de tutela concentra-se diretamente neste importante fundamento constitucional.

O tema mais exemplificativo para essa citação, é o trabalho escravo contemporâneo (VILLELA, [s. d.]), pois o princípio da dignidade da pessoa humana vem fazendo muitas mudanças em nossas legislações.

Uma das mudanças é o do Código Penal, resguardado pelo art. 149, como já visto, traz o trabalho análogo ao de escravo, antes visto apenas como trabalho escravo, e sendo ele um crime, deverá ser punido quem o cometer. De acordo com Silva (2010), esse artigo traz tanto o trabalho forçado quanto o trabalho degradante, no forçado violam a liberdade e a dignidade, e na degradante viola diretamente a dignidade da pessoa.

Podemos perceber que o trabalho análogo ao de escravo não viola somente a liberdade, mas também a dignidade da pessoa humana. Essas duas violações possuem um ponto de contato, que é a desconsideração da condição humana do trabalhador. Por exemplo, no trabalho forçado, o trabalhador é privado da sua liberdade de locomoção, já no trabalho degradante, o trabalhador é colocado em condições subumanas, como se fosse um objeto de produção, ou seja, uma coisificação do humano. (SILVA, 2010). Nesse mesmo sentido, Scaff (2010, p. 36) “todo o ser humano, possui uma dignidade, e não um preço – pois, se fosse assim, seria coisa”.

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Com isso, Scaff (2010, p. 37) “na promoção da dignidade, deve ser conjugada a liberdade. São princípios éticos que se complementam e se integram”, ou seja, os dois direitos devem sempre andar juntos, pois quem tem liberdade tem dignidade e vice-versa.

O maior fundamento para a proibição do trabalho análogo ao de escravo é exatamente a dignidade. Assim, o ser humano tem direito a liberdade, a igualdade entre outros direitos garantidos e fundamentais a sua integridade tanto física, como moral ou intelectual (SILVA, 2010).

Contudo, a dignidade da pessoa humana na indústria da moda, vem sendo atingida de duas formas. A primeira na prática, com as condições de trabalho análogas de escravo, e a segunda, em sua liberdade restringida destes trabalhadores. O tópico dos escravos da moda em si, vai ser profundamente abordado no seguinte capítulo, trazendo a sua prática e os prejuízos causados por isso.

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2 O TRABALHO ESCRAVO NO MUNDO DA MODA

Como percebe-se no primeiro capítulo, o trabalho escravo vem de décadas, passando de geração a geração, esteve e ainda está em nosso cotidiano – infelizmente –, mas devido a diversas mudanças com a entrada da Lei Áurea e além das relações trabalhistas, o trabalho escravo teve uma nova forma.

Na sociedade atual, em que as pessoas trabalham para comer e ter um lar para seu repouso diário são exploradas de diversas maneiras, uma e a maioria delas são feitas “as espreitas” da lei, em que no “papel/contrato” está tudo certo, mas que a exploração de seu trabalho, está no seu modo manual.

O segundo capítulo será abordado sobre um assunto atual, mas que já estaria ocorrendo há diversos anos, aonde milhares de trabalhadores que vieram da Bolívia e foram explorados por mais de 20 empresas com marcas famosas de roupas em São Paulo/SP. Alguns exemplos são “M Officer Hippchick, Gangster, Renner, entre outras” (REPÓRTER BRASIL, 2012), ficando esse fato conhecido como “Os Escravos da Moda”.

De maneira explicativa, irá abordar a prática e suas formas de acordo com a Ação Civil Pública promovida pelo Ministério Público do Trabalho em razão da prática de trabalho análogo ao de escravo feita por uma dessas empresas, conhecida como M. Officer, tratando como os trabalhadores bolivianos eram explorados, como era sua jornada de trabalho, o que ganhavam, os seus prejuízos, sendo elas tidas como objetos de mão de obra nas indústrias têxteis na maior cidade do Brasil.

2.1 A prática de trabalho análogo ao de escravo e suas formas

Através de ações do Ministério Público do Trabalho, vai ser abordado a prática do trabalho análogo ao de escravo. E para isso, é preciso saber qual a sua finalidade e as suas funções. De acordo com o portal do MPT, o Ministério Público do Trabalho fiscaliza o cumprimento da lei trabalhista e seus afins, quando houver o interesse público, ou seja, o interesse de todos, pois além de fiscalizar, regulariza as relações de trabalho com o empregador e seu empregado (MPT, [s.d.]).

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A Constituição Federal, em seu art. 129, traz as funções do Ministério Público. No inciso III, alega promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público, do meio ambiente, além dos interesses difusos e coletivos. Ainda nesse sentido, o art. 83, busca trazer as mesmas funções do Ministério Público, que não deixa de ser as mesmas do MPT, então eles teriam as funções de fiscalizar e regulamentar aquilo que não está correto através da ação civil pública (BRASIL, 1988, grifos nosso).

A ação civil pública como já visto pela CF/88, é um instrumento em que serve para além de dar proteção ao patrimônio público e ao meio ambiente, é posto em serviço do MPT para os interesses difusos ou coletivos, ou seja, o que está abolido, como o trabalho análogo ao de escravo.

A partir dessa conceituação do que seria a função do MPT e para que serve a ação feita por esse, a ação civil pública. Analisaremos a ação civil pública imposta contra uma das mais de 20 indústrias, que se aproveitaram de seus “empregados” que vieram da Bolívia para trabalhar em situação análoga ao de escravo em São Paulo/SP, que seria a maior rede do país.

Essa Ação Civil Pública (2014), contra a indústria cujo nome jurídico é “M5 INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA”, ou de nome fantasia “M. Officer”, sendo que a indústria irá responder de modo solidário com seus fornecedores, responsáveis pela produção de peças comercializadas, que foi distribuída por dependência da Ação Cautelar nº 003937.2013.02.000/7.

Trata-se da responsabilidade social e jurídica que traz de modo detalhado as formas em relação à existência da prática do trabalho análogo ao de escravo em sua indústria. Ainda no ponto de vista jurídico, relata como a maioria das indústrias agiram e ainda agem de forma irregular a relação de emprego com seus trabalhadores. Não podendo deixar de analisar como estes trabalhadores foram encontrados, e quais foram seus prejuízos, que irá ser trabalho no item 2.3 (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Ao começo das diligências investigatórias, foram encontrados dois trabalhadores bolivianos, onde o encontraram em situações péssimas de trabalho e moradia, suas jornadas de trabalhos eram desgastantes. Verificaram que esses trabalhadores eram de fato da empresa M. Officer (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

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Houve mais quatro diligências, uma dessas ocorreu e foi relatada no dia 13 de novembro de 2013, foram localizados, nos locais de trabalho terceirizado pela indústria M. Officer, quatro trabalhadores costurando peças de roupas. Descrito que os trabalhadores encontrados somente teriam maquinas de costura no local, e que representavam duas oficinas, uma de família do Paraguai e a outra da Bolívia, além dos adultos trabalhadores, viviam mais cinco crianças, filhos dos casais (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

As condições de trabalho, quanto a de moradia eram as mesmas, além das péssimas condições para trabalharem, tinham más condições de convivo, como a saúde e a segurança, sem nenhuma proteção nas máquinas e sem as devidas instalações elétricas, com uma única janela com vista para a rua (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Em um outro cômodo trabalho/moradia foram encontrados um fogão e uma pia, e se alimentavam nos quartos de dormir, pois não teriam espaço suficiente. O banheiro era coletivo, era único, sem nenhuma higienização, tinha um odor horrível e o corredor que teria era usado para pendurar as roupas. O quarto da família boliviana teria uma cama, onde dormiam os dois adultos e suas crianças (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Devido a essas inspeções e documentos fornecidos pelos trabalhadores, o casal boliviano, costureiros, trabalhavam exclusivamente para a empresa M. Officer desde 18 de julho de 2013, sem qualquer contrato ou formalidade de vínculo empregatício. Esse casal informou que trabalhavam das sete horas da manhã às vinte e duas horas da noite, e ganhavam por peça, que variava de R$ 2,50 a R$ 5,00, e de R$ 8,00 a R$ 15,00 conforme a roupa, além de terem que pagar o aluguel da oficina e do quarto e recebiam R$ 850,00 aproximadamente por mês (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

As peças produzidas eram encaminhadas por pedidos através de duas pessoas, que traziam os documentos que tinham as informações sobre as peças de roupas a serem confeccionadas, com a descrição, da cor, tamanho, valor, etc. e ainda a data de entrega (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Este era um serviço terceirizado, onde é obrigado a produzir cada peça nas formas impostas, se não estariam de acordo eram descontados ou até mesmo “demitidos”. Ao final da entrega, há normas em que se houver alterações no pedido, apenas poderiam mediante

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autorização da “M5”, além de que “o não cumprimento da data de entrega implica na aplicação de multa de 10% no valor unitário, a sua reincidência no atraso, da multa 5% em cima do novo valor unitário, as divergências no pedido com volumes entregues e reprovação da produção é considerado como atraso de entrega” (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Após todas essas informações, localizaram a referida pessoa que levava os documentos com pedidos, encontraram, e ainda, esta informou que trabalha para a indústria M5 Industria e Comércio LTDA. Indo até a indústria da M. Officer, onde contaram com o diretor financeiro, a gerente de recursos humanos, e ainda empregados no setor de criação, notou-se que não estão sendo confeccionadas as camisas da marca, e informaram que não são feitas ali, e sim por terceiros (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Sendo assim, a empresa M5 Indústria e Comércio Ltda., terceiriza irregularmente a sua atividade de corte e costura, ou seja, eram enviados os pedidos para os trabalhadores da primeira diligência feita. Ao final da fiscalização foram lavrados quinze autos de infração de acordo com as irregularidades. E nesse mesmo dia foi feita audiência de entre o MPT e a M. Officer, explicando as situações degradantes encontradas. Sendo proposta o Termo de Ajuste de Conduta Emergencial, não obtendo êxito. Tentaram a sessão administrativa, com a mesma proposta de ajuste, e também houve a recusa. (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Mesmo sendo apenas uma diligência relatada, ainda teriam mais três, a maioria dos relatos de trabalho análogo ao de escravo são as mesmas, com a forma de trabalho e moradia irregulares, oficinas clandestinas terceirizadas e pessoas de outro pais em trabalhando de forma desumanas (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

A prática de trabalho análogo ao de escravo que a M. Officer praticava contra os trabalhadores, foi feita mesmo sabendo de todas as diligências investigatórias contra ela, e ainda tento o Termo de Ajuste de Conduta Emergencial para se redimir a estas falhas graves feitas, como a assinar a carteira de trabalho, com todos os seus direitos e ainda pagar todas as verbas trabalhista que não foram pagas, se negou a regularizar, pois não se dizia com os trabalhadores encontrados (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Contudo, essa foi uma das práticas e formas que muitas empresas de indústrias têxteis que agem de forma irregular com seus trabalhadores e esses se calam, pois seria o seu único

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meio de sustento para com sua família. Essas pessoas vêm de outros países sem conhecer nada, mas mesmo assim, as indústrias não direito de usar a mão de obra de pessoas para seu enriquecimento ilícito, pagando as mínimas coisas, com péssimas condições de trabalho e vida, portanto tais empregadores serão sancionados por tais práticas.

2.2 Prejuízos aos trabalhadores

O relatado da ação civil pública feita pelo MPT, em face da empresa M5 Industria e Comércio LTDA, além de retratar como são feitas a prática do trabalho análogo ao de escravo, também traz em seu direito os prejuízos que estes trabalhadores sofreram e ainda vão sofrer para o resto da vida, como um marco muito forte não somente para eles, mas como também para as crianças que não tiveram uma educação e um ambiente saudável para a sua moradia.

A Ação Civil Pública (2014), após todo o relato da prática contra esses trabalhadores, no sentido de serem feitas peças de roupas pela empresa citada, aponta os prejuízos na esfera trabalhista, previdenciária e também na degradação humana.

Primeiramente, é que a prática feita pela empresa configura ato ilícito, ou seja, está presente ato do art. 149 do Código Penal, sobre o trabalho análogo ao de escravo, que estão presentes nas 5 diligências que foram feitas durante o período de investigação, feita com policiais e membros do MPT. Configura-se o ato ilícito pela situação que foram encontrados esses imigrantes, como condições degradantes de vivência e trabalho, como também a jornada exaustiva, e a falta de pagamento das devidas verbas trabalhistas (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

A empresa além de ter oficinas clandestinas, com “rede de fornecedores” que mantiveram trabalhadores imigrantes, não teria nenhum vínculo empregatício, ou seja, essas pessoas trabalhavam exaustivamente e eram vistos como indigentes, pois não recebiam descentemente como qualquer outra pessoa que mora no nosso país. Foram sonegados todos os direitos trabalhistas, também previdenciários, bem como os benefícios a eles vinculados, violando a Constituição Federal de 1988 (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

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Como transcrito, eles moravam junto ao trabalho, com sua família inteira, pois conforme o relatado, tudo era apertado, sujo, com grande quantidade de poeira e umidade, com a ventilação insuficiente, pois teria no máximo duas janelas, além do banheiro único e sem a devida higiene, e não teriam local para fazer as refeições, sendo configurado como alojamento inadequado (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Os ambientes de trabalho são normalmente com a devida segurança, e nesses locais nada foi encontrado para garantir, pois se tratando de maquinas de costuras, é grande o risco de ocorrer queimaduras, por se tratarem de máquinas antigas e sua luz incandescente, ficando quentes, e também das agulhas, que trabalham rápidas e que podem escorregar. (KURZ, [s.d.]).

Se tratando de imigrantes da Bolívia, há grande indício de que foi feito o tráfico dessas pessoas para o Brasil. Esse indício de que trouxeram esses bolivianos para o Brasil, foi devido ao modo de comportamento dessas indústrias, além de como essas pessoas trabalhavam, pois tais pessoas não teriam a liberdade de escolher ou ter um salário fixo, apenas aceitaram as devidas condições impostas, em troca de uma remuneração. Tendo a comparação com o salário mínimo da época, a renda era baixa para o sustendo de uma família, a única beneficiada era empresa, que pagava menos e ganha mais (AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 2014).

Com a análise da ação pública feita pelo MPT, os imigrantes trabalhadores sofreram em razão de ter de largar tudo em seu país com esperanças de um trabalho digno, uma moradia confortável, uma educação melhor para seus filhos. E chegam ao Brasil, na maioria das vezes sem a regulamentação válida ou até mesmo foragidos, com esperanças imaginárias.

No sentido jurídico, e mudando de foco, um assunto muito polêmico que está por vir em nosso espaço jurídico, é a mudança brusca da nova CLT – Consolidação das Leis do Trabalhado nº 13.467/17, por mais que ainda não foi revogada a nossa CLT atual, irão ser impostas as novas regras. E com essa nova mudança, percebemos que o trabalho escravo está muito presente.

Conforme Resende (2017, p. 6), o art. 2 da nova legislação, não será computado na jornada de trabalho o que exceder jornada normal, mesmo passando o limite de 5 minutos, ou

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seja, um minuto a mais de descanso, de estudo, lazer, higiene pessoal, não é mais computado, sendo assim, é considerado trabalho análogo ao de escravo.

O art. 444 da Lei 13.467/17 traz a livre estipulação de cláusulas contratuais, que se pode fazer entre empregado e empregador, desde que não fira as disposições de proteção do trabalho coletivo e as decisões das autoridades competentes (RESENDE, 2017, p. 28). Isso quer dizer que, se um empregador estipular o seu salário e suas horas trabalhadas, por tal quantia em dinheiro, exemplo: valor inferior ao salário da categoria, se o trabalhador estiver muito necessitado, ele não vai pensar duas vezes, ou seja, ele vai aceitar mesmo que este esteja muito inferior ao que é devidamente feito, assim, enseja-se em trabalho análogo ao de escravo, de maneira que trabalhariam da forma que o empregado estipular.

A nova lei trabalhista foi feita para benefício do empregador, e não ao empregado, violando as convenções da OIT – Organização Internacional do Trabalho, que protege o trabalhador. Não se pode deixar de falar sobre a nossa nova CLT, que vem no mesmo intuito de algo que está abolido a tantos anos, e que voltaram a fazer violando direitos e garantias dos trabalhadores. Assim, no capítulo 3, trata-se da erradicação do trabalho escravo, com as formas de fiscalização, bem como os projetos ao combate.

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3 FORMAS DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO

Após a abordagem do trabalho análogo de escravo com conceituação, histórico e dignidade da pessoa humana. Ainda, especificamente falando sobre os “escravos da moda”, em que tange a sua prática bem como sua fiscalização, trazidas pelo MPT e os prejuízos causados aos trabalhadores, vão ser analisadas as suas formas de fiscalização.

Em uma primeira abordagem, trata-se das formas de fiscalização feitas pelo Ministério Público do Trabalho e do Ministério Trabalho e Emprego, com a distinção dessas e ainda a de Justiça do trabalho, após tende se observar cada caso com suas variáveis, exemplo da sua jornada de descanso, se há violência ou condições de trabalho entre outros, para se chegar a fiscalização em si.

Em relação aos projetos e ao combate do trabalho análogo ao de escravo, a OIT é o principal Órgão para a criação dos projetos de combate. Ainda, além do projeto chamado CONATRAE – Comissão Internacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, que foi criado em 2003, foram criados vários outros projetos.

Assim, na trajetória da erradicação do trabalho escravo, foi criado o PNETD– Plano Nacional de Emprego Decente, com finalidade do trabalho contribuir para a promoção do Emprego e o fortalecimento da capacidade do Estado para enfrentar maiores dificuldades no mercado de trabalho.

3.1 Formas de fiscalização pelo Ministério Público do trabalho e Ministério Trabalho e emprego

Primeiramente, não podemos confundir o Ministério do Trabalho e emprego, com Ministério Público do Trabalho e Justiça do Trabalho, segundo Diferença Entre ([s.d.]), o Ministério do Trabalho e Emprego é um órgão com Poder Executivo, atuando por meio das Delegacias Regionais do Trabalho, tendo sua competência nos assuntos de fiscalização do trabalho e suas aplicações conforme leis e normas, desenvolvimento profissional, a segurança e também a saúde no ambiente de trabalho, ainda emite a carteira de trabalho, a concessão do seguro-desemprego, bem como a homologação de rescisões contratuais.

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Já o Ministério Público do Trabalho, MPT ([s.d.]), como dito no capítulo anterior, fiscaliza o cumprimento da lei trabalhista e seus afins quando houver o interesse público, além de fiscalizar também regulariza as relações de trabalho com empregado e seu empregador.

E a Justiça do Trabalho é pertencente ao Poder Judiciário, onde o art. 114 da CF/88 junto da Emenda Constitucional nº 45/2004 diz nos termos a seguir:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; [...] (BRASIL, 1988).

Os conceitos desses Órgãos são eficientes para entender o que cada um deles faz. O Ministério do Trabalho e Emprego (2011, grifo nosso), traz em seu manual as formas de combate ao trabalho em condições análogas as de escravo. Para o MTE, é preciso analisar cada caso, com suas variáveis.

Primeiro, tem que se analisar se foram aliciados de um local para o outro do território nacional, se há violência contra os trabalhadores, as restrições à liberdade dos trabalhadores, como exemplo da vigilância armada, a presença de familiares, o endividamento, além da retenção dos documentos e atraso do pagamento do salário.

A jornada e descanso, a identificação das condições de trabalho, como equipamento de proteção e instalações sanitárias, levando esses dois fatores a ocorrência de acidentes e doenças causados pelo trabalho em má condições.

Há também outros fatores a serem analisados, como a contratação, verificando a sua data, o salário estipulado e a forma do seu pagamento. A maioria dos trabalhadores estando

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em condições análogas a de escravo, não tem nenhuma estipulação em sua carteira de trabalho, ou até mesmo, nem tem a Carteira de Trabalho e Previdência Social– CTPS, caracterizando responsabilidade administrativa (MTE, 2011).

Devida todas essas variáveis analisadas pelo MTE de péssimas condições em que os trabalhadores se encontram, o MTE chega a conclusão de que realmente é trabalho em condições análogas á de escravo, sendo assim, considerado crime, tanto como infração administrativa, como crime penal. Após o MTE e o MPT vão em busca das ações fiscais.

Essas ações fiscais, conforme O MTE (2011) tem como objetivo o combate do trabalho em condições análogas à de escravo, observando as políticas de atuação e planejamento do SIT – Secretaria de Inspeção do Trabalho e a instituição normativa nº 91/2011. Sendo organizadas pelas Chefias de fiscalização, essas Chefias informam a SIT, onde qualquer uma delas deverá solicitar a participação do Grupo Móvel ou da unidade descentralizada, de representantes da Policia Federal, Civil, Rodoviária, Militar, ou de qualquer outro Órgão Público necessário.

Para a garantia de sucesso da ação fiscal, há diversos procedimentos que deverão ser adotados com antecedência como preparação da infraestrutura e parcerias, e ainda, os aspectos ligados à realização dessas ações, como o sigilo, a localização de trabalho, a abordagem inicial, informante, etc.

A equipe ou qualquer membro das instituições da equipe de fiscalização, tendo conhecimento de alguma irregularidade deverá apreender todos os documentos que servirão de comprovação das infrações e ocorrências, exemplo de documentos assinados com a irregularidade explicita. Deverão fazer cópias e disponibilizar para os outros membros da equipe, além do relatório feito a respeito dessas ações fiscais. Em casos de haver armas brancas ou de fogo, devem ser apreendidas pela autoridade policial e ainda, interditar os equipamento e obras inadequados com as Normas de Regulamento do MTE.

Para que os trabalhadores se sintam seguros em falar abertamente sobre as condições, os membros e sua equipe deverão ganhar confiança, explicando o porquê dessa fiscalização, e leva-los para local seguro para que eles possam dar seus depoimentos, e ao se sentirem confiantes, irão dar seus depoimentos e contar tudo o que os acontecem (MTE, 2011).

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Ainda, tem que preencher o termo de declarações, que são todas as informações básicas e necessárias, como o endereço de trabalho e contato desses. No termo, cada situação deverá ser declarada de forma que demonstre a situação de infração, com os fatos, autores, quando, onde, e porque desses fatos (MTE, 2011).

As identificações dos empregadores após esses termos são extremamente importantes, mesmo eles não sabendo exatamente onde ficam os membros da fiscalização lavram a Notificação para Apresentação de Documentos, para que sejam encontrados, e serem notificados das medidas necessárias para colocar “em dia” os direitos trabalhistas, com tudo que envolva isso (MTE, 2011).

Após desses resgates aos trabalhadores, deverá ser emitido guia de seguro-desemprego além do trabalhador já encontrado, para se pagar as verbas rescisórias. O MPT primeiramente adotará medidas administrativas já com todas as copias dos documentos, tenta fazer o acordo de pegar tudo o que deve, e assinar devidamente a carteira de trabalho etc., se este se recusar a assinatura do TAC– Termo de Ajuste de Conduta, o MPT encaminhará a medida judicial, sendo ela uma ação civil pública (MTE, 2011), tratada no capítulo anterior.

De modo sucinto, as fiscalizações são feitas pelo MPT e MPT de maneira sigilosa, e com grande competência, pois eles recebem ou até mesmo encontram sujeitos trabalhando de modo irregular, e antes de toda a autuação, investigam, recolhem provas, depoimentos e quem é realmente o responsável por tal infração. Devido às muitas fiscalizações, e muitas denúncias, existem projetos ao combate do trabalho análogo ao de escravo que irá tratar no próximo tópico.

3.2 Projetos e combate ao trabalho análogo ao de escravo

Desde o início fala-se da OIT, sendo ele o órgão mais importante para ajudar a combater o trabalho análogo ao de escravo no Brasil e no mundo todo. Seu papel de representante de homens e mulheres trabalhadores está presente desde 1950, para melhores condições de trabalho (OIT, [s.d.]).

No ano de 2003, pelo Decreto de 31 de julho de 2003, foi criado o programa CONATRAE, com objetivo de coordenar e avaliar a implementação das ações previstas no

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Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (COMBATE AO TRABALHO, 2003).

A partir do programa CONATRAE, foram criando vários outros programas junto ao TEM. Um dos programas foi o chamado Grupo Espacial de Fiscalização Móvel, tem por objetivo reprimir o trabalho escravo, e seu apoio reflete nas aquisições de carros, computadores, raios comunicadores, etc., e conta com o apoio de sete equipes para melhor busca desses alojamentos e trabalhadores em condições análogas (COMBATE AO TRABALHO, [s.d.]).

Rodrigues (2007, p. 29) “melhor performance na execução de missões que contribuam para diminuir a vulnerabilidade do cidadão ao aliciamento, acelerar o resgate da cidadania e a reinserção sociolaborativas dos trabalhadores libertos”, ou seja, é focado a prevenção da irregularidade e a reinserção dos trabalhadores resgatados à sociedade.

A OIT, com a criação em 2006 a ANTD –Agenda Nacional do Trabalho Decente, com três prioridades, a primeira, sob a geração de mais e melhores empregos; a segunda, da erradicação do trabalho escravo e eliminação do trabalho infantil; e terceiro e último, o fortalecimento dos atores tripartites e do diálogo social (OIT, [s.d.]).

Ainda em relação ao projeto da OIT, na entrevista ao jornal O GLOBO em 16 de abril de 2007 dada pelo presidente da ANPT– Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, Sebastião Caixeta:

[...] permitiu ao Brasil dar um salto de qualidade no combate à escravidão contemporânea: a servidão por dívida. Ele diz que o programa conseguiu fazer uma ampla articulação política, envolvendo ONG’S, órgão do governo, [...], e Justiça Federal [...] o projeto identificou a cadeia produtiva que usa a mão-de-obra escrava, que resultou num pacto, no qual as companhias se comprometeram a evitar fornecimentos incluídos na lista suja do MTE (CAIXEIRA 2007, apud RODRIGUES, 2007, p. 30).

Há também o programa de sensibilização e capacitação de atores, onde desde 2009, o CONATRAE realiza diversas oficinas para trazer conceitos em relação ao trabalho escravo. Tem por meio dessa sensibilização, diminuir o número de trabalhadores em condições análogas à de escravo em todo país. E com esse efeito, passou a realizar Oficinas sobre

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Trabalho Decente e a Coletivização do Processo, com parcerias ligadas ao tema (COMBATE AO TRABALHO, [s.d.]).

O Programa de Cadastro de Empregadores ou com nome mais conhecido a “Lista Suja”, foi publicada pela Portaria nº 540/2004, sendo revogada diversas vezes até chegar a Portaria Interministerial nº 04/2016, que regula as regras para empregados que tenham submetido trabalhadores em condições análogas à de escravo. Exemplo que será divulgado no sítio eletrônico oficial do MTPS– Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTE, 2016).

O combate ao trabalho análogo ao de escravo começou a partir da análise de atuação do MPT e do MTE, com as formas de fiscalização, da sua estratégia para a atuação nesses locais, como a preparação, a ida e a chegada, além dos resgates desses trabalhadores. Ainda, a procura dos donos das empresas, para que sejam informados de tais circunstancias, adotando uma medida administrativa, caso recusa, medida judicial.

Os programas feitos pela OIT são instrumentos de garantia para o trabalhador em condições degradantes, resgatando-os e levando-os para local seguro, onde as devidas providências contra seu empregador irão ser tomadas, e ainda será dado um amparo a esses empregados, como as verbas atrasadas, a assinatura de sua carteira, e o dano moral de viver em condições horrendas. Vamos tratar no próximo tópico sobre o que seria o trabalho decente para a Organização Internacional do Emprego.

3.3 Trabalho decente – Organização Internacional do Trabalho -OIT

Depois de passar-se anos da abolição da escravidão no Brasil em 1888, conforme Lei nº 3.353, a chamada Lei Áurea, achava que com isso iria ser extinta de vez a mão-de-obra escrava, mas não. O MPT e o MTE recebem constantemente denúncias de trabalho análogo ao de escravo, para averiguação.

A OIT, com isso, faz campanhas, projetos e programas de erradicação do trabalho análogo ao de escravo no mundo todo. O Trabalho Decente no Brasil ou o chamado PNETD– Plano Nacional de Emprego Decente, no dia 4 de julho de 2009, junto com uma proposta construída pelo grupo interministerial, coordenado pelo MTE e a assistência técnica da OIT, foi formalizada.

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E dentre seus objetivos e metas, trazem o respeito aos direitos no trabalho, como a liberdade sindical, a eliminação de todos os tipos de trabalho forçado, a abolição efetiva do trabalho infantil, eliminação de todas as formas de discriminação em relação a matéria e a ocupação, a promoção de emprego produtivo e de qualidade, a extorsão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social (TRABALHO DECENTE, [s.d.]).

O Plano Nacional de Emprego e Trabalho Descente é representado pela contribuição ao Pacto Mundial à Agenda Hemisférica do Trabalho Decente, às Metas e Objetivos do Milênio e a cooperação Sul, com o fortalecimento do combate à pobreza no mundo:

O enfoque integrado de políticas econômicas, sociais e ambientais com ênfase na promoção do emprego e do trabalho decente com proteção social associado a um ambiente macroeconômico que favoreça o desenvolvimento de empresas sustentáveis deve constituir elemento indispensável da estratégia de desenvolvimento de nosso país, ao mesmo tempo constituir referência para as iniciativas de cooperação Sul-Sul (PNETD, 2010).

No geral, o Trabalho Decente é uma condição fundamental para superar a pobreza e a redução de desigualdades sociais, com a garantia do governo democrático e o desenvolvimento sustentável. Ainda nesse sentido, ele é definido como “trabalho adequadamente remunerado”, com os direitos garantidos, de liberdade, segurança e a dignidade da pessoa humana.

Esse plano tem por principal finalidade contribuir para a promoção do Emprego, e claro, do Trabalho Decente. A implementação deste, visa fortalecer a capacidade do Estado ao enfrentamento das maiores dificuldades do mercado de trabalho, ou seja, o desemprego, a informalidade, a produtividade, dentre outros, com as desigualdades de gênero, raça, cor, etc.

O plano foi bem recebido no país. Houve uma grande melhora do ano de 2011 a 2015 no direcionamento de investimentos públicos e privados, estímulos fiscais e financeiros a setores estratégicos para a geração de emprego, e a promoção do desenvolvimento sustentável (PNETD, 2010, p. 4-5, 12, 15, 25-41).

Mesmo havendo todos esses projetos, planos e programas de combate a erradicação do trabalho escravo, o Brasil vem sofrendo drásticas mudanças nesse ano de 2017 em relação a direito do trabalho, trabalho decente, e combate a escravidão. Primeiramente, como tratado no

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Capítulo Segundo, especificamente no tópico 2.2, da mudança na CLT, com revogações de artigos, implementações e redação completamente modificada, onde está bem nítida a soberania do empregador sobre o seu empregado.

Conforme Garcia (2017), outro assunto que vem ser tratado, é sobre a Portaria do Ministério do Trabalho nº 1.129 de outubro de 2017, sendo ela publicada no Diário da União em 16 de outubro de 2017, trazendo a nova redação sobre o trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas à de escravo, no que altera a Portaria Ministerial nº 04/2016, já tratada no item 3.2, que dispõe o assunto das regras em relação ao Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo “Lista Suja”.

As maiores mudanças causadas por esta nova portaria é a conceituação do trabalho forçado, da jornada exaustiva, a condição degradante e a condição de trabalho análoga à de escravo. Ainda, no art. 2º, a conceituação dessas, é imposta nas fiscalizações feitas pelo MPT e MTE, em relação ao trabalho em condição análoga à de escravo.

A portaria que conceitua de forma que restringe o trabalho forçado, a jornada exaustiva é conceituada como a: “a submissão do trabalhador, contra a sua vontade e com privação do direito de ir e vir, a trabalho fora dos ditames legais aplicáveis a sua categoria”, ou seja, o trabalhador obriga o seu empregado a ficar na empresa trabalhando. A condição degradante é deixar de atuar conforme a lei diz sobre os direitos fundamentais do trabalhador, a liberdade de ir e vir, assim, fica configurada a privação da dignidade da pessoa humana.

Já a condição análoga à de escravo, é considerada a submissão do trabalhador sob obrigação ou ameaça, o cárcere do trabalhador em relação ao uso de meio de transporte pelo empregador como forma de ter ele no local de trabalho, submeter o empregado dentro da empresa com emprego de segurança armada em razão de dívidas e a retenção dos documentos do empregado, para que essa não saia do emprego.

Nesse sentido, a Portaria do Ministério do Trabalho, veio modificar o art. 149 do Código Penal, que trás o conceito de trabalho análogo ao de escravo, implementando as regras dessa portaria.

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[...] em respeito à hierarquia das normas no sistema jurídico e mesmo ao princípio da legalidade (art. 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988), não caberia a ato de natureza administrativa, como Portaria ministerial, versar sobre matéria reservada à lei (art. 22, inciso I, da Constituição da República), nem restringir o alcance e o sentido de determinações de ordem legal (GARCIA, 2017).

Ainda em respeito a esse assunto, a OIT se pronuncia dizendo preocupada que o Brasil não é mais referência no combate à escravidão, sendo essa portaria criticada pela Organização Internacional que protege as leis trabalhistas. Conforme a coordenadora do Programa de Combate ao trabalho Escravo: “O Brasil, a partir de hoje, deixa de ser referência no combate à escravidão que estava sendo na comunidade internacional”. (ESTADÃO, 2017)

A Portaria do Ministério do Trabalho foi suspensa, até então a entrega do trabalho de conclusão de curso, não se soube. Então teria sido suspensa seus efeitos, pela Ministra Rosa Weber, pelo descumprimento dos princípios fundamentais da Constituição, sendo um deles, o princípio da dignidade da pessoa humana (PONTES, 2017).

A partir do estudado e analisado, o Brasil vem sofrendo mudanças, e devido esse fato, existe a OIT como organização pelo combate do trabalho em condições análogas ao de escravos. Sempre houve luta contra a escravidão, mas também há situações como a portaria que foi suspensa que mudaria o conceito de combate que o Brasil vem fazendo.

Referências

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