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ESSIO DOS SANTOS MACIEL

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Curso Bacharelado em História

ESSIO DOS SANTOS MACIEL

CRESCIMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DAS IGREJAS

EVANGÉLICAS EM RIO BRANCO A PARTIR DE 1990

Rio Branco

2010

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ESSIO DOS SANTOS MACIEL

CRESCIMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DAS IGREJAS

EVANGÉLICAS EM RIO BRANCO A PARTIR DE 1990

Monografia apresentada à coordenação do curso de Bacharelado em História, como pré-requisito para obtenção do título de bacharel em História, pela Universidade Federal do Acre – UFAC, sob a orientação do Prof. Dr. Enock da Silva Pessoa.

Rio Branco 2010

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ESSIO DOS SANTOS MACIEL

CRESCIMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DAS IGREJAS EVANGÉLICAS

EM RIO BRANCO A PARTIR DE 1990

FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em História da Universidade Federal do Acre como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de bacharel em História. Aprovado em: ___/___/2010. Média: ___________ BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________

Prof. Dr. Enock da Silva Pessoa. Orientador

Universidade Federal do Acre

_____________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Alves de Sousa.

Universidade Federal do Acre

_______________________________________________ Profª. Msc. Rosana Martins de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradecemos a Deus pela iluminação do entendimento para a compreensão dos conteúdos que foram ministrados ao longo do curso, e consequentemente a conclusão deste trabalho em tempo hábil.

À minha família, em especial à minha querida esposa Euzenir, que muito me incentivou durante o percurso de minha vida acadêmica, como também se constituiu uma grande auxiliar, no que diz respeito à digitação da produção deste trabalho monográfico.

Ao professor Dr. Enock, orientador deste trabalho, pelas valiosas contribuições e sugestões que foram indispensáveis para a conclusão deste estudo.

Às minhas amigas Micheline Fonseca e Teresinha Cantiga, pelas importantes contribuições na revisão ortográfica deste trabalho.

As pessoas que se predispuseram ao me conceder entrevistas para a realização desta pesquisa.

Também não poderia deixar de agradecer aos professores e colegas de turma, os quais sempre manifestaram relações de compreensão e amizades por toda trajetória acadêmica.

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“Não existe religião na qual não haja proibições, na qual elas não tenham papel considerável.” (Durkheim)

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RESUMO

MACIEL, Essio dos Santos. Crescimento e práticas sociais das igrejas evangélicas em

Rio Branco a partir de 1990. Orientador: Enock da Silva Pessoa. Rio Branco: UFAC, 2010.

(Monografia).

Este trabalho se propõe a analisar o crescimento das igrejas evangélicas e suas práticas sociais na cidade de Rio Branco. Para a concretização desta obra foi utilizada a seguinte metodologia: pesquisas bibliográficas, documentais e entrevistas orais. Faz-se abordagens sobre a maneira como alguns teóricos avaliam as formas e representação da vida religiosa, como também os seus mecanismos de interação com o meio social. Ressalta-se ainda, uma breve contextualização histórica do desenvolvimento do cristianismo no Ocidente, o contexto das migrações protestantes vindas da Europa e dos Estados Unidos da América do Norte, que resultou na efetivação do protestantismo histórico no Brasil. É feita também a referência histórica da composição das igrejas pentecostais e neopentecostais no Brasil. Aborda-se também o conceito de ação social na teoria weberiana, fazendo a ligação com as práticas sociais realizadas pelas igrejas evangélicas, como também a maneira dos líderes dessas agremiações explicarem a ação social em forma de política partidária na cidade de Rio Branco. Nesta perspectiva, considera-se que o desenvolvimento das igrejas evangélicas na cidade de Rio Branco se processou com maior intensidade a partir da década de 1990, não vinculado apenas às mudanças na forma de agir dos agentes sociais evangélicos, mas principalmente por uma série de transformações ocorridas em meio à conjuntura social, entre elas, a expulsão dos seringueiros da zona rural e o rápido “inchamento” de Rio Branco e das cidades ao redor. Através dos relatos dos entrevistados, verifica-se que a necessidade do ser humano em busca de soluções para os seus problemas se constitui na explicação mais comum para o crescimento dos evangélicos na cidade de Rio Branco. Dessa maneira, as ações sociais realizadas por este segmento religioso representam um meio de interação com a comunidade. Neste sentido, para se obter êxito em suas práticas, visando à conquista de seguidores, faz-se necessário a elaboração de estratégias que encontrem apelo social, as quais podem ser caracterizadas como vínculo social.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 09

OBJETIVOS: Geral e Específicos... 10

CAPÍTULO I - O surgimento da religião e as possíveis causas de sua conservação... 11

CAPÍTULO II - A formação do protestantismo brasileiro e seu desenvolvimento em Rio Branco Acre ... 17

2.1 - O processo histórico do desenvolvimento do cristianismo Ocidental... 17

2.2 - O contexto histórico das migrações protestantes vindas da Europa... 20

2.3 - A composição do protestantismo histórico brasileiro... 21

2.4 - A formação das igrejas pentecostais e neo-pentecostais no Brasil... 22

2.5 - A inserção dos evangélicos no Acre e em Rio Branco... 24

2.6 - Tabela dos habitantes da cidade de Rio Branco... 26

2.7 - Gráfico dos habitantes relacionado aos anos de 1980, 1991 e 2000... 27

CAPÍTULO III - As igrejas evangélicas e o seu interagir como forma de ação social na cidade de Rio Branco... 30

3.1 - O conceito de ação social na teoria weberiana... 30

3.2 - Como se desenvolvem as ações sociais nas igrejas evangélicas?... 33

3.3 - Como os líderes evangélicos explicam a ação social em forma de política partidária... 44

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6 - REFERÊNCIAS... 52

7 - APÊNDICE... 53

7.1 - Relação das igrejas evangélicas que existiam oficialmente na cidade de Rio Branco até os anos de 1990... 53 7.2 - Relação das igrejas evangélicas que foram fundadas a partir de 1990... 53

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INTRODUÇÃO

A elaboração de um estudo sobre o crescimento dos evangélicos na cidade de Rio Branco dá-se em virtude da necessidade de se buscar uma visão mais aprofundada sobre os diversos aspectos que contribuíram para a realização deste fenômeno.

Considera-se que, pela visão do conhecimento do campo da história, as coisas acontecem em decorrência de um processo dinâmico, onde se analisam todas as condições materiais responsáveis pela solidificação de determinado acontecimento.

Esta pesquisa aborda como se processam as formas e representações religiosas, enfatizando as causas que as originam. Nesta percepção, se entende que a religião não se efetiva como resultado da vontade de um sujeito individual, mas ao contrário, se processa no seio das comunidades em consonância com os anseios populares (DURKHEIM,1983).

Entende-se que este trabalho é de relevância para sociedade local, em virtude de fazer um apontamento sobre a importância das práticas sociais desenvolvidas pelos evangélicos na cidade de Rio Branco - AC. Enfatiza-se também a importância deste estudo, em expor a interação das práticas desenvolvidas pelas igrejas evangélicas para com a comunidade e os benefícios que esta interação proporciona, tanto no aspecto individual como coletivo.

A partir das duas últimas décadas, grande parte dos líderes evangélicos percebeu que o papel da igreja não deve se restringir apenas às questões de ordem espiritual. Esta visão proporcionou a criação de estratégias, visando o alcance de pessoas das diversas camadas sociais. Esse fato pode ser percebido nas múltiplas formas de ação desses grupos, sempre em busca de se expandirem numericamente.

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O objetivo geral desta pesquisa é compreender como se desenvolvem as práticas sociais das igrejas evangélicas, no que diz respeito ao seu crescimento na cidade de Rio Branco - AC e a sua inserção na política partidária.

Os objetivos específicos são:

a) Identificar os aspectos que direcionam as ações sociais desenvolvidas pelos evangélicos, a partir do conceito weberiano;

b) Contextualizar os motivos que levam às realizações dessas ações sociais; c) Analisar as formas de ações sociais que contribuíram para o crescimento dos evangélicos na cidade de Rio Branco.

d) Compreender a inserção política partidária como forma de ação social.

Metodologicamente, este trabalho está organizado com a seguinte estrutura: No capítulo 1, aborda-se a visão de vários autores entre os quais: Durkheim, Freud, Morin, Beit-Hallahmi e Argyle, Marx, Rokeach e Roman, buscando construir o conceito das formas representativas da vida religiosa, e de como esta exerce influência na vida dos seres humanos.

No capítulo 2, é realizada uma contextualização histórica sobre a formação do protestantismo brasileiro e o seu desenvolvimento em Rio Branco-Acre.

No capítulo 3, faz-se análise sobre as ações sociais que os diversos grupos evangélicos realizam em meio à sociedade rio-branquense, enfatizando os aspectos mais relevantes ao seu crescimento.

Na trajetória deste estudo foram realizadas pesquisas bibliográficas de vários autores que retratam sobre os aspectos da vida religiosa, como também se verificou nos livros do IBGE, os censos realizados a partir do ano de 1980. Já a pesquisa documental se desenvolveu no cartório da 1ª Serventia de Registros de Títulos e Documentos Civis das Pessoas Jurídicas de Rio Branco - AC.

No período de 14.01.2009 a 20.03.2009, foram realizadas entrevistas com um grupo de quinze pessoas, os quais ocupam cargos de liderança nas suas respectivas igrejas. Cada entrevista durou, aproximadamente, 35 minutos, em cada uma delas, foi obtida a devida autorização por escrito do entrevistado para os fins deste trabalho.

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CAPÍTULO I

O SURGIMENTO DA RELIGIÃO E AS POSSÍVEIS CAUSAS DE SUA CONSERVAÇÃO

Para compreender o processo do pensamento religioso, faz-se necessário o retorno a um período da história que, cronologicamente, está bem distante de nós, onde a busca pelo sentido da vida e das demais coisas existentes só encontravam interpretações de caráter religioso. Nos estudos históricos e sociológicos da religião não existe o estabelecimento de uma data fixa como ponto de partida para a efetivação de práticas de cunho místico. Acredita-se que o mais importante é analisar as possíveis causas que deram origens ao processo da vida religiosa no seio da humanidade:

Não há um instante radical em que a religião tenha começado a existir e não se trata de encontrar um atalho que nos permita transportarmo-nos até lá pelo pensamento. Como toda instituição humana, a religião não começa em parte alguma. Todas as especulações deste gênero também estão juntamente desacreditadas; elas não podem passar de construções subjetivas e arbitrárias que não comportam controle de tipo algum. O problema que nós nos colocamos é completamente diferente. O que queríamos era encontrar um meio de discernir as causas, sempre presentes, das quais dependem as formas mais essenciais do pensamento e da prática religiosa. (DURKHEIM, 1983, p. 210).

A religião também pode ser entendida como uma construção social. Neste sentido, as práticas e representações religiosas se desenvolvem em determinados grupos humanos em decorrência das suas necessidades de se sentirem socialmente

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vinculados uns aos outros. No entanto, a busca pela religião não pode ser vista apenas como interesse para se conseguir algo, mas como resultado da fé existente nos indivíduos. Dessa forma, a inserção de uma pessoa ao campo da religiosidade não acontece somente pelos estímulos racionais calculistas:

A religião civil é, então, a necessidade que os indivíduos têm de ser não apenas movidos pelo interesse ou pela razão, motivos que os levaram a contratar, mas também movidos por algo como a fé. No fundo, o vínculo social (seria necessário tomar aqui a religião no sentido etimológico do termo, isto é aquilo que faz a ligação) não é inteiramente racional, calculável, ele se baseia em algo que não seja o contrato. (ROMAN, 1996, p. 25).

Entende-se que os primeiros sistemas de representações foram criados em decorrência da ideologia religiosa, e neste aspecto, considera-se que a religião está inserida no campo da cosmologia, como também representa uma forma de especulação sobre o mundo divino. Essa análise do pensamento religioso está muito além dos rituais, ou seja, os indivíduos trazem consigo na base de seus intelectos, noções essenciais que influenciam as suas atitudes. A esta representação de pensamento, os filósofos, desde Aristóteles, classificaram como categorias do entendimento. Neste aspecto, a noção de tempo, de espaço, de gênero, número, causa, substância e personalidade se constituem em um produto do pensamento religioso, o que faz acreditar que as formas e representações religiosas estão sempre interagindo com as demais atividades na vida material dos seres humanos:

Sabe-se desde muito tempo que os primeiros sistemas de representações que o homem se fez do mundo e de si mesmo são de origem religiosa. Não existe religião que não seja uma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulação sobre o divino. Se a Filosofia e as ciências nasceram da religião, é que a própria religião começou por ocupar o lugar das ciências e da Filosofia. Mas o que foi menos notado é que ela não se limitou a enriquecer com um certo número de idéias um espírito humano previamente formado; ela contribuiu também para formá-lo. Os homens não lhe deveram apenas uma notável parcela da matéria e seus conhecimentos, mas também a forma segundo a qual esses conhecimentos são elaborados. (DURKHEIM, 1983, p. 211).

Para a psicanálise, o fenômeno religioso é analisado pelo prisma da privação como forma de compensação das perdas da vida material. Freud, apud Pessoa (2003) em seus estudos sobre o comportamento dos seres humanos, chegou ao entendimento de que as chamadas civilizações têm como princípio base a coesão e a renúncia dos instintos, e parte do pressuposto em que os seres

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humanos, de uma forma genérica, possuem tendências destruidoras, que se constituem em ameaça à destruição da sociedade e da cultura, e neste sentido, se faz necessário a presença de pessoas exemplares que possam direcionar o povo a se submeter aos esforços de privação com a finalidade de preservar o sistema como um todo.

Quando as pessoas estão na fase infantil, dependem da proteção dos pais. Na proporção em que vão crescendo, tendem a transferir esta proteção aos deuses que se revelam possuidores de uma função tríplice: 1) afugentar os medos em relação à natureza; 2) conciliar o ser humano com a crueldade do destino, como por exemplo, a morte; 3) a compensação das pessoas pelos seus sofrimentos e adversidades da vida em sociedade. Neste aspecto, o sistema ideológico constitui a crença na divindade. Esses ideais encontram-se acima das civilizações. Neste sentido, essas idéias servem como forma de recompensar os danos e deficiências da sociedade, como também a prevenção dos sofrimentos como forma do cumprimento dos deveres culturais:

A gênese psíquica das idéias religiosas, poderemos já formulá-la a seguir: tais idéias, que nos são apresentadas como dogmas, não são advindas da experiência nem conclusões do pensamento: são ilusões, realizações dos desejos mais antigos, intensos e preocupante da humanidade. O segredo de sua força está na força dos desejos. Sabemos já que a penosa sensação de impotência experimentada na infância foi o que despertou a necessidade de proteção, a necessidade de uma proteção amorosa, satisfeita em tal época pelo pai, e que o descobrimento da persistência da tal situação indefesa através de toda a vida levou logo o homem a forjar a existência de um pai imortal muito mais poderoso. O governo bondoso da Divina Providência mitiga o medo dos perigos da vida; a instituição de uma ordem moral universal assegura a vitória final da justiça, tão vulnerável dentro da civilização humana, e a prolongação da existência terrena por uma vida futura amplia, infinitamente os limites temporais e espaciais nos que vão se cumprir os desejos. (FREUD apud PESSOA, 2003, p.175-176).

Para melhor se compreender como as idéias religiosas se expandem, parte-se do princípio que em todas as organizações de caráter religioso, pode-parte-se identificar em seu seio, um conjunto de normas que, aparentemente, se diferenciam uma das outras. No entanto, em sua essência, demonstra algo em comum a todas, desde as consideradas mais simples até as que ganharam uma posição mais avançada no contexto da religiosidade.

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Por mais simples que seja o sistema que estudamos, nós reencontramos nele todas as grandes idéias e todas as principais atitudes rituais que estão na base das religiões mais avançadas: distinção das coisas em sagradas e profanas, noção de alma, de espírito, de personalidade mítica, de divindade nacional e mesmo internacional, culto negativo com as práticas ascéticas que são sua forma exasperada, ritos de oblação e de comunhão, ritos imitativos, ritos comemorativos, ritos de expiação. (DURKEIM, 1983, p. 221).

Em sua análise, Morin considera que a religião não poderia ser vista apenas do ponto de vista da espiritualidade, mas, sobretudo, de uma religiosidade que, além da fé no sobrenatural, possuísse um caráter libertador no campo da materialidade. Que em seus ideais propagasse a fraternidade como forma de bem estar, e que se desvinculasse do processo de alienação. Neste sentido, ela pudesse visualizar as contradições da vida como parte integrante da história da humanidade, adotando assim a dúvida em vez da certeza generalizada. Dessa forma, a religião teria as seguintes características:

Seria uma religião terrena, não supra terrestre, e não de salvação terrestre. Contudo, seria uma religião de salvaguarda, de salvamento, de libertação, de fraternidade. Seria uma religião, como qualquer religião, com fé, mas, ao contrário das outras religiões que substituem a dúvida pelo fanatismo, ela reconheceria no seu seio a dúvida e a dialogaria com ela. Seria uma religião que assumiria a incerteza. Seria uma religião aberta sobre o abismo. (MORIN apud PESSOA, 2007, p.23).

Para Beit-Hallahmi e Argyle, apud Pessôa (2007), as crenças religiosas podem ser compreendidas através de fatores neurais, os quais se fazem perceber na composição da personalidade individual. Nesta linha de pensamento, as crenças de caráter religioso podem ser visualizadas como identificação da personalidade.

A manifestação das crenças religiosas pode ser analisada como uma forma de adequar as pessoas em relação ao medo e temores da vida. Nesta visão, as representações da vida religiosa ocupam papel de vital importância para proporcionar equilíbrio emocional diante das frustrações, e que, em muitos casos, se processam por fatores ligados à própria mente humana. (FREUD apud PESSOA, 2007). No sistema freudiano, a religião é comparada às artes com o objetivo de propiciar refrigério às massas, que sem possuir uma visão crítica, atribuem aos deuses os desejos e as ansiedades da vida humana.

A religião também é entendida como um mecanismo de compensação diante das adversidades: “a religião é o suspiro das criaturas oprimidas, o coração de um

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mundo sem coração e a alma dos que estão sem condições de alma. É o ópio do povo”. (MARX apud PESSOA, 2007, p. 265).

Na compreensão, da maior parte, das pessoas que seguem uma religião, por diversos fatores, consideram que o conjunto de crenças da qual fazem parte, serve para instruir no que diz respeito às formas comportamentais adequadas que proporcionam o bem estar interior, mesmo estando em circunstâncias adversas:

A verdadeira função da religião não é fazer-nos pensar, enriquecer nosso conhecimento, acrescentar as representações que devemos a ciência, representações de uma outra origem e de um outro caráter, mas a de fazer-nos agir, auxiliar-fazer-nos a viver. O fiel que se comunicou com o seu deus não é apenas um homem que vê novas verdades que o descrente ignora; ele é um homem que pode mais. Ele sente em si mais força, seja para suportar as dificuldades da existência, seja para vencê-las. Ele está como que elevado acima das misérias humanas porque está elevado acima de sua condição de homem; acredita-se salvo do mal, sob qualquer forma. (DURKHEIM, 1983, p. 222).

Outro aspecto que pode estar relacionado à construção e manutenção das práticas religiosas é a visão particularizada que geralmente é observada na forma de ver o mundo, por parte da maioria das pessoas, que se declaram religiosas. Neste sentido, avalia-se que todo o ramo da religião que adota o proselitismo, representa um sistema fechado, pois na medida em que alguém se esforça para levar outra pessoa para o seu grupo religioso, é porque acredita ser possuidor de uma verdade absoluta:

Um sistema é fechado na medida em que existe uma alta magnitude de rejeição de todos os sistemas de descrenças, uma isolação de crenças, uma discrepância em graus de diferenciação entre o sistema de crença x descrenças e pouca diferenciação dentro do sistema de descrenças. Quanto mais fechado o sistema, maior a aceitação de crenças particulares dependentes de impulsos internos relevantes e/ou reforços arbitrários da autoridade externa. A relação entre as crenças dependeria de tais considerações irrelevantes e não de considerações de consistência lógica. (ROKEACH apud PESSOA, 2007, p.54).

Em síntese, se avalia que as crenças e as representações religiosas estão inseridas em quase todos os aspectos da vida humana, mesmo daqueles indivíduos que não professam nenhum tipo de devoção em seus atos e na sua forma de pensar. Terminam inconscientemente por refletir ideais religiosos, ou seja, a religiosidade se caracteriza como algo muito mais profundo na sociedade que qualquer outro sistema ideológico.

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Dando ênfase ao embasamento teórico já exposto, pode-se considerar que as práticas sociais realizadas pelos evangélicos na cidade de Rio Branco, expressam que as formas e representações da religiosidade encontram-se estritamente vinculadas aos anseios da vida material. Neste sentido, se avalia que os aspectos da vida religiosa se fazem perceber nas diversas dimensões da vida social, influenciando os indivíduos na sua forma de agir e de pensar.

Numa análise sobre as práticas sociais desempenhadas pelas igrejas evangélicas, pode-se perceber que essas ações não são efetivadas por obra do acaso ou em segmento a uma determinação divina, mas, sobretudo, em decorrência da obediência a estímulos provocados por fatores de ordem material e social.

Segundo a teoria weberiana de ação social, os sujeitos sociais realizam as suas ações e criam o seu modo de vida de acordo com sua percepção de mundo. Nesta forma de pensar, as pessoas podem agir motivadas pelos fins que se pretendem alcançar ou em virtude dos valores que se apresentam em forma de crenças absolutas.

Essas ações também se concretizam em outros dois campos: o da afetividade, no qual os indivíduos desenvolvem as suas práticas por intermédio de impulsos emocionais, como também sob a ótica tradicionalista, que pode significar um profundo apego aos costumes que foram cristalizados.

Esta pesquisa demonstra que todas essas formas de ação social representam maneiras de interação dos evangélicos com a sociedade rio-branquense. No capítulo que retrata a pesquisa de campo realizar-se-á uma abordagem mais aprofundada sobre as modalidades de ação social weberiana vinculada às práticas sociais das igrejas evangélicas, visando seu crescimento na cidade de Rio Branco.

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CAPÍTULO II

A FORMAÇÃO DO PROTESTANTISMO BRASILEIRO E SEU DESENVOLVIMENTO EM RIO BRANCO - ACRE

2.1 – O processo histórico do desenvolvimento do Cristianismo Ocidental

O cristianismo, em seus primeiros tempos de existência, foi veementemente marginalizado. No entanto, após um período de perseguição, foi finalmente reconhecido e institucionalizado como religião oficial do Império Romano. Essa mudança no quadro religioso tinha o objetivo de, através do discurso teológico, levar Roma a se expandir pelo mundo, aja visto que naquele momento a Igreja Romana estabeleceu parceria com o Império Romano, criando assim a primeira idéia de história universalizada, objetivando a salvação da humanidade:

A Igreja Romana e o Império Romano formaram o verso e o anverso de uma mesma (e primeira) ideia de história universal, como vontade de potência universal legitimada por um discurso de salvação da humanidade. Os romanos identificaram no cristianismo que surgia a nova ideia de história que os faria imbatíveis por mil anos (REIS, 2006, p.19).

Com relação ao período de tempo denominado de Idade Média ou Idade das Trevas, como é analisado por diversos escritores, percebe-se que se trata de uma época onde se processaram diversos mecanismos para o aprimoramento do saber humano nos mais variados aspectos que se caracterizam os pilares do Renascimento e da modernidade. Foi neste contexto que a Igreja Católica criou as

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universidades, as quais naquela conjuntura social, representavam uma espécie de luz em meio à escuridão. Essas instituições de ensino superior estavam sempre ligadas às determinações eclesiásticas. As universidades que se tornaram mais conhecidas e famosas foram a de Paris, a de Oxford, a de Cambridge e a de Bolonha. Foi através desta iniciativa que Lutero realizou os seus estudos universitários, de mestrado e doutorado na Alemanha. Esse mecanismo foi utilizado por outros reformadores como Zwinglio e Calvino, os quais concluíram os seus estudos em universidades da Suíça e da França (HULBURT apud PESSOA, 2003).

A identidade Ocidental começou a se fragmentar entre os séculos XIII a XVI, com o surgimento do conceito de modernidade. Essa nova representação do tempo é marcada, fundamentalmente, pela recusa da metafísica. Porém não significa dizer que a fé seria completamente abandonada, mas que uma nova ordem se iniciava trazendo consigo mudanças no quadro estrutural da sociedade, tanto nos aspectos políticos, quanto religiosos e econômicos: “Deus não seria abandonado, mas não reinaria mais sozinho e de modo absoluto”. (REIS, 2006, p.22). Neste sentido, é coerente dizer que apesar do esforço do clero em manter uma sociedade homogênea, moldada em seus princípios, não foi capaz de impedir o aparecimento de elementos contraditórios dentro da própria conjuntura social vigente, que posteriormente veio ocasionar mudanças significativas na sua base estrutural.

Neste período histórico ocorreram várias descobertas que tinham como fundamento as liberdades individuais, dentre elas se destaca a criação da imprensa por Gutenberg por volta de 1455, que veio proporcionar melhores condições para a propagação das novas idéias, entre elas a ideologia religiosa. Através da divulgação em massa da bíblia em latim e também em alemão, os escritos luteranos, acompanhados de uma imensa literatura humanista, contribuíram para a concretização da Reforma Protestante. No período entre 1456 a 1500, mais de oito milhões de livros foram impressos no Continente Europeu, onde que aproximadamente a metade era de cunho religioso. Diante da importância da descoberta pode-se dizer que a reforma não teria alcançado êxito se as publicações ainda fossem feitas à mão (CUNHA apud, PESSOA, 2003).

Dentro dessa conjuntura social, segundo (MOTA, 1986), se desenvolveram várias correntes de pensamentos contrários à dominação da igreja. Essa discórdia se dava pelos mais variados tipos de interesse, tendo em vista que a igreja, naquele momento, contrariava os anseios das classes sociais importantes para a nova ordem

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social que se emergia. Dentre os revoltosos se destacam: a) a burguesia e os príncipes, os quais tinham interesse em se apropriar dos bens da igreja; b) o povo que almejava o abrandamento da carga tributária; c) os reis que necessitavam de recursos para o patrocínio de suas guerras de libertação de Roma; d) e os camponeses contra os dízimos e o sistema de servidão que lhes foram impostos. Tudo isso contribuiu para que a igreja deixasse de representar um elo com a população em geral.

O século XVI, na visão de alguns historiadores da religião, foi caracterizado pelas constantes instabilidades, divisão e dissolução, que ocasionou a perda dos laços de união da religião cristã. Neste contexto, entre 1515 e 1517, alguns anos após os espanhóis terem descoberto a América e os portugueses terem trazido o catolicismo romano para o Brasil, surgiu e se processou na Europa um movimento denominado protestantismo, que se constituiu o agente motor para a ocorrência de profunda revisão religiosa. Neste contexto, a igreja católica já não era uma instituição homogênea, pois já se encontrava dividida em oriental e ocidental desde o século XI, quando no ano de 1054, o Papa de Roma e o Patriarca de Constantinopla se excomungaram um ao outro (DICKENS apud PESSOA, 2003).

Para a realização dos movimentos religiosos ocorridos no século XVI, pode-se considerar o surgimento de outros movimentos que pode-serviram de bapode-se, entre eles, o Renascimento Cultural desenvolvido nos séculos XV e XVI, o qual teve seu início na cidade de Florença (Itália), por volta de 1450. Tinha como fundamento a busca pela cultura da antiguidade clássica (grego-romano). Este movimento visava a retomada de novas formas de valores artísticos, filosóficos e políticos, principalmente no campo da religiosidade, tendo em vista que a classe burguesa, a qual se emergia, lutava pela ruptura entre o sistema feudal nitidamente religioso, teocêntrico e imobilista, enquanto o homem renascentista concentrava a sua reflexão nos problemas humanos, sobretudo na análise de sua própria individualidade e o empenho para adquirir um autoconhecimento (MOTA, 1986).

Já o movimento humanista renascentista trabalhou em parceria com a Reforma Protestante, mas apesar de divergirem em muitos aspectos, todos idealizavam a introdução de mudanças importantes no quadro social que possibilitasse a busca das liberdades individuais, as quais resultaram na implantação das raízes do capitalismo moderno, como também a universalização do espírito das artes e do saber. A diferenciação mais visível está na identificação de seus agentes

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sociais: o renascimento foi um movimento idealizado por nobres e burgueses, enquanto que o protestantismo se caracterizava em um movimento religioso desenvolvido por pessoas oriundas de classe média e inferiores, tanto da cidade como do campo (FROMM apud PESSOA, 2003).

Na visão de (Reis, 2006), Lutero teve forte influência do pensamento renascentista e considerava a questão da fé religiosa de maneira reflexiva, onde o mundo divino deixava de ser misterioso e fora do alcance dos homens, passando a se constituir em uma realidade construída por cada sujeito de maneira individual. Neste sentido, o protestantismo renunciou a autoridade da tradição e proclamou a soberania do ser humano como agente social. Dessa forma, pode-se afirmar que o renascimento e a reforma andaram juntos, interagindo em vários aspectos no que diz respeito às liberdades individuais, as quais se constituem um quesito indispensável para uma vida saudável em sociedade. No contexto social daquele período histórico, as liberdades individuais eram negligenciadas.

2.2 – O contexto histórico das migrações protestantes vindas da Europa.

A partir de 1808, com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil em decorrência da fuga de D. João VI, por causa da invasão napoleônica, o país passou a ser a sede do reino e as relações com a Inglaterra se ampliaram ao ponto de ser concedido visto para a entrada de cidadãos ingleses de fé anglicana para estabelecer moradia no Brasil. Os protestantes estavam vindos de forma pacífica com a finalidade de efetivar relações comerciais, quando em 1810, em virtude da assinatura do tratado de comércio e navegação entre os dois países, ficou garantida a liberdade de culto para os ingleses, apesar de o clero católico ter se posicionado contrário ao artigo XII que assim estabelecia:

A garantia aos súditos britânicos da liberdade de culto, com o direito de realizar serviços religiosos, tanto em suas casas, como nas igrejas e capelas a serem por eles construídas, desde que esses templos se assemelhassem exteriormente, a residências e não dispusessem de sinos para anunciar os ofícios da fé (TEIXEIRA apud PESSOA, 2003, p.50-51).

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Os protestantes luteranos alemães chegaram ao Brasil por volta de 1824 e se concentraram nos estados do sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), e do sudeste (São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), sendo que a primeira comunidade luterana foi fundada na cidade de Nova Friburgo, localizada no estado do Rio de Janeiro, pelo pastor Friedrich Sauerbronn, composta por 334 fiéis. Posteriormente, um grupo composto por 43 imigrantes fundaram uma comunidade no Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, que ficou conhecida como São Leopoldo, em homenagem a Imperatriz Leopoldina (MENDONÇA apud PESSOA, 2003).

No ano de 1855, os escoceses calvinistas Robert e Sarah Kalley chegaram ao Rio de Janeiro, fugidos da Ilha da Madeira por questões religiosas. Em 1858, fundaram a Igreja Evangélica Fluminense, a qual se tornou o modelo padrão do protestantismo popular conversionista e individualista, tendo como prática a autonomia das igrejas locais, representando um modelo de democracia direta (MENDONÇA apud PESSOA 2003).

2.3 – A composição do protestantismo histórico brasileiro

Segundo nos informa Pessoa (2003), as primeiras igrejas evangélicas a se estabelecerem no Brasil foram as tradicionais, denominadas de protestantismo histórico. Neste contexto, o primeiro missionário norte-americano a se estabelecer em solo brasileiro foi o presbiteriano A. G. Simonton, no ano de 1859, o qual em 1862 fundou a primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, formada por brasileiros e portugueses. Posteriormente, se empenhou na criação da Imprensa Evangélica, sendo que no ano de 1864 foi criado o primeiro periódico evangélico traduzido para o português. A organização do presbitério se concretizou em 1865, o que contribuiu para a criação da Escola Paroquial anexa à Igreja do Rio de Janeiro, como também o Seminário Teológico, visando a preparação dos pastores brasileiros, em 1867.

Os presbiterianos optaram por caminharem na trilha do desenvolvimento da cafeicultura e se expandiram pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As viagens eram realizadas em lombos de animais e, para fazer o percurso de uma cidade para outra, demoravam vários dias, envolvendo grandes sacrifícios, além das oposições desenvolvidas pelo clero católico. Neste

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contexto, a conversão do ex-padre José Manoel da Conceição à fé presbiteriana, foi de fundamental importância para o seu desenvolvimento nos primeiros anos de atuação no Brasil.

Dentre as igrejas protestantes, a que mais cresceu no século XIX foi a presbiteriana e a primeira a obter independência formal em relação às igrejas mães com sede nos Estados Unidos. A sua organização oficial se deu em 1888, com quase três mil membros.

Os metodistas, que também fazem parte do protestantismo histórico, se fixaram no Brasil entre o período de 1867 e 1886 por intermédio dos reverendos Jonius E. Newman, J. J. Ransom, J. W. Koger, J. Kennedy e outros missionários que vieram após eles (MENDONÇA apud PESSOA 2003).

Os missionários batistas norte-americanos vieram para o Brasil em 1881, e somente um ano após a sua chegada organizaram a primeira Igreja Batista na cidade de Salvador-BA, mais precisamente no dia 15 de outubro 1882. Na data de sua fundação, a entidade contava com, apenas, cinco membros, e ao passar dos anos se desenvolveu a ponto de em 1907, já possuir um grupo de quatro mil filiados, oportunidade em que se efetivou a Organização de sua Convenção.

Mesmo após as igrejas históricas adquirirem a sua independência, os missionários americanos continuaram a vir para o Brasil, atuando mais especificamente, na educação teológica, financiando a construção de prédios para as faculdades e seminários teológicos, além de terem dado suporte econômico para os primeiros missionários e professores que haviam concluído curso de doutorado nos Estados Unidos. Neste aspecto, permaneceu a forte presença da cultura norte-americana em solo brasileiro, pois através dos seminários teológicos passavam as suas formas de crença para as novas igrejas que iam sendo fundadas.

2.4 – A formação das igrejas pentecostais e neopentecostais no Brasil

As igrejas pentecostais começaram a se formar no Brasil a partir de 1910, ao contrário do que aconteceu com as igrejas consideradas históricas, elas não tiveram apoio financeiro vindo dos Estados Unidos e da Europa. O termo pentecostal está vinculado as suas formas de crenças no Espírito Santo. Segundo (FRESTON apud PESSOA, 2003) o pentecostalismo brasileiro se desenvolveu em três etapas: a

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primeira se refere à fundação de duas igrejas no início do século XX, do denominado pentecostalismo clássico. A primeira deste ramo foi a Congregação Cristã no Brasil, organizada em 1910 na cidade de Santo Antônio da Platina - PR, e posteriormente em São Paulo, tendo como seu idealizador o italiano Luigi Francescon que antes de vir para o Brasil, esteve nos Estados Unidos, oportunidade em que aprendeu as doutrinas pentecostais. Considerando o fato de essa igreja ter sido fundada por um leigo, o que se reflete até hoje na formação de sua liderança, que rejeita qualquer tentativa de estudos teológicos para seus dirigentes. A expansão das suas atividades ocorre, geralmente, entre as camadas sociais consideradas de baixa renda e menos culta, que se constitui uma característica comum aos pentecostais.

A Igreja evangélica Assembléia de Deus é a segunda igreja do pentecostalismo clássico, e teve a sua fundação no ano de 1911 na cidade de Belém-PA pelos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, de nacionalidade Sueca. Eles estabeleceram uma teologia, na qual a salvação é um ato de fé na graça de Deus, como também no chamado batismo do Espírito Santo. Essa forma de doutrina contribuiu para o seu crescimento, especialmente, entre as classes mais pobres, e posteriormente se tornou a maior igreja evangélica brasileira.

A segunda etapa do movimento pentecostal, de acordo com (FRESTON apud PESSOA, 2003), aconteceu durante os anos 50 e 60, a partir do surgimento do chamado “pentecostalismo autônomo” ou “movimento de cura divina”. A sua diferenciação do pentecostalismo clássico se dá, basicamente, pela ênfase maior na cura divina, no exorcismo e na utilização dos meios de comunicação em massa, divulgando suas crenças. A primeira igreja dessa corrente teológica é a do Evangelho Quadrangular, fundada em 1907 nos Estados Unidos pela jovem Aimee Mc Pherson e no Brasil no ano de 1951 por Harold Willians. Da mesma maneira que ocorreu nos Estados Unidos, no início de suas atividades, com a finalidade de propagar a sua mensagem, faziam uso de grandes tendas de lonas, espalhadas por todas as partes do Brasil.

A Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo foi organizada no ano de 1956 pelo missionário Manoel de Melo e se identifica como a segunda igreja do pentecostalismo autônomo. A terceira igreja pertencente ao movimento de cura divina é a Igreja Pentecostal Deus é Amor, fundada em 1962 pelo missionário David Miranda, que adotou o rádio como principal meio de divulgação da sua mensagem.

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A terceira etapa do pentecostalismo brasileiro se desenvolveu a partir dos anos 70, que se denomina o neopentecostalismo em decorrência dos seus métodos de divulgação das suas atividades pela mídia, como também a ênfase na teologia da prosperidade, na qual os seus líderes prometem aos fiéis a conquista de bens materiais, saúde perfeita e felicidade completa na terra como resultado da fidelidade a Deus.

As igrejas que se assemelham ao neo-pentecostalismo são: Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra, fundada em Goiás, no ano de 1976 pelo pastor Rodovalho; Igreja Universal do reino de Deus, criada no Rio de Janeiro no ano de 1977 pelo bispo Edir Macedo; Comunidade da Graça em São Paulo, em 1979; Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada em 1980 pelo missionário Romildo R. Soares, no Rio de Janeiro, Igreja evangélica Cristo Vive, organizada pelo apóstolo Miguel Ângelo, também na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1986, e a Igreja Renascer em Cristo, que foi fundada em São Paulo pelo casal apóstolo Estevão e bispa Sônia Hernandes, em 1986 (PESSOA, 2003).

2.5 – A inserção dos evangélicos no Acre e em Rio Branco

Os evangélicos começaram a vir para o Acre provavelmente no ano de 1903, com a chegada de um missionário da fé batista por nome de Crispiniano José da Silva, o qual por um longo período anunciou o evangelho em terras acreanas (PESSOA, 2007).

A Igreja Evangélica Assembléia de Deus, a qual atualmente se constitui na maior igreja do estado em quantidade de membros e congregados, faz parte do grupo de igrejas pentecostais clássicas. Essa denominação iniciou seus trabalhos em terras acreanas, primeiramente, no município de Cruzeiro do Sul, onde em 1932 se deu a sua organização. Somente em 1943 se estabeleceu em Rio Branco através do pastor Luis Firmino Câmara (ASSEMBLÉIA DE DEUS, 2008). Esta entidade possui vários ministérios independentes no Acre, sendo que os mais conhecidos são os de Belém e Madureira.

Em 1959, um grupo composto de 18 pessoas fundou uma igreja no Bairro do Bosque que ficou conhecida como Igreja Batista do Bosque, a qual em 2008 já

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contava com cerca de três mil membros (informação da secretaria da IGREJA BATISTA DO BOSQUE, 2008).

A Igreja Presbiteriana se instalou definitivamente em Rio Branco no início da década de 70, por meio do missionário norte americano Robert Camenish, o qual foi o idealizador da maioria dos templos da igreja no Acre e também em Rio Branco. Através da metodologia de evangelismo pessoal, se expandiu por diversas camadas sociais (Pastor João Pedro, entrevista realizada em 13.02.2009).

Na década de 60, outra igreja pentecostal clássica se estabeleceu em Rio Branco, como também em outros municípios acreanos. Esta entidade é conhecida como Congregação Cristã no Brasil, e se constitui uma das grandes denominações evangélicas de Rio Branco (PESSOA, 2003).

A Igreja do Evangelho Quadrangular, que faz parte do grupo das igrejas pentecostais autônomas, chegou a Rio Branco em 1973, por intermédio do pastor Benedito Batista e, posteriormente, se expandiu por diversos municípios do Acre. Atualmente possui cerca de dez mil membros distribuídos em sessenta igrejas independentes na cidade de Rio Branco (Pastor Paulo Lacerda, entrevista realizada em 16.02.2009).

Outra agremiação religiosa que se estabeleceu no Acre a partir dos anos de 1960 foi a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, também do grupo pentecostal autônomo, que significa “movimento de cura divina”, tendo como fundador o pastor Aramô Pascoal. Em Rio Branco, a entidade se desenvolveu basicamente entre as camadas sociais consideradas de baixa renda, geralmente na periferia da cidade (PESSOA, 2003).

A Igreja Pentecostal Deus é Amor do movimento de cura divina ou pentecostalismo autônomo, chegou a Rio Branco no ano de 1997 e também se desenvolveu, basicamente, no meio das classes menos favorecidas, ou seja, na periferia da capital. Atualmente conta com aproximadamente quinhentos membros e vinte e cinco congregações filiais (Entrevista realizada com o pastor Ildebrando Dias Paulista, da IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR, em 18.03. 2009).

A Igreja Universal do Reino de Deus, a qual faz parte do neopentecostalismo, chegou ao Acre no início da década de 90, tendo como enfoque a teologia da prosperidade. Outra igreja que adota esta teologia é a Igreja Internacional da Graça de Deus, a qual se instalou em solo acreano no ano de 2000. (PESSOA, 2007).

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Em pesquisa realizada junto ao IBGE pôde-se constatar, nas últimas décadas, um aumento significativo no número dos evangélicos na cidade de Rio Branco. De acordo com o censo de 1980, verificou-se que no universo populacional de 117.101 habitantes, 104.512 afirmavam ser católicos, enquanto que os evangélicos perfaziam um total de 2.753 pessoas (livro do recenseamento geral do Brasil-1980, p.25).

Já em 1991, segundo o recenseamento realizado pelo IBGE, a população rio-branquense era de 197.375 habitantes, dos quais 165.024 eram católicos, enquanto os que se denominavam evangélicos eram 19.004 pessoas (livro do recenseamento geral do Brasil, 1991, p.61). Porém, no ano de 2000, o número de habitantes aumentou para 253.0591, sendo que deste total, 157.605 eram católicos. Os evangélicos perfaziam a soma de 58.895 pessoas.

Para melhor visualização sobre o crescimento das igrejas evangélicas na cidade de Rio Branco, os dados acima são demonstrados conforme tabelas e gráficos abaixo:

2.6 – Tabela de habitantes da cidade de Rio Branco

Ano Total de habitantes Total de católicos Total de evangélicos Outros2

1980 117.101 104.512 2.753 9.836

1991 197.375 165.024 19.004 13.347

2000 253.059 157.605 58.895 36.559

Fonte: IBGE

Diante destes dados percebe-se que o número de pessoas que professam a fé católica teve uma diminuição considerável.

1

Conforme pesquisas realizadas no site: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/ptotabl.asp?c=2102&z=t&o= 1&i=P

2

Estão inseridos em outros ramos da religiosidade, como também os que se declaram não pertencerem a nenhum tipo de religião.

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2.7 – Gráfico de habitantes relacionado aos anos 1980, 1991 e 2000 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 1980 1991 2000 habitantes católicos evangélicos outros Fonte: IBGE

O gráfico acima é uma demonstração, mais detalhada, de todos os dados que estão contidos na tabela anterior.

Gráfico da pesquisa realizada no ano de 1980

89,25% 2,35% 8,40% católicos evangélicos outros Fonte: IBGE

Neste gráfico é demonstrada, de forma percentual, a população de Rio Branco no ano de 1980, onde 89,25% representavam a comunidade católica, enquanto os evangélicos eram apenas 2,35%, os 8,40% restantes pertenciam a outras religiões ou declaravam não pertencer a nenhum tipo de crença religiosa.

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Gráfico da pesquisa realizada no ano de 1991 83,61% 9,63% 6,76% católicos evangélicos outros Fonte: IBGE

Pode-se verificar neste gráfico, que no censo realizado pelo IBGE no ano de 1991, a população católica era de 83,61%, já os evangélicos perfaziam 9,63%, os 6,76% restantes pertenciam a outras religiões ou se declaram não pertencer a nenhum tipo de credo religioso.

Gráfico da pesquisa realizada no ano de 2000

62,28% 23,27% 14,45% católicos evangélicos outros Fonte: IBGE

Mediante a visualização dos dados contidos nos gráficos acima, pode-se perceber que na cidade de Rio Branco houve um aumento considerável do número de evangélicos nas duas últimas décadas. Essa análise pode ser verificada no

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percentual de crescimento dos evangélicos, já que no ano de 1980 eram apenas 2,35% entre os habitantes, mas no ano de 2000, esse número aumentou para 23,27%. Assim sendo, identifica-se um crescimento em torno de 21% durante esse período.

Foi realizada também uma pesquisa no Cartório da 1ª Serventia de registros de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas de Rio Branco – AC, na qual foi verificada que até o início da década de 90, existiam 25 igrejas evangélicas registradas. A pesquisa mostrou ainda que no período de 13.04.1993 a 03.07.2009 foram fundadas 134 igrejas evangélicas (relação em APÊNDICE). É importante dizer que cada uma destas agremiações religiosas pode manter suas filiais, o que explica o aglomerado de igrejas nas regiões mais populosas de nossa cidade. A Igreja Assembléia de Deus, ministério de Rio Branco, com sede na Av. Antônio da Rocha Viana é um exemplo disso, pois até o final do ano de 2009 já conta com 137 filiais, sendo que em cartório consta apenas o registro da matriz.

Em uma análise mais aprofundada, pode-se considerar que a formação do protestantismo brasileiro se deu a partir de 1808 com a abertura dos portos do Brasil às nações amigas (Inglaterra). Por isso, somente a partir do século XIX ocorreu a chegada de imigrantes europeus de crença protestante, os quais tinham como objetivo a concretização de relações comerciais em terras brasileiras.

O crescimento da fé protestante em solo brasileiro ocorre de maneira gradativa, sempre em consonância com as condições materiais existentes, isto é, no Sudeste, Sul, Centro-oeste e Nordeste. Os pregadores (vendedores de Bíblias) se utilizavam dos animais como meio de transporte. Na Amazônia os rios eram as vias de acesso à população a ser evangelizada.

Nesta perspectiva, considera-se que o desenvolvimento das igrejas evangélicas na cidade de Rio Branco, se processou com maior intensidade a partir da década de 1990. Esse crescimento não está vinculado apenas às mudanças na forma de agir dos agentes sociais evangélicos, mas principalmente, por uma série de transformações ocorridas em meio á conjuntura social, entre elas, a expulsão dos seringueiros da zona rural e o rápido “inchamento” de Rio Branco e das cidades circunvizinhas. No capítulo seguinte serão abordadas as explicações dos líderes sobre o crescimento do segmento evangélico em Rio Branco.

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CAPÍTULO III

As igrejas evangélicas e o seu interagir como forma de ação social na cidade de Rio Branco

Neste capítulo se desenvolvem abordagens analíticas interpretativas das fontes que retratam o crescimento das igrejas evangélicas sob a perspectiva de suas ações sociais. E neste aspecto se propõe a alcançar os seguintes objetivos:

 Conceituar a ação social sob a ótica Weberiana.

 Contextualizar as diversas formas de ação social desenvolvidas pelas igrejas evangélicas, no sentido de se expandirem.

 Analisar a interação dessas igrejas com a política partidária como forma de ação social.

3.1 – O conceito de ação social na teoria weberiana

As ações sociais analisadas por Weber se apresentam no campo das diversas possibilidades do agir humano. Elas podem obedecer a estímulos racionais que levam em conta as motivações presentes no horizonte social de cada indivíduo. Estas ações podem ser desenvolvidas mediante os ideais valorativos que implicam na convicção dos agentes sociais em estar realizando algo de fundamental importância para o contexto da sociedade, e nesta visão, os sujeitos sociais podem

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também pôr em prática as suas ações por intermédio das emoções e da cultura reinante na sua conjuntura social:

A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional referente a fins: por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como “condições” ou “meios” para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela crença consciente no valor – ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua interpretação – absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente emocional: por afetos ou estados emocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume arraigado. (WEBER, 2009, p.15)

O modelo de ação social referente a fins se identifica pelas expectativas geradas nos indivíduos em relação a outros seres que fazem parte de seu mundo contemplativo. Neste sentido, os sujeitos sociais utilizam estas motivações influenciadas pelo mundo exterior, para pôr em prática as suas ações de modo racional e intencional, buscando a conquista de algo que se caracterize o fim por eles estabelecido, ou seja, neste tipo de ação, as pessoas se empenham para adquirirem as coisas que proporcionam satisfação pessoal.

Em decorrência de suas necessidades pessoais, os seres humanos criam expectativas de ações, no sentido de adquirir meios para amenizar seus problemas existenciais. Neste aspecto, considera-se que o homem, como agente social, tem uma constante busca pela interação com seres e objetos à sua volta que lhe permitam a realização das metas socialmente estabelecidas.

Os que desenvolvem as ações de forma racional, impulsionados pelos valores, as fazem de maneira consciente de estarem cumprindo um dever que lhes foi atribuído. Nesta visão, os sujeitos podem agir em decorrência de suas crenças religiosas ou em virtude de qualquer outra causa que as julguem possuidoras de valores absolutos e éticos. Dessa forma, os indivíduos executam as suas ações sociais acreditando que foram incumbidos de responsabilidades diante das quais não podem abdicar.

As ações realizadas de modo afetivo são executadas mediante impulsos emocionais. Neste aspecto, os agentes sociais procuram direcionar os seus feitos no sentido de interagir com outros sujeitos, pelos quais demonstram afetividade, podendo também ser considerado como um sentimento de ternura ou um estado

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vulnerável, no sentido emocional, ou seja, as pessoas são levadas a agirem desprovidas da razão, tendo como objetivo a satisfação de seus desejos.

O modelo de ação tradicional nos faz compreender que as pessoas realizam as suas ações motivadas, especificamente, por costumes que culturalmente foram internalizados e impregnados em seu ser. Dessa forma, os sujeitos acreditam que devem lutar pela manutenção da ordem estabelecida, tendo como objetivo a preservação dos costumes que foram cristalizados pela sociedade. Os que agem de acordo com esta visão desconsideram o processo histórico, talvez por falta de conhecimento das constantes transformações que ocorrem nos diversos padrões culturais.

Analisando as modalidades de ação social weberiana, pode-se perceber que o modo de agir dos evangélicos se encaixa em alguma parte dessas modalidades. As igrejas seguidoras da Teologia da prosperidade, entre elas: a Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus se enquadram no modo de ação racional referente a fins, tendo em vista que a maneira de propagar a fé destes ramos eclesiásticos leva os fiéis a lutar pela conquista prioritária dos bens materiais.

A Teologia da Prosperidade está centrada em dois pilares:

1. A de que Deus colocou os seus filhos neste mundo para ser “cabeça” e não “cauda”. Neste sentido, os que exercem este tipo de crença demonstram disposição para galgarem posição de destaque na sociedade, se empenhando para realização de uma vida de sucesso na área econômica.

2. Justificada pelo fato de Jesus ter levado na cruz todas as nossas enfermidades. Nesta perspectiva, se entende que os seguidores de Jesus devem gozar de perfeita saúde física.

No modo de ação social referente a valores, se entende que todas as igrejas estão inseridas nesta modalidade, tendo em vista que elas defendem valores éticos e morais oriundos da doutrina protestante. Dessa maneira, os agentes evangélicos se esforçam para expandir as suas denominações, tendo absoluta consciência de estarem agindo sob determinação divina em anunciar o evangelho para o crescimento do Reino de Deus na Terra. Assim, segundo crêem, terão como

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resultado a melhoria dos padrões comportamentais, os quais estarão ligados a valores.

As ações desenvolvidas de modo afetivo se destacam pelo estado emocional em que os indivíduos são levados a adotarem determinados tipos de procedimentos. Dessa forma, as igrejas pentecostais que crêem no chamado batismo do Espírito Santo, se assemelham com esta modalidade. Isso pode ser percebido pelo fato de que a quase totalidade dos sermões pregados nessas igrejas são direcionados com o fim de deixarem as pessoas mais vulneráveis a comportamentos emocionais. Também é incentivada a prática do uso de línguas estranhas, em que os fiéis passam a acreditar que são possuidores de um dom sobrenatural, e assim enfatizam uma maior ação do divino no meio humano. Outro aspecto ligado ao emocional é a ênfase na cura divina, que se faz perceber através da cura de enfermidades e da realização das causas consideradas impossíveis, os chamados “milagres”. Por não encontrarem explicações no campo da racionalidade, esse fenômeno transmite forte convicção para os que produzem estados emocionais compatíveis com estas práticas. Dessa maneira, esses agentes sociais são motivados a passarem a outros sujeitos seu estilo de fé cristã, e assim buscam pelo crescimento de suas entidades.

Na modalidade de ação social tradicionalista, os indivíduos demonstram maior apego aos costumes, os quais acreditam ter valor imutável. Nesta perspectiva, pode se identificar em quase todos os segmentos da fé protestante, pessoas que demonstram forte resistência para o processo de mudanças que caracteriza o mundo contemporâneo. Para esses sujeitos sociais, deve-se lutar pela preservação de um ensinamento bíblico desprovido de inovações que, para eles, representam ameaças aos costumes, os quais foram sacralizados biblicamente. Os que são tradicionalistas demonstram um profundo anseio pela volta ao passado, no sentido de resgatar os hábitos e costumes que sofrem modificações no tempo presente.

3.2 – Como se desenvolvem as ações sociais nas igrejas evangélicas?

Direcionando o olhar para o processo histórico, compreende-se que a humanidade sempre se preocupou em criar condições favoráveis à sua sobrevivência, e na busca por essa causa, os caminhos percorridos são os mais variados possíveis. No que diz respeito às crenças e valores defendidos pelas

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igrejas evangélicas, percebe-se mudanças de posicionamento da maioria dessas entidades, em não valorizar apenas as questões espirituais, mas principalmente os problemas de ordem sócio-econômica, os quais nos dias atuais, afligem com mais gravidade as camadas populares consideradas de baixa renda.

Identifica-se em alguns seguimentos da fé evangélica, a presença de ideais que enfatizam o desenvolvimento de ações visando uma vida de conquistas:

Aqui chegam pessoas muito pobres, até mendigando o pão, e nós contamos o segredo do dízimo, que o meu foi um dos principais. Eu fui um menino pobre, dormia na cozinha, e não tinha futuro e às vezes não tinha o que comer em casa, e um pastor da igreja em São Paulo me falou sobre o dizimo, e quando eu comecei a fazer a vontade de Deus eu cresci, prosperei, depois que eu comecei a entregar o dízimo, comprei terreno, comprei casa. Então eu vi que através do dízimo Deus arranca as pessoas da miséria. Através da pregação da Palavra de Deus, enfatizamos que Deus tem uma promessa, que Deus quer o melhor para esse povo, basta ser fiel nos dízimos e nas ofertas. Muitas pessoas que vieram para a igreja sem ter, praticamente, nenhum bem material, às vezes, tendo apenas uma bicicleta, veio dar testemunho que Deus lhe deu um carro. São muitos os testemunhos de pessoas que estavam enfermas, desenganadas pela medicina, pela fé na Palavra de Deus, receberam a cura divina. Quantas pessoas estavam com o casamento praticamente destruído, hoje confessam que Deus mudou as suas vidas, tendo assim um casamento abençoado. Hoje essas pessoas não têm mais uma vida de miséria, e sim uma vida próspera. (Entrevista realizada com o pastor Paulo Lacerda da Igreja do Evangelho Quadrangular, em 16.02.2009).

Neste depoimento pode-se identificar a existência de uma ideologia religiosa pautada na teologia da prosperidade material. O entrevistado se declara ser um testemunho vivo de como o ato de entregar os dízimos e ofertas atrai a benção de Deus. Essa percepção causa certo impacto na vida das pessoas que enfrentam problemas financeiros de maior intensidade, pois os indivíduos são instruídos a fazerem um pacto com Deus, entregando os dízimos e ofertas em troca dos benefícios de ordem material e social.

Também se acredita que a igreja evangélica está qualificada para realizar ações no sentido de proporcionar boa acolhida para as pessoas que as procuram:

O que mais leva uma pessoa à igreja hoje são os conflitos existenciais, emocionais e espirituais, acarretados pelos problemas familiares, o stress, as barreiras sociais, a questão do desemprego, etc. Causas e efeitos que afetam o ser humano frontalmente. Sobre isso a igreja é operante e perceptível, apresentando a mensagem de Jesus, base da mensagem do evangelho, para que as pessoas entendam que os dramas humanos e dramas existenciais são tratados pela luz da Bíblia. Jesus tem uma resposta aos dramas humanos, essa é a nossa mensagem. Então percebemos que muitos chegam à igreja em busca das soluções que vem de Deus. [...]. Na

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igreja o pastor titular se preocupa em mobilizar a sua liderança com estratégias de avanço, estratégias de impactos evangelísticos no bairro onde a igreja se situa, esses impactos são: campanhas evangelísticas de cura divina, campanha de oração, campanha de prosperidade. Essas campanhas são de acordo com a escolha de cada líder, cada pastor das respectivas igrejas locais. [...] cerca de 90% da igreja hoje está trabalhando com a visão celular onde o objetivo maior é alcançar novas vidas para a igreja e conseqüentemente para o Reino de Deus. Portanto, o objetivo é fazer crescer a igreja. (entrevista realizada com o Pastor Denilson Segôvea de Araújo da Igreja do Evangelho Quadrangular, em 10.02.2009).

No entendimento do entrevistado, os problemas da vida, nos seus vários aspectos, se constituem o principal motivo pelo qual muitos são levados a irem à busca de uma igreja evangélica, e considera a entidade capaz de interagir na procura de soluções para os infortúnios da vida. Também se percebe nesta fala a presença de ações estrategistas, no sentido de agregar um bom número de pessoas em suas fileiras. As campanhas denominadas de cura divina e de prosperidade causam expectativa, pois neste modelo de crenças, enfatiza a cura de doenças físicas e emocionais, como também a solução das questões de ordem econômica.

Verifica-se também no meio evangélico, os que manifestam resistência quanto a motivação de se procurar uma Igreja evangélica:

O que deveria levar as pessoas à igreja seria a fé e o amor a Deus, entretanto o que se pode avaliar é que muitos vão em busca de soluções para os seus problemas. Algumas pessoas, só vão à igreja quando estão em total desespero, por problemas de saúde, outros com problemas financeiros, dentre tantos fatores (Entrevista realizada com o pastor Francisco de Assis Alves da Silva da Igreja Quadrangular, em 28.01.2009).

De acordo com essa visão, a procura pelas igrejas não deveria se dar em decorrência de fatores materiais, mas da dimensão espiritual. Entretanto, analisa que existem aqueles que vão à igreja somente quando não vêem mais saída para sua situação. Nesta perspectiva, as suas ações podem estar vinculadas ao modelo de ação social weberiana referente a fins, que também pode ser entendida da seguinte forma:

Quanto maior o desapontamento do homem nesta vida, maior sua fé no porvir. Assim a existência de metas além deste mundo serve para compensar as pessoas pelas frustrações que elas inevitavelmente experimentam em tentar alcançar fins socialmente adquiridos e com valores sociais (BEIT-HALLAHMI & ARGYLE apud PESSOA, 2003, p.176).

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