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AS NOVAS FRONTEIRAS DO PETRÓLEO BRASILEIRO

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AS NOVAS FRONTEIRAS DO

PETRÓLEO BRASILEIRO

Leonardo Antonio Monteiro Pessôa (COPPE/UFRJ)

lampessoa@terra.com.br

Rodrigo Abrunhosa Collazo (COPPE/UFRJ)

rodrigocollazo@uol.com.br

Luiz Carlos Torres (CHM)

torres.luizcarlos@hotmail.com

Virgilio José Martins Ferreira Filho (COPPE/UFRJ)

virgilio@ufrj.br

O petróleo é um recurso mineral de importância estratégica. Referentemente ao Brasil, sua exploração é realizada preponderantemente no mar, mas ao contrário das fronteiras terrestres nacionais, já estabelecidas há muito, o limite para explooração do leito e subsolo marinhos estão sendo definidos em pleno século XXI. A apresentação das fronteiras limite para exploração do petróleo no mar, enquanto riqueza pertencente ao Brasil, é o escopo deste trabalho. Para tal é realizada uma nota introdutória acerca de antecedentes históricos referentes aos limites marítimos e, sobretudo, conceituações constantes à Convenção das Nações Unidas do direito do Mar (CNUDM). Especialmente, é enfatizado o esforço brasileiro realizado para o levantamento de sua Plataforma Continental, e a proposta brasileira (submissão) para a Comissão de Limites da Plataforma Continental da ONU, seu desenrolar cronológico e perspectivas.

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1. Introdução

Por sua importância econômica inegável, o petróleo vem sendo destaque nos meios de informação, constituindo uma riqueza estratégica universal, que atualmente, no Brasil, vem sendo extraída primordialmente do mar.

A tabela abaixo apresenta os valores da produção brasileira de petróleo (óleo e condensado), total e somente no mar, demonstrando a crescente preponderância marítima como fonte deste recurso no nosso país.

TABELA ESPAÇAMENTO – ESTA LINHA EM BRANCO

Ano Prod. Total (PT) (milhões m3) Prod. Mar (PM) (milhões m3) Percentual PM/PT 2000 71.6 59.5 83.1% 2001 75.0 62.8 83.6% 2002 84.4 71.8 85.1% 2003 86.8 74.1 85.4% 2004 86.0 73.5 85.5% 2005 94.8 82.9 87.4% 2006 100.0 88.7 88.7% 2007 101.4 90.3 89.0% 2008 105.5 94.9 90.0%

Fonte: Adaptado de Brasil (2009)

Tabela 1 – Comparativo entre produção total e no mar de petróleo e LGN

Apesar de não se configurar como certa a existência de petróleo em qualquer bacia sedimentar, há a necessidade de área sedimentar para sua existência. Em relação às nossas potencialidades

A região de águas profundas no mar brasileiro abrange 780.000 km2 entre as cotas batimétricas de 400 e 3.000 metros, possuindo grandes dimensões e uma área sedimentar total de 6.436.000 km2. Na Plataforma Continental, até as profundidades de 3000m, 1.550.000 km2 de área sedimentar se distribuem por mais de 15 bacias sedimentares (MILANI, 2000).

Além desta gigantesca área sedimentar, o Brasil tem uma posição de destaque na exploração petrolífera de águas profundas, tendo desenvolvido tecnologias específicas para este fim. Mas qual o limite da área que pode ser explorada pelo Brasil? As fronteiras terrestres do Brasil encontram-se bem delimitadas, devido a diversos tratados e outros instrumentos jurídicos, que vêm sendo selados desde o século XVIII. Entretanto, a fronteira marítima ainda não foi formalmente estabelecida.

Desta forma, o objeto de estudo deste trabalho é o Direito do Mar e os objetivos são os seguintes:

a) relacionar os principais conceitos jurídicos que regem internacionalmente à exploração e à ocupação do mar;

b) apresentar o esforço do Estado brasileiro para concretizar as suas fronteiras marítimas ao longo dos últimos 30 anos; e

c) analisar a relação imanente da atividade brasileira de exploração das bacias petrolíferas no mar com a consolidação política, militar e jurídica do território marítimo nacional.

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presente texto terá como alicerce os documentos oficiais produzidos pelas Nações Unidas e pelo Brasil dentro do contexto em estudo e será elaborado com base em algumas revisões bibliográficas, que nos permitirão discutir os pontos de vista apresentados.

Desta forma, a estrutural textual está dividida em seis partes. Inicialmente, será apresentado um breve histórico sobre o estabelecimento das fronteiras marítimas. Em seguida, serão relacionados os principais conceitos jurídicos afetos ao Direito do Mar. Nas duas seções subseqüentes, serão discutidas as ações realizadas para o estabelecimento das fronteiras marítimas nacionais junto às Nações Unidas. Na penúltima parte, será analisada a relação entre as recentes descobertas dos campos petrolíferos do pré-sal e a ativação da Quarta Frota dos EUA. Por fim, concluiremos que ademais do silencioso e grande esforço realizado para o estabelecimento jurídico das novas fronteiras marítimas, é preciso consolidá-las com ações concretas de presença.

2. Histórico do estabelecimento das fronteiras marítimas

Artusi (2005) nos apresenta que desde a Antigüidade, a Grécia e outros Estados marítimos já admitiam a propriedade tanto das águas próximas à costa como das mais distantes. Por outro lado, a não existência de mar territorial em Roma é também creditada pela consideração do Mar Mediterrâneo como "Mare Nostrum" e, portanto pertencente a Roma, que afirmava a sua jurisdição sobre o mar.

As causas prováveis para a criação do mar territorial podem ter envolvido diversas razões, incluindo questões sanitárias (evitar as epidemias), a arrecadação de impostos sobre a navegação e a pesca, e a proteção contra o ataque de piratas.

Artusi (2005) também relata que, já nos séculos XIII e XIV, cidades marítimas na atual Itália tentaram estabelecer base legal de autoridade marítima, em decorrência da luta contra piratas sarracenos. Não obstante, também no século XIV são criados estabelecimentos de quarentena como indicativos de atuação sanitária. Contudo, o primeiro tratado a adotar formalmente o limite de zona de pesca e de segurança marítima, com uma extensão de três milhas marítimas (o alcance de um canhão à época), foi o Tratado de Grand, entre EUA e a Inglaterra, em 1818. Esta prática do tiro do canhão delimitando o mar territorial perdurou até o século XX, quando alguns Estados o aumentaram arbitrariamente. Entretanto, a entrada em vigor a partir de 1984 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) apresentou uma base jurídica sólida para o estabelecimento das fronteiras no mar.

3. Conceitos

De acordo com a CNUDM, a mesma tem o propósito de solucionar, sob um espírito de compreensão e cooperação mútuas, as questões relativas ao Direito do Mar. Para melhor entendermos o seu conteúdo, é fundamental termos alguma familiaridade com os seguintes conceitos:

a) Linha de Base: corresponde, salvo algumas exceções, “à linha de baixa-mar ao longo da costa, tal como indicada nas cartas marítimas de grande escala reconhecidas oficialmente pelo Estado costeiro” (PORTUGAL, 1985);

b) Mar Territorial: zona de mar que alcança 12 milhas marítimas (aproximadamente 22 quilômetros) a partir das linhas de base e que é considerada parte do território soberano do Estado (excetuados os acordos com Estados vizinhos cujas costas distem menos de 24 milhas marítimas). “Esta soberania estende-se ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao leito e subsolo deste mar” (PORTUGAL, 1985);

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c) Zona Contígua: zona adjacente ao mar territorial que alcança 24 milhas marítimas a partir das linhas de base, na qual o Estado costeiro pode tomar medidas de fiscalização para evitar ou reprimir as infrações às suas leis e aos seus regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração, sanitários ou de outra natureza, no seu território ou mar territorial;

d) Plataforma Continental: “compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, [...], até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base [...], nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância” (PORTUGAL, 1985). Outros critérios para fixação deste limite serão discutidos adiante;

e) Zona Econômica Exclusiva (ZEE): faixa de águas adjacentes ao mar territorial de um Estado Costeiro, começando em seu limite exterior e terminando a uma distância de 200 milhas marítimas a partir das linhas de base, exceto se o limite exterior for mais próximo de outro Estado, na qual o Estado costeiro dispõe de direitos especiais sobre a exploração e o uso de recursos marinhos;

f) Alto-mar: é definido como “todas as partes do mar não incluídas na zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado costeiro, nem nas águas arquipelágicas de um Estado arquipélago” (PORTUGAL, 1985). Em outras palavras, alto-mar é o conjunto das zonas alto-marítimas que não se encontram sob jurisdição de nenhum Estado e, “nenhum Estado pode submeter qualquer parte do alto mar à sua soberania” (PORTUGAL, 1985); e

g) Área: compreende o leito do mar, os fundos marinhos e seu subsolo fora dos limites jurisdicionais de qualquer estado nacional, sendo considerada patrimônio comum da humanidade. Assim, nenhum Estado ou pessoa física ou jurídica pode reclamar qualquer direito de apropriação de partes da Área ou seus recursos.

O limite interior do alto-mar corresponde ao limite exterior da zona econômica exclusiva, que é fixado a 200 milhas náuticas a partir das linhas de base. Mas há na CNUDM uma possibilidade de se ampliar a extensão da Plataforma Continental para até 350 milhas marítimas.

Os recursos do fundo marinho na Área não são livres, mas destinados a fomentar o desenvolvimento harmonioso da economia mundial e o crescimento equilibrado do comércio internacional. O controle das atividades relacionadas aos recursos minerais do subsolo marinho na Área é realizado por organização autônoma, a International Seabed Association, sediada em Kingston.

No texto da CNUDM, percebe-se ainda uma especial atenção quanto à proteção da economia dos países em desenvolvimento em relação aos efeitos adversos que a extração de recursos minerais da Área pode causar. Nesse sentido, no artigo 150, é estabelecido que dois objetivos para a extração dos recursos minerais da Área é a “formação de preços justos e estáveis” (PORTUGAL, 1985) e também a garantia do abastecimento.

3.1 Plataforma Continental

Segundo a CNUDM, o limite exterior da plataforma continental se define pelos seguintes critérios:

a) uma linha traçada com referência aos pontos fixos mais exteriores em cada um dos quais a espessura das rochas sedimentares seja pelo menos 1% da distância mais curta entre esse ponto e o pé do talude continental; ou

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b) uma linha traçada com referência a pontos fixos situados a não mais de 60 milhas marítimas do pé do talude continental.

Além disso, no artigo 76, também são estabelecidas restrições adicionais, determinando limites além dos quais não se poderá estender a plataforma continental. São eles: 350 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, ou 100 milhas marítimas a partir da isóbata de 2500 metros.

Figura 1 – Critérios de Limites

Torres (2007) ressalta que o critério restritivo da distância de 350 milhas marítimas foi aplicado com menor freqüência na margem continental brasileira, uma vez que, via de regra, a linha de 100 milhas marítimas a partir da isóbata de 2500m se situa aquém das 350 milhas marítimas.

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continental para efeitos de exploração e aproveitamento dos recursos minerais e outros recursos não biológicos do leito do mar e subsolo, incluindo-se neste caso o petróleo. Estes direitos são exclusivos, ou seja, mesmo que o Estado Costeiro não explore os recursos de sua plataforma, ninguém poderá fazê-lo sem o seu consentimento. Os direitos do Estado costeiro sobre a sua plataforma continental são independentes de sua ocupação, real ou fictícia ou de qualquer declaração expressa.

4. Levantamento da Plataforma Continental Brasileira

O Decreto nº 98.145, de 15 de setembro de 1989, aprova o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) e designa a Comissão Interministerial para o Recurso do Mar (CIRM) para as atividades de planejamento, coordenação e controle das tarefas relacionadas ao mesmo.

Na execução do Plano do LEPLAC temos a atuação conjunta de diversas instituições como o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a empresa Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRÁS) e a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil. O LEPLAC teve sua origem na necessidade de apresentação das características do limite exterior da plataforma continental brasileira, além das 200 milhas marítimas, juntamente com informações científicas e técnicas de apoio, dentro dos 10 anos seguintes à entrada em vigor da CNUDM. Seu propósito foi o de estabelecer as ações a serem empreendidas, visando esta determinação.

Mesmo no corpo do referido decreto, já estava exposta a preocupação com

à explotação dos recursos [...] minerais e energéticos [...] que apresentassem interesse para o desenvolvimento econômico e social do País e para a segurança nacional [...]. Não obstante os consideráveis recursos para a sua execução, já se vislumbrava a importância para a política exterior do Brasil em relação ao Atlântico Sul (BRASIL, 1989).

O decreto estabeleceu também as fases para execução do LEPLAC, a saber:

a) determinação das linhas de base, ao longo de todo o litoral brasileiro, de acordo com os estabelecido na Convenção, e com possíveis futuras recomendações emanadas da Comissão de Limites da Plataforma Continental;

b) determinação do pé do talude e da isóbata de 2500 metros, ao longo do litoral brasileiro, utilizando métodos adequados de ecobatimetria;

c) realização de trabalhos de geofísica (sísmica, gravimetria e magnetometria), segundo perfis pré-estipulados, com o propósito de determinar as espessuras das rochas sedimentares, a fim de correlacioná-las com as respectivas distâncias ao pé do talude; d) utilização de métodos adequados de processamento e interpretação dos dados batimétricos

e geofísicos obtidos; e

e) elaboração dos documentos cartográficos necessários, e das informações científicas e técnicas de apoio.

Durante a execução, “o processamento dos dados foi conduzido à medida que os mesmos eram coletados, e seus resultados parciais eram apresentados nas reuniões do Comitê Executivo do LEPLAC sob a forma de relatórios preliminares” (TORRES, 2007). Adicionalmente, houve o desenvolvimento de métodos próprios para aquisição de dados, uma vez que não havia metodologia consagrada para atendimento das exigências impostas pela CNUDM.

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5. Apresentação brasileira

Com base nos trabalhos realizados pelo LEPLAC, foi submetida à Comissão de Limites da Plataforma Continental da Convenção de Direitos do Mar das Nações Unidas a apresentação dos dados e das pretensões brasileiras relativas à plataforma continental.

Figura 2 – Carta do Limite Externo da Plataforma Continental

Em Torres (2007), temos os seguintes acréscimos territoriais pleiteados nesta submissão: 323.658 km2 (na porção Norte), 588.189 km2 (na porção Sudeste Sul), perfazendo um total de 911.847 km2.

A primeira apresentação na ONU ocorreu na 14ª reunião da “Commission on the Limits of the Continental Shelf” (chamada doravante de Comissão) em Nova York, entre 30 de agosto e 3 de setembro de 2004 , sendo informada à Comissão a inexistência de disputas relevantes entre os Estados vizinhos (Guiana Francesa e Uruguai).

Todavia, o secretariado da Comissão participou o recebimento de comunicação, proveniente do representante norte-americano, tecendo considerações acerca da submissão brasileira.

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Neste particular, foi observado pela Comissão que tanto o anexo II à CNUDM quanto as regras de funcionamento da Comissão estabeleciam que apenas no caso de disputa entre Estados com costas adjacentes ou opostas, ou com disputas marítimas ou terrestres não resolvidas, a Comissão seria solicitada a considerar comunicações outras que não do Estado em submissão.

Desta forma, a Comissão concluiu que o conteúdo da carta norte-americana não deveria ser levado em consideração e instruiu a Subcomissão de Análise à proposta brasileira a desconsiderar os comentários desta carta, quando da análise da submissão brasileira.

5.1 Outros Pronunciamentos acerca da Submissão Brasileira

Abaixo, comentaremos brevemente os resultados de outras reuniões da Comissão que tiveram eventos relevantes relacionados ao pleito do Brasil de estender a sua plataforma continental além das 200 milhas marítimas.

5.1.1 15ª reunião da Comissão de Limites da Plataforma

Não obstante a decisão proferida na 14ª reunião, o representante norte-americano, em 25 de outubro de 2004, enviou outra carta acerca da submissão brasileira, pedindo reconsideração quanto à decisão anterior. A Comissão lembrou que a carta foi trazida ao conhecimento de todos os seus membros e discutida na 14ª sessão e, assim, não considerou necessário alterar sua decisão prévia. Nesta sessão foram apresentados dados adicionais pela delegação brasileira.

5.1.2 16ª reunião da Comissão de Limites da Plataforma

Nesta ocasião foi informada à Comissão acerca da disponibilidade de especialistas da delegação brasileira em Nova York de 22 de agosto a 9 de setembro de 2005, e relatado o encontro entre a Subcomissão e estes, realizado no dia 25 de agosto, quando os mesmos fizeram apresentações sobre vários aspectos da submissão brasileira.

Foi acordado que o presidente da Comissão iria enviar carta à missão permanente brasileira nas Nações Unidas, convidando o Brasil a preparar um adendo ao sumário executivo de sua submissão, a ser transmitido à Comissão por intermédio do secretário-geral.

Em 9 de setembro de 2005, foi realizado outro encontro entre a Subcomissão e os especialistas brasileiros, quando foi transmitida ao chefe da delegação brasileira a carta do presidente da Comissão, na qual o Brasil foi efetivamente convidado a efetuar adendo ao sumário executivo.

5.1.3 17ª reunião da Comissão de Limites da Plataforma

Nesta reunião, relatou-se o encontro organizacional da Subcomissão com a delegação brasileira em 21 de março de 2006, quando foram realizadas apresentações, cada uma específica sobre determinada região constante à submissão brasileira.

Durante estas apresentações, a subcomissão formulou questionamentos à delegação brasileira, que se comprometeu a providenciar respostas completas até o dia 31 de julho de 2006, juntamente a dados batimétricos adicionais.

5.1.4 18ª reunião da Comissão de Limites da Plataforma

Foram apresentadas, em 26 de julho de 2006, as respostas aos requerimentos feitos pela Subcomissão durante a reunião anterior.

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Nesta oportunidade, a delegação brasileira solicitou reuniões de trabalho adicionais com a Subcomissão durante o período de 23 de agosto a 5 de setembro de 2006. Em resposta a este pedido, ocorreram três encontros (realizados em 24, 25 e 29 de agosto de 2006), nos quais foram prestados esclarecimentos e informações adicionais.

5.1.5 19ª reunião da Comissão de Limites da Plataforma

Em março, a Subcomissão concluiu suas considerações acerca da submissão do Brasil e preparou o rascunho das recomendações. Em 27 de março de 2007, a Subcomissão submeteu as recomendações preparadas para aprovação da Comissão de Limites, as apresentando de maneira específica para quatro regiões geográficas:

a) Setentrional e do Cone do Amazonas (Mladen Juračić-Croácia); b) Setentrional e Cadeia Fernando de Noronha (Galo Carrera - México); c) Cadeia Vitória-Trindade (Larry Awosika-Nigéria); e

d) Platô de São Paulo e Região Meridional — (Philip Symonds-Austrália).

A delegação brasileira solicitou novo encontro, realizado em 27 de março de 2007, em acordo com as regras de procedimento que permitem, após a apresentação da Subcomissão e antes das considerações da Comissão de Limites, o Estado Costeiro fazer apresentação em plenário sobre qualquer assunto relacionado à sua submissão, caso assim decida.

Nesta ocasião, um pronunciamento introdutório foi feito pelo chefe da delegação brasileira, no qual esclarecia que o encontro havia sido solicitado pelo Brasil na intenção de destacar aspectos da submissão brasileira que poderiam ser do particular interesse da Comissão de Limites. Também ressaltou que o Brasil seguiu estritamente os critérios do artigo 76 da CNUDM, no estabelecimento da submissão, por meio de estudos conduzidos de boa-fé pela Marinha do Brasil e seu serviço hidrográfico, e pela Petrobras. Outrossim, todo esforço foi feito pelas delegações brasileiras de modo a providenciar informações e dados em apoio ao delineamento da plataforma continental brasileira. Foi relembrado também que as informações disponibilizadas em 2006 incluíram adendo ao sumário executivo. Neste, as alterações foram realizadas considerando-se as sugestões da própria Subcomissão, e levaram a um acréscimo de apenas 5,5% do total da área da plataforma continental.

Seguiram-se à introdução, as seguintes apresentações específicas da delegação brasileira: a) Região do Cone do Amazonas;

b) Região leste-equatorial brasileira; c) Cadeia Vitória-Trindade; e

d) Platô de São Paulo e Margem Meridional.

Procedeu-se, então, a consideração das recomendações preparadas pela Subcomissão. Após exame das recomendações e de partes relevantes da submissão brasileira, muitas alterações foram propostas, algumas das quais tiveram sua incorporação às recomendações da subcomissão aprovadas. Ainda nesta reunião, de acordo com o documento United Nations (2007), foram sancionadas as recomendações da Comissão à submissão brasileira, por votação de 15 votos a favor e 2 contra, sem abstenções.

6. Atualidades

Para a confecção deste trabalho, não houve acesso direto às recomendações provenientes da Comissão. Entretanto foi noticiado que, em relação à submissão brasileira, a incorporação de 700.000 quilômetros quadrados foi aceita.

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As recentes descobertas, em especial a noticiada descoberta dos campos de pré-sal, ampliam substancialmente as reservas petrolíferas brasileiras. É fato que parte das mesmas, situa-se a 310 quilômetros do litoral de São Paulo, distante, portanto, apenas 60 km da fronteira exterior da ZEE. Em recente reportagem da revista Época, foi citado que

Todas as pesquisas sobre o potencial das novas reservas [...] sugerem boas perspectivas de que elas alcancem trechos a 380 quilômetros de São Paulo [...]. O avanço das pesquisas e da produção de petróleo em águas profundas e a aceleração das negociações para ampliar as águas territoriais brasileiras coincidem com uma intensa movimentação militar. Em junho, o governo dos Estados Unidos anunciou a reativação da Quarta Frota – seção de sua Marinha encarregada de controlar Caribe e Atlântico Sul, inoperante desde o fim da Segunda Guerra Mundial (CLEMENTE, 2008).

Embora o motivo mencionado para tal seja o combate ao narcotráfico, podemos considerar que grandes reservas petrolíferas despertam interesses, considerando-se sua importância econômica. Conflitos no Oriente Médio, históricos ou recentes, motivados por esta riqueza, comprovam este fato.

7. Conclusões

Apesar de, ao leigo poder parecer um processo demorado e lento, o levantamento da Plataforma Continental Brasileira foi o segundo a ser apresentado à Comissão (o primeiro havia sido o da Rússia). Também, considera-se explicitado, ainda que superficialmente, o volume de pesquisa e de trabalho, executado silenciosamente durante mais de duas décadas para que futuramente seja estabelecida esta conquista. A dimensão do hercúleo esforço necessário à execução do LEPLAC pode ser retrato pelos seguintes números:

No período compreendido entre 18 de julho de 1987 e 08 de novembro de 1996, foram coletados ao longo de perfis na Margem Continental Brasileira os seguintes dados geofísicos: batimetria (86.707km), sísmica de reflexão multicanal (46.366km), gravimetria (97.237km), e magnetometria (93.604km). (TORRES, 2007)

Participaram ativamente desta gigantesca empreitada os seguintes navios da Marinha do Brasil: Navio Oceanográfico Almirante Câmara, Navio Oceanográfico Almirante Álvaro Alberto, Navio Oceanográfico Antares e Navio Hidrográfico Sirius.

Não obstante o que já foi apresentado à ONU, o Brasil ainda pretende insistir nos pontos de divergência entre sua submissão e as recomendações aprovadas pela Comissão, por meio de coleta de novos dados e reprocessamento dos dados disponíveis.

O resultado de todo este trabalho é um acréscimo de ao menos 700.000km2 e possivelmente de mais de 900.000km2 às nossas fronteiras, especialmente para a exploração de riquezas minerais como petróleo.

Contudo, para se consolidar esta nova conquista territorial, é preciso que o Estado brasileiro se faça presente, através da ocupação deste imenso espaço marítimo, seja por meio de atividades econômicas ou pelo patrulhamento destas novas fronteiras por navios que arvorem o pavilhão nacional.

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Referências

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CLEMENTE, I. O Petróleo no Mar sem Dono. Revista Época, nº 532, 28/07/08. Disponível em

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MILANI, E.J et al. Petróleo Na Margem Continental Brasileira: Geologia, Exploração, Resultados E Perspectivas. Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000.

PORTUGAL. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

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SOUZA, J. M. de. Mar territorial, zona econômica exclusiva ou plataforma continental?. Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 17(1), 1999.

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Referências

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