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O JOVEM E O SENTIMENTO DE INDIGNAÇÃO

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Academic year: 2021

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Fernanda Maira Igor Linhares de Carvalho

Júlia Godoy Ranieri Aguiar

O JOVEM E O SENTIMENTO DE INDIGNAÇÃO

Trabalho apresentado na disciplina História da Educação III, ministrada pelo Prof. Dr. Luciene Regina Paulino Tognetta.

Universidade Estadual Paulista Campus de Araraquara Faculdade de Ciências e Letras

Curso de Pedagogia

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O sentimento de indignação surge quando o sujeito considera que um direito foi desrespeitado, quando se é vítima ou testemunha de uma ação considerada imoral ou injusta. O sentimento de indignação participa efetivamente na construção e na formação de um valor moral. É um sentimento negativo que se refere essencialmente a um conteúdo moral que estaria em jogo: a justiça. Alguns autores afirmam que a maior crise que se pode enfrentar (e que estamos enfrentando) é uma crise de valores. Pois afetará a humanidade, que passa a viver de forma mais egoísta e cruel. Existe uma crise de valores? Os valores andam sendo substituídos por outros valores? No artigo que lemos a pesquisa realizada mostra que a maioria dos jovens tem valores considerados individualistas (heterônomos), restritos a relações mais próximas. Os valores que o indignam não são generalizáveis para qualquer humano. Valores morais são conceitos que adquirimos com base nos ensinamentos do meio onde estamos inseridos. Norteiam nossa forma de ver o mundo e agir. Os valores morais são, por exemplo, a justiça, a veracidade, honestidade, enquanto que os valores não morais são como beleza, sucesso, sedução e riqueza.

Segundo Piaget, um valor pode ser definido como um investimento afetivo que nos move e que nos faz agir. Os valores éticos morais dependem de uma motivação interna para ação, chamada de sentimentos. No despertar do senso moral (na fase da heteronômia) haveria um sentimento, o respeito, que levaria uma ação moral. A moral heterônoma tem uma relação de submissão ao poder. O sujeito heterônomo necessita de constantes comprovações de que sua moral também é respeitada pelas pessoas ao seu redor para que seja legitimada. Já em um sujeito autônomo o sentimento de aceitação é interno.

Entre as crianças, as manifestações iniciais de indignação são heterônomas, dizem a respeito de si mesmas, em busca de uma justiça auto referenciada. Indignar-se é buscar uma correspondência imediata entre os valores que tenho e os que aspiro que os outros tenham. Com bases nos estudos do Piaget, temos dois tipos de respeito detecatados: unilateral e mútuo. A primeira evidência a heteronomia (que consiste na vontade de terceiros ou nas consequências que tal situação proporciona para o individuo) e estão presentes até os oito anos, quando o indivíduo tende a seguir regras na presença de um adulto, sendo um fator comum desse aspecto. Enquanto ao segundo, é típico da questão de autonomia na relação entre os pares, onde expressa sua vontade, ao questionar sobre regras imposta quando alguma figura de autoridade se contradiz na regra imposta somente para ela.

Segundo Erikson, a fase da adolescência é o momento chave para a formação da personalidade e que a constituição da identidade pessoal envolve a parte cognitiva e no

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pensar quem sou eu perante o meio social, dessa maneira um aspecto dominante dessa fase segundo o autor.

A teoria do Jean Piaget mostra que nesse período a pessoa possa raciocinar do jeito abstrato, pressuponde que jovem apresente preocupações com a justiça e apresente condições para entender o ponto de vista dos outros e fazer uma coordenação com o ponto de vista dele.

Podemos nos indagar: em que tipo de ambiente nossos jovens poderão de fato raciocinar e se desenvolver moralmente?

Para Piaget, somente num ambiente construtivista onde crianças e adolescentes encontram espaço para desenvolver seu conhecimento e sua personalidade com valores morais e sociais. O cultivo de um ambiente empático deve fazer parte dessa atmosfera, sendo assim uma proposta de educação moral e intelectual. E quando o assunto é sobre moralidade, muitas pessoas questionam se deveria partir da escola também tal posicionamento.

No documentário de 2004, PRO DIA NASCER FELIZ, temos apresentadas as inúmeras realidades do Brasil, tanto da rede Estadual e privada sobre os componentes que o cercam: indisciplina, os conflitos das diferenças no meio escolar, despreparo para o vestibular e a deficiência do sistema educacional, que proporciona um descaso tanto do professor quanto do aluno, sendo essas características mais comuns na rede pública. E nas escolas particulares temos as pressões do vestibular, o questionamento do comodismo sobre a realidade confortável que os cerca, e o quesito incerteza, nas duas realidades o ponto é comum.

Assim, quais seriam os valores presentes entre nossos jovens na atualidade? A pesquisa foi realizada com 10 educandos de 14 a 16 anos do Centro Educacional Marista, Ir. Rui Leopoldo Dephiné localizado em Ribeirão Preto Ao parar para pensar nesta pergunta, a fim de responder o que os indignam, era preciso fazer, em termos psicológicos, duas distinções: o que é bem e o que é mal. Ao fazer essa escolha, pressupõe-se que tenha havido uma aspiração anterior pelo bem – o que seria bom e que me falta – e por isso me revolta. Ao parar para pensar nesta pergunta, a fim de responder o que os indignam, era preciso fazer, em termos psicológicos, duas distinções: o que é bem e o que é mal. Ao fazer essa escolha, pressupõe-se que tenha havido uma aspiração anterior pelo bem – o que seria bom e que me falta – e por isso me revolta. Classificamos as respostas em três categorias, podendo o mesmo jovem se enquadrar em mais de uma delas, com base no artigo de referência.

Categoria A - Características de certo individualismo

Como o próprio nome já diz inclui as respostas em que a indignação trata de uma espécie de justiça auto-referenciada. As respostas indicam que o sujeito sente-se indignado com ações que o atingem diretamente, por conseguinte, o outro não está incluso a não ser cometendo uma injustiça contra ele.

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Tal como as crianças pequenas (Heteronomia), esses adolescentes não consideram o universo dos outros, portanto, não se indignam quando violados os direitos das demais pessoas. O que os indigna está sempre relacionado à si próprio.

Categoria B - Características de um caráter moral restrito e estereotipado

Nesta categoria incluem-se as relações com os outros. Nela, os outros já são considerados alvos de injustiça e de indignação no entanto, há uma restrição emergida de suas respostas: este outro é geralmente associado a pessoas conhecidas, amigos, família ou pessoas que em alguma instância conservam uma relação de proximidade, física ou psicológica, com o autor das respostas. As respostas que traduzem um estereótipo social fazendo alusão a características

comumente vistas seja em suas relações mais próximas, seja produzida culturalmente, como falsidade, vaidade, inveja, que não nos permitem afirmar com clareza uma dimensão que inclua o outro no universo de pretensões éticas. (Respostas prontas)

Pode-se dizer que ainda não se tratam de valores morais interiorizados, pois esses sujeitos repetem aquilo que seu entorno social valoriza. (Senso comum) Categoria C - Características de um caráter moral e ético

Aqui há a inclusão de um universo maior em relação àquele apresentado nas anteriores: o outro é considerado como alvo de injustiças, o que causa indignação a si não como alvo, mas como expectador. A perspectiva moral a ser assegurada: não é qualquer conteúdo que está em jogo, deve haver justiça, estaria em jogo, antes de considerar a justiça como uma espécie de respeito ao outro, o estar bem consigo, ou o sentir-se respeitado.

Nessa categoria, portanto, o sujeito já não concebe os valores como restritos aos integrantes de sua comunidade, mas os considera universais, ou seja, válidos para qualquer ser humano independentemente da sociedade, transcendendo assim os valores dominantes da cultura em que vive. Aparecem respostas de indignação às contravirtudes em contextos mais amplos e também são citadas virtudes como justiça, honestidade, etc

Os resultados a que chegamos

Foi possível constatar que a maioria das respostas dos sujeitos entrevistados se enquadra na categoria B se dividindo entre senso comum e respostas prontas. É fato que infelizmente a maioria dos valores que nossos jovens apresentaram nas respostas indica conteúdos de natureza moral estereotipada: falam muito de falsidade, mentiras, desonestidade. Nossos jovens julgam tais situações como indignáveis, mas como algo que se acostumaram a ouvir, refletem de forma heterônoma, os valores presentes na sociedade em que vivem. Todos os educandos que se classificam como categoria C ainda possuem características em outras ccategorias. Por mais que tenham uma resposta

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mais crítica à questão moral, na maioria das vezes terminam a afirmação com uma frase pronta ou explicação pragmática.

Há uma crise de valores? Não, pois isso seria a ausência dos valores, uma espécie de anomia em que o sujeito age somente de acordo com seus interesses e necessidades, não havendo o sentimento de obrigação para com as regras, leis da sociedade ou normas de conduta. O que temos é a crise destes, pois hoje vemos que estão sendo substituídos os conteúdos destes valores. Há uma troca dos valores morais por outros estranhos a moralidade ou contrários a ela e a ética.

Em nossas escolas nossos alunos são incitados a obedecer acriticamente e a exercitar a audição. Não existe espaço para que os meninos e meninas possam falar sobre como se sentem, discutir os problemas que enfrentam trocar perspectivas, resolver conflitos que lhes dizem respeito sem que sejam censurados, contidos ou punidos. O tempo é reduzido à transmissão de conteúdos de forma maçante e mecânica. , sendo fato é que no modelo de educação que temos e na forma como organizamos as disciplinas não há espaço para que os professores trabalhem com conteúdos do ponto de vista cognitivo e do ponto de vista afetivo, por exemplo, a razão e a afetividade, necessárias à moral. A reflexão sobre os valores, considerando que a moral é um objeto do conhecimento que se aprende racionalmente. Considerando que a transmissão direta de conhecimentos é pouco eficaz para fazer com que os valores morais tornem-se centrais na personalidade, para a vivência democrática e cooperativa e para resolver problemas que requerem principalmente habilidades cognitivas, interpessoais e afetivas, faz-se necessário oferecer nas instituições educativas oportunidades frequentes para a realização de propostas de atividades sistematizadas que trabalhem os procedimentos da educação moral.

Não podemos esquecer-nos da importância de se construir uma atmosfera sociomoral cooperativa no contexto educativo. Reiteramos que para que possam aspirar por valores morais, nossos alunos precisam viver situações de respeito, de tolerância, de honestidade, de diálogo...

Inúmeras pesquisas indicam que as escolas influenciam de modo significativo na formação moral das crianças e jovens, quer queiram ou não, essas pesquisas têm confirmado que o desenvolvimento da moralidade está relacionado à qualidade das interações que se apresentam nos ambientes sociais nos quais o indivíduo interage, se cooperativos ou autoritários. É preciso que seja superada a tendência à insensibilidade, à passividade e à impotência, favorecida nos âmbitos pessoal e social, pela multiplicação contínua das formas de violação dos direitos humanos. É de responsabilidade da educação promover essa sensibilidade, essa capacidade de reagir ao que ocorre com os anônimos deste país, com as vítimas sem nome nem sobrenome famoso.

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Referência bibliográfica

TOGNETTA, L.R.P. ; VINHA, T.P. O que nos causa indignação? In: LA TAILLE, Y.; MENIN, M.S.S. Crise de valores ou valores em crise? Porto Alegre: Artes Médicas, 2010.

Documentário Pro Dia Nascer Feliz, 2006 Direção: João Jardim

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