Santa Casa da Misericórdia de Almada
Arquivo Histórico
Preservar a memória, divulgar a história
N.º 12
Dezembro 2010
2 Introdução
O último documento deste ano, é um assentamento que a Irmandade fez sobre como os irmãos da Misericórdia se deviam apresentar nas reuniões de Mesa.
O texto refere que por vezes os irmãos da Misericórdia, que também eram confrades noutras confrarias, apareciam com as insígnias e vestes das mesmas, em vez de usarem somente os balandraus¹ da Misericórdia. O provedor e irmãos condenam tal acto e proíbem-no, sob pena de expulsar o irmão que assim proceda.
Convém referir que, tanto na vila de Almada como no termo dela, existiam inúmeras irmandades/confrarias instituídas nas suas igrejas e conventos. Como exemplo, só na igreja paroquial do Monte de Caparica existiam no século XV seis irmandades (Flores, A. Costa, P., Misericórdia de Almada.
Das origens à Restauração. pág. 96). Compreende-se, pois, que dada a
baixa densidade populacional da vila, muitos nobres e oficiais servissem em diversas confrarias, cada qual com os seus atributos.
Uma delas era a Irmandade do Santo Nome de Jesus, registada no traslado de uma pauta de sacristia da igreja da Misericórdia, (publicado no boletim n.º 1 de Janeiro de 2010), onde se faz referência à missa de obrigação do dia do Nome de Jesus “de cuja confraria emanou a desta casa”, (Cf. Idem,
ibidem, pág. 55). Este facto vem, de certo modo, responder à pergunta
sobre o motivo da fundação tardia da Misericórdia de Almada pois, como se supunha, a existência de diversas confrarias paroquiais e irmandades na vila suprimia, de algum modo, a necessidade de se instituir uma Misericórdia (Cf. A.H.S.C.M.A. Papéis vários - Tomo V […], L.º 35, fls. 196-196 v.º).
No entanto, importa referir que “Confraria/Irmandade” era uma associação de leigos, organizados segundo determinadas normas, que estabeleciam a sua natureza e funcionalidade. Para além das obrigações de zelar pelo culto do seu santo patrono, as confrarias visavam essencialmente a assistência tanto espiritual como material dos seus membros e familiares mais próximos. (Cf. Coutinho, Maria João Pereira; Ferreira, Sílvia, “As
3 irmandades da Igreja de São Roque tempo, propósito e legado” in Revista Lusófona de Ciência das Religiões – Ano III, 2004 / n.º 5/6 – 201-215). E é precisamente neste detalhe, que reside a diferença entre as confrarias tradicionais e as confrarias das Misericórdias, cuja esfera de actuação vai para além dos membros da própria Irmandade, pois estava centrada nos mais carenciados da sociedade, em geral, e no próprio indivíduo.
Paula A. Freitas da Costa Arquivo Histórico da Misericórdia de Almada Dezembro de 2010
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Ilustração da capa: Foto de um balandrau com insígnia. Colecção de têxteis da Misericórdia de Almada. Inventário n.º SCMA.Par.026. Data não identificada.
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Critérios na transcrição paleográfica Introdução do número de fólio – (Fl.) Indicação de linda finda - /
Indicação dos desdobramentos das abreviaturas em itálico Repetições no texto – {…}
Lacunas no suporte – […] Critérios na leitura actualizada Introdução do número de fólio – (Fl.) Desdobramentos não indicados no texto
Introdução de pontuação de modo a facilitar a leitura Fiel à grafia e uso de termos de época
4 Fig. “Livro de consertos e salários que a misericórdia paga […],” Fólio
5
[Assento sobre o modo que os irmãos se deviam apresentar para se reunirem em Mesa].
1597, Outubro, 12, Almada
A.H.S.C.M.A, Livro de consertos e salários que a misericórdia paga […], L.º 11, fls. 108-108 v.º
(Fl.108) «Asento sobre o ajuntamento da Jrmandade
Aos doze dias do mes de Outubro do ano de mil quinhentos / nouenta
e sete annos na casa da misericordia desta / villa d’allmada sendo
juntos em mesa o senhor provedor / manoell de Sousa couttinho
comigo escrivão e os mais Jrmãos / E doze Jrmãos {jrmão} mais que
per asim forão cha-/ mados seis nobres e seis oficiaes sendo contados
/ os votos a todos asentou a mesa pedir a todos / os jrmãos em
particular que sem tal ordem / em as otras comfrarias em que seruem
que todas / as vezes que se ajumtar a jrmandade não ha-/paresam
nella com capas ou emsinias de otras con-/frarias se não com os
balandraos pretos que / uzamos E visto como nenhũa outra comfraria
obrigua a consciencia se não esta em que / todos estamos ligados
com juramento que<m> o comtrario / fizer depois de todos
amoestados será avido / por não Jrmão da misericórdia E riscado dos
liuros de[la] / E declararão que este asento se não entende nos jrmãos
saserdotes E asinarão todos / comiguo Adrião Preto escrivam da casa
O prouedor Manoel de Sousa Couttinho
Adrião Preto
Antoni
oBrandam
Dominguos Fernandez
(fl. 108 v.º)
Amtoni
oGonçalvez
Françisco(sic) periz
Ffrancisco d’amdrada
Francis
cogrisante
6
Bellchior fernandez
Antoni
oVasquez
Amrique dias
Ruy periz
João gonçaluez
Amtonio fernandez
Guomçalo (sic) gonçaluez
Luis de Góis de Mendonça
Pero Carualho d’Sousa».
- Leitura actualizada –
(Fl.108) «Assento sobre o ajuntamento da Irmandade
Aos doze dias do mês de Outubro do ano de mil quinhentos noventa
e sete anos, na casa da Misericórdia desta vila de Almada sendo
juntos em mesa o senhor provedor Manuel de Sousa Coutinho,
comigo escrivão e os mais Irmãos e doze Irmãos mais que para assim
foram chamados, seis nobres e seis oficiais, sendo contados os votos
a todos assentou a mesa pedir a todos os irmãos em particular que,
sem tal ordem em as outras confrarias em que servem, que todas as
vezes que se ajuntar a irmandade não apareçam nela com capas ou
insígnias de outras confrarias se não com os balandraus pretos que
usamos. E visto como nenhuma outra confraria obriga a consciência
se não esta, em que todos estamos ligados com juramento, quem o
contrário fizer depois de todos admoestados, será havido por não
Irmão da misericórdia e riscado dos livros dela e declararam que este
assento se não entende nos irmãos sacerdotes e assinaram todos
comigo Adrião Preto escrivão da casa
O provedor Manuel de Sousa Coutinho
Adrião Preto
7
António Brandão
Domingos Fernandes
(Fl. 108 v.º)
António Gonçalves
Francisco Peres
Francisco de Andrada
Francisco Grisante
Belchior Fernandes
António Vasquez
Henrique Dias
Ruy Peres
João Gonçalves
António Fernandes
Gonçalo Gonçalves
Luís de Góis de Mendonça
Pero Carvalho de Sousa».
____________ Nota:
¹
Nome dado à opa dos irmãos das confrarias da Misericórdia.
“
Balandrau” vem do latim Balandrana, que na época medieval designava uma vestimenta de capuz e mangas largas abotoada na frente usadas por confrarias, normalmente em cerimónias de religiosas.Endereço Arquivo Histórico
Costas do Cão - 2825-045 Caparica Tel.: 21 011 39 20
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