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Diagnóstico Socioeconômico da Comunidade Indígena Três Corações. Monaliza Nayara*

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Academic year: 2021

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Diagnóstico Socioeconômico da Comunidade Indígena Três Corações.

Monaliza Nayara*

Resumo

O presente trabalho é resultado de um diagnóstico socioeconômico da comunidade indígena Três Corações, na TI Araçá, município de Amajarí- RR. Foi realizado na atividade de Tempo Comunitário II, do curso de Gestão Territorial Indígena, do Instituto Insikiran/UFRR, com o objetivo de produzir informações para auxiliar na gestão da comunidade. Foram utilizados questionários fechados, entrevistas semi-estruturadas, observação direta e consulta de informações secundárias na escola, igrejas e o centro de saúde. Após as coletas de dados passou-se para a fase de sistematização, análise e compreensão destes dados. Ao analisarmos esses dados compreendemos que hoje a comunidade está passando por um grande processo de transformação na economia, poucos cultivam roças, e atualmente 59% das famílias não produzem, sendo que 83% delas recebem algum auxílio governamental como bolsa família, aposentadoria e o vale alimentação (programa do governo de RR). Buscou-se analisar que o uso do diagnóstico na gestão da comunidade, fará com que lideranças, escolas e igrejas busquem novas idéias para solução dos problemas, para que no futuro próximo haja uma vida social igualitária e justa. Neste sentido a pedagogia de alternância contribui tanto para a formação acadêmica quanto para transformação social.

Palavra Chave: Gestão da Comunidade Indígena, Comunidade Três Corações, Diagnóstico Socioeconômico, Terra Indígena Araçá.

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* Graduando em Gestão Territorial Indígenas, <rmonalizanayara@yahoo.com.br> no Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena na Universidade Federal de Roraima.

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INTRODUÇÃO

Roraima abriga diferentes povos indígenas, Três Corações é um exemplo. Essa comunidade indígena possui uma população de aproximadamente 700 (setecentos) habitantes, pertencentes a diferentes etnias como Macuxi, Wapixana, Ingaricó, Yanomami e uma pequena parcela de não índios.

A situação econômica esta voltada aos programas do governo federal com benefícios sociais como bolsa família, auxílio maternidade e aposentadorias. Servidores assalariado do quadro efetivo federal, estadual e municipal. A minoria tem a situação voltada para a agricultura, que são para o próprio consumo e tendo comércio de pequeno porte.

Com essa perspectiva, esse trabalho se propôs analisar as concepções dos habitantes indígenas e não indígenas sobre os problemas econômicos da comunidade. A presente proposta de investigação caracteriza-se como uma pesquisa de cunho descritivo e exploratório, valendo-se de procedimentos de análise e interpretação de dados, em nível qualitativo e quantitativo, tendo como amostra um membro de cada família da comunidade.

A POPULAÇÃO INDÍGENA NO CONTEXTO DE SUSTENTABILIDADE NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ

Quando se trata de economia dos povos indígenas, não podemos esquecer a economia de subsistência como agricultura familiar se tratando desse assunto entenderá que de forma geral os povos indígenas em Terras Menores, sofrem pressões externas crescentes sobre suas terras comunitárias. Em muitos casos, estas pressões se encontram associadas no crescimento demográfico, nas condições fundiárias, ou em áreas reduzidas. E no surgimento demandas econômicas por produtos industrializados, gerando insustentabilidade e empobrecimento na segurança alimentar, dependência econômica, política e sociocultural.

Isso tudo se reflete dentro da conjuntura da política econômica local, e não necessariamente baseada na avaliação do uso tradicional e daquilo que é necessário para subsistência e crescimento populacional.

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Segundo a FUNAI, um dos principais problemas da demarcação das Terras em “ilhas” é que, em muitos casos, os recursos naturais importantes ao bem- estar das comunidades ficou de fora das áreas demarcadas.

A ECONOMIA DA COMUNIDADE INDÍGENA TRÊS CORAÇÕES.

A economia da comunidade Três Corações, está baseados em três esferas programas sociais, serviços públicos, comerciantes, e outras atividades e uma pequena parte em agricultura. Mais para a comunidade não existe ligação com sustentabilidade econômica.

Qual comércio Quantidade

Borracharia 1 Frutaria 1 Lanchonete 4 Mercadoria em geral 2 Padaria 1 Restaurante 1 SR 1 Total geral 11

Tabela 1. Tipo de Comércio. Fonte: dados da autora.

As pessoas que possuem comércio na comunidade Três Corações.

Quem tem comércio Quantidade

Branco 4

Macuxi 5

Wapixana 2

TOTAL 11

Tabela 2. Quem tem Comércio. Fonte: dados da autora.

Estes recursos influem na economia da comunidade, tanto no aspecto da produção que de certa forma, é desestimulada, quanto no consumo de bens. Por outro lado essa renda esta concentrada, o que pode gerar hierarquias no plano de aquisição de bens e serviços e alterações importantes nos princípios de organização social. Média o rendimento entre os que têm alguma renda é de R$ 838,11 e todas as famílias fica em trono de R$ 830,58. Vejamos a tabela a seguir.

N° de famílias Porcentagem Faixa de renda

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24 22% De R$ 550,00 até R$ 930,00 29 26% De R$ 1.000,00 até R$ 1.900,00

8 7% De R$ 2.000,00 até R$ 4.000,00

Tabela 3. Renda familiar. Fonte: Dados da autora.

Hoje dentro da comunidade há um valor significativo nos salários e benefícios sociais, mas grande maioria termina ficando na cidade e pouco circula dentro da comunidade, quando vão para receber seus salários, e por sua vez compram gêneros alimentícios, inclusive itens como a farinha de mandioca que são produzidas em outras comunidades. De certa forma, é levado agir assim, pois a oferta de alimentos na comunidade é irregular e não é garantida. (FUNAI/PPTAL/GTZ, 2008).

AGRICULTA

A agricultura familiar é praticada pelos povos indígenas, isso é inserido em sua organização social, hoje se observa uma maior preocupação em aumentar a produtividade, mas falto incentivo para produtividade da agricultura familiar.

Tabela 4. A agricultura. Fonte: dados da autora.

Infelizmente com essas mudanças podemos perceber que a comunidade não depende dos recursos naturais para sua alimentação Ao fazer comparação com agricultura da comunidade 11 famílias vivem realmente da mesma, cultivando verduras, leguminosas e arvores frutífera.

A CAÇA

Roça Nº de Família Porcentagem

Não tem Roça 82 70%

Tem Roça 25 21%

Não Respondeu 11 9%

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Ao fazer uma analise da caça, ela se torna uma atividade de economia sustentável para essa população, pois na região de lavrado é encontrado animais como veados e capivaras. A diminuição na disponibilidade de caça é um dos problemas de escassez causados pela restrição territorial.

Respostas Porcentagem N° de famílias

Não 53% 63

Sim 34% 40

SR 13% 15

Total geral 118

Tabela 5. A Caça. Fonte: dados da autora.

A PESCA

Generalizada ente homens, mulheres, também entre os adolescentes principalmente, do sexo masculino, a pesca é ainda fontes de proteínas animal consumida pelos índios, sobretudo em alguns períodos do ano, quando há mais abundancia de peixe nos diversos igarapés existente nas áreas indígenas. Fazendo com que esses pescados sejam vendidos na beira da estrada.

Respostas Nº de Famílias Porcentagem

Não 63 53%

Sim 40 34%

SR 15 13%

Total geral 118

Tabela 6. A Pesca. Fonte: dados da autora.

OS QUINTAIS QUE TEM PRODUÇÃO E ARVORES FRUTÍFERA

O cultivo de terreiros ou quintais indígenas é caracterizado pelo plantio de arvores frutífero e de espécies de plantas destinadas ao uso medicinal e ritual. Os quintais são

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chamados de agroflorestais caracterizado por uma área de manejo intenso, sendo a maioria das espécies compostas por frutíferas, plantas medicinais, temperos como as pimentas e, em alguns casos espécie agrícolas ornamentais. Nos quintais pode haver também a presença de animais como galinha, pato, porco, além de animais domésticos. A maior parte das arvores é utilizadas para o autoconsumo, para essas famílias significa a segurança alimentar, enquanto a roça produz gêneros calóricos às frutas fornecem as vitaminas. (FUNAI/PPTAL/GTZ, 2008).

Respostas Nº de Família Porcentagem

Não 74 70%

Sim 32 30%

Total Geral

Tabela 7. Quintais Frutíferos. Fonte: dados da autora.

PECUÁRIA E OUTRAS CRIAÇÕES

Após um longo período para reconquistar a terra os índios usaram a mesma estratégias que os fazendeiros, passaram de peões e vaqueiros a criadores de gado. Este sistema independente de pecuária se estendeu por toda a área indígena de Roraima, e Três Corações não são diferentes, pois poucas famílias que têm bovinos ou outras criações.

A criação de gado, cavos, suínos e aves, como galinha e patos, não diferencia muito na economia interna e externa da comunidade, mas traz um potencial de reorganizar as relações socioeconômicas dentro da comunidade, mas traz um impacto positivo e negativo, em relação aos impactos ambientais.

A adoção da criação de animais, seja de grande porte, como o gado, ou de porte menores como suínos, gera impactos na atividade agrícola, na medida em que os animais podem invadir e causar danos às roças, comendo as partes aéreas das plantas, no caso do gado e calos, ou comendo as raízes de mandioca e batata doce, no caso dos porcos.

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A invasão das roças problema que retoma aos primeiros conflitos entre as comunidades indígenas e os fazendeiros que se instalaram na região devido a Terra Indígena Araçá ser devida em “ilhas”, mas hoje passou a ser um problema interno da comunidade, na medida em que passaram a ter suas criações de gado.

Embora o gado seja criado co objetivo principal de comercialização, a criação de pequenos animais também é destinadas ao consumo em ocasiões de reuniões, comemorações e festas no final do ano. Animais pequenos, como aves e suínos, também podem ser eventualmente comercializados.

ARTESANATO

Dentro da comunidade existe um numero pequeno de famílias que produzem artesanato para ajudar na economia da família, são fabricadas várias tipos de artesanatos, a matéria-prima utilizada nestas produções é a palha de buriti, sendo das folhas fechadas, o “o olho do buriti”, com isso é produzido vários artesanatos, sendo que utilizam outras plantas como o arumã (Ischnosiphon sp.), planta arbustiva de ambientes úmidos, e o cipó titica (Heterospsis sp.), são usadas na confecção de diversos objetos. O jamaxi, por exemplo, pode ser fabricado com palhas de buriti no próprio local de coleta e serve como mochila para transporte de animais caçados e de produtos da roça.

As peneiras e tipitis, geralmente de arumã, são utilizados na fabricação de farinha. Abanos e darruana, um tipo de bolsa, são fabricados com folha de buriti. O cipó titica, encontrado nas “ilhas de mata” é resistente e duradouro. Muito usado é considerado o “prego indígena”, pois serve para amarrar madeiras na construção de casas e barracas. É também utilizado na fabricação de vários tipos de cestos e vassouras.

A fabricação de artesanato com fibras vegetais é realizada tanto pelos homens como pelas mulheres. Quanto às técnicas empregadas nos artesanatos de fibras, observam-se trançados do tipo cruzado, principalmente utilizados o arumã, no caso a peneira e do tipiti, mas também o cipó- ambé (Philodendron sp.) partido para os trabalhos mais grosseiros, abertos, como peneiros, ou folhas novas de tucumã, na confecção de abanos e ainda, as folhas novas do buriti para a darruana. Também é empregado o traçado costurado, utilizado a seda retirada da folha nova do olho do buriti, para confecção de cesto cuja aparência as tradições indígenas norte-americanas.

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Outros tipos de artesanato são exclusivos as mulheres, como, por exemplo, o tear de algodão, para confecção de tipóias e redes e a fabricação de panelas de barro. Isso também influencia muito na economia dessas famílias às vezes mexe na economia interna da comunidade. (FUNAI/PPTAL/GTZ)

IMPACTOS INTERNOS (LIXO)

Um dos problemas da nova configuração socioambiental da comunidade indígena Três Corações dentro da T.I- Araçá, é a produção e dos resíduos sólido devido os produtos industrializados criando um problema ambiental semelhante ao que é visto em áreas urbanas, sendo o agravante a ausência de alguns serviços municipal de coleta. O problema do lixo foi citado por lideranças, mas encontramos uma maior preocupação com este problema entre os professores e agentes de saúde. Tem havido varias iniciativas no âmbito escolar, no sentido de montar projetos para dar um tratamento e destino adequado ao lixo das comunidades. Esses projetos, no entanto, enfrentam dificuldades, as quais são representativas dos obstáculos à gestão ambiental na Terra Indígena. Mesmo assim, a análise da questão do lixo poderá apontar alguns dos possíveis caminhos para trabalhar o tema gestão ambientais, principalmente quanto à importância do envolvimento da escola e o papel catalisador dos professores indígenas e não indígenas.

PERSCETIVAS PARA COMUNIDADE INDÍGENA TRÊS CORAÇÕES

No caso da Comunidade Indígena Três Corações, o aumento populacional dentro da Terra Indígena Araçá, junto co essas mudança de hábitos traz preocupações com a imposição ao uso dos recursos naturais, faz necessário pensar sim em opções para que a comunidade possa usufruir a sua qualidade de vida, ter segurança alimentar e garantir sua reprodução física e cultura de forma ordenada.

O que muitos moradores almejam é uma consolidação de uma marca indígena, que valorize a produção local e tradicional, como contrapartida às pressões para que as comunidades ingressem no modelo agrícola da monocultura de escala comercial. Como alternativa a este modelo, é necessário valorizar o cooperativismo, numa versão indígena, juntamente com os conceitos da economia solidária, da certificação orgânica ou de origem, como também explorar o mercado justo. Na pratica, novos desafios

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exigem que a comunidade, liderança experimentem novas idéias e arranjos sócio-organizativos na busca de soluções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após analisar todas as entrevistas, questionários bem como os apontamentos do caderno de campo feitos durante a pesquisa na comunidade foi observado que os aspectos culturais e tradicionais de seus habitantes e está intimamente ligados a economia de benéficos sociais e de contra cheques.

A pesquisa aponta também que os principais problemas ambientais apontados pode ser conseqüência do aumento da população da comunidade, do fácil acesso aos bens de consumo e principalmente a falta de conhecimento da maioria dos moradores sobre as conseqüências da degradação ambiental de sua comunidade.

É necessário que se faça um trabalho dentro da comunidade voltado para a valorização da cultura precisando urgentemente de fortalecimentos para as áreas de sustentabilidade, agricultura familiar. Que isso venha aconteça com a realidade a onde essa população esta inserida de forma justa e igualitária.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO; PROJETO INTEGRADO DE PROTEÇÃO ÀS POPULACÕES E TERRAS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA LEGAL; COOPERAÇÃO TECNICA ALEMÃ- DEUTSCHE GESELLSCHAFT FUR TECHNISCHE ZUSAMMENARBEIT. (Orgs.) Levantamento etnoambiental das terras indígenas do complexo Macuxi Wapixana: Anaro, Barata/ Livramento, Boqueirão, Jacamim, Moskow, Muriru, Raimundão, Raposa Serra do Sol e Taba lascada/ Miller, Robert Pritchard, et. al.; Brasília: FUNAI/PPTAL/GTZ, 2008.

Referências

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