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Thomas Kuhn, Ludwik Fleck e o caráter histórico do conhecimento científico

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Academic year: 2021

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1 Thomas Kuhn, Ludwik Fleck e o caráter histórico do conhecimento científico

Marco A. C. Sávio Professor Adjunto de História Universidade Federal de Uberlândia/UFU – Campus Ituiutaba

Nos últimos anos houve um incremento significativo nos estudos sobre ciência e tecnologia. O interesse por uma melhor compreensão acerca do fenômeno científico gerou uma série de trabalhos preocupados em compreender o caráter histórico da produção do conhecimento, bem como o seu impacto na sociedade ao longo do tempo. No entanto, devido à natureza da produção das idéias científicas, esses estudos foram marcados por dois posicionamentos de caráter distinto. O primeiro deles, e mais comum até meados dos anos oitenta, era o de estudos de caráter tradicional, alguns fiéis seguidores da escola metódica, que atribuíam à ciência um caráter cumulativo e exato. Esses estudos ficaram também conhecidos como internalistas (ou idealistas), já que vêem a ciência como o resultado da interação entre o pesquisador e a natureza, sem interferências das convenções sociais. O segundo posicionamento diz respeito a uma corrente que começa a se firmar no final dos anos de 1970 e procura compreender o desenvolvimento das idéias científicas como o resultado das interações entre cientistas, instituições e a sociedade. Essa corrente também é conhecida como externalista.

Os debates envolvendo internalistas e externalistas protagonizaram aquilo que muitos autores chamam de “Guerra das Ciências”. Esse conflito – envolvendo historiadores, sociólogos e cientistas – acabou por marcar o debate ao longo dos anos de 1990, criando um ambiente de conflito entre parte da intelectualidade e a comunidade científica. Se em muito esse debate pouco favoreceu para o desenvolvimento da compreensão da ciência em nossos dias e seu impacto nas sociedades contemporâneas, ao menos colocou a questão do papel das ciências dentro da pauta dos pesquisadores na área de ciências humanas.

Essa discussão concentrou-se ao redor das duas principais correntes que ao longo dos anos de 1980 e 1990 dominaram o debate acerca do papel da ciência nas sociedades contemporâneas. De um lado, trabalhos como o de David Bloor, Barry Barnes e John Henry criaram o chamado “Programa Forte”, que propunha uma análise

Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.). Caderno de resumos & Anais do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo: tradições historiográficas modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 2008. (ISBN: 978-85-288-0057-9)

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2 das ciências através daquilo que Bloor chamou de “princípio de simetria”: as mesmas explicações que valem para as ciências humanas valem para as ciências exatas; as mesmas causas que explicam os supostos erros, explicam os supostos acertos. De outro lado, trabalhos como os de Bruno Latour, Michael Callon e Steven Woolgar formaram a chamada Teoria do Ator-Rede, propondo uma explicação da realidade envolvendo não apenas as ações humanas, mas também aquilo que Latour chama de não-humanos. No mundo da ANT o que importa é a tradução, ou seja, o processo que dá princípio à realidade, ordenando o papel dos humanos e dos não-humanos.

Essas duas grandes linhas, apesar de representarem grandes avanços nos debates envolvendo as ciências humanas e as exatas, são herdeiras de um debate anterior que marcou profundamente as ciências humanas e, em muitos aspectos, toda a produção do saber ao longo do século XX. Esse debate, que teve seu início no final do século XIX, com autores como Karl Marx e Karl Manheim, entre outros, teve importantes contribuições através de trabalhos como o do polonês Ludwik Fleck e do alemão, radicado nos Estados Unidos, Thomas Kuhn. O primeiro, um médico mais famoso por seu trabalho com a tuberculose do que por sua contribuição à epistemologia, ainda é um ilustre desconhecido para boa parte do mundo acadêmico, sendo lido e estudado apenas por alguns poucos aficionados (situação que vem mudando nos últimos anos). O segundo é o autor de um dos livros mais citados da história acadêmica, sendo que sua conceituação de “paradigma” transcendeu em muito as discussões sobre epistemologia e história da ciência, transitando em áreas do conhecimento bastante distintas como a literatura e a ciência política.

Kuhn e Fleck, apesar de terem publicado seus principais trabalhos em épocas distintas (o trabalho de Kuhn foi publicado pela primeira vez em 1969 e o de Fleck em 1935), ambos os autores discutiram questões bastante próximas e de fundamental importância para a história e a historiografia das ciências, pois se trata de vozes que partiam de dentro do mundo científico (Kuhn era físico, enquanto Fleck médico) e questionavam a própria interpretação que a comunidade científica fazia de si mesma e de sua própria epistemologia. Apesar de seus trabalhos procurarem dialogar com a filosofia do conhecimento – Fleck, principalmente, tinha grande admiração e contatos com o grupo da Escola de Viena – acabaram por significar uma importante contribuição para a história da ciência, bem como para o que hoje conhecemos como sociologia do conhecimento.

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3 O paradigma Kuhniano e o caso das revoluções científicas.

O principal trabalho de Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, representou uma inflexão na forma de ver a ciência. Até então, a observação predominante feita pelos cientistas era de que a ciência era o “espelho da natureza”. Kuhn foi profundamente influenciado pelo trabalho do escritor russo, radicado na França, Alexander Koyré, acerca da revolução representada por Galileu. Em seu trabalho, Koyré aponta que a revolução de Galileu foi, na realidade, uma revolução metafísica, já que alterou a percepção sobre o universo e a forma medieval de pensamento. Essa revolução metafísica significou uma alteração de alguns padrões aristotélicos e pitagóricos, para preocupações platônicas acerca da compreensão do universo. Essa revolução descrita por Koyré mostrou a Kuhn que a ciência, diferentemente de sua auto-imagem, passava por movimentos de ruptura e recusa de paradigmas que, em momentos específicos da história, são colocados em cheque e substituídos por novos paradigmas.

A visão kuhniana da ciência difere de forma radical com a visão até então dominante. Para Kuhn, a ciência era composta por campos distintos, sendo que a denominação correta para esse conjunto de práticas seria a de ciências. Cada uma das partes que compõe um determinado campo do saber científico era chamada por Kuhn de paradigma, ou seja, um conjunto de idéias a cujos praticantes se submetem e procuram levar adiante em busca da fronteira dessa forma específica de conhecimento. Para Kuhn, toda prática dita científica tem seu início como uma prática pré-científica, já que essas práticas se transformariam no que o autor chama de ciência normal apenas a adesão de um grupo específico de pesquisadores que aceitem as suas regras e metodologia e pesquisem dentro desse campo de orientações. A partir desse momento, a chamada ciência normal passa a ser dotada de um determinado paradigma, que guia os seus participantes e excluí outros que não se encaixam nas práticas determinadas pelo paradigma.

No entanto, junto às fronteiras dos paradigmas, é comum o surgimento de anomalias, ou seja, de dados e práticas que não se encaixam nos paradigmas e colocam em risco os seus respectivos fundamentos. Segundo Kuhn, a estratégia habitual dos membros de determinado paradigma frente a uma anomalia é, primeiro, a tentativa de rejeitá-la. Essa prática, bastante comum, consiste em tratar a anomalia como o resultado de um erro ou mesmo de tratar-se de algo não pertencente à ciência normal, ou seja, de

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4 tratar-se de pré-ciência (como a alquimia para a química, por exemplo). Essa prática, amparada na autoridade do paradigma e nas práticas de seus participantes, resolveria, na maioria dos casos, os problemas que envolvem anomalias e colocam em risco o paradigma, colocando as pesquisas daquela determinada área do conhecimento, novamente, nos seguros trilhos propostos pela chamada ciência normal.

No entanto, se isso não resolve a questão colocada pela anomalia, uma segunda estratégia dos praticantes ligados ao paradigma, segundo Kuhn, seria a de isolar a anomalia. Essa estratégia é uma tentativa de colocar a anomalia como um resultado colateral da prática comum ligada ao paradigma, classificando-a como um resultado que pode ser resolvido, em campos ainda não abertos pelo paradigma, num futuro próximo e com a compilação e análise de mais dados. A estratégia do isolamento, portanto, pressupõe a existência de um campo em expansão dentro do paradigma, o que possibilitaria interpretações ainda não vislumbradas dentro da prática da ciência normal. Caso essas duas estratégias falhem, o que ocorre – segundo Kuhn – é um violento processo de revolução científica, ou seja, uma crise geral no paradigma que o leva ao colapso e à adoção de um novo paradigma, representado pela antiga anomalia, que substitui o campo de idéias do prévio grupo de cientistas ligados ao antigo paradigma. No entanto, esse processo de revolução não está baseado simplesmente numa mudança linear de uma idéia para outra (da física newtoniana para a einsteiniana, por exemplo), mas sim num complexo e longo embate entre membros do velho paradigma, com membros do novo paradigma. Esse longo processo de disputas pode resultar, ou não, na adoção de um novo paradigma, o que dependerá do número de praticantes que adotará as posturas colocadas pela anomalia, transformada em novo paradigma, em oposição ao antigo paradigma. Caso esse processo seja bem sucedido, o antigo paradigma pode se transformar em algo novo, ligado às novas práticas, ou simplesmente transformar-se numa prática ligada àquilo que Kuhn chama de pré-ciência.

A posição kuhniana centra a sua análise, portanto, nesses complexos e radicais processos de mudanças desencadeados pelas anomalias que podem estar ligadas, em determinados casos, às descobertas levadas ao cabo por uma única pessoa, como é o caso de Galileu e a revolução causada pelas suas idéias. Essa aposição, apesar de ter significado uma grande mudança nos modelos de análise da sociologia e da história das ciências, ainda deixa de lado uma questão fundamental (abordada por Kuhn em trabalhos posteriores), que é a do papel cotidiano dos cientistas que vivem e produzem,

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5 em seu dia-a-dia, o paradigma. Kuhn pensa a ciência não através dos indivíduos que fazem parte dela, mas sim em suas estruturas. A estrutura das revoluções científicas é um trabalho preocupado com os grandes processos de mudança na ciência e nos processos históricos que possibilitam essas mudanças. Na realidade, Kuhn estava preocupado mais com as práticas científicas do que com a ciência em si, o que o levou a produzir uma interpretação da ciência de fundamental importância para a compreensão desse fenômeno ao longo da história.

Fleck, estilo e comunidade de pensamento.

Em comparação com o impacto das idéias de Kuhn, o trabalho de Fleck é muito mais modesto e pouco estudado. No entanto, esse trabalho, hoje revisitado por muitos historiadores e sociólogos preocupados com o impacto das ciências em nossas sociedades, é de fundamental importância para compreendermos não apenas o fenômeno científico, mas também o próprio trabalho de Thomas Kuhn e seus desdobramentos posteriores. Um dos primeiros estudiosos a fazer menção ao trabalho de Fleck foi o próprio Kuhn, que em seu prefácio de 1969 chama a atenção para o trabalho do então desconhecido autor polonês.

Fleck publicou seu trabalho, Gênese e desenvolvimento de um fato científico, no ano de 1935. Apesar de ser, inegavelmente um trabalho de grande originalidade, ele passou despercebido pela crítica da época, como mais um estudo de caso, mais especificamente, sobre a sífilis. Um dos fatos que dificultou, e continua a dificultar, a divulgação das idéias de Ludwik Fleck é o fato de seu trabalho não ter sido traduzido para o inglês. Esse trabalho foi realizado apenas no final da década de 1970, sendo que as traduções para outras línguas (espanhol) foram feitas com base na tradução de língua inglesa. A tradução inglesa envolveu nomes ilustres na área de estudos da ciência, entre esses nomes o próprio Thomas Kuhn e Robert Merton, um dos pais da sociologia do conhecimento. A dificuldade e a complexidade desse trabalho dão uma idéia dos problemas que o trabalho de Fleck trazia para a área, já que se trata de uma narrativa complexa e de difícil tradução, fazendo com que fosse necessária a adoção de termos que, de alguma forma, pudessem dar contra da complexidade do texto original, sem perder sua capacidade crítica em língua inglesa.

Esses problemas ilustram um pouco as razões para a ausência de trabalhos acerca de Fleck e de suas idéias. Além disso, o trabalho de Fleck usa uma terminologia

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6 que não se encaixa em nenhuma das tradições críticas que tratam os estudos acerca da ciência, resultando numa abordagem original e de grande interesse. O trabalho de Fleck inicia-se com uma pergunta que, no fundo, nos posiciona acerca de sua originalidade e acerca das diferenças em relação ao trabalho de Kuhn: “o que é um fato?”

A colocação do autor coloca a questão acerca da própria natureza do saber científico que é a idéia de fato, ou, indo além, da idéia de que a ciência seria o “espelho da natureza”. A narrativa de Fleck, tratando de um estudo acerca da evolução histórica da sífilis, o autor coloca em questão a existência de fatos científicos e aponta uma transitoriedade interpretativa acerca de conceitos científicos tidos normalmente como estáveis. Essa transitoriedade está ligada à dificuldade de aceitação de determinados conceitos por parte da comunidade científica que se utiliza desses conceitos. No caso específico da sífilis, Fleck nota que a idéia de doença é na realidade uma construção extremamente complexa, que envolve atores distintos que, normalmente, não compartilham dos mesmos pontos de vista em relação ao mesmo fato.

Essa observação leva a uma série de conclusões acerca dos critérios para a identificação do que é ou não uma doença, no caso da sífilis. Essa identificação de um agente patológico varia dependendo dos objetivos iniciais da pesquisa. Para determinados grupos de pesquisa, um estudo acerca do agente pode levar a conclusões diversas do que outros estudos que tenham objetivos diferentes, acerca do mesmo objeto. Isso levaria à dificuldade em determinar as causas da patologia sífilis, colocando em questão a própria idéia de fato, cuja natureza é estudada por Fleck.

O autor analisa os conflitos que surgem ao redor da definição do que é um fato sob a sombra de dois conceitos que ele usa para definir a produção do conhecimento científico*. O primeiro desses conceitos é o de estilo de pensamento. Fleck entendia que os pesquisadores fazem parte e se utilizam de “estilos de pensamento” diversos. Todos os cientistas possuem um determinado “estilo de pensamento”, ou seja, pensam conforme determinadas práticas que remetem às suas formações e grupos dos quais fazem partes, tendo conclusões e dúvidas semelhantes. O conjunto de “estilos de pensamento” se encontra em conjunção naquilo que o autor chama de “coletivos de pensamento”. Os “coletivos de pensamento” reúnem diversos “estilos de pensamento”, dando a eles coerência e possibilitando a comunicação instrumental entre seus membros. No entanto, um membro de determinado “coletivo de pensamento” pode usar

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Nesse ponto, a tradução inglesa chama a atenção para a falta de unidade terminológica do autor acerca dos conceitos por ele utilizados. Utilizo aqui uma tradução livre do inglês para o português.

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7 de idéias relativas a estilos de pensamento diferentes daqueles ligados ao “coletivo de pensamento”.

Em outras palavras, a narrativa de Fleck nos dá a idéia de que num mesmo “coletivo de pensamento” existem formas diversas de pensamento que tomam emprestado uma série de idéias pertencentes a “estilos de pensamento” diversos que, por sua vez, podem fazer também parte de “coletivos de pensamento” distintos. Isso nos coloca uma questão fundamental pra a compreensão do surgimento das idéias científicas, também abordado tardiamente por Kuhn, que é a idéia de incomensurabilidade. Para Fleck é possível que idéias consideradas antiquadas em determinados estilos e comunidades de pensamento voltem, vez por outra, em períodos históricos distintos. Essas idéias, antes de serem extemporâneas, representam idéias que anteriormente já se encontravam presentes nos “coletivos de pensamento”, colocando em xeque a idéia de fato ou descobrimento científico e levando a questionar as próprias posições levantadas por Kuhn, mais de 30 anos depois.

O problema da incomensurabilidade e a historiografia da ciência.

O que significa, então, o conceito de incomensurabilidade. Fleck e Kuhn abordam, de maneiras distintas, o mesmo problema nos estudos sobre a ciência, que é o conceito de fato ou descobrimento científico. Tanto para Fleck, como na obra tardia de Kuhn, a idéia de fato ou descobrimento é problemática, no momento em que é difícil, se não impossível, determinar o local e o momento em que determinadas idéias ou fatos se firmaram como realidades incontestáveis no mundo científico. O que Fleck coloca e que depois é adotado por Kuhn é a idéia de que o conjunto de idéias presentes nas comunidades científicas é, por natureza, incomensurável, ou seja, por sua quantidade e profusão são impossíveis de ser qualificados ou quantificados.

O que isso significa? Em outras palavras, significa que é muito improvável que exista descobrimento na ciência. A idéia de descobrimento – como surgimento de uma idéia ou interpretação nova, feita por uma pessoa ou grupo – é, na verdade, o resultado de idéias anteriormente postas, mas que, em determinados momentos de crise, surgem como sendo uma novidade científica, um descobrimento, ou mesmo um fato. O que os autores colocam é que o fato, ou o descobrimento, na realidade só podem existir dentro de idéias já existentes que retornaram de teorias esquecidas, mas que se mantinham vivas no “coletivo de pensamento” (ou no paradigma, numa terminologia kuhniana).

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8 Em outras palavras, o que importa na construção dos fatos científicos, ou no surgimento de descobertas variadas, depende das relações entre os diversos grupos que fazem parte do paradigma, ou dos “estilos de pensamento” que compõe os “coletivos de pensamento”.

A idéia de incomensurabilidade trás uma questão fundamental para a historiografia da ciência, que comumente trata de descobertas e invenções – principalmente no caso brasileiro – que é o papel da comunidade científica na construção e na aceitação de determinados fatos científicos, bem como o de compreender de que forma essa interação acontece. Isso significa compreender o funcionamento da ciência, ou ciências, enquanto uma instituição social, com uma posição política cada vez mais importante em nossa realidade. Em outras palavras é necessário compreender o desenvolvimento histórico da ciência como sendo parte da sociedade e não como algo a parte dessa sociedade.

A incomensurabilidade dá condições de compreender como, historicamente, são construídos os fatos, como ocorrem descobertas e de que forma elas são aceitas como verdades científicas. Em certo sentido isso significa questionar o próprio papel da ciência enquanto “espelho da realidade” e observar de que forma essas interações entre cientistas ocorrem, resultando em complexas construções intelectuais que são o resultado não apenas de pesquisas científicas, mas também de jogos de poder envolvendo cientistas, grupos rivais, instituições e a comunidade científica como um todo. Essa busca por uma historicidade do fato e do descobrimento é o caminho para a historiografia se afastar de trabalhos laudatórios e de pouco efeito crítico acerca das relações da ciência com a sociedade.

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