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Colaboração e cooperação no texto livre: conceitos chave no diálogo entre alunos de letras e comunidades de software livre.

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Academic year: 2021

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Colaboração e cooperação no texto livre: conceitos- chave no diálogo

entre alunos de letras e comunidades de software livre.

Marques Pereira Daniervelin Renata

*

daniervelin@gmail.com

Gomes de Sá Ayub Thiago

**

Chat@ired.unam.mx

*

Universidade Federal do Triângulo Mineiro

**

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Cómo citar este texto: Marques, D. R. y Gomes de Sá Ayub, T. (2017). Colaboração e cooperação no texto livre: conceitos-chave no

diálogo entre alunos de letras e comunidades de software livre. Revista electrónica en Ciencias Sociales y Humanidades Apoyadas por

Tecnologías, 6(2), 45-49.

Resumen:

Revisitando os conceitos de colaborar e cooperar, diferenciados por estudiosos da Educação, como R. Levis (1996), Avala et al. (2002), Coll (1996) e Kenski (2003), uma análise foi feita da interação entre alunos de Letras e comunidades virtuais de documentação em Software Livre. Segundo os estudiosos, o termo colaboração explica um grupo de atores que busca um objetivo comum e o termo cooperação nomeia um grupo de atores que co-operam a favor de atividades de um outro(s) sujeito(s) na bus ca de seus objetivos pessoais. O Texto Livre, projeto cujo objetivo principal é o de fornecer suporte lingüístico às comunidades de Software Livre ao mesmo tempo em que fornece ambiente real de prática textual a alunos de graduação, procura colocar os dois conceitos em sintonia. Os objetivos iniciais são diferentes, mas, aos poucos, várias alianças são criadas envolvendo os dois grupos em um objetivo c omum, que é a troca de conhecimentos de forma livre e colaborativa. O crescimento do SL depende de sua documentação para a divulgação do projeto, daí um campo de atuação para os alunos de Letras, que também têm contato com um outro “mundo”. Para alguns, o mundo das novas tecnologias ainda é desconhecido; por isso, esse projeto tem se mostrado muito útil por permitir contato com ferramentas como as do BrOffice, por exemplo. Para a livre circulação do conhecimento, precisamos de pessoas dispostas a dividir e, em conseqüência, aumentar os bons frutos que se pode angariar no processo de formação da inteligência coletiva.

Palabras clave

: linguagem, tecnologia, Software Livre, educação, colaboração, cooperação.

Articulo originalmente publicado en las actas del Tercer Encuentro de Educación, Cultura y Software Libre «EDUSOL».

Este documento tiene una licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivar 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). Usted es libre para compartir, copiar y redistribuir el material en cualquier medio o formato mientras respete los términos de la licencia.

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Texto Livre: o projeto.

Com o propósito inicial de atender alunos de graduação em suas produções textuais acadêmicas e para auxiliar as comunidades virtuais de Software Livre em suas dificuldades na adequação de seus textos à modalidade escrita, o projeto Texto Livre2 foi idealizado para integrar esses.

Dois lados inicialmente separados. O projeto foi inicialmente implementado em algumas turmas da disciplina Oficina de Texto da UFMG3, que tem por ementa trabalhar com os alunos em especificidades da escrita acadêmica através de uma produção textual.

Por uma herança da cultura escolar, as disciplinas de Redação se resumem à produção orientada de textos para alunos, que são objeto de avaliação do professor, sendo, no entanto, restritos a uma circulação interna, guardados ou até descartados após a conclusão do curso. É um modus operandi empobrecedor, pois além de desestimular o aluno a ir além da qualidade exigida pelo curso, acaba descartando um material produzido dentro da comunidade acadêmica que poderia ser de grande valia para sociedade. É desperdiçada a possibilidade de uma extensão universitária, ação exigida por lei em uma universidade pública.4

Nesse contexto, introduziu-se uma nova forma de produção textual em que as redações dos alunos seriam publicadas (socializando a produção acadêmica) e o escopo temático dessas redações envolveria o Software Livre, trazendo para dentro da academia essa modalidade revolucionária de software e seu ethos de produção de conhecimento. As primeiras turmas que vivenciaram o projeto são do curso de Letras e trataremos neste texto especialmente da experiência com essas turmas. Outros cursos da UFMG como Biblioteconomia e Sistemas de Informação possuem também a disciplina Redação Técnica e Língua Portuguesa e já começam a aderir essa nova abordagem.

O diferencial do projeto está na liberdade dos alunos em assumir atividades da área de Letras, aplicando os conhecimentos quase sempre só abordados teoricamente nesse curso. Em sua primeira fase, as atividades eram divididas entre quatro grupos: revisão, tradução, produção de tutorial e avaliação de sites no quesito usabilidade. Na fase atual, as atividades foram centralizadas em revisão e tradução tanto pelas demandas, quanto pela maior opção dos alunos por tais tarefas. São elas tarefas que exigem do aluno seus conhecimentos gramaticais, de composição textual e de estilo em sua variedade de tipos e gêneros sem esquecer do contexto real de produção em que acontecem.

Além das questões aqui citadas, o TL ainda tem em sua origem o desejo de suprir uma brecha no ensino de escrita a alunos no início da graduação. Professores de disciplinas como Oficina de Texto e Redação Acadêmica, obrigatórias e geralmente cursadas nos primeiros períodos do ensino superior, têm como meta ensinar habilidades de escrita em diversos gêneros acadêmicos que serão necessários nas diversas produções propostas aos alunos no decorrer de seu curso. Como ensinar escrita e adequação de textos acadêmicos a esses alunos que muitas vezes ainda não têm iniciação em nenhum projeto? Uma solução é buscada na formulação do projeto Texto Livre. Ao trabalhar no suporte linguístico à documentação, os alunos já têm nessa atividade um motivo de discussão e que pode originar outras produções como resumos, ensaios, artigos e outros baseados nessa experiência real de manipulação de textos.

Cadeia produtiva: produzindo textos por demanda.

Durante o planejamento da primeira turma, decidiu-se que a origem dos textos a serem modificados ou produzidos pelos alunos na disciplina seria das comunidades de Software Livre. Isso requereu um canal de contato on-line com as comunidades, onde textos poderiam ser solicitados e sua produção acompanhada. As plataformas que contêm essas características são chamadas no jargão da TI de sistemas de tickets . A equipe de coordenação do projeto, composta por docentes da UFMG, técnicos bolsistas, alunos voluntários e integrantes das comunidades de SL iniciaram uma busca por uma plataforma que contivesse um sistema de tickets para atender o projeto, que fosse distribuído sob uma licença que o permitisse ser categorizado como Software Livre.

Não foi possível identificar um Software Livre que se adequasse ao projeto. O principal motivo era a falta de cooperativada entre os usuários do sistema. Os sistemas encontrados foram construídos visando um ambiente corporativo, principalmente de suporte técnico online. Nesses casos, não há a necessidade de colaboração entre usuários, já que, se um funcionário é destacado para atender a um ticket, ele deverá cumprir sozinho a tarefa. Como uma das metas do projeto é trazer o ethos da colaboração na produção, essa é a característica essencial do sistema que se está buscando. Passou a ser necessária a produção um sistema de tickets com tais características, o que está sendo feito pela coordenação de TI do Texto Livre. Este sistema será distribuído com uma licença de Software Livre.

2 O Texto Livre é um projeto coordenado pela professora Ana Cristina Fricke Matte na Faculdade de Letras da UFMG desde 2006

(http://www.textolivre.org).

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Primeiros resultados observados.

Percebemos que o projeto vai além das atividades tradicionais de sala de aula: coloca os alunos em contato direto com situações reais de comunicação, em que suas ações não recebem só uma nota, mas ganham valor na medida em que colaboram na troca de informações com a comunidade fora da academia. Essa troca prevê ainda o conhecimento dos alunos de um mundo, muitas vezes novo, que é o da informática e seus benefícios para diversos setores sociais. O SL apresenta um grande potencial para ajudar na construção de programas úteis e adaptados aos interesses da educação em seu processo, como acontece com o curso de Letras da UFMG. Além disso, o mercado tem excluído professores que não se apropiam de noções de informática, cada vez mais necessárias na atualidade; daí mais uma utilidade dessas informações para a formação de profissionais cada vez mais dinâmicos em sua atuação.

Um outro momento importante nesse processo de validação das produções no projeto está nas diversas publicações de textos finais das atividades do Texto Livre no site Underlinux. As publicações levam o nome dos alunos e do projeto, constituindo um reconhecimento do trabalho discente e servindo a um vasto público que se beneficiará dessa contribuição. Abaixo, citamos um exemplo da concretização dos esforços dedicados ao projeto:

A interação do sujeito com outras pessoas, com os objetos e com o meio para essa concretização do aprendizado é condição para uma pedagogia na medida em que adquirem significado para os sujeitos em interação (LEAL, 2007). Apresentamos então tipos de relações observadas nesse projeto para mediar duas comunidades com algo em comum.

Cooperar e Colaborar: há diferença?

Entenderemos melhor a relação entre os participantes do Texto Livre (TL) e as comunidades de software livre através de uma interessante diferença estabelecida por alguns estudiosos da educação.

Com base em R. Lewis (1996), Alava et al. (2002) apresentam a distinção entre colaboração e cooperação da seguinte forma: “cooperação é realizada por um grupo de atores que aceitam apoiasse mutuamente na busca de seus objetivos pessoais. A colaboração supõe a busca por um grupo de atores de um objetivo comum” (2002: 104). Para Coll (1996), a colaboração está diretamente ligada ao grau de igualdade entre os sujeitos, ou seja, ao nível cognitivo das pessoas em interação. Quanto mais próximos cognitivamente os sujeitos estiverem, mais colaborativa será a relação vivenciada. No caso da relação cooperativa, os sujeitos são heterogêneos em relação às habilidades para executar uma tarefa, e por isso estarão cooperando entre si.

Figura 1. Exemplo da concretização dos esforços dedicados ao projeto.

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A partir desses conceitos, podemos dizer que o projeto TL é em princípio cooperativo porque prevê uma diferença de objetivos entre os dois grupos em contato. Os alunos fornecem seus conhecimentos linguísticos para adequar e formatar os textos de documentação em Software Livre, enquanto essas comunidades fornecem material para a prática dos aprendizes em sua área acadêmica. Uma consequência esperada é o contato dos alunos com ferramentas tecnológicas imprescindíveis na sociedade atual.

Segundo Kenski, “colaboração difere da cooperação por não ser apenas um auxílio ao colega na realização de alguma tarefa, ou indicação de formas para acessar determinada informação. Ela pressupõe a realização de atividades de forma coletiva, ou seja, a tarefa de um complementando o trabalho de outros.” (2003: 112)

Percebemos claramente que o conceito acima está ligado à atuação de sujeitos no contexto escolar, na construção do conhecimento. Porém, sabemos que a formação do saber não se limita a esse contexto. Como diz Paulo Freire (1984: 66), “Não se estuda apenas na escola. (...) Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema”. Assim, defendemos que os dois grupos que dão existência ao TL não estão isolados em seus objetivos individuais, mas colaboram ativamente na busca de interesses em comum e na ação de “estudar” formas de dividir cada vez mais conhecimentos.

O TL amadurece suas ações colaborativas na medida em que se une às comunidades de Software Livre na busca de novas informações para aperfeiçoamento de seus produtos e no compartilhamento desse desenvolvimento. Basta lembrarmos que, entre os desenvolvedores, a abertura dos códigos de softwares tem agregado cada vez mais interessados em novas versões sempre melhores aos usuários. Para os alunos de Letras, aplicar e dividir suas habilidades linguísticas pode ser uma experiência formadora de sua atuação em um dos campos mais comuns a esses profissionais: a educação. O ponto em comum, então, está no crescimento de suas habilidades e o compartilhamento dos saberes construído. Adotamos uma expressão usada pelo presidente Thomas Jefferson : “Quem recebe uma ideia de mim, a recebe sem subtraía de mim, assim como quem acende uma chama a partir da minha vela, recebe a chama sem apagar a minha” E, ao final, não temos apenas nossos aprendizados isolados, mas uma soma de oportunidades criadas pelos diálogos consequentes.

A inteligência coletiva.

O crescimento dos meios de comunicação e sua informatização nos levam a um espaço antropológico do saber em que as novas tecnologias se tornam infra­estrutura para promover a construção de “coletivos inteligentes” (LÉVY, 1998: 25).

Segundo Pierre Lévy (1998), o principal projeto arquitetônico do século será imaginar, construir e organizar o espaço interativo e móvel do ciberespaço de forma a trabalhar em “comum acordo” ou “entendimento com o inimigo” (1998: 26). Isso quer dizer que teremos de reconhecer que o outro sabe “o que eu não sei” e que todos têm algum tipo de inteligência, constituinte do saber da humanidade. A inteligência coletiva, então, “é uma inteligência dividida por toda parte incessantemente valorizada, coordenada em tempo real que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. (1998: 27).

Dessa forma, o que percebemos é que o conhecimento não pode ser servir a apenas um grupo de pessoas, uma vez que seu sentido está justamente no seu caráter de cooperação social. O projeto TL e as comunidades de software livre, então, ganham valor enquanto comunidades que buscam distribuir informações próprias a suas competências. Caso, os saberes se limitem ao território restrito em que são formados, perde-se em termos de colaboração, mas principalmente na possibilidade de crescimento pela soma do saber do outro.

Com isso, não queremos dizer que buscamos uma homogeneidade no saber social, pois a inteligência coletiva pressupõe diferenças, “árvores de conhecimentos” (1998: 27) que ganham pela pluralidade de suas competências. Se um universitário fica apenas com suas teorias de um lado e as comunidades de software restringem seus produtos de outro, perdemos a oportunidade de obter resultados positivos como os já alcançados no TL, que propicia os diálogos interdisciplinares promovidos até o momento.

Aliança Texto Livre – BrOffice.

Um exemplo de parceria, advinda do contato do Texto Livre com as comunidades de software livre em eventos como FISL8.0 e Ubuntu Uai , é a atual aliança entre o TL e alguns representantes do projeto BrOffice .

Como índice da colaboração entre as comunidades, podemos citar o interesse de união dos dois lados no melhoramento de produtos já existente no software, como o Corretor Gramatical (CoGrOO ) que pode ser muito útil aos para os trabalhos do TL por ser uma ferramenta de auxílio na revisão de textos. Tal ferramenta, obviamente, não dispensa o

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lingüísticos acumulados em disciplinas do curso de Letras podem ser de utilidade no aperfeiçoamento constante do funcionamento deste software.

A coordenação do projeto, dividida em linguagem, divulgação (marketing) e software (TI), empenha-se em eventos e encontros que fortaleçam os vínculos e as trocas que surgem como alternativas nas cooperações e colaborações. O I Evidosol , a se realizar no dia 24 de novembro, pretende ser mais um espaço de reflexão e divulgação dos serviços prestados pelos alunos e pela experiência oferecida a professores que queiram adotar o projeto como metodologia para suas aulas.

Considerações finais.

Procuramos ao longo desse texto demonstrar um exemplo de cooperação e colaboração possíveis entre dois grupos unidos por um projeto, o Texto Livre. Apenas iniciante, ele ainda precisa ser divulgado e aplicado em maior número de universidades de forma testá-lo e, conseqüentemente, aperfeiçoá-lo em seus resultados.

Infelizmente, ainda contamos com uma grande resistência de professores às novas tecnologias da computação para a aplicação na área da educação, o que mostra a necessidade de uma formação inicial e continuada mais atualizada desses profissionais. Não acreditamos que o simples fato da aplicação de um recurso tecnológico as aulas vão ser isentas de serem tradicionais, pois a preparação do recurso humano será sempre o principal fator. Acreditamos sim que a formação pedagógica deve estar em sintonia com as novas tendências que podem acrescentar benefícios a sua prática.

Podemos dizer que o projeto Texto Livre nasceu justamente da percepção de exclusão dos alunos da área de humanas em relação às novas tecnologias. Esse projeto pretende, então, ser uma forma de colocar os alunos em contato com as ferramentas que podem, não só ajudá-los na construção de textos mais eficiente, seu objetivo inicial, mas também capacitar esses sujeitos a uma didática e pedagogia cada vez mais produtiva à sociedade. Possibilitamos, assim, a formação da inteligência coletiva enquanto forma de diminuir um pouco a exclusão social.

Referencias.

Alava, S. et al. (2002) Ciberespaço formações abertas: rumo a novas práticas educacionais? Porto Alegre: Artmed,. Coll, C.; PalácioS, J. & marches, A. (1996) Desenvolvimento psicológico e educação. In: Psicologia da Educação. v. 2.

Porto Alegre: Artes Médicas,

Kenski, V. M. (2003). Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus,. Lévy, P. A. (1998). inteligência coletiva. São Paulo: Edições Loyola.

Referências

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