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A abordagem do tema Ditadura Militar no Jornal Fôlha de Caxias no Estado do Maranhão 1

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Academic year: 2021

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A abordagem do tema Ditadura Militar no Jornal Fôlha de Caxias no Estado do Maranhão1

Sarah Fontenelle SANTOS2 Adna Priscila da Silva FREITAS3

Marcos Antônio de Medeiros JÚNIOR4 Diego Barbosa de Araújo COSTA5

Thamyres Sousa de OLIVEIRA6

Universidade Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão UNIFACEMA-MA, Universidade Federal do Piauí, UFPI-PI

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de analisar a presença do tema ditadura militar no jornal Fôlha de Caxias, Caxias-MA. Segundo o Catálogo Histórico da Imprensa Caxiense, escrito por Quincas Vilaneto (2008), o Jornal Folha de Caxias pertencia a um importante empresário local, Alderico Jeferson da Silva Lima, que exercia também a função de editor da folha, dentre outros editores. Fundando em 1963, o jornal em questão foi considerado de cunho político e noticioso e exerceu uma importante influência na comunidade local. A análise foi feita entre os anos de 1969 a 1972, a partir do acervo da Academia Caxiense de Letras. Faz-se a opção do estudo exploratório, cujo o objetivo propõe explanações concorrentes para o mesmo conjunto de eventos e indicar como essas explanações podem ser aplicadas a outras situações (YIN, 2001). Ainda fizemos uso do levantamento bibliográfico e análise documental.

PALAVRAS-CHAVE: Fôlha de Caxias, Mídia e Poder, Ditadura

Militar-Civil-Empresarial.

1. Introdução

A história do jornalismo caxiense no que concerne o período da ditadura militar é um momento repleto de acontecimentos e fatos que marcaram a cidade. No país, a

1 Trabalho apresentado no IJ01- Jornalismo do XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, realizado de julho de 5 a 7 2018.

2 Mestra em Comunicação Pela UFPI-PI. Professora do Curso de Jornalismo da UNIFACEMA.E-mail: fontenellesarah@gmail.com.

3 Estudante do Curso de Bacharelado em Jornalismo na UNIFACEMA. E-mail: adnapriscila92@hotmail.com 4 Estudante do curso de Bacharelado em Jornalismo pela UNIFACEMA. E-mail: juniorbest007@hotmail.com

5 Estudante do Curso de Licenciatura em História na Universidade Federal do Piauí. E-mail: diegobarbosacs@gmail.com

6 Mestra em Comunicação pela UFPI_PI. Professora do curso de jornalismo da UNIFACEMA. E-mail: sousathamyres@yahoo.com

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ditadura foi um período marcado por grandes revoluções na política, pois foi uma época em que o país era governado por militares que tinha o objetivo de tomar o poder e liderar decisões politicas.

O golpe não foi articulado apenas por militares, o grupo que tomava poder possuía lideranças civis, como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros, entre outros, que tinham a perspectivas de chegar ao poder no futuro. (LAGO ;ROMANCINE, 2017, p.120).

Em 1964 militares contrários ao então governo de João Goulart (PTB) assumiram o poder por meio de um golpe que ficou conhecido como golpe militar. O governo passou a ser comandado pelas Forças Armadas, que duraram 21 anos até a implantação do regime ditatorial.

O período ditatorial restringia muitos direitos civis como o direito ao voto, a participação popular, e reprimiu com violência àqueles que eram opostos ao movimento. E tinha como características a supressão de direitos constitucionais, censuras, perseguições políticas e repressão aos que eram contra o regime militar.

Diante deste contexto e também dos atuais debates sobre apóio a um possível retorno da ditudura militar no país, faz-se necessário problematizar o tema, uma vez que o mesmo foi abordado sob o controle do poder de quem detém a fala ou mecanismos políticos. Este trabalho, portanto, tem o objetivo de analisar a presença do tema ditadura militar no jornal Fôlha de Caxias, Caxias-MA. Segundo o Catálogo Histórico da Imprensa Caxiense, escrito por Quincas Vilaneto (2008), o Jornal Folha de Caxias pertencia a um importante empresário local, Alderico Jeferson da Silva Lima, que exercia também a função de editor da folha, dentre outros editores. Destaca-se, assim o exercício de uma mídia local pertencente ao setor empresarial, que por sua vez enviava mensagens de apóio ao regime ou mesmo invisibilizava a discussão do tema na sociedade. Por isso, é necessário reconhecer o regime em questão não apenas destacando o seu caráter militar, mas também civil e empresarial.

Fundando em 1963, o jornal em questão foi considerado de cunho político e noticioso e exerceu uma importante influência na comunidade local. É importante destacar que Alderico Jeferson da Silva Lima, além de empresário exerceu diferentes funções no Governo Federal, entre os anos 1980 aos anos 2000, dentre elas, Alberico chegou a ser Ministro do Estado de Transportes, nos anos de 2002, sendo o segundo maranhense a exercer o cargo, depois de José Sarney (VILANETO, 2008). Nos instiga a

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pergunta “como foi a abordagem sobre os governos militares na cidade de Caxias?”, onde o imaginário da população acredita ou não ter havido ditadura ou que tenha sido um período de tranquilidade.

A análise foi feita entre os anos de 1969 a 1972, a partir do acervo da Academia Caxiense de Letras. Durante todo este período, apenas cinco matérias foram encontradas abordando diretamente a ditadura militar e todas de cunho comemorativo ao golpe. Dentre as matérias destaca-se o título “Viva a República!”, cujo o texto finaliza assim “E o Brasil, sem alarde, vive desde então uma era de paz, ordem, progresso e amor”, com uma fotografia do Presidente Médice ao lado. O tom das reportagens destoam das análises históricas, segundo Lago e Romancini (2007), com o golpe de 1964 as liberdades civis e o jornalismo foram duramente cerceados. Ainda segundo os autores, a grande imprensa, em geral apoiou o golpe junto, principalmente, à classe média.

Com a instituição do AI-5, no final de 1968, o ato de censurar é usado com o intuito de exercer uma forma de domínio pela coerção, limitação e eliminação do que é contra a ordem implantada. O AI-, é considerado ato que reforçou a restrição às liberdades individuais e a censura ao jornalismo. É forçoso reconhecermos o poder que a mídia tem em criar narrativas que reforçam compreensões coletivas, no caso da presença do tema ditadura militar no Jornal Fôlha de Caxias, podemos notar como o jornal contribuiu para o estabelecimento da “ordem” proposta pelos militares.

2. Jornalismo no contexto da Ditadura Militar

O advento do golpe militar de 1964 inaugurou um período de sérias restrições às liberdades de imprensa e de expressão, afetando as atividades jornalísticas e, consequentemente, o direito de a sociedade informar e ser informada com independência. Nos anos da ditadura (1964-1985), a censura imposta pelo regime impedia a publicação de reportagens, artigos, entrevistas, documentos e materiais artísticos que pudessem, no juízo das autoridades militares e policiais, afetar a “segurança nacional” e a “ordem pública”. Além disso, portarias e decretos governamentais proibiam o funcionamento de determinadas publicações opositoras, com a mesma alegação. Nesse contexto, jornalistas foram coibidos e, não raro, impedidos de cumprir plenamente sua função principal: a de informar os leitores com liberdade. Na maioria das vezes não havia, portanto, espaço para

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abordagens mais críticas sobre os assuntos tratados ou para se explorar as questões e os fatos em suas diversas faces.

Com a interrupção do processo democrático, o governo militar criou órgãos destinados ao controle de dados e informações, aí incluídos dossiês sobre opositores da ditadura. Entre esses órgãos, se encontrava o Serviço Nacional de Informações (SNI), fundado em junho de 1964 com o objetivo de supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil e no exterior. Além do SNI, entraram em funcionamento, nos anos posteriores, o Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), que se incumbia de prender, sequestrar e torturar pessoas que agissem contra o regime, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), o Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), o Centro de Informações do Exército (CIE), o Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) e as Segundas Seções das Forças Armadas (FICO, 2004).

Como justificativa à censura, os militares defendiam que “se a liberdade de imprensa era condição necessária para a democracia aperfeiçoada” seria fundamental uma imprensa “aperfeiçoada”, sob a tutela dos militares (ARAÚJO, 2005)

Na análise de Marialva Barbosa, “o argumento” usado pelo Governo para a instauração da censura coloca em evidência o papel que se atribui naquele momento aos meios de comunicação: além de informar, estes deveriam “orientar” a população, tutelados pelo Executivo” (BARBOSA, 2007, p.189).

Todo esse processo rodeado de atos institucionais, limitava ainda mais o direito à liberdade de expressão e democrático do povo brasileiro. Embora já houvesse algumas restrições à produção de conteúdos informativos e culturais, de modo geral, a intervenção do regime na imprensa ocorria em casos esparsos, por meio de bilhetes ou telefonemas aos proprietários dos jornais, em que as autoridades militares se queixavam de determinadas matérias. Apenas em 13 de dezembro de 1968, quando foi decretado o AI-5, jornalistas e donos de jornais começaram a sentir o impacto e a violência da censura (ROSSI, 2008, p. 6).

De acordo com o relato de Clóvis Rossi, a notícia do novo Ato Institucional abalou os repórteres do Estado de S. Paulo e fez com que ficasse claro, no momento em que foi decretado, que a ditadura estava efetivamente instaurada. Diz o jornalista:

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Até 1968 ainda dava [para divulgar certas informações]. É claro, com cuidado, com meias palavras, com entrelinhas – coisas que eu detesto fazer, mas era inevitável, indispensável. Até 1968 dá. Aí é que, em 1968, isso muda completamente. Eu me lembro bem que, na noite do AI-5, nós fechamos o jornal com a notícia do novo Ato Institucional e fomos reunir os repórteres e amigos, fomos para um boteco, (...) num ambiente de “o mundo acabou, não tem futuro, não tem horizonte, o que vai fazer, o que não vai fazer. ” Enfim, todas as vias de futuro tinham sido fechadas (ROSSI, 2008, p.7).

O AI-5 dava poderes ao presidente da república para fechar provisoriamente o congresso ou intervir nos estados e municípios. O executivo poderia ainda suspender o Habeas-Corpus. A censura aos meios de comunicação foi institucionalizada. Por outro lado, o regime militar procurou ao longo do tempo dar respaldo jurídico aos instrumentos de censura.

Com base nos depoimentos de vários jornalistas que na época atuavam nas redações, é possível notar que, por um lado, nos jornais em que havia a presença física de um censor da Polícia Federal dentro da redação, a elaboração de estratégias para fugir da censura se tornava uma tarefa mais difícil. Por outro, a convivência com os censores possibilitava, em alguns casos, uma margem de negociação, que não existia nos veículos em que a censura prévia era feita nas sedes de órgãos do governo. Alguns jornalistas relembram que, em determinadas situações, a proximidade física com os agentes ajudava os repórteres a perceber os critérios usados no corte de matérias e o modo de atuação dos censores.

Os censores viam todo o material que estava sendo preparado para a publicação no local em que ela era produzida (na redação ou oficina de impressão). E liberavam, vetavam ou liberavam com restrições (suprimiam palavras, frases ou parágrafos). Algumas vezes os cortes eram drásticos que praticamente inviabilizavam a publicação de certo número de um periódico.

De acordo com Augusto Nunes, que trabalhava em O Estado de S. Paulo, o clima na redação sob censura prévia era o pior possível, pois pesava a autocensura: “O problema da censura é que (...) você cansa de escrever sabendo que vão cortar. (...) Quando vem a terceira matéria com aquele lápis vermelho, fica difícil você escrever” (NUNES, 2008, p.9).

Dentre as restrições à liberdade de expressão impostas pelo regime, as atividades jornalísticas acabaram, muitas vezes, superando os limites da profissão e se projetando

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no plano da resistência ao autoritarismo. Jornalistas, em diversos casos, tentaram resistir à censura, seja pela exploração de brechas e contradições dentro dos próprios veículos em que trabalhavam, seja se reunindo em projetos alternativos que visavam divulgar, dentro do possível, as informações que as empresas jornalísticas omitiam (ou por autocensura ou por adesão à ditadura).

Essas resistências objetivavam divulgar aspectos da realidade social, política e econômica que estavam sendo ignorados ou mascarados pelas empresas de mídia. Para isso, os profissionais tentavam realizar conteúdos (entrevistas, artigos, charges, poemas, fotografias, etc.) que evidenciassem os conflitos e os problemas vividos pelas diferentes classes sociais em plena época do chamado “milagre econômico”. A propaganda do governo, que criava a imagem de um país cuja economia estava no auge do desenvolvimento, associada à censura às artes e à imprensa dificultaram a resistências de jornalistas.

Um dos recursos empregados em diversas publicações foi a introdução de informações fora de contexto. A estratégia visava protestar contra a falta de liberdade de imprensa e de expressão e, em alguns casos, revelar ao leitor, de forma discreta, que o veículo estava sob censura.

O processo de redemocratização iniciou em 1974 e levou 10 anos para se concluir. Em 1984, milhões de brasileiros foram as ruas e iniciaram o movimento Diretas Já, que pedia a eleição direta para presidente. O pedido não foi atendido. Tancredo Neves foi escolhido pelo colégio eleitoral como novo presidente. Morreu antes de tomar posse, fazendo presidente seu vice, José Sarney. Em 1988 uma nova constituição foi aprovada no país, trazendo, enfim, de volta a democracia.

3. A presença do tema Ditadura Militar no Jornal Fôlha de Caxias -MA

O Jornal Fôlha de Caxias foi fundado em 1963 e circulou até 1979, o último na qual se tem registros. O periódico circulava semanalmente, porém houve períodos em que o jornal foi produzido diariamente. O exemplar era um dos jornais mais influentes da época, o que justifica a nossa escolha por este meio de comunicação, uma vez que esta pode ser uma chave de entrada para compreender a percepção do regime militar na época. As matérias analisadas do jornal Fôlha de Caxias tinha cunho informativo, mas não atendiam a todos os públicos, isso porque ele era dirigido por empresários da cidade e

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direcionado a elite da sociedade. Os empresários tinham muito domínio sobre a imprensa caxiense e exerciam controle principalmente sobre o que seria divulgada na imprensa local. Durante o período de levantamento exploratório feito nesta pesquisa, 1969 a 1972, detectamos seis matérias relativas ao governo militar-civil-empresarial, cujo os títulos são os seguintes: Os 9 anos da revolução; O nono aniversário da revolução democrática de 1964; A volta de um líder; Guerrilheiros da Paz;Viva a República.

É possível perceber nas matérias do jornal Fôlha de Caxias a presença da adesão ideológica ao militarismo em Caxias, o que era maquiado como um regime que beneficiaria o povo com educação de qualidade, saúde e ferrovias. Na matéria do dia 31.03.1973 escrita pelo Cel. Vicente de Moura Rezende intitulada “O nono aniversário da revolução democrática de 64” é possível perceber uma certa admiração pela revolução de 64.

“ Durante estes últimos nove anos, o Brasil avançou meio século em termo de desenvolvimento. Para gáudio de todos nós, o milagre brasileiro já ultrapassou as fronteiras da América Latina e está sendo alvo de admiração das nações de outros continentes” (Jornal o Fôlha de Caxias, 1973, p. 5)

Na realidade constata-se também que a população caxiense não tinha acesso às informações do que significava o regime militar, principalmente em termos de perseguição política, tortura e os que lutavam pela democratização do país e igualdade social. Havia falta de conhecimento de pessoas antigas sobre o que foi a ditadura e as várias violências e torturas que marcaram a época. Segundo Lago e Romancini:

O regime militar, via crescimento econômico e colaborava imediatamente para o crescimento da imprensa, mas o ambiente repreensivo do regime militar tentava controlar a imprensa para legitimar-se. em função disso surge uma imprensa alternativa. (LAGO, ROMANCINI, p. 121, 2007).

Na época ditatorial em Caxias é possível constatar que o assunto e notícias sobre o regime, a opressão, violência e restrições que aconteceram no período em questão não eram divulgados e se eram davam a entender a população caxiense que acontecia em um lugar que não fosse o Brasil ou mesmo que não tocava a realidade local, ou ainda que se tratava de um momento de muita prosperidade política, cidadã e econômica no que tange ao fim da desigualdade social. Isto fica patente quando a matéria de comemoração aos

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nove anos da revolução aponta uma organização da sociedade civil, a União Artística de Caxias, como colaboradora na construção de um programa em comemoração a data, que por sua vez enaltecia Médici e outros presidentes passados. Na matéria ainda cita que diversas outras entidades colaboraram no programa “louvando a memória dos presidentes já desaparecidos e homenageando o presente chefe da nossa nação, o eminente general Emílio Garrastazzu Médici” (Fôlha de Caxias, 31 de março de 1973).

Com isso, percebemos que na matéria citada os redatores do periódico tem a preocupação em deixar claro o apoio de entidades sociais e de grupos privados à data do dia 31 de março de 1964 que segundo o jornal é marcada pela “Triunfante Revolução de 31 de março de 1964”. A prática de destacar o apoio de entidades sociais e grupos empresariais ao governo e ao seu aniversário de 9 anos teria como objetivo, a partir do sentimento de reconhecimento e pertencimento a tais órgãos públicos e empresariais, gerar a aceitação a nível individual e coletivo ao regime político em exercício.

Ainda sobre a reportagem do dia 31 de março de 1973, a mesma trata a revolução de 64 como algo a se comemorar e como as mudanças implantadas e aprovadas nesse período seriam benéficas a população. Com o título “os nove anos da revolução” a matéria traz informações de que Caxias comemorava grandes acontecimentos, diversas solenidades programadas e de que o então presidente Médici estava no coração de todos os “bons brasileiros”.

“ Caxias inteira, reconhecida, comemora nesta data a passagem do nono aniversário da Revolução Democrática de 64, quando as forças armadas, com om apoio de todos os bons brasileiros botaram por terra o regime de corrupção em que vivíamos implantados desde então em todo território nacional, uma nova era de ordem e progresso, paz e prosperidade, fazendo hoje valer o nosso País aos olhos do mundo inteiro. ” (Jornal Fôlha de Caxias, 1973, p.6).

O empresário Alderico Silva, dono do jornal Fôlha de Caxias tinha como aliado o então presidente Emílio Garrastazu Médici que em 1969 foi escolhido por uma junta militar para assumir a presidência do Brasil. As declarações do então empresário e ministro Alderico Silva são de um extremo apoio a tudo o que acontecia. É válido lembrar que o governo Médici foi um dos governos mais repressivos do período da ditadura. O apoio do Jornal Fôlha de Caxias ao governo pode ser visto na matéria intitulada “Viva a República! ”, onde a fotografia de Médici aparece para simbolizar a república defendida pelos empresários e militares (como demonstrado na figura 1)

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Desta forma, o jornal cumpria um papel de extrema importância para a propagação dos que se dizia ser os “grandes feitos” da “Revolução Democrática de 64” e por assim dizer para a manutenção do poder. Ao passo em que o jornal se esforçava para enaltecer tanto as figuras pessoais que representavam o regime da época quanto o próprio regime em si, estaria, portanto, criando uma representação imagética da ditadura militar com o objetivo claro de gerar o sentimento de aceitação por parte da população em geral. Neste sentido é possível destacar o papel que a imprensa exerceu em diversos momentos de ditadura, totalitarismo ou facismo, como apontam Rêgo e Leal, o jornalismo ocupa posição de poder na sociedade (RÊGO; LEAL, 2013).

Figura1: Presidente Médici

Fonte: Produção própria (2018).

Levando em consideração o perfil sócio-político do fundador e redator do Jornal Fôlha de Caxias, Alberico Jeferson da Silva Lima, que também atuava como um importante empresário local, pode-se afirmar que o tom enaltecedor em que eram tratadas as matérias referentes ao regime político vigente matinha a coerência com o seus ideais e objetivos. Segundo Lago e Romancini (2007), a Grande Imprensa, em geral, apoiou o golpe, junto, principalmente, à classe média.

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No que diz respeito à forma como o periódico Fôlha de Caxias aborda o Sistema e as figuras públicas que o representam, podemos afirmar que ele não se diferenciava de nenhuma outra forma representativa da comunicação de massas. É importante destacar também, que em um período como o da Ditadura Militar – carente de aceitação popular - que, pelos discursos em diferente s meios de comunicação, objetivavam a todo custo enobrecer a sua existência e sua vigência, não atuariam então de forma isolada.

Partindo desse argumento e do entendimento de que todo discurso jornalístico da grande imprensa atua em prol de grandes forças políticas ou empresariais, pode-se afirmar que o periódico em análise cumpria o seu papel de formulador de uma realidade que aparentemente era pautada pelo bem-estar social, fruto das ações do sistema vigente.

A partir das matérias analisadas percebemos que o a intenção do jornal em criar o sentimento de proximidade e familiaridade com o governo em atuação, também se expressava através de notícias que envolviam de forma positiva figuras políticas do Estado do Maranhão que eram apoiadoras e ligadas diretamente ao regime militar. Na tentativa de gerar ainda mais sentimento de aceitação da população, o governo, em seu discurso expressado e legitimado através das matérias jornalísticas, dedicava o bônus das “conquistas” alcançadas à obediência civil de cada cidadão.

Referências bibliográficas

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BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa – 19002000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

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LAGO, Cláudia e ROMANCINI, Richard. História do jornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2007.

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ROSSI, C. Depoimento [26 de setembro de 2008]. Rio de Janeiro: Centro de Cultura e Memória do Jornalismo. Entrevista concedida a Carla Siqueira e Caio Barretto.

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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad: Daniel Grassi – 2ed. - Porto Alegre: Bookman, 2001.

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