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ENSAIO SOBRE O PENSAMENTO PÓS-MODERNO

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Academic year: 2021

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ENSAIO SOBRE O PENSAMENTO PÓS-MODERNO

Anderson dos Reis Conceição1

RESUMO

Nosso proposito é discutir, sumariamente, o pensamento pós-moderno e compreender sua relação teórica e política com as novas configurações da ordem capitalista. Para tal, realizamos o esforço de compreender os movimentos da razão moderna e sua decadência a partir da consolidação do projeto político e sociocultural burguês. Analisamos a recusa de compreensão da totalidade pelo pensamento pós-moderno, nesse sentido,sinalizar sua oposição às categorias centrais do método crítico e da razão moderna, e o abandono radical de suas categorias de análise da realidade concreta.

Palavras-Chave: Modernidade, Razão, Pensamento

Pós-moderno, Capital.

ABSTRACT

Our purpose is to discuss, briefly, the post-modern thinking and understand its theoretical and political relationship with the new settings of the capitalist order. To this end, we made the effort to understand the movements of modern reason and its decline from the consolidation of the bourgeois political and sociocultural project. We have analyzed the understanding of rejection of all the post- modern thought, in this sense, signal their opposition to the central categories of the critical method and modern reason and the radical abandonment of its categories of analysis of concrete reality.

Key words: Modernity, Reason, Thinking Postmodern, Capital.

1 Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA); e, Mestrando em Serviço Social do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da UFPA. Email:

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho se propõe, sem qualquer ideia de esgotamento, compreender a dinâmica do pensamento pós-moderno, e de que forma este está vinculado (ou não) aos processos recentes de transformação da ordem capitalista, no século XX e XXI. Antes, porém, necessariamente realiza o esforço de entender a razão moderna desenvolvida no cerne da consolidação do projeto social burguês, tida naquele momento histórico como a possibilidade e capacidade revolucionária do homem de mudar a realidade social.

Veremos como iluminismo conduz o pensamento ao ideal de modernidade, no qual a razão e a ciência se opõem ao “conhecimento” teológico, e, nos moldes do projeto da burguesia revolucionária,o homem livre é capaz de pensar e transformar a realidade social, a construção de uma dialética racional de um ser socialcomplexo.

As importantes construções teórico-filosóficas da razão moderna, assim como foram indiscutivelmente uteisà consolidação da ordem burguesa, também se mostraram capazes de conduzir o homem (o trabalhador) à apreensão das relações sócio-históricas e político-econômicas que consolidam a ordem capitalista;portanto, constituíram tendências de superação da própria ordem capitalista. A partir daí, com os novos processos sociais (em especial a divisão social do trabalho) o que há é uma ruptura ideológica (decadência) da razão, o abandono da capacidade do pensamento. Que Marx, a partir da formulação do método crítico/dialético, retomará de modo a criar uma articulação do pensamento para compreender a ordem do capital e suas contradições, em especial as contradições de classe.

Nosso estudo fundamenta-se a partir de pesquisa e análise bibliográfica acerca do tema, que de antemão indicamos possuir caráter

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divergente de análise em sua maioria, entre outras coisas, ocorre certamente em decorrência da polivalência do próprio pensamento pós-moderno. Contudo,há certas similitudes indiscutíveis nas abordagens feitas desse pensamento.

As transformações no bojo da ordem capitalista, a partir do século XX, a mundialização do capital, as flexibilizações e fragmentações do processo produtivo, demarcam uma suposta crise da razão e das teorias macrossociais. Essa afirmação é categoricamente propagada na crítica realizada pelo pensamento pós-moderno. Eles, os pós-modernos, voltam-se radicalmente contra categorias centrais do método dialético e da razão crítica. Demarca-se, em especial, a recusa da totalidade e o caráter fragmentário e efêmero do pensamento, que inevitavelmente demonstra-se semelhante às características próprias do momento histórico atual da organização produtiva do capital. Portanto, realizamos o esforço de compreender o caráter da análise e as categorias do pensamento pós-moderno.

2. MODERNIDADE, RAZÃO E DECADÊNCIA.

As construções e elucubrações do pensamento humano nunca estiveram desvinculadas da realidade, nem mesmo quando se constituía dos “fundamentos” teológicos que forjavam verdades “inalcançáveis” pelo pensamento do homem, e que a tudo explicava, pois do(pelo) “conhecimento” teológico se construía e/ou por ele era limitado.

O iluminismo trouxe à sociedadedo século XVIII a modernidade, fundada na capacidade da razão (pensamento), e na ciência. O projeto progressista da modernidade revelou a capacidade do homem livre, a razão como ato ontológico desse homem; e o desenvolvimento do pensamento com

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dimensão emancipatória. Neste sentido, foi que a modernidade iluminista esteve entrelaçada com o projeto revolucionário da burguesia. O pensamento progressista, iluminado pela razão moderna, opunha-se aoconhecimento “social” teológico, à organização feudal e àmonárquica.A capacidade da ciência é resultado da razão do homem livre eautônomo. Como afirma Coutinho (2010, p. 22),

Na época em que a burguesia era o porta-voz do progresso social, seus representantes ideológicos podiam considerar a realidade como um todo racional, cujo conhecimento e consequente domínio eram uma possibilidade aberta à razão humana.

Para o autor(idem),nesse determinado período histórico, tanto no campo econômico-social quanto no cultural, o capitalismorepresentava uma revolução na história da humanidade.Esse aspecto revolucionário esteve constituído por um caráter racional dos processos histórico-sociais, ainda que a compreensão do real estivesse como uma totalidade submetida à leis,e revelasse ainda um caráter idealista dessa racionalidade, mas já reconhecendo a historicidade dos processos objetivos.Ainda Coutinho (2010, p. 12), afirma que entre os que pensavam e formulavam teoricamente aquele momento era possível observar “[...] o nascimento de uma nova dialética racional, que apresentava – sobre a dialética primitiva dos gregos – o inegável mérito de se constituir sobre o reflexo de um ser social bem mais complexo e articulado”.O pensamento da filosofia burguesa, nesse momento histórico, passa a reconhecer a ação humana na formação das condições objetivas da sociedade. São de Hegel as formulações essenciais da tradição progressista da razão moderna, capaz de compreender os movimentos do real. É inclusive a partir do pensamento hegeliano que Marx retomará e avançará em suas construções sobre a razão progressista, inclusive o resgate do ser social e sua

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ontologia. Coutinho (2010, p. 14 grifos do autor), ao falar dos méritos de Hegel resume-os em três:

O humanismo, a teoria de que o homem é um produto de

sua própria atividade, de sua história coletiva; o

historicismo concreto, ou seja, a afirmação do caráter

ontologicamente histórico da realidade, com a consequente defesa do progresso e do melhoramento da espécie humana; e, finalmente a Razão dialética, em seu duplo aspecto, isto é, o de uma racionalidade objetiva imanente ao desenvolvimento da realidade (que se apresenta sob a forma da unidade dos contrários), e aquele das categorias capazes de apreender subjetivamente essa racionalidade objetiva, categorias que englobam, superando, as prove do “saber imediato” (intuição) e do “entendimento” (intelecto analítico).

Não é certamente nosso objetivo, nesse ensaio, o esforço de construir com maiores desdobramentos análise acerca das ambiguidades de algumas categoriashegelianas, como, por exemplo, a ambivalência de sua concepção ontológica, “[...] uma corretamente encaminhada a apreender a objetividade processual do ser (a ‘verdadeira’ ontologia) e outra, centrada na unidade identitária entre racionalidade objetiva e racionalidade subjetiva (a ‘falsa’ ontologia) [...] (LUKÁCS, 1976 apud NETTO, 2004, p. 30). Nosso empenho nesse momento é, mesmo que sumariamente, apresentar as importantes construções do pensamento moderno progressista; e, inclusive, assinalar como o programa sociocultural e ideológico da modernidade permitiu a consolidação da ordem social burguesa. A filosofia burguesa progressista, nesse momento histórico, reconhece a ação humana na formação da objetividade social. E constitui o confronto entre a não razão do absolutismo feudal e o reino da razão imbuído no projeto capitalista democrático (COUTINHO, 2010).

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Com o projeto da modernidade o processo de consolidação da ordem burguesa construiu elaborações teórico-filosóficas que desenvolveram a racionalidade, inclusive com direções à apreensão das relações sócio-históricas e político-econômicas.Tendencialmente, essa apreensão se mostrará mais tarde como possibilidade de superação da própria ordem capitalista. Ao falar sobre este aspecto Neto (1994, p. 32), afirma que “[...] é a esta tendência que, em termos histórico-culturais, deve-se creditar a hipertrofia prática do comportamento instrumental e a redução teórica da razão à racionalidade analítica”.

Há, portanto, a partir da consolidação do projeto social,político e econômico da burguesia, uma decadência ideológica do pensamento, da razão burguesa. Pois ao passo que reconhece a potencialidade da razão do homem no sentido de apreender os processos que constituem a realidade objetiva, tende a “[...] deformar ideologicamente varias categorias desse processo” (COUTINHO, 2010, p. 16). Está claro que os processos objetivos da realidade social da ordem desenvolvida pela burguesia são fundados na exploração e divisão do trabalho, e emanam contradições na vida social. Era, e ainda é, real a possibilidade de que o avanço da razão e do pensamento pelos trabalhadores os conduziria ao processo de apreensão que ultrapassaria os processos que sustentam a ordem burguesa, uma vez apreendida em seu caráter transitório e histórico. Pois, como afirma Neto (1994, p. 32),

[...] efetivamente, se o desenvolvimento da razão moderna é congruente com a (e mesmo indispensável à) lógica da ordem burguesa enquanto promove a produção de um modo desantropomorfizador de pensar a natureza, é com ela colidente no que tange às implicações de duas, pelo menos, das suas categorias nucleares: o historicismo concreto e a dialética. Ambas, no limite, conduzem à apreensão do caráter historicamente transitório da ordem burguesa; dessa apreensão podem resultar

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comportamentos sociopolíticos que põem em risco essa ordem. [...]A ordem burguesa, propiciadora da razão moderna, a partir de um dado patamar de desenvolvimento termina por incompatibilizar-se com a sua integralidade: por sua lógica imanente, deve prosseguir estimulando o envolver da razão analítica (a intelecção), mas deve, igualmente, obstaculizar os desdobramentos da sua superação crítica (a dialética). Os processos sociais da ordem capitalista, a divisão do trabalho, e uma nova objetividade social permitiria apreender a totalidade da vida social, por meio de novas categorias cada vez mais racionais, e que apontavam os aspectos contraditórios próprios da nova ordem, a burguesa. A possibilidade de que o homem (ser social) dotado de razão apreenda os processos dessa ordem, e os “limites objetivos impostos pela vida imediata” (COUTINHO, 2010, p. 18) impõem e determinam barreiras à razão moderna, uma decadência. A decadência é constituída pelo fragmento do pensamento, que “retira” do homem, do ser social, a compreensão da totalidade da realidade, o que impede conhecer a essência da vida social, das contradições sociais e de classe.

Marx fez a crítica, não só buscando analisar o abandono ideológico da razão moderna, mas o fez de modo a resgatar o ser social a constituição teórica da ontologia desse ser social (o trabalho), além do caráter histórico da totalidade concreta da vida social. A crítica da teoria desenvolvida por Marx superará, inclusive, o idealismo da dialética hegeliana. A realidade é levada ao pensamento para apreender suas determinações e não o inverso. A razão crítica do ser social,em Marx, é revolucionária, capaz de pensar as objetividades da realidade da vida social em sua totalidade histórico-concreta.

Na teoria social crítica elaborada por Marx, a realidade histórica é um complexo de complexos, um complexo de múltiplas determinações. Nesse sentido, a teoria crítica tratará de apreender o ser social, sua produção e reprodução, dentro da totalidade sócio-historica da sociedade capitalista

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(NETO, 1994). Buscar entender o porquê das contradições de classe, e os complexos que determinam tal realidade social, de modo a serem superados pelo ser social.

3. PENSAMENTO PÓS-MODERNO E A RENÚNCIA DA TOTALIDADE.

O pensamento pós-moderno, que se afirma como contrário, negação, em relação às ideias e categorias da modernidade, de certo, assim como a modernidade burguesa, constitui-se a partir de um momento histórico da sociedade capitalista. Sabe-se, ainda, que a negação pós-moderna é intensamente mais radical à teoria social crítica formulada por Marx, que ultrapassou os equívocos e incongruências de algumas categorias teóricas do pensamento moderno. A derrubada do Muro de Berlim teria representado o fim do chamado Socialismo Real, para as criticas pós-modernas, e demarcandoum suposto fim do socialismo e o sinal de fracasso da teoria social crítica e ideais progressistas. “Essa crise que se dá no plano do pensamento e se expressa com o avanço da chamada perspectiva pós-moderna cumpre uma função legitimadora do capitalismo em sua nova fase financeirizada e mundializada” (EVANGELISTA, 2007 apud DARDENGO, 2012 p. 281).

A essênciadinâmica do capitalismo faz com que seja igualmente dinâmica a aparência ea essência da realidade social. O século XX é marcado pela transitoriedade e multiplicidade de aspectos na estrutura da produção e reprodução da vida social, dotada de fragmentações, dadas as novas configurações materiais da vida social resultantes da mundialização do capital

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e o advento do neoliberalismo. E não por acaso, a pós-modernidade é uma linha de pensamento que acompanha esse novo movimento do modo de produção capitalista, a acumulação flexível, que se constitui, entre outros aspectos, pela fragmentação do próprio processo produtivo. Como vemos na passagem do texto de Eagleton (1998, p.07), quando este trata da determinação histórica concreta do pós-modernismo:

[...] ela emerge da mudança histórica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo – para o mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços, finanças e informações triunfam sobre a produção tradicional, e a política clássica de classes cede terreno a uma série difusa de “políticas de identidade”. A reflexão que fazemos está vinculada à compreensão do pensamento pós-modernoembutido econstituído nessas condições específicas do momento de acumulação e reprodução da ordem econômico-social do capital, marcado pela efemeridade eflexibilidade;e, certamente,acaba por ser um reflexo categórico dessas transformações. E como tal, recusa radicalmente teorias e pensamentos totalizantes darealidade social, rechaçando a capacidade de categorias como a universalidade, singularidade e particularidade, próprias da teoria crítica marxiana. De acordo com, Evangelista (2007 apud DARDENGO, 2012, p 282), “[...] a falta de sentido existencial levam os defensores da perspectiva pós-moderna a criticar todas as metanarrativas provenientes da ‘era das luzes’”.

A individualidade e a subjetividade são elementos fundamentais na articulação desse pensamento. As respostas e “saídas” das contradições,que superficialmente reconhece, é pelas diferenças, seja individual ou coletiva (grupos). A categoria classe não entra em cena, e a leitura da realidade é feita através dos indivíduos e não da sociedade; a ideia é de que somos individuais,

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particulares.Não há aos pós-modernos possibilidade de análise da realidade que considere elementos universais. Neste sentido, “[...] pautam-se pela monocausalidade segregando os nexos pluricausais para explicar a dinâmica social, servindo-se de uma ampla argumentação contra a compreensão da totalidade da vida social” (EVANGELISTA, 2007 apud DARDENGO, 2012, p. 283).

Sobre a recusa da totalidade, Eagleton (1998 p. 20), faz uma importante reflexão:

Talvez a antitotalidade refira-se aqui mais a uma questão estratégica que teórica: pode muito bem haver algum tipo de sistema total, mas, uma vez que nossas ações políticas não conseguem combatê-lo como um todo, o melhor conselho seria então que dançássemos conforme a música e partíssemos para projetos mais modestos porém mais viáveis. [...] Não buscar a totalidade representa apenas um código para não se considerar o capitalismo.

Ao negar a totalidade da vida social, rechaçam, da teoria crítica de Marx, uma categoria central, “[...] seu caráter unitário e totalizante/totalizador, embasado numa ontologia do ser social – a partir da crítica da economia política – historicamente constituída no mundo do capital” (NETO, 2004 p. 239). Neste sentido, o que se tem é um estudo que não considera as determinações do real, pois a realidade, nesse pensamento, é constituída de fragmentos aleatórios que jamais serão unificados, é caótica.

O caráter fragmentador e efêmero do pensamento pós-moderno faz uma ideia de históriaentendida como aleatória e descontínua,além de empregar “novas” formas de compreensão da realidade social direcionadas pela ideia de espaço/tempo, dada a organização atual do capitalismo. Nas palavras de Terry Eagleton (1998, p. 55),

A história do pós-modernismo, ao contrário, tende a ser vividamais unidimensional, eliminando esse conceito

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estratificado do tempo em benefício do curto prazo, do contexto contemporâneo, da conjuntura imediata. [...] O marxismo é bem mais pluralista nesse assunto, às vezes examinando uma conjuntura histórica específico.

Muito ainda há de dúbio entre as formulações do pensamento pós-moderno, que reclama da razão moderna um suposto veto às subjetividades (sentimentos e sensações), esfera central na análise que faz da realidade social, e que se afirmará na organização e posicionamento político.De certo é que essas formulações, da cultura pós-moderna, revelam-se ao mesmo tempo radical e conformista. Como afirma Eagleton (1998, p. 23),

A política do pós-modernismo, portanto, significou ao mesmo tempo enriquecimento e evasão.Se eles lançaram questões políticas novas e vitais, isto se dá, em parte, porque bateram em retirada diante de impasses políticos mais antigos — não por eles terem desaparecido ou se solucionado, mas porque por ora se mostravam intratáveis.

Constitui, sobretudo a partir dos anos 60 do século XX,novas lutaspolíticas, separadas, deslocadas da luta de classes, relegando para segundo plano os aspectos de totalidade, alémde não revolucionárias. No cerne as lutas de gênero e étnicas/raciais, posteriormente outras foram colocadas em cena, que apesar de constituírem em lutas importantes que temos a travar na realidade social, quando fragmentadas e descoladas da totalidade da vida social objetivanem de longe arranham a ordem capitalista. A possibilidade máxima a alcançar, no âmbito da ordem burguesa, e sob seus parâmetros, é uma falsa emancipação política.

O subjetivismo pós-moderno quebra radicalmente a possibilidade de organização política crítica,e impede a compreensão da totalidade da vida social. Obscurece a práxis ontológica do ser social, e veda a racionalidade crítica do homem capaz de reconstituir o real, no pensamento, e revelar a

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essência e com ela compreender as múltiplas determinações da realidade social objetiva.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando o pensamento pós-moderno nega a razão moderna, em especial, negaa teoria crítica e do método dialético elabora por Marx e sua validade no processo de compreensão da realidade social, que continua a ser de ordem capitalista, constrói barreiras no campo do pensamento que limitam ao trabalhador o conhecimento da totalidade, de apreender os complexos objetivos da realidade. O conhecimento da totalidade revela a essência das contradições sociais, das contradições de classe. No entanto, “[...] Captar a forma de uma totalidade exige um raciocínio rigoroso e cansativo, o que vem a ser uma das razões de por que aqueles que não têm necessidade de fazê-lo venham a se maravilhar com a ambiguidade e a indeterminação” (EAGLETON, 1998, p. 21).

Intencional ou não, dada a ambivalência política dentro do próprio pensamento pós-moderno em relação à ordem do capital, as elaborações desse pensamento e sua unânime oposição e negação da dialética, e do caráter materialista e histórico da realidade social, atuam a legitimar os processos de (re)produção da ordem do capital.Os complexos e as determinações da realidade objetividade, material, da vida social são obscurecidos com a superposição dada às subjetividades, às fragmentações e ao efêmero. O que vimos foi exatamente como afirmou Coutinho (2010, p. 26), ao falar dessa quebra da razão, que “por limitar-se à apreensão imediata da realidade, ao invés de elaborar as categorias a partir de sua essência

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econômica, que o pensamento da decadência serve ideologicamente aos interesses da burguesia”.

A continuidade da compreensão e explicaçãoda sociedade contemporânea pelas categorias de Marx, do método crítico, é válida porque o modo de produção ainda é capitalista, e continua a reproduzir muitos processos do século XIX. Faz-se necessário o estudo da história concreta, que é carregada de contradições e determinações, estuda-la é compreender a totalidade. Por outro lado, não entender os processos como um todo, na totalidade, é não tercondições de construir contratedências.

Ao contrário do que afirmam os pós-modernos, de que a teoria crítica não foi capaz de responder aos processos nascentes das transformações da ordem capitalista do final do século XX, e agora no XXI, tais transformações só nos levam reafirmar que somente o método crítico tem sido capaz de compreender a complexidade do capitalismo contemporâneo. Por isso, afirmamos categoricamente, que compreender essa realidade só é possível pela utilização do método critico/dialético, do resgate da razão. De forma a ultrapassar os sistemas abstratos e a aparência; destruir a pseudo-concreticidade e desvendar o mundo real, descobrindo a essência pelo movimento da dialética.

Por fim, não há como negar que as lutas políticas dos novos movimentos sociais pela materialização de direitos sociais através das políticas sociais são importantes, e podem exercer alguma tensão na ordem do capital. Contudo, igualmente não se pode perder de vista a compreensão de que esse movimento não supera as desigualdades sociais próprias do mundo capitalista, e tão pouco é capaz de socializar os meios de produção e a riqueza socialmente produzida. Resta o desafio de pensar e estabelecer lutas que não recusem a totalidade da vida social, capaz de articular as lutas por direitos sociais com lutas anticapitalistas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, C. N. O Estruturalismo e a miséria da razão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

DARDENGO, A. M. Resenha do Livro Teorias social pós-moderna:

introdução crítica.Revista Argumento, Vitória (ES), v. 4, n.2, p. 279-284,

jul./dez. 2012.Disponível em:

https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4835001.pdf. Acesso em: 08 de Jan. de 2017.

EAGLETON, T. As ilusões do pós-modernismo. Tradução, Elizabeth Barbosa. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. (Prefácio; cap. 1; cap. 3) (p. 7-28; 51-71).

HARVEY, D. Condição pós-moderna. 10ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 45-67.

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Marxismo impenitente: contribuição à história das ideias marxistas. São

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