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AS EMOÇÕES RELACIONADAS AO VINCULO E AO ABANDONO COMO VIÉS NO COMPORTAMENTO ECONÔMICO

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AS EMOÇÕES RELACIONADAS AO VINCULO E AO ABANDONO COMO VIÉS NO COMPORTAMENTO ECONÔMICO

Jessyca Cordeiro Morier*

Introdução

Embora reconheça que os seres humanos são seres dotados de moralidade, o

mainstream econômico não atribui significância a essa esfera do comportamento humano

quando se trata da ação humana na Economia.

Segundo Amartya Sen (1999) a Economia possui duas origens, uma ligada à ética e outra ligada à engenharia. Na primeira das duas origens Sen relaciona a motivação humana a questão ética “Como devemos viver?” enquanto que a abordagem da engenharia se ocupa de questões logísticas, onde os motivos humanos são simples e de fácil caracterização.

Com a evolução da economia moderna foi dada uma maior importância para a abordagem da engenharia:

Pode-se dizer que a importância da abordagem ética diminuiu substancialmente com a evolução da economia moderna. A metodologia da chamada “economia positiva” não apenas se esquivou da análise econômica normativa como também teve o efeito de deixar de lado uma variedade de considerações éticas complexas que afetam o comportamento humano real e que, do ponto de vista dos economistas que estudam esse comportamento, são primordialmente fatos e não juízos normativos. Examinando as proporções das ênfases nas publicações da economia moderna, é difícil não notar a aversão às análises normativas profundas e o descaso pela influência das considerações éticas sobre a caracterização do comportamento humano real. (SEN, 1999, p. 23)

Com isso, a economia mainstream supõe um comportamento racional por parte dos seres humanos que, ao se tratar de decisões econômicas envolvendo dois ou mais agentes, pode ser estudado através da teoria dos jogos. Esse comportamento racional é identificado com o comportamento real na economia, o que abriu espaço para diversas críticas, já que é evidente que muitas vezes ao tomar decisões os seres humanos não se utilizam de uma lógica racional e mesmo comentem erros. Essas críticas deram abertura para o surgimento de

* Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia – HCTE, bolsista CAPES.

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vertentes heterodoxas na ciência econômica nas quais se busca aumentar o poder explicativo e/ou preditivo da teoria econômica tradicional.

Com o mesmo intuito de aumentar o poder explicativo da teoria econômica e considerando que o altruísmo possa motivar o comportamento cooperativo1 quanto às decisões econômicas envolvendo o jogo estratégico mesmo em casos em que o jogo não é repetido e que não exista nada que assegure a não traição entre os jogadores, esse texto busca identificar na literatura a possibilidade das emoções relacionadas ao cuidado parental oferecerem uma explicação mais adequada que a explicação fornecida pelo ponto de vista da evolução sobre o fator motivador do altruísmo entre pessoas que possuem vínculos afetivos familiares dessa ordem.

O dilema do prisioneiro e o comportamento não cooperativo

A partir do principio de que o comportamento real dos seres humanos é o comportamento racional, a teoria econômica assume que seus agentes interagem de forma estratégica. Uma forma utilizada para estudar essas interações é a teoria dos jogos. A teoria dos jogos é um instrumento a partir do qual se estuda as decisões que envolvem a interação entre dois ou mais agentes.

O jogo é representado graficamente através da matriz de ganhos, que em Varian (2006) limita-se ao jogo que ocorre entre dois indivíduos com um número finito de estratégias.

No jogo, o equilíbrio de estratégia dominante será aquele no qual independente da escolha do outro jogador se obtém um maior ganho que nas restantes estratégias. Porém, em alguns jogos esse equilíbrio não ocorre. Nesse caso, podemos considerar como o par de escolhas que é racional para os dois jogadores aquele em que, dadas as expectativas de cada jogador a respeito das escolhas do outro, se obtém o melhor resultado para ambos os jogadores. Esse tipo de equilíbrio recebe o nome de equilíbrio de Nash2. Um caso particular em que envolve o equilíbrio de Nash é o dilema do prisioneiro. Esse jogo é descrito pela

1 Em um jogo envolvendo duas pessoas com interesses opostos ou que não coincidem completamente, pode-se dizer que há cooperação quando ambos discutem a situação e concordam em um plano de ação racional conjunto como um acordo a ser cumprido. (NASH, 1953)

2 Nas palavras de Varian (2006) é descrito da seguinte forma: “Diremos que um par de estratégias constitui um

equilíbrio de Nash se a escolha de A for ótima, dada a escolha de B, e a escolha B for ótima dada a escolha de

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situação em que dois indivíduos cúmplices de um crime foram interrogados em locais separados sem ter conhecimento da resposta do outro.

Haveria uma consequência para cada escolha de ação conjunta dos dois prisioneiros, representados na matriz de ganhos do jogo como jogador A e jogador B. As opções de ação dadas aos jogadores eram “(...) confessar o crime e envolver o outro, ou negar sua participação no crime.” (VARIAN, 2006, p. 548). No caso de apenas um dos jogadores confessar a participação no crime ele seria libertado e o outro seria condenado a seis meses na prisão, situação essa representada na matriz de ganhos por um decréscimo de seis unidades de utilidade para o jogador condenado e nenhum acréscimo ou decréscimo de utilidade para o outro jogador. Na situação em que ambos os jogadores confessam a autoria do crime, ambos são condenados a três meses de prisão e perdem três unidades de utilidade na matriz de ganhos. E se ambos negam a participação no crime, os dois passam um mês na prisão e perdem uma unidade de utilidade.

Tabela 1: Matriz de ganhos do dilema do prisioneiro Jogador B

Confessa Nega

Jogador A Confessa -3, -3 0, -6

Nega -6, 0 -1, -1

Nota. Fonte: Varian, H. R. Microeconomia: conceitos básicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 548

Nesse jogo o par de estratégias que constitui o equilíbrio de Nash é o par formado pela estratégia não cooperativa na qual, ambos os prisioneiros confessam a participação no crime. Isso porque, a partir da observação da tabela 1 se nota que caso o jogador A escolha a estratégia confessar ele pode obter como resultado -3 ou 0 e se ele escolher a estratégia negar obterá como resultado -6 ou -1, como -3 é um nível de utilidade melhor que -6 e 0 é melhor que -1, o jogador A sempre alcançará um melhor resultado ao seguir a estratégia confessar independente da estratégia seguida pelo jogador B. A mesma coisa acontece com o jogador B, ou seja, se o jogador B confessar seu resultado será -3 ou 0 e caso ele negue terá como resultado -6 ou -1. Então, da mesma forma que para o jogador A, -3 é um resultado melhor que -6 e 0 é melhor que -1 o que conduzirá o jogador B a também seguir a estratégia de não cooperação entre eles, ou seja, confessar.

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Porém, se ambos os jogadores tivessem certeza que o outro jogador iria seguir a estratégia de negar a participação no crime eles cooperariam entre si e escolheriam a estratégia negar a participação no crime que levaria a um resultado melhor para ambos. No entanto, se um deles resolvesse trair o outro para ganhar a liberdade, o prisioneiro que fosse traído teria um decréscimo de seis unidades de utilidade o que o deixaria em uma situação muito pior. Essa relação de incerteza relacionada à estratégia que será seguida pelo outro jogador conduz o jogo para um resultado não cooperativo que é um resultado ineficiente no sentido de Pareto3 e pior do que o resultado gerado pela estratégia em que há cooperação, ou seja, a estratégia (nega, nega).

Pode-se observar a partir da descrição acima que o jogo no dilema do prisioneiro, nesse caso em que o jogo não é repetido, leva a um resultado não cooperativo porque se supõe uma racionalidade dos jogadores para a condução das escolhas de suas estratégias de ação que consiste em obter o maior nível possível de utilidade de maneira autointeressada.

O altruísmo e a cooperação

Algumas situações incentivam os seres humanos a atuarem visando o próprio interesse, como o caso do dilema do prisioneiro, porém existem situações que mostram que nem sempre o autointeresse postulado pela teoria econômica reflete a real ação humana quanto as suas decisões econômicas como, por exemplo, doações para instituições de caridade ou até mesmo o dispêndio envolvido no cuidado parental.

O altruísmo4 é uma das formas através das quais se explica a motivação que conduz a comportamentos cooperativos nos casos em que o esperado é o autointeresse atuando como a racionalidade por trás da não cooperação quando não há uma instituição forte o suficiente para garantir a não traição por parte do outro jogador. A pergunta sobre quais condições levariam ao desenvolvimento de um comportamento cooperativo quando os indivíduos possuem incentivos para atuarem de forma autointeressada fez com que surgissem muitas respostas quanto à evolução do altruísmo entre os seres vivos.

3 Uma situação é dita eficiente no sentido de Pareto se, dada uma situação, não é possível melhorar a situação de um indivíduo sem que ocorra uma piora na situação do outro indivíduo.

4 Um ato a partir do qual um indivíduo sacrifica suas possibilidades de sobrevivência ou bem-estar em beneficio de outro indivíduo.

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Nesses casos, uma relação de parentesco próximo entre os jogadores é um fator motivador para o surgimento de um verdadeiro altruísmo que pode ser desenvolvido em situações nas quais estão presentes condições de custo, benefício e produção de ganhos líquidos para os indivíduos suficientemente relacionados. (AXELROD, 1984) Então, entre os que se propuseram a estudar a evolução desse tipo de comportamento foi possível concluir que as relações desenvolvidas entre animais parentais aumentaram a complexidade em torno da questão do autointeresse envolvendo as decisões econômicas.

Como para o darwinismo somente o indivíduo era considerado como passível de ser favorecido ou desfavorecido pela evolução o esperado era que todos se comportassem de forma egoísta impedindo que houvesse evolução de comportamentos altruístas. No entanto, começou-se a pensar na existência de outro nível que não o individual como passível de ser favorecido pela seleção natural: o nível de grupos.

A seleção natural operando nesse nível é vista em uma modificação instrumental da teoria dos jogos utilizada por J. Maynard Smith (1976) para explicar um comportamento social altruísta do ponto de vista da evolução das espécies. Nessa modificação a disputa do jogo ocorre para favorecer uma espécie como um todo e não para favorecer um único individuo. Ou seja, aqueles que defendem a ocorrência da seleção nesse nível o fazem pela ideia de que evolução de um comportamento altruísta nos animais ocorre porque o ato benevolente é encarado como um meio para favorecer o grupo e não apenas um único indivíduo.

A diferença entre esse instrumental da teoria dos jogos utilizado no ponto de vista da evolução segundo a seleção no nível de grupo e para o utilizado nas ciências econômicas é que, como já visto anteriormente, para a economia cada jogador escolhe sua melhor estratégia de acordo com sua racionalidade para minimizar perdas e maximizar ganhos. Por outro lado, do ponto de vista da evolução os jogadores seguem uma “estratégia evolutivamente estável” que é definida por uma estratégia que se for adotada pela maior parte de uma população não poderá ser considerada melhor que nenhuma outra estratégia. Ou seja, resumidamente os dois pontos de vista diferem quanto à estratégia utilizada pelos jogadores em cada ponto de vista.

Quando se trata da cooperação para o caso específico dos seres humanos, no entanto, considera-se que tal comportamento apenas é possível de ocorrer devido às tendências humanas ao altruísmo que evoluíram de um tempo em que esses viviam em grupos pequenos

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que, em sua maior parte, eram compostos por indivíduos que possuíam algum parentesco entre si. (TOMASELLO, P., TENNIE, WYMAN, & HERRMANN, 2012)

Nesse caso específico das relações de parentesco para a evolução, que recebeu o nome de seleção de parentesco, parte-se da premissa que parentes próximos compartilham uma grande quantidade de cópias dos mesmos genes e, para aumentar a frequência desses genes em comum nas próximas gerações os indivíduos ajudariam um parente próximo a se reproduzir. (LALAND & BROWN, 2002) Portanto, além da seleção ocorrendo no nível de grupos, outra explicação possível para o altruísmo está relacionada com o autointeresse. Só que nesse caso o autointeresse está relacionado ao objetivo de preservar indivíduos que compartilhem muitas cópias dos mesmos genes5 favorecendo a atuação da seleção natural sob as características compartilhadas pelos jogadores.

Para Axelrod (1984) é possível imaginar também que os benefícios associados ao comportamento cooperativo no jogo do tipo do dilema do prisioneiro sejam aproveitados por esses indivíduos que são suficientemente relacionados. Principalmente em casos que o tipo de relação presente entre eles é a relação alvo deste trabalho, ou seja, a relação entre pais e sua prole. Isso porque nesses casos o grau de parentesco é maior e, consequentemente, a quantidade de material genético compartilhado por esses indivíduos também é maior.

No entanto, ao buscar explicações para a evolução da cooperação no caso particular dos seres humanos Dawkins (2007) propõe outra teoria que diz respeito à seleção de grupo só que nesse caso a seleção opera através da cultura. Nessa proposta os grupos sociais que apresentem uma maior ocorrência de indivíduos altruístas superariam outros grupos devido à característica humana referente à imitação do comportamento de outros indivíduos. Assim, caso um grupo possua altruístas em algum momento os outros integrantes desse grupo passariam a se espelhar no comportamento desses indivíduos e conforme o grupo aumentasse em tamanho seriam criadas normas sociais a fim de promover esse tipo de comportamento.

[...] O homem pode muito bem ter passado boa parte dos últimos milhões de anos vivendo em pequenos grupos familiares. A seleção de parentesco e a seleção a favor do altruísmo recíproco podem ter atuado sobre os genes humanos para produzir muitos dos nossos atributos e tendências psicológicas básicas. Tais idéias são plausíveis até certo ponto, no entanto penso que elas não chegam a fazer frente ao enorme desafio de explicar a cultura e a sua evolução, bem como as acentuadas

5 Esse ponto de vista trás os genes como unidade de seleção. Ver em “DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das letras, 2007”.

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diferenças existentes entre as diversas culturas humanas ao redor do planeta [...] (DAWKINS, 2007, p. 328)

Essa promoção de comportamentos que ocorram com grande frequência em um grupo podem ter favorecido a formação de códigos de conduta que motivem o comportamento cooperativo entre parentes próximos, sobretudo quando se trata de relações parentais. Nesse sentido, é interessante observar a abordagem de Amartya Sen (1989) sobre o comportamento cooperativo mesmo em casos que ele não é nem encorajado nem garantido por nenhum tipo de contrato formal. Tal autor, ao comparar a teoria econômica mainstream com a vida real observou que em muitas situações o comportamento na vida real difere do comportamento puramente autointeressado como o que rege a racionalidade de decisão no dilema do prisioneiro parecendo estar mais relacionado à tentativa de atender a interesses mútuos. Com isso, ele concluiu que o comportamento cooperativo parece ser influenciado por códigos de conduta aliados aos benefícios conjuntos resultantes das ações dos indivíduos.

Para essas explicações provenientes da biologia evolutiva, o desenvolvimento de um comportamento cooperativo é explicado a partir de uma determinação de nível biológico que está relacionada ao autointeresse. Porém, na concepção de Lencastre, o comportamento motivador para cooperação humana, ou seja, o altruísmo não parece estar tão fortemente relacionado à lógica seletiva dos genes. “[...] De facto, tanto nos antropóides como no ser humano, a motivação prósocial parece depender mais dos circuitos neurofisiológicos e etológicos das emoções sociais, do que da lógica selectiva dos genes. [...]” (LENCASTRE, 2010, p. 117). Isso porque, segundo a autora, aparentemente a seleção não atua diretamente sobre os genes, mas sim no nível de fenótipos, que é o que determina as características externas, fisiológicas e aspectos comportamentais do indivíduo. Isso leva a indagação de que talvez o fator motivador para a cooperação entre pais e filhos esteja relacionado às emoções relacionadas ao vínculo e abandono.

Além disso, no ponto de vista do etólogo Waal (2007) como somente se obtém êxito na evolução de uma característica caso ela sobreviva por milhões de anos, é provável que a motivação para comportamentos que envolvam atos de bondade sejam originados no tempo presente.

Mas, apesar de ocasionalmente nós e outros animais sociais ajudarmos outros sem pensar em nós mesmos, eu ainda diria que essas tendências originam-se da reciprocidade e da assistência aos parentes. [...] Sociedades humanas primitivas

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podem ter sido ótimos viveiros para a “sobrevivência dos mais bondosos” que ajudavam a família e os potenciais retribuidores. Uma vez surgida essa sensibilidade, seu alcance expandiu-se. [...] (WAAL, 2007, p. 214)

Assim, é interessante pensar na atuação de um altruísmo psicológico e não em um altruísmo determinado por uma perspectiva evolucionária como descrito anteriormente. Esse altruísmo psicológico consiste em explicar os motivos que levam a ações benevolentes. E embora esses motivos ainda não estejam bem definidos na literatura existe uma concordância entre autores de que eles são compostos por uma ampla categoria e parecem estar ligados, entre outras coisas, a um componente afetivo. (CLAVIEN, 2012) Portanto, se um componente afetivo, tais quais as emoções relacionadas ao vínculo e abandono geradas na relação entre pais e filhos, parece estar por trás de comportamentos benevolentes é provável que esse componente também esteja ligado à motivação para o comportamento cooperativo no jogo estratégico entre duas pessoas desse nível de parentesco.

Clavien (2012) também afirma que aparentemente a maior parte das ações dos seres humanos tem as emoções como fator motivador do altruísmo onde um possível gatilho para a execução dessas ações é a percepção das necessidades do outro que pode ser ocasionada, por exemplo, pela emoção alvo desse texto que a autora nomeia de emoções relacionadas ao cuidado que uma mãe sente por um filho. Além disso:

(...) a verdade do altruísmo, ou de qualquer comportamento equivalente, tem a ver com a relação entre aquilo em que internamente acreditamos, sentimos ou tencionamos fazer e aquilo que exteriormente declaramos acreditar, sentir ou querer. A verdade não se encontra nas causas fisiológicas que nos fazem acreditar, sentir ou querer de uma determinada forma. (...) (DAMÁSIO, 2012, p. 165)

Com isso, embora existam razões para acreditar que alguns comportamentos humanos sejam influenciados por determinações de nível biológico, a hipótese de que exista uma motivação emocional para um comportamento cooperativo nesses casos parece mais provável que a hipótese dessa motivação vir da lógica seletiva dos genes ou de grupos.

Conclusão

O objetivo desse texto foi levantar a possibilidade das emoções relacionadas ao vínculo e abandono serem um fator motivador mais provável para o altruísmo entre pais e filhos que conduz a cooperação em jogos estratégicos do que a explicação para o

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desenvolvimento de atos altruístas nesses casos ser a de que os atos benevolentes são apenas uma manifestação autointeressada com a finalidade de preservar indivíduos que compartilhem uma grande quantidade de material genético de forma que eles sejam beneficiados pela seleção natural.

Para tal, partiu-se do pressuposto de que as relações parentais entre humanos motivaram o surgimento de relações de altruísmo que tornariam provável o comportamento econômico cooperativo em jogos do tipo do dilema do prisioneiro para casos em que o jogo não é repetido e que não existem garantias contra a traição por parte dos jogadores. E, apresentou-se brevemente o instrumental da teoria dos jogos e o dilema do prisioneiro.

Como o objetivo do texto não foi esgotar as questões apresentadas no texto e sim atentar para possibilidades que expliquem de modo mais adequado a motivação por trás de um comportamento em particular que contradiz a ideia da economia neoclássica de que a tomada de decisão humana é racionalmente orientada pelo autointeresse, foram apresentadas teorias do ponto de vista da evolução que justificam os atos benevolentes entre os indivíduos como uma forma autointeressada encontrada pelos indivíduos de serem favorecidos pela seleção natural. Adicionalmente a isso foram apresentados alguns argumentos que corroboram com a ideia que a motivação para os atos benevolentes são originados no tempo presente, e com isso o mais provável é que o comportamento cooperativo em jogos estratégicos envolvendo pais e filhos seja motivado por um componente emocional do que seja determinado pela lógica seletiva da evolução.

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Referências

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CLAVIEN, C. Altruistic emotional motivation: An argument in favour of psychological altruism. In K. Plaisance, & T. Reydon (Eds.), Philosophy of behavioral biology. pp. 275 - 296, 2012.

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