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Aproximações da Temática Saúde na Bíblia Eu sou o Deus que te Restaura (Ex 15,25c)

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Academic year: 2020

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Resumo: este artigo reflete sobre aproximações ou possíveis leituras

do tema saúde nas sagradas escrituras judaico-cristãs. Em nossos dias nos é proposta uma definição de saúde pela Organização Mundial de Saúde que na prática poucos ou ninguém vive. Na Bíblia temos diversas compreensões para a realidade da doença e saúde: bênção ou maldição divinas, castigo por causa dos pecados, condição da natureza humana, etc. Jesus, na sua pratica terapêutica propõe a cura e a libertação com-pleta dos enfermos, a partir de uma compreensão simbólica-relacional de sua atividade. A literatura sagrada judaico-cristã contribui para que as pessoas cresçam na compreensão e na luta pelo direto a saúde.

Palavras-chave: saúde, direito, Jesus, doença-curao Silvio Rogério Zurawski, Ivoni Richter Reimer

APROXIMAÇÕES DA TEMÁTICA SAÚDE NA BÍBLIA “EU SOU O DEUS QUE TE RESTAURA” (EX 15,25C)

SAÚDE: UMA DEFINIÇÃO

A

Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a saúde como

“um estado de completo bem estar físico, mental e social, que não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade”. Esta abordagem alarga o conceito biológico da saúde, pois inclui as componentes psicológicas e sociais do ser humano. Todo o ato humano torna-se um ato da pessoa na sua globalidade, envolvendo as dimensões biológicas (corpo e órgãos), emocionais, intelectuais e a capacidade de se adaptar, de criar ou de inovar. Estas últimas funções estão ligadas à alma da pessoa (BARNÉOUD, 1999/2009).

A definição de saúde da OMS apresenta uma ambigüidade: qual é o significado da palavra “completo”? Em relação a quê ou a quem se define o estado de “completo bem-estar”?

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O Dr. Luis Salvador de Miranda Sá Junior (2004/2009), tece algumas reflexões acerca do conceito de bem-estar. Nos seres humanos o conceito de bem-estar implica na satisfação das necessidades biológicas, o bem-estar físico; das necessidades psicológicas, o bem-estar mental; e das necessidades sociais, o bem-estar social. E não apenas satisfeitas todas essas necessidades, mas perfeitamente (ou completamente) atendidas, como explicita a OMS. O que configura o caráter utópico desta caracterização de saúde.

Em termos de satisfação das necessidades ou com referência a sentir-se bem, para os seres humanos, desfrutar completo bem estar é, no mínimo, algo impossível mesmo de se cogitar como utopia distante, na qual as pessoas em geral (ou alguma pessoa em particular) possam ter satisfeitas todas as suas necessidades individuais e sociais, em todos os planos de sua existência, o biológico, o psicológico e o social.

O bem-estar na medicina hipocrática advém da plena saúde físi-ca. O corpo humano é considerado na medicina acadêmica como uma máquina e cada órgão como uma peça. O papel do médico é de atacar a doença, isto é, de consertar os defeitos de um mecanismo enguiçado. Ao concentrar-se em elementos cada vez menores e divididos do corpo, o médico perde de vista o doente com todo o processo de inter-relação sócio-cultural, psicossocial e espiritual que permeia qualquer doença. SAÚDE: UM DIREITO

Com a evolução considerável do conhecimento médico e a mudança da compreensão das nossas sociedades em relação à doença e ao sofrimento, a saúde tornou-se um direito reclamado por todos. Este direito à saúde comporta o direito de não ficar doente e o direito de ser curado em todas as circunstâncias. Hoje em dia, o sofrimento é rejeitado não importa o preço e a cura é procurada não importa o custo.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação (CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988, art. 196).

SAÚDE UMA APROXIMAÇÃO BÍBLICA

Na bíblia quem tem saúde ou está na ausência dela, é um ser huma-no integral, relacional: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração,

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com toda a alma e com todo o entendimento. Este é o primeiro e o mais importante dos mandamentos. O segundo é semelhante a este: Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-39), constituído de três dimensões que interagem entre si: Física ou biológica, psíquica e espiritual.

A saúde na bíblia envolve, portanto, o corpo, a alma, e o espírito (Gn 2,7): “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem tornou-se um ser vivo”. Ou como diz 1Ts 5,23: “O Deus da paz vos conceda santidade perfeita e que vosso ser inteiro, espírito, a alma, e o corpo”. Neste contexto, é importante contemplar também as palavras de Hb 4,12-13.

Para uma melhor compreensão do termo “saúde”, podemos recorrer à sua etimologia: o termo grego hyguiés/hyguiáino, indica uma pessoa sã, saudável. Este termo é utilizado na versão grega do Antigo Testamento, na versão da Septuaginta (RICHTER REIMER, 2008).

No Antigo Testamento, a saúde está em relação com o conceito

shalom, que significa paz, bem-estar amplo e integral. Esta palavra hebraica

engloba diferentes idéias: estar saudável, em segurança, tranqüilo, viver em harmonia com Deus, com os outros e com a criação.

No Novo Testamento, encontramos ainda a palavra sodzo, que significa, sobretudo, ser salvo dum perigo físico, do sofrimento (Mt 8, 25 - tempestade; Mc 13,20 - dias de tribulação) ou da doença (Lc 8,48 - Filha de Jairo; Tg 5,15 - oração salvará o doente). Ela engloba também a salvação espiritual eterna, concedida por Deus aos que crêem em Jesus Cristo (At 2,47; Rm. 8,24).

COMO A BÍBLIA EXPLICA A AUSÊNCIA DE SAÚDE?

Elencamos, aqui, algumas formas de conceber e perceber a doença em tradições bíblicas:

• A enfermidade viria do pecado ou queda desde as origens. Parte-se de uma leitura interpretativa da origem do pecado na natureza humana. Ele teria se originado no Éden, onde não havia o mal, no entanto, uma proposta da serpente fez com que Adão e Eva caíssem (Gn.3,5), dando aí início a uma série de doenças que surgiram oriundas do pecado dos primeiros pais.

• No Antigo Testamento, a doença não advém pela ação de espíritos ma-lignos, satã, demônios. Ela é vista ou explicada como castigo ou punição divina, por causa dos erros da humanidade ou pelo não cumprimento dos mandamentos divinos. Trata-se de uma noção de pecado/culpa/castigo

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que gerava o empobrecimento, reconhecido e atacado por Jesus no Novo Testamento. Algumas passagens permitem perceber esta noção: Lv 26,16 – “Porei sobre vós o terror, o definhamento e a febre, que consomem os olhos e esgotam a vida”; Ex 23, 25 – “Servireis a Adonai, vosso Deus, e então abençoarei o teu pão e a tua água e afastarei a doença do teu meio”; Ex 15,26 – “Se ouvires atento a voz de Adonai teu Deus e fizeres o que é reto diante dos teus olhos, se deres ouvido aos seus mandamentos, e guardares todas as suas leis, nenhuma enfermidade virá sobre ti,das que enviei sobre os egípcios. Pois, eu sou Adonai, aquele que te restaura”! • A enfermidade faz parte da natureza humana e caso forem curadas,

servem para glorificar Deus como doador e mantenedor (p.ex. João 9,3; Mc 5,25-34).

• Doenças percebidas como agressão direta do mal, possessões ou influên-cias do maligno, demônios, espíritos impuros. São muitas as narrativas que enfocam a doença nesta concepção e para a cura da pessoa é preciso expulsar o causador do mal (p.ex. Mc 1,21-28).

• Enfermidades psicossomáticas: Pessoas e corpos que enfrentam prob-lemas e angústias de diversas naturezas originando assim as enfermidades chamadas psicossomáticas, que são doenças com origem em problemas emocionais e que podem ou não atingir o físico. Em várias narrativas percebe-se o fenômeno da epilepsia (p.ex. Mc 9,14-29).

• Doença e saúde vistas numa perspectiva mais ampla ou num enfoque integral, que aborda as relações humanas, corpos de homens, mulheres e crianças em condições de pobreza e marginalização. A cura envolveria a dimensão pessoal, familiar, comunitária e societária (p. ex. Mc 7,24-30; 10,46-52).

PROCESSOS DE CURA

Esboçamos, aqui, três modelos de compreensão da doença e da cura na história das religiões:

• o modelo mágico-religioso, que considera a enfermidade como resultado da ação de Deus e de espíritos malignos. Neste modelo, o tratamento está a cargo de um sacerdote ou de um feiticeiro, curandeiro (xamã), taumaturgo, os quais, pela mobilização de espíritos benignos ou pela sua autoridade espiritual combatem a doença e os espíritos causadores da mesma.

• o modelo empírico, introduzido na história do Ocidente pela medicina grega ou hipocrática. Abordagens pela observação, análises e exames,

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experiência, isso conforme o desenvolvimento técnico-cientifico de cada período.

• Modelo simbólico/relacional que pode ser percebido em processos terapêu-ticos junto a Jesus reconstruindo identidades (RICHTER REIMER, 2008, p. 69), rompendo com as diversas dimensões doentes. Palavras, gestos e toques de Jesus ou dos seus, que desencadeiam processos de cura e libertação. Trata-se de relações entre pessoas que são sujeito no processo de reconstrução conjunta de caminhos de saúde.

PROCESSOS DE CURA: DUAS ABORDAGENS BÍBLICAS INDICATIVAS

Uma primeira indicação é considerar a maneira de a Bíblia abranger o campo da saúde e o saneamento a partir dos códigos dietéticos e higiênicos do Livro de Leviticos. Deve-se observar ali ideologias sacerdotais enxertadas no período pós-exilico, ressaltado o templo e casta sacerdotal. Esta pode ser uma abordagem interessante em tempo de luta contra a dengue, nos dias atuais.

Uma segunda indicação é olhar para o Jesus Cristo curador. Trata-se de fazer uma aproximação das curas junto a Jesus, percebendo os processos terapêuticos construídos em relação. Isto significa romper com a visão inti-mista, individualista das curas junta a Jesus e ligadas unicamente ao campo religioso. Com isto, pode-se promover a autonomia das pessoas curadas, as várias dimensões e relações saradas, familiar, comunitária, societária em seus aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.

Nestas duas indicações, o grande desafio é superar a visão de que Deus só se faz presente quando a cura é obtida. Essa visão não é nada libertadora para quem continua doente, está com doença incurável ou é portador de deficiência (RICHTER REIMER, 2008). Perceber a presença de Deus em situação de doença não é fácil nem automático; é preciso ter confiança incondicional em sua graça que permanece conosco de forma mais profunda exatamente nestas situações. Reconhecer isto também faz parte de um sagrado direito humano de viver em condições em que a saúde está longe dos parâmetros dos conceitos ideais da OMS...

Referências

BARNÉOUD, Josiane. Saúde a qualquer preço? [Artigo científico, 1999] Disponível em: < http://www. aceps.org/article/saude-pre%E7o.doc>. Acesso em: 10 out. 2009.

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MIRANDA SÁ Jr., Luis Salvador de. Desconstruindo a definição de saúde.

Jornal do Conselho Federal de Medicina (CFM), jul/ago/set de 2004. Disponível em: <http://www. unifesp.br/dis/pg/Def-Saude.pdf>. Acesso em: 18 out. 2009.

RICHTER REIMER, Ivoni. Milagre das mãos: curas e exorcimos de Jesus em seu Contexto histórico-cultural. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: Ed. da UCG, 2008.

Abstract: this article reflects on approaches or possible readings of the health

theme in the sacred Judeo-Christian Scriptures. In our days, the World Health Organization proposes a definition of health that few or no one lives in practice. In the Bible we have several insights into the reality of disease and health: divine blessing or curse, punishment for the sins, condition of human nature, etc.. In his therapy practice, Jesus offers healing and complete deliverance of the sick, from a symbolic-relational understanding of his activity. The Judeo-Christian sacred literature helps people to grow in the understanding and fighting for the right to health.

Key words: health, law, Bible, Jesus, disease-healing SILVIO ROGÉRIO ZURAWSKI

Mestrando em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Teólogo sacerdote. IVONE RICHTER REIMER

Professora orientadora de Sílvio R. Zurawski. Neste texto, contribuiu com a inclusão de algumas infor-mações acerca das concepções de doença e saúde na Bíblia, bem como nas normas técnicas da escrita

Referências

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