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A RELAÇÃO ENTRE A EXPRESSÃO AGÁPE TOÛ CHRISTOÛ E O VERBO SYNÉCHO: UMA ABORDAGEM COMUNICATIVA DE 2 CORÍNTIOS 5,14a

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Boris Agustín Nef Ulloa**, Adriana Barbosa Guimarães***

Resumo: este artigo verifica a relação entre a expressãoἀἀγάπη τοῦ Χριστοῦ verbo em 2Co 5,14a. Sublinham-se as perspectivas cristológica e pneumatológica. Abor-da-se, a partir do conflito de Paulo com a comunidade de Corinto, o sentido profundo da compreensão do amor de Cristo e as consequências dessa experi-ência na vida dos cristãos.

Palavras-chave: Paulo Apóstolo. Segunda Carta aos Coríntios. Amor de Cristo. Força

transformadora. Relação Comunicativa.

A

declaração paulina “O amor de Cristo nos compele” / ἡ γὰρ ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ συνέχει ἡμᾶς (2Co 5,14) tornou-se, na história da espiritualidade cristã, uma significativa fonte de inspiração para diversos grupos cristãos. Torna-se, portanto, importante aprofundar o sentido de sua força comunica-tivo-pragmática.

A referida declaração revela elementos valiosos para a compreensão da autoconsciência paulina sobre a autenticidade de seu ministério apostólico, o qual estava sendo contestado na comunidade de Corinto, razão que move o Apóstolo a defendê-lo com autoridade. Para isto, Paulo remete-se à sua relação fundante com o Cristo

A RELAÇÃO ENTRE A EXPRESSÃO

AGÁPE TOÜ CHRISTOÜ E O VERBO SYNÉCHO:

UMA ABORDAGEM COMUNICATIVA

DE 2 CORÍNTIOS 5,14*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 03.10.2018. Aprovado em: 12.10.2018.

** Doutor em Teologia Bíblica (Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma). Docente no PEPG em Teologia (PUC-SP). Líder do Grupo de Pesquisa Leitura Pragmático-linguística das Sagradas Escrituras (LEPRALISE) registrado no CNPq. E-mail: banefulloa@gmail.com *** Mestranda em Teologia (PUC-SP). Bacharel em Teologia (PUC-SP), em Educação e

Desenvolvimento (Universidad Anáhuac – México) e em Ciências Religiosas (Ateneu Pontifício Regina Apostolorum – Roma). É membro do Grupo de Pesquisa Leitura Pragmático-linguística das Sagradas Escrituras (LEPRALISE) registrado no CNPq. E-mail: adriguimaraes1998@gmail.com

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morto e ressuscitado, encontrando nesta experiência amorosa o paradigma a ser despertado no coração da comunidade rebelde. A genialidade do seu zelo apostóli-co emerge apostóli-com toda força na medida em que Paulo identifica o amor de Cristo, que se entrega generosamente, como o paradigma para os seus discípulos, chamados a participar de forma efetiva e ativa dos frutos de sua entrega por amor.

PAULO E A COMUNIDADE DE CORINTO

Para contextualizar 2Co 5,14a são elencadas algumas considerações gerais sobre a relação de Paulo com a comunidade de Corinto e seus escritos a ela dirigidos. Em seguida, são apresentadas as características de 2 Coríntios e do texto de 2Co 5,14a em relação ao conjunto da carta.

A afirmação presente em At 18,1 de que Paulo teria se dirigido de Atenas para Corinto, segundo Murphy-O’Connor (2015, p. 120-121), atenderia melhor às intenções de seu plano missionário. Atenas encontrava-se em um período de decadência, “não era mais produtiva e nem criativa”, contentava-se em conservar sua herança intelectual e não parecia disposta a arriscar-se com novidades. Corinto, no entanto, era uma cidade que se encontrava em um período de progresso, aberta às novidades, não tanto por uma motivação intelectual ou cultural, mas econômica e comercial. Sua localização a tornava um lugar estratégico, já que “Corinto oferecia a Paulo expansão e comunicação esplêndidas com todos os pontos cardeais” (MURPHY-O’CONNOR, 2015, p. 122). O tráfego intenso de pessoas que se dirigiam ou passavam por Corinto e sua importância, não somente como rota, mas também como grande centro comercial, proporcionavam a Paulo as vantagens de estabelecer o cristianismo em um centro de influências, de conhe-cer pessoas de diversas regiões e anunciar-lhes o evangelho, de forma que elas pudessem tornar-se evangelizadoras em seus lugares de origem ou destino. O texto lucano, em At 18,1-18, relata a fundação da Igreja em Corinto, que

provavel-mente aconteceu no início da primavera de 51 d.C., durante a segunda viagem missionária de Paulo (FITZMYER, 2011, p. 1486). Os escritos neotestamentá-rios não informam detalhes sobre a fundação da comunidade, apenas indicam que Paulo estava acompanhado por Silvano e Timóteo (2Co 1,19)1 e que foram

acolhidos por Priscila e Áquila (At 18,2).

A comunidade de Corinto era composta por pessoas de distintas classes sociais, ainda que a maioria fosse de pessoas simples e pobres, como pequenos artesãos, pe-quenos comerciantes e escravos domésticos e uma minoria de personalidades influentes na sociedade (1Co 1,26-29).

O grupo predominante na Igreja coríntia era formado de pagãos de diversos graus do meio da escala social. Só faltam o topo (grandes magnatas) e a

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parte inferior (escravos do campo) dessa escala. Os judeus eram minoria, mas pelo menos dois (Crispo e Sóstenes) se destacavam no grupo (MURPHY-O’CONNOR, 2015, p. 279).

Corinto era uma cidade nova e rica, com um grande pluralismo e sincretismo no tocante à religião e com má reputação moral. Em meio a tal diversidade, os membros da comunidade tinham o desafio de viver a unidade da fé em Cristo em face às suas diferenças significativas e, especialmente, em relação às suas expectativas. A dificuldade de o Apóstolo proporcionar um acompanhamento mais próximo, evidenciada pelas tentativas frustradas de visitar a cidade (2Co 1,15-17; 1,23– 2,4; VOUGA, 2012b, p. 262), favoreceu o desenvolvimento de visões e práticas diversas da vida cristã, cujos desdobramentos originaram problemas de índole doutrinal e de práxis moral. Além disso, o caráter competitivo do entorno social e cultural também estava presente na comunidade e destacava ainda mais seus traços de ativismo e ambição (VOUGA, 2012b, p. 279-280).

A relação de Paulo com a comunidade era afetivamente intensa e, por vezes, turbulenta e dramática. Das cartas que lhe dirigiu, apenas duas são conhecidas e estão entre os livros canônicos neotestamentários: 1 e 2Co, consideradas protopaulinas, isto é, autênticas cartas do Apóstolo. Seu conteúdo revela dois dados importantes, dentre outros: as dificuldades dos coríntios em compreender e viver os ensinamentos de Paulo e os aspectos de sua personalidade que não se manifestam com tanta veemência em outros escritos. A partir do final do século XVIII, surgiram controvérsias a respeito da unidade literária de 1 e 2Co. A maioria dos

exegetas defende a provável unidade de 1 Coríntios (1Co) e nega a de 2Co. Estas cartas também atestam que o Apóstolo teria escrito outras duas cartas a essa comunidade: uma carta pré-canônica e a chamada Carta Dolorosa ou Carta das Lágrimas. Murphy-O’Connor (2015, p. 259-263) defende que a correspondência epistolar de Paulo com a comunidade de Corinto teria sido composta de cinco cartas: a carta pré-canônica que se perdeu, a 1 Coríntios, a Carta Dolorosa, a 2 Coríntios 1–9 e a 2 Coríntios 10-13. Também descarta a possibilidade sustentada por alguns estudiosos de que a Carta das Lágrimas corresponda a 2Cor 10–13, já que o motivo desta teria sido a conduta de um só indivíduo (2Cor 2,5-8) que não é citado em 2Cor 10–13 (MURPHY-O’CONNOR, 2011, p. 488).

Em 1Coríntios, Paulo conduz a comunidade, com mais clareza e detalhe, a uma verdadei-ra compreensão da vida cristã em resposta a questionamentos formais (1Co 7,1) ou queixas de alguns (1Co 1,11). O Apóstolo orienta a comunidade segundo os critérios de Cristo em relação a problemas comunitários, morais, sociais, cultu-rais, doutrinais e religiosos. Embora a autoridade de Paulo se faça notar pela sua forma de responder aos questionamentos da comunidade ou ainda quando lhe dá instruções a respeito do culto por sua própria iniciativa, o Apóstolo encontra

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resistências de alguns no tocante a elementos doutrinais e morais. Alguns se negavam a acreditar na ressurreição dos mortos e interpretavam de forma inade-quada a liberdade cristã, considerando que tudo era permitido no campo moral ou no culto. Paulo também havia sido informado de divisões na comunidade, ocasionadas por uma forma incorreta de seus membros se relacionarem com os apóstolos que a evangelizaram. Fala-se dos que se dizem “de Paulo”, “de Apolo” e “de Cefas”. Paulo destaca que a relação entre os cristãos e Jesus é mediada pelo Espírito Santo (1Co 3,5-17) e não pelos apóstolos. Todos pertencem a Cristo, não a um apóstolo (1Co 3,18; VOUGA, 2012a, p. 249-250).

SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS: CARACTERÍSTICAS GERAIS

As relações de Paulo com a comunidade de Corinto estavam abaladas pelas divisões e mal-entendidos e pela influência dos “superapóstolos” que produziu um grande impacto (2Co 11,4-6) e alguns se deixaram persuadir. Dessa forma, a credibilidade do apóstolo Paulo ante a comunidade ficou fragilizada e alguns problemas mencionados em 1Co se agravaram.

Note-se que, ao longo do século XX, poucos exegetas defenderam a unidade literá-ria da carta, entre os quais se destacam: Allo (1956), Bates (1965), Hyldahl (1973). O consenso exegético, cujos principais expoentes foram Windisch (1924), Bultmann (1951) e Bornkamm (1961), sublinhou que 2Co deve ser considerada como uma coleção de cartas. Tais hipóteses se apoiam principal-mente nas rupturas e descontinuidades temáticas e de estilo entre os capítulos 1-9 e 10-13. Murphy-O’Connor (2011, p. 487-488) divide o escrito em duas cartas: Carta A (1-9) e Carta B (10-13).

Dois grandes temas têm destaque em 2Co: a defesa do apostolado paulino e a coleta em-preendida pelo Apóstolo nas comunidades gentílico-cristãs recém-fundadas, em favor da Igreja de Jerusalém. É provável que tenha sido escrita em sua estadia em Éfeso ou Macedônia. Vouga (2012b, p. 270) considera que foi escrita entre os anos 53 e 57, quando o Apóstolo pretendia retornar a Corinto, sendo que sua carta precedeu a sua visita. Murphy-O’Connor (2011, p. 488) propõe que a redação da Carta A aconteceu na primavera de 55 d.C. e da Carta B no verão do mesmo ano. Segundo Vouga (2012b, p. 270-272), Paulo tem a intencionalidade teológica de transmitir

sua compreensão do apostolado cristão e aprofundar na eclesiologia apresenta-da em 1Co. Em sua consciência apostólica, Paulo se apresenta como apóstolo de Jesus Cristo, já que o autêntico apóstolo só pode ser “apóstolo do Crucificado”. Decorre daí que Paulo compreenda o apostolado a partir da teologia da cruz: a fraqueza do apóstolo é elemento eficaz para que o poder da graça de Deus se ma-nifeste em sua pregação, tal é o poder libertador da ação apostólica. Portanto, o apostolado é pregação libertadora da cruz e do Evangelho de Deus em que se deve

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distinguir a interioridade – sua existência diante de Deus e por Deus e, por sua vez, a exterioridade do apóstolo – sua aparência visível (2Co 4,16-18; 12,1-10). O apóstolo deve aparecer em sua fraqueza, já que não é por demonstrações exteriores que se dá prova da interioridade, mas é na fraqueza do apóstolo que se revela o poder de Deus (2Co 11,16-12,10). Ao aprofundar a eclesiologia, aponta para a nova identidade conferida pelo batismo que funda um novo tipo de socie-dade humana, caracterizada pela universalisocie-dade e pela unisocie-dade na diversisocie-dade. É importante retomar a metáfora da qual Paulo se serve em 1Co 12,1-30 em que apresenta a Igreja como o Corpo de Cristo, na qual, Cristo é a cabeça e os cristãos são os membros. Cada membro tem sua função dentro do corpo e essa função só tem sentido em razão e a serviço da unidade deste corpo. Portanto, é imprescindí-vel a noção de comunhão de bens espirituais e materiais, isto justifica o dever de ser solidário e prover as necessidades dos irmãos das igrejas mais pobres.

Não é nada fácil estabelecer o contexto da elaboração e recepção de 2Co, dada sua complexidade. Ainda assim, Alonso Schökel (2017, p. 2368) propõe como possível contexto:

Em resumo: Paulo fez uma segunda visita a Corinto, provavelmente para resol-ver problemas; então, ou depois de sair, foi gravemente injuriado por um mem-bro da comunidade. Em Corinto foi se consolidando um grupo de rivais, que discutiam a autoridade do apóstolo e estabeleciam a própria. Paulo envia uma carta muito dura e ameaça com uma terceira visita. Entrementes encontra Tito, que volta com boas notícias da sua missão pacificadora. Paulo escreve outra carta conciliadora e renuncia à terceira visita.

2CO 5,14 EM RELAÇÃO AO CONJUNTO DE 2CO

Um dos primeiros desafios do nosso estudo é a delimitação do texto que compreende 2Co 5,14a. Algumas edições ilustram essa dificuldade que se pode observar, não somente na definição da perícope, mas pelo título conferido:

Edição Perícope Título

Nestle-Aland 27ª Ed. (NA27) 2Cor 5,11–6,13 O ministério da reconciliação Novo Comentário Bíblico São Jerônimo

(NCBSJ) 2Cor 5,11-17 Nova criação

Bíblia de Jerusalém (BJ) 2Cor 5,11–6,10 Exercício do Ministério Apostólico Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB) 2Cor 5,11–6,13 O ministério da reconciliação Bíblia Sagrada Rev. Atualiz. (BSFA) 2Cor 5,11-17 O zelo apostólico de Paulo Bíblia do Peregrino (BPe) 2Cor 5,11-16 O critério da fé

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Neste estudo, opta-se pela estrutura oferecida pelo NCBSJ. Veja-se o texto de 2Co 5,14 contextualizado na Carta A que consta de cinco partes: (I) Introdução (1,1-11); (II) Uma visita cancelada a Corinto (1,12-22); (III) Apostolado autêntico (2,14-6,10); (IV) Relações com Corinto (6,11-7,16); (V) A coleta para Jerusa-lém (8,1-9,15). Portanto, 2Co 5,14 encontra-se na parte central da Carta A, na III parte, que por sua vez se organiza em quatro partes: (A) Apostolado: teoria e prática (2,14-3,6); (B) Ministério antigo e novo (3,7-4,6); (C) Ministério e mortalidade (4,7-5,10) e (D) Reconciliação em uma nova criação (5,11-6,10). A unidade literária de 2Co 5,11-6,10 ainda se subdivide em duas partes: (a) A nova criação (5,11-17) e (b) O ministério da reconciliação (5,18-6,10).

2Co 5,14a situa-se no tema do apostolado autêntico (2,14-6,10), Paulo contesta aos que questionam sua autoridade e que ao comparar-se com ele, destacam as fraquezas do apóstolo. Paulo parte de um alto conceito do ministério apostólico que seria carregado por Cristo em seu triunfo e conclui indagando: quem estaria à altura de tal missão? (2,14-16). Em seguida, com muito realismo descreve sua situação e atribui a Deus os frutos do seu ministério (3,6), opondo o ministério dos falsos apóstolos (2,17) – ministério da letra que gera morte – ao seu ministério – o mi-nistério do Espírito – que gera vida (3,6). Logo, passa a opor o seu mimi-nistério, que pertence à nova Aliança ao de Moisés, vinculado à antiga Aliança (3,7-18). Provavelmente serve-se desse recurso por causa da ênfase que seus adversários

atribuem à lei da antiga Aliança e, por outro lado, estes também afirmam que as tribulações e adversidades de sua vida contradizem sua pretensão de ser autênti-co apóstolo. Compreende-se, então, porque fundamentando-se no sentido salva-dor dos sofrimentos de Cristo, Paulo insiste em afirmar em diversos momentos, ao longo da carta que a força de Deus se manifesta na fraqueza (4,7-18) e que não se deve colocar a segurança nas aparências, mas ao que está na consciência e no coração (4,1-6) (MURPHY-O’CONNOR, 2011, p. 491-493).

A explanação de 5,1-10 sobre a tensão entre estar na morada provisória e na morada eter-na conclui com o tema do juízo. Na sequência, a perícope intitulada “a nova cria-ção” (5,11-17) indica o fundamento cristológico do ministério apostólico e ante-cede a perícope “o ministério da reconciliação” (5,18-6,10) que indica o objetivo do apostolado, a reconciliação (MURPHY-O’CONNOR, 2011, p. 499). Nota-se que o desenvolvimento do tema do autêntico ministério apostólico converge para o versículo deste estudo 2Co 5,14a, onde se encontra o seu fundamento.

O TEXTO DE 2Co 5,14

Veja-se a segmentação do texto de 2Co 5,14 no conjunto da perícope 5,11-172.Em

se-guida, apontam-se algumas considerações a respeito de elementos linguísticos que serão mais desenvolvidos na sequência.

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Ref. Texto bíblico 5,11

Compenetrados, pois, do temor do Senhor, procuramos convencer os homens. Quanto a Deus, somos-lhe plenamente manifestos; espero que sejamos também plenamente conhecidos por vós em vossas consciências.

5,12

Não nos recomendamos de novo junto a vós, mas desejamos dar-vos a ocasião de vos gloriardes a nosso respeito, a fim de que possais responder àqueles que se gloriam apenas pelas aparências, e não pelo que está nos corações.

5,13 Se nos deixamos arrebatar como para fora do bom senso, foi por causa de Deus; se somos sen-satos, é por causa de vós.

5,14

(A) Pois a caridade de Cristo nos compele, (B) quando consideramos

(C) que um só morreu por todos (D) e que, por conseguinte, (E) todos morreram.

(A) ἡ γὰρ ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ συνέχει ἡμᾶς,

(B) κρίναντας τοῦτο,

(C) ὅτι εἷς ὑπὲρ πάντων ἀπέθανεν,

(D) ἄρα

(E) οἱ πάντες ἀπέθανον

5,15 Ora, ele morreu por todos a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles.

5,16 Por isto, doravante a ninguém conhecemos segundo a carne. Mesmo se conhecemos Cristo se-gundo a carne, agora já não o conhecemos assim.

5,17 Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova.

O quadro anterior não pretende oferecer uma análise exaustiva de cada elemento da perícope, senão apenas contextualizar 2Co 5,14 que se encontra no centro da perícope e apresenta o “amor de Cristo” - ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ - como o su-jeito do seguimento “a”. O amor de Cristo é sujeito do verbo grego συνέχω,

cuja tradução é complexa, já que nos textos bíblicos e na própria literatura extrabíblica clássica assume significados diversos. Na língua portuguesa, o NCBSJ segue a tradução da BJ e traduz por “compelir”, a TEB por “cons-tranger”, a BPe por “pressionar” e a BPa por “impulsionar”. Nisto reside o

objetivo deste estudo, em compreender de forma mais profunda a expressão

ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ e o verbo συνέχω no contexto dos escritos paulinos,

especialmente em 2Co e a relação comunicativa que há entre estes dois ele-mentos de 2Co 5,14.

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A Expressão ἀγάπη Τοῦ Χριστοῦ e o Verbo συνέχω em Paulo

No conjunto dos escritos paulinos, serão analisadas as ocorrências e significados do substantivo ἀγάπη e do verbo ἀγαπάω e na sequência será abordado o verbo συνέχω, distinguindo entre os escritos protopaulinos e deuteropaulinos. A Expressão ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ: o Substantivo ἀγάπη e o Verbo ἀγαπάω

Nos textos paulinos, o substantivo ἀγάπη ocorre 112x, em geral se refere ao amor de Deus, ao amor de Cristo, ao amor do Espírito Santo, ao amor como fruto do Espírito, à caridade ou amor fraterno e, também, ao amor do Apóstolo pela comunidade e ao amor devido a Deus ou a Cristo. Contudo, apenas 7 dessas ocorrências se referem diretamente ao amor de Deus e a maior parte alude ao amor fraterno ou virtude da caridade, amplamente desenvolvido no hino da caridade em 1Co 13. No caso nominativo, ou seja, com função sintática de sujeito, o substantivo ocorre 16x nos protopaulinos [Rm 5,5; 12,9; 13,10(2x); 1Co 8,1; 13,4(3x); 13,8; 13,13(2x); 16,24; 2Co 5,14; 13,13; Gl 5,22; Fl 1,9] e 3x nos deuteropaulinos (Ef 6,23; 2Ts 1,3; 1Tm 1,5).

O verbo ἀγαπάω ocorre 18x nos protopaulinos e 17x nos deuteropaulinos. Os textos protopaulinos que mais têm ocorrências são Rm (8x) e 2Co (4x), porém é o texto deuteropaulino de Ef que possui mais ocorrências: 10x. Nesta carta, a temática se orienta ao amor divino e majoritariamente à analogia do amor dos esposos em relação ao amor de Cristo pela Igreja (Ef 5,21-33).

Αγάπη τοῦ Χριστοῦ nos Escritos Paulinos

A carta aos Rm e a 2Co são as que têm mais ocorrências das expressões ἀγάπη τοῦ θεοῦ e ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ, amor de Deus e amor de Cristo respectivamente. Mohrlang (2008, p. 66) indica a ambiguidade dessas expressões nos textos paulinos, em função da dificuldade de estabelecer, com certeza, se o genitivo é objetivo – refere-se ao amor devido a Deus/Cristo – ou subjetivo – refere-se ao amor que procede de Deus/Cristo. Neste estudo, optou-se pela compreensão de genitivo subjetivo em 2Cor 5,14a, conforme Comblin (1991, p. 89).

A carta aos Romanos é a que mais desenvolve o tema do ἀγάπη τοῦ θεοῦ/ Χριστοῦ,

inclusive, a perícope 8,31-39 contém um hino ao amor de Deus. O amor é um dom de Deus derramado ou despejado nos corações dos que creem pelo Espírito Santo (Rm 5,5). Paulo identifica o amor de Deus com o testemunho da entrega total de Jesus, que morre por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5,8; 8,39), portanto, parece identificar ἀγάπη τοῦ θεοῦ com ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ:

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Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8,38-39).

A dimensão pneumatológica é indicada enquanto a experiência desse amor, como pre-sença no coração do fiel, tem sua origem e é dom (Rm 5,5) e fruto do Espírito Santo (Gl 5,22), que age na vida daqueles que possuem o Espírito que ressus-citou Jesus dentre os mortos (Rm 8,9-13). Em 1 e 2Co, Paulo não estabelece uma relação explícita entre o amor de Cristo e o Espírito Santo, ainda que em 1Co 12,1 desenvolva uma explicação sobre os dons do Espírito e em 1Co 13 descreva, de forma detalhada, o maior dos dons, o “caminho superior”: o amor. Tal amor deve estar presente e acompanhar todos os nossos atos, até os mais heroicos, que sem amor, nada são. Um amor tão forte que não passa, mas permanece (1Co 13,8). O amor como dom e fruto do Espírito Santo que dá vida é o dinamismo que move a vida do cristão. A seguir, verifica-se a possível

relação entre esse dinamismo e o sentido do verbo συνέχω.

O Verbo συνέχω

O verbo συνέχω é composto pelo prefixo σύν e pela raíz verbal ἒχω. O prefixo preposicional σύν carrega o sentido de composição, de juntar ou unir e, por sua vez, o verbo ἒχω significa ter, possuir (RUSCONI, 2012, p. 210.436). Na literatura clássica grega, o significado fundamental do verbo συνέχω é manter algo próximo, ter junto, de modo que não escape, mas se mantenha unido, protegido, cuidado. Porém, encontram-se também outros significados e usos segundo Köster (1981, p. 213-220). Na cosmologia grega, o verbo era empregado para expressar a relação da divindade com o cosmos: manter, con-servar, sustentar o mundo para manter inalterada a ordem do universo. No ne-oplatonismo, os seres divinos eram chamados συνοχεις. Há escritos da época helenística que o empregam no sentido de “fazer prisioneiro” ou prender e, em continuidade com esse significado, também se encontram textos com as acepções de “conter” e “restringir”, tanto no sentido físico e material, quanto no emocional ou espiritual3.

Na Septuaginta, o verbo συνέχω ocorre 49 vezes (BIBLEWORKS, 2016). O uso se dá com os significados de: manter junto, fechar ou restringir e oprimir, condicio-nados pela base do texto judaico anterior. Segundo Köster (1981, p. 213-220),

o verbo hebraico que traduz de forma mais recorrente o grego συνέχω é עצר

que ocorre 12x (Dt 11,17; 1Sm 21,8; 2Sm 24,21; 24,25; 1Rs 8,35; 21,21; 2Rs 9,8; 14,26; 1Cr 12,1; 2Cr 6,26; 7,13; Ne 6,10). Na BJ, algumas traduções

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dessas ocorrências são: bloquear, impedir, cercar, segregar, reter, fechar. Um exemplo é a ideia de o céu se “fechar” (1Rs 8,35; 2Cr 6,26; 7,13). Outros ter-mos hebraicos são traduzidos pelo verbo συνέχω com o significado de ficar calado (Ez 33,22), abraçar (Prov 5,20), agarrar ou segurar (Jr 2,13) ou ser capturado (Jó 36,8) entre outros.

Há apenas 12 ocorrências do verbo συνέχω em todo o Novo Testamento e apenas em três autores: uma ocorrência no evangelho segundo Mateus, seis no evangelho segundo Lucas, três no livro dos Atos dos Apóstolos, uma em 2Co e uma em Filipenses. Em Mt 4,24, Lc 4,28 e At 28,8 συνέχω é usado no sentido de ser atormentado por uma doença. Entretanto, em Lc 8,45; 19,43; At 7,57 apresenta a experiência física de ser comprimido pela multidão ou atacado por alguém. Em Lc 22,63 o particípio traduzido como “detido” descreve a condição de Jesus ao ser preso pelos guardas. Adquire um significado psicológico ou emo-cional em Lc 8,37 quando o autor descreve o medo que os gerasenos sentiram ante a demonstração de poder de Jesus. Em Lc 12,50, Jesus se diz angustiado na espera da realização do seu batismo e em Fl 1,23, o verbo refere-se à expe-riência interior de Paulo na dúvida frente a dois desejos. Um sentido particular é encontrado em At 18,5 quando o texto lucano emprega o verbo para indicar que Paulo se “dedicou totalmente” a anunciar a Palavra, como quem está ab-sorto por uma tarefa. Finalmente, em 2Co 5,14a é traduzido por compelir (BJ), constranger (TEB; BSFA), pressionar (BPe) e impulsionar (BPa).

Ainda que os significados sejam variados, há alguns elementos em comum como, por exem-plo, a ideia de uma força que ao apresentar-se provoca um efeito, isto é, não per-mite que seu objeto permaneça igual, provoca uma mudança de estado, empurra ou segura, ataca ou abraça, constrange ou absorve. Chama a atenção que Paulo empregue esse verbo como ação do sujeito ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ, isto é, o amor de Cristo. Pretende-se, então, na sequência explorar possibilidades de interpretação desse verbo em relação à categoria ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ em 2Co 5,14a.

Uma Abordagem Comunicativo-Pragmática de 2Co 5,14a

Compenetrados, pois, do temor do Senhor, procuramos convencer os homens. Quanto a Deus, somos-lhe plenamente manifestos; espero que sejamos também plenamente conhecidos por vós em vossas consciências. Não nos recomendamos de novo junto a vós, mas desejamos dar-vos a ocasião de vos gloriardes a nosso respeito, a fim de que possais responder àqueles que se gloriam apenas pelas aparências, e não pelo que está nos corações. Se nos deixamos arrebatar como para fora do bom senso, foi por causa de Deus; se somos sensatos, é por causa de vós. ‘Pois a caridade de Cristo nos compele, quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos morreram’. Ora, ele morreu por

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todos a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles. Por isto, doravante a ninguém conhecemos segundo a carne. Mesmo se conhecemos Cristo segundo a carne, agora já não o conhecemos assim. Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova (2Co 5,11-17, grifo nosso).

A intensidade e paixão com que Paulo escreve a 2Co revela a delicada situação em que se encontrava sua relação com a comunidade de Corinto. A “Carta A” tem como argumento principal a reconciliação. Todo o discurso prepara o ter-reno para que Paulo, na defesa da autenticidade do seu próprio ministério,

apresente-o como aquele da reconciliação e que tem seu fundamento cristoló-gico exatamente no amor de Cristo (MURPHY-O’CONNOR, 2011, p. 498). No entanto, no conjunto de seus escritos e quando fala do amor de Cristo, apenas em 2Co 5,14a, a expressão ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ apresenta uma

particularida-de: é sujeito de ação de um verbo na voz ativa. Isso confere força e dinamis-mo à ação, que se intensifica considerando toda a carga semântica do verbo

συνέχω4: “ἡ γὰρ ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ συνέχει ἡμᾶς”. A simples análise sintática

da oração oferece, ainda, outros elementos valiosos para este estudo. O verbo encontra-se no modo indicativo, o que mostra uma afirmação certeira e direta, não hipotética. Está no tempo presente (infectum), o que reforça uma narrativa concreta e objetiva. Percebe-se uma relação entre o sujeito e o objeto: o sujeito

(ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ) realiza uma ação (συνέχει) no objeto (ἡμᾶς), nota-se um movimento de interesse e busca do sujeito que afeta o objeto.

A ação “συνέχει” é do amor de Cristo sobre aqueles que exercem o ministério apostó-lico, incluindo o autor, já que o pronome pessoal acusativo está na primeira pessoa do plural ἡμᾶς. Indica uma relação entre Cristo e os seus ministros en-tendidos como todos aqueles que venham a ser anunciadores do evangelho. Ao longo da carta, a primeira pessoa do plural é empregada para referir-se aos que exercem o ministério apostólico. No entanto, há pelo menos duas ocasiões em que esse sentido poderia ser ampliado a todos aqueles que participam do mis-tério de Cristo pelo batismo: em 5,14 “Pois a caridade de Cristo nos compele, quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos morreram” e em 5,21 “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus”.

Em 5,21, entende-se que os pronomes nós/ἡμῶν e nos/ἡμεῖς se referem a todos os que participam do mistério de Cristo e não apenas aos seus ministros ou apóstolos. Afirma Comblin (1991, p. 90): “Em toda a sua missão, Paulo foi movido pelo amor de Cristo. Que o amor de Cristo seja a alma do agir cristão é tema co-mum em Paulo (Gl 5,22; Rm 8,35-39; 13,8-10)”. Em 1,5 Paulo começa a cons-truir de forma implícita a ideia da identificação da comunidade e do cristão

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com Cristo ao indicar a relação entre os sofrimentos de Cristo e os sofrimentos da comunidade, que é o corpo de Cristo. O que se aplica a Cristo, aplica-se também à comunidade (MURPHY-O’CONNOR, 2011, p. 490). Os crentes são outros cristos ungidos pela fé (1,21). A comunidade também se identifica com Cristo existencialmente: “sois uma carta de Cristo [...] escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo” (3,3). Os ministros de Jesus trazem em seu corpo a sua agonia, para que também sua vida se manifeste neles. A sorte de Jesus é mesma dos seus seguidores, daqueles que creem nele (4,10-15). Portanto, a relação é tão profunda, que o Apóstolo afirma que pelo fato de um só – Cristo – ter morrido por todos, para que nele todos tenham vida, da mesma forma todos morreram e todos os que vivem já não devem viver para si mesmos, mas para ele. O fundamento dessa relação é o amor de Cristo que é origem e agente dessa dinâmica transformadora que produz vida nova (5,17) não somente nos ministros, mas em todos os cristãos, aos que o pronome ἡμἡἡ inclui também em 5,14a.

Portanto, ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ revela um amor de Cristo por todos que foi capaz de levá-lo a entregar-se até a morte; logo, todos estão chamados a manifestar em suas vidas o mesmo amor: essa é a força performativa da mensagem. O amor de Cristo é o modelo da existência autêntica, não há opção a não ser render-se e deixar-se impactar por esse amor, para então reproduzi-lo na própria existência. Ele mor-reu para dar vida, nova vida que deve se manifestar na existência dos que creem. Estar em Cristo (5,17) equivale a ser “nova criatura” e ter nova vida nele. O verbo συνέχω entendido como a ação do ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ seria como uma “força

suave” que governa sem se impor, a força transformadora que “sem substituir ou oprimir a liberdade”, impulsiona e incentiva, em primeiro lugar, a “ser nova criatura” e, depois, a “agir” de forma nova (5,20; 6,1.11-14; 7,1-2; 8,7.24). Com confiança e ousadia, suavidade e força, Paulo exorta os coríntios a se deixarem

transformar pelo amor de Cristo. Na sequência de 2Co 5,14, Paulo se apre-senta como embaixador de Cristo e indica aos coríntios que é o próprio Cristo que os exorta através dele (5,20). Isto quer dizer que a ação da “força suave” do amor de Cristo agirá por ele. Ao repreender e exortar a comunidade, Paulo reflete o adágio latino suaviter in modo fortiter in res: “Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus (5,20)”; “exortamo-vos ainda a que não recebais a graça de Deus em vão (6,1).” Não hesita em expressar seu amor aos coríntios e esperar deles mais generosidade no amor:

Nós vos falamos com toda liberdade, ó coríntios; o nosso coração se dilatou. Não é estreito o lugar que ocupais em nós, mas é em vossos corações que estais na estreiteza. Pagai-nos com igual retribuição; falo-vos como a filhos: dilatai também os vossos corações (2Co 6,11-13).

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Em sua entrega por amor, Cristo reconcilia a todos com Deus (5,18-21). Se no ser a co-munidade se torna “nova criatura”, as ações devem ser renovadas: reconcilia-ção com Deus e colaborareconcilia-ção com Deus. A renovareconcilia-ção no agir implica ser sinal da generosidade de Cristo que sendo rico se fez pobre para nos enriquecer, por isso, os coríntios deveriam ser generosos para com os irmãos mais necessita-dos da Igreja de Jerusalém (8,7-9).

CONCLUSÃO

Pode-se afirmar que, dentro do conjunto da 2Co, no que se refere ao conflito enfrenta-do por Paulo na referida comunidade, a relação entre a expressão ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ e o verbo συνέχω, fazem emergir toda a força da experiência cristã vivida, em primeiro lugar, pelo próprio Apóstolo e que, no seu zelo apostó-lico, se esforça por comunicar aos seus interlocutores que rejeitavam a sua autoridade apostólica.

Na perspectiva cristológica, pretendedestacar como o amor de Cristo age na comuni-dade enquanto fundamento, origem e fruto do dinamismo pneumatológico, o qualorienta a vida dos que creem e impulsionana força amorosa da vida nova,

enraizada na morte e ressurreição de Cristo.

É importante indicar, ainda, que a perspectiva pneumatológica, expressa por Paulo na 1Co, é fundamental para compreender o aspecto comunicativo na 2Co. Será sempre sob o impulso do Espírito que a comunidade, e cada um dos fiéis, po-derá crescer e amadurecer, numa adesão livre e generosa ao agir salvífico de Deus, manifestado em Cristo.

A relação comunicativa entre ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ e o verbo συνέχω está no fato de expressar a força e suavidade com que a entrega de Cristo compromete a to-dos aqueles por quem ele morreu e ressuscitou. Entretanto, esse compromisso conduz a uma resposta também de amor. É um convite a deixar-se afetar pelo amor de Cristo. Em diversos momentos, fundamentado no amor de Cristo, Paulo declara o seu amor à comunidade (12,15), por isso, como ministro de Cristo, pode lhes exigir mais amor (13,9). Esse mesmo amor que agiu na co-munidade de Corinto é o que age em todos aqueles que, ao longo da história, seguiram e seguem o Cristo, morto e ressuscitado.

THE RELATIONSHIP BETWEEN EXPRESSION AGÁPE TOÛ CHRISTOÛ AND THE VERB SYNÉCHO: A COMMUNICATIVE APPROACH OF 2CO 5,14a Abstract: this article analyses the relationship between the expression ἀγάπη τοῦ Χριστοῦ

and the verb συνέχω in 2 Co 5,14a. The christological and pneumatological

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of Corinth, the profound understanding of Christ’s love and the consequences of this experience in the life of the Christian community is revealed.

Keywords: Paul. Second Letter to the Corinthians. Love of Christ. Transformative Force. Communicative Relation.

Notas

1 Em At 18,5, o texto lucano nomeia os acompanhantes de Paulo como Silas e Timóteo. Silvano é uma forma latinizada de Silas (MURPHY-O’CONNOR, J., 2011, p. 491). 2 Neste tópico, usa-se o texto em português, segundo a Bíblia de Jerusalém (BJ), 2002. No

entanto, não se restringe à tradução e à terminologia adotadas nesta versão. Note-se ainda que a versão grega corresponde a 28ª edição da Nestle-Aland (NA28).

3 Alguns exemplos são: perplexidade por não encontrar saída ou solução ante uma questão teórica ou uma situação desesperante; sentir-se oprimido e dominado por algo, especial-mente por uma doença grave e incurável, que pode conduzir à morte; ser acometido por dor física ou pelo desânimo, por um surto, ataque ou acesso de raiva, de riso etc.; ou ainda, ser dominado por paixões ou instintos.

4 A categoria ἀγάπη τοῦ θεοῦ em Rm 5,5 é caso nominativo, mas o verbo ἐκχέω está na

voz passiva ἐκκέχυται. Referências

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