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Políticas de comunicações no Uruguai

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Políticas de comunicações no Uruguai

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Entrevista com Gabriel Kaplún, realizada por Fernando Oliveira Paulino1, Johnatan Reis, Paloma

Batista Suertegaray, Nicolle Brandão, Laís Lara Santos e Jorge Henrique Macedo Alves2.

Gabriel Kaplún é diretor do Curso de Comunicação3 da Universidad de la República no Uruguai.

Sua trajetória é marcada pela permanente interface entre Comunicação, Educação e Cidadania.

Atualmente, Kaplún é um dos responsáveis pela organização do XI Congresso

Latino-Americano de Investigadores da Comunicação, promovido pela ALAIC4, que acontece em

Montevidéu entre 9 a 11 de maio de 2012 com o tema “Interdisciplina, Pensamento Crítico e

Compromisso Social”.

Desde os anos 1980, Gabriel Kaplún tem atuado com organizações sindicais e sociais,

estimulando uma maior aproximação entre o conhecimento acadêmico e o saber popular. Nos

anos 1990, momento no qual seu pai5 ainda estava na Universidade, Gabriel aumenta sua

presença no meio acadêmico, aliando consultorias relacionadas à Comunicação Organizacional

com intensiva investigação e pesquisa teórica. A partir dos anos 2000, Kaplún intensifica a

produção de estudos na área de políticas de comunicação.

Em 2008, Kaplún assume a coordenação do Curso de Comunicação Universidad de la República

e desde então tem buscado realizar um trabalho de impulso institucional e acadêmico que já

levou a criação de um Centro de Pesquisa e que pretende instaurar a criação de uma Faculdade

de Informação e de Comunicação. Na entrevista, Gabriel falou de sua relação com o Brasil, um

balanço dos estudos de Comunicação na América Latina, além de informações sobre o

acompanhamento das políticas públicas de comunicações no Uruguai e a organização do XI

Congresso da ALAIC.

1 A conversa ocorreu por Skype no final de 2011. Fernando Oliveira Paulino é professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e pesquisador do Laboratório de Políticas de Comunicação; paulino@unb.br

2 Estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

3 O endereço eletrônico do Curso de Comunicação da Universidad de la República é http://www.comunicacion.edu.uy

4

O portal da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC) é www.alaic.net

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RBPC: Como tem sido sua relação com os pesquisadores brasileiros de Comunicação?

Gabriel Kaplún: Tenho um forte vínculo com o Brasil. Cheguei a planejar um Doutorado na Universidade de São Paulo (USP), mas no final mudei de idéia e decidi fazer uma tese, na

Universidade Andina Simón Bolivar no Equador6, baseada em estudos culturais

latino-americanos sobre culturas juvenis e educação. Ao longo do tempo, tenho desenvolvido atividades em conjunto com universidades brasileiras que vão desde a participação em bancas até a realização de cursos conjuntos em parceria com professores. Exemplo disso tem sido o trabalho conjunto com docentes das universidades da região Sul e com o professor Murilo César Ramos (Universidade de Brasília), que tem prestado assessoria em nosso programa de desenvolvimento acadêmico de criação e fortalecimento de cursos de pós-graduação.

RBPC: Qual avaliação que o senhor faz do atual desempenho das pesquisas em

Comunicação desenvolvidas no Brasil?

Gabriel Kaplún: Em minha opinião, o meio universitário brasileiro tem vivido um

desenvolvimento muito mais intenso do que os demais países da América Latina. No Brasil, têm existido fundos para pesquisa, para pós-graduação e para bolsas que em outros países latino-americanos não conseguiram se viabilizar. Nos outros lugares, os acadêmicos estão quase sempre obrigados a ter uma dupla vida, profissional e acadêmica, que não é necessária para

muitos daqueles que vivem no Brasil, onde é possível ou mais possível ter desenvolvimento

próprio dentro da universidade, recebendo, por exemplo, uma bolsa para mestrado, outra para

doutorado e depois ingressar na docência universitária, como professor na universidade.

RBPC: Qual avaliação que o senhor faz da pesquisa em Comunicação no Uruguai e na

América Latina como um todo?

Gabriel Kaplún: No Uruguai, o desenvolvimento das pesquisas em comunicação ainda é muito incipiente. Estamos, no momento, buscando dar um forte impulso à pesquisa. Um sintoma da atual situação é que quase não havia cursos de pós-graduação e até pouco tempo atrás não havia acesso dos pesquisadores em Comunicação aos Fundos de Pesquisa. Somente, há três anos, foi criado o Sistema Nacional de Pesquisadores, que congrega um número reduzido de membros.

6 A tese de Gabriel Kaplún¸ Culturas juveniles y educación: conflictos culturales y conflictos pedagógico, está disponível em:

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Outro sinal da debilidade histórica é o reduzido número de trabalhos apresentados por uruguaios em congressos científicos internacionais, algo que tenho a esperança de alteração a partir de um maior intercâmbio com universidades de outros países. De qualquer forma, estamos atualmente em um processo bem interessante, sobretudo, pela criação do curso de pós-graduação que está multiplicando as possibilidades tanto para os que já realizam investigações, como para aqueles que querem se tornar pesquisadores.

A respeito da América Latina em geral, acredito que a região está em um momento bem interessante, intensificando uma posição de referência para outros continentes, que, quem sabe, esgotaram sua capacidade de imaginação, sua capacidade teórica, sua capacidade de encontrar os temas que importam e trabalhá-los de modos inovadores. Na América Latina, ao contrário, tem sido desenvolvido tanto o ponto de vista de pesquisa de desenvolvimento teórico e das políticas, como possibilidades novas e interessantes de dialogo com os poderes públicos.

RBPC: Por favor, o senhor poderia apresentar exemplos de sua atuação no processo de

formulação, implementação e avaliação de políticas públicas de comunicações?

Gabriel Kaplún: Representei a Universidad de la República na Comissão Nacional de Televisão Digital e em 2010, presidi o comitê consultivo para a elaboração da nova Lei de Comunicação do

país, processo que não foi finalizado, apesar do comitê que coordenei já ter terminado seu

trabalho e entregue seu relatório para o governo. Infelizmente, a presidência da República ainda

não apresentou a nova proposta de lei ao Parlamento. Estamos esperando que isso seja feito no

primeiro semestre de 2012.

RBPC: Quais têm sido seus temas mais freqüentes de ensino, pesquisa e extensão atualmente?

Gabriel Kaplún: Minha tese de doutorado resultou num livro ¿Educar ya fue? Culturas

juveniles y educación(Montevidéu: Universidad de la República/ Editorial Nordan-Comunidad /

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Ademais, tenho desenvolvido pesquisas focadas na interdisciplinaridade, no pensamento crítico,

na interculturalidade e da descolonização. Talvez, esta década possibilite incorporar mais ao

campo da Comunicação, como já incorporou aos outros campos das ciências sociais. Vivemos

um momento no qual a América Latina está pensando mais criticamente, tratando de

descolonizar o que foi, às vezes, um pensamento muito colonizado por um pensamento externo.

Isso tem preocupado a todas as ciências sociais de hoje, acredito também começa a preocupar,

também, aos acadêmicos de Comunicação.

RBPC: O senhor tem acompanhado alterações na lei de regulação de meios comunitários e

de acesso à informação no Uruguai. Por favor, você poderia falar desse processo de

políticas de Comunicação em seu país?

Gabriel Kaplún: O Uruguai passou por um interessante processo a partir do ano de 2005, como resultado de um documento com propostas que participei no período 2003 e 2004. Algumas coisas foram levadas adiante, outras não. Das coisas que avançaram nesse período, eu diria que, quatro ou cinco são pilares bem importantes. Por um lado, a Lei de regulação dos canais

comunitários, que, no geral, é uma boa lei e que está obtendo êxito, apesar da sua aplicação ser bastante difícil. Em parte, porque ainda não há uma lei geral para a radiodifusão como um todo, o que facilitaria muito o trabalho de aplicação. Nessa área, têm acontecido conquistas bem interessantes com a instalação e regularização de canais comunitários. Por outro lado, o Uruguai aprovou lei muito importante relacionada ao acesso à informação pública, aprovada no mesmo período que a Lei de Radiodifusão Comunitária. Essa lei também entrou em vigência e tem dificuldade de aplicação por conta das resistências ligadas à abertura de arquivos históricos, mas o processo de colocá-la em marcha está sendo muito interessante. Já existem os primeiros casos de pedidos de acesso à informação por parte de cidadãos e por jornalistas.

Um terceiro elemento interessante foi o fortalecimento do setor público de comunicação. Os canais públicos no Uruguai foram, anteriormente, meios de segunda categoria, por apresentarem pouca audiência e poucos recursos técnicos. Houve um desenvolvimento bem relevante, no período entre 2005 e 2010, da rádio e televisão públicas. Creio que, isto foi um avanço importante, que hoje continua progredindo. Por fim, houve dois ou três elementos interessantes também, um desenvolvimento muito forte de projetos de inclusão digital, baseados na idéia do

Massachusetts Institute of Techology (MIT), com um computador por criança (one laptop per

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a todas as crianças das escolas primárias do Uruguai. A próxima fase da iniciativa é a entrega de

computadores para jovens de ensino médio, atividade acompanhada de treinamento dos

professores e estudantes para o aproveitamento dos recursos digitais. Essas ações têm sido

acompanhadas por crescentes políticas de universalização da banda larga para todas as famílias

uruguaias. O acesso ainda não é universal, mas é cada vez mais forte. Outro elemento

interessante são algumas políticas em matéria de critérios para a distribuição de recursos de

publicidade oficial.

RBPC: E quais seriam as pendências atuais em relação a políticas de comunicações no

Uruguai?

Gabriel Kaplún: Existem, a meu ver, três necessidades: uma lei geral de comunicação que

abordasse o conjunto de temas, uma lei de telecomunicações que melhor regulasse os problemas

de infra-estrutura tecnológica, além de um quadro institucional mais claro. O Uruguai não tem

um Ministério das Comunicações e falta clareza quanto às competências de cada organismo

relacionado ao tema. Há uma unidade reguladora de serviços de comunicação e uma diretoria

nacional de telecomunicações que fazem parte do Ministério da Indústria, mas há organismos

relacionados à Comunicação, também, no Ministério de Educação e Cultura. E toda essa

dispersão institucional dificulta a formulação e implementação de políticas mais adequadas e

faltam mecanismos claros institucionalizados de participação social, embora eu deva dizer que

foram criados alguns mecanismos de participação muito interessantes. A atribuição de freqüências hoje é precedida de audiências públicas que acontecem na localidade do sinal.

De qualquer forma, eu destacaria a necessidade de uma regulação mais apropriada do setor

privado, que continua sendo dominante no panorama das Comunicações no Uruguai e é um setor

que não conta com boas regulações nesse campo. Por exemplo, é um setor altamente

concentrado, com um oligopólio de três empresas que dominam quase totalmente os principais

meios de comunicação, em especial, a televisão e está situação não tem um marco regulatório

adequado. Eu diria que, junto com a necessidade de uma lei, o outro grande problema que nós

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RBPC: E como anda o processo de implantação da TV Digital no Uruguai?

Gabriel Kaplún: Conjunturalmente, o Uruguai precisa tomar alguma decisão sobre a questão da

televisão digital, algo que não avançou muito até o momento. Houve uma primeira fase em que

parecia que se iria decidir, mas o governo anterior não entendeu bem o tema e somente tomou

uma decisão sobre a norma técnica. Em 2007 decidiu-se adotar a norma técnica européia, uma

decisão muito incompleta, porque não estava pensando em um marco regulatório para a televisão

digital. Tão incompleta foi essa decisão que a televisão digital não se desenvolveu e,

recentemente, em 2010, se retomou o tema, se alterou a norma e se adaptou o padrão

nipo-brasileiro em parte, porque havia alterado o panorama regional. Em outubro de 2011, o governo

apresentou sua proposta de um marco regulatório para a televisão digital e submeteu à consulta

pública. É possível que daí surjam novidades. De qualquer maneira, vivemos um panorama geral

hoje muito melhor do que tínhamos em 2005, quando começou o primeiro governo de esquerda7

do país, mas um cenário que ainda apresenta carências.

RBPC: Qual é a sua expectativa em relação ao Congresso da Associação Latino-Americana

de Investigadores da Comunicação (ALAIC)? Como o evento pode contribuir com a

pesquisa no Uruguai e, também, ser um espaço de troca, de conexões entre os

investigadores uruguaios e dos demais países da América Latina?

Gabriel Kaplún: Por um lado, para o Uruguai é muito importante poder organizar este

Congresso e toda a equipe que nele está participando está muito entusiasmada com o evento em

si. É importante dizer, por exemplo, que para o Congresso se juntaram na organização membros

não só da Universidad de la República, mas também de instituições acadêmicas privadas. O

Uruguai é um país muito pequeno, de apenas três milhões e meio de habitantes e que tem,

somente, uma universidade pública, responsável por 80 ou 90% da pesquisa no país. Mas

existem também universidades privadas que participam da organização do congresso, porque

perceberam na presença da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação

(ALAIC) no Uruguai, uma oportunidade única, como nunca houve no país, para conectá-lo em

pesquisas em Comunicação com o mundo. A realização do Congresso por um lado, estimula esse

pequeno grupo de pesquisadores uruguaios a confrontar seu trabalho, a apresentá-lo, a dialogar

com outros pesquisadores e, por isso, temos a expectativa que o evento, além dos seus próprios

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levantamentos, deixe como resultado uma consolidação ou, pelo menos, o começo de um estável

grupo de pesquisadores, que, quem sabe, podem até fundar uma associação nacional de

pesquisadores de Comunicação.

Acredito que, por outro lado, o Uruguai e este congresso podem ser uma boa oportunidade de

encontro de pesquisadores da América Latina, como sempre são os congressos da ALAIC. Nesse

caso, esperamos, particularmente, uma presença muito forte de pesquisadores dos nossos dois

grandes vizinhos, Argentina e Brasil, que são dois países com um desenvolvimento acadêmico

muito maior, obviamente, pelo seu tamanho e, também, pela história que tem o campo

acadêmico tanto da Argentina como do Brasil. Esperamos, também, a importante presença dos

pesquisadores de outros países da América Latina. Pretendemos que o Congresso tenha uma

articulação entre eixos importantes no pensamento do mundo da Comunicação. A interdisciplinaridade, o compromisso social e o pensamento crítico latino-americano são três eixos que podem combinar e dialogar com todos os pesquisadores latino-americanos em Comunicação que participarem em maio do Congresso.

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