• Nenhum resultado encontrado

Obras para a infância de Eurico Thomaz de Lima: os duetos para piano

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Obras para a infância de Eurico Thomaz de Lima: os duetos para piano"

Copied!
169
0
0

Texto

(1)
(2)
(3)
(4)

Agradecimentos:

À Doutora Elisa Lessa, pela orientação eficaz e sem reservas que prestou à minha dissertação, e também pelo apoio que dispensou em termos de usufruto do espólio do compositor, disponibilizando uma ajuda significativa na identificação dos diferentes documentos.

Ao Dr. Jorge Alves Barbosa, pela sua atenção e dedicação ao meu trabalho dando sugestões, que se revelaram bastante úteis na elaboração desta investigação.

(5)

RESUMO

A presente investigação permitirá um esclarecimento da faceta de pedagogo que Eurico Thomaz de Lima sempre manifestou ao longo da sua vida. Para atingirmos este objectivo, foram seleccionados para estudo os seus duetos para piano originais, destinados à infância.

De forma a enquadrar a sua obra na restante produção deste género, é apresentada, primeiramente, uma contextualização geral dos duetos ao nível da música ocidental, cingindo-se em seguida esta abordagem para as composições dos autores nacionais. Finalmente propõe-se uma análise da extensa lista de músicas destinadas somente à infância.

Contextualizado o estudo, a dissertação centra-se exclusivamente em Eurico Thomaz de Lima, através da elaboração de um quadro cronológico, de apontamentos sobre a sua biografia, da realização do catálogo de todas as suas obras e breves considerações sobre as mesmas.

Em particular, são estudados os duetos para a infância em múltiplos aspectos, culminado na realização de um quadro e consequentes interpretações e conclusões, de forma a determinar o contributo de Eurico Thomaz de Lima para o repertório infantil português.

(6)

SUMMARY

The present investigation will allow an explanation of educator's facet that Eurico Thomaz de Lima always manifested along all his life. In order to reach this purpose, we selected and studied their original “piano duets” for the childhood.

In way to context his work in the remaining production of this genre, we present, firstly, a small introduction about the duet form in the western music, binding this approach soon afterwards for the Portuguese authors compositions, and finally we will do an analysis of the extensive list of music destined only to the childhood.

After these considerations the dissertation is centered exclusively in the personality of Eurico Thomaz de Lima: his life, an elaboration of a chronological picture, notes on his biography, accomplishment of the list of all their works and some allusions on the same ones.

Concretely, they are thoroughly studied the piano duets for the childhood in multiple aspects, culminating in the accomplishment of a picture, a consequent interpretations and conclusions, in order to determine the contribution of Eurico Thomaz de Lima for the Portuguese children’s piano repertoire.

(7)

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1

I

1. Os duetos para piano no contexto da história da música ocidental 5 2. Os duetos para piano no contexto da história da música em Portugal 12 3. A literatura para piano a quatro mãos destinada à infância 18

II

1. Uma cronologia e biografia de Eurico Thomaz de Lima 26

1.1 Cronologia 26

1.2 Alguns dados biográficos de Eurico Thomaz de Lima 39

2. A obra musical 44

3. O repertório para a infância 61

4. Os duetos para piano 63

4.1 Contexto de produção das obras 66

4.2 Análise dos aspectos musicais e pedagógicos 78

CONCLUSÃO 115 BIBLIOGRAFIA 118 DISCOGRAFIA 121 ANEXOS 126 III PARTITURAS 133

(8)

Introdução

Eurico Thomaz de Lima foi uma personalidade de vulto na nossa cultura musical, desenvolvendo uma carreira artística que se foi repartindo por três vertentes: como intérprete, pianista exímio, discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço e Vianna da Mota, alcançou notoriedade tanto ao nível nacional como internacional; como compositor, deixando-nos o legado de uma vasta obra em termos de quantidade e qualidade, abarcando múltiplos géneros e finalmente como pedagogo, exercendo o seu magistério em várias instituições, com grande dedicação e empenho.

Dos aspectos enunciados anteriormente, esta investigação pretende debruçar-se sobre a sua faceta de pedagogo, contemplando as respectivas obras que Eurico Thomaz de Lima compôs com este propósito. Os restantes aspectos musicais da sua vida serão devidamente contextualizados a fim de que se possam entender, de uma forma inequívoca, as suas convicções musicais e a sua relação com o meio cultural da época.

A grande dedicação que Eurico Thomaz de Lima manifestou pelo ensino da música, especialmente no que se refere ao piano, torna-se evidente quando tomamos conhecimento do grande número de obras que compôs destinadas aos seus alunos. Em virtude do elevado número de obras deixadas pelo compositor para a infância, o nosso estudo propõe-se cingir o seu âmbito a uma categoria específica da sua produção artística – As obras a quatro mãos ou dois pianos para a infância – composições peculiares em que o próprio autor partilhava o teclado com os seus alunos, obras frequentemente escutadas em inúmeras audições, de modo a estabelecer um vínculo directo entre o professor e aluno.

(9)

A escolha do tema foi igualmente motivada pelo facto de este género de composição não estar suficientemente documentado na nossa história musical, pretendendo-se, de certa forma, contribuir para um conhecimento da evolução do género em Portugal, uma vez que a ausência de informação não significa inexistência de uma prática habitual deste género. É evidente que quando, em meados do século XVIII, se deu o grande florescimento deste género, o nosso país estava mais voltado para o teatro lírico por influência dos compositores italianos que por cá trabalhavam, pelo que o gosto por uma música de câmara de elevado nível não encontrava no nosso meio uma significativa importância. Sendo assim, esta dissertação propõe-se fazer uma abordagem deste género a partir da sua evolução ao nível da música ocidental, efectuando depois alguns esclarecimentos sobre a sua relevância em Portugal para se centrar definitivamente na obra de Eurico Thomaz de Lima.

Relativamente a este compositor, são escassos os trabalhos de investigação, podendo-se citar o estudo de Manuel Afonso (1998) elaborado como dissertação final do Curso de Estudos Superiores Especializados da Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança e que constitui uma ampla investigação pioneira sobre os vários aspectos da vida e obra do compositor, possuindo, no entanto, algumas incorrecções e incongruências, sendo necessário analisá-lo com rigor para que as informações apresentadas sejam correctas e justas para com Eurico Thomaz de Lima. Uma outra investigação, desenvolvida pela Doutora Elisa Lessa, apresentada no II Encontro do Ensino da Música em Portugal (2001), foca as obras para piano destinadas à infância, constituindo este trabalho uma preciosa ajuda nesta investigação.

Além destes contributos para o conhecimento do nosso autor, deveremos referir as duas exposições ao público do seu espólio: a primeira em Braga, na Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança de 31 de Maio a 2 de Junho de 2001 e a segunda

(10)

em Guimarães, no Museu de Alberto Sampaio, em Março de 2003, que serviu para reavivar a personalidade ímpar de Eurico Thomaz de Lima que, actualmente, permanece esquecida, mas que em tempos não muito recuados era conhecida e divulgada pelo meio cultural da época e pela comunicação social. O espólio musical de Eurico Thomaz de Lima foi doado pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de Lima à Universidade do Minho em 31 de Maio de 2001, permanecendo desde então nas instalações do Instituto de Estudos da Criança1. Devido a esta circunstância o seu espólio foi a fonte base da nossa investigação, uma vez que inclui os álbuns, cuidadosamente elaborados ao longo da vida, programas de concertos, recortes de jornais, partituras da sua autoria, a sua biblioteca musical, correspondência, certidões, documentos pessoais, obras impressas e discos de vinil. Assim, o facto de termos acesso a este material, de certa forma organizado pelo compositor, permitiu reconstruir alguns aspectos da sua vida. Com este trabalho, pretendemos também contribuir um pouco mais para a redescoberta desta personalidade, permitindo, ao mesmo tempo, possibilitar a realização de investigações futuras, para que se conheça a fundo a obra deste músico português.

A estrutura desta dissertação assenta em três capítulos que apresentamos identificados com a numeração romana. O primeiro aborda os compositores e respectivas obras, no que se refere aos duetos para Piano. Trata-se de uma revisão bibliográfica sucinta e não exaustiva. O segundo é dedicado inteiramente à vida e obra de Eurico Thomaz de Lima. Finalmente, apresentamos a transcrição das partituras estudadas, reunidas cronologicamente e prontas para futura edição.

1

O catálogo deste Espólio está a ser elaborado pela Doutora Elisa Lessa, docente do Instituto de Estudos da Criança – Universidade do Minho.

(11)
(12)

1. Os duetos para piano no contexto da história da música ocidental

Segundo o New Grove2, existem dois tipos de duetos para piano, os que recorrem a dois intérpretes para um piano – neste caso a partilha do teclado inibe as totais possibilidades técnicas de cada pianista, pois estes não dispõem da totalidade do teclado – e os duetos nos quais cada instrumentista possui o seu próprio instrumento – onde cada indivíduo pode utilizar toda a sua extensão e evidenciar toda a sua técnica. O primeiro tipo de dueto concentrou a maior parte das produções dos compositores. Tal ocorrência deve-se ao facto de se destinarem, na sua maior parte, a ambientes domésticos, podendo-se obter grandes efeitos sem necessidade de se ser um grande virtuoso do teclado, e ainda pelo facto de não utilizar um segundo piano, tornando-se menos dispendioso. A questão do espaço pode também ter sido uma razão pela qual os compositores escreveram mais para quatro mãos. Por último, uma finalidade pedagógica está também ligada a este tipo de dueto.

A prática de compartilhar o teclado com vários músicos, remonta a épocas recuadas, sendo o primeiro testemunho conhecido na Idade Média, no século VIII, onde dois músicos tocam um “organum”, no órgão3. Os duetos mais antigos, de que há conhecimento, datam do início do século XVII, na transição do Renascimento para o Barroco, em território inglês. Trata-se de uma obra a três mãos denominada A Battle, and

2

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980

3

(13)

no Battle, atribuindo-se a sua autoria a John Bull4. De Nicholas Carleton e Thomas Tomkins, chegaram algumas obras manuscritas: In nomine de Nicholas Carleton, e uma Fantasia de Tomkins, compostas provavelmente por ambos e para serem interpretadas pelos dois ao mesmo tempo5. Uma referência escrita nas peças Um verso para dois para se tocar num Virginal ou Órgão, pode implicar não só um uso doméstico, mas também uma função litúrgica.

É, no entanto, na segunda metade do século XVIII, que se assiste a uma larga difusão dos duetos para piano6, ilustrados pela famosa pintura da família de W. A. Mozart7, na qual o compositor partilha o teclado com a sua irmã enquanto o pai Leopold Mozart segura um violino. W. A. Mozart interpretava estas obras a quatro mãos desde 1764-5 aquando da sua viagem a Londres, tendo inclusive composto, por essa altura, a Sonata K19d, que Leopold Mozart considerou como a primeira no seu género. De facto, as composições referidas anteriormente não são sonatas e não desencadearam aparentemente nenhum seguimento notório nessa época.

Apesar de se começar a assistir a uma larga difusão deste género neste período, o que se deve, em parte, ao interesse que a música feita em casa suscitava em músicos amadores, esta ideia não foi imediatamente seguida8. As primeiras obras impressas a quatro mãos datam apenas de 1777 compostas por C. Burney9 – Four sonatas or duets for two performers on one pianoforte or hapsichord. Em 1780, este compositor escreveu uma sonata a três mãos. Além disso, C. Burney possuía um piano de seis oitavas construído por

4

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. John Bull (c. 1562 – 1628), compositor e organista inglês, compôs música para teclado e para grupos instrumentais evidenciando uma elaborada técnica contrapontística e algumas passagens virtuosísticas.

5

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Nicholas Carleton (c.1570 – 1630), compositor inglês. Thomas Tomkins (1572 – 1656), compositor inglês, discípulo de W. Byrd compôs música de igreja, madrigais e obras para violas e virginal.

6

ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano

7

Óleo de Johann Nepomuk Della Croce de 1780

8

DOWN, Philip G. (1992) Classical Music

9

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Charles Burney (1726 – 1814) historiador, cronista, organista e compositor inglês.

(14)

J. J. Merlin, especificamente para os seus duetos, pois considerava que o piano de cinco oitavas não dispunha de espaço suficiente para duas pessoas adultas10. Johann Christian Bach publicou, entre 1778 e 1780, algumas sonatas a quatro mãos, catalogadas entre as op. 15 e op. 1811. Estas tornaram-se os modelos para as composições de Muzio Clementi e W. A. Mozart. As características mais notáveis nas obras destes dois compositores, dentro do género, assentam no frequente recurso a texturas de índole orquestral resultantes das sonoridades plenas da execução a quatro mãos.

Esta particularidade orquestral e rica das texturas a quatro mãos originou, a partir dos finais do século XVIII, diversas transcrições de sinfonias e de outras obras de proporções sinfónicas para piano a quatro mãos. Em 1798-1800, o editor Birchall publicou em Londres todas as Sinfonias Londrinas de J. Haydn nesta forma e também as sinfonias de W. A. Mozart e L. V. Beethoven e outros compositores mais tardios tornando, deste modo, mais acessível o contacto de músicos amadores com o repertório orquestral da época12. Torna-se evidente, mais uma vez, a finalidade doméstica deste tipo de obras e a popularidade que adquirem nesta época, pela possibilidade de grande parte do público interpretar e ouvir as obras mais significativas dos grandes compositores, e pelo facto de a maior parte delas não apresentar grandes dificuldades.

Ainda neste período, salientam-se as obras dos compositores, J. Dussek, cuja música antecipa muitas das características do período romântico, uma vez que a sua escrita revela invenção, admiráveis relações harmónicas, modulações remotas, dissonâncias fantásticas, aliadas a uma escrita melódica muitas vezes ornamentada e colorida que anuncia F. Chopin e R. Schumann. Segundo, as obras de L. Kozeluch13 para quatro mãos

10

LOESSER, Arthur (1990) Men, Women and Pianos A Social History

11

ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano

12

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980

13

Leopold Kozeluch (1748 – 1818), compositor checo da escola vienense e contemporâneo de Vanhal. Compôs de uma forma prolífica em todas as formas, gozou de imensa popularidade no seu tempo, tendo sucedido a Mozart no seu posto na corte da Áustria em 1792.

(15)

são agradáveis, bem escritas e melodiosas destinando-se a um nível intermédio. Também A. Sterkel14 compôs para um nível médio de dificuldade revelando, no entanto, um estilo mais clássico.

No Romantismo realizam-se inúmeras transcrições de obras teatrais, sinfónicas ou de câmara para piano a 4 mãos. É o apogeu do género, tornando possível adquirir quase todo o repertório na versão de duetos para piano15. Além destas adaptações, o século XIX vê surgir um vasto repertório original para piano a quatro mãos, do qual se destaca a produção de F. Schubert com obras como o Grande Duo op. 140 D812, e a Fantasia em Fá menor op. 103 D617, tendo este autor composto ainda vários Rondós, Variações, Marchas e Danças16. Também nesta época muitos compositores utilizam este género para criarem danças de carácter nacionalista como, J. Brahms com as suas famosas Waltzer op. 39 e Danças Húngaras, Antonin Dvorak, com as notáveis Danças Eslavas ou ainda Edvard Grieg com as Danças Norueguesas. Na Rússia, o folclore proporcionou a vários compositores como P. I. Tchaikovsky ou M. Balakirev inspiração para a realização de arranjos de canções tradicionais.

Com as Six petites piéces faciles op. 3 (1801) de Karl Maria von Weber inaugura-se uma nova forma de abordar as obras a quatro mãos, organizadas em grupos de músicas breves e bastante atractivas para os executantes17, procedimento que seria seguido por vários compositores dos séculos XIX e XX. Dentro da vasta produção legada pelo séc. XIX neste género, destacam-se o Bilder aus Osten op. 66 de R. Schumann, as Trois marches de C. V. Alkan18, o Bal costumé de A. Rubinstein e as Lendas op. 59 de A. Dvorák. Na transição do século sobressaem as Trois morceaux en forme de poire de E.

14

Abbé Sterkel (1750 – 1817), músico amador e sacerdote alemão, compôs sinfonias, música coral e de câmara, assim como para piano e canções.

15

HENRIQUE (1999) Instrumentos Musicais

16

ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano

17

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980

18

Charles Valentim Alkan (1813 – 1888) Pianista virtuoso francês, respeitado por Liszt, Chopin, e outros contemporâneos. Compôs estudos, prelúdios e outras obras de concerto de bravura.

(16)

Satie, as duas Suites, Petite suite de 1889 e as magníficas Six épigraphes antiqúes de 1914 de Claude Debussy e, por fim, a Suite Provençale de Darius Milhaud. Alguns compositores franceses desta época evocaram, na composição das suas suites, recordações da infância, resultando num repertório com elevada qualidade que vem sendo executado com bastante regularidade até aos dias de hoje. Destacam-se Jeux d’enfants op. 38 de G. Bizet, Dolly op.56 de G. Fauré, Ma Mère l’Oye de M. Ravel e ainda La nursery de D. E. Inghelbrecht19. O segundo tipo de dueto – para dois pianos – parece ter o seu início também em Inglaterra, com uma pequena obra de G. Farnaby que consta no Fitzwilliam Virginal Book20. Até 1720 a produção de obras neste tipo é quase inexistente, embora F. Couperin e B. Pasquini tenham dedicado alguma atenção a este género21. Somente com os trabalhos dos três filhos de Bach – Wilhelm Friedemann, Carl Philipp Emanuel e Johann Christian – os duetos para dois pianos adquirem um novo fôlego. M. Clementi compôs duas sonatas e W. A. Mozart a Sonata K448/375ª e a Fuga K426 a que podemos acrescentar algumas obras de J. Dussek e de N. Jomelli.

Na época de L. V. Beethoven e F. Schubert o interesse por este tipo de composição foi menor, sendo preciso esperar pelo alto Romantismo para que o interesse fosse reatado. F. Chopin compôs o Rondo op. 73, uma obra póstuma e rara na sua forma, uma vez que o primeiro piano é mais difícil que o segundo. Segundo Rowland, F. Chopin queria executá-lo com um amigo menos dotado22. F. Liszt fez arranjos de obras suas e de outros compositores para dois pianos. Também os concertos de piano eram publicados numa versão para estudo, com a parte da orquestra transcrita para um segundo piano. Existem igualmente outras obras como é o caso de Andante e Variações op. 46 de R. Schumann que

19

Désiré-Émile Inghelbrecht (1880 – 1965), maestro francês, compôs ballets, obras corais e orquestrais, música de câmara e para piano.

20

DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Giles Farnaby (c. 1565 – 1640) compositor inglês, sobrevivem da sua autoria 54 obras para teclado, 20 canções e 9 salmos.

21

MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers

22

(17)

originalmente tinha partes para dois violoncelos e uma trompa, ou ainda algumas obras de J. Brahms como Variações sobre um tema de Haydn op. 56b com o seu equivalente orquestral e a Sonata em Fá Menor op. 34b que existe também como Quinteto de piano, em versões para dois pianos.

Além destas obras de grande renome referem-se também pela sua inegável qualidade, três conjuntos de variações – op. 86, op. 96 e op. 132a – de Max Reger que revelam uma escrita de excepcional riqueza, as Variações sobre um tema de Beethoven op. 35 de C. Saint-Saëns, um dos seus melhores trabalhos, e o Scherzo op. 87 do mesmo autor que também gozou de certa fama23. Obras como En Blanc et noir de C. Debussy, Sonata de I. Stravinsky, Sonata para dois pianos e Percussão de B. Bartók, duas Suites de S. Rakhmaninov, Sonata de P. Hindemith, Visions de l’amen de O. Messiaen e Sonata de H. Martelli24 contam-se entre as maiores realizações neste género na música do século XX. E. Chabrier também contribuiu para o desenvolvimento deste género com Trois valses romantiques (1883) que reflectem o seu estilo efervescente e humorístico e G. Ropartz escreveu a obra Pièce en si mineur (1894) notável pela diversidade rítmica, melódica e harmónica, uma expressão intensa e uma sólida construção que revela influências de C. Franck25. Obras como a Suite de A. Arensky26, Scaramouche de D. Milhaud e Infante de A. Bax, assim como as suas pequenas obras para dois pianos, tornaram-se muito populares27. Como curiosidade, referira-se que E. Grieg acrescentou um segundo piano a três sonatas de Mozart: K533/494, K545 e K283, à Fantasia K475 e à Sonata K457, utilizando o seu estilo característico.

23

MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers

24

Henry Martelli (1895 - ), compositor francês. O seu estilo é neo-clássico e dotado de uma certa austeridade. A sua obra inclui música orquestral, para rádio e teatro, de câmara, de ballet e óperas.

25

MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers

26

Anton Arensky (1861 – 1906), compositor russo, aluno de Rimsky-Korsakov, compôs num estilo lírico semelhante a Tchaikovsky.

27

Arnold Bax (1883 – 1953), compositor inglês. A sua obra é composta por música de orquestra, de câmara, vocal, coral, canções e para piano. A sua obra revela um equilíbrio entre diatonismo e cromatismo.

(18)

Como obras modernas de grande qualidade poderemos citar as sonatas de H. Genzmer28 e A. Cooke29, variações de M. Roberts30 e G. Bush31, a Suite op. 6 de L. Aubert32, Introdução e Fuga de Vaughan Williams e as obras de F. Martin33, K. Hessenberg34, G. Tailleferre35, L. Berkeley36 e J. Wyttenbach37. Pelo seu turno as obras de J. Cage e C. Cardew38 representam a vanguarda neste campo. Com intuitos marcadamente pedagógicos, há poucos exemplos a apontar, se exceptuarmos os arranjos de B. Bartók de algumas das suas obras do Mikrokosmos, ou ainda as obras fáceis que C. Gurlitt39 e outros autores compuseram.

28

Harald Genzmer (1909 - ), compositor alemão e professor, compôs num estilo neo-clássico influenciado por Hindemith. Entre as suas obras contam-se: concertos, obras orquestrais, música de câmara e para piano.

29

Arnold Cooke (1906 - ), compositor e professor inglês. Estudou com Hindemith, cuja forma de compor o influenciou. As suas obras incluem música orquestral, vocal, de câmara e para piano.

30

Mervyn Roberts (1906 - ), compositor e professor de origem galesa. A sua produção artística é enorme e a mais importante destina-se ao piano, mas também escreveu música de câmara, coral e canções. A sua escrita é cromática mas tonal dentro da tradição de A. Bax e da Irlanda.

31

Geoffrey Bush (1920 - ), compositor inglês, a sua música é tonal e as suas melodias são de inspiração vocal mesmo nas obras instrumentais. Compôs óperas, música coral, canções, para orquestra, música de câmara e para piano.

32

Louis Aubert (1877 – 1968), Compositor francês aluno de Fauré. Escreveu música orquestral, canções, música para piano e a Ópera A Floresta Azul, que é uma história de encantar. O seu estilo revela afinidades com Ravel e Debussy.

33

Franck Martin (1890 – 1974), de origem suíça foi compositor e professor, definiu um estilo muito pessoal combinando elementos latinos e germânicos. Stockhausen foi seu aluno em composição.

34

Kurt Hessenberg (1908 - 1994), compositor alemão. A sua obra revela um estilo neo-clássico e contrapontístico com livres dissonâncias. Escreveu música orquestral, de câmara, vocal, para órgão, para piano e uma ópera.

35

Germaine Tailleferre (1892 - 1983), pianista francesa, membro do grupo de “Os seis”. Compôs ballets, óperas, canções, música orquestral, música de câmara e para piano.

36

Lennox Berkeley (1903 – 1989), compositor inglês. O seu estilo é lírico com influências da escola francesa moderna e de Stravinsky. Compôs óperas, canções, música de filme, orquestral, coral e para piano.

37

Jurg Wyttenbach (1935 - ), compositor, pianista e professor suíço. A sua obra começará sobre influência de Bartok e Stravinsky para depois evoluir no sentido de uma maior expressão dramática e inclusão de ideias serialistas e da forma da variação. Obra: música coral, orquestral, vocal, de câmara e para piano.

38

Cornelius Cardew (1936 - 1981) compositor inglês. A sua obra revela as tendências da música de vanguarda. Trabalhou com Stockhausen e conheceu Cage. Compôs música orquestral, de câmara, vocal, para grupos indeterminados e obras literárias.

39

Cornelius Gurlitt (1820 – 1901), pianista, organista e compositor alemão, compôs música atractiva e com propósitos educativos para piano.

(19)

2. Os duetos para piano no contexto da história da música em Portugal

Pareceria evidente que o conhecimento do dueto para piano em Portugal fosse uma realidade na transição do século XVIII para o XIX. Esta afirmação pode ser corroborada por uma obra de Marcos Portugal40 (1762-1830) que se encontra na Biblioteca Nacional: trata-se de um Minuete para cravo a 4 mãos. Além deste exemplo, apenas subsistem os arranjos para piano de Domingos Bomtempo da sua Sinfonia op. 11 e da Marcha do Hino Lusitano op. 10.

Esta escassez de elementos neste período pode não significar a não existência de obras deste tipo, mas a insuficiência de informação a respeito. É certo que a ópera e a música religiosa de estilo operático dominavam o panorama musical português da época, mas há notícias de que uma tradição de concertos públicos e também privados, em que se cultivava a música instrumental para orquestra ou conjuntos de câmara, teve lugar nesta altura41. Consideramos, por isso, que o culto da música instrumental no nosso país nesta época foi, de certa forma, uma realidade, embora sem as condições e nos termos que fizeram com que noutros países este tipo de música suplantasse em importância a música vocal, nomeadamente a de influência italiana que ainda perduraria no nosso país pelo século XIX adentro.

40

Os compositores e obras referidas nestes três primeiros parágrafos foram retirados do catálogo da Biblioteca Nacional disponibilizado pela Internet: http://pesquisa.bn.pt/

41

(20)

No século XIX, também existem alguns testemunhos desta prática como é o caso de uma Sonata em Si bemol a 4 mãos de Joaquim Casimiro Júnior42 (1808-1862) publicada em 1838, e um fragmento das Lições de piano improvisadas em Dó Maior, publicadas entre 1835 e 1862. Também de Joaquim Silvestre Serrão43 chegou a obra Os Aliados da Crimeia – múzica para piano solo ou dois pianos – entre os anos de 1868 e 1879, em Paris. André Navarro, que terá morrido cerca de 1900, deixou um Hino a Nossa Senhora das Graças, para pianoforte a 4 mãos, uma redução efectuada pelo autor e publicada entre 1890 e 1910. Além destes compositores ainda há menção de uma Dança para piano a 4 mãos de Sérgio Bettencourt Sampaio (c. 1900), de uma Abertura para piano a 4 mãos de Alfredo Cipriano Gazul (1844-1908), de um Quinteto (pequeno) para piano a 4 mãos, 2 violinos e uma flauta, publicada em 1854, de autoria de Manuel Inocêncio Liberato dos Santos44; D. J. dos Santos45 ( -1855) compôs a obra Danças quadrille de contradanses piano a 4 mãos, organizada em quatro conjuntos numerados.

As obras aqui enumeradas mostram que este género era utilizado de várias formas: quer como produção original, quer como transcrição de obras dramáticas, religiosas ou orquestrais, prática que, como foi enunciado no primeiro capítulo, era corrente na música europeia. E apesar de constarem apenas estes elementos, não é de excluir o facto de que ainda muitas obras estejam na obscuridade de bibliotecas, espólios dos compositores ou na posse de particulares que desconhecem o seu conteúdo. Portanto não é de todo errado afirmar que esta prática dos duetos estivesse na realidade mais difundida em todo o país

42

Joaquim Casimiro Júnior (1802 – 1862), organista e compositor português, filho de Joaquim Casimiro da Silva. Compôs sobretudo obras religiosas e teatrais num estilo marcadamente italiano, encontrando-se actualmente esquecidas do grande público.

43

Padre Joaquim Silvestre Serrão (1801 – 1877), compositor e organista português. Foi muito considerado como compositor de música de igreja e como organista nos Açores. As suas obras revelam influência do estilo teatral italiano em voga no século XIX.

44

Manuel Inocêncio Liberato dos Santos (1805 – 1887), organista e compositor português, gozou de protecção da corte de D. Miguel a D. Luís. Escreveu música religiosa para a capela real e três óperas.

45

Duarte Joaquim dos Santos ( - 1855), organista, pianista e compositor. Efectuou concertos em Lisboa e Porto e em 1826 mudou-se para Londres como docente, tendo como aluna a futura rainha D. Maria II. No final da vida mudou-se para a ilha da Madeira onde compôs música religiosa.

(21)

durante o século XIX, pois o piano tinha cada vez mais aceitação em Portugal46 e, portanto, este factor pode ter funcionado como estímulo para a criação de obras destinadas apenas ao piano e, entre elas, os duetos para piano. Contudo são apenas hipóteses que carecem de comprovação, pelo que seria interessante levar a cabo um estudo nesta área para salvaguarda deste repertório e da sua repercussão na história da música portuguesa. Um facto singular a atestar que este modelo se encontrava difundido no meio musical português é o de que aquando da vinda de F. Liszt a Portugal, o pianista se apresentou no Teatro S. Carlos, em 1845, tocando com João Guilherme Daddi a dois pianos, uma obra de F. Liszt47.

Até meados do século XX os duetos parecem ainda não despertar grande interesse nos compositores nacionais, excepção feita a Vianna da Mota que aborda pela primeira vez, de que há conhecimento, este género na sua vertente para a infância, como é o caso das suas 6 peças fáceis Erinerungen. Para níveis mais avançados, Vianna da Mota compôs ainda mais três obras: Ein Dorffest (1885), Recordações op.7 (1885) e uma Fantasia sobre a ópera de Meyerbeer “Robertm le Diable” op. 42, para piano a 6 mãos (1881). Há ainda notícias de duas obras extraviadas: Suite op. 6 (1885) e Sonata (1893) com uma parte de violino48.

49

Contudo, a partir de meados do século XX, os duetos para piano mereceram a atenção de numerosos compositores, aumentando de forma significativa a produção nacional deste tipo de obras. Assim, pode-se referir a obra Paris 1937, para dois pianos, de Fernando Lopes Graça, de Fernando Correia de Oliveira o Tríptico op. 13, para piano a 4 mãos e 1 percussão, Nocturnos op. 29 e Sonata op. 41 para 2 pianos. De Maria Lurdes

46

BRITO e CRANMER (1990) Crónicas da Vida Musical Portuguesa na Primeira Metade do Século XIX

47

BRITO e CYMBROM (1992) História da Música Portuguesa

48

As obras de Vianna da Mota foram retiradas do livro José Vianna da Mota 50 anos depois da sua morte 1948-1998 (1998)

49

As obras enumeradas no presente parágrafo foram retiradas do livro Invenção dos sons de Sérgio Azevedo (1998)

(22)

Martins chegou até nós Dança (1949) para dois pianos. Continuando nas obras para dois pianos, salienta-se as Figurações III (1969) e o Stretto (1987) ambas de Filipe Pires, o Intermezzo IV a/b (1993) de Álvaro Salazar e as Confluências I (1997) de Cândido Lima. António Victorino D’Almeida também dedicou quatro obras para o género de dois pianos: Dia de Mercado op. 11, Pantomina op. 13, Concerto de pífaro e fungagá op. 14 e Páscoa no Minho op. 15. Verifica-se portanto nos compositores portugueses uma predilecção pelos duetos para dois pianos, confirmada ainda pelas obras dos seguintes autores: Badim (1992) de Amílcar Vasques Dias, Para dois pianos (1986) de António Sousa Dias, Reminescences, Rêves (1991) de Pedro Rocha, Sonata (1996) e Concertino (1996) de Sérgio Azevedo. Este último compositor, na obra Romance da Raposa (1997-99), dedica uma das partes ao piano a 4 mãos. Pode-se ainda referir a obra Collage (1962-65) de Jorge Peixinho, o Nocturno no cabo do mundo (1993), Para 3 pianos e harmónicos (1967) para um ou mais pianos e dispositivo de ecos (magnetofones).

Em relação às obras didácticas para piano a 4 mãos, a lista é substancialmente menor, constituída apenas pelo Presto op. 11 de Fernando Corrêa de Oliveira, pelos 3 Estudos para jovens (1960-64) de Cândido Lima, pelo Caleidoscópio (1987-98) de Sérgio Azevedo de que fazem parte 8 pequenas peças e ainda as duas obras, Suite Veraneja e Cubana, esta última para piano a 6 mãos. Para finalizar mencionemos a peça Martelinhos de Vitória Reis, esta última escrita, também, para piano a 6 mãos.

No espólio do compositor Eurico Thomaz de Lima50 sobrevivem numerosos programas de audições onde constam obras a quatro mãos de autores portugueses destinados a vários níveis, incluindo obras suas, pelo que a execução das obras de outros autores pode ter influenciado as composições do próprio Eurico Thomaz de Lima. Do levantamento efectuado deparamos com as seguintes referências:

50

(23)

De Hernâni Torres, encontramos mencionadas duas pequenas valsas – Lucianinha e Branquinha, duas discípulas do autor, e também obras mais elaboradas para este género: O Vira, Valsa, Mazurka em Lá menor op. 6 n.º 1 e Rapsódia sobre motivos portugueses. Frederico de Freitas compôs duetos a quatro mãos para a infância com títulos sugestivos evocativos da infância como foi referido anteriormente: Tia Alice, O relógio, Carrocel, O burrinho trabalhador e Giroflé-flé-flá, ou ainda situações inusuais tal como a obra Tocam as pretinhas, sendo esta última retirada de O Livro da Maria Frederica. Também Gonçalves Simões dedicou algumas das suas obras a quatro mãos para a infância, como é o caso de Corridinho e Burrinho Toc-toc.

Em relação aos restantes compositores que aparecem no espólio, podem não ter composto os duetos para a infância, mas contribuíram com certeza para o desenvolvimento deste género com obras mais elaboradas. Ivo Cruz compôs Cortejo e Dança da Amadis, Minuete e Ritornello e Minueto. De Ruy Coelho chega-nos Alfama, Dança do Norte e Valsa Rústica. Claúdio Carneyro também abordou este género com as obras Cantar d’Amigo, Guajira, Dança Japonesa, Mote popular e Vito, assim como Hermínio do Nascimento com a Suite n.º 2 Quioca. Para finalizar esta breve lista, falta mencionar duas obras, Canção de Goa de Luís Varella-Cid e Vira de Rey Colaço.

A abordagem deste género não foi realizada de forma sistemática pelos compositores portugueses, embora apareçam bastantes obras com propósitos e características diferentes, e pertencentes a várias épocas, pelo que se conclui que a prática dos duetos não foi tão escassa como pode aparecer à primeira vista. É verdade, que existem poucas publicações e, desta forma, muitas obras permanecem manuscritas e esquecidas do grande público. Porém, a sua execução acontecia em bastantes recitais, a avaliar, por exemplo, pelas inúmeras referências que constam nos respectivos programas que podemos encontrar no espólio de Eurico Thomaz de Lima.

(24)

Aos duetos portugueses falta, no entanto, alguma coerência relativamente à evolução deste género, bastante dispersa e quase ausente no século XVIII, e apenas um pouco melhor no século seguinte. É verdade que ao longo do século XX se assiste a uma maior produção, mas, como não existe uma tradição continuada, não é possível ainda determinar quais as grandes linhas da evolução deste género no nosso país.

(25)

3. A literatura para piano a quatro mãos destinada à infância

51

O interesse pedagógico das obras para piano a quatro mãos tem merecido a atenção de bastantes compositores ao longo dos últimos séculos. Da produção de obras para a infância com esta função, destacam-se três tipos diferentes:

- Os Estudos e Exercícios Técnicos: cujos maiores representantes são C. Czerny, H. Köhler e H. Wohlfahrt. As obras destes compositores são familiares a todos os estudantes de piano e constituem uma preciosa ajuda para o desenvolvimento da técnica de tocar em dueto. Estes trabalhos são curtos, assim como outros similares dos compositores do século XIX e XX, mas fornecem os elementos necessários para o desenvolvimento musical em geral e para a prática da música de conjunto em particular.

- As obras com partes desequilibradas: neste caso apenas uma das partes se destina à criança, enquanto a outra parte é assegurada pelo professor ou por alunos mais experientes. Este modelo concentra uma parte substancial da produção da literatura para piano a 4 mãos destinada à infância, particularmente no formato em que o primeiro piano se destina à criança. São exemplos desta forma de composição: Teacher and pupil, oito duos para instrução e recreação, op. 26 1869-1897 de W. Mason52; Dialogues (Marche,

51

Este capítulo foi elaborado com base nas informações do livro de MCGRAW (2001), e apenas desenvolve os assuntos relacionados com os duetos onde os pianistas partilham o mesmo teclado.

52

William Mason (1829 – 1908), pianista e compositor, estudou com Moscheles e Liszt, as suas obras revelam uma escrita refinada dentro do estilo do século XIX.

(26)

Menuet, Quiétude, Valse) de 1958 compostas por A. Ferté53, obras pedagógicas atractivas, em linguagem tradicional e apurada; Quinze protraits d’enfants d’Auguste Renoir de J. Françaix54, publicada em 1971, obras curtas, inspiradas nos retratos de Auguste Renoir, em estilo francês, e onde cada peça está acompanhada por uma imagem cujo título fornece também o título da música, e ainda o álbum Beginner and teacher s.d. de M. Jacobson55. As pequenas variações de J. Haydn intituladas Il maestro e lo scolare, destinadas ao professor e ao aluno também se incluem nesta categoria.

Dentro deste género há que assinalar um tipo de composição específico, onde a parte destinada à criança apenas se serve de cinco notas e que constitui uma parte significativa deste tipo de obras. Muitos compositores utilizaram os seus maiores recursos artísticos e musicais na composição deste género musical popular, que parece ter sido desenvolvido inicialmente por Anton Diabelli. Os exemplos são inúmeros, pelo que faremos apenas alusão a algumas obras e compositores: B. Damcke56, que compôs a Sonatine sur le cinq notes de la gamme, editada em 1876; C. Reinecke57 e os seus 12 Clavierstücke op. 54 de 1857; H. Berens58 criou a obra intitulada Melodische Uebungsstücke, op. 62 de 1861; de R. Friml59 subsiste a obra Musical adventures for four little hands (Wishing moon; in magic land; Chatterbox; Blue fairy; Foxy Kitten) publicada em 1925, com pequenas peças atractivas e pedagógicas; Cesar Cui (1835-1918) que compôs obras de pequena dimensão, fáceis, imaginativas e com harmonias inusitadas e

53

Armand Ferté (1882 – 1973), pianista e professor francês de renome, tendo dotado uma parte da sua produção pianística de propósitos educativos.

54

Jean Françaix (1912 - ) pianista e compositor francês. A sua obra manifesta influência de Stravinsky, mas também revela a claridade da música francesa, engenho, espontaneidade e uma restrição clássica.

55

Maurice Jacobson (1896 – 1976), compositor, pianista, pedagogo e editor inglês. Os seus trabalhos foram escritos num estilo conservador e inclui música de ballet, orquestral, coral, música de câmara e bastantes obras para piano.

56

Berthold Damcke (1812 – 1875), violoncelista e professor alemão amigo de Berlioz. Compôs oratórios, canções, obras para piano.

57

Carl Reinecke (1824 – 1910), compositor alemão de obras orquestrais, concertos, música de câmara óperas e música de piano num estilo romântico influenciado por Mendelssohn e Schumann.

58

Hermann Berens (1826 – 1880), compositor e pianista sueco de origem alemã, compôs óperas, música incidental, canções e para piano.

59

Rudolf Friml (1879 – 1972), pianista e compositor checo, com residência nos EUA. A sua música de piano é leve e melodiosa tal como as suas famosas operetas Rose Marie e The Vagabond King.

(27)

especialmente felizes na escrita para ambas as partes que intitulou Ten pieces on five notes op. 74 de 1906; Ettore Pozzoli60 que também criou obras destinadas às crianças neste molde, Sorrisi infantili publicadas em 1948 e 1968 – 23 obras curtas, melodiosas num idioma compacto e tradicional e J. Andriessen61 com o seu Kayhenka’s music book (5 peças fáceis) s.d., pequenas obras onde o primeiro piano é de fácil execução, enquanto que o segundo apresenta maiores dificuldades técnicas. A sua escrita cuidada e correcta faz com que as notas exclusivas nas teclas brancas do primeiro piano se misturem com as atractivas harmonias do segundo de uma forma original.

Mais difícil de encontrar é a estrutura em que a parte infantil se encontra no segundo piano e especialmente quando se serve apenas de cinco notas. Porém, permanecem algumas obras das quais destacamos: 59 Täglische Studien über die Harmonisierten Scalen op. 107 de I. Moscheles (1794-1870), escalas com vários ritmos acompanhadas pela parte harmonizada do primeiro piano. O resultado é agradável além de estimular o estudo das escalas; Também M. Moszkowsky (1854-1925) compôs Le maître et l’élève, 8 morceaux (Prologue, Moment musical, Mélodie, Air de Ballet, Arabesque, Berceuse, Valse, Tarantelle) s.d., em que o segundo piano apenas utiliza cinco notas; F. Maxson62 nas 5 Melodious duets op. 7 de 1890 também se serve apenas de cinco notas. Mais insólito é o caso de I. Stravinsky com as suas Três peças fáceis de 1915, em que a segunda parte é quase absurdamente simples, consiste num padrão de 2 ou 3 notas repetido do início ao fim de cada peça. A Marcha é dedicada a A. Casella, a Valsa a E. Satie e a Polka a S. Diaghilev.

60

Ettore Pozzoli (1873 – 1957), pianista italiano, professor e autor de obras pedagógicas e teóricas. A sua obra inclui música coral, de câmara, orquestral e para piano.

61

Juriaan Andriessen (1925 - ), pianista e compositor alemão, as suas obras sofreram influências de Stravinsky e da escola francesa. Compôs música de filme, de câmara, concertos, obras para orquestra e piano.

62

Frederik Maxson (1862 – 1934), organista norte-americano, compôs anthems, canções e obras para órgão e piano.

(28)

- As obras com partes equilibradas: constituem um repertório em que ambas as partes podem ser interpretadas por dois jovens pianistas. Este tipo foi, de longe, o mais empregue por todos os compositores, de uma forma consistente mantendo-se actualmente um enorme interesse por este género. As melhores contribuições manifestam-se nas melodias bem delineadas, harmonias variadas, atractivas e construídas nas mais diversas formas e estilos, desde o mais tradicional até ao vanguardista. As partes encontram-se bem distribuídas, atingindo o duplo objectivo de divertir e ensinar. Salientam-se: Sonatina (anónimo, de finais do século XVIII) – uma obra num único movimento em estilo clássico; as 12 Valses op. 27 e 28 de J. C. H. Rinck63 (1809) que constituem um encantador conjunto de graciosas valsas; dois conjuntos intitulados A little concert (36 obras em dois livros) de 1914 e Tunes for two (10 obras com títulos muito sugestivos, apelativas e num estilo convencional) de 1925 compostas por A. Carse64; Ten little duets de 1922 de H. G. Kinscella65; Musical Miniatures (Barcarolle, Hop, Skip and jump, Pastorale dance, Peasant dance, Reverie rondino) de S. Applebaum66 de 1953; Zkratky, conjunto de 10 obras publicadas em 1963 por M. Kopelent67 e de Alain Auda68 chega uma colectânea intitulada Pour les petites personnes, peças fáceis em todos os tons, destinadas ao primeiro nível de ensino, e compostas em 1973.

Ainda dentro deste esquema de composição podem-se encontrar obras onde ambos os executantes se servem de cinco notas, embora os compositores não dispensassem muita atenção a esta forma: Tunes for two (The japanese toy man; Trailing moon vine; The quick

63

Johann Christian Heinrich Rinck (1770 – 1846), compositor, organista e professor alemão. Escreveu para órgão, música sacra coral, música de câmara e obras pedagógicas para piano.

64

Adam Carse (1878 – 1958), professor inglês, escreveu sobre a música e também obras orquestrais, música de câmara e música destinada a práticas pedagógicas.

65

Hazel Gertrude Kinscella (1895 – 1960), musicóloga e compositora norte-americana. Escreveu extensivamente sobre a música na América. A sua obra inclui música coral e para piano.

66

Stanley Applebaum (1922 - ), compositor americano, maestro e produtor.

67

Marek Kopelent (1932 - ). Compositor checo. Escreveu música orquestral, de câmara, para piano e para a infância

68

Alain Auda (1942 - ), compositor francês. A sua obra inclui música para piano, religiosa, para órgão, ballets, canções, marchas, filmes e para a infância.

(29)

step; The clock man; The sunrise trail; Row, brother, row!; The maid in green; The old-time fiddler) composta por D. Blake69 em 1925 e Zpevem a tancem de 1954, escrita por O. Sin70, conjunto de oito obras muito fáceis, com melodias bem elaboradas e ritmos agitados. As obras aqui enumeradas encontram-se, na sua maior parte, estruturadas em pequenos conjuntos tal como fez K. M. V. Weber. Porém, persistem também obras isoladas de qualquer contexto, publicadas separadamente, como: Song for Kathleen de 1955 de A. M. Procter71, ou ainda Lullaby de 1951 e Happy go lucky s.d. da mesma autora; Light Heart s.d. de F. Swinstead72 e Legend de 1950 de C. M. Campbell73, obra imaginativa com influências modais e uma harmonia fora do comum.

Uma constante neste tipo de obras destinadas à infância é a recorrência a títulos que reflectem de algum modo o imaginário infantil, os seus ambientes, brincadeiras e situações familiares. Com esta prática pretenderam, de certa forma, cativar os mais pequenos, ou aproximar os seus trabalhos à mentalidade das crianças, de forma a proporcionar o gosto pelo instrumento, mas sem perder de vista os ideais pedagógicos. As obras que a seguir se mencionam são disso exemplo: S. A. Emery74 compôs An evening at home, oito obras fáceis e apelativas (Before the fire, a story of the war, the sister plays, the mother’s story, children and Kittens, the sleeping boy, evening song, quiet rest) op. 26 publicadas em 1870; A. Gretchaninoff75 publicou em 1926 a suite On the green meadow (On the green meadow; Mother’s song; Ballad; Lost in the woods; On a walk; Spring morning; Fairy

69

Dorothy Blake (1893 - ), professora e pianista norte-americana. Compôs canções e obras pedagógicas para piano.

70

Otakar Sin (1881 – 1943), professor e compositor checo, escreveu livros de teoria musical. O seu estilo musical é influenciado pela música folclórica checa.

71

Alice McElroy Procter (1915 - ), pianista e compositora norte-americana, estudou no Smith College e no Eastman School of Music. Escreveu um excelente número de obras para piano destinadas à educação.

72

Félix Swinstead (1880 – 1959), pianista inglês e professor, compôs principalmente músicas pedagógicas destinadas ao piano num estilo conservador.

73

Colin Macleod Campbell (1890 – 1953), compositor inglês e maestro. Escreveu óperas, ballets infantis e música para piano.

74

Stephen Albert Emery (1841 – 1891), organista alemão, compôs uma ópera, música sacra e muitas obras pedagógicas para piano.

75

Alexander Gretchaninoff (1864 – 1956), compositor russo aluno de Rimsky-Korsakov e residente nos EUA. Compôs óperas, música litúrgica, sinfonias, canções e para piano. Cultivou um estilo germânico pós-romântico.

(30)

tale; In the village; In the mountains; Serenade) op. 99, uma obra bastante atractiva, com partes perfeitamente equilibradas; De L. Aubert76 conhece-se Feuille d’images – cinq pièces enfantines (Confidence, Chanson de route, Sérénade, Des pays lointains, La danse de l’ours de peluche) publicadas em 1930; N. Dello Joio77 publica em 1962, Family Album (family meeting, Play Time, Story time, Prayer Time, Bed Time).

Outra particularidade destas composições para a infância é o recurso ao folclore como base da criação ou inspiração artística. O seu objectivo prende-se com a valorização deste património cultural por parte da criança, e também pela consciencialização de práticas musicais alternativas, diversificadas e válidas, proporcionando uma perpetuação das antigas tradições musicais e sua inserção nos modelos actuais. Nesta categoria também se incluem numerosos compositores, podendo-se destacar os seguintes: G. G. Lobachëv78 que compôs Seven songs of diffrent peoples op. 20 de 1926, melodias de vários grupos étnicos soviéticos com arranjos peculiares; R. Alexandrescu79 compôs trei piese usoare pentru pian la patra Mîini de 1957 – três peças fáceis para piano a 4 mãos, pequenas e encantadoras, baseadas nas canções folclóricas da Roménia; W. Scher80 compôs A Chinese fairy tale s.d., trabalho curto empregando clichés da música oriental; De A. Rowley81 conhece-se a obra Bergerettes, com quatro músicas baseadas no folclore francês.

Além destas características aqui enumeradas, certas obras apresentam algumas particularidades cujo objectivo só poderia ser o de facultar à criança uma visão mais ampla

76

Ver descrição anterior.

77

Norman Dello Joio (1913 - ), compositor, pianista e organista norte-americano. Estudou com Hindemith e compôs num estilo lírico neo-clássico. Também se interessou pela música da liturgia católica.

78

Grigorii Grivgorevich Lobachëv (1888 – 1953), compositor russo que escreveu canções, música de câmara, obras para coro e orquestra sobre temas Soviéticos e composições pedagógicas.

79

Romeo Alexandrescu (1902 - ), compositor romeno, pianista, musicólogo e professor.

80

William Scher (1900 - ), compositor norte-americano com uma prodigiosa quantidade de obras pedagógicas previsíveis e sóbrias num estilo conservador, mas apelativas, atractivas, úteis e do agrado do executante.

81

Alec Rowley (1892 – 1958), pianista, compositor e autor dos primeiros guias em inglês para as obras a quatro mãos. A sua obra é extensa, nomeadamente a que foi composta para o género dos duetos para piano, que reflectem a sua experiência como professor de grande mérito. Desde o mais elementar até ao nível de dificuldade médio, os seus duetos são sólidos, atractivos, contém técnicas de execução diversificadas e possuem um idioma harmónico tradicional e refinado.

(31)

da interpretação pianística, das suas possibilidades e das inúmeras explorações técnicas e tímbricas e a sua respectiva infindável busca expressiva. Os seguintes exemplos ilustram esta situação: G. Shaw82 compôs 6 Black key duets publicados em 1938. São duetos de características pedagógicas, cuidadosamente arranjados e gratificantes para quem os executa; Ruth Perdew83 (1912-) criou o Penguin chatter, publicado em 1972, uma obra curta, caracterizada pela politonalidade e por sonoridades pouco convencionais e Dorian dance (1972), com uma melodia em modo dórico no primeiro piano, enquanto o segundo realiza um acompanhamento rítmico e combinações tonais pouco frequentes, mas eficazes; compôs ainda Whistle Tune, publicada em 1977, uma obra alegre e bem-humorada que utiliza a escala pentatónica. C. Poole84 vai mais longe, na obra Clapping song, de 1965, alternando fragmentos melódicos com palmas ritmadas de belo efeito e na sua obra Conga domina também o elemento rítmico.

82

Geoffrey Shaw (1879 – 1943), músico, organista e pedagogo inglês. A sua obra compreende música de igreja, para órgão, orquestral, coral e para piano.

83

Ruth Perdew (1912 - ), compositor e professor norte-americano. Dedicou uma parte da sua música a finalidades pedagógicas de forma excepcional.

84

Clifford Poole (1916 – 2003), pianista, compositor, professor e maestro canadiano. Compôs bastantes obras destinadas à infância para piano.

(32)
(33)

1. Uma cronologia e biografia de Eurico Thomaz de Lima

1.1 Cronologia

ANO VIDA OBRA

1908

1910

1914

1921

1924

Eurico Thomaz de Lima nasce na cidade de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, no dia 17 de Dezembro. Filho de António Thomaz de Lima – violinista, compositor, chefe de orquestra, professor no Conservatório Nacional de Música de Lisboa – e de Maria Ernestina Santos Lima.

Vem muito cedo para o continente, com apenas 18 meses de idade.

Frequenta o Conservatório Nacional de Música, sendo discípulo dos Mestres: Alexandre Rey Colaço e Vianna da Mota nas Classes de Piano, de Luís de Freitas Branco em Estética, Acústica e História da Música, de Hermínio do Nascimento em Composição e de Fernando da Costa Pereira em Solfejo.

O seu nome surge pela primeira vez na primeira audição dos alunos do Conservatório Nacional de Música no dia 5

Primeiros improvisos musicais (com 5 anos e 4 meses) anotados pelo pai;

(34)

1925

1926

1927

1928

de Maio, interpretando duas obras: 1.º Andamento da Sonata em Mi menor de J. Haydn e Estudo em Ré menor de S. Heller.

Em 7 de Junho na festa de distribuição de prémios, no Asilo D. Pedro V, o jornal “Diário de Notícias” de Junho, apelida-o de “Exímio artista”.

No dia 2 de Dezembro Thomaz de Lima actua no Teatro de S. Carlos interpretando Fantaisie-Impromptu de Chopin recebendo grandes aplausos e ovações por parte do público e dos meios de comunicação.

A Sociedade Nacional de Música de Câmara de Lisboa convida Thomaz de Lima para uma série de concertos. O primeiro em 1926, e os restantes em 1929, 1931 (2 vezes), 1935, 1937 (recital com obras do compositor e 1939 (recital com obras de F. Chopin).

Colabora em “Uma hora de Arte”, recital de música erudita dedicado aos operários de Lisboa e realizado no Asilo-Escola António Feliciano de Castilho. Esta participação vai-se estender aos anos de 1928, 1930 (2 vezes), 1931 (4 vezes) e 1936.

No ano lectivo de 1928/1929 faz parte da classe de piano de virtuosidade do professor Vianna da Mota.

Em Maio, nas audições do Conservatório Nacional, é novamente distinguido com as mais altas considerações pelos jornais e revistas da época (O Século – 8 de Maio, A Lira – Abril).

No exame de 9.º ano (3.º ano do curso superior) é-lhe atribuída a máxima classificação “Distinção e Louvor” em Virtuosidade, atribuída pela primeira vez

Nocturno op. 1, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano;

(35)

1929

1930

1931

naquele estabelecimento de ensino.

Adquire o diploma de Professor particular da disciplina de Piano, concedido pelo Ministério de Instrução Pública – Direcção Geral de Belas Artes a 14 de Março.

Apresenta no 12º concerto da Associação Académica do Conservatório Nacional de Música quatro obras suas: Valsa, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano e Capricho para piano e violino, recebendo muitos elogios.

Thomaz de Lima obtém no exame de Virtuosidade, mais uma vez a classificação “Distinção e Louvor”.

A partir desta data inicia uma série de concertos por todo o país.

No dia 8 de Dezembro dá-se a sua estreia com a orquestra, sendo escolhida a obra de L. V. Beethoven, Concerto em Dó Maior n.º 1 para piano e orquestra, sob direcção do Maestro Fernandes Fão. Este acontecimento constituiu um enorme êxito, valendo-lhe artigos, não só nos meios nacionais de comunicação como também na Revista “Musica” de Barcelona em Janeiro de 1930 e no “Le Courrier Musical” de Paris em Janeiro desse ano.

Pela primeira vez pai e filho apresentam-se num concerto no salão do Conservatório Nacional. Dos inúmeros recitais e concertos que realiza, destaca-se a sua colaboração com o Orfeão Lusitano, num Sarau de Arte no Grémio dos Açores e dois concertos em Coimbra e Porto, sendo muito elogiado e aplaudido.

Na Academia Mozart do Porto realiza um concerto com o seu pai. Também é

Capricho para violino e piano; Valsa para piano;

Estudo em forma de Dança e Estudo de Execução Transcendente em Mi bemol Maior para piano;

(36)

1932

1933

1934

1935

convidado para tocar no Conservatório Nacional e na emissora de rádio TSF.

É convidado pelo Director da Academia de Amadores de Música de Lisboa, Professor Tomaz Borba, para a classe de piano.

Em Janeiro abandona a classe de piano na Academia de Amadores de Música de Lisboa. Assume o cargo de Director Artístico e professor de piano na Academia Mozart do Porto.

No dia 10 de Novembro apresenta pela primeira vez um recital só com composições suas, cuja crítica nos jornais contemporâneos o consagrou como compositor.

A vida musical da Academia impregna-se de um forte dinamismo musical, provocado pelos constantes concertos de Thomaz de Lima. A sua fama levou a que os media estivessem presentes nestes recitais e os gravassem integralmente para serem transmitidos pela rádio: Emissora Nacional, TSF e Invicta Rádio Limitada.

Thomaz de Lima compõe Canto e Amor dedicada ao flautista brasileiro Moacyr Liserra, e apresenta-a em primeira audição a 25 de Abril.

Casa com Ângela Lapa, no Porto, e um ano mais tarde nasce o seu filho com o mesmo nome do compositor. O Padrinho de casamento foi o flautista brasileiro Moacyr Liserra.

Deixa a Academia Mozart, pelo que passa a viver exclusivamente de aulas particulares e dos seus recitais.

No Salão Orfeo, Thomaz de Lima dá um recital de música com obras de Beethoven.

Tema e Variações em Fá Maior, Estudo n.º 1 (Staccato), Estudo em Sol bemol e Fantasia em Sol bemol para piano; Poemeto Heróico para dois pianos;

Estudo n.º 2, 1.ª Sonata, Barcarola e Minuete para piano;

Canto de Amor para flauta e piano; Poema para violino e piano; Dança Portuguesa para piano;

2.ª Sonata e Dança Negra n.º 1 – Angola para piano;

(37)

1936

1937

1938

1939

1940

Também organiza a primeira audição dos seus discípulos no salão do Clube dos Fenianos Portuenses e um recital novamente no Salão Orfeo só com obras da sua autoria.

Realiza-se um concerto para festejar a abertura da Academia Beethoven na cidade do Porto, onde participam os futuros professores dessa instituição; entre eles, Thomaz de Lima, que fica responsável por uma classe de piano.

Thomaz de Lima participa no sarau “Noite da Figueira” na Figueira da Foz radiofundido pela Emissora Nacional. Organiza um concerto no Salão Orfeo, um recital no Primeiro Congresso Açoreano no Casino Estoril e um concerto com composições suas no Clube Fenianos Portuenses.

Realiza um recital com obras de Chopin no Salão Orfeo e um recital com Celso Carvalho – violoncelista – no Salão Orfeo. Sai da Academia Beethoven e no Verão faz uma tournée pelas seguintes localidades: Termas de Vidago, Pedras Salgadas, Gerez e Caldas de Rainha.

É nomeado Chefe das Missões Culturais do Secretariado da Propaganda Nacional nas temporadas de 1940/1941, realizando cento e quatro concertos por todo o país. Nestas digressões participaram nomes importantes do panorama artístico-musical do momento, e nos programas constavam muitas vezes obras inéditas compostas por eles. É o caso

Canção da vida e da Morte para canto e piano;

Balada dos olhos tristes para canto e piano;

Sonatina n.º 1 para piano; Mors-Amor para canto e piano;

Marcha e Improviso sobre canções Populares Açoreanas para dois pianos;

Dança Negra n.º 2 – Angola e Abelhas Douradas para piano; Canção para canto e piano;

(38)

1941

1942

1943

de Thomaz de Lima que apresentou as seguintes obras: Fandango, Minuete, Dança Portuguesa, entre outras. Estas viagens por todo o país permitiriam ao compositor tomar conhecimento do repertório musical local, que iria, em parte, condicionar a sua criação musical.

Nos “Jogos Florais da Primavera” organizados pela Emissora Nacional de Radiodifusão concorreu com a obra Canção para canto e piano, sendo-lhe atribuída uma Menção Honrosa.

Concorrendo aos “Jogos Florais”, alcança desta vez o Primeiro Prémio – Papoila de Ouro”, atribuído por um júri constituído pelos Maestros Pedro de Freitas Branco, Pedro Blanch, Frederico de Freitas e Tomaz Borba.

Compõe a obra Fantasia à memória de Chopin, para homenagear um dos seus autores predilectos.

Participa num concerto em Fafe, no Teatro-Cinema com a soprano Soledade Summavielle. Neste concerto interpreta em primeira audição Algarve – obra para piano em oito quadros e Vira de Ponte de Lima. Estas obras ilustram o interesse pela música Nacional e pelo folclore que os compositores da época nutriam.

No teatro Rivoli do Porto, com a Orquestra Nacional, Thomaz de Lima interpreta o Concerto em Dó menor para piano e orquestra em três andamentos de Júlio do Nascimento, em benefício da Cruz Vermelha Portuguesa.

Fantasia à memória de Chopin e Algarve para piano; Canção e Senhora Quintaneira para canto e piano;

Ó Ribeira, ribeirinha e Vira para canto e piano;

Dança Negra n.º 3 – Angola, Divertimento e Estudo n.º 3 para piano; Dorme, dorme, meu menino e Verde Gaio para canto e piano;

(39)

1944

1945

1946

1947

1948

Participa num concerto no Teatro Jordão em Guimarães e também no Teatro Rivoli no Festival da arte.

Dá-se a criação da Orquestra Sinfónica do Porto, sendo seu titular o Maestro Frederico de Freitas. No primeiro concerto, a 24 de Janeiro, Thomaz de Lima integrando o elenco de instrumentistas interpreta a sua obra Rumba, entre outras de diversos autores. Inicia uma classe de piano, na cidade de Guimarães, onde, durante 18 anos, dirigirá cursos de aperfeiçoamento e interpretação pianística.

No mês de Dezembro no Porto, num recital promovido pela Associação para a paz, Thomaz de Lima interpretou a obra Buchenwald, obra inspirada no drama dos campos de concentração alemães. O seu acolhimento bastante positivo originou a execução desta obra em diversos recitais posteriores.

Em entrevista ao Jornal “Diário do Minho”, o próprio Eurico Thomaz de Lima reconhece-se como um verdadeiro nacionalista, defendendo o nosso rico património musical folclórico genuíno – viras, fandangos e toadas, não aceitando o fado como genuína música nacional.

Em Guimarães apresenta no Salão Nobre do Grémio do Comércio de Guimarães as obras Sonata n.º 2 e Suite Portuguesa.

Em Junho, na mesma cidade, organiza a primeira audição de alunas no salão de festas do Teatro Jordão com visível êxito. Estas audições serão uma constante no final de

Marcha n.º 1 para piano; Fantasia “Depois de uma leitura de Camilo” para piano e orquestra e uma versão da mesma para dois pianos; Triste Cantiga de Amor para canto e piano;

Samba e Buchenwald para piano;

Marianita e Trovas Satíricas para canto e piano; Marianita – arranjo para coro;

Suite Portuguesa n.º 1 e Pantomima Rústica para piano;

Variações Vimaranenses, Sonata n.º 3 e Dança Negra n.º 4 – Angola para piano; Chula do Douro, Valsa para piano a 4 mãos e adaptação do Samba (1945) para dois pianos;

(40)

1949

1950

1951

1952

cada ano lectivo até ao ano de 1962. Devido ao favorável acolhimento das suas obras e do êxito dos seus concertos, Thomaz de Lima compõe a Sonata n.º 3 estreada no Clube Fenianos Portuenses no dia um de Dezembro, e as Variações Vimaranenses sobre o tema do Hino da cidade, executada em primeira audição no dia 1 de Junho de 1949 na cidade de Guimarães.

Executa em primeira audição “Samba”. Realiza, em Setembro, uma “tournée” de concertos pelo Brasil com visível êxito, registado nos meios de comunicação da época e pelos elogios manifestados pela crítica. Recebe do “Liceu Literário Português” e da “Casa do Porto” do Rio de Janeiro, os respectivos diplomas de “Sócio Honorário”.

Execução da obra O Ferreiro para orquestra, no 218º Serão Cultural e Recreativo da FNAT a 5 de Agosto de 1950. Thomaz de Lima participa num sarau de poesia e música no Clube Fenianos Portuenses.

Apresenta um recital dedicado exclusivamente à música brasileira a 5 de Março.

Pela primeira vez actua num recital na Galiza, em Abril, integrado na “Hora da Arte” em Santa Cruz.

Nova digressão pelo Brasil, que consolida o seu prestígio como compositor e intérprete já patente na primeira viagem.

No dia 13 de Agosto grava na rádio Ministério da Educação e Saúde, para a professora da disciplina de “Folclore” na

Valsa para piano a 4 mãos;

2.ª Sonatina, O Ferreiro e Marcha n.º 2 para piano;

Morna n.º 1 – Cabo Verde para piano; Suite Portuguesa para flauta e piano;

(41)

1953

1954

1955

1956

Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro – Henriquets Braga as seguintes obras: Morna n.º 1, Três danças Negras e Coral Alentejano da Suite Portuguesa n.º 1. Meses mais tarde estas composições foram transmitidas pela Rádio Renascença, Estação do Porto.

Sob o patrocínio do Orfeão Valadares Thomaz de Lima participa no “Grande Concerto de Piano”. No âmbito do 12º concerto da Associação Cultural do Norte realiza um recital. Também no Teatro Jordão em Guimarães Thomaz de Lima organiza um recital.

Em 24 de Maio no Porto, no clube Fenianos Portuenses, apresenta seis obras da sua autoria em primeira audição: Sonata n.º 4, Estudo n.º 6, Tocata n.º 3, Pirilampos, Polichinelozinho e a Suite Portuguesa n.º 2.

Thomaz de Lima participa num Concerto no Teatro Aveirenses e realiza um recital no Salão do Clube Fenianos Portuenses e novamente no Teatro Jordão em Guimarães.

No mês de Maio, no Conservatório de Música do Porto, realiza pela primeira vez um recital com a cantora Lucinda da Rocha Barbosa Henriques, onde executa composições suas em primeira audição: Prelúdio e Scherzino e Brasil, esta última com versos do poeta brasileiro Carlos Valle, personalidade responsável pelas suas digressões no Brasil.

Morna n.º 2 – Cabo Verde e Lundum Açoreano para piano; Brasil e Este Lenço em que chorei para canto e piano;

Sonata n.º 4 e Suite Portuguesa n.º 2 para piano;

Prelúdio e Scherzino e Dança para piano; Por tuas próprias mãos para canto e piano;

(42)

1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963

Em Maio, no salão do Conservatório de Música do Porto, realiza um recital das suas composições, sendo uma delas em primeira audição: Fantasia, depois de uma leitura de Camilo, versão para dois pianos com Thomaz de Lima e o pianista José Neves.

É convidado pela “Pró-Arte”, delegação de Leiria da Fundação Calouste Gulbenkian, para dar um recital a três partes, sendo a primeira apenas com obras suas.

É convidado para a realização do primeiro recital de piano, por ocasião da inauguração dos Estúdios do Porto da Rádio Televisão Portuguesa, em Outubro.

Executa vários concertos organizados pela “Pró-Arte”, patrocinados pelo Instituto para a Alta Cultura e pela Fundação Calouste Gulbenkian, actuando nas cidades de S. João da Madeira, Vila da Feira, Guarda, Covilhã e Castelo Branco.

As suas obras são interpretadas nos Concertos da Pró-Arte em Viseu, Lisboa, Odivelas, Évora e Ponta Delgada. Nos concertos de Natália Andrade são executadas obras de Canto e Piano de Thomaz de Lima.

A sua obra Depois de uma leitura de Camilo, é estreada na versão piano e orquestra no Teatro Cine da Covilhã, em 25 de Maio, com a Orquestra Sinfónica do Sindicato dos Músicos sob direcção do Maestro Raul de Lemos e com a colaboração do Orfeão da Covilhã.

Thomaz de Lima realiza vários recitais na TSF e na Emissora Nacional. A partir desta

O Bailador de Fandango para piano; Suite para Violoncelo e Piano;

Barcarola e Dança Cigana para dois pianos;

Estudo Brasileiro para piano;

Rondino, Marcha Humorística e Toadilha para piano a 4 mãos;

Referências

Documentos relacionados

O CES é constituído por 54 itens, destinados a avaliar: (a) cinco tipos de crenças, a saber: (a1) Estatuto de Emprego - avalia até que ponto são favoráveis, as

▪ Quanto a solução para os conflitos entre os pais e a escola, houve um grande número de pais que não responderam, o que pode nos revelar que os pais não fizeram

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. <script Language

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

-‹‹ bâicâçäo ingâeóa, êeâviâam paâa â execução de quatào cond¿« çöeó êxpeaimeníaiô, uma de cada âeó¿na compséta manipuiadaé àem auxilio de

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

1ª FASE: Análise do Curriculum Vitae de cada candidato(a) que solicitou inscrição, com suas respectivas comprovações, de acordo com as tabelas de pontuação dos Anexos B