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Open Tecendo redes a partir da articulação entre economia solidária, feminismo e agroecologia: novas perspectivas de alternativo no semiárido potiguar

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO - PRPG

DOUTORADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE DA ASSOCIAÇÃO PLENA EM REDE DAS INSTITUIÇÕES

EDDLA KARINA GOMES PEREIRA

TECENDO REDES A PARTIR DA ARTICULAÇÃO ENTRE

ECONOMIA SOLIDÁRIA, FEMINISMO E AGROECOLOGIA:

novas perspectivas de desenvolvimento alternativo no semiárido

potiguar

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EDDLA KARINA GOMES PEREIRA

TECENDO REDES A PARTIR DA ARTICULAÇÃO ENTRE

ECONOMIA SOLIDÁRIA, FEMINISMO E AGROECOLOGIA:

novas perspectivas de desenvolvimento alternativo no semiárido

potiguar

Tese apresentada ao Colegiado do Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Associação em Rede Plena (UFC, UFPI, UFRN, UFPB, UFPE, UFS, UESC) como requisito para a obtenção do título de Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Orientadora: Profa. Dra. Maristela Andrade de Oliveira Co-orientadora: Profa. Dra. Alícia Ferreira Gonçalves

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EDDLA KARINA GOMES PEREIRA

TECENDO REDES A PARTIR DA ARTICULAÇÃO ENTRE

ECONOMIA SOLIDÁRIA, FEMINISMO E AGROECOLOGIA:

novas perspectivas de desenvolvimento alternativo no semiárido

potiguar

Tese apresentada ao Colegiado do Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Associação em Rede Plena (UFC, UFPI, UFRN, UFPB, UFPE, UFS, UESC) como requisito para a obtenção do título de Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente aprovada em sessão pública de defesa realizada neste dia.

João Pessoa, 17/10/2016.

________________________________________________ Profa. Dra. Maristela Andrade de Oliveira

UFPB (Orientadora)

________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Viana Rodrigues de Lima

UFPB

________________________________________________ Prof. Dr. Maurício Sardá de Faria

UFPB

________________________________________________ Prof. Dr. Salvador Dal Pozzo Trevisan

UESC

________________________________________________ Prof. Dr. José Nunes da Silva

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pai, professor, referência e apoio, a quem devo gratidão pela saúde e persistência que me concedeu durante o desenvolvimento da tese;

Aos meus pais, Edson e Edna, minhas fortalezas, grandes exemplos, meus anjos da guarda, eternos incentivadores, por tudo que renunciaram por mim e pelos meus irmãos, a quem eu dedico não somente mais esta conquista, mas toda a minha vida;

Aos meus irmãos, Edsthon e Elida, parceiros do mais importante projeto da minha vida: nossa família! Obrigada por existirem, compartilharem, por terem recheado a minha vida de histórias tão boas de serem lembradas, das brigas às partilhas!

Ao meu sobrinho e afilhado, Erick Filho, que com 3 meses de vida já deixou a minha própria vida muito melhor;

Ao meu amor, Ednaldo Júnior, meu familiar por simples opção e pelo desejo de constituir uma família, muito obrigada por ser um grande companheiro, com quem eu sempre contei e compartilhei as minhas vitórias e perdas, pela disposição constante em me ajudar e apoiar nos desafios que só assumi por saber que eu não estaria sozinha;

À Tia Mima e Juju, avôs, avós, tios, tias, primos, primas, sogros, cunhado, cunhadas e concunhados, amigos e amigas, por tudo que representam na minha vida. Obrigada por existirem!;

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Aos queridos e queridas companheiras da Rede Xique Xique, pela disposição em ajudar, pela solidariedade contagiante, pela vida de lutas em favor de uma sociedade mais justa;

Aos colegas da UFERSA e aos queridos alunos e alunas, obrigada pela compreensão, pela parceria, pelo encorajamento!;

Aos profs. Maurício Sardá, Gesinaldo, Gustavo, Eduardo, José Nunes, Roberto Brígido, Raynald e às parceiras da Rede, Cláudia Mota, Fatinha, Liane, pela disposição em ajudar;

A todos as/os entrevistadas/os e demais pessoas que construíram comigo esta tese;

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Exaltação ao Nordeste (Luiz Gonzaga)

Eita Nordeste da peste Mesmo com toda seca Abandono e solidão,

Talvez pouca gente perceba Que teu mapa aproximado Tem forma de coração.

E se dizem que temos pobreza E atribuem à natureza,

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Tecendo redes a partir da articulação entre economia solidária, feminismo e agroecologia: novas perspectivas de desenvolvimento alternativo no semiárido potiguar

RESUMO

A valorização do território, do meio ambiente e da igualdade de gênero no semiárido, sugere padrões de desenvolvimento alternativos, o que mobilizou pequenos produtores e organizações para a construção da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. A proposta dos diversos atores sociais e políticos envolvidos foi criar uma rede que viabilizasse a comercialização direta dos bens produzidos no semiárido potiguar, a partir de uma experiência de desenvolvimento que aliasse à Economia Solidária (EcoSol), o feminismo e a agroecologia, em razão dos compromissos que assumem com a justiça social. A criação da Rede, porém, passou a articular a formação política e a qualificação técnica das/os produtoras/es, em parceria com outras redes sociais e com o poder público. A EcoSol propõe o fortalecimento econômico, social e ambiental das comunidades, a partir da cooperação e da autogestão do trabalho coletivo, com base na premissa de que a formação de relações produtivas mais justas, sustentáveis e não hierarquizadas pode ser uma experiência viável de desenvolvimento alternativo, não focado no crescimento econômico, mas na geração de bem-estar. Estas perspectivas também são promovidas pela agroecologia, que defende, ademais, sistemas produtivos que alie a agricultura à ecologia, bem como pelo feminismo, que percebeu na EcoSol e na agroecologia estratégias empoderamento das mulheres. Nesse contexto, a indagação central da presente tese é analisar se a agroecologia, o feminismo e a EcoSol, por meio da Rede Xique Xique, têm contribuído para fomentar experiências alternativas de desenvolvimento no semiárido potiguar. O objetivo geral pretendido, pois, é avaliar os reflexos da EcoSol, aliada à agroecologia, no empoderamento das mulheres do semiárido potiguar, por meio de experiências de desenvolvimento alternativo promovidas pela Rede Xique Xique. Quanto à metodologia, trata-se de pesquisa-participante, com abordagens qualitativas, do tipo descritivo-exploratório, com coleta de dados via pesquisa de campo e realização de entrevistas semiestruturadas e abertas. Recorreu-se, ainda, a fontes de informação documental e bibliográfica. Após interações com organizações parceiras, profissionais da área, consumidores e grupos de mulheres da Rede, observou-se que a organização das mulheres promovida pela Rede, voltada para uma formação política feminista, configura uma experiência de desenvolvimento alternativo, pois se identificaram mudanças nos padrões produtivos e relacionais femininos, com uma maior valorização do trabalho coletivo e da segurança alimentar, além também de se perceber a ampliação dos espaços de participação social das mulheres, face as suas atuações em associações, fóruns, grupos informais. Os membros da Rede, em regra, não separam a vida do trabalho; lutam por políticas que reconheçam as potencialidades do semiárido; estão dispostos a se aperfeiçoarem, o que faz da Rede um relevante apoio tanto na promoção e preservação dos bens ambientais do semiárido potiguar, como na correção da histórica desigualdade de gênero, sobretudo no meio rural. Subsistem, porém, os desafios da descontinuidade dos grupos e das políticas públicas, além da desproporção dos investimentos públicos, fatores decisivos para o incremento das experiências fomentadas pela Rede e para o cumprimento dos seus princípios.

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Tejiendo redes desde la relación entre economía solidaria, feminismo y agroecología: nuevas perspectivas para el desarrollo alternativo en el semiárido potiguar

RESUMEN

La valorización del territorio, el medio ambiente y la igualdad de género en la región semiárida, sugiere patrones de desarrollo alternativo, que movilizaron a los pequeños productores y las organizaciones para la construcción de la Rede Xique Xique de Comercialización Solidaria. La propuesta de los diversos actores sociales y políticos involucrados es crear una red que haga posible la comercialización directa de los bienes producidos en el semiárido potiguar, desde una experiencia de desarrollo que alía a la Economía Solidaria (Ecosol), el feminismo y la agroecología, debido a los compromisos que lleve a la justicia social. La creación de la Rede, sin embargo, comenzó a articular la formación política y capacitación técnica de las/os productores/as, en asociación con otras redes sociales y con el gobierno. La EcoSol propone la potenciación económica, social y ambiental de las comunidades por la cooperación y la autogestión del trabajo colectivo, basado en la premisa de que las relaciones de producción más justas, sostenibles y no jerárquicas pueden ser una experiencia viable de desarrollo alternativo, ya que no se centra en el crecimiento económico, pero en la generación de bienestar. Estas perspectivas también son promovidas por la agroecología, que propone sistemas de producción que combinan la ecología a la agricultura, así como por el feminismo, que conecta la EcoSol a la agroecología como estrategias de autonomía de las mujeres. En este contexto, la pregunta central de esta tesis es analizar cómo la agroecología, el feminismo y la EcoSol, por medio de la Rede Xique Xique, han contribuido para promover experiencias de desarrollo alternativo en la región semiárida potiguar. Por tanto, el objetivo general es evaluar los efectos de la EcoSol, junto con la agroecología, en la potenciación de la autonomía de las mujeres potiguares del semiárido a través de experiencias de desarrollo alternativo promovidos por la red Xique Xique. Tratase de una investigación-participante con enfoques cualitativos y descriptivos y exploratorios, con la recogida de datos a través de la investigación de campo, con la realización de entrevistas semiestructuradas y abiertas. Además, se utilizan fuentes de información documental y bibliográfica. Después de interacciones con organizaciones, profesionales, consumidores y con grupos de mujeres, se observó que la organización de las mujeres promovidas por la Rede, basada en una formación política feminista, es una experiencia de desarrollo alternativo, ya que fueran identificados cambios en los patrones productivos y de relación de las mujeres, con una mayor valorización del trabajo y con una mayor seguridad alimentaria colectiva, generando la ampliación de los espacios de participación social de las mujeres, dada su participación en asociaciones, foros, grupos informales. Los miembros de la Rede no hacen la vida separada de trabajo; luchan por políticas que reconozcan el potencial de la región semiárida; están dispuestos a mejorar sus habilidades, lo que hace la Rede un importante apoyo, tanto a la promoción y preservación de los bienes ambientales potiguar región semiárida, como en la corrección de la desigualdad de género histórica, sobre todo en las zonas rurales. Sin embargo, siguen existiendo los problemas de discontinuidad de grupos y de las políticas públicas, como también la desproporción de los ingresos públicos, factores decisivos para el aumento de las experiencias promovidas por la Rede y el cumplimiento de sus principios.

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Weaving networks from the articulation between solidarity economy, feminism and agroecology: new perspectives of alternative development in the semi-arid potiguar

ABSTRACT

The appreciation of the territory, the environment and gender equality in the semiarid region suggests alternative development standards, which mobilized small producers and organizations for the construction of Xique Xique Network for Partnership Marketing. The proposal of the various social and political actors involved was to create a network that could make feasible the direct marketing of goods produced in the semiarid of Rio Grande do Norte from a development experience that would combine to the Solidarity Economy (Ecosol), the feminism and the agroecology, due to the commitments that those take to social justice. The creation of the Network, however, began to articulate the political training and technical qualification of the producers, in partnership with other social networks and with the government. The ECOSOL proposes economic, social and environmental empowerment of communities from cooperation and self-management of collective work, based on the premise that the training productive relations that are fairer, sustainable and non-hierarchical can be a viable experience of alternative development, not focused on economic growth, but on generating well-being. These perspectives are also promoted by the agroecology, which advocates, in addition, production systems that combine agriculture to ecology, as well as by the feminism, which perceived the ECOSOL and the agroecology as feminist strategies of empowerment. In this context, the central question of this thesis is to analyze the agroecology, the feminism and the ECOSOL through the Xique Xique Network have contributed to promote alternative development experiences in the semiarid region of Rio Grande do Norte. The desired overall objective therefore is to evaluate the effects of the ECOSOL, coupled with agroecology, the empowerment of women of semiarid region of Rio Grande do Norte through alternative development experiences promoted by Network Xique Xique. As for the methodology, it is research-participant with qualitative approaches, descriptive and exploratory, with data collection through field research with carrying out semi-structured and open interviews. In addition, sources of documentary and bibliographic information were used. After interactions with partner organizations, professionals, consumers and network of women's groups, it was observed that women's organization promoted by the network, focused on a feminist political formation, set up as an alternative development experience, as changes on the productive and on the relational female patterns were identified, with a greater appreciation of collective work and food security, and also to realize the expansion of spaces for social participation of women, given their roles in associations, forums, informal groups. Members of the Network, as a rule, do not separate life from work; they fight for policies that recognize the semiarid region's potential; They are willing to improve their skills, which make the network an important support both the promotion and preservation of environmental goods of semiarid region of Rio Grande do Norte, as in the correction of historical gender inequality, particularly in rural areas. However, the challenges of discontinuity groups and public policies, and the disproportion of public investment remain, which are decisive factors for increasing experiences promoted by the network for complying its principles.

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Lista de Ilustrações

Figura 1: Mapa político do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque para o município Mossoró.

Figura 2: Projetos apoiados por ano (2003-2010)

Figura 3: Movimentos feministas no mundo apoiados pela MMM. Figura 4: Distribuição das áreas irrigadas nos municípios brasileiros. Figura 5: Hidrografia do Rio Grande do Norte

Figura 6: Formação sobre alimentação alternativa e boas práticas de produção de alimentos.

Figura 7: Mapa dos núcleos da Rede Xique Xique

Figura 8: Mobilizações das mulheres em Mossoró e região Figura 9: Plantação de hortaliças em Mulunguzinho.

Figura 10: Feira de comercialização na sede da Rede Xique Xique (2013) Figura 11: Preços e produtos comercializados na Rede

Figura 12: Sede da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária (Mossoró, 2014). Figura 13: Mulheres da Rede Estadual de Mulheres Tecer para Crescer (Bahia) em intercâmbio na sede da Rede Xique Xique

Figura 14: Organograma da Associação de Comercialização Solidária Figura 15: Organograma da COOPERXIQUE

Figura 16: Mulheres e o CF8

Figura 17: Sistema de aproveitamento de água do CF8 Figura 18: Sistema Mandalla

Lista de Quadros

Quadro 1: Entidades, projetos e número de pessoas envolvidas na pesquisa empírica Quadro 2: Critérios para seleção da amostra

Quadro 3: Informações a serem empreendidas na pesquisa Quadro 4: Organograma administrativo da SENAES

Quadro 5: Distribuição de projetos por ações agregadas (2003-2010) Quadro 6: Abrangência dos projetos apoiados (2003-2010)

Quadro 7: Sistemas Agroecológicos

Quadro 8: Distribuição de projetos de EcoSol no RN

Quadro 9: Programas desenvolvidos no Rio Grande do Norte que assumem princípios da EcoSol

Quadro 10: Áreas de atuação dos EES conforme a região em 2010.

Quadro 11: Participação dos EES em redes de produção, comercialização, consumo ou crédito (2010).

Quadro 12: Confronto entre agricultura ecológica e convencional. Quadro 13: Projetos produtivos que beneficiaram a Rede Xique Xique. Quadro 14: A Rede Xique Xique e suas redes sociais

Quadro 15: Relatos das entrevistadas demonstram assimilação de princípios da agroecologia

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Lista de abreviaturas e siglas

AACC: Associação de Apoio às Comunidades do Campo

AACC/RN: Associação de Apoio às Comunidades do Campo/Rio Grande do Norte ADEC: Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural

ADS: Agência de Desenvolvimento Solidário

APROFAM: Associação dos Produtores/as da Feira Agroecológica de Mossoró ASA: Articulação Semiárido Brasileiro

CE: Ceará

CEF: Caixa Econômica Federal CF8: Centro Feminista 8 de Março

CFES/RN: Centro de Formação em Economia Solidária/Rio Grande do Norte CFES: Centro de Formação em Economia Solidária

CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas

CONAB: Companhia Nacional de Abastecimento COOPES: Coordenadoria de Projetos Especiais

Cooperxique: Cooperativa de Comercialização Solidária Xique Xique CUT: Central Única de Trabalhadores

EcoSol: Economia Solidária

EEE‟s: Empreendimentos Econômicos Solidários EES: Empreendimento de Economia Solidária EJA: Educação de Jovens e Adultos

FBES: Fórum Brasileiro de Economia Solidária

FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IRES: Inter-Réseaux de l’Économie Solidaire LGBT: Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário MAG: Cooperativas de Mutua Auto Gestione MEC: Ministério da Educação

MJ: Ministério da Justiça

MMA: Ministério do Meio Ambiente MET: Ministério do Trabalho e Emprego

NEATES: Núcleos Estaduais de Assistência Técnica em Economia Solidária ONG: Organização não governamental

ONU: Organização das Nações Unidas PDA: Programa de Desenvolvimento de Área PIB: Produto Interno Bruto

PIB PER CAPTA: Produto Interno Bruto por pessoa

PLANSEQ: Plano Setorial de Qualificação em Economia Solidária PROART: Programa de Artesanato Potiguar

PROEXT: Programa de Extensão Universitária

PRONACOOP: Programa Nacional de Apoio ao Associativismo e Cooperativismo Social

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PRONINC: Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares PT: Partido dos Trabalhadores

Rede: Rede Xique Xique de Comercialização Solidária RENACI: Rede Nacional de Cooperação Industrial RESF: Rede Nacional de Economia Feminista e Solidária

RIPESS: Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária RN: Rio Grande do Norte

RS: Rio Grande do Sul

SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa SDE: Secretaria de Desenvolvimento Econômico

SEJURN: Secretaria de Justiça do Rio Grande do Norte SENAES: Secretaria Nacional de Economia Solidária SPM: Secretaria Nacional de Política para as Mulheres

SETHAS: Secretaria de Turismo, Habitação e Assistência Social SIES: Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária UFERSA: Universidade Federal Rural do Semiárido

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Sumário

Introdução ... 17

Percurso Metodológico ... 25

Caracterização da área da pesquisa de campo ... 25

Procedimentos e etapas da pesquisa ... 27

1 ECONOMIA SOLIDÁRIA (EcoSol), FEMINISMO E AGROECOLOGIA: novas bases para um desenvolvimento alternativo ... 32

1.1 Economia solidária: breve conjuntura histórica ... 34

1.1.1 As raízes da EcoSol: primeiras ideias sobre cooperativismo, a ideologia marxiana e os movimentos sociais do final século XX ... 39

1.1.2 Os frutos das ideias socialistas: a projeção da EcoSol a partir da formação de redes sociais ... 44

1.2 A EcoSol no Brasil e seu processo de institucionalização ... 49

1.2.1 A criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES): análise crítica da institucionalização da EcoSol no Brasil ... 51

1.2.2 O que a SENAES propôs até 2016? ... 57

1.3 Breve percurso do movimento feminista no Brasil e no mundo e suas inter-relações com a agroecologia e com a EcoSol ... 68

1.3.1 Trajetória da institucionalização do fomento à construção de uma Economia Feminista e Solidária no Brasil ... 72

1.3.2 A institucionalização do fomento à construção de uma Economia Feminista e Solidária no Brasil ... 79

1.3.3 Agroecologia e suas alternativas de geração de renda para o semiárido ... 83

1.3.3.1 A agroecologia no semiárido potiguar: a incorporação das políticas agroecológicas entre as/os produtoras/es da Rede Xique Xique ... 88

2 TECENDO REDES NO SEMIÁRIDO POTIGUAR: novas perspectivas para o nordeste brasileiro ... 92

2.1 Novos direcionamentos para o Nordeste brasileiro: em que medida a EcoSol vem representando uma estratégia de desenvolvimento alternativo para o semiárido? ... 93

2.1.1 Políticas públicas do Rio Grande do Norte e a EcoSol ... 96

2.1.2 As redes como novo paradigma para compreender a dinâmica social ...104

2.1.3 A formação das redes produtivas de economia solidária no nordeste brasileiro ... 106

2.2 A mudança de perspectiva das políticas públicas para o campo ... 111

2.2.1 A agroecologia, suas interações com os grupos de mulheres do semiárido potiguar e a Rede Xique Xique ... 116

3 A REDE XIQUE XIQUE E SUAS REDES...129

3.1 As Redes sociais do semiárido potiguar e as ações coletivas em favor da maior igualdade de gênero no meio rural ... 132

3.1.1 “Decididas à vencer” e a transformação das mulheres: como nasceu a ideia da Rede Xique Xique? ... 136

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3.2 Organograma da Rede Xique Xique ... 160

3.3 Tecendo a REDE: parcerias e articulações de apoio ... 164

3.3.1 Centro Feminista 8 de Março ... 164

3.3.2 Universidade Federal Rural do Semiárido...170

3.3.3 O trabalho da Organização Não Governamental Visão Mundial ... 174

3.3.4 O Centro Terra Viva ... 177

3.4 Quais as contribuições do feminismo, da agroecologia e da EcoSol para o semiárido potiguar? ... 182

Considerações Finais ... 191

REFERÊNCIAS ... 194

APÊNDICES ... 207

1 Aprovação do projeto de tese no Comitê de Ética ... 208

2 Artigo publicado em periódico ... 209

3 Artigo submetido a periódico –em fase de ajuste para publicação ... 210

4 Modelo do termo de consentimento livre e esclarecido ... 211

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Introdução

A dinâmica do modo de produção capitalista tem como núcleo gerar mais valia via exploração da força de trabalho (HARVEY, 1992) e dos recursos naturais. Historicamente, fomenta relações desiguais fundadas na dominação, na medida em que organiza a sociedade, a produção, o consumo, a partir de valores individualistas, patriarcais e economicistas (MARX; ENGELS, 1984), que se difundem na organização social e refletem negativamente no âmbito da organização familiar e na divisão social e sexual do trabalho. Os direitos básicos constitucionais inerentes à condição humana, nesse contexto, têm usufruto reduzido pela falta de oportunidade de acesso à maioria da população, o que é responsável por estratificar a sociedade em classes, de modo a estabelecer conflitos sociais imanentes, endógenos ao sistema capitalista. Nessa conjuntura, a pouca coesão social fragilizam os laços de solidariedade entre os indivíduos, uma vez que há no coração do sistema uma relação inversamente proporcional clara: quanto mais acumulação, menos solidariedade e reciprocidade (GODELIER, 2001).

Esse sistema de hierarquias calcado na conversão do trabalho em instrumento de opressão, na propriedade privada dos meios de produção, no poder aquisitivo, na desigualdade a partir do sexo, da raça, da cor, ergueu um ambiente de exclusão social, no qual as interações humanas estão inteiramente indexadas ao seu valor produtivo. Para tanto, se associou e se fundiu a outros ideários de poder que lhe foram funcionais ao longo do tempo, como é o caso das teorias de superioridade racial, o eurocentrismo, o machismo, que, embora não tenham um fundamento econômico, funcionaram como elementos auxiliares na montagem desse sistema de dominação. Tal conjuntura produz reflexos nocivos em todas as sociedades instituídas sob a influência de princípios capitalistas, já que as classes e, por conseguinte, as pessoas, são definidas pela posição ocupada no processo de produção a partir da lógica do capital com base em duas hipóteses: ou elas possuem bens produtivos ou são exploradas (MARX, 1984; 1985).

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questão, pois, é que as mudanças nas conjunturas sociais após a Revolução Industrial vêm criando problemas ao convívio humano que não são facilmente resolvidos - desastres ambientais, pobreza, fome - em nome de um desenvolvimento que, em verdade, se baseia na exploração do ser humano e da natureza para promover o crescimento econômico de parcela privilegiada da população mundial, que gera privações e desigualdade em escala global.

Desde meados do século XVIII crescem progressivamente no mundo propostas contrárias ao capitalismo industrial, as quais buscam alternativas de organização econômica comprometida com a dignidade humana, com a qualidade de vida dos indivíduos, com o respeito à capacidade de resiliência do meio ambiente, tais como as ideias de novas formas de economia e de relações sociolaborais de Robert Owen, Saint- Simon e Charles Fourier. Recentemente, novas iniciativas com estas perspectivas vêm ganhando projeção e ampliando o reconhecimento das capacidades e liberdades inatas aos indivíduos, sobretudo em ambientes de vulnerabilidade, tal qual o semiárido brasileiro.

A partir da década de 1960, as crises ambientais ao redor do mundo passaram a ser a força motriz para um conjunto de questionamentos acerca do modelo de desenvolvimento proposto pelo modo de produção capitalista. Os movimentos sociais, como ações das classes em busca de um projeto de mudança social (TOURAINE, 1977), passaram a promover mobilizações em nível mundial para questionar a capacidade da tecnologia de resolver as externalidades geradas pela lógica produtivista, bem como para buscar estratégias de configurações sociais mais comprometidas com a preservação dos recursos ambientais.

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Segundo Boaventura Santos (2002), as propostas de um desenvolvimento alternativo, qualificado pelo fomento às formas não capitalistas de produção e consumo, se opõem à concentração de recursos e de poder, bem como resistem a arranjos sociais empobrecidos pela alienação, pelo individualismo e por práticas exploratórias. As discussões em torno da necessidade de criar condições objetivas para o usufruto de garantias sociais básicas de modo a expandir a cidadania têm, inclusive, demandado a criação de fóruns mundiais para o fomento a propostas contra-hegemônicas de organização social, nas quais assumem destaque a economia solidária, o feminismo e os grupos de discussão sobre os sistemas agroecológicos de produção. Ademais, é crescente a noção de pós-desenvolvimento a partir da ideia de que o conceito de desenvolvimento é uma ideia eurocêntrica, centralizada ainda no processo de colonização (RADOMSKY, 2006), e que entende a história da humanidade a partir de uma perspectiva linear, evolucionista e universalizante, desconsiderando as variáveis conjunturais vividas nos âmbitos econômico, social, político e cultural.

Fruto de uma conjuntura histórica de dominação, os espaços rurais brasileiros, particularmente no semiárido da região nordeste, assimilaram valores culturalmente construídos conforme os padrões morais predominantes, e reproduzem relações excludentes e patriarcais. As mulheres rurais, em contrapartida, especialmente no semiárido potiguar, vêm progressivamente demonstrando uma maior disposição em participar de movimentos sociais que aliam à EcoSol o feminismo, a fim de contestarem, ao mesmo tempo, as bases sob as quais se sustentam tanto o modo de produção capitalista, como o androcentrismo.

Neste contexto, a EcoSol, como uma proposta de desenvolvimento alternativo à lógica capitalista, individualista e hierarquizada (CAILLÉ, 2011), consiste num movimento contra-hegemômico que propõe a atuação social dos indivíduos (como produtores, comerciantes e consumidores) a partir de relações mutualísticas, sobretudo através da formação de cadeias produtivas calcadas na justiça socioambiental, na produção solidária e autogestionada, bem como na geração de renda que promove um desenvolvimento que respeita os direitos sociais básicos dos indivíduos.

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a) que nos empreendimentos não exista nenhum tipo de exploração de trabalho; b) que se busque preservar o equilíbrio ecológico dos ecossistemas; c) que sejam compartilhadas significativas parcelas do excedente para a expansão da própria rede; d) a autodeterminação dos fins e autogestão dos meios, em espírito de cooperação e colaboração.

Assim, a contradição entre as propostas da EcoSol e o modo de produção capitalista é clara: a primeira supervaloriza as relações sociais de cooperação, o fortalecimento do trabalho coletivo, a autogestão, o respeito à capacidade de resiliência do meio ambiente e tem como foco o incremento da qualidade de vida humana; o capitalismo, por sua vez, precariza o trabalho, aliena os trabalhadores/as e gera passivos ambientais significativos para prestigiar o seu único e maior objetivo: maximizar os lucros.

Como movimento social, a EcoSol se fortaleceu no Brasil a partir do final da década de 1990 (TODESCHINI, 2003), em razão da mobilização de pastorais, de trabalhadores desempregados e de sindicatos, que começaram a recuperar e autogerir empresas falidas e organizar cooperativas de produção como alternativas ao desemprego. Tais iniciativas vêm gradativamente alcançando adesão social, sobremaneira por conta do diálogo que passou a manter com outros movimentos sociais, tais como as articulações com trabalhadores rurais, com os movimentos quilombolas, com entidades feministas, o que tem contribuído projeção e capilaridade no seio social. Por conseguinte, a EcoSol vem acumulando cada vez mais a capacidade de propor ações multifacetadas para enfrentar problemas socioeconômicos de diversas naturezas, nos âmbitos urbanos e rurais, no semiárido e no litoral, no norte e sul do país, transformando-se em uma proposta de desenvolvimento alternativo com potencialidades transversais e polivalentes.

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resultaram num maior respeito aos direitos trabalhistas das mulheres, o que repercutiu no avanço dos níveis de educação feminina, na diminuição da taxa de fecundidade, no aumento da expectativa de vida das mulheres e no rearranjo das relações familiares (SILVA; VARGAS; SPOLLE). Contudo, ainda subsistem reflexos substanciais da desigualdade de gênero, sobretudo quando se observa que ainda prepondera a ideia de que as mulheres são mais responsáveis pelo bem-estar da família, quando se observa que atualmente as mulheres que trabalham na iniciativa privada ainda têm remuneração inferior à masculina (Organização Internacional do Trabalho, 2016), e quando se constata a sub-representação das mulheres na política brasileira (Instituto de Estudos Socioeconômicos, 2014).

Neste contexto, a articulação entre o feminismo e a EcoSol, especialmente no semiárido potiguar, assumiu o propósito de contribuir para a superação das desigualdades de gênero na região, por meio da ampliação dos espaços de participação social das mulheres, sobretudo diante do protagonismo assumido pelas mulheres nos movimentos sociais rurais. A EcoSol, por vislumbrar as mulheres como sujeitos econômicos, bem como por estimular relações cooperadas e autogestionadas, demonstra uma vocação para gerar um desenvolvimento rural local que prestigia a igualdade de gênero, que favorece uma divisão social e sexual do trabalho mais justa e que suscita a ampliação de espaços públicos de participação social. Assim, a aliança entre EcoSol e feminismo favorece a ocupação de lugares “naturalmente” destinados aos homens, no intuito de maior reconhecimento público das potencialidades femininas, o que assume repercussões positivas para toda a humanidade.

A fim de conferir apoio às comunidades rurais no semiárido potiguar, redes sociais foram progressivamente criadas a fim de estimular o agrupamento feminino como instrumento para o enfrentamento de demandas coletivas. Assim, o Centro Feminista 8 de Março e o Centro Terra Viva, por exemplo, foram construídos a partir de demandas em favor de uma maior igualdade na região a partir do enfrentamento da violência doméstica, da difusão de técnicas que garantam uma maior soberania alimentar, do estabelecimento de relações não-concorrenciais entre produtores locais, gerando maior dinamismo das economias locais. Estas articulações têm gerado a crescente criação de coletivos em diversos espaços e contextos, dos grandes centros urbanos aos assentamentos de reforma agrária.

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semiárido potiguar, visando retirar os/as trabalhadores/as rurais da dependência de atravessadores. Ao interagir com entidades do semiárido, acumula em sua trajetória a luta em favor de formas não-exploratórias de produção e consumo, a defesa de técnicas de produção que não gerem passivos ambientais, que favoreçam o empoderamento feminino, entendido por Lisboa (2002) como: 1) Expansão da capacidade de uma pessoa para realizar escolhas estratégicas em sua vida; 2) Atuação em contextos onde a capacidade de ação foi anteriormente negada; 3) Autogerenciamento; 4) Plena cidadania.

A Rede Xique Xique configura-se atualmente como uma entidade de apoio, formação e mobilização política na defesa de uma maior igualdade de gênero, no fomento às práticas da EcoSol no semiárido potiguar e no estímulo aos sistemas agroecológicos de produção. Tal entidade, por esta razão, consiste no principal elo entre o desenvolvimento desta tese e os seus campos de pesquisa, pois a Rede articula e participa de várias redes sociais que assumem propostas alternativas de desenvolvimento na região. As suas propostas ou contrapostas às práticas fomentadas pelo modo de produção capitalista, porém, já adquiriram relevância em âmbito nacional e transnacional, o que justifica tal entidade ser eleita como principal fonte de direcionamento desta tese. O interesse pelo tema em discussão, ademais, decorre do fato da autora da tese ser docente da Universidade Federal Rural do Semiárido, bem como em decorrência do seu interesse sobre estudos relacionados às Teorias de Gênero.

No nordeste brasileiro, a participação ativa da sociedade civil é responsável pela formação de redes e arranjos sociais que, para Castells (1999, p. 497), são “um conjunto de nós flexíveis e adaptáveis, interconectados e formados em decorrência de uma nova morfologia social, que realizam intercâmbios de conhecimentos, causas, valores, mercadorias”. A constante inovação das suas dimensões e seu caráter descentralizado finda por modificar “de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (CASTELLS, 1999, p. 497).

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sociais, o que vem contribuindo para democratizar a divisão do poder, da cultura e dos espaços sociais. O inter- relacionamento entre as redes, entidades e movimentos sociais, ademais, provocou o poder público a uma mudança de perspectiva em relação às políticas de geração de renda no semiárido: ao invés de investir em técnicas emergenciais capazes de minimizar os efeitos das secas, objetivavam-se políticas de reconhecimento das potencialidades locais, a partir das características geoclimáticas e das vocações da região.

A região rural do oeste do Rio Grande do Norte é composta por variados grupos de pescadoras/es, artesãs/ãos e agricultores/as - sendo as/os agricultoras/es o grupo majoritário na Rede - que trabalham em família e/ou em coligações informais para a subsistência, comercializando os seus excedentes em feiras e em redes de comercialização. Conforme Cardoso (1987, p. 56), a agricultura familiar se caracteriza por quatro critérios: a) o uso estável da terra, seja como proprietário ou possuidor; b) que o trabalho desenvolvido seja predominantemente familiar, o que não exclui a mão- de-obra externa, de forma adicional; c) a autossubsistência combinada à participação em mercados, de forma eventual ou permanente; d) razoável grau de autonomia na gestão agrícola, nas decisões sobre o que e quando plantar, como dispor dos excedentes, entre outros.

A partir da década de 1990, diante de movimentos da sociedade civil organizada e, sobretudo, em razão de compromissos internacionais firmados pelo Brasil, vem sendo gradativamente estimulado a implantação de sistemas agroecológicos no país. Tal modelo de produção consiste na aplicação de princípios e conceitos da ecologia na produção (GLIESSMAN, 2000), visando a sustentabilidade que provém da diversidade e equilíbrio de plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos (ALTIERE, 1998). Ademais, os sistemas agroecológicos têm adquirido progressivamente mais projeção na medida em que os grupos sociais vêm se conscientizando dos riscos ambientais decorrentes do esgotamento dos processos de acumulação e concentração de renda, terra e água, que fomentam práticas de produção e consumo exploratórias, do ponto de vista humano, social e ambiental.

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de suprir o exaurimento dos recursos naturais tem, portanto, levantado questionamentos tendo em vista que não adquiriu a capacidade de minimizar os efeitos perversos ou as externalidades negativas, gerando diversas crises ambientais (climáticas, energéticas, alimentares). Esta perspectiva tem chamado a atenção para a necessidade de práticas sociais calcadas na preservação do meio ambiente, inclusive no que se refere à salvaguarda de conhecimentos tradicionais, e tem acarretado a reaproximação de grupos sociais com práticas esquecidas pela sociedade de consumo, tal como o consumo direto, via feiras livres, o que contribui para a ressignificação das identidades dos/as trabalhadores/as do campo.

As estratégias que propõem a expansão de práticas agroecológicas vêm se constituindo, em face do seu caráter político-social e científico, em um movimento social que paulatinamente ganha adeptos no mundo, principalmente na agricultura familiar e camponesa na América Latina (ALTIERI, 2000). Grupos produtivos do semiárido potiguar, ao contar com o apoio de redes sociais que encampam princípios agroecológicos, têm participado de movimentos políticos em prol de políticas públicas voltadas para a geração de renda de assentados da reforma agrária, especialmente a partir das duas últimas décadas, não obstante a massiva presença do agronegócio.

Conferindo respaldo político às iniciativas desta ordem, a Organização das Nações Unidas (ONU), na tentativa de reverter o contexto de desigualdade de gênero vigente em escala mundial, criou, em julho de 2010, a ONU Mulheres. Tal entidade foi instituída sob um contexto de desigualdade de gênero em escala global, reforçado quando a ele são agregados outros fatores de discriminação: a mulher, por si, é vítima de preconceito, mas a negra, homossexual, deficiente, da zona rural, agrega outros atributos marginalizantes, reforçando a precariedade de determinadas condições ontológicas de existência (BUTLER, 2010).

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não-discriminação; 3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham; 4. Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres; 5. Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing; 6. Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social; 7. Medir, documentar e publicar os progressos das empresas na promoção da igualdade de gênero. A partir desta proposta de empoderamento traçada pela ONU, considera-se relevante analisar a articulação entre a agroecologia e a EcoSol no semiárido potiguar, favorecida pelas organizações sociais locais, como instrumento capaz de fomentar a realização de práticas feministas mais inclusivas, especialmente a partir das redes sociais do semiárido potiguar.

Por sua vez, a projeção de experiências de desenvolvimento calcadas em novos parâmetros, tais como a EcoSol e a agroecologia, tem potencializado ambivalências em face do contraponto ao modelo dominante de produção. As propostas de desenvolvimento alternativo centradas na articulação entre feminismo, EcoSol e agroecologia, assim, por se contraporem aos padrões capitalistas hegemônicos vigentes, são mantidos à margem da agenda política do poder público, que assume a condução de projetos antagônicos – agroecologia e agronegócio - ao mesmo tempo, mas tem priorizado tradicionalmente agricultura industrial para exportação, dada a força política e econômica que acumula, o que prejudica a expansão e ameaça as formas alternativas de produção.

Como consequência, subsistem as tensões decorrentes da contestação à centralidade do lucro; à relação concorrencial entre trabalhadores/as; à impossibilidade dos trabalhadores/as participarem dos processos decisórios; à repartição dos ganhos; às externalidades ambientais decorrentes das técnicas produtivas; ao protagonismo da força de trabalho masculina.

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condutas políticas vigentes, cite-se como exemplo o financiamento privado de campanhas eleitorais.

No semiárido potiguar, durante esta fase de maior investimento institucional em ações políticas alternativas, foi crescente a articulação entre os diversos movimentos sociais existentes, o que aproximou demandas sociais de diversas ordens, tais como a EcoSol, a agroecologia e o feminismo.

Como marco empírico desta tese elegeu-se a Rede Xique Xique de Comercialização Solidária, por assumir como princípios o feminismo, a agroecologia e a EcoSol; o marco geográfico e territorial é o semiárido potiguar, especialmente a partir de 2003, marco temporal da tese, ano da criação da SENAES e da Rede Xique Xique. Nesse sentido, diante do protagonismo das redes sociais na região, a presente tese propõe-se a analisar o seguinte problema: a agroecologia, o feminismo e a EcoSol, por meio da Rede Xique Xique, têm contribuído para fomentar experiências alternativas de desenvolvimento no semiárido potiguar que se traduzem em empoderamento para as mulheres?

Para tanto, parte-se da seguinte hipótese:

1) a EcoSol, ao fomentar a construção de redes sociais mais comprometidas com o uso racional dos recursos naturais, configura-se, ao lado do feminismo e da agroecologia, como uma alternativa de desenvolvimento economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável, para o semiárido potiguar.

O objetivo geral desta tese é analisar os efeitos da articulação entre EcoSol, agroecologia e feminismo no semiárido potiguar, por meio de experiências de desenvolvimento alternativo promovidas pela Rede Xique Xique. Como objetivos específicos, pretende-se:

1) Analisar, a partir de uma pesquisa bibliográfica, a conjuntura e os ideais que fomentaram o desenvolvimento da EcoSol no mundo, seu processo de institucionalização no Brasil e a sua articulação com o feminismo e com a agroecologia;

2) Analisar as novas perspectivas políticas institucionais para o semiárido potiguar;

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alternativo do semiárido potiguar observando questionamentos sobre igualdade de gênero, sustentabilidade ambiental e técnicas produtivas não exploratórias.

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Percurso Metodológico

O projeto da tese foi submetido ao crivo do Comitê de Ética da Universidade Federal da Paraíba em 11/08/2015 (processo CAAE: 48703615.6.0000.5188), tendo sido aprovado sem recomendações em 22/10/2015 (Parecer n.º 1.292.117). Assim, a pesquisa que subsidia a construção desta tese está regularmente autorizada para a realização de entrevistas e diálogos informais com indivíduos, assim como para a divulgação dos seus conteúdos, resguardado o sigilo da fonte. Para tanto, todas as pessoas que relataram as suas experiências com o objeto da presente pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em anexo a esta tese, mas mesmo assim tiveram seus nomes resguardados por questões éticas.

O estudo das redes sociais feministas e que propõem a aproximação entre agroecologia e EcoSol foi eleito como referência nesta tese em razão dos estudos da autora na área de gênero e da sua atuação como docente na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), localizada no oeste potiguar. A Rede Xique Xique, entidade de apoio à identificação dos arranjos sociais da região ocupa centralidade na tese em face do protagonismo político feminino nesta entidade, que articula experiências alternativas de desenvolvimento para o semiárido potiguar, a partir de diretrizes do feminismo, da agroecologia e da EcoSol, em prol de dinamizar a economia do território semiárido potiguar via venda direta dos bens produzidos por agricultores/as da região.

A Rede Xique Xique foi criada em 2003, a partir de mobilizações de técnicos de entidades locais e de trabalhadoras/es rurais, com o propósito inicial de fomentar a venda dos produtos da agricultura familiar livrando os produtores/as dos atravessadores. Projeta-se que na atualidade haja o envolvimento de cerca de 600 produtoras(es) com a Rede, o que evidencia uma substancial contribuição para consolidar uma proposta alternativa de desenvolvimento na região.

Caracterização da área da pesquisa de campo

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259.815 habitantes, distribuídos numa área geográfica de 2.099,333 km², o que resulta numa densidade demográfica de 123,76 hab/km². O Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM), em 2010, é um dos maiores do Estado, 0,720.

Figura 1: Mapa político do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque para o município Mossoró.

Fonte: http://www.prefeiturademossoro.com.br/mossoro_geografia.php

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Procedimentos e etapas da pesquisa

O trabalho de campo foi desenvolvido predominantemente no município de Mossoró (RN), sobretudo na sede da Rede. Foram, porém, realizadas atividades de coleta de dados em Recife (PE), João Pessoa (PB), Tibau (RN), Grossos (RN) e Governador Dix-Sept Rosado (RN), em razão da atuação de profissionais na temática em discussão, bem como em razão de encontros, fóruns e assembleias promovidas pela Rede. Além de integrantes e consumidores da Rede, a pesquisa envolveu atores sociais que colaboraram com a formação da entidade via suporte técnico e/ou político (como executores e coordenadores de políticas públicas, fundadoras de entidades que contribuíram para a formação da Rede, coordenadores de projetos e membros de organizações do semiárido potiguar), como também abrangeu diálogos e entrevistas com docentes do magistério federal comprometidos com temas abordados na tese.

O período de realização das pesquisas de campo se estendeu de outubro de 2015 a agosto de 2016, com a presença diária na sede da Rede, no período da tarde (14 às 17 horas), exceto às sextas-feiras, quando a pesquisa era realizada no turno da manhã, por conta da realização da feira. Existem/existiram vários projetos de pesquisa e extensão de professores da UFERSA com a Rede Xique Xique, especialmente na área de Agronomia, e, por esta razão, esta entidade já tinha entrosamento com docentes da Universidade, o que foi um fator que facilitou o desenvolvimento desta pesquisa de campo.

Já a pesquisa bibliográfica foi iniciada em março de 2014, estendendo-se até setembro de 2016.

Esta tese é composta por uma pesquisa de caráter descritivo-analítico, já que “pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade” (TRIVIÑOS, 1987), ao tempo em que discute os contextos apresentados. Assim, serão apresentadas peculiaridades das condições de vida e de trabalho das mulheres no semiárido, bem como as alternativas que lhe são apresentadas para que busquem uma melhor qualidade de vida dentro das suas realidades geográfica, política, econômica e social.

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secundárias (artigos, livros, revistas, site, legislações), o que resulta no enquadramento deste estudo como uma pesquisa bibliográfica, além de que se recorrerá à análise de documentos que estimulam a compreensão do problema, tais como atas de reuniões, estatutos da COOPERXIQUE e da Associação da Rede, bem como dos documentos constitutivos das entidades envolvidas.

Para o alcance dos resultados, também se fará uma aproximação etnográfica, que SPRADLEY (1979) entende como uma "descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo", com o fito de entender as especificidades do modo de vida dos grupos produtivos do semiárido potiguar, analisando como as pessoas vivem, falam, pensam e interagem no âmbito da Rede Xique Xique e em outras redes sociais da região. A ênfase, pois, são os processos e as interações vivenciados pelo(s) grupo(s) pesquisado(s), a partir da visão dos próprios sujeitos pesquisados sobre a sua experiência, perquirindo-se os reflexos da participação das mulheres nos movimentos sociais, em grupos de geração de renda, na participação em políticas públicas, fatores que incrementam o grau de empoderamento feminino. Nesse sentido, é imprescindível avaliar a leitura que as participantes têm sobre a sua função na Rede, sobre a atuação da Rede na região e sobre a estrutura política que lhe dá suporte, especialmente para se aferir o grau de autonomia que a própria Rede promove.

Quanto à técnica de coleta de dados feita, esta tese foi construída a partir de uma pesquisa de campo que se utilizou da realização de entrevistas semiestruturadas, com base em um roteiro previamente estabelecido (anexo 3), bem como por meio de perguntas abertas, quando se permite que o entrevistado fale à vontade (CAMPOLIN; FEIDEN, 2011).

Os pesquisados participantes das entrevistas e conversas informais foram selecionados a partir da sua atuação em entidades parceiras, participantes de organizações e/ou movimentos agroecológicos, de EcoSol e/ou feministas, especialmente no semiárido. A amostra foi composta por 30 pessoas, sendo 11 do sexo masculino e 19 do sexo feminino.

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Entidade/Projeto Quantidade Função

“Projeto de Promoção Desenvolvimento Local

Economia Solidária”

do e

1 Agente de desenvolvimento

solidário

Universidade Federal Paraíba

Da 1 Docente

Universidade Federal Rural do Semiárido

2 Docente

Universidade Federal Rural de Pernambuco

1 Docente

Centro Terra Viva 1 Sócia-fundadora

Centro Feminista 8 de Março 5 Coordenadora de Projetos e

técnicas

Perito em certificação orgânica 1 Autônomo

Associação de Apoio Comunidades do Campo

Às 2 Sócia-fundadora

Rede Xique Xique 19 Gestoras, técnicas,

colaboradoras, cooperadas, consumidores/as, produtores

TOTAL 30

Quadro 1 Entidades, projetos e número de pessoas envolvidas na pesquisa empírica Fonte: Elaboração da autora, 2016

Quanto aos critérios de definição da amostra, a escolha se deu a partir das atuações, direitas ou indiretas, em redes sociais da região e/ou em razão da atuação profissional dos entrevistados na área de EcoSol, feminismo e/ou agroecologia. As entidades contatadas foram: Centro Feminista 8 de Março; Universidade Federal Rural do Semiárido; Organização não governamental Visão Mundial, através do trabalho de um antigo técnico (R. M.) e o Centro Terra Viva. Em relação aos critérios de seleção da amostra, destacam-se os seguintes fatores:

Critérios Quantidade da amostra

Membro executor de política pública 1

Docentes com experiência em EcoSol da área de gestão pública ou agroecologia

4

Técnicos de entidades ligadas à EcoSol, agroecologia ou feminismo

7

Membros da Rede Xique Xique (gestores ou cooperados)

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Fundadoras de coletivos no semiárido 3

Quadro 2 Critérios para seleção da amostra Fonte: Elaboração da autora, 2016

Considerando que os eixos fundamentais da pesquisa giram em torno da relação dos movimentos sociais, especificamente da Rede Xique Xique, com as experiências de EcoSol, agroecologia e feminismo no semiárido potiguar, as dimensões investigadas visam a apreender:

Informações a serem apreendidas com as entrevistas/conversas informais

Articulação com movimentos ou políticas de economia solidária

Expectativa em torno da relação entre EcoSol, feminismo e agroecologia

Perspectiva das desenvolvimento

Políticas institucionais Voltadas para Formas alternativas de

Grau de participação nas ações em torno da EcoSol, feminismo e agroecologia no oeste potiguar

Propostas que entende relevante para o desenvolvimento do semiárido potiguar Avaliação do trabalho da Rede Xique Xique para o reconhecimento das mulheres

Posição acerca da formação, desenvolvimento e atuação da Rede Xique Xique

Quadro 3 Informações a serem apreendidas na entrevista Fonte: Elaboração da autora, 2016

As arguições ocorreram em datas com antecedência, como também durante contatos cotidianos ou em reuniões e fóruns de discussão das entidades que fomentam a temática do trabalho.

Outra técnica de análise de comportamento utilizada será a observação direta intensiva, que “utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar” (LAKATOS; MARCONI, 1992). Tal observação será, ainda, não estruturada, pois a pesquisadora atuará sem a utilização de meios técnicos de compilação de dados previamente definidos junto aos grupos produtivos de mulheres atuantes em redes sociais da região, a fim de recolher e registrar fatos e comportamentos ocorridos em encontros, reuniões, formações e feiras.

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princípios fundamentais: a) há possibilidade lógica e política de sujeitos e grupos populares produzirem de forma direta ou associada o próprio saber, que mesmo popular não deixa de ser científico; b) há poder de determinação de uso e do destino político do saber produzido pela pesquisa; c) o lugar e as formas de participação do conhecimento científico e de seu agente no „trabalho com o povo‟ gera a necessidade da pesquisa, e a própria pesquisa que gera a necessidade da sua participação.

Nesse sentido, há uma relação simbiótica entre as intervenções da pesquisadora no contexto das redes sociais e as contribuições das entidades envolvidas para a elaboração da presente tese: trata-se de uma pesquisa com o envolvimento e a identificação da pesquisadora com o objeto ou as investigadas; há trocas mútuas de conhecimentos e experiências; há colaborações recíprocas com vistas a provocar reflexões capazes de fortalecer os envolvidos.

Por conseguinte, o relacionamento entre a autora da tese e os participantes da pesquisa se dá de maneira horizontal, de modo que as trocas mútuas que ocorrem entre a pesquisadora e a Rede respeitam a autonomia dos envolvidos, até porque os membros da entidade pesquisada deixam claro que as suas decisões políticas competem aos seus integrantes. Há uma constante troca de conhecimentos e experiências, de modo que todos os sujeitos que participam da pesquisa são também redatores, ao tempo em que a pesquisadora também é ouvida em decisões da entidade pesquisada, embora não tenham sido estabelecidas parcerias institucionalizadas, situação que tende a ser concretizada em momento posterior. No curso da sua pesquisa de campo houve auxílio da pesquisadora em rotinas administrativas, orientações jurídicas e relacionais da Rede.

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1 ECONOMIA SOLIDÁRIA (EcoSol), FEMINISMO E AGROECOLOGIA: novas bases para um desenvolvimento alternativo

O século XXI foi fortemente marcado pela consolidação dos mercados globais voltados para a financeirização e mundialização do capital (CHESNAIS, 1996), os quais são alimentados por empresas transnacionais1 (Ruben, 1995) que, com o apoio do Estado (muitas vezes com incentivo fiscal), deslocam os seus parques de produção para países cujos direitos sociais são precários e/ou o judiciário é pouco eficiente, tais como Índia, Brasil e China, a fim de diminuírem os custos de produção e maximizarem os lucros. Não bastasse isso, tais empresas decidem estrategicamente se estabelecer em zonas rurais, em face da maior vulnerabilidade ambiental e social dos indivíduos. Via de regra, estes empregados exercem um trabalho que desconsidera a capacidade criativa e crítica dos trabalhadores, os submetendo a um salário menor do que o praticado no restante do mundo, nutrindo a lógica exploratória dos grandes grupos empresariais internacionais, em articulação com as políticas macroeconômicas dos Estados nacionais (Ruben, 1995).

A economia solidária (EcoSol), ao defender alternativas de geração de renda pelo trabalho cooperativo, associativo e autogestionado (SINGER, 1997), propõe a mobilização de trabalhadores urbanos, desempregados, comunidades quilombolas e das comunidades situadas em territórios rurais no intuito de superar modos exploratórios de produção (ABRAMOVAY, 1992). Reconhece, assim, a importância dos saberes tradicionais para a construção de fontes de geração de renda em rede, como é o caso da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária, fomentando relações sociais inclusivas e a ampliação de espaços públicos e privados democráticos no que se refere à participação e intervenção dos indivíduos na sociedade. Durkheim (2010, p. 14), em “Da Divisão Social do Trabalho”, já reconhecia a importância do trabalho de grupos associativos que, segundo ele, exerciam “um poder moral capaz de conter no coração dos trabalhadores um sentimento mais vivo de sua solidariedade comum, de impedir que a lei do mais forte se aplicasse de maneira tão brutal nas relações industriais e comerciais.”.

1 Justamente a noção de transnacionalidade (RUBEN, 1995) pressupõe que a empresa atue fora de suas

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Ao impulsionar a difusão de valores como justiça social, respeito ao meio ambiente e a agroecologia2, a EcoSol propõe a inversão da perspectiva exploratória predominante no mercado hegemônico, a partir de um modelo de desenvolvimento desvinculado da ideia de crescimento econômico, posto que o seu foco é o bem-estar humano. O seu compromisso, portanto, é com o incremento da qualidade de vida, com o respeito à dignidade inata dos indivíduos, o que, para Paul Singer (1997; 2000), seria possível ser alcançado via geração de trabalho e renda.

Além das iniciativas no âmbito do econômico, como dito, impulsionada pela articulação com diversos movimentos sociais no Brasil e no mundo, a EcoSol cada vez mais se traduz como um instrumento em favor da igualdade de gênero. Isto porque, ao ampliar os espaços de participação social das mulheres, via fomento à organização coletiva, viabiliza a participação política feminina, por exemplo, em feiras, formações, políticas, contribuindo para ressignificar o papel das mulheres na sociedade.

A partir deste ponto de vista, observa-se a importância de se analisar criticamente o histórico do que se denomina atualmente de economia solidária, destacando a sua potencial força social para impulsionar arranjos sociais produtivos, inclusive no âmbito rural. Nesse sentido, será analisado o surgimento histórico dos princípios que fomentaram a economia solidária, sobretudo a partir de práticas econômicas de cooperação. Ademais, será analisada a assimilação da EcoSol como política pública pelo Estado brasileiro, por meio da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). Para tanto, serão discutidas as primeiras iniciativas em torno do que se denomina de economia solidária, com foco nos efeitos irradiantes que os princípios da EcoSol possuem em outras conjunturas e movimento sociais, tais como no feminismo e na agroecologia. Com isto, objetiva-se perceber, do ponto de vista teórico, as intercessões entre a EcoSol, o feminismo e a agroecologia, com o objetivo de analisar perceber se a articulação entre estas propostas fomentam um desenvolvimento alternativo, ou seja, comprometido com o bem-estar humano.

Em decorrência das discussões apresentadas no capítulo, percebe-se, preliminarmente, que a EcoSol, aliada ao feminismo e à agroecologia, pode representar uma alternativa importante de desenvolvimento alternativo aos modos exploratórios de

2 Sob o ponto de vista deste estudo, consiste em “uma nova abordagem que integra os conhecimentos

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produção, pois estimula meios produtivos que, ao mesmo tempo, salvaguardam o meio ambiente e fomentam uma maior coesão social. Do ponto de vista institucional, o Estado brasileiro ainda subdimensiona as potencialidades da EcoSol, de modo que as experiências de políticas públicas que assumem os seus princípios ainda carecem de maior avaliação e investimento, em nível federal e, sobremaneira, estadual e municipal.

1.1 Economia solidária: breve conjuntura histórica

A EcoSol é uma proposta contra-hegemônica de desenvolvimento que busca a reordenação solidária das relações socioeconômicas no que diz respeito à produção, comercialização e consumo de bens. Propõe, nesse sentido, a negação e a superação da lógica produtivista que fundamenta o capitalismo, calcado em métodos hierarquizados de gestão, nos quais a venda da força de trabalho não é um valor em si, mas uma etapa potencialmente substituível da cadeia produtiva, cuja função é gerar a maior obtenção de lucro possível, a partir do estabelecimento de uma postura acrítica de alienação do trabalhador.

Singer (1997) entende o associativismo e a autogestão como instrumentos capazes de disseminar iniciativas que promovam uma distribuição mais justa dos espaços sociais, ao tempo em que gera renda. Isto porque, tais estratégias fomentam o trabalho coletivo, a deliberação colegiada e o compartilhamento de decisões e responsabilidades no âmbito do desenvolvimento de uma atividade econômica, desvinculando-a da ideia de centralidade do lucro por meio da exploração humana.

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Desse modo, a conjuntura sob a qual a noção de autogestão se desenvolveu era a da submissão da terra, do trabalho e dos indivíduos aos domínios econômicos, contexto presente de modo hegemônico contemporaneamente. A ideia, portanto, era fomentar reações às práticas decorrentes do processo de industrialização mundial, responsável pela conversão da dignidade humana em mercadoria. Segundo Polanyi, a Revolução Industrial

foi apenas o começo de uma revolução tão extrema e radical quanto as que sempre inflamavam as mentes dos sectários, porém o novo credo era totalmente materialista, e acreditava que todos os problemas humanos poderiam ser resolvidos com o dado de uma quantidade ilimitada de bens materiais. (1980, p. 58).

Karl Polanyi (1980, p.52) até reconhece o progresso trazido pela Revolução Industrial do século XVIII no tocante ao incremento dos instrumentos de produção, mas o que marcou tal período histórico, segundo ele, foi um crescimento econômico que desarticulou a vida dos indivíduos em sociedade, subvalorizando relações mutualísticas e de cooperação. Nesse contexto, os movimentos anarquistas foram grandes responsáveis por reconhecer a importância de uma reestruturação do referencial econômico, a partir da modificação das motivações humanas, na qual a ganância seja substituída pela convivialidade.

A partir dessa perspectiva, Singer (1997; 2000) defende uma EcoSol baseada na repartição proporcional dos bens e serviços produzidos economicamente, ao propor a diminuição das desigualdades no mundo do trabalho e do consumo, pela via da promoção de relações humanas solidárias, recíprocas, mais dialógicas, de cooperação, coordenação. Progressivamente, pois, as ideias orientadoras de formas de produção menos competitivas vêm sendo fomentadas em nível global e nacional, seja em resposta às pressões dos movimentos sociais ou pela assimilação pública da necessidade de investimentos em iniciativas institucionais menos marginalizantes.

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produtivas sociais mais remotas, partir da projeção das propostas autogestionárias, passaram a atrair pesquisas, financiamentos, e gerar significativas mobilizações sociais, o que tem resultado em propostas de regulamentações jurídicas e em propostas políticas e econômicas que espelham o reconhecimento público da EcoSol como uma estratégia alternativa de desenvolvimento importante para a sociedade.

Na literatura brasileira o conceito de economia de solidariedade foi apresentado com tal terminologia pela primeira vez no Brasil em 1993, no livro Economia de solidariedade e organização popular, organizado por Gadotti, onde o autor chileno Luis Razeto a entende como

uma formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas -...-, que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas. (Razeto, 1993, p. 40).

Nesse sentido, mais do que proposta de contraposição à crescente lógica de exploração humana perpetrada pelo capitalismo, a EcoSol é um movimento político que suscita uma nova racionalidade, a partir de relações intersubjetivas de solidariedade e do estabelecimento de relações econômicas que gerem o empoderamento coletivo comunitário que guarda íntima conexão com o respeito aos direitos inerentes à condição humana, inclusive os vinculados ao respeito ao meio ambiente.

Em 1995 foi realizado o 7º Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Sociologia e, a partir dele, Gaiger publicou uma coletânea de artigos. Na apresentação da obra, este autor definiu a economia solidária como um tipo viável e promissor de economia popular. Segundo ele, os empreendimentos solidários reúnem, de forma inovadora, características do espírito empresarial moderno3 e princípios do solidarismo e da cooperação econômica, apoiados em um senso de coletividade presente nas vivências comunitárias (Gaiger, 1996, p. 11).

A partir dos debates apresentados no evento, aperfeiçoaram-se as discussões acerca da necessidade de construção de relações de trabalho capazes de empoderar os trabalhadores/as, de modo que a geração de renda estivesse vinculada à ampliação do usufruto de direitos humanos básicos. Para Gaiger, este anseio deveria ser

3 “Necessidade de qualificar tecnicamente para tocar empreendimentos numa economia centrada na

Imagem

Figura 1: Mapa político do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque  para o município Mossoró
Figura 2 Projetos apoiados por ano (2003-2010)  Fonte: Pesquisa SENAES – SOLTEC/UFRJ, 2011
Figura 3 Movimentos feministas no mundo apoiados pela MMM.
Figura 4 Distribuição das áreas irrigadas nos municípios brasileiros.
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Referências

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