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3.1 As Redes sociais do semiárido potiguar e as ações coletivas em favor

3.1.2 Onde a Rede Xique Xique atua e quem viabiliza este trabalho?

A caatinga, bioma exclusivamente presente no nordeste brasileiro, é comumente simbolizada pelo xique-xique, planta típica desta vegetação, resistente à seca, que prospera mesmo nos contextos mais adversos do solo e do clima. Pode atingir até 4 metros de altura e possui ramos espinhosos, flores brancas e produzem frutos ricos em sais minerais. Em períodos de estiagem é muito utilizada como alimento para os animais e ainda está bem presente da região do semiárido, não obstante hajam consideráveis impactos decorrentes da devastação da caatinga diante da urbanização acelerada e de outras atividades humanas na região.

Foi a resistência desta planta que deu nome à Rede Xique Xique de Comercialização Solidária, pois, segundo uma das coordenadoras da REDE, “a gente escolheu esse nome por entender que a Rede é isso: resistente. Resistente à falta de dinheiro, à falta de produto, a tudo que possa vir pela frente.”. A Rede representa uma importante articulação social na região, pois viabiliza a assessoria técnica aos produtores/as, atuando como um instrumento de mobilização dos produtores rurais e urbanos, bem como das entidades que atuam com esta temática no Estado do Rio Grande do Norte. Propõe a produção agroecológica de produtos rurais ou a produção sustentável de outros bens, tais como artesanato, polpa de fruta, geleia e mel, além da busca pela geração de renda de modo não concorrencial. Está, portanto, comprometida com o respeito aos bens ambientais, à igualdade de gênero, à segurança alimentar dos

produtores e consumidores, e com a autonomia de seus membros, tanto que estimula a autogestão e não lida com intermediadores.

Como dito, após os resultados positivos, a Associação de Parceiros e Parceiras da Terra foi transformada, em dezembro de 2003, no Espaço de Comercialização Solidária Xique Xique, hoje denominada Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. Além da formação política e qualificação técnica dos produtores/as, para promover uma oferta diversificada de produtos, o objetivo da criação da Rede foi constituir um ponto fixo de comercialização de bens produzidos no oeste potiguar, a fim de contribuir para o escoamento dos produtos excedentes da agricultura familiar.

Para tanto, além de promover feiras todas às sextas-feiras, a Rede possui na sua sede uma loja, aberta diariamente em horário comercial, para comercialização de polpa de fruta, mel, galinha, codorna, artesanato, queijos, pão, doces, castanha, frutas, verduras e hortaliças.

Figura 10: Feira de comercialização na sede da Rede Xique Xique (2013). Fonte: Arquivo fornecido pela Rede Xique Xique.

Figura 11: Preços e produtos comercializados na Rede. Fonte: Arquivo próprio da autora.

Discutiu-se a criação de um centro de convergência de comercialização, para atrair e consolidar o consumo direto e consciente na região, além de dinamizar a economia local e regional. A oferta dos produtos é, porém, limitada e irregular, já que se resguarda o tempo natural de maturação dos bens, o que pode gerar o progressivo esvaziamento deste centro, como também se alega a dificuldade de manter um empregado exclusivamente para trabalhar com a venda neste centro de comercialização, de modo que os cooperados da Rede entendem que não seria um ponto positivo.

A Rede lida com quatro tipos distintos de organização: unidades familiares, grupos informais, associações e cooperativas. Diante da limitação de pessoal na estrutura da organização, que é essencialmente formada por agricultoras/es, pescadoras/es, artesãos/ãs e apicultores, não há um censo que precise a quantidade de pessoas que compõem a Rede.

Figura 12: Sede da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária (Mossoró, 2014). Fonte: Arquivo próprio da autora.

Em 2004, diante do crescimento de políticas públicas na área de economia solidária decorrente, sobretudo, da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), sentiu-se necessidade da formalização da Rede. Instituiu-se, então, a Associação de Comercialização Solidária Xique Xique, fruto de um processo de construção coletiva que contou com a parceria de um conjunto de organizações da sociedade civil extremamente comprometido com o desenvolvimento local no semiárido e com a implantação de tecnologias de convivência com a escassez de água. A Rede, então, passou a atuar em diferentes frentes em busca da autonomia e melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, a partir do objetivo de, via projetos e políticas públicas, qualificar, fortalecer e transacionar com os produtores/as familiares, associações de produtores, grupos informais e cooperativas.

A organização destaca-se, pois, por estimular os produtores que lhe fornecem produtos a replicarem essa lógica na sua produção, de modo a se formar uma cadeia produtiva ética, das sementes crioulas ao comércio justo.

Quando perguntada sobre como fazem para certificar que os seus produtos são orgânicos, uma das coordenadoras da REDE expõe que “a Rede não tem estrutura ou condições para analisar cada produto que comercializa. Qualquer pessoa que quiser pode pegar os produtos e levar para fazer análise e avaliar se tem veneno ou não. A única garantia que temos com os produtores é a confiança! Se acharem veneno em algo que a gente venda, o que a gente vai fazer é não vender mais produto daquele parceiro.”.

A Rede Xique Xique, embora só tenha representação em núcleos no Rio Grande do Norte, está presente em todo o país, de forma indireta, pois é comum o intercâmbio

de saberes em eventos nacionais, bem como em visitas que são realizadas na sede da organização. Recentemente (dias 11, 12 e 13 de maio de 2016), inclusive, a Rede recebeu a visita de agricultoras familiares que integram a Rede Estadual de Mulheres Tecer para Crescer, da Bahia, que vieram com o objetivo de conhecer experiências relacionadas à produção, comercialização, consumo solidário, organização e autogestão na Rede Xique Xique.

Figura 13: Mulheres da Rede Estadual de Mulheres Tecer para Crescer (Bahia) em intercâmbio na Rede. Fonte:http://redexiquexique.blogspot.com.br/2016/05/rede-xique-xique-recebe-intercambio-de.html.

Instituída em 2011, formalizada em 2012, a Cooperxique foi criada para possibilitar que a Rede pudesse ampliar a renda dos produtores/as da região via comercialização dos produtos, posto que as associações legalmente não podem ter fins lucrativos. A princípio, uma das coordenadoras da REDE revela que era contra a criação de uma cooperativa específica para a comercialização da Rede, pois já existiam várias cooperativas vinculadas a ela, tal como a Coopermups (Cooperativas de Mulheres Prestadoras de Serviços), Cootipesca (Cooperativa Tibauense de Pescado), dentre outras. Todavia, um estudo das opções de cooperativas existentes evidenciou que a melhor alternativa seria criar uma cooperativa com a finalidade e característica da Rede, pois as existentes não se vinculavam ao trabalho rural e, para que as cooperadas não perdessem a condição de trabalhadoras rurais para fins previdenciários, a cooperativa só poderia ter cooperada/o que seja trabalhador/a rural da agricultura familiar.

A Cooperxique, regularmente formalizada, passou a fazer vendas diretas com a emissão de nota fiscal, começou a vender para eventos, restaurantes, bem como a fornecer produtos para políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos39 (PAA), Programa Nacional de Abastecimento Escolar40 (PNAE – que exige a formalização do grupo), podendo vender atualmente para quaisquer outras entidades que exijam Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), como a Feira Nacional da Agricultura Familiar41 (Fenafra).

Alguns/mas produtores/as da cooperativa vendem a sua produção individualmente para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): hortaliças, galinha caipira e mel. Já a cooperativa vende produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A comercialização para o programa começou no segundo semestre de 2013, quando foram feitos dois contratos, de peixes e frutas, no valor de R$ 7 mil, e que deve ser o primeiro de muitos, segundo expectativa de uma das cooperadas (MDA, 2016). Ela chama atenção, porém, que o PAA e o PNAE não são focos da Rede,

39 PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, regulado pela Lei 10696/2003, tem a finalidade de

incentivar a agricultura familiar, por meio da aquisição de produtos agropecuários de produtores, cooperativas ou associações, sem processo licitatório, para a distribuição à pessoas em situação de insegurança alimentar e formação de estoques estratégicos. (Disponível em:< http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_tematicas/Cooperativismo/3RO/App_Conab_Coop erativismo.pdf>. Acesso 16 abr 2016.).

40 PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar, implantado em 1955, visa contribuir para o

desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes e a formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio da oferta da alimentação escolar a toda a educação básica (infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos) matriculados em escolas públicas, filantrópicas e em entidades comunitárias (conveniadas com o poder público), bem como para a educação alimentar e nutricional dos seus beneficiários. Os recursos financeiros provêm do Tesouro Nacional e estão assegurados no Orçamento da União. O FNDE realiza transferência financeira às entidades executoras (estados, Distrito Federal e municípios) em contas correntes específicas abertas pelo próprio Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sem necessidade de celebração de convênio ou qualquer outro instrumento. As entidades executoras são responsáveis pela execução do programa, inclusive pela utilização dos recursos financeiros transferidos pelo FNDE, que são complementares. É de responsabilidade das entidades executoras garantir a oferta da alimentação escolar aos alunos matriculados. A transferência é feita em dez parcelas mensais, a partir do mês de fevereiro, para a cobertura de 200 dias letivos. Cada parcela corresponde a vinte dias de aula. O valor a ser repassado é calculado da seguinte forma: TR = Número de alunos x Número de dias x Valor per capita, onde TR é o total de recursos a serem recebidos. Dos recursos financeiros repassados pelo FNDE às entidades executoras, no mínimo, 30% (trinta por cento) devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios produzidos pelo agricultor familiar e pelo empreendedor familiar rural. O controle social do programa é exercido por meio do Conselho de Alimentação Escolar, cuja constituição é condição para o recebimento dos recursos. (Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar/alimentacao- escolar-funcionamento/execu%C3%A7%C3%A3o-alimentacao>. Acesso 16 abr 2016.).

41 FENAFRA – a Feira Nacional da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária é realizada desde 2004

com o objetivo da Feira foi de promoção, divulgação e comercialização via venda direta dos produtos da agricultura familiar e reforma agrária, público beneficiário do MDA. Consiste em um momento de intercâmbio de informações entre os agricultores e de ampliação das redes, associações e cooperativas, por meio de articulações produtivas. (Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/alimentacao- escolar/alimentacao-escolar-funcionamento/execu%C3%A7%C3%A3o-alimentacao>. Acesso 16 abr 2016.).

criada para a comercialização das/os produtoras/es do entorno. Participar destas políticas, segundo uma das cooperadas, foi uma consequência positiva da dedicação dos grupos às suas produções. Segundo ela, 90% dos recursos captados pela Rede hoje provém da venda direta.

A loja da Rede está localizada em uma casa alugada localizada no centro de Mossoró, e no mesmo espaço físico funciona a Cooperxique, “porque a gente não tem condições de pagar aluguel para associação e para a rede em locais separados, nem tem necessidade”, disse a entrevista 2. Recentemente criou-se um grupo no aplicativo de mensagens instantâneas whatssap, já com mais de cem membros, visando o agendamento de encomendas. A equipe da loja, porém, relata que muitos consumidores do grupo ainda não estão entendendo a lógica da Rede. Solicitam produtos como se eles não fossem perecíveis; esquecem que a disponibilidade do produto não é como a dos produtos dos supermercados; fazem pedidos em quantidades mínimas, desconsiderando as limitações de logística e o custo da entrega – embora as entregas estejam suspensas por questões orçamentárias atualmente.

Comumente frequentam a sede da Rede: Neneide e Tatiana (coordenadoras), Adriano (Assessor técnico de serviços territoriais), Cleidinha e Nara (trabalham na loja), Zânia e Fátima (trabalham exclusivamente nos projetos da Rede, diariamente), Eliane (captação de projetos e recursos), sua irmã, Kika (serviços gerais), e Tarso (estudante de administração, residente em Mossoró, que se aproximou da Rede pelo movimento juvenil de que participa e ajuda na comercialização).

Uma das coordenadoras da REDE, a entrevistada 2, viveu desde meados do ano 2000 na zona rural de Mossoró, no assentamento Mulunguzinho, mas há 3 anos reside na cidade de Mossoró. Com três filhos, de 21, 24 e 27 anos, N. foi mãe pela primeira vez aos 15 anos e, aos 43 anos, tem quatro netos. É filha de uma das fundadoras do Grupo de Mulheres Decididas a Vencer, que foi presidente da Associação de Moradores de Mulunguzinho por muitos anos. Segundo a entrevistada 2, sua mãe foi uma das maiores lideranças de Mulunguzinho e é “daquelas que cai em campo!”.

Dona N., mãe da entrevistada 2, é casada com o mesmo senhor desde que a entrevistada 2 tem 5 anos, ou seja, há 38 anos. Num dos encontros dos quais participei na casa de Dona N., ele ficou calado, observando todas as histórias contadas pelo grupo. Vendo tal comportamento, comentei certo dia na Rede: “O marido de Dona N. parece ser bem calmo!”. Imediatamente veio a resposta: “Aquilo é tão bruto no mundo!”. Na hora veio à tona a definição de “poder simbólico” de Bourdieu, como o poder invisível

exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que estão sujeitos a ele ou mesmo que o exercem” (1989, p. 7). Aposentada, Dona N. tem dores nas articulações dos braços e ombros, mas continua com as suas plantações no quintal, pois segundo ela, “a terra existe para ser plantada”, embora seus filhos reclamem, pois dizem que sua genitora não precisa mais trabalhar, porque juntamente com o marido, única pessoa com quem mora, são aposentados. Dona N. sempre que vai ao centro de Mossoró, passa nos Correios e leva todas as correspondências do assentamento. Ela costuma doar as frutas que as suas árvores dão para as mulheres fazerem o beneficiamento da polpa, o que é criticado por seu marido e filhos, que entendem que ela deve vender as frutas ou trocar por comida para as galinhas.

Dona N. criou o filho mais velho da entrevistada 2, que trabalha há quase 10 anos em uma loja de vendas em atacado em Mossoró. Dizem que ele gosta muito do campo, cria passarinho, mas não quer viver de agricultura. A filha do meio de N., segundo ela, é “patricinha”, e Na. é a única que trabalha na Rede, na parte administrativa da loja. Nenhum de seus filhos atualmente reside em Mulunguzinho. Na. se divide entre os seus trabalhos na Rede, o estudo para terminar o supletivo do ensino médio e a sua filha, Cla., com 2 anos de idade.

A entrevistada 2 é da segunda geração do grupo Decididas a Vencer, atualmente é casada com uma pessoa que trabalha na construção civil em Mossoró. Vai para Mulunguzinho apenas nos finais de semana, pois no horário comercial contribui para o andamento dos projetos coletivamente construídos com as articulações da região. É uma das coordenadoras da Rede Xique Xique e da Cooperxique, o que lhe demanda muito tempo. Porém, ao ser abordada por uma vendedora de roupas na sede da Rede, disse que não estava podendo comprar nada, já que está desempregada, pois todo o seu trabalho na Rede é voluntário. Trabalhadora do campo, nas folgas da Rede aproveita para trabalhar com as abelhas e plantar em Mulunguzinho, onde possui um lote do assentamento. Ela tem uma disposição impressionante, enfrenta os desafios diários com muita simpatia e objetividade, lidera os encontros dos conselhos da Rede e está sempre disposta a assimilar conhecimento e aberta a sugestões. Divulga, para quem puder, os benefícios das práticas agroecológicas, reproduz com firmeza discursos feministas e participa de todos os eventos e movimentos sociais que tenham causas análogas às da Rede. Sem dúvida, é uma grande força para a REDE.

A entrevistada 6, também coordenadora da Rede, é natural de Guamaré (RN) e passou a infância em Macau (RN), mas há 26 anos reside em Tibau (RN). É filha de

pescadores e desde a infância ia para cima da embarcação no rio remar e ajudar os pais “a despescar a rede”.

Eu vim para Tibau porque na época eu fugi. Tibau foi o meu ponto de partida quando eu me separei. Eu não tinha outra opção, ou fugia ou morria. Eu cheguei aqui em época de desespero. Eu peguei minhas 3 filhas e saí sem eira nem beira. Ao Deus dará. Onde eu pousava era pouso. Eu tinha muito medo do meu ex-marido vir atrás de mim. Dizia a todo mundo que meu nome era Geralda, porque o nome do meu pai era Geraldo.

Ao refazer a vida em Tibau, começou a conviver com o segundo companheiro, também pescador. Para se capacitar, fez um curso no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) de beneficiamento de peixe, juntamente com outras mulheres. Segundo ela, a população que reside em Tibau exerce a função de pescador, no inverno, e agricultor, no verão. Além de pescadora, ajuda o marido - que cria gado, vende leite e cria galinha. “Eram anos de invernos bons, sobrava peixe.”, disse a entrevistada 6. Com a criação da cooperativa, a partir de orientação de entidades da região, a venda do pescado ficou mais organizada. “A cooperativa melhorou muito a combater com essa história de explorar o trabalho das mulheres e das crianças aqui em Tibau. Tanto que as mulheres passaram a participar mais das reuniões, embora o número de participantes seja muito variável, hoje só tendo seis mulheres. Eu, como mulher, fico muito feliz quando vem alguma querendo participar da produção.”

Muitas mulheres que participam da Rede dizem que, antes de começar a trabalhar nas associações eram domésticas. Trabalhavam o mês todo para ganhar duzentos reais, além de só ter emprego no verão e em feriados. Sendo assim, prefeririam começar a pescar, a plantar, a trabalhar com apicultura.

O entrevistado 7, assessor técnico de serviços territoriais da Rede, é nascido em Mossoró e trabalha na parte de comercialização solidária42. Foi aprovado mediante seleção simplificada e faz parte da Rede Xique Xique desde setembro de 2014. Não tinha vivência no campo até ser apresentado à Rede por meio da sua articulação com os movimentos da Igreja católica do Alto da Conceição (Bairro de Mossoró), e exerce funções fundamentais na Rede, tanto no que diz respeito à parte burocrática, mobilizando os produtores, como também ajuda na organização e participa de eventos e

42 CONVENIO MTE nº 774491/2012, projeto: “Apoio ao Sistema Nacional de Comércio Justo e

Solidário no Brasil: fortalecendo identidade, processos e práticas de base justa e solidária” através do convênio firmado entre o MTE/SENAES/REDE XIQUE XIQUE de nº 774491/2012.

fóruns no país todo. Por ser do sexo masculino, diante de todo o protagonismo que as mulheres exercem, sempre é coadjuvante nos documentários e entrevistas da Rede, mas é muito importante para o seu funcionamento.

As entrevistadas 8 e 9 são de Mulunguzinho, e já da terceira geração do “Decididas a Vencer”. A primeira tem 21 anos, é mãe de uma menina de 2, para quem busca uma vaga em uma creche em Mossoró atualmente. Casada, chegou a ser retirada do grupo da igreja de Mulunguzinho, quando adolescente, por questões atinentes a sua intimidade. Diz que o seu marido nunca a impediu de estudar; ela que não quis mesmo! Mas agora, após perder muitas chances de ingressar em projetos da Rede em razão da ausência da escolaridade mínima exigida, tenta terminar o ensino médio fazendo provas do supletivo e diz que sonha seguir o curso de Educação no campo, disponibilizado pela Universidade Federal Rural de Semiárido (Ufersa). Frequenta de forma mais assídua a Rede há 4 anos; inicialmente só ia quando a responsável pela loja não podia ir. Depois começou a ajudar a fazer as entregas de verdura. Gradativamente foi frequentando mais o espaço: iniciou limpando a sede, depois começou a ajudar com a mobilização dos produtores e vender hortaliças. Quando o entrevistado 10, o antigo responsável pelas vendas da Rede, saiu da loja (passou no concurso de Agente de combate de endemias do município de Aracati-CE), ela (a entrevistada 8) aprendeu a controlar estoque, emitir nota fiscal e passar o cartão de crédito, e até então está na Rede, pelo menos 3 dias por semana.

A entrevistada 9, grávida do seu primeiro filho, e filha de uma das fundadoras do grupo Decididas a Vencer, também é responsável pela organização da loja, mobiliza os produtores para as entregas de produtos em dia de feira, atende aos consumidores, confecciona a cesta de verduras para entrega, ensaca os produtos e pesa. Embora seja perceptível a ausência de técnicas mais apuradas do ponto de vista de controle de estoque, de setorialização dos produtos, tem sempre boa vontade e paciência para resolver as diversas demandas que enfrenta, e desde às 7 horas da manhã, quando abre a loja, até a hora que for necessário, carrega um lindo sorriso nos lábios e um olhar doce e delicado.

A entrevistada 11, técnica de nível superior, trabalha exclusivamente na parte contábil da Rede, diariamente, pois foi selecionada via processo simplificado para