3<nbit (farícr Ij&volxm jCibrara BtnmrtJinittci-.aitir
TheGiftof
The
Associates ofThe John
CárterBrown
Library;\::m Celadàn Beneí. 345-0-3• fi
32
,.Sermão
com
preferencia aode eítarDeosem
vós,como
em
CidadedoSalvador:Inmernanet %&
ego intilo.Parabém
te íeja, ó Cidade da Bahia, otribu-tares na tua
Cathedralcom
taó reverentepompa
fcãôfoiemnes cultos ámelhor
Bahia detodososSantos triunfafempre de todos os teus contrários, paraque
adoresem
pazditofa aqueílamaramlhofa
Gi^dade
, fempre triunfante: alifta todos os teusmo-radores por íoldados
daqueUe
fagrado preíldio '>porque
neile naó íearmaó
tanto para aspelejas,quanto para asvitorias: Euchartftia efi
armarnenta-rittWydequo militesnontam ad pugnam,
quam
ad vtão~ riamprocedunt, Evós,íoberano Senhorfacramenta-dojvivo
Reyno
dosCeos,
e Imperial Bahia deto-dososSantos,fazeyque todos os que entraõ
jhuma
vez
dentrodeífaCidade do
refugio,naõ fayaõmaisfora deliaypara
que
militandof&mpre debaixodas bandeirasdo
voíToamor
na guardada
voíTa fanta iey,ecom
os_accrefcentamentosda
voíía graça alcancem feguros os troféos da voíTa gloria:Ad
quam
nosperducat Pater,&
Films,.&
Sptritus San*ãus.
Amen.
SERMÃO
DA SANTÍSSIMA
VIRGEM
MARIA
NOSSA
SENHORA
A
LAPA,
EXPOSTO
O
SS.SACRAMENTO,
Na
tardedo
diade Reis
,
Em
que profefsárao duas ReJigiofas Afilhadasdamefma
Senhora , e ultimo dos finco feíHvos pelasProfif-soes das novas Religiofas da Conceição
no
anno de 1746.DEDICADO
AO
SENHOR
SEBASTIÃO BORGES
DE
BARROS,
CavaUeiroprofeJJona
Ordem
deChrijlo,Familiar doS.Oficio,Coronel de
hum
dos Regimentos da Cidade da Bahia ,POR
SEU
AUTHOR
O
R.PADRE
TOSE'
DE
OLIVEIRA
SERPA,
Presbytero fecular Babienfe,
LISBOA,
NaOfficina de
MIGUEL
MÀNESCAL
DA
COSTA,
LnpreíFor
do
Santo Officio.Anno
1751.Com
as licenças neceffarias.AO
SENHOR
SEBASTIÃO
BORGES
DE
BA
RROS,
Cavalleiroprofejfo na
Ordem
de Chriíío, eCoronel dehum
dos Regimentos da Qtdade da Bahia,NDUBITA
FEL
ficaa
veneração ,com
que refpeitoa
generofa pejfioa deV.
M.
quando
em
teverente obfequio lhe dedico ejie
Sermão.
Jà
tiefta occa/ião conjagreihum
deSanta
Tere-fa
de Jejus ao ReverendtjffimoSenhor
Cóne-go
Doutoral
irmão
de lx
. /k/« e logo o.
li
Mil
moafe&uofo
fuggerioa
vontadeque ofere-ce(fe
aK
M.
efte ,
para
que ficaflem iguaesnas
ofertasdom
irmãos tãofemelh
antesna
género/idade, cofiumes, e benevolência.
Nenhuma
diferença acho entream-bos no ufo das letras
, pofio que feja
muita
nas
occupaçoes dos cargos: elienas fuás
in-cumbências Eccleftaficas
, e
V.
M.
nosem-pregos militares •
mas
como a
paz
, que fe-lizmentegozamos
em
o
nofo
Brazil
,tem
defierrado os exercícios
da
guerra
y efiáocto-fa
a
palefira deMarte,
e os
alumnos
deliafe engvlfão
mais
nos cuidados deMercúrio
pelo negocio
, do que nos
def
velos de Palias pela fabedoria, tão útilpara
as letras%
co-mo
ptoveitofapara
asarmas.
De
todosporem
heK
M.
excepçãofem
hfonja, porque
na
fua
juventudead-qmrto
pelo efiudoa
fcienciada
lingua
Lati-na
em
que he perito, e nos E/ludosGeraes
de/la Cidade verfou
a
Filofofia ,
em
que fegraduou
Licenciado,
findo
a
primeira
pe-dra
dofeu
curfi,
para
quefoi efcolhidoen-tre os Co/legas pelo conceito
,
que
oPadre
M
efe
fez
da
capacidade de 1/.M.
para
def
empenhar
f
ua
eleição.acabou
l/%M.
o exercidodas Aulas
.mas
não
deixou o ufo dos livros ,ainda
en+tre os cuidados
da
economia,com
quefe
co-nhece
augmentada fua
nobre cafa,em
igualconcur/o
da J
abe dória , que lhefeiura
osfundamentos
, eda
prudência ,que
lhemi-niftr
a
os esforços.E
como não fera
perma-nente
a
cafa efiabelecidacom
fabedoria , eprudência!
He
vaticínio domaior Rei
, Sa-lamão
no Capitulo 14. def
eus Provérbios: Sapientiâ sedificabiturdomus
,&
pruden-tia roborabitur.
Prudência
foi quererV.
M.
perpetuarfua
cafa , efotfabedoria eleger efpofa ,em
que os dotes
da
natureza avultãomais
doque
osda
fortuna , porque eftes eftãofujei-tos
à
inconftanciada fua
roda , e aq>+ellesfempre
extflemna
efiabilidadeda
venera-ção*AJJim
efcolhequem
he fabio , e affimobra
quem
he prudente > antepondoa
qua-lidade do
J
angu
eà
quantidade do dinheiro.Tão
injuriofaem
hum
Ecclefiajlico hea
ignorância ,como
louvávelem
hum
fecu-lar he
a
fabedoria-y e
melhor
naquelles, quefabem
ajuntarem
Paliasa
Toga
com
asarmas
: e ate nos corpos infenfivets fefaz
plaufivelefta união,-comofevê noSacro
Pa-lácio
Vaticano
, ondepor
difpofição do'
:i
M
*
mo
PontíficeUrbano
Fllh
fazendo-fepor
baixo do
J
alão ,em
que efláafamofa
livra-ria ,huma
igual ca/a dearmas
,fe
lhegra-vou
ainfcrfpção:Urbanus
VIII.
litterisar-ma,- arma
litteris.Não
exerceV.
M.
asarmas
noJeu
poftoy
porque
a
paz
fugindoda
Europa
,on-de
fempre
a
perturbarão , veiofazer
affen-to
na America
f
da
qual
a
guerra
, quehu-ma f
ovez
nos appareceocom
cara dehere-je
ycom
ellesfe
tornou corridapara
Holan-da
; eporiffocom
louvávelgojlomenea
V.
M,
as
folhas dos livros pelada
efpada ,adqui-rindo nelles
a
intelltgencia , capacidade , eprudência
,
que
moflra no feu trato , econ-ver
facão
,• e por onde fefaz
digno deque
lhedediqueefle
Sermão
: obra, quefera
inef-timavel
em
quantonão
tiver efculpidona
fronte o
nome
deV.
M.
e por iffo quero quea
recebacomo
fua
,para
communicar-lhe
o refpeito
da
peffoa ,com
que retroceda oorgulho
da
emulação*Deos
guarde a V.
M.
por
muitos , e felices annos.Bahia
8. deJulho
de1748.
De
V.M.
ObfequentiíIImo fervo, e fiel
amigo
Ao M.
Rev.
Senhor jfofé deOlheira
Serpa9pregando nas Profifsoes das Religiofas
da
Lapa
oultimoSermão
no dia deReis,em
que mojlrou aquellas Religiofas
Rainhas
coroadas.A
SONETO.
Quelle Sacerdote Samuel,
Que
deJudéa
fezRei
a Saul,Comfeu nome
encheo todoo
globo azul,Por
dar Príncipe aopovo
de Iírael.Vós
também
Sacerdote aDeos
fiel,
Como
o Profeta Sacro de Bethul,O
mundo
todo encheis deNorte
a SulDeite voíTo
Sermão
com
o
papel.Se a
Samuel
refuítou gloria civil,Porque
ao filho de Ciscom
pompa
Real
Torna
em
fceptro o cajado paftoril;Vós,
que para eíTa Corte Cele-ftial Fazeis tantas Rainhasno
Brazil,
Mais
queSamuel
tereis gloria immortalDefeu
Sobrinho, e Afilhado Silve/Ire de Oliveira Serpa.:
b
Ao
M.R.
SenhorJofê
de Oliveira Serpa,bré-gando
eruditamtnte , como cojluma,na
Pr
o*fifsão das novas Religiofas
da
Lapa,N
Ovo
SolSONETO,
exiítís, queem
claro impérioCorações accende, almas illumina, Se aos Aftros de belleza peregrina
Illuílrais de
hum
Convento no
emisferio.De
voíTas luzescom
o
minifterioAbris os olhos a qualquer menina,
Que
do
aííumptoReal
pela doutrinaSe arroga trez Coroas de myfterio..
Alegres eftao todas
em
feus Maios,Porque
aomundo
asmoítraisRainhasbellasNos
feus véos de coroascom
enfaios.Sois
em
fím claro Sol, poisfem
cautelasSó do
voíTo difcurfocom
os raiosJlluminar podeis tantas Eílrellas.
Offerece-o
O
mais
reverente venerador, e leal criado de V.M.
João
Pereira do Na/cimento.Unaeft
Columbamea
. . .viderunteam
filia,&
beaitjfimam pradicaverunt $Regina
. , . laudaverunt
eam>
Çantic. <5.E
oter Eítrella heannunciode
felicidade,
como
não fera felizquem
tem
Eítrella,Lua,
eSol?Senhor, fendo eíte dia trez ve-zes Real, e eíta feita por
mui-tasrazõesgrande,juíto era
que
para engrandecer mais
o
dia, e authorizar mais a feita, demanha
atè à tardeeítiveífe enthronizado o
Rei
dos Reis , e oSe-nhor dos Senhores :
Rex
Regum,
&
Dominus
Apoc. ,9.dominantium. Se o ter Eítrella he annuncio de
felicidade ,
como
não fera feliz,quem
tem
Ef-trella,
Lua,
e Sol ? Tiverão Eítrella , e muitobrilhante os trez Reis doOriente; efeguindo-a
como
a norte de feus defejos , acharão oDivi-no
Sol, e a7 melhorLua
naLapa
de Belém,que
B
'<:
ii-%
SER
M
Ã
O
fervia de esfera concava a tão foberanos
Plane-Matth. 2. tas: Videntes
autem
Stellamgavififuntgáudiomagno
valdè ,&
tntrantesdomum
inveneruntPuerum
cum
Maria
Matre
ejus. Alegrárao-fe > osMagos,
porque acharão oque queriao; e pa-ra que fuás felicidades correfpondeíTem aos in-fluxos de tal Sol,Lua,
e Eftrella, confeguírão trez Coroas , de Reis, de Bifpos , e deMarty-res.
E
quanto fedevem
alegrar as novas Reli-giofas profeííàs da Conceição , por acharemcom
eftrella melhor queadeBelém
tudo,
quan-to podião defejar na
Lapa
da Bahia !A
Eílrei-la
, que as guiou para efta
Lapa
, foi o EfpiritoSanto figurado naEílreila dos
Magos:
AliiSpi-ritum
Sanâtum
, qui in fpecie Stella apparuit,E
logoque
entrarão naLapa
, acharão a JefusChrifto,
que no
rebuço daquella Hoftia aseftá Pfalm.iS. galanteandocomo
Efpofo amante :Tanquàm
Sponfusprocedem
\ e achando aVirgem
Maria ,que no
titulo daLapa
fe eftá inculcandoMai
amorofa :Ego
Mater
pulchr<e dileâtionis.E
como
quem
tem
efte Efpofo , não neceííita deoutro
amparo
, equem
tem
eftaMãi
nãocare-ce de outro abrigo, por efta razão ha de fer fó
efte Efpofo , e ha de fer única efta
Mãi
:Una
ejl columba mea. Poreftapomba
única na aber-tura dehuma
pedra , ou no concavo dehuma
Lapa
:Columba
mea
inforaminibtispetra , feentende a
Humanidade
de Chrifto defpofada,
e unida ao Divino
Verbo
, venerada dascelef-tiaes virtudes
, que a acclamárão Beatiífima na
La-Voragin. deEpiph. Serm. 3. Eccli. 24. Cant. 2.
DE
N.
S.DA
LAPA.
3Lapa
deBelém
: Viderunteam
quacumque
vir- Comment.tutes nafcentem in terris , pannis involutam^ in Gant
-majejlatis gloria corufcantem ,
&
beatijjimampag"2°*'
pradicaverunt, diz
o
A* Lapide ; e fe entendejuntamente a
Virgem
Maria , quenamefma
La-pa fe oftentouMai
do
Filho deDeos
, dando-onafcido para remédio
do
mundo
:Maria
ejt co- Phiiíp. Ab;lumba
inpetra foraminibus nontam
gemens
, IIb- 3- inquàm
fecuromunimine
latabunda.mt
'c'12*Là
efperavao aquellas virgensdo
Euange-Iho que vieífe
o
Efpofo ;mas
não o bufcavão,e por iíTo algumas forão reputadas pornefcias,
e ficarão de fora : Nefcio vos
;
porém
eílas vir- Matth. ifigens da Bahia , porque
o
bufcárão naLapa
muito
de propofito ,o
acharãocom
grande fa-cilidade juntocom
Maria Santiííima ,Mai
deDeos
, e dos homens.Aqui
virão , e acharãoEfpofo,
eMai;
e recolhendo-fe debaixodo
feu abrigo , nefte annodo
noviciado ,como
boasfilhas forão pregoeiras das glorias da
Mãi
, edo
Efpofo: Viderunt eamfilia;^&
beatijjimam pr<edicaverunt\mas
agora que conhecidas fuás virtudes, e provadas fuás refoluções ,profefsá-rão os votos da Religião para fó louvarem , e
fervi
rem
aDeos
, pafsão de filhas a ferRai-nhas:
Regina
laudaverunt eam.Não
o diíferaeu, fejà o não houveífe efcrito o.famofo
Cor-nelio:
Per Reginas
accipiuntanimas
J
anelas, Comment.aus
ex amoreDeo
ferviunt ,&
ad
cdlejle re*m
Cam-6-í ^^ r^*
-)or
~yc*i
c
gnum
afpirant.E
com
maior razãoquando
fe v 6"
completão fuás profifsÔes , e oíFertas de feus
votos
no
mefmo
dia ,em
que
os ReisMagos
B
ii4
SERMÃO
tributarão ao
Menino
Deos
as offertas deouro,
incenfo, emyrrha
; porque no ourofe
reprefen-ta a pobreza ,
no
incenfo a obediência , e naA' Lap. in myrrhaacaftidade:
Per
thusvotum
obedientia,
Matih.c.i.per
myrrham
votum
cafiitatis ,peraurum
vo-tum
paupertatis.Logo
fe eftasReligiofasconfagrao aDeos
os votos de caftidade , pobreza , e obediência
no
mefmo
dia ,em
que osMagos
offertárao aChriftoouro , incenfo , emyrrha, poriíToaííim
como
elles forao Reis,também
ellas feconfli-tuem
Rainhas ; e fe osMagos
pelas fuás trezoffertas merecerão trez coroas , outras tantas
coroas pelos feus votos
confeguem
eítasReli-giofas. Jà
quando
receberão o fanto habito asmoftrei coroadas de flores pelo Sacramento
;
mas
agora omefmo
Sacramento para cada Ef-pofa fera coroa triplicada , e correfpondente aEfcob. Li. cada
hum
dos votos: Eucharifliae/lcorona,ad
fed.S.n.io,
quam
fponfus invitatfponfam
dicens : Veni,
veni^veni coronaberis. Serácoroa demagefta-de no ouro dapobreza:
Per aurum
votum
pau-pertatis j coroa de aromas
no
incenfo da obe-diência :Per
thusvotum
obedientia ; e coroade perpetuidade na myrrha da caftidade :
Per
myrrham
votum
cafiitatis.De
modo
queo
Divino Efpofo Chriílo facramentado ,
conver-tendo
em
coroas os votos de fuás Efpofas ,fi-lhas de
Maria,
as conflitueRainhas,
fendoelle
mefmo
para cadahuma
coroa mageftofa,
coroa odorífera , e coroa perpetua ; pois q»;c».
ellas guiadas
do
Efpirito Santo ,como
eftreiDE
N.
S.DA
LAPA.
jla, virão , e louvarão na
Lapa
aMaria
por fuaúnica
Mãi
, e a Jefus por feu fingular Efpofo:Una
eftcolumbame
a . .. viderunteam
filia,&
beatijjimam pradicaverunt.
Regina
laudave-runt eam.
Per
Reginas
accipiuntanimas
fati-otas ,
qua
examore
Deo
ferviunt ,&
ad
Ca-lefte
Regnum
afpirant.Não
pareça defattenção à voffa Mageíla-de , ò íbberanaRainha
do Univerfo , dar eua eftas vofías filhas o titulo de Rainhas ,
quando
meu
penfamento íb fe funda navoíTa grandeza,
porquefois
Rainha
de Rainhas, affimcomo
vof-ío Filho he
Rei
dosReis.Bem
conheçominha
infufficiencia para tão grande
empreza
, por terentendimento pobre, e
memoria
fraca;mas
co-mo
vós,Pomba
Divina, fois oobjecto demeus
difcurfos, alentareisminha
fraqueza comvoíTosauxilios, porque para amparares
a
quem
na La-pa vos bufea foisAve Maria
chea de graça.Una
eflcolumba
mea
. . . vtderunteam
filia,®
beàtiffimampradkaverunt
-9
Regina
. . . laudaverunt
eam*
Cantic6-'li :.i]'
.;:.'
^
! !
Uão
incomprehenfiveis são os juizos Di-vinos!Mas
algumasvezes permitte omef-'rno
Deos
que fejão efquadrinhados dosentendimentos
humanos,
paramaiorgloria fua, e utilidadenoífa.Tão
myíteriofo,como
grandefoi íempre o dia de Reis ,
ou
a feita da Epifa-nia i" :f -1 • ' r , TBCSBMMw6
SERMÃO
nia para efta Igreja
) porque fendo dedicada à
Senhora da
Lapa
, e naLapa
deBelém
fema-nifeílou aos
homens
deíTeVerbo
geradoabater-no a Eífencia Divina
em
a naturezahumana,
difpoz
Deos
que a Igreja da Senhora daLapa
folie fundada
no
dia de Reisno
anno mil efe-tecentos e vinte dous, e que
no
próprio diado
anno feguinte fe abriííe
com
magnificência tãoRegia,
como
Divina. Profeguírãofuásfeitas fem-pre nomefmo
dia, atè que chegando o anno demil e fetecentos e trinta e féis , impetradas as licenças neceífarias, fe lançou a primeira pedra
no
mefmo
dia de Reis para oConvento
dasfi-lhas da Senhora da Conceição
, que concluído
no
anno paliado na vefpera ,em
que a IgrejaPftlm.44. celebra aquellemyílerio, parece que acada
hu-ma
dasfilhas diííe aDivinaMãi
:Audi
filia,&t
mãe
,&
inclinaaurem tuam
, &> oblivifcerepopulum
tuum
, '&domum
patrts tui, fo» con* cupifcet
Rex
decoremtuum
:Ouve
filha, vê, eefcuta: efquece-te deteus parentes, edacafa de teu pai,
eoRei
Divino
cobiçará tuaformofura.Mais
nos coraçõesdo
que nos ouvidos decadahuma
dasfilhas, eafilhadas fizerão impref-são eítas vozes da Senhora daLapa
na feftada
fua Conceição ; e logo deixando pais,
paren-tes , cafas , riquezas , e delicias obedecerão ao
convite de tão admirável
Mãi
; e bufcando aLapa
,como
os Santos Reis , nella acharão , e virão aJefus paraEfpofo, e aMaria
paraMãi
,
qualquer delíes
pomba
única por fingular:Una
e/l columba mea,E
porque a Senhora daLapa
lhesDE
N.S.
DA
LAPA.
7
lhespromettêra que o
Rei Divino
fe pagaria de fuásformofuras:ConcupifcetRex
decoremtaunh
paliando ellas louvavelmente ofeu anno de no-viciado, agoraqueentregarão osdotes nasjoias riquiffimas dos votos , o
Rei
Divino contrahedefpoforio
com
cadahuma
delias ,defempe-nhando
a palavra daMai
, paraque de hojeem
diante fejao Rainhas , fe atè aqui forao filhas:
'Regina laudaverunt eam.
E
que melhor harmonia, ecorrefponden-cia,
do
que a deftasRainhascom
aquellesReis?Elles bufcárao , e virão aJefus , e a Maria na
Lapa
; ellastambém
naLapa
acharão , e virãoa Maria , e aJefus , porque os bufcárao. Elles
louvarão a
Deos
com
profundas adorações,gra-tificando a vocação das gentes; ellas
tem
gaílohum
anno inteiroem
louvores Divinos ,agra-decendo
ao Senhor fuás vocações.EDes
oífere-cêrão a
Deos
, na opinião de alguns Authores, asmefmas
trez dadivas cadahum,
de ouro, in-cenfo , e myrrha ; cadahuma
delias tributa aomeímo
Senhor melhor ourono
voto da pobre-za, melhormyrrha
no voto da caílidade, e me-lhor incenfono
voto da obediência. Finalmen-te fe os Reis , fendo atè entãonomeados
porMagos
, adquirirão naLapa
trez coroas ; eftasReligiofas, fendoatèaquitratadas porfilhas
de
Maria, agora pafsão a fer Rainhas
como
Efpo-fas
do
Rei
da Gloria, que as coroa
com
trez
diademas
em
premio dos feus trez votos, e poriífo anciofamente as convida : Veni de Líbano, Cant. 4.
fponfa
mea
, veni de Líbano y veni coronaberis.
Ef-:
8
SERMÃO
Eíta dicção Latina Veni correfponde à pa-lavra Itthi na lingua Hebraica
, que ílgnifica
DelRioib. fnecum
commigo
:
Pro
veni Hebraice eft Itthimecum
; e deitemodo
fe inverte o fentidodo
Texto
bem
aomeu
conceito:Mecum
de Liba-no jfponfamea
,mecum
deLibano
,mecum
co~ronaberis.
No
mefmo
idioma dosHebreos
o
Ih.fin.Bibl.
nome
Líbano
quer dizer cândido : Libanus, ideft) candidus , explica
o
Doutor Máximo.
Se-gue-fe então queJefus ChriftoRei
Divino , eEfpofo amante naquella Hoftia facramentado
,
com
ella quer coroar efpirituaímenteacadahu-ma
das Religiofas profeíTas ,como
fe diíTera;
Eípofa minha, pois
me
eftásvendo
neftecândi-do
accidente , e te vejocom
a candura deíTehabito ,
com
que te defpofaítecommigo
,de-dicando-me os votos de pobreza , caftidade , e
obediência , adverte que
commigo, commigo,
commigo
feras coroada :Mecum
de Libano,
fponfa
mea
,mecum
de Libano ,mecum
corona-beris.
Saia primeiro o voto da pobreza
fymboli-zado
noouro: Per
aurum
votum
paupertatis.Mas
como
pode
fer que oRei
dos metaes ,aquelle
, que
domina
tudo , fejajeroglyficoda pobreza ,
quando
nuncahouve
harmonia entre a pobreza , e o ouro? Aííim he ,quando
apo-breza he involuntária;
mas quando
he por von-tade própria , he tão rica , que excede aomef-mo
ouro ; e mais eílimaveldo
que as riquezastodas do
mundo.
Efcrevia S. Paulo aos de Co-rintho, eenfinava-lhes que nada tiveílem, parapoí-11H
Hl
DE
N.
S.DA
LAPA.
9
poíTuirem tudo: Nihilhabentes,
&
omniapof- AdCor. *.Jidentes.
Mas
como
aífím ?Os
Corinthios hão cap.6.de deixar fuás riquezas, hão de abandonar feus
cabedaes para então poííuirem tudo?
Sim
,
por-que o Apoftolo lhes aconfelhava a pobreza vo-luntária, que he mais rica
do
que todo oouro:Aurum
eft voluntária paúpertas;hac
enim di- A'Lapid.tijjima eft)
Deo
gratiftimapr#
omniauro. PoisP
!*}"16?'*fe eíTa pobreza voluntária he mais agradável a cap 2t
Deos
do
que todo o ouro,bem
he que efte fejadefprezado
como
nada, para fe poítuir aDeos
,
que
he tudo : Nihilhabentes ,&
omniapqffi-dentes.
Por iífo
Maria
SantiíUma defprezava as riquezas todas, porquepoíluia, e fó queriapof-fuir tudo no feu Divino Filho , moftrando
me-lhor o defprezo
do
ouro à fua vifta naLapa,
porque diftribuiocom
os pobres o que osMa-gos tinhão oíFerecido :
Licetenim
três .Reges A'Lapidmagnam
vim
auri Chrifto obtuliffent ,tamen
Beata
Virgopaupertatis ftudiofa ex illispau-ca accepit . .. autfiplura , ea in pauperes
dif-tribuit.
Da
mefma
forte Jefus Chrifto ,como
Filho de tão boa
Mãi
, foi defprezador dosbens, e riquezas
do
mundo
\ e ainda que fobreelle tinha
domínio
geral,como
Deos,
com
tu-do
nafceopobre, viveopobre,emorreo
pobre.Com
efte exceífo moftrou o Senhor amar, efe-guir a pobreza de tal forte , que diz Cornelio A' Lapide a profefsára, para dar-nos
exemplo
,e fer Meftre da vida mais perfeita:
NotaChri-ftum
....paupertatem, idefty carentiamhuma-C
ni ín Luc. it verf. Z4. Comment, in Joau. 1. verf. 6. igapiitmBBÊBxjmim
io
S
ER
M
A
O
ni dominii, prout illtid eft in ufu
hominum
yprofeffum ej]e , utperfeclioris vita ejfet
Ma-gijler , ejusque nobis daret exemplum*E
que
grande confolaçao para eílas Religiofas
fabe-rem
que o feu Divino Efpoíb profeíToupobre-za , afiim
como
eiias profefsárão!
A
mefma
, e maior pobreza moílra JefusChriílo naquelle Divino Sacramento
, porque
alii eílá tão pobre , que não
tem
migalha de pão ; veremos algumas efpecies delle ,mas
de fubílancia nada.E
fe as novas Religiofastem
exemplar tão perfeito na
Virgem Maria
fuaMai
, que naLapa
defprezou o ouro , que lhe oíFerecêrao os Reis; eem
Jefus Chriílo feuEf-pofo , que profeíTou pobreza para lhes dar
ex-emplo,
como
nãofarão eílas de todoo
coraçãoo
voto da pobreza, renunciando todos os bens,e riquezas
do
mundo,
profeífando, e feguindoa pobreza voluntária, que he
Rainha
coroada,aquém
cede toda a gloria? AílimodifleVilla-Roel
: Cedit totagloria, ubi regnatpaupertasvoluntária :
Cede
toda a gloria , onde reina apobreza voluntária.
Logo
apobreza voluntáriahe
Rainha?
Não
ha duvida; e tanto, quecon-flitue, e faz Reis aos que a feguem.
Deixou
meu
Padre S.Pedro barcos, ere-des para feguir a Chriílo ; e fazendo mérito
deílarenuncia,perguntouaoDivinoMeílre
que
Mâtth. 19. premio devia efperar: Ecce nos reliquimus
om-nia ,
&
fecutifiwius te: quid ergo erit nobis}Quizera eu agora arguir a
meu
Padre de efque-cido '7
mas
não quero , porque foubom
filho ; po-Tom. i. Tautol.8. Did. prim»
DE
N.
S.DA
LAPA.
n
porem
cà para nós:como
ainda efpera premio,fe Chriílojà o tinha premiado , e tanto ,
que
mais não podia fer
, porque lhe havia
dado
aschaves
do Reino
doCeo, com
dominioem
to-da a terra !
D
abo tibi clavesRegni
Ccelorum, idem 16.&
quodcumque
Ugaverisfuperterram
,eritli-gatum
ir in Coelis ; e omefmo
foi dar-lhe aschaves, queconítituillo
Rei
: Claves[iintinfí- A'Lap.hic.gne
Regum
, ér regentium.O
certo he que fequiz ratificar no premio , e allegou o ferviço.
Bem
fabia Chriílo que Pedro fe fizera pobre,
deixando
o
mundo
pelo feuamor
, e por ilfolhe
pagou
a finezacom
fazeiloRei
, e Senhordo mundo. Admiravelmente
odiííeSantoAgof-tinho: Prorfus
totummundum
dimijit Petrus,&*
totummundum
Petrus accepit.Abraçou
Pedro a pobreza voluntária,fe-guindo nella a Chriílo : e que fe lhe havia de
feguir fenao fer conílituido Pvei
com
dominio
em
toda a terra?Dabo
tibi claves. Clavesfunt
injigne
Regum.
Não
menos
quehuma
coroa he'o premio dos que profefsao pobreza , eo
mefmo
coníeguem
as novas Religiofas ,que
àimitação deJefus feu Efpofo , e de Maria ftia
Mai
profefsao o voto da pobreza reprefentadono
ouro , e por iífo conílituidas Rainhas ,que
coroadas pelo Divino Efpofo
com
diadema
de ouro ,em
que lhe converte o voto dapobre-za, elle
mefmo
lhes ferve de coroa mageílofa,
porque
o
ouro , por fer oRei
dos metaes , hefymbolo
da mageftade, e aqueileaugúrioSacra-mento
he ouro puriíRmo , de que fe adorna aC
iiSan-!*:!!
*
In Pf. 103.
1 Philip, à S, Co!auib. Meaí". Myftic. A' Lspid. Comment inMatth.2, Tert. Prasd. verb. Caftitas. Cone. prim. Ibid. Cone.4.
ii
SERMÁ
O
SantaIgreja: Euchariftia eftaurum, quo Eccle-fia ornatur; e fe
com
tãorico, e preciofodiade-ma
fevêcoroadaRainha
cadahuma
dasReligio-fasprofeífas, poriffo
com
todo oaffeclolouvaoao Divino Efpofo
no
Sacramento; e a fuaMai
foberana na
Lapa
:Regina
laudaverunt eam.A
outra offerta ,com
que os ReisMagos
obfequiárao ao
Menino
Deos,
foi myrrha, eo
fegundo voto
, que a
Deos
offerecêrao eftasReligiofas Rainhas foi a caftidade : efte fe
re-prefenta naquella offerta, conforme o A'
Lapi-de :
Per
myrrham
votum
caftitatis.Mas
que
analogia
pode
ter a caftidadecom
a myrrha?Muita,
porque amyrrha he certagoma,
ou re-fina muito cheirofa, que fahe de
huma
arvoredo
mefmo nome
porfeifuras, que fe lhe fazempara eíle eífeíto ; e por iífo jeroglyfico muito
próprio da mortificação, penitencia, e
caftida-de :
Myrrha
eftjejunium carnis mortificatio,
ir qu<e inde nafeitur caftitatis.
He
acaftida-de a flor dosbons coftumes,
como
lhechamou
oVivien, e poriífo àfemelhança damyrrha ex-hala fuaviílimo cheiro muitoagradável a
Deos:
Nibilflorefragrantius : caftitasfuaviffimumefflat odorem.
E
fe acaftidadeem
qualquer ef-tado he a flor dos coftumes, a caftidade virgi-nal,como
mais excellente, he a coroa das vir-tudes; eporiífoasvirgens, quea profefsão, são Pvainhas coroadas : Virginitati competitcoro-na
;per coronamautem
Regia
denotaturdigni-tas.
Coftumavão
osRomanos
coroar os feusfoi-DE
N.
S.DA
LAPA.
13
Toldados vencedores
com
differentes coroas,conforme as qualidades das vi&orias ; e fendo
plaufiveis as que o valor confeguia contra as
nações belligerantes , mais dignas de triunfo
são as que acaftidade confegue contraos inimi-gos domefticos. Vivia Judith
em
Bethulia,co-mo
exemplar da caftidade : intentouHolofer-nes deftruir a
Cidade
, bloqueando feus muros.Sahe Judith contra elle , corta-lhe a^cabeça, e
triunfa de todo feu exercito 5
mas
não foilau-reada poreftafaçanha: eporque? Porque
triun-fo maior , e mais gloriofo
do
que efte tinhaJudith confeguido vencendo acarne, e
o
mun-do
: Nobilius^ir glorio/tus de carne,&
mun-
^
Lap. in
do
quàm
deHoloferne triumphavit. Era Judithj^",^
formofa , rica , difcreta , e por eftes dotes dafortuna, e natureza procurada de muitos Prin-cipes para efpofa ;
mas
ella recolhidaem
fuacafa
, profeífandocaftidade
,nadaquiz, tudo
re-jeitou poragradar, efervir aDeos.
Eque bem
a imitarão
em
fuás louváveis refoluçoes eílas Religiofas , deixando as galas , asjóias , e asriquezas , defprezando as pertençoes , ou
per-tendentes
do
mundo
para fe defpofaremcom
Deos
pela caftidade !Mas
aífim obrarãocomo
filhas de Maria Santiífima , que fendo
Virgem
das virgens,
tem
efpecialcuidadoem
defender ,e patrocinar as virgens , que são fuás filhas , e
afilhadas: Ipfa eritm,
cumfitVirgo
virginum, ibid. c.i>virgines quajl clientesprotegit.
Pela fua caftidade virginal mereceo
Ma-ria Santiíuma ferMãi
do
Filho deDeos
,r
14
SERMÃO
nha
dos Anjos, e doshomens
; ecomo
Rainha
Univerfal , e
Mai
do Rei
da Gloriatambém
recebeo na
Lapa
adorações dos Reis.Naquel-le auguíto Sacramento oitenta Chriíto fua
pu-reza caítiííima
, porque fe moítra todo
cândi-do
, e celeítial ,donde
o Profeta Zachariaso
Zach.9# appellida vinho
, que produz virgens :
Vinum
germinam
virgines.E
que maior eítimuíopa-ra eítas virgens obfervarem
com
pureza o feuvoto de caítidade ,
do
queverem
, e olharempara o Divino exemplar de feu Efpoío
no
Sa-cramento , e de fua
Mai
naLapa
, fugindo ao trato , e converfaçaomundana
para confervar puros, e caítos osmefmos
penfamentos !Dig-nas de admiração são as aguas dafonte
deTri-vio
em Roma,
porque não fóvem
fugindodo
Rio
Herculano, pornão feinvolverem
com
el-le,mas
também
quando
as ajuntaocom
outras aguas apartão-fe delias ,e poreíta razãoascha-mão
aguas virgineas : e fe eítas aguastem
fe-melhante eíFeito , e por elle confervaoo
nome
de aguas virgens,
bem
he que as virgensdedi-cadas a
Deos
,como
aguas claras, e limpas, feapartem
do
trato, ecommunicaçao
com
outras creaturas , porque aílim acreditado o feu votode caítidade
, por elle fe conítituem Rainhas.
Solto Jofé
do
cárcere ,em
que eítava pe-lo teítemunho deZefirac fuafenhora, foileva-do
àprefença deFarão, para explicar-lhe ofo-nho; e pe!o acerto,
com
que o fizera,foiconf-Pfalm.104. tituido Principe
doEgypto:
Conftituiteum
do-rninum
domas
fua
,
S*
principem omnispojfeffio-DE
N.
S.DA
LAPA.
ij
Jionisfu£.Mas
qual foi o mérito deitePrin-cipado, e o
motivo
deite impérioem
Jofé ?A
caílidade ,que
por não perdella antes quiz ferencarcerado ,
como
diz Lorino : In cárcere in- Lorín.hic.eludimaluerit,
quàm
caftitatem amittere. Pois v- 19*feJofé por confervar a caílidade não
teme
hu-ma
prizao ,bem
he que faiado
cárcere parao
throno , e
em
credito dafua caílidade fejacon-ílituido
Rei do
Egypto. Aífim o advertio SãoJoão Chryfoílomo
: Videquomodo
cajlusJo-
Homil.63. feph repente conftituiturRex
totius JEgypti.Entrou Jofé
no
cárcerecomo
prezo , procedeocomo
caílo , falloucomo
fabio , equando
me-nos fe prefumia, foi conílituido por Farão
Se-nhor
, Principe, eRei
,do
feu Palácio,do
feuthefouro, e
do
feu Império: Conjlituiteum
do*minum
domus
fu<e,&
Principénl omnis poffef-Jionisfua. Videquomodo
cajlus Jofeph repenteconjlituitur
Rex
totius JEgypti.E
quebem
imitão ao caíloJofé as noíTasReligiofas, que fe encerrarão neíle
Convento,
para louvarem a
Deos
,como
fábias , eprofef-íarem caílidade ,
como
virgens !E
aílimcomo
Jofé por aquella virtude foi conílituido
Rei
,
eílas Religiofas por fuás heróicas refoluçoes fe
vem
coroadas Rainhas, fervindo-lhes de perpe-tua coroa omefmo
Efpofo facramentado pelovoto de caílidade íignificado na myrrha*: e fe a
myrrha
heprefervativa decorrupção, eporiíTofymbolo
da perpetuidade ,myrrha
he aquellefoberano Sacramento
, porque perpetua as
al-mas
na graça Divina , e preferva os corpos decor-i6
SERMÃO
fii
Pinn.
m
corrupções libidinofas : Eucbariftiaeft'myrrba,
T^de
^uia corP
ora à libidinis corruptione tuetur.Euchar. Pois eíla he a incomparável felicidade ,
com
Ethol 4f6. que o Efpofo Divino exalta fuás Efpofas
aman-tes , prefervando-lhes as almas , e ennobrecen-do-lhes as cabeças ,
como
myrrha
preciofa , ecomo
coroa perpetua, para louvarem na
Lapa
aJefus , e a Maria , fe atègora filhas amantes, jà hoje Rainhas coroadas:Regina
laudaverunteam.
Em
correfpondencia da terceira offèrtados Santos Reis
, que foi incenfo , dedicarão
noíTas Rainhas a
Deos
o terceiro voto, que heaobediência:
Per
thusvotum
obedientia;
por-que
aífimcomo
o incenfo fe abrazaem
fogovivo paraexhalar fuaviííimo cheiro, aífim aobe*
diencia devellbrazar avontadeprópria nas
cha-mas
da caridade , para fer holocauftofuaviííi-mo
a Deos.Melhor
a explica Cornelio A'La-Comment. pide :
Thus
eft obedientia ,qua
homojuam
vo~m
Matth.a/
un
fatem
? fe»intelleõíumjimmò
totumCe ipfumDeo
quafithus in holocauftumoffert. Eíla vir-tude da obediência he muitor^commendada
do
mais fabioRei
Saiamao, quancloaconfelha-va aos filhos
que
attendeíTem à doutrina dospais , e obfervaífem a lei das mais : Audi^fili
mi
y difciplinam patris tui,&
ne dimittasle-gem
mâtris4ua.Mas
eftanorma
, queera
pre-venção daquelle
Real
Meftre, deve fer cautelaneftas
Reaes
difcipulas , porque là os preceitosainda não eftavão dados ; e cà as leisjà eftão
recebidas ,
como
fe fallaífe Saiamaocom
cadaReligiofa. .,
Ou-Prov. 4
DE
N.
S.DA
LAPA.
i7
Ouve
, filha da Religião , a doutrina de teu Excelientiífimo, eReverendiílimo Pai,que
com
tanta fabedoria, e prudênciatem
dirigido os acertos para tua vida Religiofa.Não
dei-xes , e nunca te efqueça a Lei, e fanta
Regra,
em
que
eílás doutrinada portuaMãi
efpirituala Reverendiífima
Madre
AbbadeíTa , e fua di-gniííimaCompanheira
aRev.
Madre
Meílra daOrdem
: obfervacom
memoria
, entendimento,
e vontade os confelhos, asdirecções, e os pre-ceitos ,
com
que
tetem
inílruido para ferviresa
Deos
, defpofando-tecom
feu unigénitoFi-lho.
Là
Salamao promettia ao filhohuma
co-roa graciofaem
premio da fua obediência :Ut
ibíd.addatur
gratia capiti tuo\Vertem
osSetenta:
Ut
addatur coronagratiarum\ e càDeos
con- Apud A*fere
huma
coroa aromática a cada Eípofa pelo LaP- ibi» voto da obediência, porque por eíla virtude fedobra
o
premio aquem
a exercita.Mandou
Deos
ao PatriarcaAbrahão que
fahiíTe da fua pátria , e deixando a cafa de feu
pai, e
communicação
defeusparentes , foíFepa-ra a terra
, que lhe moftraíTe , porque ahi o
fa-ria
hum
grandehomem
: Egredere de terra Gen.n. tua ,&
de cognationetua ,&
dedomo
patristui , #- veni in t
erram
,quam
monftrabo tibi^faciamque
te ingentemmagnam.
SeDeos
que-ria augmentar as riquezas de
Abrahão
, nãoo
podia fazer nafua pátria?
He
fem
duvida; poislogo para que o
manda
fahir delia , eperegri-nar porterras alheias?
Sim
, porqueDeos
que-ria experimentar a obediência de
Abrahão
, eporiífo mandou-lhe
que
deixando tudo, fahiíleD
i8
SERMÃO
para
onde
elie lhe deíHnaíTe.Bem
o advertio ^pudLipomano
:Ut
ex hoc maiorAbraha
obedien-Menf.Cib tiamonjlretar.
Obedeceo
o Patriarca aDeos
n. P
i4 ^
em
attender aomuito, quedeixava, e porpre-mio
da fua obediência adquirio grandenome,
e confeguio muita riqueza : Egredere de terratua , #° de cognatione tua ,
&
dedomo
patris tui,&
veniinterram
,quàm
monftrabotibi,fa-ciamque te in
gentem
magnam.
Ut
ex hocma-ior
Abraha
obedientia monjlretur.Iíto, que fez
Abrahao
, fizerao noíTasRe-ligiofas
, porque obedecerão à vocação
do
Se-nhor , que as
chamou
para aLapa
, deixarão acompanhia
de feus pais , e fahírao de fuásca-ias,
abandonando
tudo paraviremviver nater-ra clauítter-raldeíle
Convento
, que,Deos
lhesmof-trou, onde
tempromettido
o voto deobediên-cia,
como
oíferta ao feu Real, e DivinoEfpo-fo.
Mas
oh
que ventura, eque felicidade;
por-que
aííim confeguírao felicidades maioresdo
que
as deAbrahao,
aííim imitao afuaMãiSan-tiílima
,
que
naLapa
moítrou grande obe-diência na Circumcisaodo
feu unigénito Filho,cumprindo
com
a lei , de queo Menino
Jeíus eltava izento,como Deos
foberano.Com
obe-diência tratou a Senhora ao grande Patriarca S>Jofé , fujeitando-fecomo
fua Efpofa aodo-mínio
do
caítiílimo , e virginal Efpofo , fendoella a
Rainha do
Ceo
, eMãi
de Deos.Tam-bém
moítrou amefma
virtude Jefus ChriíloSenhor noíTò na fujeição , e obediência ,
com
que
refpeitava a fuaMãi
verdadeira , e a feuLue. 2. Pai putativo:
Erat
fubditus illis; e finalmentepro-DE
N.
S.DA
LAPA.
íp
profeíTou obediência atè morrer : Faâtus eft Ad
Phi-obediens ufque
ad
mortem.No
mefmo
Sacra- 1S P- z-mento
moítrao
Senhor a maior prova de fua obediência; porque apenas oSacerdote profere
as palavras da confagração, logo obedece a
el-las ,
como
fe as diíTerao
mefmo
Deos
:Quafi
ApudVi-homojit
Dei Deus,
admiraSaoThomaz.
Mas
v \en
quando
aííim àimitaçãodofeuEfpofo
Divino, £^c n h c # " de
e de fua
Mai
gloriofa exercitao a virtude daobediência eílas Religiofas , então fe
eílabele-cem
na coroacomo
Rainhas.Decretou
EIRei
Aííuero defpofar-fe , efazendo congregar as mais formofas donzelías
do
feuReino
, entre todas foi Eílher , aque
mais lhe
roubou
osagrados, deforteque aconf-tituio
Rainha
:Adamavit eam
Rex
plufquam
Efth.2.17;»$mnes
mulieres,&pofuit diadema
regni inca-pite ejus.
Quem
não dirá que a belleza deEf-ther foi que a elevou a tanta grandeza ?
Não
ha
duvida \mas
fe ella não obedecera aMar-doqueo
feu tio, nunca chegara a receber aco-roa :
Mardocheus
enimpraceperat ei ut hac re Ibid, 10.omninòreticeret. Havia-lhe otio ordenado que
callaífe a geração Hebraica, de que defcendia
,
e ella executava
o
preceito, que lheimpuzera:pois então
que
fe havia de feguir à obfervan-cia da obediência , fenao a coroa deRainha
?Praceperat ei ut hac re omninò reticeret.
Po-fuit
diadema
regni in capite ejus.Pela fua rara obediência confeguio Ef-ther acoroa de
Rainha,
como
mulher deAíTue-*'!.f.
ro
Rei
de Períiamerecem
eílas Religiofaspelo voto de obediência
a terceira coroa de
Rai-Theor. 8.
n. 2.
10
SERMÃO
Rainhas , por eílarem defpofadas
com
JefusChriílo
Rei
da Gloria ;mas
com
tantadiffe-rença de
Rainha
aRainha
, quanta vai de
co-roa a coroa , porque a coroa de Efther ,
como
caduca, acabou logo;
mas
a deftas Rainhas heeterna; e ha dedurarfempre, pois que lhes
fer-ve de coroa aromática o
mefmo
Efpofo facra*mentado
; e porque o voto da obediência fereprefenta noincenfo,
goma
odorifera, que en-tão fe refolveem
cheiro,
quando
feabrazaem
fogo, naquelleDivino SacramentoeítáChrifto
,
como
incenfo abrazadoem
amor
por aquellas almas, que unicamenfe o appetecem.Fielmen-te o diz o
Douto
Fideli: Euchariftia eft thus,quiaficut thus eft efca ignis , ita Euchariftia
eft cibus
animarum
, qu<e igne Divini amorisaccenftfprater
Deum
fuum
neminemappetunt,A
ninguém
mais para efpofo appetecêrao asno£
fas Religiofas,
quando
feculares, fenao ajefus Chriílo, parao
metteremno
coração, debaixodas efpecies Sacramentaes , e por iíTo elle,
co-mo
iguaria Divina, lhes fuftenta asalmas, eco-mo
diadema
aromático lhes coroa as cabeças:
Euchariftia eft thus.
Mecum
coronaberis.E
fendo tão fuperior efta, e as mais coroas
íigni-íicadas nos véos deftas Religiofas ,
com
razãofe lhes deve
o
titulo de Rainhas , que àimita-ção dos Santos Reis bufcárao a
Lapa
,onde
acharão para fua
Mãi
aMai
deDeos
, e paraEfpofo o Filho de
Deps
, que não fó as coroade fua
mão
,mas
comíigomefmo
:Mecum
co-ronaberis.
Nos
defpoforios de Carlos VIII.Rei
deFran-DE
N.
S.DA
LAPA.
ir
França
com
Margarita Archiduqueza deAuf-tria fe reprefentou
em
Valencianeshuma
Ope-ra ,
em
que fe via a figurado
Rei
coroado deMargaritas ,
ou
pérolas preciofas , e a daRai-nha
com
coroa decertasmoedas
deouro, aque
chamavao
Carolinos,dando
aíTim aentender oAuthor
daquella invenção , que fe para oRei
nãohavia melhor diadema
do
que amefma
Rai-nha,também
para aRainha
não havia melhorcoroa
do que
omefmo
Rei. AífimJefusChri-ílo facramentado ,
Rei
da Gloria ,com
eílasReligiofas Rainhas , que para fatisfazer-lhes a fineza,
com
que
fe enclauílrárão pelofeuamor,
elle próprio lhes ferve de coroa triplicada
em
cada voto reprefentado nas oíFertas dos trez Kqís.
Nem
fe prefuma ferem eílas coroas men-talmente coníideradas, porque são realmente impoftas.
Os
diademasReaes
, de queantiga-mente
ufavaoosMonarcas
3nenhuma
outracou-fa erão mais
do que
pannosou
cândidos ,ou
purpúreos ,
com
que cingião as cabeças ; poisnefles fe cifrão os véos, que na cabeça de cada
Religiofa fe
põem
naproíifsão.A
Tiara Pontifí-cia he formada depanno carmezim
, cingida de trez coroas; aífímtambém
inclue trez coroaso
véo
monaílico. Aquellas trez coroas da Tiara correfpondem acadahuma
das trez Cruzes, deque fe forma o
Bago
do
Summo
Pontifice;tam-bém
as trez coroas, que fe involvem
no
véo
,
correfpondem aos trez votos de Religião, que
são trez Cruzes , que carregão atè morrer.
E
quando
nada tenho fubido tantocom
as Reli-giofas profeífas , que as levantei aoThiono
1
iz
SERMÃO
Pontifício.
Mas
fecomo
Religiofastem
Cru-zes nos votos , neíTes
mefmos
tem
coroas ,co-mo
Rainhas , e taes coroas, que são o
mefmo
Divino
Efpofono
nevado circulo daqueJleSa-cramento :
Mecum
de Líbano jjponfa,
mecum
de Líbano,
mecum
coronaberis. Atèqui, fendoNoviças
, procederão
como
filhas da Senhorada
Lapa
, acclamando-a Beatiífimaem
coroSe-ráfico;
mas
agora que são profeífas,confervan-do
apropria filiação/fe conflituemRainhas co-roadas para louvarem continuamente aMai
, eo
Efpofo figurados naPomba
única daLapa
:Una
ejlColumba
mea. Viderunteam
filia,
&»
Beatifiimam pradicaverunt.
Regina
laudave*runt eam.
Per
Reginas
accipiuntanimas
fan-eias , qiia ex
amore
Deo
ferviunt7 irad
Cce-lejle
Regnum
afpirant.Se atè agora preguei eu fó, daqui pordi» ante quizera que prégaífem
commigo
todos osmeus
ouvintes, nãocom
exprefsôes da lingua,que
feriahuma
confusão de vozes,
mas
com
frazes
do
coração , aindaque
fejahuma
Baby-lonia de amores. Defejo
em
fim queme
aju-dem
a dar os devidos parabéns, primeiramente
ao ExcellenthTimo , e Reverendiílimo
Metro-politano
do
BrazilnoíTodigniíTimo Preladodef-tinado por
Deos
para fundamento *efpiritual
deite
Convento
,em
que viobem
logradoo
feu defvelo, affillindo aeftasReligiofas,
edan-do-Ihes os
documentos
neceífarios atè coroaro
feu zelo
com
a gloria de as profeílar , e dedi-car a Deos. Repetidos fejao os parabéns àRe-verendiífrnaMadre
AbbadeíTa pelojubilo,que
recebe,em
ver defpofadascom
oRei
da Glo-riaDE
N.
S.DA
LAPA.
23
ria eítas fuás filhas
, que concebendo-as
no
co-ração ha
hum
anno , agora renafcêrao para taoceleftiaes defpoforios : e feja feu maior elogio
feu próprio
nome
; porque feMaria
he omef-mo
queexaltada:Maria
, ideft, exaltaia,bem
D.Hieron.exaltada fera na poíleridade efta Maria pela ínfin.Bibh gloria de Fundadora.
Os
mefmos
parabéns àR.
Madre
Meftra daOrdem
pelo prazerdever
bem
empregado o
trabalho, que tevecom
fuásNoviças
, ofterecendo-asem
finco dias aoDivi-no
Efpofocomo
frutos de fua exemplardou-trina : refultancia he
do
feunome
; porque fe
Jofé fignifíca filho, que crefce: Jofeph^ ideft
,
filias accrefcens , deílaJofefa diremos ler
Ma-dre, que augmenta, porfer duas vezes Clara. Parabéns innumeraveis
demos
àsReligio-fas Rainhas pelasDivinas bodas, que fouberao
merecer , e pelas
Reaes
coroas , que pudérao alcançar; pois todas as vezes
que puzerem
nascabeças os feus véos,
devem
lembrar-fe que hehuma
coroa triplicada, que lhes deo feuEfpo-fo
o
Rei
da Gloria, para correfponderem ao feu
amor
exceííivocom
muitas finezasextremo-fas. Efpeciaes parabéns recebao as duas Afilha-das da Senhora da
Lapa
pelodefempenho
detao admirável
Madrinha
, que nefte dia , e nafua fefta lhes deo o eílado mais venturofo, e a
ventura mais permanente
; pois fe Maria
tem
no fobrenome
daCruz
toda a gloria deJefusChriílo:
Gloriam
meam
,Cru
cem
meam
, Fran- Gloriamcifca
tem
no fobrenomedo
Sacramento a boa meamaiterigraça de feu Efpofo : Eacbariftia, id eft, bona
^
*
a
'*
gratia. Parabéns ao
Fundador
deiteConven-
°com-/M
' ':l[8;
24
SERMÃO
DA
S.DA
LAPa/
4
"
pleta a obra, que fe lhe julgava tão.difficíl;
mas
jà elle tinhaem
feu nome.o
vaticínio detanta felicidade , a graça
em
ferJoão
, amara-vilha
em
ferMiranda
, e a expediçãoem
ferRibeiro. Parabéns,emais parabéns
,pais,emais
das Religiofas
, porque não
podem
ter maiorgoíto,
do
queverem
fuás filhas Rainhas ,com
tanta authoridade, que fe as não virem porvi-draças, hão de vellas porgeloíias; pois hejufto
todo
o
melindre, e recatoemhuma
Rainha
Ef-pofa de tão grande Rei.E
a vós , SoberanoMonarca
, e Senhordo
Univerfo , louvoresimmenfos
fejão dados àporfia por eílasJerarquias Celeftes , que para
o
noíTodefempenho
não baftão as vozeshuma-nas. Infinitas graças vos rendemos , e a yolTa
Mãi
Santiflima, que no feutitulo daLapa
terámoílrado a firmeza de feu auxilio a desfazer tantas diííiculdades, paranefte lugar fe
engran-decerem, e louvarem os Santiífimos
Nomes
de
Jefus, e de Maria. Attendei, Senhor , ao
aug-mento
efpirituai , e temporal deitenovo
Ceo,
para
que
permaneça obfervante da fantaRe-gra Seráfica , e
no
feuCoro
Angélico feen-toem
voílbs louvores atè o fimdo mundo.
In-fundiem
voíTas Efpofas amantes aquella pu-reza de coração , que vós quereis,em
creditoda Puriífima Conceição de voífa
Mãi
Santifli-ma
, para quecomo
filhas de tãograndeSenho-ra, e Efpofas.de tão grande Rei, fejão
herdei-ras da graça da
Mãi
, e participantes da Gloriado
Efpofo. Permitti finalmente que asvejamosneíTe Palácio
do
Empyreo
, onde viveis, erei-nais por todos os fecnlos.
Amen.
PRIMEIRA
ORAÇÃO
FUNE
NAS
EXÉQUIAS, QUE
SE
FIZERAM
no eílâdo doBrazil
A'
MORTE DO
FIDELÍSSIMO
REY
Noflo
SenhorD.JOAÕV.
J$a
Sé da
Cidade
da
Bahia*
DISSE-A
Huma
voz naõ
menos
fentidaque
laftimada.
LISBOA:
Na
Officina deFRANCISCO
DA
SILVA.
Annode MDCCLII.
.pi-j,.»,i.«m>ii i..",.ií../ -. 1".'