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Refletindo sobre um admirável mundo novo

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Academic year: 2018

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(1)

-REFLETINDO

SOBRE UM ADMIRÁVEL

MUNDO

NOVO

DCBAlzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Altino José Martins Filho?

I

BCH-UFC

J

OfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp r e s e n te a r tig o s e c o n s titu i n u m a a n á lis e r e fle

-x iv a s o b r exwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa o b r a lite r á r ia d e A ld o u s H u x le y

( 1 9 3 0 ) , com o in tu ito d e in v e s tig a r a s a p o s ta s , c o n s tr u íd a s h is to r ic a m e n te em r e la ç ã o à c iê n c iate c n o lo g ia . Oo b je tiv o n ã o éa p e n a s d e o fe r e -c e rum "em to r n o " , m a s d e te r ap o s s ib ilid a d e d e c a p ta r o d iá lo g o e n tr e a s id é ia s d e fe n d id a s p e lo

a u to r e o n o s s o c o n te x to s o c ia l/e d u c a c io n a l n o s

d ia s a tu a is .

Resumo

Palavras-Chave: Trabalho - Ficção - Educação.

Abstrcct: Reflecting on an admirable

new world

T h is a r tic /e is a r e fle c tiv e a n a ly s is a b o u t th e

lite r a r y w o r k of A ld o u s H u x le y ( 1 9 3 0 ) . I t in v e s tig a te s th e b e ts ( o n th e

o u tc o m e s ) ,h is to r ic a lly c o n s tr u c te d , in r e /a tio n to

s c ie n c e a n d te c h n o lo g y . T h e p u r p o s e ofth e s tu d y is n o t o n ly to o ffe r ac o m p r e h e n s iv e v ie w of th e m a tte r , b u t a ls o to s h o w it is p o s s ib le to c a p tu r e th e d ia lo g u e b e tw e e n th e a u th o r ' s id e a a n d o u r

p r e s e n t s o c ia l/e d u c a c io n a l r e a lity .

Key words: Work - Fiction - Education.

1

o

título original do livro, B r a v e N e w W o r ld , foi retirado de

um trecho de uma peça de William Shakespeare, The Tempest (1911). O trecho refere-seàcena em que Miranda vê os prín-cipes de Nápoles desembarcarem de um navio naufragado e exclama:"Esplêndida humanidade, maravilhoso mundo novo, quem pode nutrir serestão perfeitos?* (RAMONET, 1911). Este artigo é uma versão de trabalho realizado para a disciplina Trabalho, Educação e as Tecnologias da Informação e da Co-municação sob acoordenação do Professor Dr. Lucídio Bianchetti, segundo semestre de 2002.

2Mestrando em Educação e Infância do Programa de

Pós-Gra-duação da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. E-mail: altinojm@ig.com.br

Considerações

Iniciais ...

*Em uma experiência educacional verdadeiramente compartilhada, as escolhas e decisões precisam ser

feitas com o maior consenso possível e com um profundo respeito por uma plural idade de idéias e perspectivas*(Sergio Spaggiori).

A questão doc o n tr o le vem ganhando

espa-ço nas sociedades contemporâneas por meio de mecanismos sofisticados de vigilância, que

pro-movem invasões à privacidade, como nos recen-tes episódios televisivos no estilo r e a lity s h o w s e

nos crescentes e sofisticados sistema de vigilân-cia contendo câmaras ocultas de registro de ima-gens e sons.

Como conseqüência desses instrumentos

controladores estamos diante da banalização do cotidiano, em que o controle e a intimidade pas-sam a fazer parte de uma rotina como uma

ques-tão natural e rapidamente são assimilados pelas instituições sociais.

Podemos considerar o olhar futurista de Aldous Huxley como uma possibilidade e

suges-tão de advertência a esse fenômeno de vigilância e controle se compararmos suas ideologias à

rea-lidade social em que estamos inseridos, na qual os valores morais estão sofrendo mudanças

abrup-tas, os avanços científicos e técnicos abrem possi-bilidades de inclusão e exclusão do indivíduo nas variadas esferas sociais.

A ficção de Huxley, considerada um exage-ro à época (década de 30), apresenta uma utopia

sobre o funcionamento de uma sociedade alta-mente controladora, baseada em controles

sócio-metabólicos e pré-destinação dos papéis sociais, como será relatado neste artigo.

A utopia de Huxley exibe um modelo de sociedade "má", daí ser denominada distopia (um mau lugar, o lugar da distorção) ou desutopia, uma

vez que o Mundo Novo imaginado estava longe

de ser "perfeito", já que a palavra utopia está as-sociada à possibilidade de um mundo ideal.

O exagero de sua ficção naquele momento

histórico parece, em alguns casos, possível de ser

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levado a efeito nos dias de hoje e funcionou como uma espécie de denúncia antecipada, uma vez que a essência de suas previsões pode ser consi-erada atual, basta compararmos as experiências a área de biotecnologia, como clonagens,

deter-inações genéticas, entre outros processos em andamento que oferecem base tecnológica para materializar o Mundo Novo de Huxley.

A obra analisada suscita a discussão de

ques-ões centrais no âmbito da educação, das novas tecnologias, dos modos de produção, bem sobre o cenário atual das relações sociais altamente

ecnologizado.DCBA

a s q u e M u n d oxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

é esse?

Em 1932, o inglês Aldous Leonard Huxley escreve o livro "Admirável Mundo Novo", visto por críticos e outros intelectuais da época, como uma "utopia/ficção". Huxley era um homem da classe aristocrática inglesa, considerado politicamente conservador, que sempre viveu numa ambiência privilegiada e como todo filho desta aristocracia sonhava em fazer medicina. Contudo, por

proble-as de saúde! formou-se em jornalismo.

Cabe mencionar que sua obra teve grande

influência sobre o público a partir das primeiras écadas do século XX. Em "Admirável Mundo ovo", ofedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o le tiv is m o e a p a s s iv id a d e d o tr a b a

-d o r -d e r iv a m -d o -d e s e n v o lv im e n to d e tu r p a d o d a

c iê n c ia e d a te c n o lo g ia , n u m c e n á r io p e s s im is ta

s o b r e ofu tu r o d o tr a b a lh o ( S I L V A , s/d).

Na obra, o autor descreve uma sociedade do ro na qual o Estadotem o domínio total da vida dos indivíduos a ponto de ser o grande pai e mãe e todos", num mundo onde são controlados as ões e os sentimentos das pessoas. Um controle

sociedade determinado bio-psico-socialmente. É perceptível que o objetivo do autor era te-uma crítica aos instrumentos de dominação dos

ey ficou quase cego e este foi um dos inativos pelos

l:ICõiol5eleabandonou os estudos no campo médico para se

de-ao jornalismo.

mais tarde Orwell, na obra 7984, uma obra da mesma

, fala do "grande irmão'.

regimes totalitários emergentes naquele momento histórico e ao modelo fordista de produção indus-trial. Para conseguir tal façanha, o mesmo imagina um sistema de produção de seres humanos, gene-ticamente modificados em incubadoras especiais, predestinados a determinadas condições sociais.

Um Mundo em que o Estado eleva sua vo-cação totalitária ao mais alto nível fazendo com que o indivíduo esteja condenado desde a con-cepção e habituado a não pensar por conta pró-pria. Um indivíduo sem livre-arbítrio e sem consciência que se revela convenientemente adap-tado às suasfunções pré-determinadas e, com base em tecnologias de condicionamento, sente-se as-sim "feliz".

O autor, como homem de seu tempo, foi de certo modo porta-voz de um momento muito peculiar. A década de trinta, principalmente na Europa, estava envolta num clima político bastante conflituoso. De um lado, viam-se tomando forma as ideologias de governos autoritários como o fas-cismo e o comunismo, responsáveis pelo surgimento de grandes exércitos constituídos de

h o m e n s ig u a is , na forma de vestir e de se colocar, todos enfileirados, muito bem treinados, discipli-nados e com a mesma idéia: v e n c e r o e s ta d o in

i-m ig o . Homens sem pai e mãe, pois o Estado era pai e mãe.

Por outro lado, notadamente no campo da ciência que se encontrava em ampla expansão, também vinham gradativamente tomando espaço os grandes avanços científicos da época. A idéia de clonagem humana, ou seja, a produção cientí-fica de milhares de seres iguais uns aos outros era outro tema recorrente, de certa forma inspirado pelos avanços da genética, bem como pela laten-te apresentação das fileiras de soldados inlaten-teira- inteira-mente iguais nas manifestações nazistas.

A capacidade visionária do autor pode ser evidenciada pelo fato de o primeiro bebê de pro-veta ter sido gerado somente em 1978 e as ex-periências de clonagem terem sido realizadas somente na década de 1950. Contudo cabe men-cionar que as idéias de clonagem eram bastan-te antigas.

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(...) o termo done já tinha sido utilizado em outras obras de ficção científica. Ele aparece em 1915, na coletânea Master Tales of Mystery by

the World's Most Famous Authors of Today,

editada por Francis loseph Reynolds. Apesar de ter sido cunhado antes na ciência (em 1903 o substantivo clone é utilizado pela primeira vez para batizar grupos de plantas exatamente idên-ticos em sua composição genética), os dones irão tomar notoriedade na Iiteratura de

fanta-ciência e posteriormente no cinema no qual

serão por diversas vezes o tema central do ro-teiro. Essa exploração insistente por parte da cultura pop ao longo do século XX irá instaurá-los definitivamente no imaginário dos povos ocidentais". (FRANCO, 2002, p.20). Antes ain-da temos o romance escrito pela inglesa Mary Shelley, em 1816 que já teve inúmeras adapta-ções principalmente no cinema.

Na obra em questão, as idéias do processo de industrialização exercem grande influência, pois na grande Londres Central todo o trabalho intelectualizado era eliminado do trabalho da fá-brica/empresa e centralizado no departamento de planejamento. A divisão do trabalho se estabele-cia através da separação do trabalho intelectual, e centralizado no departamento de planejamen-to, e o trabalho braçal. De um lado ficam os que

pensam e do outro aqueles que executam o que foi pensado.

Na sociedade do futuro idealizada pelo au-tor, os bebês eram concebidos, gestados e desen-volvidos numa grande incubadora artificial e em linha de produção e eram os cientistas do Estado

que controlavam todo o processo de criação de pessoas,objetivando à manutenção obcecada pela estabilidade social. Os seres humanos produzidos eram classificados em Alfas, Betas, Gamas,

DeI-tas e [psilons, ou seja, em casDeI-tas definidas com condicionamentos distintos com a intenção de os

indivíduos aceitarem e "serem felizes" em sua determinada posição social.

Referenciando a este determinismo, nas pri-meiras páginas do livro, o Diretor de Incubação e

Condicionamento descreve o CentrofedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAd e I n c u b a

-çãoxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAeC o n d ic io n a m e n to d e L o n d r e s C e n tr a l e

ex-plica o seu funcionamento a uma turma de estu-dantes recém-chegados que estava conhecendo a tecnologia empregada na reprodução em série.

ós os condicionamos de tal modo que eles se dão bem com o calor. (...) Nossos colegas lá em cima os ensinarão a amá-Io. (...) é o segredo da felicidade e da virtude: amar o que se é obriga-do a fazer. Tal é a finalidade de toobriga-do o condici-onamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar. (HUXLEY, 1989, p. 19).

Nessa nova sociedade, ou seja, nesse Mun-do Novo, tuMun-do é controlaMun-do, a exemplo da produ-ção dos sujeitos, na qual a quantidade de oxigênio no cérebro determina qual a casta a que perten-cerá o embrião, seu sexo, bem como sua estatura, gostos, que tipos e cores de roupas irão usar, qual o trabalho a executar, que transporte deverá ser utilizado, quais os esportes a praticar, sua resis-tência para o frio ou calor, entre outras condições pré-concebidas pela direção do Centro.

O conceito de "produção em série" de bens de consumo, baseado nas linhas de montagem, foi incorporado na criação de sereshumanos, tais como máquinas (em forma e função), herança do modelo fordista. Segundo asexplicações do Diretordo ClC6, que no início da narrativa eram feitas aos recém-chegados, tal produção era determinada pelo Pro-cesso Bokanovsky que consistia essencialmente em uma série de interrupções do desenvolvimento do óvulo que possibilitava um óvulo germinar, prolife-rar e dividir-se em até96 germes, que originariam seres humanos gêmeos idênticos. Ou, na visão do Diretor do ClC, em96 máquinas.

Noventa e seis gêmeos idênticos fazendo fun-cionar noventa e seis máquinas idênticas! (...) Sabe-se seguramente para onde se vai. - Citou

o lema planetário: Comunidade, Identidade,

Estabilidade. (HUXLEY, 1989, p.14)

5CIC - Centro de Incubação e Condicionamento de Londres

Cen-tral: local onde ocorria a criação dos habitantes do Mundo Novo.

6Henry Ford foi o inventor de um método de organização do

trabalho para a produção em série e da padronização das peças.

Essa técnica, pensada por Ford na década de 1920, transformou,

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Para o Diretor do CIC, "o processo Bokanovsky é um dos principais instrumentos de estabilidade social" e o lema desse modelo de sociedade era "Comunidade, Identidade e Estabi-lidade", caracterizando um mundo altamente con-trolado, no qual a Comunidade é globalizada, sem limites territoriais, constituindo um grande Esta-do Mundial, em que tuEsta-do é comum a toEsta-dos. Nes-se mundo, a Identidade refere-Nes-seà igualdade entre os pertencentes às castas (em padrão de vida, vestimentas, funções sociais etc) o que mantém a homogeneidade e a ordem entre os pares. Já a Estabilidade se refere à satisfação de todas as ne-cessidades dos habitantes em relação à

manuten-ção da sua casta e funmanuten-ção social.xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA O ideário liberal declarava a escola como

um direito e condição para todos tornarem-se ci-dadãos, bem como proclamava a bandeira da Li-berdade, Igualdade e Fraternidade? para a sociedade em geral. Na sociedade imaginada, tal ema planetário" satiricamente, apregoava Comu-idade, Identidade e Estabilidade.

Otempo relatado na ficção era o ano de 632 "- depois de Ford. Tal referência, bem como o de expressões pelos personagens como "Nos-Ford" ou "Graças a "Nos-Ford", indica o referencial . Ocoao qual Aldous Huxley remetia, baseado

eorias de Henry Ford" que materializaram no

10fordista de produção industrial.

Fordismo é um sistema de produção industrial caracterizado por: um elenco limitado de

pro-. dizer, os trabalhadores em autômatos repetindo a

.-=,....

ÇO" o dia inteiro. Apesar de seu caráter desumano,

verdadeira revolução no universo industrial e

rápida-~a, da Alemanha à União Soviética, por todas as

_~'5 -:cw' nrías mecânicas do mundo. No mundo sindical e

e também entre os intelectuais, o fordismo suscitou

=nI1:õI!I;'-.I'I(IIenIas,que artistas e criadores da época muitas

ve-JI!!,'iCcc:oaram com indiscutível talento cáustico.

~~ IpeI"l(]' oo, a questão da identidade nacional esteve na

~GIdz5; m5CU.5SÕeSe debates em vários países do mundo.

ção não foi muito diferente. O governo e a

_p::;;~SEJlCiedade se mobilizaram para estabelecer os

respec-Wrl:5.:J::c:I::r.x>sda nacionalidade, visando a concretizar idéi-.-;:;IR:.~!z!:car:Ie,. autonomia e soberania.

emo de Getúlio Vargas, se comparado com

•• e=cs,,.::;:;erio" res, de fato a educação recebe grande irn-_iIirJ"c:a:::ililuü"ld,o para o respectivo êxito político.

dutos estandardizados; métodos de produção de massa; automação usando máquinas dedicadas

à produção de um produto determinado; força de trabalho segmentada responsável por tarefas fragmentadas e especializadas; controle centra-lizado; e organização hierárquica e burocrática (RAGGAT, 1993, p. 23).

Por ter sido um ícone do tecnicismo e do funcionalismo na época de Huxley, Ford toma o lugar de JesusCristo nesta sociedade do futuro. O aspecto divino e religioso é substituído pela cren-ça em tudo o que é tangível, o que parece de-monstrar a valorização exacerbada da tecnologia e do pragmatismo.

Tal situação pode ser considerada como re-flexo do momento histórico em que se encontra-va o autor. Um período no qual o materialismo e os pressupostos das teorias liberais determina-vam que para ser verdadeiro, tudo deveria ter uma razão funcional. O pensamento pragmático era a ordem da época. Em termos econômicos, a década de trinta ainda vivia sob os efeitos da cri-se de 1929 e a América, principalmente os EUA, aparecia como o lugar da liberdade, da felicida-de, onde contraditoriamente as idéias tecnicistas de Henry Ford já estavam bastante solidificadas nas Indústrias"

Como a Inglaterra e outros países europeus estavam vivendo num mundo pós-guerra, na dé-cada de 30, vários setores sociais da Europa já se movimentavam para evitar o desastre dos gover-nos liberais democráticos, que já não consegui-am solucionar o problema da defesa de suas fronteiras e, principalmente, do avanço dos naci-onalismos extremados provenientes da Alemanha e da Itália (DANTAS, 2000).

Dentro desse turbilhão de fatos, Huxley re-monta, em seu livro, algumas críticas tanto à soci-edade stalinista da utopia soviética, como à nova sociedade mecanizada, automatizada e padroni-zada que vinha se desenvolvendo nos Estado Unidos. Huxley observou e imaginou, dentro das possibilidades dos governos liberais democráticos e dos nacional istas extremados, uma crítica con-tundente a esses modelos sociais emergentes.

(5)

No mesmo período histórico em que foi

escrito o livro, o Brasil, estava vivendo as

primei-ras décadas do regime Republicano. Nesse

mo-mento histórico se intensificam as iniciativas de

organização dos sistemas públicos de ensino no

Brasil, pois se apregoava que a solução dos

pro-blemas nacionais passava pela educação.

Desse modo, é mediante a educação

institucionalizada que o Estado promove um

cres-cente controle sobre seus cidadãos. Esse controle

evidencia-se com o despertar do nacionalismo e

a imposição da nacionalização? . O governo

bra-sileiro impulsionado pelo anseio da

moderniza-ção, estrategicamente, interessa-se pela educação,

legislando e criando escolas públicas para

pro-mover a divulgação da língua, da história e da

cultura luso-brasileira.

A intenção do Estado era de regenerar a

população brasileira, recuperar sua nacionalidade,

tornando-a "saudável, disciplinada e produtiva"

para que fosse incorporada ao processo de

indus-trialização. O objetivo era formar os trabalhadores

dentro de uma lógica de disciplinamento que

aten-desse às demandas do mundo do trabalho que

es-tava se desenhando (HYPÓLlTO, 1997, p.34).

As formas de desenvolvimento da

organi-zação escolar assumem cada vez mais um

mode-lo racional de organização, análogo às formas de

organização do trabalho, pensava-se em uma

for-mação tecnicista, produtora e reprodutora de

mão-de-obra. Pois a sociedade em processo de

industrialização precisava de uma escola que

qua-lificasse e disciplinasse os futuros trabalhadores

para tarefas especializadas.

Assim, no limiar do século XX, o Brasil

in-veste na educação, alvo de estratégias políticas,

sobretudo de governos autoritários'" ao tomarem

conhecimento do poder que a mesma podia

exer-cer perante a sociedade, que estava em

transfor-mação, ou seja se industrializando e urbanizando.xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

9Na mecãnica este termo significa "a matéria dos movimentos dos gases e fenômenos dos gases". (FIESC/SENAI, 2002, pg.5) O termo deriva do grego "Pneurna" que significa fôlego, vento e filosoficamente, a alma".

10Cor dos uniformes dos Betas.DCBA

A H ip n o p e d ia - T e c n o lo g ia d e A d e s tra m e n to

O contexto relatado acima vai ao encontro

do que Huxley expressou em seu livro com relação

às características relacionadas à seletividade social,

no entanto na sociedade imaginada, a escola

(Colé-gio de Engenharia Emocional) não era vista como o

principal meio de aprendizagem e aculturamento

social, já que muitas das questões eram

determina-das antes de os indivíduos nascerem.

Nessa perspectiva, o autor se baseia nas

idéi-as de Skinner e Pavlov para criar osAC e n t r o s d e

C o n d ic io n a m e n t o d o E s t a d o , no qual cada ser

humano é educado desde nascença de acordo com

a função social e com os valores determinados

especificamente para seu grupo, por meio de

es-tratégias como a hipnopedia, para manipular o

espírito, para criar no indivíduo r e f le x o s c o n d ic

i-o n a d i-o s d is t in t i-o s e ensinar para que se conformem

com seu destino e desenvolvam o preconceito

entre as castas.

Na obra, é citada uma sessão de hipnopedia:

em um dormitório, no qual as crianças em seus

leitos, durante o sono, aprendiam lições de

Cons-ciência de Classe:

As crianças Alfas vestem roupas cinzentas. Elas trabalham muito mais do que nós porque são formidavelmente mais inteligentes. Francamen-te, estou contentíssimo de ser um Beta, porque não trabalhamos tanto. E, além disso, nós so-mos muito superiores aos Gamas e aos Deltas. (...) E os Ípsilons são ainda piores. São demasia-do broncos ... (HUXLEY, 1989, p.30).

As mensagens hipnopédicas induziam os

habitantes a reconhecer o segredo da felicidade e

da vi rtude como o lema: a m a r o q u e seé o b r ig a

-d o af a z e r (HUXLEY, 1989, p.35), condicionando

as massas a desempenharem funções

determina-das na sociedade. A exemplo do que ocorria com

os mecânicos das aeronaves que precisavam

tra-balhar de cabeça para baixo e, mesmo nessa

po-sição, se sentirem felizes.

As lições de sexo elementar também eram

aprendidas nas sessões de hipnopedia. O sexo na

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sociedade apresentada é compreendido como algo natural e exclusivamente para saciar prazeres e não mais para procriação, além de conferir um

caráter socializador, já quefedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAtu d o p e r te n c e a

ta-d o s . Considerados uma fonte de prazer que deve ser suprida desde a mais tenra idade, os jogos eró-ticos eram introduzidos no cotidiano dos indiví-duos desde seu nascimento.

As lições das Salas de Condicionamento eopavloviano ocorrem por meio da repetição. É perceptível que essas lições, repetidamente reproduzidas, estabeleciam a condição de uma verdade absoluta. Cemr e p e tiç õ e s tr ê s n o ite s p o r

s e m a n a , d u r a n te q u a tr o a n o s , d e c la r a um e s p e c

i-a lis ti-a emh ip n o p e d ia , es e s s e n ta ed u a s m il r e p e -tiç õ e s c r ia m u m a v e r d a d e (HUXLEY, 1989, p.47). Nesse processo de transmissão cultural de aber hipnopédico, a leitura como uma atividade individual era proibida, pois representava o

peri-a ode provocar oin d e s e já v e l d e s c o n d ic io n a m e n to

das massas(HUXLEY, 1989). Podemos traçar, aqui, um paralelo com a atitude do venerável Jorge no romanceA" 0 nome da rosa", que escondia dos lei-ores as obras consideradas heréticas, sobretudo

quelas que contrariavam os dogmas teocêntricos o período medieval.

No Admirável Mundo Novo, os velhos li-as proibidos eram guardados no cofre-forte do inete do administrador mundial, denotando a atitude de forte relação de poder. Havia uma e campanha contra o passado, que se mani-va com o fechamento dos museus, destrui--o dos manuscritos históricos, supressão dos os publicados antes de 150 D.F, pois o mundo _ ra é estável e a estabilidade tem seu preço -UXLEY, 1989, p.55).

Além do que, não sep o d e c o n s u m ir m u ita

se sefic a s e n ta d o le n d o liv r o s , uma crítica comportamentos anticonsumitas. Não havia ço para processos muito intensos ou prolon-os e a ordem era para a manutenção de com-"'Y1·t:lITlentosobedientes, capazes de provocar a

ção de satisfação com estabilidade.

O controle pela censura se manifestava tam-- nas novas edições publicadas. Mustafá Mond,

o administrador mundial para a Europa Ocidental, proibiu a publicação do livro "Uma nova teoria biológica" e ordenou que o autor fosse mantido sob vigilância. Issoporque seu livro anunciava que

" 0objetivo da vida não era a manutenção do

bem-estar e sim uma intensificação, um refinamento da consciência e ampliação da sabedoria" (HUXLEY, 1989, p. 60), proposta considerada perigosa e po-tencialmente subversiva, pois se baseava em idéi-asque poderiam descondicionar os espíritos menos estáveis das castassuperiores. Além disso, toda or-dem social ficaria desorganizada se os homens se pusessem a fazer coisas por iniciativa própria.

A arte também representava um riscoxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà es-tabilidade do sistema vigente, portanto d e v e r ia s e r

a c o r r e n ta d a , a m o r d a ç a d a . Assim como a ciência, poisto d a d e s c o b e r ta d a c iê n c ia p u r a e r a p o te n c ia

l-m e n te s u b v e r s iv a . A ciência era considerada um perigo público.

Os autores das mensagens hipnopédicas também publicavam seus artigos nos jornais e eram responsáveis pela redação.A s p a la v r a s s ã o

como r a io sX, uma metáfora para i Iustrar o poder penetrante e manipulador das palavras na forma-ção das ideologias.

Seguindo o contexto do controle social, entre os adultos, era proibido relacionamento emocional, para tanto os habitantes eram subme-tidos a tratamentos durante suas vidas, como é o caso do Sucedâneo de Paixão Violenta, que con-trolava os impulsos emocionais que tendiam a apegos pessoais e afetivos. No entanto, suasvidas sexuais iniciavam cedo, se tomarmos como parâmetro a sociedade tradicional e moralista vi-vida pelo autor, na qual a estrutura familiar era de característica patriarcal, nuclear, com a cultura feminina voltada para o lar.

Faz-se evidente no texto, a inexistência de qualquer laço familiar no Novo Mundo. Não exis-tia a figura de pai, mãe e irmãos, haja vista a for-ma como eram concebidos, por meio de processos laboratoriais de incubação artificial, de maneira técnica e estandardizada. Havia um grande des-prezo pelos valores e sentimentos humanos incu-tidos por meio da hipnopedia.

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Outra característica marcante na obra diz

respeito à inserção de uma droga chamadafedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAs o m a ,

que era distribuída nas fábricas com uma cota di-ária. Não havia efeitos colaterais para doses pe-quenas, assim era comum o uso diário de gramas de soma, proporcionando fuga da realidade e dei-xando as pessoas sentirem-se melhor. Já nas ses-sões hipnopédicas aconselhava-se ingerir soma sempre que a pessoa se sentisse infeliz, insegura, com medo, ou qualquer outro sentimento que não fosse a felicidade plena. O uso constante dessa droga evitava angústias e espaços para questio-namentos que poderiam levar a indignação e a possíveis esperanças de transformação.

A droga também era utilizada pela polícia em raros momentos de conflito, nos quais os poli-ciais vaporizavam nuvens de soma e colocavam a funcionar a Caixa de Música Sintética Portátil, com mensagens de paz. Se necessário fosse, usa-vam pistolas de água com forte anestésico. Após alguns minutos, com o efeito do soma, todos se abraçavam e se beijavam de acordo com as men-sagens ouvidas.

o

DCBAC o tid ia n o n o A d m irá v e l M u n d o N o v o

É oportuno também observar que Huxley apresenta em sua obra a história da dois mundos, um dos quais denominado mundo civilizado, o dos grandes Estados Mundiais e o outro da "Reserva dos Selvagens", o mundo dos não-civilizados.

O mundo civilizado representado é o mundo da tecnologia, dos grandes Centros de Condiciona-mento, dos bebês bokanovsky, das mulheres

pneu-máticasxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA11, dos betas, deltas, alfas, dos cinemas sensíveis,dos esportes eletromagnéticos, do soma.

Já o mundo dos não civilizados, a reserva dos selvagens, é o abominável mundo velho. O mundo dos índios, selvagens, da falta de higiene, de ritos tribais de iniciação, de animais, de huma-nos que envelhecem, adoecem e não têm

assis-11 Mais informações, ver ROCHA, Ruth. A e s c o la d e v id r o .

SP: Ática.

tência por parte do Estado. É o mundo da afeti-vidade, da religiosidade, da liberdade. Vale lem-brar que até o nome dado por Huxley a essa reserva reflete o que ela representa para o "Admi-rável Mundo Novo", Malpaís, ou seja, um país ruim. O povo de Malpaís também estava predes-tinado, assim como o povo civilizado, só que em condições bastante diferenciadas, a ficar onde estava. Quem nascia na reserva dos selvagens morria na reserva dos selvagens.

A narrativa ganha o seu auge no momento em que essesdois mundos se entrecruzam, o

ve-lho e o novo mundo, quando o autor relata a his-tória de Linda, uma moça civilizada que acaba vivendo na reserva por estar grávida do diretor do centro. Após muitos anos, seu filho já jovem é descoberto por um casal civilizado que visitava Malpaís e leva o Selvagem John com sua mãe de volta a Londres Central.

Nesse momento específico no Admirável Mundo Novo, o abominável mundo velho pede passagem e o que ocorre é muito semelhante ao que testemunhamos hoje. Choques de culturas, mas com a diferença de que os civilizados de Huxley apenas viam nos selvagens a imagem de um passado que eles não queriam sequer recor-dar. O hoje, o novo é exatamente o tempo da fe-licidade, ainda que uma felicidade proporcionada pelo s o m a .

Ao contrário, os selvagens jamais sairiam dos limites da reserva, [ohn foi um caso excepcio-nal, digno de estudos, visto ser filho de pais civili-zados por mais incivilizado que parecesse aos olhos do Administrador Mundial de Londres.

Conhecer como o selvagem se desenvolveu e como percebia esseMundo Novo, podia de certo modo dar indicativos para que o sistema procu-rasseavançar cada vez mais no sentido de buscar meios para manter a "comunidade, a identidade e a estabi Iidade".

[ohn fora criado em Malpaís, em culturas mistas ouvindo histórias que Linda contava da ci-vilização e das histórias contadas pelos anciãos, religiosas e indígenas; aprendeu conceitos civili-zados proporcionados pela mãe, bem como

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ensinamentos de como trabalhar a argila, fazer arco e flecha, caçar, plantar, etc. Apesar do analfa-betismo local, linda o ensinou a ler, utilizando li-vros de Shakespeare(um achado trazido por Popé, amante de linda). John aprendeu a se expressar utilizando citações dessas obras, vivendo em sua exclusão social, pois os moradores indígenas não aceitavam as diferenças físicas e nem morais. Eles viam linda como uma prostituta e as mulheres tra-ídas da vila a surravam com freqüência.

Quando lohn chegou à civilização, deslum-brou-se e exclamou: "Como há aqui seres encan-ados! Como é bela a humanidade!DCBAO h ! A d m ir á v e l

m u n d o novo •.." (Shakespeare, Tempest, volxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1, p.130). Porém, apesar de seu deslumbramento

inicial, John não se adaptou. As pessoas daquele espaço não entendiam suas idéias, nem acredita-vam nas suas teorias infames, baseadas nas obras e Shakespeare e no mundo velho. Também não conseguia amar, pois apesar de se encontrar apai-onado por uma mulher civilizada, ela não correspondia, nem tampouco entendia a real im-rtância do amor, devido ao grande choque

en-culturas.

Huxley encontra um fim dramático para - u personagem principal, em meio às exclusões sociais, sofridas em ambos os mundos. Depois da morte da mãe (por excesso de soma) e do

afas-mento de seus dois únicos amigos, o Selvagem se exclui e albergou-se em um farol

abandona-o, em busca da proteção de sua privacidade, identidade e liberdade, conceitos desconhecidos

o mundo civilizado.

O autor priva os personagens da liberdade escolha, da liberdade de querer ser alguém . erente do que lhe foi imposto, de querer

cres-na vida. A vida individual é anulada pela vida letiva. Porém, abre espaço para que se reflita bre variadas questões, num debate travado en-o Administraden-or e en-o Selvagem sen-obre arte, sen-oli-

soli-ão, ciência, saúde perfeita, Deus (que se ifesta na ausência) e outros.

O Administrador apóia-se em um livro da e cita um trecho: "Nós não pertencemos a • mesmos, assim como não nos pertence

aqui-•

10

que possuímos. Não fomos nós que nos fize-mos, não podemos ter a jurisdição suprema sobre nós mesmos. Não somos nossos próprios senho-res." (HUXlEY, 1989, p. 217). lohn não concor-dava com as afirmações do Administrador e por fim reclamou o direito de ser infeliz, ou seja, de ficar feio, velho e impotente, mas de acreditar em Deus, na arte, na bondade, no perigo, no pecado, nos sentimentos individuais e na própria nature-za. No entanto, como são valores incompatíveis naquela sociedade, lohn prefere a morte e se en-forca, em meio a sua solidão.

O circo estava montado e a multidão assistia sarcasticamente à destruição dos valores humanos do Selvagem, compulsivamente e unanimemente, o que é próprio dos métodos de condicionamento hipnopédico. Tal desejo obsessivo e cruel pode ser comparado ao sucesso dos atuais programas televisivos de auditório no qual as pessoassão ex-postas ao ridículo, perante uma platéia, e transmiti-dos em rede nacional com alto índice de audiência. Programas televisivos cada vez mais

impreg-nados de banalidades que fazem os espectadoresfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

c a ír e m n o e x ib ic io n is m o d e lir a n te d e n o s s a n u

li-d a li-d e (BAUDRlllARD, 2001), construindo discur-sos midiáticos sem escrúpulos, sem ética, notadamente perversos.

Oc a r á te r g lo b a l d e s s e fe n ô m e n o te le v is iv o

- s o b r e tu d o o s r e la tiv o s a o s r e a lity s h o w s , e s

ti-m u la a e s p e c u la ç ã o , fr e q u e n te m e n te n a c h a v e

m o r a l (HAMBURGER, 2002). São alvos de crítica por sua natureza exploradora de humilhações de pessoas reais diante das câmaras, valorização de detalhes escatológicos do cotidiano, pelas cenas aberrantes e sensacionalistas que no conjunto vi-olam a dignidade humana .

U m P o u c o d o A d m irá v e lllM u n d o N o v o " n o

N o s s o M u n d o n ã o tã o N o v o

Assim ...

Traçando um paralelo entre as idéias de Aldus Huxley, ao escrever o livro O A d m ir á v e l

M u n d o N o v o , com a nossa realidade, mais de setenta anos depois de escrito, verificamos que é

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possível detectar muitas semelhanças no que tan-ge ao contexto em que viviam seus personatan-gens. Ao analisarmos nossa estrutura social cristalizada em hierarquias sociais, observamos que nossas crianças ainda são educadas em métodos de re-petição, com atividades sem sentido e reflexões que as fazem aceitar essa sociedade dividida em classes sem questionamento. Dependendo do ta-manho da conta bancária de seus pais, esse tipo de educação pode ser diferente, mas a ênfase na hierarquização aparentemente não se modifica.

Os noticiários jornalísticos e os discusos midiáticos em geral reforçam essa ideologia do apagamento das diferenças sociais, dando a sensa-ção de que vivemos numa sociedade homogênea e sem contradições. As mídias são mecanismos concretos que engendram a liberdade formal das pessoas, estimulando o controle excessivo exer-cido pelas forças do capital. Como afirmam Marx

e EngelsxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(1998, p. 48):AAfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc la s s e q u e d is p õ e d o s

m e io s d a p r o d u ç ã o m a te r ia l d is p õ e ta m b é m d o s

m e io s d a p r o d u ç ã o in te le c tu a l, d e m o d o q u e o

p e n s a m e n to d a q u e le s ao q u a is s ã o n e g a d o s o s m e io s d e p r o d u ç ã o in te le c tu a l e s tá s u b m e tid o

ta m b é m à c la s s e d o m in a n te .

A situação apresentada pelo autor ao colocar o mundo "maravilhoso" em contato com o mundo selvagem,por meio dos personagensLenina, Bemard Marx e lonh (O Selvagem)nos remetea pensar,como Sabbatin expõe, se em2010 não vamos olhar para as metrópoles dos países subdesenvolvidos e estu-dar o comportamento dos selvagens e unificar os trabalhadores não especializados de cáqui?12. Ou mesmo se atualmente isso não acontece quando, por exemplo, alunos de escolasprivadas organizam visitas a escolas públicas e estaspor susvez, visitam as escolas indígenas.

O conflito entre os dois mundos econômicos que Aldous Haxley tentou fundir na forma de uma nova ordem social e econômica foi vivenciado

12Em referência a essatransição, BIANCHETII (2001)

preconi-za a existência de dois profissionais: o trabalhador analógico (o especialista) e o trabalhador digital (ou generalista especia-lista). Mais informações consultar: BIANCHETII, Lucfdio. D a c h a v e d e f e n d a aole p t o p : tecnologia digital e novas qualifica-ções: desafiosàeducação.RJ:Vozes, Unitrabalho e UFSC,2001.

durante a estruturação e desestruturaçãodessesdois mundos (o capitalista e o socialista) e o surgimento, em detrimento a essasdivisões, de uma Nova Or-dem Mundial chamada deG /o b a liz a ç ã o , em que a política generalista na qual "tudo é de todos" é apregoada (desde que não fira a ordem social onde o tudo dos paísesdesenvolvidos não passaa ser de todos dos outros países, mas a recíproca contrária deve ser verdadeira, como é o caso que se tem notícia do que tem sido ensinado às crianças dos EstadosUnidos que recebem em seus livros didáti-cos - um condicionamento hipnopédico - o mapa do Brasil já sem o Estado da Amazônia, conside-rando que este é de Propriedade Mundial).

Sobre o condicionamento para a aceitação das regras sociais que cada indivíduo era subme-tido antes mesmo de nascer, Mustafá Mond, ao conversar com o Selvagem, d iz q u e m e s m o d e

-p o is d a d e c a n ta ç ã o , e le fic a s e m -p r e d e n tr o d e um

b o c a l, um b o c a l in v is ív e l d e fix a ç õ e s in fa n tis e

e m b r io n á r ia s (HUXLEY, 1989, p.271), o que Ruth Rocha representou com esplendor em uma de suas histórias infantis denominada A E s c o la d e V id r o ,

na qual os alunos eram condicionados a espaços reduzidos por u m a q u e s tã o d e o r d e m .

Dentro da realidade social de Aldous Huxley a ciência era tão temida quanto a arte e a história. Pensando na estabilidade, Mustafá Mond disse que to d a d e s c o b e r ta d a c iê n c ia p u r a ép o -te n c ia lm e n -te s u b v e r s iv a : a té a c iê n c ia d e v e , à s

v e z e s , s e r tr a ta d a como um in im ig o p o s s ív e l

(HUXLEY, 1989, p.272). e que as instruções cien-tíficas que a população recebia nos Colégios po-deria ser comparada a um livro de receitas no qual só o cozinheiro-chefe poderia autorizar o acrésci-mo ou retirada de algum elemento.

Se remetermos para a sociedade atual, po-deríamos comparar tal situação, com o que acon-tece no sistema educacional atual, no qual as universidade públicas, que são uma das poucas instituições que produzem conhecimento e ciên-cia sem um vinculo utilitário ligado ao mercado de trabalho, estão sendo sucateadas. No qual a reforma educacional, imposta pela legislação, pro-põe o oferecimento de cursos de graduação

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versitária (os tecnólogos) com tempo de até dois anos de duração ficando os estímulos a pesquisas vinculados à sua atuação no mercado de traba-lho, bem como ao seu interesse, já que não confi-gura como uma obrigatoriedade dos currículos.

Os indivíduos mais interessados e curiosos e que têm em seu histórico de vida, uma condi-ção social privilegiada (salvo algumas exceções) são os que têm possibilidade de dedicar-se um pouco mais aos estudos e quem sabe entrar em

ma universidade pública.

No Novo Mundo, os profissionais que deti-nham o conhecimento eram colocados em car-os de poder (até por questões de manter a ordem social) ou eram encaminhados para uma ilha, um gar para o qual, segundo Mustafá Mond, eram iadasfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAto d a s a s p e s s o a s q u e , p o r e s ta ou a q u e

-r a z ã o , a d q u i-r i-r a m d e m a s ia d a c o n s c iê n c ia d e

s u a in d iv id u a lid a d e p a r a p o d e r e m a d a p ta r - s e à

id a c o m u n itá r ia ; to d a s a s p e s s o a sxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAaq u e m ao r to

-d o x ia n ã o s a tis fa z , q u e tê m id é ia s p r ó p r ia s e in

-d e p e n -d e n te s ; to d o s a q u e le s , n u m a p a la v r a , q u e

sãoa lg u é m (HUXLEY, 1989, p.275).

Tais afirmações nos remetem às décadas de

9 6 0 1 7 0 , quando no Brasil se procedia a uma das

ofundas cisões entre o conhecimento e a

cons-iência social, quando durante o governo militar indivíduos que pensavam socialmente neste ís eram cassadose os de "maior pericu losidade"

deportados para algumas "ilhas", onde teri-liberdade de pensar sem tumultuar a estabili-e social imposta na época.

Atualmente, iniciamos a nadar contra cor-novamente, quando estimulamos os sonhos - icos e desutópicos mesmo que enfrentando

os preconceitos e incompreensões que o gem sofreu quando tentou, dentro do que iderava correto, impedir o consumo des o m a ,

ue segundo ele era um veneno p a r a aa lm a ,

- como p a r a c o r p o (HUXLEY, 1989, p.256). O ser pensante e integral tem sido alvo de

•.•..••.-..:udiscussões. No "Mundo Novo", cada pes-- era especializada como uma formiga, vivendo

ente para exercer a profissão a que foi des-antes de nascer. Hoje, ao mesmo tempo que

a educação é comprimida em um menor tempo (porque desta forma é conveniente ao mercado de trabalho), esta mesma "entidade" espera um indi-víduo pensante, com certas competências desen-volvidas, disposto a mudanças e pronto para enfrentar um trabalho tecnologicamente em desen-volvirnento!". Essemesmo indivíduo, ao mesmo tempo que é solicitado a pensar e refletir com o intuito de gerar mudança, é podado no que tange a sua vida individual, uma das coisas mais valiosas que o homem conquistou com o seu desenvolvi-mento evolutivo, tem sido anulada pela vida cole-tiva, pelo estímulo e valorização da equipe.

Inegavelmente, Aldous Huxley olhou para além do seu tempo e com isso nos permite utili-zar este mesmo olhar futurista para que se perce-ba como chegamos até aqui e para onde estamos realmente caminhando.

Assim como na história imaginada por Huxley, vivemos hoje, século XXI, num grande estado mundial, comandado por aqueles que de-têm o poder econômico. ão são 10, como na era de 632 d.F. Por incrível que pareça são ainda menos, se pensarmos no Grupo dos G8.

Sobre o mundo civilizado e a reserva dos selvagens, podemos estabelecer nos dias atuais um parelelo entre a pujança dos países de primeiro mundo com as crescentes desigualdades nos paí-ses periféricos. Do mesmo modo, pode-se pensar naselites fortemente edificadas e segurase, do outro lado, na imensa massados excluídos residente nos frágeis aglomerados de barracos nas periferias.

Sobre os o m a , podemos fazer uma compara-ção com os inúmeros expedientes utilizados pela população de nossas sociedades contemporâneas como instrumentode "amortização" dos efeitosprovo-cados pelas desigualdades sociais, pela desu-manização das relações e por outras manifestações resultantes de um entorno político autoritário e excludente, e de fortes apelos ao consumo. Aqui, no Velho Mundo, usamosas drogas lícitas, ilícitas e as crescentesopções de antipressivose ansiollticos, es-sesúltimos considerados os carros-chefesda "indús-tria da felicidade", metáfora usada para designar os bilionários negócios dos laboratórios farmacêuticos.

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Podemos considerar, ainda, substitutos dofedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s o m a todos os produtos midiáticos embalados e distribuídos intensamente pelos meios de co-municação de massa que conduzem os espec-tadores a um percurso diário e banal de mensagens descontextualizadas, efêmeras e medíocres que resultam na própria nulidade daquilo que se supõe ser mais caro à humani-dade, a inteligência.DCBA

R e fe rê n c ia s B ib lio g rá fic a s

BAUDRILLARD,Jean.BanalidadeMortífera. Folhade São Paulo, SP,10 de jun. 2001.C a d e r n o M a is , p.12.

FRANCO, Edegar.S e r e s H íb r id o s & C lo n e s : d a

lite r a tu r a p a r a aste la s , d a s te la s p a r a ar e a lid a d e .

Disponível em

<

http://www.comciencia.br> Acessado em 03/08/2002.

HACHETTE. Enciclopédia digital. França: 1997. CD-ROM produzido por Éditions Hachette.

HUXLEY, Aldous. A d m ir á v e l M u n d o N o v o . 17xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa edição. São Paulo: Globo, 1989.

RAGGAT, P. "Post-fordism and distance education: a flexible strategy for change", inO p e n

L e a r n in g , vol. 8, n? I, 1993.

SILVA, Carlos Eduardo Linda da. O c a m in h o d a s

u to p ia s . Artigo de jornal (fonte e data desconhecidas)

Referências

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