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INTERNET E PERSPECTIVAS FUTURAS DA COMUNICAÇÃO

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Academic year: 2021

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I N T E R N E T E P E R S P E CT I V A S

F U T U R A S D A C O M U N I C A Ç Ã O

Cláudia Chaves

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Um famoso teórico das comunicações de massa, Marshall McLu-han, já no final da década de 60, referindo-se às novas tecnologias da informação, afirmou: “Se funciona, então é obsoleto”.1Quando

pen-samos na microinformática, na rede mundial de computadores (In-ternet) e em todas as tecnologias que invadem o nosso cotidiano, cons-tatamos o quanto é complicado antever o futuro da comunicação co-letiva, uma vez que o assunto é dinâmico, complexo, mutável e, por que não dizer, fascinante e “mágico”.

Melhor seria refletir sobre o presente das comunicações de mas-sa pois, analimas-sando o momento atual, talvez posmas-samos vislumbrar uma nesga de futuro.

Quais são as características atuais dos meios de comunicação coleti-va? À primeira vista, vivemos num cenário promissor: nunca, em toda a história da humanidade, tivemos acesso à tanta informação. A chama-da “era chama-das massas” está em declínio, com o advento chama-das tecnologias chama-da informação. Tais tecnologias não se restringem a meios isolados de co-municação, uma vez que a digitalização favorece uma linguagem uni-versal de funcionamento.

Atualmente a mídia pode ser tomada como um conjunto complexo de aparelhos e relações que se auto-referenciam. A interatividade é a pa-lavra-chave: a mídia apela cada vez mais para esse marketing, pois a um simples telefonema ou clicar de “mouse”, o público pode opinar sobre o final de um programa, deixar seu recado numa página eletrônica etc. Is-to sem falar nos benefícios da comunicação a tempo real: neste exaIs-to momento, através do correio eletrônico, qualquer pessoa pode se comu-nicar com alguém no outro lado do mundo.

No entanto, toda essa facilidade nos vem associada a uma sensa-ção de desconforto, de vazio, de perda de identidade e referência. Maior acesso à informação significa maior compreensão do seu conteúdo? Por que o indivíduo moderno, mergulhado num mar de imagens e mensagens, sente-se ansioso, nervoso, sem saber como se orientar?

Para compreendermos essa aparente contradição, é preciso pensar na interrelação entre comunicação e vida social. Nossa sociedade é consti-tuída sob o signo do individualismo e da competição. A mídia reproduz essa sociedade, mas em larga escala e numa lógica da contradição.2

Tor-na públicas nossas mazelas, porém transformando-as em espetáculo. A miséria e o desalento passam por “Cidade dos Homens”, o desejo e os descaminhos amorosos transformam-se em “Ilha da Sedução”, o tédio e o desespero pelo reconhecimento encontram-se nos reality shows.

Quando associo a interatividade, como uma característica própria da “era digital”, a um atributo de marketing, o faço lembrando

Pier-MEDIAÇÃO,

Belo Horioznte

,nº 2,

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MEDIAÇÃO,

Belo Horioznte

,nº 2,

outubro de 2002

re Lévy3, que muito acertadamente nos alerta que a introdução das

tecnologias da informação em nosso cotidiano não são apenas uma questão de engenharia, mas principalmente uma questão cultural:

os produtos da técnica moderna, longe de adequarem-se apenas a um uso instrumental e calculável, são importantes fontes de ima-ginário, entidades que participam plenamente da instituição de mundos percebidos.

Ou seja, estamos diante não apenas de uma “era digital”, mas do delineamento (muitas vezes, literalmente “goela abaixo”) de uma reconfiguração da cultura. Modos de produzir, de fazer, de pensar e – por que não? – de sentir, vão se transformando a partir da ex-periência diária com as tecnologias da informação. Desse modo, interagir, por mais que se apregoe seja a liberdade de apertar bo-tões, clicar um mouse ou fazer uma ligação gratuita para eliminar um participante de reality show, não pode ser resumir a uma ques-tão mercadológica, de consumo.

Meu argumento é que o desconforto e a desinformação, ainda que percebidos como uma sensação individual, se conformam num esta-do de coisas em que a interatividade é vendida sob o imperativo esta-do “consuma!”. O modus operandi e as lógicas que presidem as tecnolo-gias da informação nos escapam e, a perpetuarem-se as tendências, continuarão nos escapando. Não seria interagir, como o próprio no-me indica, agir junto, agir com, dialogar? Tornar-no-me interlocutor, par, e não apenas usuário? Programas como “Você Decide” solicitam-me decidir sobre uma lógica preexistente. Querem, afinal, que eu decida sobre algo que, de antemão, já está decidido (porque, em qualquer op-ção que eu faça, o grande vencedor é o índice de audiência).

O mesmo se poderia pensar sobre a interconexão, outra carac-terística definidora da “era digital”. As tecnologias da informação intercambiam funções, em crescente apelo ao consumo. Um tele-fone celular, atualmente, envia e recebe mensagens de texto e cor-reio eletrônico, tira fotografias, é calculadora, relógio, despertador, visor para jogos e – pasmem! – serve também para fazer e receber ligações telefônicas. Um mundo de facilidades, enfim, que mal dis-farça a pontinha de desconforto e sensação de inutilidade que, si-nuosa, teima em persistir.

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nhuma estou defendendo a “neutralidade” dos meios de comunica-ção. Apenas considero que as coisas são mais complicadas do que pa-recem, e que o entendimento do problema vai passar necessariamen-te por uma abertura de perspectiva.

O surgimento e a popularização da Internet na sociedade brasi-leira amplifica todas essas questões. Está em curso uma revolução ain-da sem nome, o futuro ain-da comunicação coletiva depende, antes de mais nada, da orientação que dermos a ela hoje. Como novamente diria Pierre Lèvy:

As técnicas não determinam nada. Resultam de longas cadeias en-trecruzadas de interpretações e requerem, elas mesmas, que sejam interpretadas, conduzidas para novos devires pela subjetividade em atos dos grupos ou dos indivíduos que tomam posse dela. Mas ao definir em parte o ambiente e as restrições materiais das socie-dades, ao contribuir para estruturar as atividades cognitivas dos coletivos que as utilizam, elas condicionam o devir do grande hi-pertexto. (...) A situação técnica inclina, pesa, pode mesmo inter-ditar. Mas não dita.4

Vamos tentar substituir a sensação de desconforto pela reflexão e assim, assumirmos nosso lugar de cidadania.

NOTAS

1 McLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. SP, Cultrix 2 Segundo o sociólogo francês Edgar Morin, a cultura de massa é constituída internamente

oi-roares antitéticos: idéias contraditórias (tais como a burocratização e inovação, quantidade e qualidade, etc.) que, coexistindo, paradoxalmente a conformam. Ver Cultura de Massas no

Sé-culo XX. Vol. 1: Neurose. 9ª ed. RJ, Forense Universitária, 1997.

3 Lèvy sugere que as tecnologias da informação sejam agenciamentos sócio-técnicos, ou seja, não devem ser compreendidos apenas como aparelhos, mas como expressão de um modo-de-ser de uma sociedade específica.

4 Ver LEVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. RJ, Ed. 34, 1993.

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Belo Horioznte

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Referências

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