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PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA

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Academic year: 2021

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Alameda Casa Branca

Endereço: Alameda Casa Branca, 800, Jardins, São Paulo, SP.

Classificação: Logradouro.

Identificação numérica: 170-13.001

A Alameda Casa Branca está situada no bairro Jardim Paulista que compõe a nobre região conhecida em São Paulo como “Jardins” – reunindo o loteamento dos bairros Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulista e Jardim Paulistano.

Planejados no início do século XX, os “quatro jardins” estão inspirados no conceito inglês de garden-city (cidade-jardim), que propõe, urbanisticamente, a harmonia das residências com a natureza, opondo com a construção de jardins o modelo das cidades industriais1. Em São Paulo o garden-city foi implantado, pioneiramente, ao longo da década de 1910 no Jardim América pela empresa Companhia City, que desenhou o bairro com ruas curvas bastante arborizadas, estabelecendo regras de zoneamento, direcionamento do trânsito e normas de construção com limites de ocupação do espaço: para a aquisição de lotes havia “um contrato de venda com cláusulas específicas sobre as acomodações das casas no lote e a localização no terreno”2. “Os autores do desenho, Barry Parker e Raymond Unwin, arquitetos britânicos, tinham sido os criadores de Letchworth, a primeira cidade-jardim da história, e de Hampstead, subúrbio residencial de Londres [...]”3.

Lançado em 1919, o bairro Jardim América, cujas ruas receberam o nome dos países do continente americano, já estava plenamente ocupado na década de 1940 por profissionais liberais, comerciantes e industriais “que iam ao cinema, dançavam

1 Para uma leitura detalhada do conceito e a história de formação do bairro ver: PAULA, Zueleide Casagrande de. Jardim América: de Projeto Urbano a Monumento Patrimonial (1915 a 1986). Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual Paulista. Assis/SP, 2005.

2 PAULA, Zueleide Casagrande de. op. cit, p.122.

3 PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de Cultura. São Paulo:

Imprensa Oficial, 2012, p.236.

Memorial da Resistência de São Paulo

PROGRAMA

LUGARES DA MEMÓRIA

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2 em bailes de clubes, faziam esportes e começavam a morar em casas [...] com jardins frontais, [...] separadas da rua apenas por pequenas muretas”4. Esse empreendimento imobiliário no Brasil foi contemporâneo das primeiras experiências internacionais (lançadas em Londres em 1913) e, após alguns anos, foi reproduzido em muitas outras regiões da cidade e do país, demonstrando a grande aceitação desse modelo.

Como exemplo, também em 1919 foi lançado o loteamento do Jardim Europa, cujas ruas recebiam nomes de países europeus. Em total harmonia com o Jardim América, não é possível observar, pela paisagem, os limites entre os dois bairros que se unem e se mesclam – tanto que a Avenida Europa (principal via do Jardim Europa) é uma continuação da Rua Colômbia (coração do Jardim América).

Os quatro bairros paulistas inspirados no conceito da “cidade-jardim” possuem algumas diferenças em relação ao tamanho dos loteamentos, mas, de modo geral, suas ruas permanecem muito arborizadas e a arquitetura empregada não se diverge muito, estabelecendo uma “continuidade paisagística”, que acabou por “firmar um padrão de moradia burguesa brasileira do século XX”5.

4 Idem, p.238.

5 Idem, p. 236 e 238.

Imagem 01: Casas do Jardim Paulista em 1923. Pavimentação da rua Bela Cintra, na esquina com a Alameda Itu. Foto: Autor desconhecido. Fonte:

Arquivo Histórico de São Paulo.

Imagem 02: Vista do bairro Jardim América no ano de

1938. Foto:

Benedito Junqueira Duarte. Fonte:

Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo.

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3 Construída inicialmente como subúrbio da capital, a região dos Jardins foi, anos depois, incorporada à cidade devido ao crescimento da malha urbana, que tornou o subúrbio uma área de grande interesse das classes economicamente privilegiadas, “que viam naquela região [dos Jardins] a possibilidade de usufruir os benefícios da cidade e, ao mesmo tempo, do sossego trazido pelo planejamento controlado das áreas”6.

Por ser ocupada por famílias abastadas da capital, no período da ditadura civil- militar (1964-1985) a região dos Jardins, ao contrário de outros bairros da cidade, não constituía um local de observação frequente por parte dos agentes da repressão, que procuravam coibir qualquer tipo de movimentos de resistência ao regime militar ou outra atividade considerada, por eles, como subversiva. Por esse motivo, a região se configurou como um local seguro para os encontros secretos marcados entre militantes de organizações de esquerda7. Além do sossego, a arborização do bairro dificultava a visão noturna, pois escurecia muitos as ruas: “Além dos escassos postes de luz, a profusão de árvores ensombrecia a rua. Não havia como negar que era um recanto discreto para colóquios clandestinos”8. Esse quadro de uma suposta

“segurança” da região foi abalado no dia 04 de novembro de 1969, por volta das oito horas da noite, quando foi executado na Alameda Casa Branca o líder da Ação

6 PAULA, Zueleide Casagrande de. op. cit, p.180.

7 Os encontros entres os militantes ocorriam em locais determinados como “pontos, ou seja, um local onde um militante deveria comparecer em um determinado horário para se encontrar com outro militante e receber ou passar incumbências da organização de esquerda a qual pertenciam. Os “pontos” eram marcados sempre em locais diferentes e todos os membros, das diversas organizações clandestinas de resistência, utilizavam-se dessa estratégia.

8 MAGALHÃES, Mário. Marighella. O guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo:

Companhia das Letras, 2012, p.418.

Imagem 03:

Empreendimento

imobiliário da Cia. City:

"Jardim América City of São Paulo Improvements and Freehold Land Ltd.".

Pela imagem é possível observar a construção de jardins internos em alguns quarteirões. Esses jardins foram loteados e vendidos ao longo dos anos 1930, descaracterizando partes do projeto arquitetônico inicial. Foto: Arquivo/AE.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo.

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4 Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella. A emboscada, que resultou na morte do guerrilheiro no momento em que este comparecia a um encontro com outros militantes da ALN, contou com a participação de aproximadamente 30 policiais9. A operação foi organizada e comandada por Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) e um dos líderes do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado por policiais civis e militares que executavam traficantes e marginalizados da cidade de São Paulo durante a década de 197010.

CARLOS MARIGHELLA: BREVE HISTÓRICO DE LUTA

Carlos Marighella, baiano nascido em Salvador no dia 05 de dezembro de 1911, era filho de um mecânico imigrante italiano com a mulata Maria Rita, descente dos negros haussás, africanos do Sudão trazidos como escravos para o Brasil. O audacioso baiano, que, no Ginásio da Bahia, já havia respondido em versos uma prova de física sobre refração da luz, começou sua militância política ainda na juventude, sendo preso quando era estudante do curso de engenharia da Escola Politécnica da Bahia em 1932. Por ordem do interventor no governo da Bahia, Juracy Magalhães, Marighella passou alguns dias na cadeia devido ao seu envolvimento nas manifestações estudantis de apoio ao movimento constitucionalista iniciado em São Paulo naquele ano. Em 1934, após desistir de sua formação como engenheiro, passou a integrar a Federação Vermelha dos Estudantes e a Juventude Comunista em Salvador e, aos 23 anos, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB)11, o Partidão.

9 Idem, p.415.

10 O Esquadrão da Morte era um grupo de extermínio que atuou em São Paulo durante a ditadura civil-militar. No Presídio Tiradentes (SP), durante os anos 1970, presos políticos afirmam que alguns presos comuns eram retirados das dependências do Presídio durante a madrugada e apareciam mortos na manhã seguinte em algum lugar da cidade, geralmente na periferia. O delegado Fleury perseguiu, prendeu e torturou vários militantes de esquerda e foi o mais famoso comandante do Esquadrão. O grupo começou a ser combatido nos anos 1970 e perdeu forças após a morte de Fleury (em 1979, aos 46 anos) e do policial Mariel Mariscot (em 1981). Para mais informações, conferir: BICUDO. Hélio. Meu depoimento sobre o Esquadrão da Morte. São Paulo: Martins Fontes, 2002; e também SOUZA, Percival de. Autópsia do medo. Vida e morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury. São Paulo: Globo, 2000.

11 O PCB foi fundado em Niterói (RJ) em março de 1922 com o objetivo principal de promover no Brasil uma revolução proletária que substituísse a sociedade capitalista pela sociedade socialista. Recém-criado e contando ainda com poucos filiados, foi posto na ilegalidade em junho de 1922 durante o governo de Epitácio Pessoa. Até o fim da ditadura civil-militar, implementada no país em 1964, o PCB só vivenciou três períodos de legalidade: em 1922, de março até junho, em 1927, de janeiro até agosto e, por fim, de outubro de 1945 até abril de 1947. Para mais informações acesse: As organizações de Esquerda. PCB – Partido Comunista Brasileiro, p. 463-465. In: BRASIL. Direito à Memória e à Verdade. CEMDP. Brasília, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007; e o verbete “Partido Comunista do Brasil

(PCB)” elaborado pelo CPDOC/FGV. Disponível em

https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/QuestaoSocial/PartidoComunista.

Acesso em 27/08/2015.

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5 Em 1º de maio de 1936, durante as manifestações do dia do trabalhador, Carlos Marighella foi novamente preso, sendo agora barbaramente torturado pela Polícia Especial do Rio de Janeiro, que queimou seu corpo com cigarros. Na cidade do Rio, Marighella atuava, desde final de 1935, como membro da Comissão Especial do Comitê Central do PCB, sendo o responsável pelo setor gráfico; ficou preso até julho de 1937, quando passou a viver na clandestinidade. No começo de 1938 foi transferido pelo Partido para São Paulo, onde deveria ajudar a reestruturar o PCB, mas Marighella é novamente capturado em maio de 1939 pela polícia do Estado Novo e é encaminhado, pelo investigador Luis Apollônio, para o Deops/SP onde permaneceu preso por mais de um mês, sendo depois transferido para a Casa de Detenção do Rio de Janeiro, onde aguardou julgamento. Marighella foi sentenciado no dia 06 de março de 1940 a cumprir pena de cinco anos no Presídio de Fernando de Noronha, de onde foi transferido para a Colônia Penal de Ilha Grande devido à possível ocupação de Fernando de Noronha por tropas aliadas após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial12.

12 MAGALHÃES, Mário, op. cit, p.85

Imagem 05: Prontuário de Carlos Marighella após sua prisão em 1939 pela polícia política de São Paulo, sendo encaminhado para o Deops/SP. Foto: Autor desconhecido. Fonte:

Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Imagem 06: Lateral direita do Presídio de Fernando de Noronha (PE), onde Carlos Marighella cumpriu parte de sua pena na década de 1940. Foto:

Autor desconhecido.

Fonte: Arquivo Público Mineiro.

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6 Após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942 muitas foram as manifestações contra a ditadura do Estado Novo, uma vez que era paradoxal que Getúlio mantivesse no país um governo autoritário enquanto o Brasil se aliava à luta contra o nazifascismo na Europa. Após grande pressão política, Vargas assina, em 18 de abril de 1945, o Decreto-Lei nº 7.474, anistiando cerca de seiscentos presos políticos, dentre eles Carlos Marighella13.

Minutos depois, Marighella caminhou até o portão principal [da Penitenciária Central do Rio de Janeiro]. Fazia cinco anos, dez meses e 23 dias que ele estava preso. Dos doze anos de comunismo, passara mais de sete na cadeia. Na maior parte do resto do tempo, viveu nos subterrâneos. O Brasil mudava com o mundo.

Do bandido pintado pelos diários nove anos antes, Marighella virou, de acordo com a hagiografia publicada em O Jornal, o “melhor aluno da Escola Politécnica da Bahia”14.

Neste contexto do final dos anos 1940, o enorme prestígio desfrutado pela União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial contribuiu para que o Partido Comunista Brasileiro alcançasse um expressivo crescimento no país, conquistando, finalmente, a sua legalidade política. As eleições de 1945 comprovam esse próspero momento vivido pelo PCB:

Nas eleições presidenciais realizadas em dezembro o PCB lançou a candidatura do ex-prefeito de Petrópolis, Iedo Fiúza, que não pertencia aos seus quadros. Fiúza obteve 10% do total de votos.

Votação semelhante recebeu a chapa do partido para a Assembleia Nacional Constituinte, tendo sido eleitos 14 deputados federais. No Distrito Federal, Prestes foi eleito senador com enorme votação15. A votação, ocorrida em dezembro de 1945, elegeu Carlos Marighella como deputado federal pela Bahia. O parlamentar comunista apresentou na Câmara uma atuação política marcadamente combativa. “Fez do plenário uma tribuna de denúncias da injustiça social e da violência contra os trabalhadores. A situação dos operários e camponeses de todo o país [...] e a luta contra os baixos salários eram os alvos preferenciais [...]”16. Como deputado, Marighella foi o autor de grande parte das emendas apresentadas pela bancada do PCB17, participando também da elaboração da Carta Constituinte de 1946.

13 Idem, p.109.

14 Idem, p.109-110.

15 CPDOC/FGV, loc. cit.

16 SACCHETTA, V; CAMARGOS, M; MARINGONI, G. A imagem e o gesto. Fotobiografia de Carlos Marighella. Editora Perseu Abramo, São Paulo, 1999, p.28.

17 Ibidem.

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7 A legalidade do PCB, no entanto, já estava com os dias contados. No contexto da Guerra Fria, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, o Tribunal Superior Eleitoral suspendeu, em abril de 1947, o registro do Partido Comunista Brasileiro alegando que este era um instrumento para a intervenção soviética no Brasil. “A Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil é fechada, mais de uma centena de sindicatos colocados sob intervenção, e as relações diplomáticas com a União Soviética rompidas”18. Além disso, os dirigentes comunistas começam a ser perseguidos pela polícia até que no dia 07 de janeiro de 1948, por 169 votos contra 74, foi aprovada a cassação dos mandatos dos parlamentares eleitos do PCB. Para Marighella, recomeçava então o período de clandestinidade, situação na qual ele viveu até o dia de sua morte em 04 de novembro de 1969.

ROMPIMENTO COM O PCB E A ALN – ADESÃO À LUTA ARMADA

Após o golpe civil-militar de 31 de março de 1964, iniciou-se, dentro do PCB, uma série de crises políticas decorrentes do modelo ideológico defendido pelo Partido para o enfrentamento da ditadura. A crítica levantada pelos divergentes do Partidão

18 Idem, p.36.

Imagem 07: Bancada comunista da Constituinte de 1946. Na fila superior, da esq. para a dir.: Claudino Silva, Osvaldo Pacheco, Batista Neto, Gregório Bezerra, Alcedo Coutinho, Carlos Marighella, Alcides Sabença; em primeiro plano: Jorge Amado, Abílio Fernandes, João Amazonas, Luís Carlos Prestes, Maurício Grabois, Milton Caires de Brito, Agostinho Dias e José Maria Crispim. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo Iconographia.

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8 embasava-se na defesa de que a luta armada seria o caminho da vitória para a esquerda no Brasil19. No entanto, o PCB é contra a luta armada, apresentando um

“programa de transformações democrático-burguesas, [...] [e] defende cada vez mais claramente uma estratégia de transição pacífica”20. Em decorrência desse posicionamento, em 1967 o Partidão sofreu uma grande cisão política, sendo dividido em muitas outras organizações de esquerda21.

Apesar da orientação ideológica do PCB, Carlos Marighella, um de seus dirigentes, se convencia cada vez mais dos ideais da luta armada, principalmente após a vitória da Revolução Cubana em 1959. Assim, em 1966, Marighella publica “A crise brasileira” na qual procura mostrar a improcedência da política de alianças com a burguesia e da crença na via eleitoral. Destacando, por outro lado, “a importância do trabalho junto aos operários e camponeses e a necessidade da luta armada como caminho para a instalação de um governo popular revolucionário”22.

Em julho de 1967 ocorre em Cuba a Primeira Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas) e Marighella comparece ao país sem o consentimento do PCB, uma vez que meses antes, em março de 1967, o Comitê Central do Partidão já havia se pronunciado contra a Olas por esta se manifestar

“como se a luta armada fosse a única forma de luta revolucionária”23. Marighella, ao comparecer à Conferência, e acreditando na via revolucionária da luta armada, decidiu romper com a direção do PCB, que, por sua vez, também havia decidido pela expulsão de Marighella do partido. No final dos anos 1960 a discordância de Marighella em relação às diretrizes do Partidão já eram irreconciliáveis: “O que se passa no PCB é que, depois da insurreição armada de 1935, as várias direções que se têm sucedido abandonaram o caminho revolucionário, entregando-se às mãos da burguesia e subordinando-se à sua liderança política e ideológica”24.

A viagem de Marighella à Cuba teve como resultado, portanto, o rompimento entre o baiano e o Partido Comunista Brasileiro, mas, como destaca Mário Magalhães,

19 Essa linha política defendida pelo PCB consistia na defesa da via pacífica na passagem do regime capitalista ao socialista e da política de coexistência pacífica entre os blocos do mundo capitalista e do mundo socialista. Tal orientação foi definida pelo Partido durante a Declaração de Março, de 1958, e foi reafirmada durante o V Congresso do partido em 1960.

20 Essa linha política defendida pelo PCB consistia na defesa da via pacífica na passagem do regime capitalista ao socialista e da política de coexistência pacífica entre os blocos do mundo capitalista e do mundo socialista. Tal orientação foi definida pelo Partido durante a Declaração de Março, de 1958, e foi reafirmada durante o V Congresso do partido em 1960. Direito à Memória e à Verdade. op. cit.

21 Mas a primeira divisão sofrida pelo PCB já havia acontecido em 1962 com a criação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

22 Verbete Ação Libertadora Nacional (ALN), produzida pelo CPDOC/FGV. Disponível em:

http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx. Acesso em 28/05/2015.

23 MAGALHÃES, Mário, op. cit, p.255.

24 Idem, p.261.

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“o propósito real da viagem não fora assistir ao evento, mas acertar o treinamento de novas levas de militantes”25. Após a cisão entre o Partidão e Marighella, este organiza a Ação Libertadora Nacional (ALN) – embora esse nome só viesse a ser utilizado em 1969, sendo antes conhecido como “Agrupamento Comunista de São Paulo”, ou simplesmente “Ala Marighella”26 –, cujo lema centra era “A ação faz a vanguarda”27. A ALN surge “como uma estruturação orgânica pouco precisa, sem uma direção coletiva, adotando a “autonomia tática dos grupos armados”, sob a consigna de que ninguém precisa pedir licença a ninguém para fazer a Revolução”28. Já a partir de sua organização, a ALN começa a atuar em ações armadas, atraindo um grande contingente de jovens envolvidos em manifestações estudantis em todo o país, e por isso ganha grande visibilidade nacional. Em setembro de 1969 a organização alcança também destaque internacional ao conduzir, em conjunto com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick – cujo pedido de resgate foi a liberação de 15 presos políticos e a divulgação em rede nacional, pelo governo militar, de um manifesto revolucionário, conseguindo furar o bloqueio de censura imposto aos meios de comunicação.

Mas Marighella, muito antes de aderir aos propósitos da luta armada, já era um alvo da repressão militar por sua conhecida atuação comunista desde os anos 1930.

Logo após o golpe de 1964 ele acabou detido por três meses após ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato conduzida pela polícia do Departamento de Ordem Política e Social do Rio de Janeiro (DOPS/RJ). O fato é narrado pelo próprio Marighella em sua obra Porque resisti à prisão:

A minha prisão, no dia 9 de maio, no cinema Eskye-Tijuca, revestiu- se de sensacionalismo e suspense. Os agentes do DOPS dispararam um tiro contra meu peito para me matar. (...) O tiro foi desfechado à queima-roupa dentro do cinema. [...] Foi tudo numa fração de segundo. Um estampido dentro do cinema. Os gritos de horror. [...] Lutei todo o tempo com a bala embutida no corpo, e sangrando sempre e muito. (...) Dominaram-me por fim com uma pancada no crânio, que me pôs a nocaute e desacordado29.

No entanto, foi a partir da organização da ALN que Marighella se tornou o inimigo número 1 dos militares, como destaca Florestan Fernandes: “Ele foi perseguido como a caça mais cobiçada e condenado à morte cívica, à eliminação da

25 Ibidem.

26 Direito à Memória e à Verdade, loc. cit., p.470.

27 Ibidem.

28 Ibidem.

29 MARIGHELLA, Carlos. Porque resisti à prisão. São Paulo. Brasiliense, 1994, p.13-14.

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10 memória coletiva”30. A Revista Veja de novembro de 1968 traz, como reportagem de capa, informações sobre caçada do guerrilheiro.

EMBOSCADA PARA CARLOS MARIGHELLA

A Igreja Católica no Brasil foi uma das principais bases de sustentação do golpe civil-militar de 1964, organizando, inclusive, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. No entanto, no final dos anos 1960, baseada nos princípios da Teologia da Libertação, a ala progressista da Igreja se transformou em um setor de contestação e denúncia das inúmeras violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado e passou a ter um importante papel aglutinador na luta contra a ditadura e pela igualdade social. Uma das ordens católicas que se destacou nessa luta foi a Ordem dos Dominicanos, que já possuía uma tradição de militância política que vinha desde a Segunda Guerra Mundial, quando ajudaram refugiados a se esconderem dos nazistas.

Os dominicanos chegam ao Brasil no final do século XIX e fundam, em 1938, o Convento Santo Alberto Magno em Perdizes (mais conhecido como o Convento dos Dominicanos)31, que após o golpe civil-militar de 1964 passou a ser um importante espaço de aglutinação de estudantes e intelectuais. Pela proximidade com os ideais da ala progressista da Igreja Católica, alguns freis dominicanos acabaram por ingressar em organizações de combate direto à ditadura. Na ALN de Marighella, os primeiros membros dominicanos “foram o frei Osvaldo e frei Betto, [e] logo outros

30 Idem, p.58.

31 Para uma leitura sobre o Convento conferir o documento produzido pelo Memorial da Resistência de São Paulo. Programa Lugares da Memória. Convento Santo Alberto Magno – Convento dos Dominicanos. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014.

Disponível na página da instituição.

Imagem 08: Marighella torna-se a partir de 1968 um personagem da história política do país. Antiga liderança do Partido Comunista Brasileiro, o baiano é, agora, líder uma importante organização de esquerda atuante na luta armada. Na imagem capa da Veja de 20 de novembro de 1968. Foto: Correio da Manhã. Fonte: Acervo Veja.

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11 foram aderindo a este projeto de luta contra a ditadura militar”32, como frei Maurício (João Valença), frei Fernando, frei Ivo Lesbaupin, frei Magno Vilela, frei Luis Felipe Ratton Mascarenhas, frei Giorgio Callegari e frei Tito de Alencar.

A atividade dos freis dentro da organização estava associada aos diversos contatos que os religiosos possuíam. “Dado o conhecimento que tinham de pessoas em todas as camadas sociais, a coordenação logística ficou com os frades”33 e os religiosos passaram a realizar ações secundárias de apoio ao grupo armado, como indica frei Fernando de Brito: “Nós escondíamos gente, nós arrumávamos dinheiro para o pessoal viajar, conseguíamos condução para o pessoal viajar. Ajudávamos pessoas que precisavam de tratamento médico [...]”34. Por estabelecerem contato com diferentes pessoas utilizando seus nomes verdadeiros, os freis estavam, de certa forma, vulneráveis e, dentro do contexto de acirramento do “combate à subversão” do final dos anos 1960, alguns deles foram identificados como opositores do regime e, perseguidos, acabaram presos e torturados35.

Alguns dominicanos foram presos em 1969 no âmbito da chamada “Operação Batina Branca”36, que consistia em uma força tarefa planejada ao longo de meses e executada no prazo de uma semana pelos agentes do Deops/SP. Na primeira fase desta Operação, com o objetivo de investigar o envolvimento dos dominicanos com a organização de Carlos Marighella, a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury monitorou o convento de Perdizes e a Livraria Duas Cidades37. A Operação resultou no sequestro dos dominicanos que sob intensas torturas acabaram por ceder algumas informações sobre o paradeiro de Marighella e essas pistas levaram o Deops a

32 VALENÇA, João. Uma história do tempo da ditadura. Revista Revés do Avesso. Centro Ecumênico de Publicações e Estudos Frei Tito de Alencar de Lima, São Paulo, 2004, p.39.

33 Ibidem.

34 Entrevista de frei Fernando de Brito para o documentário Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro, de Silvio Tendler. 2001. Minutagem: 40:00 - 40:27.

35 O caso dos freis dominicanos torturados pelo Deops/SP é narrado por Frei Betto no livro Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, com a 1ª edição em 1982.

Para uma leitura sobre a aproximação de Carlos Marighella com os dominicanos conferir:

MAGALHÃES, Mário. Marighella. O guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo:

Companhia das Letras, 2012.

36 O General Castelo Branco, então presidente, desejava a expulsão da Ordem Dominicana do Brasil devido ao seu caráter progressista e de envolvimento com os setores de esquerda.

Dentro deste propósito, organizou-se a Operação Batina Branca, que buscava desmoralizar os dominicanos perante a sociedade e abalar as relações dos religiosos com as alas de esquerda, enfraquecendo, desta forma, todo o movimento revolucionário.

37 A Livraria (e Editora) Duas Cidades foi criada em 1954 e se instalou na Rua Bento Freitas em 1967 soa a responsabilidade da Ordem Dominicana. Este espaço foi importante para os grupos de resistência à ditadura civil-militar, pois, para além dos contatos com Marighella, a livraria era especializada em livros de ciências humanas e editava inúmeras obras de autores brasileiros, muitos deles de teor marxista. Para mais leitura conferir o documento produzido pelo Memorial da Resistência de São Paulo. Programa Lugares da Memória. Livraria Duas Cidades. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível na página da instituição.

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12 organizar uma emboscada para o líder da ALN. Apresentamos, a seguir, parte dos detalhes da Operação Batina Branca que resultou na morte de Marighella.

No dia 31 de outubro, frei Fernando, editor da Livraria Duas Cidades pretendia encontrar-se no Rio com o jornalista Sinval de Itacarambi Leão, da Editora Vozes, para conversarem sobre uma possível campanha de denúncias das torturas infringidas pela ditadura. Para acertarem o encontro, falaram-se pelo telefone do Convento.

O primeiro erro. E foi a primeira vez que a gente cometeu esse erro de falar pelo telefone. A gente jamais falava pelo telefone do Convento. Nesse dia, por milhares de razões, não foi possível telefonar de outro lugar [...]. E foi um erro de segurança. E a gente marcou pelo telefone de encontrar um amigo nosso, sem dizer o que que era, naturalmente, mas marcou uma viagem para o Rio pelo telefone do Convento38.

A pista sobre a rede da ALN começou a ser levantada pelos militares após o sequestro do embaixador americano. O sequestro foi planejado e executado pela ALN e pelo MR-8 e gerou, como consequência, uma intensiva ação repressora do Estado sobre a esquerda. Nesse contexto, o Deops/SP, antes mesmo do cerco aos dominicanos, “já detinha considerável soma de informações [...]. Sabia que auxiliávamos refugiados políticos. Sabia que alguns frades tinham contatos com Carlos Marighella. Sabia que o Convento das Perdizes não fechara as suas portas aos perseguidos e às suas famílias”39. Quando frei Fernando, por descuido, acerta um encontro no Rio, o Deops/SP, já atento as movimentações dos dominicanos, interceptou a ligação do Convento e “presumiu que Sinval intermediaria um encontro com Marighella. Fleury acionou o SNI e o Cenimar para agirem em conjunto no Rio”40. Os agentes da repressão prenderam no Rio os dois freis, levando-os para o Cenimar, como relembra frei Fernando: “Eles nos prenderam no Rio. E o Cenimar é que tinha a técnica da tortura e do interrogatório. O delegado Fleury queria nomes. “Nome, dinheiro, aparelho”, era isso que ele queria. Ele foi para o Rio e me torturou pessoalmente41. Frei Ivo, capturado junto com Fernando no Rio, também foi interrogado e barbaramente torturado pela equipe de Fleury: “O interrogatório começa

38 Entrevista de frei Ivo Lesbaupin para o documentário de Silvio Tendler. 2001. Minutagem:

41:00 - 41:31.

39 BETTO, Frei. Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella. Editora Bertrand Brasil S.A, Rio de Janeiro, 1987, p.131.

40 MAGALHÃES, Mário, op. cit, p.411. O Serviço Nacional de Informações (SNI) foi criado em meados de 1964 com o objetivo de supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil e exterior. O novo órgão era diretamente ligado à Presidência da República. Já o Centro de Infotmações da Marinha (Cenimar) foi criado em 1957 tendo como antecessor o Serviço de Informações da Marinha (de 1955) com a finalidade de obter informações de interesse da Marinha do Brasil, conforme as diretrizes do Estado-Maior da Armada.

41 Entrevista de frei Fernando de Brito para o documentário de Silvio Tendler. 2001.

Minutagem: 41:31 - 41:58.

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13 com essa afirmação: “vocês são base fixa de Marighella” [...]. E ele [Fleury] repetia muito: “vocês vão ter contato proximamente. Vocês vão ter contato, porque ele está muito perseguido, tá muito acuado e ele vai procurar vocês, vai precisar de vocês”42.

Além das prisões efetuadas no Rio, o Deops/SP também havia invadido a residência dos dominicanos na Rua Caiubí, em Perdizes, e levado vários freis para interrogatório sob sessões de tortura. Assim, no dia 03 de novembro, Fleury já sabia que Marighella se reunia com os frades à noite, na altura do número 800 da Alameda Casa Branca; que os dominicanos o esperavam em um Fusca azul, e que Marighella sempre chegava a pé; que seu codinome era “Ernesto”; que o líder da ALN combinava os pontos a partir de telefonemas para a Livraria Duas Cidades; que a senha que designava o local era “a gráfica”; e que a próxima ligação ocorreria dali a um dia43.

No dia 04 de novembro o motorista da ALN, Antônio Flávio Médici de Camargo, foi encarregado por Marighella da ligação para o Convento. “Ele instruiu o companheiro sobre como marcar o encontro com Fernando para as oito da noite.

Passaria a pé nesse horário pela rua Oscar Freire, quase na esquina com alameda Casa Branca”44. Marighella compareceria sozinho ao encontro com os dominicanos e Antônio Flávio deveria aparecer ao local apenas meia hora depois para buscá-lo. Após a ligação, monitorada pelo Deops/SP, Fleury prepara a emboscada.

Fleury armou a cilada para que, ao ultrapassar a esquina da alameda Casa Branca com a alameda Lorena, Marighella não tivesse como escapar. Ele andaria ladeira acima, com a maioria dos tiras em nível mais alto. [...] Além de dominar militarmente o território, a tropa da ditadura possuía meios não letais para pegar o guerrilheiro: bombas de gás e o cão Átila, pastor-alemão da Força Pública [...]. Fleury posicionou dois automóveis sem identificação policial na Lorena, um na Tatuí, um na José Maria Lisboa e outro num estacionamento.

Como de costume, o Fusca azul dos frades encostou no meio-fio esquerdo da alameda Casa Branca, no sentido da avenida Paulista.

A menos de 3 metros, policiais se esconderam atrás do tapume de uma obra. [...] A seguir, cinco homens se abaixaram na carroceria e se ocultaram sob uma lona [...]. Mais adiante se plantou um Chevrolet da década de 1950. Era o “carro-piloto”, com Fleury ao volante. Ao seu lado, a investigadora Estela Borges Morato, 22 anos e meros 29 dias na Polícia Civil [...]. Nenhum dos sete carros da repressão era mais importante que o dos religiosos da ALN. Àquela altura, Fleury sabia que Marighella dispensava seguranças, chegava a pé pelas costas do Fusca de duas portas, empurrava o banco do

42 Entrevista de frei Ivo Lesbaupin para o documentário de Silvio Tendler. 2001. Minutagem:

41:31 - 43:02.

43 MAGALHÃES, Mário, op. cit, p.412-413.

44 Idem, p.414.

(14)

14 carona e se sentava no de trás. Lá, estaria encapsulado, à mercê dos algozes [...]”45.

A morte de Carlos Marighella foi divulgada pelos agentes da repressão como sendo o resultado de um tiroteio entre a polícia e militantes da ALN. Conforme a versão oficial, durante a troca de tiros os policiais atingiram Marighella, que no momento procurava por sua arma dentro de uma maleta. Os militantes, “treze guerrilheiros numa só camionete”46, teriam então acertado três pessoas: o policial Rubens Tucunduva, baleado na perna esquerda – e único sobrevivente do tiroteio –, a investigadora Estela Morato (que faleceu três dias depois após receber um tiro na cabeça) e o alemão Adolf Rohmann que furou o bloqueio policial para entrar na Alameda Casa Branca sendo confundido com um possível segurança de Marighella.

Essa foi a versão oficial amplamente divulgada pela mídia, embora o Deops nunca tenha explicado como, “favorecido pelo pleno domínio militar do terreno, não capturou um só “subversivo””47. Como reconhecimento, o “governo paulista promoveu por

“bravura” 43 policiais que participaram do cerco ao inimigo [...]”48. VERDADE E MEMÓRIA

Embora os militares afirmem que o líder da ALN estava armado e acompanhado por outros guerrilheiros, o que foi observado, pelos próprios militares ao fazer a revista no corpo, é que Marighella não possuía nenhum tipo de arma e o que procurava, quando foi alvejado, era uma cápsula de cianureto que tomaria para que

45 Idem, p.418-419.

46 Idem, p.426.

47 Ibidem.

48 Ibidem.

Imagem 10: Posição dos carros usados na

Alameda Casa

Branca durante a ação do Deops/SP no dia 04/11/1969. Foto:

Autor desconhecido.

Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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15 não fosse capturado com vida. O suposto tiroteio com a esquerda, que vitimou três pessoas, foi uma ação iniciada e conduzida unicamente pelos policiais, mas, ao oferecer essa versão dos fatos, os agentes da repressão conseguiam se eximir das responsabilidades sobre as mortes e os disparos, justificando “o vexame de [terem]

dois policiais feridos e a morte do alemão desavisado. Além da execução do guerrilheiro solitário e sem armas de fogo”49. Abaixo destacamos um trecho do livro de Mário Magalhães, que passou nove anos envolvido em pesquisas sobre a vida e a morte de Marighella, onde ele narra sobre a revista do corpo e algumas fraudes da versão oficial:

[...] arrastam-no pela porta do motorista e o deitam na calçada. A hemorragia interna o consome quando puxam sua camisa clara de listras, desafivelam o cinto preto e desabotoam a calça de igual cor.

Reviram-no e acham papéis com anotações em alfabetos grego e russo, código Morse e hieróglifos que jamais decifrarão. Recolhem mil dólares e 85 cruzeiros novos. Apreendem o frasco com as cápsulas de cianureto. Incrédulos, recomeçam a revista: Marighella já suspirou pela última vez quando seus matadores se convencem de que ele está mesmo desarmado, sem um canivete sequer. Na pasta, buscou o veneno para não cair vivo50.

Nenhuma fraude seria tão longeva como a versão de que Marighella estava armado. No improviso do calor da hora, o Dops plantou notícias distintas: que ele portava uma pistola 9 milímetros, fantasia acolhida pelo Jornal da Tarde; e que empunhava duas armas de fogo, reproduzida pela Folha da Tarde. No relatório de 9 de novembro de 1969, o delegado Ivair Freitas Garcia se traiu, sugerindo a verdade por omissão: não se referiu a qualquer revólver ou pistola em posse de Marighella. A não ser em suposições sobre a

“pasta preta onde, segundo informações, sempre conduzia o revólver e granadas de mão”. O objeto surgiu na perícia da Secretaria de Segurança: “Marighella tenta abrir uma pasta preta onde havia uma arma”. Contudo os peritos não viram pasta, muito menos arma, como registraram: antes de chegarem, “Fleury já havia recolhido a pasta”.

Eles só foram acionados pelo Dops às nove e dez da noite, mais de uma hora após o incidente51.

Sobre o assassinato de Marighella ainda é preciso destacar que os militares, após o executarem, ainda alteraram a posição de seu corpo no carro de forma que fosse comprovável, através da perícia, que a versão que ofereciam era verdadeira.

Nascia a imagem amplamente divulgada e conhecida desse trágico 04 de novembro de 1969. Na imagem, registrada por fotógrafos noventa minutos após o “tiroteio”, o

49 Idem, p.422.

50 Ibidem.

51 Idem, p.428.

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16 guerrilheiro aparece com um tiro no rosto, ensanguentado e caído no banco de trás do fusca, com seus pés para fora do veículo.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) realizou em outubro de 2012 uma análise pericial sobre a morte de Carlos Marighella a fim de reconstruir o evento que resultou na morte do líder da ALN em 1969. A perícia concluiu que Carlos Marighella fora atingido por pelo menos quatros projéteis de arma de fogo, que foram desferidos quando ele estava no banco traseiro do Fusca em que foi encontrado, uma vez que não há qualquer marca de sangue nas portas do veículo. Constatou-se também que não houve troca de tiros, pois todos os disparos observados partiram de fora para dentro do veículo. A perícia ressalta que todas as marcas de sangue observáveis no local a partir de fotografias da perícia produzidas na época são compatíveis com a posição do corpo de Marighella após a morte: suas roupas apresentam apenas marcas de sangue limpas, sem nenhuma sujeira adquirida por contato com o solo – o que teria ocorrido se tivesse sido atingido fora do veículo e caído ao ser alvejado. A perícia da CNV inferiu ainda que todos os disparos partiram de um plano superior ao da vítima, que se encontrava deitada no banco do carro. O tiro que atingiu Marighella na região torácica, provavelmente o último, foi efetuado a curtíssima distância (menos de oito centímetros), através do vão formado pela abertura da porta direita do veículo, numa ação típica de execução52.

52 Informações produzidas através do documento “Análise dos Elementos Materiais Produzidos em Função da Morte de Carlos Marighella, solicitado por meio do Ofício nº 156/2012 - Comissão Nacional da Verdade - CNV, pelo membro da Comissão Dr. Cláudio Lemos Fonteles” e disponibilizadas no Volume 1 do Relatório da CNV. In: BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório/Comissão Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014, p.448.

Disponível em: http://www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_1_digital.pdf. Acesso em 01/09/2015.

Imagem 11: Cena da morte de Marighella a partir do relato da polícia. O corpo foi realocado no carro de modo a comprovar a versão oficial. Foto: Autor desconhecido.

Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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17 A preocupação da CNV em oferecer, através de uma perícia imparcial, informações que ajudem a esclarecer as circunstâncias da morte de Carlos Marighella representa uma parte do compromisso do Estado brasileiro com a luta por verdade, oferendo recursos para que familiares e a sociedade possam conhecer o passado histórico do país. Conforme avalia Marlon Alberto Weichert, o acesso à informação permite o conhecimento e a compreensão da realidade histórica a todos os cidadãos, que exercerá seu direito fundamental de tomar decisões como membro da sociedade53. O estabelecimento da verdade sobre o passado ditatorial ajuda também a sensibilizar as futuras gerações sobre os crimes do passado e a continuidade das violações aos direitos humanos no presente.

A verdade e a memória são instrumentos essenciais para o processo de confrontação das violações de direitos humanos pelo regime democrático e estão profundamente associadas aos projetos de memorialização conduzidos pelo Estado brasileiro. O processo de preservação dessas memórias também é uma medida simbólica de reparação às vítimas e à sociedade que procura, através da criação de memoriais e monumentos, manter viva a memória das vítimas e ressignificar o passado violento evitando que práticas semelhantes ocorram no presente e no futuro.

Esse processo de memorialização conseguiu dar importantes passos como o que ocorreu na Alameda Casa Branca. A alameda é um dos poucos lugares de memória da cidade de São Paulo a receber uma identificação que faça referência aos eventos ali ocorridos durante o período ditatorial. Na calçada, na altura do número 800, local onde ocorreu o assassinato de Carlos Marighella pela polícia, foi colocada em 1999 uma placa fixada em uma pedra talhada em homenagem ao guerrilheiro. O granito polido, denominado Memorial Carlos Marighella, traz a inscrição "Aqui tombou Carlos Marighella, assassinado em 4 de novembro de 1969 pela ditadura militar". A placa, que seria instalada em uma árvore conforme pretendia seu autor, o arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, foi instalada sobre a calçada devido às reações contrárias à homenagem. A placa foi posteriormente roubada por vândalos, mas a pedra permanece como uma importante sinalização desse lugar de memória.

Além dessa ação de caráter mais institucionalizado, é comum também que o logradouro receba, durante o aniversário de morte de Marighella, ações anônimas que o homenageiam ao alterar o nome da rua para “Alameda Carlos Marighella”. Como consequência dessa ação social reivindicatória, em 2011 entrou em tramitação na Câmara Municipal de São Paulo o projeto de lei n° 570/2011, que propõe a alteração da denominação dessa via para “Alameda Casa Branca – Carlos Marighella”. Esse

53 WEICHERT, Marlon Alberto. Arquivos secretos e direito à verdade. In: SANTOS, Cecília Macdowell... [et al] (orgs). Desarquivando a Ditadura: memória e justiça no Brasil. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2009. p.407.

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18 projeto de lei pode ganhar mais força a partir de 2015, pois em agosto de desse ano foi assinado o projeto “Ruas de Memória”, na qual a Prefeitura de São Paulo propõe a alteração dos nomes de ruas, pontes, viadutos, praças e demais logradouros públicos.

O objetivo é remover as homenagens feitas às pessoas vinculadas à repressão do regime militar e ressignificá-los com o nome de pessoas envolvidas na luta pela democracia, liberdade e direitos humanos. Segundo o levantamento realizado pela Coordenação de Direito à Memória e à Verdade (DMV) da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), existem na cidade de São Paulo 38 logradouros associados à ditadura, dos quais 22 homenageiam ditadores, torturadores ou chefes dos serviços de segurança que serviram à repressão54. A remoção dessas homenagens é aqui observada como uma reparação simbólica às vítimas e à coletividade, permitindo desacreditar ideologias como as que sustentaram o golpe de 1964 no Brasil.

54 PREFEITURA DE SÃO PAULO. “Ruas de Memória” pretende mudar nomes de vias que homenageiam símbolos do regime militar. Secretaria Executiva de Comunicação. Prefeitura de

São Paulo. 13 de agosto de 2015. Disponível em

http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/5914#ad-image-6. Acesso em 02/09/2015.

Imagem 13: Memorial Carlos Marighella inaugurado em 1999 na Alameda Casa Branca. A Placa com inscrição

"Aqui tombou Carlos Marighella, assassinado em 4 de novembro de 1969 pela ditadura militar" foi roubada.

Foto: Pablo Pereira. Fonte:

Jornal O Estado de São Paulo.

Imagem 12: Durante o aniversário de morte de Marighella, uma ação anônima o homenageia alterando o nome da rua para “Alameda Carlos Marighella”.

Foto: Paula

Sacchetta/UOL. Fonte:

Portal UOL.

(19)

19 ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES:

A região dos Jardins foi tombada em 1986 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat) com base no Processo nº 23.372/85. Essa foi a primeira área urbana residencial a alcançar o estatuto de patrimônio paisagístico na cidade de São Paulo, com base na paisagem e no traçado urbano. O tombamento incidiu sobre o traçado urbano, a vegetação e as linhas demarcatórias dos lotes.

A Alameda Casa Branca reúne anualmente, no dia 04 de novembro, familiares, amigos e defensores dos direitos humanos em uma manifestação que relembra a execução de Carlos Marighella, cobrando “memória, verdade e justiça” sobre as atrocidades cometidas pela ditadura civil-militar.

ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA

O Memorial da Resistência possui um programa especialmente dedicado a registrar, por meio de entrevistas, os testemunhos de ex-presos e perseguidos políticos, familiares de mortos e desaparecidos e de outros cidadãos que trabalharam/frequentaram o antigo Deops/SP. O Programa Coleta Regular de Testemunhos tem a finalidade de formar um acervo, cujo objetivo principal é ampliar o conhecimento sobre o Deops/SP e outros lugares de memória do Estado de São Paulo, divulgando, desta forma, o tema da resistência e repressão política no período da ditadura civil-militar.

- Produzidas pelo Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência

FERREIRA, Francisco. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni Evangelista em 24/05/2013.

FREIRE, Alípio Raimundo Viana. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Kátia Felipini Neves, em 02/11/2008.

LOBO, Elza Ferreira; NOGUEIRA, Rosemeire. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Maurice Politi, Kátia Neves, Cristina Bruno e Marcelo Araújo, em 16/09/2008.

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20 MIYAKI, Darci Toshiko. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves Teixeira e Ana Paula Brito em 24/04/2014.

ROIG, Vicente Eduardo Gomes. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves Teixeira e Paula Salles em 15/04/2014.

Outras entrevistas

SHIBATA, Harry. O jornalista José Nêumanne Pinto conversa com o legista Harry Shibata, diretor do Instituto Médico Legal de São Paulo entre 1976 e 1983. Dossiê Shibata. Jornal do Brasil. São Paulo, 09 de novembro de 1980.

TV CULTURA. Antônio Abujamra entrevista Clara Charf. Provocações. São Paulo, exibido em 06 de dezembro de 2011. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=e_KG3PC64pI. Acesso em 25/08/2015.

RÁDIO HAVANA. Entrevista de Carlos Marighella. Rádio Havana. Havana, Cuba, 1967. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J3CFHY_hwQk. Acesso em 25/08/2015.

REDE TVT. Maria Amélia Rocha Lopes entrevista Aton Fon Filho e Raphael Martinelli.

Memória e Contexto: Carlos Marighella - Um homem chamado coragem. São Bernardo do Campo/SP, exibido em 21 de outubro de 2013. Entrevista em 3 partes.

Arquivo 1 disponível em https://www.youtube.com/watch?v=uijA7az5Ee0. Acesso em 25/08/2015.

TV BRASIL. Luiz Carlos Azedo entrevista Mário Magalhães. Participação do historiador Francisco Carlos Teixeira e do jornalista Chico Otávio. Três a Um:

Marighella em livro. São Paulo, exibido em 18 de janeiro de 2013. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=muLf2Q65hxw. Acesso em 26/08/2015.

SEDUFSM. D Docente entrevista Mário Magalhães. 57ª edição do Projeto Cultura da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria. Santa

Maria/RS, 13 de maio de 2013. Disponível em

https://www.youtube.com/watch?v=Z7X1eyjp_dY. Acesso em 26/08/2015.

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21 FILMES E/OU DOCUMENTÁRIOS

Documentário: Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro. Direção de Silvio Tendler. 2001. Sinopse: O documentário conta a história, as polêmicas, as vitórias e derrotas de Carlos Marighella, um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Autor do Manual do Guerrilheiro Urbano foi fundador da Ação Libertadora Nacional, primeiro movimento armado pós-64. Foi homenageado com o filme no ano em que completaria 90 anos.

Documentário: Marighella. Direção de Isa Grinspum Ferraz. 2011. Sinopse: Maior nome da militância de esquerda no Brasil dos anos 60, Carlos Marighella atuou nos principais acontecimentos políticos do Brasil entre os anos 1930 e 1969 e foi considerado o inimigo número um da ditadura militar brasileira. Líder comunista, vítima de prisões e tortura, parlamentar, autor do mundialmente traduzido “Manual do Guerrilheiro Urbano”, sua vida foi um grande ato de resistência e coragem. Dirigido por sua sobrinha, o longa-metragem Marighella é uma construção histórica e afetiva desse homem que dedicou sua vida a pensar o Brasil e a transformá-lo através de sua ação.

Gravação: Rádio Libertadora - A palavra de Carlos Marighella. Livro, com mídia em áudio, lançado pelo Projeto Marcas da Memória do Ministério da Justiça.

Organização de Iara Xavier Pereira. 2013. A Rádio Libertadora foi um projeto criado por Carlos Marighella em 1969 com o objetivo de difundir a mensagem revolucionária para rádios e autofalantes quando a censura da ditadura militar bloqueava as notícias dos grupos de resistência. As gravações em fita da Rádio Libertadora foram reunidas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que reconheceu Marighella como anistiado e lhe prestou as homenagens, pelo centenário de seu nascimento (5/12/2011), com a publicação do livro Rádio Libertadora – A palavra de Carlos Marighella com as transcrições das gravações. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=4RV21ENFlIo. Acesso em 25/08/2015.

Filme: Batismo de Sangue. Direção de Helvécio Ratton. 2007. Sinopse: Ambientado no fim dos anos 1960, o filme é baseado no livro homônimo de Frei Beto. O convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito, Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella. Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, passando por torturas que culminam em uma emboscada organizada pela polícia para assassinar Marighella.

(22)

22 REMISSIVAS: Livraria Duas Cidades; Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP); Convento Santo Alberto Magno - Convento dos Dominicanos.

REFERÊNCIAS:

BETTO, Frei. Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella. Editora Bertrand Brasil S.A, Rio de Janeiro, 1987.

BRASIL. Direito à Memória e à Verdade. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Brasília, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007.

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório/Comissão Nacional da Verdade.

Brasília: CNV, 2014. Disponível em:

http://www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_1_digital.pdf. Acesso em 01/09/2015.

MAGALHÃES, Mário. Marighella. O guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

PAULA, Zueleide Casagrande de. Jardim América: de Projeto Urbano a Monumento Patrimonial (1915 a 1986). Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual Paulista. Assis/SP, 2005.

PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de Cultura.

São Paulo: Imprensa Oficial, 2012, p.236.

SACCHETTA, V; CAMARGOS, M; MARINGONI, G. A imagem e o gesto.

Fotobiografia de Carlos Marighella. Editora Perseu Abramo, São Paulo, 1999.

COMO CITAR ESTE DOCUMENTO: Programa Lugares da Memória. Alameda Casa Branca. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2015.

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