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Relação Entre as Características Financeiras das Empresas e a Adoção Voluntária do Full IFRS no Brasil

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Relação Entre as Características Financeiras das Empresas e a Adoção Voluntária do Full IFRS no Brasil

Autoria: Cristina Zardo Calvi, Vanessa Pacheco Grillo

Resumo

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1.INTRODUÇÃO

Com a globalização da economia, surgiu a necessidade de reduzir as diferenças existentes entre as formas de reconhecimento, mensuração e evidenciação das atividades econômicas em todo o mundo. Tornando, por exemplo, mais viável para os investidores compararem as informações contábeis de empresas com atividades similares que estão instaladas em países distintos. Nesse contexto surgiu o processo de convergência das normas contábeis a nível mundial, que conforme Niyama (2005) é um processo que busca preservar as características inerentes a cada país, mas que permite reconciliar os sistemas contábeis com outros países de modo a melhorar a troca de informações entre os usuários das demonstrações financeiras.

Em 2005, objetivando a convergência contábil, países do bloco Europeu adotaram as normas internacionais de Contabilidade, denominadas Internacional Financial Reporting Standards (IFRS). No Brasil, neste mesmo ano, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), mas somente em 2007 iniciou-se o processo de convergência aos padrões internacionais de contabilidade com a promulgação da Lei 11.638, que alterou e revogou artigos da Lei das Sociedades Anônimas - Lei 6.404/76. A partir de 2008 as empresas brasileiras passaram a divulgar suas demonstrações financeiras observando os novos procedimentos emitidos pelo CPC.

Até 31 de dezembro de 2009 as empresas brasileiras deveriam adotar os procedimentos emitidos pelo CPC conforme sua data de promulgação. Já para o ano de 2010 - CPC 37, foi determinado à obrigatoriedade da publicação das demonstrações contábeis pelas companhias abertas em full IFRS. Adicionalmente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também determinou que as companhias de capital aberto brasileiras elaborassem e publicassem suas demonstrações financeiras consolidadas em IFRS a partir do exercício findo de 2010, conforme instrução CVM nº 457/2006. Entretanto, constata-se que algumas empresas brasileiras adotaram antecipadamente e de forma voluntária a elaboração e publicação de suas demonstrações financeiras consolidadas em full IFRS.

Evidências apontam que uma das conseqüências da adoção voluntária das Normas Internacionais de Contabilidade é a maior capacidade de atrair capital estrangeiro, uma vez que as empresas passam a fornecer mais informações e/ou informações de forma mais familiar para os investidores estrangeiros (COVRIG; DEFOND; HUNG, 2007). Além disso, outros estudos apontam que a adoção do IFRS ocorre onde o ambiente institucional e/ou governamental fornece incentivos para as empresas serem mais transparentes em suas demonstrações contábeis (DASKE et al, 2008).

O fato da legislação brasileira não exigir a adoção imediata do IFRS permite a elaboração de pesquisas que façam análises com foco na voluntariedade versus obrigatoriedade. Diante deste cenário, este estudo objetiva analisar quais as características financeiras que levaram as empresas a adotarem voluntariamente a elaboração e publicação de suas demonstrações financeiras consolidadas em full IFRS a partir do ano de 2007. A principal motivação para condução do estudo está relacionada com o fato de este ser um processo recente no Brasil e de que até o momento poucos estudos foram realizados com esse enfoque.

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2.REFERENCIALTEÓRICO

A revisão da literatura concentra-se principalmente em estudos que analisaram os impactos da adoção das normas internacionais de contabilidade, tanto em países onde a adoção foi obrigatória quanto em países onde a adoção foi voluntária. Destaca-se que, no presente estudo, se avalia os períodos em que o Brasil estava em processo de transição para os padrões internacionais (2007 a 2009) e o primeiro ano em que a adoção do IFRS se tornou obrigatória (2010).

Utilizando uma amostra de mutuários não-americanos de 40 países do período de 1997 a 2005, Kim, Tsui e Yi (2010) investigou o efeito da adoção voluntária do IFRS no preço e nas condições extra-preço dos contratos e das estruturas de empréstimo de empresas do mercado internacional. Os resultados revelam o seguinte: primeiro, os bancos cobram taxas mais baixas de empréstimos para os adotantes do IFRS em relação aos que não adotaram. Em segundo lugar, os bancos impõem condições extra-preço mais favoráveis para as empresas que adotaram o IFRS, como, por exemplo, menos restrições de covenants. Os autores também forneceram evidências sugerindo que os bancos estão mais dispostos a conceder empréstimos maiores e com prazos prolongados para as empresas que adotaram o IFRS. Concluíram afirmando que os adotantes do IFRS atraem, significativamente, mais credores estrangeiros que participam em consórcios de empréstimo do que os que não adotaram.

Cuijpers e Buijink (2005), analisaram os determinantes e as conseqüências da adoção voluntária de princípios não locais de contabilidade de empresas listadas e domiciliadas na União Européia. O trabalho foi restrito a dois conjuntos internacionalmente aceitos de normas contábeis: o International Accounting Standards (IAS) e o United States Generally Accepted Accounting Principles (US GAAP). Os autores analisaram 133 empresas não-financeiras na União Européia que adotaram voluntariamente um dos não local GAAP no ano de 1999. Puderam concluir que as empresas que adotaram voluntariamente um não local GAAP eram mais propensas a estarem domiciliadas em países com qualidade inferior de demonstrativos contábeis ou em países onde o IAS é explicitamente permitido como uma alternativa para o GAAP local. Contrariando as próprias expectativas, os autores constataram que a incerteza entre os analistas e os investidores parece ser maior para as empresas que utilizam o IAS ou o US GAAP do que para empresas que utilizam o GAAP local. Entretanto, ao comparar empresas que adotaram o IAS ou o US GAAP num primeiro momento com empresas que adotaram num período seguinte, encontraram evidências que sugerem que os benefícios da adoção podem levar algum tempo para se materializar.

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Renders e Gaeremynck (2007) concluíram que em países onde há leis fortes ou códigos extensos de governança corporativa o IFRS é mais provável de ser adotado do que em países onde há perda de benefícios privados para membros da companhia. Além disso, constatou-se que as recomendações de governança corporativa são tão eficazes quanto às leis para estimular as empresas a adotarem o IFRS e acabaram se tornando mais importante nos países onde as leis são mais fracas.

Já Demaria e Dufor (2007) restringiram o seu trabalho a empresas francesas. Esses autores analisaram a adoção inicial do IFRS sob a perspectiva dos diferentes conceitos de métodos de fair value, que poderiam ser adotados durante a transição para as normas do IFRS na França. As normas incluídas no estudo foram: IFRS 1, IAS 16, 38 e 40. A amostra foi composta por 120 empresas do índice Société des Bourses Françaises (SBF). O trabalho teve dois principais objetivos: apresentar as escolhas dos franceses quanto ao conceito de fair value adotado inicialmente e em seguida revelar os fatores que determinaram essas escolhas. A Teoria da Contabilidade Positiva (PAT), dos quais um dos principais objetivos é explicar as escolhas contábeis das empresas, foi utilizada como fundo explicativo. Além disso, os autores relacionaram as escolhas contábeis às seguintes características da empresa: tamanho, alavancagem, remuneração dos CEO’s, estrutura de propriedade, participação da empresa em outros mercados financeiros e setor de atividade. A análise estatística utilizada foi o método de regressão logística a fim de tentar identificar as diferenças sistemáticas entre as empresas que adotaram o fair value e as que adotaram outros conceitos. Entretanto, os autores concluíram que o PAT não explica de forma significativa as escolhas contábeis feita por grupos franceses durante a adoção inicial das IAS/IFRS. E, dentre as características da empresa, somente o setor de atuação foi significativo para a escolha do método de fair value. Assim, atribuíram os resultados ao contexto particular da transição francesa, que não pode ser inserido no contexto clássico do PAT de pesquisa.

Outra pesquisa com base em empresas internacionais foi a realizada por Daske et al (2008). Este estudo examinou as conseqüências econômicas da adoção do IFRS ao redor do mundo. Analisaram os efeitos da adoção do IFRS sobre a liquidez do mercado, o custo de capital e o q de Tobin em 26 países, onde essa adoção era obrigatória. Os autores constataram que, em media, a liquidez do mercado aumentou ao redor do mundo na medida em que o IFRS era introduzido no processo contábil dos países. Constataram também uma redução no custo de capital e na precificação do patrimônio das empresas, entretanto esses efeitos somente se apresentaram antes da data de adoção oficial do IFRS. Ao particionar a amostra, os autores verificaram que os benefícios do mercado de capitais só foram observados nos países onde as empresas têm incentivos para serem mais transparentes e onde a aplicação da lei é forte. Comparando empresas que adotaram obrigatoriamente o IFRS com as empresas que adotaram voluntariamente, verificaram que os efeitos do mercado de capitais são mais significativos para as empresas que adotaram voluntariamente o IFRS, tanto no ano em que adotaram quanto no ano seguinte (quando o IFRS se tornou obrigatório).

Observa-se que alguns estudos analíticos e empíricos internacionais sugerem que o compromisso das empresas com a introdução obrigatória do IFRS está associado com a pré-existência de incentivos econômicos ou onde a legislação é mais rigorosa.

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setembro e dezembro de 2009. Os resultados sugeriram que empresas maiores, mais expostas ao mercado internacional e que possuem maiores necessidades de financiamento são mais propensas a adotar os novos dispositivos contábeis. Por último, analisaram o erro de projeção do lucro realizada por analista do mercado e constataram que o nível de observância às práticas de convergência está negativamente associado à dificuldade do analista em projetar o lucro da empresa. Os resultados permitiram confirmar que os incentivos econômicos das companhias tendem a direcioná-las a adotar ou não as práticas de convergência contábil no Brasil.

Finalizando, destaca-se outra pesquisa realizada no mercado brasileiro. Lima et al (2011), analisaram as características econômicas que se relacionam com a divulgação voluntária de relatórios contábeis em consonância com as normas IFRS. A amostra desses autores foi composta por 78 empresas não financeiras componentes do Índice Brasil (IBrX elaborado pela BM&FBovespa), sendo que esta pesquisa se restringiu somente ao segundo trimestre do ano de 2010. Os resultados obtidos demonstraram que o tamanho, performance, e o grau de imobilização das empresas, foram variáveis estatisticamente significativas para explicar a adoção voluntária dos IFRS.

Portanto, constata-se que alguns estudos já foram realizados tanto internacionalmente quanto nacionalmente abordando o tema de adoção do IFRS, seja de forma voluntária ou obrigatória. Enfatizando, dessa forma, a importância e a relevância de se abordar esse tema nos dias atuais.

3.METODOLOGIA

O objetivo da pesquisa foi o de analisar os fatores financeiros que levaram as empresas a adotaram o IFRS voluntariamente entre os anos de 2007 e 2009, uma vez que, a adoção do IFRS para o ano de 2010 se tornou obrigatória. Para verificar essa relação foi sugerido um modelo cuja adoção do IFRS é a variável dependente y, assumindo valor 1 quando a empresa adota o IFRS em suas demonstrações e valor 0 quando não há a adoção por parte da empresa. Neste modelo foram utilizadas as regressões Probit e Logit, que devem ser empregadas quando a variável dependente é dicotômica. Segundo Wooldridge a principal meta de modelos de resposta binária, como é o caso do Probit e do Logit, é a de explicar os efeitos das variáveis independentes sobre a probabilidade de resposta do y.

As características financeiras analisadas nesse estudo, que compõem as variáveis independentes do modelo, foram selecionadas com base em estudos anteriores. As características selecionadas foram: alavancagem financeira, tamanho da empresa, taxa de crescimento, grau de imobilização e uma medida de desempenho de mercado conhecida como market-to-book.

Cohen (2004) constatou em sua pesquisa que empresas alavancadas são, significativamente, mais propensas a proverem informações financeiras de alta qualidade do que empresas com baixa alavancagem financeira. Empresas alavancadas possuem elevados custos de agência e, assim, demandam mais monitoramento e informações. Dessa forma, espera-se uma relação positiva entre a adoção voluntária do IFRS e a alta alavancagem das empresas. A variável alavancagem financeira foi obtida através da divisão entre a dívida bruta e total do passivo.

A variável tamanho da empresa foi medida através de uma proxy que foi calculada a partir do logaritmo natural do ativo total de cada empresa. Segundo Lang e Lundholm (1993) grandes empresas possuem menores custos de produção de informação e, conseqüentemente, produzem relatórios de melhor qualidade. Assim, também se espera que a variável tamanho da empresa tenha uma relação positiva com a adoção voluntária do IFRS.

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investimentos. O autor ainda afirma que empresas com altos investimentos em seu imobilizado só adotam o IFRS quando este se torna obrigatório. Logo, espera-se uma relação oposta entre a taxa de crescimento e a adoção voluntária do IFRS, assim como entre o grau de imobilização e a adoção voluntária do IFRS. Destaca-se que a taxa de crescimento foi calculada como as vendas líquidas do ano corrente menos as vendas líquidas do ano anterior, escalados pelas vendas líquidas do ano anterior e grau de imobilizado é o quociente resultante da divisão entre o imobilizado e o patrimônio líquido.

Foster (1986) analisou que empresas rentáveis e bem administradas têm incentivos para se distinguirem das empresas menos rentáveis, a fim de levantarem capital nas melhores condições disponíveis. E, uma maneira da empresa realizar isto é através da divulgação voluntária dessas informações. Dessa forma, foi utilizada no modelo uma medida de desempenho de mercado conhecida como market-to-book (obtida pela divisão entre o valor de mercado e o patrimônio líquido). A razão market-to-book alta implica que os investidores esperam que os gestores das empresas criem mais valor a partir de um determinado conjunto de ativos e/ou que o valor de mercado dos ativos da empresa é significativamente superior ao seu valor contábil. No entanto, essa razão não fornece, diretamente, qualquer informação sobre a capacidade da empresa de gerar lucros para os acionistas. Logo, espera-se que a razão market-to-book tenha uma relação positiva com a adoção voluntária do IFRS, dado que para a empresa levar capital nas melhores condições disponíveis ela precisa gerar um conjunto de informações de boa qualidade.

Portanto, o modelo que tem como objetivo analisar as características financeiras que levaram as empresas a adotarem o full IFRS voluntariamente está representado pela seguinte equação:

DYit = β₀ + β₁ALAVit + β2ATit + β3CRESCit + β4GIMOBit + β5MTBit + eit

Onde:

• DY – Dummy que representa a adoção do IFRS da empresa i no ano t • ALAV – Alavancagem Financeira da empresa i no ano t

• AT – Valor total dos Ativos da empresa i no ano t

• CRESC – Crescimento anual em vendas da empresa i no ano t (calculado como vendas líquidas para o ano t menos vendas líquidas do ano t-1, escalados pelas vendas líquidas do ano t-1)

• GIMOB – Grau de Imobilização da empresa i no ano t • MTB – Market-to-Book da empresa i no ano t

• e – o valor do erro padrão da empresa i no ano t.

Foram selecionadas as empresas que estão inseridas nos níveis 1 e 2 (N1 e N2) de governança corporativa, de acordo com a classificação da BM&FBOVESPA, dos anos de 2007 a 2010. Foram excluídas da amostra as empresas financeiras, seguradoras e os fundos. Um segundo filtro foi aplicado na amostra a fim de excluir as empresas que não tinha informações financeiras para os anos analisados. Por fim, foram excluídas as empresas que possuíam patrimônio líquido negativo, dada a prerrogativa de que alguns acadêmicos e profissionais, como exemplo Fama e French (1992), que excluíram de suas pesquisas empresas com patrimônio líquido negativo, a partir do argumento de que essas empresas possuem um alto risco de inadimplência, ou seja, empresas que tem probabilidade de abrir falência. Ao final a amostra foi composta por 219 empresas e as variáveis foram selecionadas no dia 31 de dezembro de cada ano.

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foram organizados em painel, que segundo Gujarati (2006, p. 513) consiste em acompanhar a mesma unidade de corte transversal ao longo do tempo, ou seja, “os dados em painel têm uma dimensão espacial e outra temporal”.

4.RESULTADOS

Com base nos dados coletados e buscando evidências de características financeiras que levaram as empresas a adotarem voluntariamente o IFRS, a Tabela 1 mostra o resultado do cálculo da primeira regressão múltipla realizada para as 876 observações:

Tabela 1

Resultado das Regressões – modelo logit

Variable Coefficient Std. Error z-Statistic Prob.

C -4,1451 0,9007 -4,6020 0,0000 ALAV 0,0019 0,0005 3,4278 0,0006 AT 0,1608 0,0421 3,8166 0,0001 CRESC -0,0514 0,0562 -0,9137 0,3609 GIMOB -0,3521 0,0978 -3,5990 0,0003 MTB -0,0310 0,0218 -1,4185 0,1561

McFadden R-squared 0,0298 LR statistic 31,0278

Os resultados das regressões do modelo Probit geraram os mesmos resultados que o modelo Logit e, portanto não foram apresentados aqui.

Pela Tabela 1, observa-se os coeficientes e os p-valores dos regressores. Neste caso, considerando p-valor inferior a 0,01, rejeita-se a hipótese H0 que verifica se todos os βi são iguais a zero, e assume-se que há evidências que H1 seja verdadeira. Dessa forma, para 1% de significância, estaríamos validando o modelo com as variáveis: alavancagem financeira, tamanho da empresa e grau de imobilização. Contudo, todos os regressores em conjunto têm um impacto significativo na adoção voluntária do IFRS, já que a estatística LR foi de 31,03 cujo p-valor foi de cerca de 0,000009, que é muito pequeno.

Adicionalmente, foram analisadas as correlações entre as variáveis independentes do modelo e constatou-se autocorrelação entre a alavancagem financeira e o grau de imobilização, que é justificado pelo fato das duas variáveis possuírem o mesmo denominador (Patrimônio Líquido). Apesar da variável market-to-book possuir o Patrimônio Líquido como denominador, não foi constatado autocorrelação significativa entre essa variável e as demais.

Realizou-se, ainda, o teste de hipótese conhecido como o teste da razão de verossimilhança (RV), sob a hipótese H0 de que os β’s do modelo são iguais a zero e sob H1 de que eles são diferente de zero. Segundo Wooldridge (2006, p. 522) “o teste RV baseia-se na diferença das funções log-verossimilhanças dos modelos irrestrito e restrito” e segue uma distribuição χ² com o número de graus de liberdade igual ao número de variáveis que foram restritas. Com nível de 1% de significância, somente as variáveis tamanho da empresa e market-to-book rejeitaram a hipótese nula e, conseqüentemente, tem validade estatística para explicar a adoção voluntária do IFRS. Portanto, o modelo final obtido é demonstrado na Tabela 2.

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interpretação desse coeficiente negativo indica que quanto melhor a performance da empresa (medida pela razão valor de mercado/valor do patrimônio líquido) menor será a probabilidade dela adotar o IFRS, contrariando assim as expectativas e alguns resultados obtidos em estudos anteriores. Todavia esse resultado corrobora com os resultados obtidos por Lima et al (2010), que avaliaram os determinantes do processo de convergência contábil no Brasil e, que dentre as variáveis selecionadas constatava-se o market-to-book como um dos fatores que estavam relacionados negativamente com o processo de convergência.

Tabela 2

Resultado das Regressões – modelo logit

Variable Coefficient Std. Error z-Statistic Prob.

C -2,3004 0,5151 -4,4655 0,0000

AT 0,0823 0,0240 3,4291 0,0006

MTB -0,0119 0,0093 -1,2882 0,1977

McFadden R-squared 0,01422 LR statistic 14,8162

Já a variável tamanho da empresa apresentou uma relação positiva com a adoção voluntária do IFRS, portanto esse resultado indica que quanto maior a empresa, maior a probabilidade de ela adotar voluntariamente o IFRS. Este resultado é consistente com pesquisas anteriores que documentaram uma relação positiva entre o tamanho da empresa e as decisões de política de divulgação das informações contábeis (por exemplo: Cohen, 2004; Lang e Lundholdm, 1993; Lima et al, 2010 e Lima et al, 2011).

As demais variáveis analisadas no modelo não são estatisticamente significantes. Contrariando, dessa forma, os resultados apontados em estudos anteriores, que afirmavam que a alavancagem financeira, a taxa de crescimento e o grau de imobilização teriam uma relação significativa com a melhoria na divulgação dos resultados financeiros das empresas. Portanto, utilizando o modelo Logit na amostra de 867 observações, os resultados indicam que o tamanho da empresa e o market-to-book são significantes a 1% na regressão realizada. Assim, empresas de grande porte foram as mais propensas a adotarem voluntariamente o IFRS de 2007 a 2010, uma vez que o market-to-book apresentou uma relação oposta a essa adoção voluntária.

5.CONCLUSÕES

Este trabalho buscou evidências estatísticas que pudessem explicar, do ponto de vista financeiro das empresas, o que as levou a adotar voluntariamente o IFRS, isto é, analisou quais as possíveis características financeiras das empresas que estavam relacionadas com a opção de adotar ou não o IFRS de forma voluntária. A amostra foi composta pelas empresas não financeiras que estão inseridas nos níveis 1 e 2 (N1 e N2) de governança corporativa, de acordo com classificação da BM&FBOVESPA, e após realizar os devidos filtros a amostra ficou com um total de 219 empresas. O período da pesquisa constituiu-se dos anos de 2007 até o ano de 2010 devido à promulgação da lei 11.638 em 2007, que alterou e revogou artigos da Lei das Sociedades Anônimas, e pelo fato da obrigatoriedade da adoção do IFRS a partir de 2010.

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grau de imobilização e uma medida de desempenho de mercado conhecida como market-to-book.

Após a realização das regressões Probit e Logit, da análise das correlações entre as variáveis e da realização de testes de hipóteses, concluiu-se que os resultados obtidos pelo modelo Probit eram muito similares com os obtidos com o modelo Logit. As variáveis alavancagem financeira e grau de imobilização apresentaram autocorrelação, que foi justificado pelo fato das duas variáveis possuírem o denominador Patrimônio Líquido em comum. Por fim, o teste da razão de verossimilhança permitiu validar somente as variáveis tamanho da empresa e market-to-book como características financeiras das empresas que explicam a adoção voluntária do IFRS. Portanto, concluiu-se que as demais variáveis analisadas no modelo não são estatisticamente significantes, ou seja, constatou-se que para essa amostra e período a alavancagem financeira, a taxa de crescimento e o grau de imobilização não tem uma relação significativa com a adoção voluntária do IFRS.

Os resultados apresentados indicam que o modelo, composto pelas variáveis independentes tamanho da empresa e market-to-book, é válido e essas variáveis explicam estatisticamente a adoção voluntária do IFRS. Dessa forma, concluiu-se que empresas de grande porte foram as mais propensas a adotarem voluntariamente o IFRS de 2007 a 2010, corroborando assim com os resultados obtidos por: Lima et al (2010) e Lima et al (2011). Além disso, o resultado negativo do coeficiente da variável market-to-book (proxy para medir a performance das empresas) também está em conformidade com o resultado obtido por Lima et al (2010).

Este estudo procurou contribuir com a pesquisa contábil no Brasil e enfatizou uma questão importante e atual da legislação brasileira. Algumas sugestões são levantadas para trabalhos futuros, tais como: inclusão de diferentes variáveis financeiras, a fim de tentar identificar outros fatores que influenciaram a adoção do IFRS; análise de períodos posteriores ao ano de 2010, com o objetivo de tentar neutralizar outros choques econômicos ou financeiros que afetaram as empresas ao longo do processo de convergência às normas internacionais contábeis.

REFERÊNCIAS

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