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Arq. NeuroPsiquiatr. vol.5 número3

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Academic year: 2018

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T R A T A M E N T O F A R M A C O - D I N Â M I C O D A S P S I C O N E U R O S E S

L. J . M E D U N A *

Revendo as conclusões de Loevenhart, Lorenz 5 Waters 1

, com refe-rência aos efeitos de diferentes misturas de C O 2 em pacientes psicóti-cos, fcmos levados a estabelecer a seguinte hipótese:

Os efeitos benéficos dos métodos convulsivantes dependem, com relação ao agente utilizado (químico ou elétrico), somente do fato de que este agente provoque convulsões do tipo do grande mal, isto é de origem cortkal. Agentes epileptógenos que condicionem descargas mo-toras de tipo não cortical parecem não exercer ação curativa sobre as condições psicóticas. U m a explicação provável para isto residiria no fato de que desordens mentais (esquizofrenias, estado esquizofrênicos, melancolias, etc.) são distúrbios das funções corticais, isto é, das funções associativas superiores. A s psiconeuroses, ao contrário, podem ser concebidas como distúrbios das estruturas inferiores do cérebro, per-turbando ou deformando os valores emocionais dos conceitos. Con-seqüentemente, desenvolvendo-se um método capaz de exercer ação predominante sobre as estruturas cerebrais inferiores, conseguir-se-ia profunda modificação dos sintomas patológicos em psiconeuróticos.

Baseando-nos nestes fatos, empregamos um método de tratamen-to das psiconeuroses por meio da inalação gasosa, tendo sido exclu-sivamente este o meio de ataque direto a certos sintomas psiconeuró-ticos, porquanto omitimos, intencionalmente, c emprego de qualquer forma de psicoterapia. Deste modo, os resultados observados depen-deram unicamente do efeito do gás sobre os tecidos nervosos.

T É C N I C A E P R E P A R O D O P A C I E N T E

Duas são as misturas utilizadas para inalação: uma de C Oa a 20% e O2 a

80%, e outra de COa a 30% e 02 a 70%, ambas encontradas em balões, já

preN o t a p r é v i a . P u b l i c a d a e m Diseases of preNervous System, 8:14 ( f e v e r e i r o ) 1 9 4 7 . T r a -d u ç ã o -do D r . A m a n -d o C a i u b y N o v a e s .

* D o D e p a r t . P s i q u i a t r i a do Col. M e d , U n i v . I l l i n o i s e do I n s t . N e u r o p s i q u i á t r i c o d e I l l i n o i s , C h i c a g o . E s t a i n v e s t i g a ç ã o foi a u x i l i a d a p o r f u n d o s d a F u n d a ç ã o J o s i a h M a c y J r . c d a F u n d a ç ã o R o c k e f e l l e r .

Nota do tradutor: D u r a n t e n o s s a p e r m a n ê n c i a n o D e p a r t a m e n t o d e P s i q u i a t r i a d a U n i

-v e r s i d a d e d e I l l i n o i s , e m o u t u b r o d e 1 9 4 5 , g e n t i l m e n t e c o n -v i d a d o s pelo D r . M e d u n a , assisti-m o s a a l g u assisti-m a s d a s i n v e s t i g a ç õ e s q u e e n t ã o r e a l i z a v a c o assisti-m êste p r o c e s s o t e r a p ê u t i c o . P e d i u - n o s , e n t r e t a n t o , o i l u s t r e p r o f e s o r , c o m a h o n e s t i d a d e c i e n t í f i c a q u e s e m p r e i m p r i m i u a s e u s t r a -balhos, n ã o d i v u l g á s s e m o s a q u i o q u e i r í a m o s o b s e r v a r , p o r q u a n t o s e u s e s t u d o s a i n d a se en-c o n t r a v a m e m f a s e d e e x p e r i m e n t a ç ã o en-c l í n i en-c a . N a m e s m a oen-casião, p r o n t i f i en-c o u - s e a e n v i a r - n o s s u a s p r i m e i r a s c o n c l u s õ e s , a o m e s m o t e m p o q u e n o s solicitou u m a t r a d u ç ã o p o r t u g u ê s a , a f i m d e q u e s e u m é t o d o l o g r a s s e p r o n t a d i v u l g a ç ã o . F o i com a i n t e n ç ã o d e c u m p r i r o p r o m e t i d o que r e a l i z a m o s e s t a t r a d u ç ã o .

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paradas. São também usadas uma válvula redutora e uma máscara de inalação com válvula central. Durante a administração do gás, o doente permanece dei-tado em mesa almofadada. U m a enfermeira assiste o paciente durante o trata-mento. É aconselhável iniciar com C Oa a 20% e não ultrapassar 18 a 20 r e s

-pirações durante o primeiro tratamento. Geralmente, o doente lembra-se de 8 a 16 respirações. N ã o perdendo a consciência com 20 respirações, este número deverá ser aumentado de 3 a 5 respirações no tratamento seguinte. Havendo necessidade de um aumento adicional, deve-se substituir a mistura por outra de COj a 30%.

Após explicação sumária quanto à natureza nervosa de seus distúrbios, o doente é advertido de que será submetido a tratamento por meio de. inalações g a -sosas que provocarão um tipo particular de anestesia, durante a qual terá sonhos, pensamentos ou emoções pouco comuns. O paciente é solicitado a relatar todas-as lembrançtodas-as ao despertar, mesmo que esttodas-as se lhe afigurem sem maior impor-tância. Os que manifestem receio pelo tratamento, deverão ser tranqüilizados quanto à sua segurança. Com o fim de reduzir ao mínimo a influência do fator sugestivo, deve-se explicar claramente ao paciente que não é possível saber pre-viamente se o tratamento será eficaz ou não.

R E A Ç Õ E S F I S I O L Ó G I C A S

A s reações fisiológicas comportam seqüência definida, obedecendo à seguinte ordem: 1 —• excitação subcortical; 2 — inibição cortical; 3 — excitação psicomotora e psicossensorial, possivelmente por estimu-lação das estruturas subcorticais; 4 — fenômenos extrapi rami dais e outros fenômenos motores e ataque epileptiforme subcortical.

Os sinais de excitação subcortical aparecem depois da primeira ou segunda respiração, podendo manifestar-se por aumento de freqüência respiratória, do ritmo cardíaco e da pressão arterial. A s pupilas e o s vasos da face .se dilatam; surge transpiração, a princípio viscosa, depois fluida. Os sintomas desta primeira fase são observados com 6 a 12 respirações.

A segunda fase consiste em um estado de narcose, durante a qual o paciente perde o conctato com o meio ambiente. Aparece atividade cortical lenta de 3 a 4 ondas por segundo, com potencial elevado (Dr. Frederic Gibbs). Esta fase comporta 6 a 20 respirações.

As manifestações durante a terceira fase dependem da doença e da personalidade do indivíduo, sendo representandas principalmente por descargas emocionais. Tais manifestações geralmente têm lugar depois de 20 a 4 0 respirações.

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de C O 2 , podem-se observar sinais de rigidez decerebrada e — voltando o paciente a respirar ar ambiente — ataques epileptiformes.. Estas crises convulsivas diferem das induzidas pelo cardiazol ou eletrochoque, tendo efeito terapêutico limitado.

Devemos assinalar que, com este processo, não se verifica z ocor-rência de fraturas, luxações ou mordedura da língua, nem relaxamento dos esfincteres. A descarga epileptiforme somente se manifesta com 60 a 100 respirações de C 02 a 30% ou com 16 a 22 respirações de COo a 100%. Chamamos .a atenção, entretanto, para o uso indevido de C 02 a 100%, em virtude dos seus efeitos sobre o coração. Com referência ao emprego de C 02 a 30%, os trabalhos de Roseman e col.

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, realiza-dos neste Departamento, mostraram que o cérebro pode suportar com segurança respira;Ões de misturas de C 02 em percentagens extrema-mente elevadas (até 75%) e retornar à função normal após uma hora de inatividade elétrica.

M O D O D E A Ç Ã O

A melhora clínica observada em psiconeuróticos submetidos a este método terapêutico se verifica por um dos seguintes meios:

1 — Diminuição e desaparecimento dos sintomas. Neste caso, as melhoras se observaram com 15 a 25 respirações, tendo havido necessi-dade de séries de 40 a 100 tratamentos. Dentre os pacientes tratados, seis apresentavam colite espástica, um era portador de histeria e outro de depressão funcional com componente pitiático.

2 —• Ab-reação direta das emoções patogênicas. O s pacientes des-te grupo receberam 15 a 40 respirações de C 02 a 30% em cada tra-tamento. Manifestaram-se reações extremamente dramáticas; os doen-tes viveram suas experiências patogênicas repetidas vezes, libertando emoções, às vezes com grande intensidade. Por exemplo, uma moça portadora de neurose de ansiedade e que havia sido raptada duas vezes, reviveu as tentativas de rapto, gritando e cruzando as pernas,

defenden-do-se energicamente como o fizera antes. A reação psicomotora di-minuiu à medida que a paciente melhorava. Neste grupo, havia dois casos de neurose de ansiedade, um deles associado a alcoolismo crônico; dois pacientes apresentavam desajuste de personalidade e um outro era portador de histeria de conversão. U m a paciente, desajustada em suas relações conjugais, era cantora de ópera e se queixava de espasmos da laringe e de medo de aparecer no palco: outro sofria de gagueira e

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instabilidade emocional. E m todos estes casos foram observadas me-lhoras.

3 — Abreação indireta. É o fenômeno de descarga de e m o -ções ou sentimentos patológicos, não pela revivescência de expe-riências patogênicas passadas, mas através de sonhos simbólicos. A melhora por este mecanismo pode ser bem ilustrada c o m o caso de uma menina que sofria de colite espástica havia cinco anos. M o s -trava-se nervosa, inquieta, evitava o convívio social, receando n ã o ser compreendida, e sentia-se muito embaraçada quando fitava al-g u é m nos olhos. Durante o seal-gundo tratamento, após 27 respirações de C O 2 a 2 0 % , gritou, cobrindo o rosto com as m ã o s e m o s -trando-se bastante agitada. A o despertar da narcose, afirmou que,, em sonho, vira pessoas desconhecidas, de má catadura e que s e riam de m o d o zombeteiro. N o s tratamentos subseqüentes, tais expressões fisionômicas já denotavam aspecto m e n o s assustador. Certo dia, a paciente despertou alegre e sorridente: os p e r s o n a g e n s de seus sonhos tinham aparência amigável e acolhedora. Daí por diante, passou a não temer mais n i n g u é m ; fitava o s olhos das pessoas com quem conversava, s e m mais experimentar qualquer e m baraço; suas inibições patológicas tinham desaparecido por c o m -pleto. H a v i a mudado tanto que a família e os a m i g o s não deixaram de comentar, a melhora.

4 — Análise espontânea e reintegração da personalidade a um padrão mais normal. Durante o tratamento, estes pacientes não manifestaram qualquer descarga emocional, alguns apresentando, e outros não, um sonho simbólico o u u m a recordação de s o n h o s relacionados com alguma experiência passada. Entretanto, estes i n -divíduos, horas depois do tratamento, recordavam-se de fatos ocor-ridos na infância, esquecidos ou reprimidos, ou de outras experiên-cias, estabelecendo a relação causal c o m o s sintomas que apresentavam. À medida que o tratamento progredia, o s pacientes reviviam quantidade cada v e z maior deste material e os s i n t o m a s patológicos correspondentes diminuíam ou desapareciam. O s pa-cientes deste grupo receberam 20 a 30 respirações de C 02 a 3 0 % , num total de 70 a 120 tratamentos.

I N D I C A Ç Õ E S

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de pslconeuróticos pertencentes ao primeiro e terceiro grupos. Por-tadores de sintomas dé conversão, tais como aqueles que externam sintomas pseudopsicóticos, são, em sua grande maioria, facilmente controlados pelas inalações de C02- Indivíduos com controle defi-ciente ou c o m reações de emergência, com sentimentos de culpa ou

de incapacidade, ou portadores de irritabilidade exagerada ou de neurose de ansiedade são também influenciados favoravelmente por este tratamento. Constituem, ainda, indicações o s casos de desa-juste da personalidade manifestados por instabilidade emocional e conduta anti-social.

N a s reações anancásticas, tais como as neuroses obcessivas e compulsivas, o tratamento não se mostra eficiente. A s chamadas smdromes neurastênicas, a fadiga, a fraqueza geral e as neuroses hipocondríacas s ã o influenciadas de modo transitório. S e g u n d o Loevenhart e col., o m e s m o acontece com qualquer condição psi-cótica.

C O N T R A - I N D I C A Ç Õ E S

Constituem únicas contra-indicaçÕes ao tratamento, as f o r m as abertas de tuberculose, a hipertensão e as afecçÕes orgânicas do coração.

M A T E R I A L

1 — Psicoses: Estados esquizofrênicos (5 c a s o s ) ; psicose maníaco-depressiva (1 caso). Nenhuma melhora.

2 — Grupo anancástico: Neuroses compulsivas (5 casos) ; neur^S'.'s obcessi-vas (4 casos). Nenhuma melhora.

3 -— Grupo de conversão: Histeria de conversão (3 c a s o s ) ; rolite espástka (7 casos) ; gagueira (1 caso) ; tensão (1 caso). Todos melhoraram.

4 — Desajustes de personalidade: Dificuldades conjugais, sentimentos de in-ferioridade, neuroses de ansiedade, instabilidade emocional, alcoolismo crônico, senlimentos de frustração, etc. Total de 11 casos. Melhoraram S e 3 não me-lhoraram.

C O M E N T Á R I O S

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