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AS INFLUENCIAS EXTERNAS NO REGISTRO DO PATRIMONIO IMATERIAL NO BRASIL

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AS INFLUENCIAS EXTERNAS NO REGISTRO DO PATRIMONIO IMATERIAL NO BRASIL

OLIVEIRA, ADRIANA G.

1. UFMG. FACULDADE DE ARQUITETURA - MACPS

Rua Carlos Sá, 190 – AP 201, Santa Amélia, Belo Horizonte, CEP: 31550-200 – MG.

drika.oliveira00@gmail.com

RESUMO

Este trabalho apresenta os elementos que constituem a estrutura para registro do Patrimônio Imaterial no Brasil, com foco nas influências/contribuições de outros países neste registro, descrevendo as dinâmicas deste processo bem como as demandas de ações cujo fato histórico está além das delimitações de fronteiras territoriais. Esta ação contribui para a clareza e precisão dos dados levantados e a preservação da história em sua totalidade. Para a realização deste artigo, foram utilizadas pesquisas bibliográficas com o objetivo de descrever este processo, exemplificado através do desenvolvimento do registro turístico-cultural das comunidades indígenas M’byas Guaranis localizadas em São Miguel Arcanjo / RS, onde sofreram influência das missões Jesuítico-Guaranis;

que está sendo realizado com apoio Internacional, compreendendo Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Palavras-chave: IPHAN; Patrimônio Imaterial; M’byá Guarani; Parcerias Internacionais.

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1. Introdução

No artigo 2º da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial define-se por patrimônio imaterial:

"práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.

Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana"

(UNESCO, 2003).

Seguindo esta linha de pensamento, foi criado o Decreto n.º 3.551/2000 que, no Brasil, institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem o patrimônio cultural brasileiro juntamente com o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial.

Essas diretrizes refletem a opção brasileira pela construção de uma política de salvaguarda que tenha como base a documentação e a produção de conhecimento e que aborde o patrimônio cultural no contexto social e territorial onde se desenvolve, contemplando as condições sociais, materiais e ambientais que permitem sua manutenção e reprodução, através de um claro objetivo de realizar esta salvaguarda mediante a um diálogo entre Estado e sociedade, num esforço conjunto com os grupos e indivíduos que detêm esse patrimônio (IPHAN, 2006).

Atualmente, existem 28 bens imateriais brasileiros registrados, agrupados por categoria e registrados em livros, Cecília Londres (IPHAN, 2007) descreve Patrimônio Imaterial, em suas possibilidades e amplitudes.

“Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: São os monumentos e as obras de arte, e também as festas, musicas e danças, os folguedos e as comidas, os saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia”. (IPHAN, 2007, p. 05).

O problema diagnosticado neste artigo foi definido a partir da observação e de realização de um diagnóstico sobre a as influências externas no registro do Patrimônio Imaterial no Brasil, além de análises documentais e dados levantados em pesquisas Bibliográficas.

Para Lakatos e Marconi (2001) a problemática, por intermédio da pesquisa, busca esclarecer as dificuldades encontradas no qual o tema é defrontado. Assim, a

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problematização deste artigo é: Quais as influência externas no registro do Patrimônio Imaterial no Brasil?

Buscando esclarecer este questionamento foram levantados os seguintes objetivos:

 Levantar as atuais exigências para o registro do Patrimônio Imaterial no Brasil;

 Identificar de questões culturais, nacionais e estrangeiras, que fomentaram discussões referentes ao registro de Patrimônio Imaterial mundial;

 Apresentar a integração do MERCOSUL no regulamento deste registro, percebendo como esta parceria se dá atualmente;

Inicialmente faremos uma breve análise sobre a trajetória do IPHAN, nos contextos sociais, culturais e políticos, descrevendo suas práticas junto à salvaguarda dos bens nacionais, com foco na cultura imaterial. Posteriormente iremos descrever o registro do patrimônio Imaterial no Brasil, leis, diretrizes, atuações, registros já realizados, contextualizando nossa pesquisa, descreveremos o registro dos Índios M’byas Guaranis em São Miguel Arcanjo, que está sendo realizado com apoio Internacional, devido a sua ocupação territorial que compreende partes do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.

A importância deste artigo se dá pela descrição de como esta parceria é atualmente realizada e quais os resultados já obtidos no desenvolvimento da Cultura Imaterial.

2. Referencial Teórico

2.1 O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN

Criado em 13 de Janeiro de 1937, com o intuito de proteger os monumentos históricos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN tem sua existência, atualmente, fundamentada nos artigos 2015 e 216 da Constituição da república federativa do Brasil, que define Patrimônio Cultural a partir de suas formas de expressão.

Na década de 30, foi confiada, a Rodrigo Melo Franco, a tarefa de implantar o serviço de patrimônio no Brasil, contando com o apoio de brasileiros com Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Lúcio Costa, Oswald de Andrade, dentre outros, que participaram do levantamento de acervos e capacitação de pessoal, com a missão de promover e coordenar o processo de preservação deste patrimônio visando fortalecer

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identidades, garantir o direito à memória e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país (IPHAN, 2006).

Ao longo de seus mais de 80 anos, segundo estatísticas do Instituto, o IPHAN possui cerca de 21 mil edifícios tombados, 79 centros e conjuntos urbanos, 9.930 mil sítios arqueológico cadastrados, mais de um milhão de objetos, incluindo acervo museológico, cerca de 834.567 mil volumes bibliográficos, documentação arquivista e registros fotográficos, cinematográficos e videográficos.

O Instituto desenvolve ações que integram sociedade civil, comunidades, governos municipais e estaduais, ministérios e Instituições públicas e privadas, com o objetivo comum de preservar a história, tais ações possuem reconhecimento nacional e internacional, tornando-se referencia em ações diversificas de preservação. Pioneiro na preservação do patrimônio na América Latina, a instituição possui um vasto conhecimento acumulado sobre o assunto, tornando-se referência para instituições semelhantes dentro e fora do Brasil (IPHAN, 2014).

Assim, nos últimos anos, o Instituto tem trabalhado de forma a compartilhar com outros países o conhecimento adquirido com o objetivo de resgatar o patrimônio Cultural compartilhado, seja por proximidade de fronteiras, por situações históricas semelhantes ou por influências culturais recebidas ou transmitidas. Trabalhando através de acordos internacionais ou projetos para troca de experiência, capacitação técnica e conhecimento de metodologia trabalhada (IPHAN, 2014).

Estas ações são um ponto de promoção do desenvolvimento nacional e uma forma de estreitar as relações diplomáticas entre os países, buscando uma ação conjunta de proteção do patrimônio mundial, incentivando a troca de informações entre nações.

2.2. Patrimônio Imaterial.

“O Patrimônio imaterial não requer “proteção” e “conservação” – no mesmo sentido das noções fundadoras da prática de preservação de bens culturais móveis e imóveis -, mas identificação, reconhecimento, registro etnográfico, acompanhamento periódico, divulgação e apoio. Enfim, mais documentação e acompanhamento e menos intervenção”. (IPHAN, 2006)

O processo de reconhecimentos dos bens culturais imateriais é atualmente regido pelo Decreto nº 3.551/00 que institui o seu registro, como instrumento legal, resguardada as suas

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especificações e alcance, a equivalência do tombamento (IPHAN, 2006). Assim, define-se que tombam-se objetos, edificações e sítios físicos (Livros de Tombo) e registram-se saberes e celebrações, rituais, formas de expressão e os espaços onde essas práticas se desenvolvem (Livros de Registro).

Os bens inscritos em um ou mais Livros de registro recebem o título de Patrimônio Cultural do Brasil, este reconhecimento tem por efeito a obrigação, por parte do poder público, de documentar e dar ampla divulgação ao bem, fazendo com que toda a sociedade possa ter acesso aos dados e informações sobre sua origem, trajetória e transformações ao longo do tempo, através da identificação dos significados atribuídos ao bem e produção de vídeos ou material sonoro, sobre as características e contexto cultural (IPHAN, 2007).

Com a criação do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) em 2004, o Iphan passa a aplicar uma política de salvaguarda que se apoia em três diretrizes:

 Investir, prioritariamente, no mapeamento, no inventário, na documentação e no reconhecimento da diversidade de expressões culturais existentes no território nacional;

 Buscar melhorar as condições sociais, materiais e ambientais que promovem a continuidade desses bens culturais;

 Tratar o desenvolvimento das bases conceituais, técnicas e administrativas necessárias ao trabalho de salvaguarda, ou seja, ao investimento na capacitação de estruturas institucionais.

TABELA 1 - Bens Imateriais Registrados

LIVROS DEFINIÇÔES

Livro de Registro dos

Saberes

Para os conhecimentos e

modos de fazer enraizados no

cotidiano das comunidades

Oficio das Paneleiras de Goiabeiras;

Modo de Fazer Viola-de-Cocho;

Oficio das Baianas de Acarajé;

Modo artesanal de Fazer Queijo de Minas, nas regiões do Serro e das Serras da Canastra e do Salitre;

Ofício dos Mestres de Capoeira;

Modo de Fazer Renda Irlandesa produzida em Divina Pastora (SE);

Ofício de Sineiros;

Sistema agrícola Tradicional do Rio Negro;

Saberes e Práticas Associados ao mode de fazer Bonecas Karajá;

Livro de Registro de Celebrações

Para os rituais e festas que marcam

vivência coletiva, religiosidade,

Círio de Nossa Senhora de Nazaré;

Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis (Goiás);

Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawenw Nawe;

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entretenimento e outras práticas da

vida social

Festa de Sant’ Ana de Caicó (RN)

Complexo cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

Festa do Divino de Paraty

Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim

Livro de Registros das Formas

de Expressão

Para as manifestações artísticas em geral

Arte Kusiwa Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi;

Samba de Roda do Recôncavo Baiano;

Frevo;

Jongo no Sudeste

Tambor de Crioula do Maranhão;

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo;

Roda de Capoeira;

O Toque dos Sinos em Minas Gerais;

Fandango Caiçara

Ritxòkò: Expressão Artística e Cosmológica do povo Karajá

Livro de Registro dos

Lugares

Para mercados, feiras, santuários,

praças onde são concentradas ou reproduzidas práticas culturais

coletivas.

Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri;

Feira de Caruaru;

Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN (2014)

2.3. Internacionalização do Patrimônio

O intuito de proteger bens históricos e culturais já perpassa as lideranças Internacionais há muito tempo, mas no século XX, estas ideias tomam corpo e chegam a sua efetivação, através do desenvolvimento e da modernização das cidades, que potencializam a preocupação mundial de se conservar os exemplares do passado, que representam a história de cada povo.

Neste contexto, a preocupação com a salvaguarda dos bens patrimoniais vence as fronteiras dos países e ganha corpo nos debates internacionais, acarretando a criação da Comissão Internacional de Cooperação Intelectual, dentro da Sociedade das Nações, com claro objetivo de fomentar as relações culturais entre os países, organizando em 1931, a Conferência Internacional de Atenas, que teve como resultado a elaboração da Carta de Atenas, considerada o primeiro documento de caráter internacional que dispõe sobre a proteção dos bens de interesse histórico e artístico.

Em 1945, é instituída a Organização das Nações Unidas, que em 1946 cria a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura — Unesco, com ação direcionada a intervir, em escala mundial, nos campos de educação, ciência e cultura,

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assumindo a responsabilidade de articular e regular as ações internacionais de conservação do patrimônio.

Em 1956, inicia-se a associação entre patrimônio cultural e natureza, no contexto internacional, através do Iccrom — Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração dos Bens Culturais, uma organização intergovernamental, que se dedicou ao tema. Em 1965, acontece a Conferencia de Washington, que cria a Fundação do Patrimônio Mundial, buscando proteger "as zonas naturais e paisagísticas maravilhosas do mundo e os sítios históricos para o presente e o futuro de toda a humanidade" (UNESCO, 2005).

Do mesmo modo a Carta de Nara (UNESCO, 1994) reformulou a compreensão sobre o valor dos bens quando estabeleceu que: "o juízo sobre os valores atribuídos ao patrimônio cultural, além de depender de credibilidade das fontes de informação, difere de cultura em cultura e deve ser formulado dentro de cada âmbito cultural".Assim ficava reconhecida a existência de culturas distintas, como também valores diversos para a consideração de um bem.

2.4. MERCOSUL e o Registro do Patrimônio Imaterial

Em Junho de 2007, o MERCOSUL promoveu na Argentina, organizado pelo Centro Internacional para La Conservación Del Patrimonio - CICOP, uma jornada para discutir relevâncias sobre Patrimônio Intangível ou Patrimônio Imaterial, ação que deu origem a Carta de Mar Del Plata sobre Patrimônio Intangível.

Dentre os pontos levantados ficou clara a percepção dos presentes de que o processo de integração, defendido pelo MERCOSUL, deve-se sustentar sobre a valorização da diversidade cultural, proporcionando aspirações de uma vida melhor aos povos pertencentes ao Bloco. Preocupados com os possíveis danos que culturas regionais poderão sofrer devido à globalização avassaladora que se apresenta, e pautados pelas diretrizes da UNESCO, referentes ao tratamento e salvaguarda do patrimônio intangível, definiu-se:

1. A integração cultural deve ser definida como genuína propriedade do MERCOSUL e não meta marginal, para a qual irá requerer meios adequados a seus objetivos, assim como o indispensável respaldo político dos governos;

2. Dita integração deve aceitar a pluralidade de culturas da região como fato positivo e enriquecedor da nossa visão de mundo e do próprio desenvolvimento da personalidade humana.

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3. O conceito de integração supõe o intercambio e a complementaridade de partes distintas entre si, e que, portanto excluem toda a tentação de uniformizar nossos povos em um modelo cultural único, expresso em uma deformação ideológica que em alguns casos recebe o nome de globalização.

4. O fato de que o patrimônio cultural da região seja constituído por grande quantidade de contribuições – as que provêm das diversas e também muito distintas culturas pré-colombianas, das sucessivas e igualmente diversas contribuições européias, seguidas daquelas provenientes da África e agora Ásia – que por sua vez têm produzido surpreendentes formas de mestiçagem, define uma fisionomia peculiar que devemos assumir positivamente como fator de fortalecimento de nosso patrimônio comum.

Neste contexto percebemos a influência das Recomendações de Paris (1987), cujas diretrizes apontavam para uma avaliação da cultural tradicional e popular como parte do patrimônio universal da humanidade e um poderoso meio de aproximação entre os povos e grupos sociais, além de afirmação para suas identidades culturais.

Assim a Conferencia recomendava aos estados-membros que fomentem o contato com as organizações internacionais apropriadas para a salvaguarda do Patrimônio cultural, levando- se em conta a necessidade de intensificar a cooperação e os intercâmbios culturais, mediante utilização conjunta de recursos (humanos e materiais), para realização de programas de desenvolvimento da cultura tradicional, buscando sua revitalização na realização de programas de desenvolvimento entre os países.

3. Metodologia

3.1 Métodos de pesquisa

O método é o caminho a ser percorrido, demarcado, do começo ao fim, por fases ou etapas. E como pesquisa tem por objetivo um problema a ser resolvido, o método serve de guia para o estudo sistemático do enunciado, compreensão e busca de solução do referido problema (RUDIO, 1999, p.86)

Segundo Tondato (2007), a pesquisa é um instrumento estratégico, que aponta soluções, pois fornece elementos para analisar uma situação, dentro de um contexto. Os principais benefícios da aplicação de pesquisa neste artigo é compreender como se dá a influência entre as organizações internacionais de preservação do patrimônio na atuação do IPHAN

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Brasil, dando destaque ao registro dos índios M’byas Guarani em São Miguel Arcanjo, que será abordado como estudo de caso, devido as influências sofridas pelo apoio internacional, devido a sua ocupação territorial.

As pesquisas permitirão entender as relações existentes, e avaliar sua eficácia junto ao objeto da pesquisa, bem como apontar as vantagens desta parceria para a salvaguarda do patrimônio mediante a preservação de informações culturais.

3.1.1 Pesquisas Qualitativas

A investigação qualitativa que defendemos substitui a resposta pela construção, à verificação pela elaboração e a neutralidade pela participação. O investigador entra no campo com o que lhe interessa investigar, no qual não supõe o encerramento no desenho metodológico de somente aquelas informações diretamente relacionadas com o problema explícito a priori no projeto, pois a investigação implica a emergência do novo nas idéias do investigador, processo em que a o marco teórico e a realidade se integram e se contradizem de formas diversas no curso da produção teórica. (GONZÁLEZ REY, 1998, p.42)

A pesquisa qualitativa não procura enumerar e revelar dados estatísticos, ela está baseada em um plano estabelecido, levando em consideração hipóteses e objetivos claramente definidos. Ela expressa teoria e dados, contexto e ação, pesquisador e objeto de estudo (MAANEN, 1979, p. 520).

Compreender e interpretar os fenômenos faz parte da pesquisa qualitativa, pois auxilia na visão e resposta do problema e fornece um enfoque para o entendimento da realidade proposta pelo projeto.

A fim de realizar uma avaliação atual, verídica e criteriosa das influencias externas sofridas pelo registro do patrimônio imaterial no Brasil, foi realizadas pesquisas documentais em períodos históricos distintos, buscando uma linha de desenvolvimentos desta influência.

3.1.2 Pesquisas Bibliográficas

Neste artigo a pesquisa Bibliográfica será utilizada com o objetivo de identificar autores e documentos pertinentes ao assunto, a fim de salientar informações que agreguem fundamentação, com intuito de avaliar o problema proposto.

Dentre os muitos autores e organizações usados como referência e pesquisa, destacamos IPHAN, UNESCO, Lakatos, Rúdio, Tondato, Braynes, Cruz e Ribeiro.

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3.1.3 Estudo de caso - M’byá Guarani

Os M’byás Guarani ou embiás são um subgrupo Guarani que habita a América do Sul, distribuidos entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Estudiosos acreditam que após a conclusão das guerras guaraníticas, muitos grupos guaranis missionados, foram viver com os grupos que se mantiveram reclusos, o que exemplificaria a incorporação controlada de elementos europeus na cultura, que persistem até hoje.

Dentre este elementos podemos destacar o abandono da economia bélica, onde se encontravam incluidos rituais antropofágicos, a incorporação de elementos da escatologia cristã ao seu xamanismo, e, no caso dos M’byás, a reprodução e utilização de certos objetos trazidos pelos jesuítas, entre estes, instrumentos musicais como o ravé (rabeca) e o mbaraká (Violão).

Estes grupos étinicos não reconhecem fronteiras nacionais o que se manifesta nas continuas migrações entre Brasil, Argentina e Paraguai. Fruto deste contexto o Brasil desenvolve, através de parcerias Internacionais o Programa de Desenvolvimento Turístico- Cultural das Missões Jesuítico-Guarani realizado pelo IPHAN juntamente com o Instituto Andaluz de Patrimônio Histórico que busca a valorização do patrimônio cultural da região do Brasil onde se concentra os remanescentes das antigas Missões Jesuíticas, considerando suas dimensões históricas, paisagísticas, material e imaterial.

Segundo textos publicado pela Embaixada da Espanha no Brasil – Valorização do mundo cultural Mbyá-Guarani, este programa reflete a importância das ações conjuntas no registro do patrimônio, sendo uma ação de cooperação dos governos, no sentido de levantar e valorizar o vasto e valioso patrimônio arqueológico existente nos sítios. Desde 2004, o IPHAN busca compreender os sentidos que estas comunidades atribuem ao patrimônio tombado, juntamente com este objetivo, foi iniciado em 2004 o “Inventário Nacional de referencias Culturais da Comunidade M’byá-Guarani em São Miguel Arcanjo”, que foi concluído em 2007.

Ainda segundo o texto, estas ações tem, entre seus objetivos, o ideal de promover o reconhecimento da importância central da presença indígena na experiência histórica missioneira e visa apoiar os Guaranis que habitam atualmente na região, buscando melhorias nas condições de vida destas comunidades que permitam a reprodução do seu modo de vida.

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Dentre os acordos existentes o Paraguai se destaca como um grande parceiro no intercambio de conhecimentos sobre o sistema de conservação integrada e patrimônio cultural Derivado do Acordo de cooperação Técnica firmado entre Brasil e Paraguai em 1987 e promulgado em 1991. Este projeto de intercambio de conhecimento é parte do ajuste complementar entre os dois países, que visa fortalecer o setor de Patrimônio Cultural de ambos, através da troca de conhecimentos do modelo paraguaio no trato com a cultura guarani e do modelo brasileiro de gestão de bens culturais.

4. Conclusão

O registro do Patrimônio Imaterial tem sido tema abordado em discussões Internacionais, caracterizado por uma política pública de preservação e troca de informações entre os Estados, ação fomentada pela UNESCO.

Neste contexto o Brasil tem ganhado prestígio internacional, através do Iphan, órgão nacional responsável pelo registro do patrimônio, que desenvolve ações que integram comunidade e governo na busca pelo desenvolvimento local e pela preservação da cultura, desenvolvendo ações diversificadas de preservação que se apresentam como ponto de promoção e desenvolvimento nacional, além de ser uma forma de estreitar as relações diplomáticas entre os países, através de ações conjuntas de proteção do patrimônio mundial.

Buscando identificar as influências externas no registro dos bens imateriais no Brasil, e com base no estudo de caso abordado - Inventário Nacional de referencias Culturais da Comunidade M’byá-Guarani em São Miguel Arcanjo – este estudo ratificou a importância do fortalecimento da relação entre os Estados na busca pela preservação do Patrimônio além das fronteiras territoriais.

Após ampla análise de questões culturais, nacionais e estrangeiras, que fomentam discussões referentes ao registro de Patrimônio Imaterial mundial; descrição das atuais exigências para o registro do Patrimônio Imaterial no Brasil e identificação das diretrizes do MERCOSUL no regulamento deste registro concluímos que estas ações visão principalmente o bem estar das comunidades e a preservação da história, o que ainda acarreta o desenvolvimento local e a divulgação dos bens e da história dos povos.

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Sendo assim, o problema apresentado - Quais as influências externas no registro do Patrimônio Imaterial no Brasil?-, foi respondido através de pesquisas bibliográficas, levantamentos de dados e documentação que comprovaram o alinhamento entre diretrizes trabalhadas pela Organização das Nações Unidas ao longo dos anos, paralelamente as diretrizes nacionais que sofrem influencia direta da UNESCO na salvaguarda do Patrimônio nacional.

Neste sentido, foram atingidos os objetivos de compreender a atuação do IPHAN, ao longo dos anos, bem como o de descrever e diagnosticar a eficácia dos processos já realizados, através da exemplificação das atuais diretrizes trabalhadas, e dos resultados por elas já obtidos (22 bens registrados).

Este artigo ratifica a importância do alinhamento de ações, através de uma parceria colaborativa, entre organizações internacionais e órgãos nacionais, na busca pela preservação da história mundial. Neste contexto ressaltamos a atuação da UNESCO, que atua no sentido de fomentar os debates internacionais sobre o Patrimônio Cultural através de Convenções e Conferencias anuais sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural, para o presente e para o futuro de toda a humanidade.

Paralela a este processo, salientamos a atuação eficaz do MERCOSUL, que tem promovido debates dentro do bloco para discutir relevâncias sobre Patrimônio Intangível, tendo como resultado ações como a Carta de Mar Del Planta, trabalhando a percepção de que o processo de integração deve-se sustentar sobre a valorização da diversidade cultural, proporcionando aspirações de uma vida melhor aos povos pertencentes ao Bloco, evitando danos as culturas regionais, que possam ocorrer devido à globalização avassaladora.

Ressaltamos ainda a atuação do IPHAN, que adotou o principio da parceria colaborativa em suas ações, o que tem papel fundamental para a preservação, aliando conhecimentos internacionais as realidades regionais, num contexto que tem sido desafio de oportunidades e crescimento sustentável.

5. Referências

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BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Região do cariri – Patrimônio de todos: roteiro para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial.

Fortaleza, 2007.

BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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