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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP Raizel Rechtman A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: identificando recursos facilitadores para a atuação profissional

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Academic year: 2019

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Raizel Rechtman

A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: identificando recursos facilitadores para a atuação profissional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: identificando recursos facilitadores para a atuação profissional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para a obtenção de título de MESTRE em Educação – Psicologia da Educação, sob orientação da Profª Drª Ana Mercês Bahia Bock.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do Brasil...35

LISTA DE QUADROS

Quadro 4 – Disciplinas do Currículo Mínimo para os cursos de Psicologia ...39

TABELAS

A partir da página 47, quando presente no texto o número da tabela, a tabela respectiva é, na verdade, um número a mais. Por exemplo, a “tabela 1” citada no texto diz respeito à tabela 2 apresentada graficamente.

ALTERAÇÕES NO TEXTO

Pág. Linha Onde se lê Deve ler-se

16 26 Araujo (2008) Araujo (2009)

19 2 Bock (2002, p.28) Bock (2009, p.28)

23 Quadro 1 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: carta serra negra (1992) 25 Quadro 3 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: Brasil (1995)

26 16 documento, em 1998, a

Secretaria documento, a Secretaria

29 7 Bock (2004) Bock (2004a)

29 10 Bock (2004, p.1) Bock (2004a, p.1)

32 3 Anita de Castilho e Marcondes

Cabral, da USP, publicaram Anita de Castilho Marcondes Cabral, da USP, publicou 36 7 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999) 36 12 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999)

40 4 Bock (2004) Bock (2004b)

43 13 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012) 43 19 (RECHTMAN et al. 2014) (RECHTMAN et al. 2012) 43 20 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012)

67 1 Na tabela X Na tabela 24

78 22 Em relação ao gênero, Em relação à cor/raça

79 3 (BOCK, 2002) (BOCK, 2009)

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ALTERAÇÕES NAS REFERÊNCIAS Ausentes:

BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt. & GOMIDE, Paula Inez Cunha. O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional, in Psicologia, Ciência e Profissão, Ano

9, n°1, 1989, p.6-15.

BRASIL. Lei nº 4.119 de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro?. São Paulo: EDICON, 1988.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA; CONSELHO REGIONAL DE

PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE PSICOLOGIA. Carta de serviços sobre Estágios e Serviços-Escola. Brasília, 2013. LHULLIER, Louise A. (org.). Quem é a psicóloga brasileira? Mulher, Psicologia e Trabalho. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013.

Modificadas:

Pág. Referência Correta

87 BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; ACHCAR, Rosemary. Dinâmica profissional e formação do psicólogo: uma perspectiva de integração. In: Psicólogo Brasileiro – práticas emergentes e desafios para a formação. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.

87 FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO: Parâmetros para a Formação. Disponível em

<http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1997-forumnacionaldeformacao.pdf> Acessado em: 10 out. 2013.

88 BOCK, Ana Mercês Bahia. A inserção da Psicologia na Sociedade Brasileira. Psicologia Online – POL, 7 mai. 2004a. Disponível em <http://www2.pol.org.br/publicacoes/imprimir.cfm?id=34&materia=61> Acesso em: 02 fev. 2014.

88 BOCK, Ana Mercês Bahia. Diretrizes Curriculares: será que estamos

chegando ao fim da longa história? Psicologia online, 2004b. Disponível em <http://www.pol.org.br/publicacoes/materia.cfm?Id=9&Materia=36>

Acessado em 08 abr. 2013.

90 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Carta de Serra Negra, 1992. Disponível em <

http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1992-cartadeserranegra.pdf> Acessado em 13 Ago. 2013.

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Banca Examinadora

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À minha família, agradeço pelo meu processo de humanização. Aos meus pais, pessoas justas, sábias e trabalhadoras, que me educaram sob valores de cooperação, justiça e humanidade, e aos meus irmãos, com quem compartilhei e compartilho o crescer.

Aos meus professores, agradeço pelo meu processo de formação. Aos professores de graduação que me possibilitaram conhecer, compreender e atuar no mundo a partir da Psicologia, e aos de pós-graduação, com os quais, a partir da convivência, me constitui mestre, pesquisadora e professora.

Aos meus amigos, agradeço pelo meu processo de socialização. São aqueles com quem divido as mais diversas experiências, que me acolhem, me divertem e, inclusive, me ajudam com o Excel.

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Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso Social e se posicionado politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova postura da Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente excluídas. A formação em Psicologia é um momento crucial para a construção desse novo perfil de psicólogo: o psicólogo comprometido socialmente. O objetivo desta pesquisa é verificar quais recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como facilitadores para atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade brasileira. A amostra é constituída por estudantes de psicologia que se formarão no ano de 2014 de todo o Brasil. O instrumento utilizado foi um questionário disponibilizado via plataforma online, composto por

perguntas fechadas, que pretenderam traçar um perfil sociodemográfico da amostra estudada, e perguntas abertas, que tiveram como objetivo identificar questões da realidade brasileira e os recursos teóricos e técnicos que os auxiliaram a lidar profissionalmente com elas. A importância deste estudo é contribuir com a formação em Psicologia em âmbito nacional, para tanto, seus resultados serão divulgados em congressos e revistas científicas.

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A few years the Brazilian Psychology has raised the banner of Social Commitment and politically positioned for a performance that is not restricted to elites. This new attitude of Psychology aims to expand its action to populations historically excluded. Training in Psychology is a crucial time for the construction of this new psychologist profile, socially committed psychologist. The objective of this research is to see which resources of training of last year psychology students identify as facilitators to act professionally with who consider issues of Brazilian reality. The sample consists of psychology students who will graduate in 2014 from all over Brazil. The tool used was a questionnaire made available through online platform with closed questions, which intended to draw a socio-demographic profile of the sample, and open ended questions, which aimed to identify issues of Brazilian reality and the theoretical and technical resources that helped to deal professionally with them. The importance of this study is to contribute to the formation in Psychology at national level, therefore, their results will be disseminated at conferences and scientific journals.

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Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro ... 36

Tabela 2 - Quantidade de questionários excluídos pelo Critério de Exclusão ... 48

Tabela 3 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Região ... 50

Tabela 4 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por Região ... 50

Tabela 5 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Região da IES ... 51

Tabela 6 - Quantidade de alunos por Região da IES ... 51

Tabela 7 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Tipo de IES ... 52

Tabela 8 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por tipo de IES ... 52

Tabela 9 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Tipo de IES ... 52

Tabela 10 - Quantidade de alunos por tipo de IES ... 53

Tabela 11 - Quantidade de sujeitos por sexo ... 53

Tabela 12 - Quantidade de sujeitos por Faixa Etária ... 54

Tabela 13 - Quantidade de sujeito por Cor/Raça ... 54

Tabela 14 - População residente no Brasil, por raça/cor da pele em 2010 ... 55

Tabela 15 - Quantidade de sujeito por Classe social ... 56

Tabela 16 - População residente do Brasil por Rendimento mensal em salário mínimo em 2010... 56

Tabela 17 - Área/local que pretende atuar ... 57

Tabela 18 - Quantidade de respostas de questão social por categoria ... 60

Tabela 19 - Quantidade de respostas de Iniciativas e movimentos sociais por categoria ... 61

Tabela 20 - Quantidade de respostas “sim” e “não” se a questão social é foco da Psicologia em relação à categoria ... 63

Tabela 21 - Quantidade de respostas por categoria de como a Psicologia pode atuar... 64

Tabela 22 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação ... 65

Tabela 23 - Disciplinas por categoria ... 67

Tabela 24 - Áreas de estágio ... 68

Tabela 25 - Conhecimento teórico ... 68

Tabela 26 - Autores ... 69

Tabela 27 - Como os recursos auxiliam ... 71

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Tabela 30 - Quantidade de respostas por valor sobre a avaliação em relação ao preparo dado pela formação para lidar com as questões sociais da realidade brasileira ... 73 Tabela 31 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação

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ABEP Associação Brasileira de Ensino de Psicologia

ANPPEP Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia CES Câmara de Educação Superior

CFP Conselho Federal de Psicologia CNE Conselho Nacional de Educação CRP Conselho Regional de Psicologia DC Diretrizes Curriculares

GT Grupo de Trabalho

IES Instituição de Ensino Superior LDB Lei de Diretrizes Básicas MEC Ministério da Educação

PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo UFES Universidade Federal do Espírito Santo UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFBA Universidade Federal da Bahia

UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFPB Universidade Federal da Paraíba

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UnB Universidade de Brasília

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1INTRODUÇÃO ... 12

2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL ... 14

2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil ... 14

2.2 Psicologia e Compromisso Social ... 16

2.3 Perfil do psicólogo brasileiro ... 19

3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA ... 22

3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares ... 22

3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo ... 31

3.3 Panorama dos cursos no Brasil ... 35

4 POR UMA FORMAÇÃO PARA A REALIDADE BRASILEIRA ... 38

4.1 Análise da Legislação e Diretrizes Curriculares ... 38

4.2 Formação e Compromisso Social ... 41

5 MÉTODO ... 46

6 RESULTADOS ... 49

6.1 Parte I – Caracterização da Amostra ... 49

6.2 Parte II – Realidade brasileira... 58

6.3 Parte III – Psicologia e Realidade ... 61

6.4 Parte IV - Formação e Realidade ... 64

6.5 Conclusões ... 77

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 87

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1 INTRODUÇÃO

Toda a Psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social; mas sim cada uma assumir dentro da sua especificidade a natureza histórico-social do ser humano. (LANE, 1984, p.19)

De acordo com Bernardi, a Psicologia científica teve seu início marcado por estudar “os processos mentais através dos métodos experimentais e quantitativos que eram pertinentes a outras ciências” (BERNARDI, 2010, p.2). A legitimidade da Psicologia foi conquistada a partir da ação de classificar e adequar os sujeitos na noção construída de normalidade. Sendo assim, serviu à população dominante da sociedade ao desenvolver formas de controle e mecanismos discriminatórios e excludentes. Segundo a autora, com a aquisição do status de científica, a Psicologia passou a mediar as necessidades do sujeito estudado e as demandas sociais. Ao testar e tratar seus objetos de estudo, garantia a adaptação destes na sociedade, mas psicologizava fenômenos que são, na verdade, consequência de diversos fatores que não necessariamente psicológicos.

Bicalho et al. apontam que ao ser submetida, desde a sua criação, à perspectiva

epistemológica de corte positivista, a Psicologia assume um projeto dito neutro, asséptico e objetivista. Neste contexto, “a tarefa que se espera da Psicologia é psicologizar (no sentido de humanizar) e oferecer resultados, desvelando assim uma determinada, essência “do sujeito” (BICALHO et al, 2009, p.21). Esta tradição da psicologia a levou a um percurso elitizado: atendia principalmente à elite e servia, nas instituições, a interesses do projeto dominante.

Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso Social e posicionado-se politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova postura da Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente excluídas, para além da prática dos consultórios particulares, e respondendo às demandas da sociedade brasileira.

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determinações históricas e contribuindo para a manutenção da situação de desigualdade da sociedade brasileira (AZERÊDO, 2002).

A formação em Psicologia é um momento crucial de construção de um novo perfil de psicólogo. Sua importância se justifica pela possibilidade de preparação do futuro psicólogo para realizar uma análise da sociedade, compreender as demandas sociais e atuar profissionalmente com compromisso social. Botomé (2010), ao analisar seu trabalho “A quem nós, psicólogos, servimos de fato?” de 1979, afirma que mais de 30 anos se passaram, e, apesar de inúmeros debates, escritos e reuniões voltadas para o tema realizadas pelos Conselhos Federal e Regionais, uma dimensão de Psicologia Pública, acessível às populações até então excluídas do trabalho do psicólogo, ainda não está clara na formação do psicólogo.

Partindo do pressuposto do projeto que defende a Psicologia atuando com compromisso social e que a formação é um momento único de constituição de um psicólogo que atue considerando a realidade brasileira, a presente pesquisa tem como objetivo verificar quais recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como facilitadores para atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade brasileira.

Com o objetivo de embasar teoricamente esta pesquisa, construímos três capítulos que servem de alicerce para a discussão sobre a formação do psicólogo no Brasil. O primeiro capítulo teórico diz respeito à profissão do psicólogo no Brasil. Ao discutir a formação, consideramos necessário realizar uma retrospectiva da profissão já que, como a perspectiva sócio-histórica, entendemos que para compreender o fenômeno devemos considerá-lo dentro de um processo e contextualizá-lo historicamente. O segundo tem como foco a formação em psicologia e traz essa discussão em três aspectos principais: legislação, questões levantadas em pesquisas e levantamento atual dos cursos de psicologia no Brasil. Como capítulo teórico final, apresentamos uma análise sobre os limites e possiblidades de uma formação com compromisso social.

Por fim, este trabalho tem como pretensão acrescentar às poucas pesquisas sobre formação em psicologia na área social1 e fornecer um conhecimento que auxilie não apenas a

discussão, mas também a construção de uma formação comprometida socialmente.

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2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL

2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil

O surgimento de uma ciência e, sobretudo, as grandes transformações que nela se registram são produto de um conjunto de determinações históricas, as quais culminaram por estruturar ideias que fundamentaram e possibilitaram seu surgimento como ciência (ARAÚJO, 2009, p.1)

No Brasil, a Psicologia tem sua presença reconhecida desde a época da Colônia, não propriamente como área específica, mas caracterizada pela preocupação com o fenômeno psicológico. Seu desenvolvimento em nosso país se deu no interior da Educação e da Medicina, em consequência das ideias trazidas por brasileiros que estudaram no exterior ou por estrangeiros que vieram para o Brasil (ANTUNES, 2004).

Temos uma Psicologia que surge colada ao projeto de modernização da sociedade brasileira e com o objetivo de gerir essa vida em sociedade, os saberes foram importados para nossas escolas, hospícios e indústrias (BOCK, 2008). Segundo Bock (2009), essa Psicologia respondia ao interesse de higienização e ordem da sociedade. Na educação, eram abundantes as práticas autoritárias e disciplinares para formação dos indivíduos. Já na medicina, a criação dos hospícios demonstrava o tratamento moral dos sujeitos.

O movimento pela legalização da profissão começou a se organizar na segunda metade dos anos 50, quando Lourenço Filho e outros diretores da Associação Brasileira de Psicologia apresentaram ao Ministro da Educação uma petição para a criação da profissão “psicologista” ou “psicotecnista” (ANTUNES, 2004). Apesar da polêmica e embate de interesse, após diversos trâmites legislativos, no ano de 1962, a Psicologia foi reconhecida como profissão no Brasil a partir da Lei nº 4.119.

Bock (2008) afirma que no período de sua regulamentação os envolvidos com a Psicologia eram menos de mil pessoas. Isso representa a relação íntima com a elite brasileira daqueles envolvidos com a Psicologia. O que nos possibilita afirmar que a própria regulamentação da profissão se deu devido à força da classe dominante que apostava que o projeto de Psicologia contribuiria para a modernização do Brasil.

Outro aspecto que nos aponta o compromisso da psicologia com a elite brasileira é a legislação da profissão. Segundo o art. 4º do Decreto nº 53.464, de 21-01-1964, que regulamenta a Lei n. 4.119, seriam as funções do Psicólogo:

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a) diagnóstico psicológico;

b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica;

d) solução de problemas de ajustamento.

1) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de economia mista e particulares.

2) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino, observadas as demais exigências da legislação em vigor.

3) Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Psicologia. 4) Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos,

paraestatais, de economia mista e particulares.

5) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia.

Podemos perceber uma clara visão tecnicista do profissional psicólogo. Sua primeira função, utilizar métodos e técnicas com objetivos de ajustar o sujeito, demonstra uma resposta às necessidades da elite brasileira, “a psicologia prometia colocar o homem certo no lugar certo; prometia facilitar a aprendizagem; adaptar as pessoas (...)” (BOCK, 2008, p.2). O interesse das elites com a Psicologia era o de prever e controlar comportamentos para instalar um novo projeto de sociedade e esses objetivos estavam amparados pela lei.

Mais um fator que pode ser analisado por esse decreto é como a Psicologia é regulamentada a partir da perspectiva positivista. A partir de suas funções, assume-se o foco de atuação no indivíduo, aquele que deve ser ajustado para a sociedade. E, pressupostos como a neutralidade e objetividade são aparentemente colocados como óbvios no atuar do psicólogo.

Segundo Antunes (2004), a Psicologia se firmou como profissão e ampliou suas ações ao dar respostas às demandas da sociedade brasileira, inicialmente nos campos da Educação, Trabalho e Clínica, e, mais tarde, em novas modalidades de intervenção, como a psicologia jurídica, hospitalar, comunitária etc. Adiciona que contribuíram de forma decisiva para o estabelecimento da Psicologia como ciência autônoma, a expansão da produção de conhecimento, a criação de novas associações e entidades de diferentes campos da Psicologia e a prática regular da realização de congressos.

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2.2 Psicologia e Compromisso Social

[...] compromisso com a sociedade a Psicologia sempre manteve, o seu compromisso foi, na maior parte do tempo, um compromisso com as elites e seus interesses. O novo projeto de profissão significa um rompimento com esta tradição e a construção de um novo lugar para a Psicologia; a construção de uma nova relação da Psicologia com a sociedade (BOCK, 2008, p.3)

Os sinais de um novo projeto para a psicologia começam a aparecer com maior visibilidade nos anos 70. A Psicologia Social faz seus questionamentos e inova na prática, com a Psicologia comunitária, nascida nas academias a partir de estágios dos estudantes e inova nas concepções teóricas, trazendo ao Brasil concepções críticas da França, da URSS, da Argentina e de Cuba. A Psicologia inaugura sua presença nos ambulatórios de saúde em São Paulo, de onde se expande e onde questionamentos importantes sobre as concepções e técnicas de trabalho serão feitas, inaugurando um campo importante de psicologia da saúde. Em seguida, a antipsiquiatria trará novas contribuições no campo da saúde mental, fortalecendo este desenvolvimento. A psicologia organizacional aponta também, ainda que de forma tímida, seus questionamentos. A psicologia da educação vai em busca do auxílio do pensamento crítico de Paulo Freire e autores como Makarenko, Vigotski e outros. As entidades se proliferam, e a psicologia fortalece sua voz social. Destacamos aqui uma reflexão sobre o campo da psicologia social.

Ao retomar a história da Psicologia Social no Brasil, Araújo (2009) identifica autores que, desde o século XIX, tratavam de uma Psicologia que considerava o meio social. Como exemplos, a autora traz Sylvio Romero, que em 1886 declarava sua crença numa psicologia dos povos, e Francisco José de Oliveira Viana, que em 1921 publicou o primeiro livro com título referido à Psicologia Social que tratava sobre temas que carregavam a preocupação com o meio social e político.

A abertura dos primeiros cursos de Psicologia Social ocorreu na década de 1930. Nos anos 1950, o país era impregnado pela ideologia desenvolvimentista; dessa forma, muitos estudos eram voltados para questões sociais como valores e normas, comunicação de massa etc. (BOMFIM, 2003a apud ARAUJO, 2009).

Vale ressaltar que, apesar da Psicologia Social se fazer presente nesse período, a sua concepção de homem é a mesma da ciência psicológica da época, individualizante, mecanicista e objetivista. Segundo Kruguer (1986) apud Araujo (2008), a teorização da Psicologia Social

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foi fortemente norte-americana e ao considerar a importância do estudo do meio social como objeto de estudo, a sociedade era vista apenas como um reflexo da soma das partes (indivíduos).

É na década de 1960 que essa Psicologia Social realizada no Brasil começa a ser questionada. A crítica realizada era que a psicologia social, importada dos Estados Unidos, “de base experimental e positivista, que falava de mecanismos psicológicos universais e abstratos, desconsiderando o conteúdo histórico e social presente na constituição do homem” (BOCK et al., 2007, p. 49), não cabia em nossa realidade.

Uma figura de extrema importância na construção da Psicologia Social brasileira (não apenas realizada no Brasil) é Sílvia Lane. Segundo Bock et al. (2007):

[...] sua preocupação básica em construir uma psicologia social voltada para a realidade brasileira e latino-americana, com vistas a contribuir parça a superação das desigualdades e das situações de opressão, demandava uma construção teórica que permitisse compreender o homem como participante do processo social. Nesse sentido, entendia que o conhecimento da psicologia deveria levar à compreensão dos mecanismos que provocam a alienação e contribuir para ampliar a consciência dos homens. Sua teoria sobre o psiquismo teve essa direção. (p. 49)

Lane é considerada a responsável pelo desenvolvimento da perspectiva sócio-histórica na Psicologia Social no Brasil. Uma perspectiva que considera que a produção de conhecimento deve ser comprometida com a transformação social. Assim, vai contribuir para a superação do positivismo como forma de fazer ciência ao afirmar que sempre há uma intenção do sujeito sobre o objeto, ao negar a neutralidade na elaboração de novos métodos de pesquisa a partir do materialismo histórico e dialético e para a afirmação do homem como sujeito histórico, assumido o marxismo como postura epistemológica (BOCK et al., 2007).

A década de 1970 foi importante pelo surgimento dos primeiros cursos de mestrado em Psicologia Social. A partir destes, dissertações foram geradas com temas voltados para a realidade brasileira, aumentando a produção científica deste novo projeto de Psicologia. Outro marco significante deste momento foi a criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia a partir da Lei nº 5.776, de 20/12/1971, que representou uma maior organização da Psicologia como profissão.

Em 1980, é criada a Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO e, em 1987, ocorre a publicação do livro Psicologia Social: o homem em movimento, organizado por

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Ferreira Neto (2004) aponta que o projeto da Psicologia Sócio-Histórica, que tem como base a Psicologia histórico-cultural de Vigotsky, rompeu com alguns aspectos da Psicologia hegemônica da época e: “influenciou, desde então, uma geração de psicólogos preocupados com a construção de uma psicologia próxima da realidade brasileira” (FERREIRA NETO, 2004, p.149). Na construção desse projeto, o autor assinala a importância de Ana Mercês Bahia Bock, orientanda de Sílvia Lane, tanto em sua produção acadêmica, quanto na ação política.

Em relação à produção, Ferreira Neto (2004) indica quatro críticas feitas por Bock a aspectos da Psicologia, daquele momento, que deveriam ser superados a partir do novo projeto de Psicologia: visão abstrata do fenômeno psicológico, tradição classificatória e estigmatizadora da Psicologia, noção de neutralidade em Psicologia e positivismo e idealismo na Psicologia. Essa análise foi de admirável ao reconhecer a ideologia que regia a Psicologia, até então dita como neutra.

Já em relação à sua ação política, Bock e um conjunto de profissionais que se dedicaram às entidades de Psicologia a partir dos anos 90 representaram e ainda representam a bandeira do compromisso social na Psicologia. Bock foi presidente do Conselho Federal de Psicologia em três gestões (1997 a 2007), período crítico para a afirmação no novo projeto de Psicologia na sociedade brasileira, e é a atual presidente do Instituto Silvia Lane de Psicologia e Compromisso Social. Grupos por todos Brasil procuram manter e desenvolver o projeto e têm tido papel importante.

Na gestão do CFP, nos anos 2000, é defendido e construído ativamente o projeto do compromisso social da Psicologia na I Mostra Nacional de Práticas em Psicologia: Psicologia e Compromisso social, realizada pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa Mostra foi um marco para o novo projeto de Psicologia no Brasil e contou com milhares de trabalhos que apresentavam experiências interdisciplinares, que inovavam em instrumentos de trabalho não “psicologizantes” ou atuavam com populações que normalmente não teriam acesso ao trabalho do psicólogo (BOCK, 2009).

A 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia ocorreu doze anos após a primeira, em 2012. Esta teve como tema “Compromisso com a construção do bem comum” e ampliou a forma de organização ao ir além da apresentação de práticas profissionais, constituindo espaços de debates sobre trabalhos dos psicólogos em diversas áreas de atuação visando à criação de articulações e fortalecimento do compromisso com a realidade brasileira.

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objeto de polêmica e debate. Apesar de disputas políticas e oposição, esse novo compromisso social da Psicologia, caracterizado por Bock (2002, p.28) como “compromisso de trabalho pela melhoria da qualidade de vida; um compromisso em nome dos direitos humanos e do fim das desigualdades sociais”, se faz fortemente presente na discussão sobre a atuação do psicólogo no Brasil.

2.3 Perfil do psicólogo brasileiro

“Uma profissão não é um fazer pronto que recebemos. Uma profissão se constrói na história de uma sociedade em um tempo histórico que permita seu surgimento, ou seja, necessite dela.” (BOCK, 2008, p.1)

O psicólogo é produto de sua história e, de forma dialética, são também produtores dela. Assim como a Psicologia se constituiu como ciência “psicologizante”, positivista e ligada às elites, devido ao seu contexto histórico, os psicólogos são, em sua maioria, um reflexo dessa historicidade. Por serem sujeitos parte indissociável da sociedade, atuam e constroem a Psicologia. Assim, é na mudança na base material que se realiza e se faz possível uma mudança do perfil do psicólogo.

O primeiro aspecto a ser colocado ao se falar de um perfil do psicólogo brasileiro é em relação ao gênero. Em pesquisa realizada pelo CFP em 1988, intitulada “Quem é o psicólogo brasileiro?”, é apresentada uma Psicologia composta por 87% de mulheres. Esse dado converge com os 89% encontrados na pesquisa realizada a partir do cadastro do CFP em 2012, chamada “Quem é a psicóloga brasileira? Mulher Psicologia e Trabalho” (LHULLIER, 2013). Importante ressaltar a mudança no título das pesquisas de psicólogo para psicóloga, que indica um maior cuidado e atenção na questão do gênero dentro da psicologia.

Outro aspecto que tem recebido atenção da Psicologia nos últimos anos é a questão de “cor ou raça” (termo adotado pelo padrão do IBGE). Essa atenção pode ser comprovada pelos movimentos dentro da Psicologia que discutem esse aspecto, como a realização de dois Encontros Nacionais de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) das Relações Raciais e Subjetividades – PSINEP, e pelo fato de que o questionamento sobre “cor ou raça” não fez parte da pesquisa do CFP de 1988, mas integrou a realizada pelo CFP em 2012.

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Roslindo (2013) destacam que esse dado difere bastante em relação aos dados da população brasileira e que temos uma Psicologia composta, em sua maioria, por mulheres de uma “cor ou raça” historicamente privilegiada no Brasil.

Para analisar as áreas de atuação em que os psicólogos atuam, uma pesquisa essencial foi realizada por Bastos et al. no ano de 2010, na qual os autores fazem uma comparação do projeto “O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional” (BASTOS & GOMIDE, 1989), que analisava os dados da pesquisa do CFP “Quem é o psicólogo Brasileiro?” (CFP, 1988), com uma pesquisa realizada entre os anos de 2006 e 2008 sobre a profissão do psicólogo no Brasil pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP.

Nesse estudo foi identificado que, da década de 80 para os anos 2000, há uma manutenção da área clínica como maior área de concentração da atuação dos psicólogos. A área organizacional e do trabalho cresce um pouco, mas perde o segundo lugar no ranking para a

saúde, nova área de inserção dos psicólogos, não contemplada na primeira pesquisa. A educação tem uma queda expressiva como campo de atuação profissional, e as áreas social e jurídica aparecem demonstrando sua consolidação como prática da Psicologia.

Em relação às atividades desenvolvidas, os autores apontam que o psicólogo participante da pesquisa realizada pelo GT desenvolve, independente da área, ações semelhantes aos anos 80. Identificam como sendo as atividades de maior incidência a avaliação psicológica, psicodiagnóstico e aplicação de teste. E concluem que, apesar da expansão dos campos de atuação dos psicólogos, ainda temos uma prática limitada.

Essa prática tecnicista da Psicologia pode ser considerada resultado da ideologia discutida por Bock (2009), ao afirmar que alguns elementos ideológicos acompanham a maior parte das práticas do psicólogo. Para a autora, a Psicologia tem naturalizado o fenômeno psicológico ao vê-lo como universal, o que acarreta numa atuação corretiva do psicólogo.

Outro fator apontado por ela é o fato dos psicólogos não conceberem suas intervenções como trabalho, eles consideram que sua ação apenas ajuda ao outro a se desenvolver, e que isso tem como consequência uma visão de trabalho como neutra, negando sua intervenção em determinada direção. Esse ponto concorda com a pesquisa do CFP de 1988 que constatou que 40,5% dos 2417 psicólogos que participaram da pesquisa escolheram a profissão por “motivos voltados para o outro” ao expressarem querer conhecer, ajudar ou lidar com o ser humano (CARVALHO et al., 1988).

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prejudicar este desenvolvimento. Tais concepções isolam o sujeito da sociedade e isentam a mesma de qualquer responsabilidade por sofrimentos psicológicos dos sujeitos.

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3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares

“Não existe políticas de formação sem a análise do contexto” (GRUPO DE TRABALHO FORMAÇÃO, CFP, 2012, p. 11).

Apesar de ainda não ser regulamentada como profissão, a Psicologia já contava com a sua formação institucionalmente regulamentada a partir do Decreto-Lei nº 9.092, de 1946. Nesse período, para ser considerado psicólogo era necessário ser “aprovado nos três primeiros anos do curso de Filosofia, bem como em cursos de Biologia, Fisiologia, Antropologia, Estatística, e me curso de especialização de Psicologia. Finalmente, estágio em serviços psicológicos, a juízo dos professores da seção” (SOARES, 1979, p.20). Foi a partir da emenda que dispunha sobre a formação do psicólogo e fixava o currículo mínimo e que acompanhava a Lei que regulamentava a profissão em 1962, que foram regulamentados cursos específicos de Psicologia.

O Currículo Mínimo para os Cursos de Psicologia para Bacharelado e Licenciatura foi o primeiro documento federal oficial. Com vigência a partir de 1963, era composto por matérias obrigatórias, definição da obrigatoriedade do estágio supervisionado e sua carga horária, além da duração do curso. Em decorrência do golpe militar de 1964, o Currículo Mínimo permaneceu quase sem modificações, apenas com acréscimo ou retirada de algumas disciplinas (ROCHA Jr., 1999).

Nico e Kovac (2003) afirmam que é a partir dos anos 80 que o Conselho Federal de Psicologia passou a promover uma série de atividades com o objetivo de debater a formação em Psicologia. As autoras acrescentam que neste período foram realizadas discussões sobre a necessidade da reformulação dos currículos.

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Como produto dessas discussões foi elaborada a pauta do “I Encontro de Coordenadores de Curso de Formação de Psicólogos”, realizado em Serra Negra. Encontro onde foram criados os sete princípios norteadores da formação em psicologia e dez sugestões de operacionalização respectivamente expostos nos Quadros 1 e 2 (CFP, 1992).

Quadro 1 - Princípios norteadores da formação em psicologia

1) Desenvolver a consciência política de cidadania e o compromisso com a realidade social e a qualidade de vida.

2) Desenvolver a atitude de construção do conhecimento, enfatizando uma postura critica, fomentando a pesquisa num contexto de ação – reflexão, bem como viabilizando a produção técnico-científica.

3) Desenvolver o compromisso da ação profissional cotidiana baseada em princípios éticos, estimulando a reflexão permanente destes fundamentos.

4) Desenvolver o sentido de Universidade, contemplando a interdisciplinaridade e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

5) Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão

epistemológica, visando à consolidação de práticas profissionais, conforme a realidade sociocultural, adequando o currículo pleno de cada agência formadora ao contexto regional.

6) Desenvolver uma concepção de Homem, compreendido em sua integralidade na dinâmica de suas condições concretas de existência.

7) Desenvolver práticas de interlocução entre os vários segmentos acadêmicos, para uma avaliação permanente do processo de formação.

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Quadro 2 -Sugestões de operacionalização

1) Implementar uma política institucional de contratação, qualificação e avaliação do corpo docente.

2) Implementar uma política institucional de acompanhamento do corpo discente em sua formação.

3) Procurar garantir, junto às agências formadoras, o suporte institucional necessário à formação profissional.

4) Elaborar uma estrutura curricular que possibilite ao aluno acesso às diferentes concepções, levando-os a uma análise crítica das mesmas.

5) Oferecer campos de estágios que contemplem a prática destas diferentes concepções na medido do possível.

6) Desenvolver um sistema de acompanhamento e avaliação contínua dos estágios nos locais onde são desenvolvidos e dos resultados dos serviços prestados, buscando verificar sua adequação às necessidades de formação do aluno.

7) Promover a produção escrita, dentro de padrões aceitáveis, de toda a atividade acadêmica do aluno, inclusive trabalho de conclusão de curso ou monografia, oferecendo condições de divulgação e discussão no âmbito e fora da universidade. 8) Divulgar as ementas das disciplinas para possibilitar o conhecimento pelo aluno do

seu conteúdo e cumprimento.

9) Manter um espaço de discussão da Ética Profissional do ponto de vista filosófico, político e do Código de Ética nas diversas disciplinas e estágios.

10) Buscar integração dos Conselhos Regionais de Psicologia com os Cursos para promoção de atividades relacionadas à formação e ao exercício profissional.

Fonte: Carta Serra Negra (1992).

Tais princípios marcam um avanço no projeto da Psicologia do Brasil ao colocar a preocupação dos aspectos sociais na formação do psicólogo. Principalmente ao apostar na importância da postura política, crítica, ética e com compromisso com a realidade social. Outro ponto importante da carta é o fato de ela avançar ao apontar alguns princípios básicos para a formação com uma postura propositiva, e não apenas crítica (BUETTNER, 2000).

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exercício profissional. Dentro deste eixo, foram aprovadas propostas com o posicionamento do sistema Conselhos sobre a formação em Psicologia que expandiam e aprofundavam os princípios elaborados no Encontro de Serra Negra. Então, apesar de não ter sido o tópico mais enfatizado, teve resultados importantes (BUETTNER, 2000).

No ano seguinte, com o objetivo de estudar e propor uma nova direção à formação em Psicologia, foi indicada pelo MEC uma Comissão de Especialistas de Ensino de Psicologia (CFP, 2003) composta por Mariza Monteiro Borges (UnB - Presidente), Antônio Virgílio Bittencourt Bastos (UFBA) e Yvonne Alvarenga G. Khouri (PUC-SP). A Comissão reuniu informações a partir das próprias instituições formadoras, de pesquisas realizadas pelo Conselho Federal de Psicologia e das teses relativas à formação profissional (BRASIL, 1995) e construiu um documento com dez diretrizes para a formação (Quadro 3), acompanhadas por propostas de operacionalização.

Quadro 3 - Diretrizes para a Formação e Avaliação Curriculares, 1995

1. Uma formação básica pluralista e sólida 2. Uma formação generalista

3. Uma formação interdisciplinar

4. Preparar o psicólogo para uma atuação multiprofissional 5. Assegurar uma formação científica, crítica, reflexiva 6. Permitir uma efetiva integração teoria-prática

7. Compromisso com o atendimento das demandas sociais 8. O compromisso ético deve permear todo o currículo 9. Romper o modelo de atuação tecnicista

10. Precisar as terminalidades dos cursos de psicologia

Fonte: Carta Serra Negra (2002).

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O II Congresso Nacional de Psicologia ocorreu em 1996 e contou com os mesmos eixos temáticos do congresso anterior. No eixo sobre a formação foram priorizados dois pontos específicos: estágios e clínicas-escola e proliferação indiscriminadas de cursos. A discussão do primeiro item serviu como aprofundamento do tópico pouco explorado no I CNP e a do segundo deliberou sobre a necessidade de provocação e auxílio às avaliações dos cursos (BUETTNER, 2000).

No final daquele ano, houve a aprovação da Lei 9.394/96 de dezembro de 1996 que instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Segundo Nico e Kovac (2003), “com a promulgação da LDB, os currículos mínimos foram extintos e cada área tornou-se responsável por formular suas diretrizes para o ensino superior” (p.56).

Em dezembro do ano seguinte, a partir do Parecer 776/97, o MEC orientou a elaboração das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. No Parecer, as diretrizes curriculares são definidas por constituírem “orientações para a elaboração dos currículos que devem ser necessariamente respeitadas por todas as instituições de ensino superior” (BRASIL, 1997, p.2) e deveriam respeitar os seguintes princípios:

1) Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na composição da

carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como a

especificação das unidades de estudos a serem ministradas;

2) Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias predeterminadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos;

2) Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação;

3) Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa;

4) Estimular práticas de estudo independente, visando a uma progressiva autonomia

profissional e intelectual do aluno;

5) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências

adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada;

6) Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão; 7) Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas que utilizem

instrumentos variados e sirvam para informar a docentes e a discentes acerca do desenvolvimento das atividades didáticas.

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desconsiderou as diretrizes elaboradas pela comissão anterior ao formular novas diretrizes intituladas “Padrões de Qualidade para os cursos de Graduação em Psicologia”. Este documento apresentava critérios de avaliação, autorização, reconhecimento e recredenciamento de cursos de Psicologia e não fazia menção alguma às diretrizes anteriores.

O Conselho Federal e os Regionais de Psicologia decidiram realizar um evento voltado para esta discussão chamado Fórum Nacional da Formação em Psicologia composto por “composto por 38 delegados, eleitos nos Fóruns Regionais sobre o tema, por convidados e ouvintes” (FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO, 1997). O Fórum foi iniciado com eventos menores nas sedes (CFP) e subsedes (CRPs) e culminou num encontro nacional em Outubro de 1997 em Ribeirão Preto – São Paulo (BUETTNER, 2000). Sendo os objetivos do Fórum: elaborar estratégias de intervenção institucional nos problemas da Formação do psicólogo; construir as diretrizes curriculares para o curso de graduação em Psicologia e analisar a propostas de avaliação dos cursos de Psicologia apresentada pela Comissão de Especialistas de Ensino a Psicologia do MEC/SESU.

Como produto deste evento, foi elaborada uma série de princípios gerais e estratégias de intervenção do CFP em relação a esta temática. Também foram criadas sugestões de avaliação dos Cursos e de pedidos de abertura de novos cursos que modificavam as contidas no documento “Padrões de Qualidade para Cursos de Graduação de Psicologia”. Além de formuladas diretrizes curriculares para os cursos de Psicologia, que basicamente mantiveram as diretrizes propostas pela primeira Comissão de Especialistas (BUETTNER, 2000).

Outra deliberação do Fórum Nacional de Formação foi a criação, em outubro de 1998, da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP. Essa associação tem como objetivo ser uma entidade de âmbito nacional que reflita, desenvolva e aprimore a formação em Psicologia no Brasil. Desde seu nascimento, “a ABEP compreende que a formação em Psicologia deve estar comprometida com a realidade social do país vinculado a ética e ao exercício da cidadania” (ABEP, n.p.).

Poucos meses depois da realização do Fórum Nacional de Formação, foi apresentado pelo SESU-MEC o Edital 04/97, que chamava as instituições de ensino superior a apresentar propostas para as novas Diretrizes Curriculares para os cursos superiores. Sendo que a formulação final destas seria elaborada pelas respectivas Comissões de Especialistas de cada curso.

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deliberações que há mais de dez anos vinham sendo construídas pela Psicologia” (p.59). O CFP (2003) ratificava esta posição ao afirmar que este documento não contemplava os princípios aprovados no Fórum Nacional de Formação em Psicologia. Isso gerou ampla mobilização das IES e demais entidades da Psicologia. E, em maio de 1998, o CFP encaminhou uma nova proposta de Diretrizes Curriculares que reafirmava os princípios do Fórum.

Um ano depois, a Comissão de Especialistas divulgou a segunda versão da proposta e em outubro deste ano, ela apresentou na XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, o que afirmava ser a versão final das Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Psicologia (CFP, 2003). Segundo Nico e Kovak (2003), esse documento conseguiu assegurar que ambos os grupos fossem contemplados ao definir um Núcleo Comum, que contemplava a identidade do curso de Psicologia no país e assegurava uma base homogênea para a formação, e também ênfases de aprofundamento, que possibilitam a capacitação em determinada área ou campo de atuação. Gomes (2002) afirma que o Núcleo comum garante a homogeneidade científico-profissional da formação em Psicologia, já as ênfases garantem a sua heterogeneidade. Assim, apesar de as IES terem a autonomia de determinar suas ênfases de aprofundamento, é obrigatório que o núcleo comum seja respeitado (NICO e KOVAC, 2003). Já para o CFP (2003), esta versão não era satisfatória já que, apesar de superar algumas inconsistências do documento anterior, mantinha pontos polêmicos, como os perfis de formação e as ênfases curriculares.

Em setembro de 2000, foi realizado o I Encontro Nacional da ABEP, no qual o tema das Diretrizes Curriculares foi um eixo de debate. Nesse evento, foi concluído que a versão das Diretrizes apresentada pela Comissão desrespeitava o processo de discussões e construções coletivas e decidiram por reivindicar ao Conselho Nacional de Educação - CNE –a revisão da mesma (CFP, 2003). Em outubro de 2000, uma audiência pública foi realizada pelo CNE para discutir uma proposta de resolução para as Diretrizes Curriculares.

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perfis de formação: Bacharel em Psicologia, Professor de Psicologia e Psicólogo, sendo que as ênfases curriculares estão ligadas ao terceiro perfil.

O perfil de Bacharel em Psicologia tinha como objetivo um maior investimento na atividade de pesquisa; o de Professor de Psicologia se voltava ao ensino da Psicologia em diversos níveis e modalidades, e o de Formação do Psicólogo se caracterizava pela prática profissional. Dessa forma, temos uma cisão da Psicologia em Ciência e Profissão.

De acordo com Bock (2004), “dividir a formação em três perfis ou apresentá-la em um só perfil refletiam esta disputa (política). Os três perfis permitiriam que algumas escolas (a maioria) se dedicassem à formação profissional e outras escolas (a minoria pública) se dedicassem à pesquisa” (BOCK, 2004, p.1). Já para Gomes (2002), “a proposta trata com a mesma seriedade a formação profissional e científica. A prática profissional apresenta-se fundamentada em conhecimentos científicos, e a arte (poiesis) de fazer ciência renova a prática profissional e a própria ciência” (n.p.). Assim, a dualidade entre opiniões sobre as Diretrizes Curriculares se manteve.

O grupo que não foi contemplado pelas Diretrizes, composto pela Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP –, Conselho Federal de Psicologia – CFP –, Conselho Nacional de Estudantes de Psicologia – CONEP –, entre outras entidades participantes do Fórum Nacionais de Entidades de Psicologia Brasileira – FENPB –, reagiu com uma manifestação em frente ao MEC reivindicando a refutação da proposta (BARBOSA, 2007). Também produziram uma carta aberta à população intitulada “Diretrizes Curriculares: um risco à sociedade”, que analisava como as diretrizes reduziam a atividade do psicólogo ao modelo médico e dissociavam a pesquisa da atividade profissional. Fundamentalmente, este grupo acreditava que as diretrizes curriculares apresentadas colocavam em “risco o avanço conquistado pela Psicologia no Brasil, na direção de uma ciência e de uma profissão mais comprometidas com as necessidades da sociedade brasileira” (CFP, ABEP e CONEP, 2001, p. 1) e que, se aprovadas, permitiriam que os interesses dos empresários brasileiros do ensino superior corrompessem a construção da Psicologia brasileira.

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horária mínima, a supressão do ponto que não permitia o estágio supervisionado com mais de 12 alunos e que, apesar de as diretrizes tenderem para a formação diversificada do psicólogo, o artigo 6º sugere que o profissional de Psicologia é exclusivamente da área da saúde (ANPEPP, 2001).

Segundo Barbosa (2007), devido às reivindicações e manifestações ocorridas, o Ministério da Educação não homologou as Diretrizes Curriculares propostas pela Comissão de Especialistas. Foi realizada uma reunião da assessoria do Ministro da época - Paulo Renato Souza - com uma comitiva das entidades de Psicologia e ficou acordado que as entidades teriam até o dia 28 de janeiro de 2002 para apresentar uma nova proposta para o documento (CFP, 2003).

O início do ano de 2002 foi conturbado, no mês de janeiro foi realizado o Fórum Aberto de Entidades que contou com a participação de pelo menos 50 entidades de Psicologia e elaborou um documento alternativo das Diretrizes Curriculares que foi entregue ao MEC neste mesmo mês. Em fevereiro, a relatoria do CNE construiu e encaminhou ao MEC o Parecer CNE/CES nº 072/02 que, segundo o CFP (2003), desconsiderava o documento encaminhado pelo Fórum. Em consequência disso, a ABEP passou a realizar intensa mobilização institucional e da categoria, e a homologação do Parecer não ocorreu. Assim, em julho de 2002, foi constituída uma nova comissão, composta por Éfrem de Aguiar Maranhão, Marília Ancona-Lopez, e Tereza Roserley Neubauer (que se desligou da comissão), para esclarecer as opiniões de ambos os segmentos da categoria e tentar produzir um novo documento para ser homologado.

Essa comissão realizou, em dezembro de 2003, uma audiência pública na qual ficou clara a divergência entre dois grupos de entidades sobre, principalmente, a questão dos perfis para os cursos de Psicologia (BARBOSA, 2007). Para tentar solucionar a problemática, foi acatada a proposta do professor Éfrem Maranhão de se construir um grupo paritário com 2 representantes do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (composto por 16 entidades de Psicologia), Inara Barbosa Leão e Maria da Graça Marchina Gonçalves, e 2 da Sociedade Brasileira de Psicologia, Antônio Virgílio Bittencourt Bastos e Maria Martha Costa Hübner, para debater as diretrizes e se chegar a um consenso.

(35)

homologada a Resolução CNE/CES nº 8, que instituía as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Psicologia.

Segundo Cirino et al. (2007), as Diretrizes se modificaram substancialmente em

relação às anteriores, principalmente na forma em que estão organizadas. Também pelo fato de que, apesar de manterem o núcleo comum com suas competências e habilidades, eixos estruturantes, atividades acadêmicas e estágios com poucas modificações, elas abandonam os perfis de formação e apresentam uma lista de possibilidades de ênfases curriculares e determinam a obrigatoriedade do oferecimento de pelo menos duas delas.

A Psicologia segue por um processo de intensos e extensos debates em relação à legislação que regula a sua formação. Foram muitos os espaços de discussão e construção proporcionados pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais, e a criação da ABEP é um marco importante que reafirma o compromisso da Psicologia com sua formação.

A história aqui apresentada demonstra mais uma vez a disputa entre diferentes projetos de Psicologia para a realidade brasileira. Por um lado, o projeto defendido pelo Sistema Conselhos de psicologia e entidades do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira - FENPB – e por outro o defendido pela Sociedade Brasileira de Psicologia. São dois projetos que divergiam e divergem na definição dos perfis, na presença obrigatória da pesquisa em todos os cursos sem que se destaquem algumas universidades como “de pesquisa” e outras “de formação profissional” e na definição das ênfases.

A formação está intimamente ligada ao projeto de profissão que queremos, assim, as questões da formação são questões também da profissão. Falar de formação é falar de ciência/profissão. A formação de hoje é regida sob as diretrizes curriculares nacionais de 2004, que, na tentativa de solucionar essa tensão entres os projetos, aponta para uma formação generalista com ênfases curriculares. Vale demarcar que a formação não se dá apenas no plano abstrato do debate, mas é algo baseado no real e se dá concretamente a partir de seus atores e suas concepções.

3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo

“Repensar a inserção social da Psicologia, implica também repensar a colocação da dimensão do profissional no seio da formação” (HOLANDA, 1997, p.11)

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de 1962, a Psicologia passou por um longo processo objetivando sistematizar a formação do futuro psicólogo. Antes mesmo dessa data, pesquisas já eram realizadas sobre a formação. Em 1953, Anita de Castilho e Marcondes Cabral, da USP, publicaram o primeiro artigo contemplando a questão da formação. No ano seguinte, Carolina Bori abordou em seu artigo “Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica” a importância da estatística e da experimentação na formação do psicólogo (CÂNDIDO & MASSIMI, 2012).

Ferreira Neto (2004) ressalta o estudo de Sílvia Lesser Pereira, em 1975, pela USP, como um pioneiro sobre a formação em Psicologia. Segundo o autor, neste trabalho, Pereira constata que é comum a insatisfação em relação aos cursos entre alunos e professores e que a formação daquele momento se prendia às formas tradicionais de utilização da Psicologia.

Anos depois, em pesquisa realizada pelo CFP em 1988 - “Quem é o psicólogo brasileiro?” –, fica claro que a insatisfação dos psicólogos em relação à sua formação ainda se apresenta (BORGES-ANDRADE, 1988). No conjunto de possíveis dificuldades específicas no exercício da Psicologia, a “formação e experiências” foi a categoria de maior incidência. Não apenas os psicólogos consideram que o que foi aprendido na graduação foi insuficiente, como recorrem à formação complementar para alicerçar a sua prática profissional.

Resultados semelhantes foram evidenciados por Bardagi et al. (2008) em pesquisa

realizada com 79 alunos egressos do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As autoras identificaram que 52% dos psicólogos que participaram do estudo se sentiam não ou “mais ou menos” preparados para atuar ao final do curso, enquanto os outros 48% afirmavam se sentirem preparados.

Isso se manteve em nova pesquisa realizada sobre a profissão do psicólogo no Brasil realizada pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da ANPEPP ao discorrer que:

[...] os psicólogos reconhecem uma distância significativa entre as suas aprendizagens na graduação e as demandas do exercício profissional. Os desafios da qualificação profissional e as defasagens entre o que é necessário para bem exercer a profissão (BASTOS et al., 2010, p.268)

Ao realizar um levantamento sobre a formação, Valle Cruces (2008) resume os principais problemas detectados:

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Consideramos que para falar de formação é necessário falar de profissão. Para Holanda (1997), formação e o exercício profissional constituem um processo contínuo e, por isso, é necessária uma parceria que “envolva um empenho mútuo na direção de uma formação adequada para o futuro psicólogo” (HOLANDA, 1997, p.12) entre as entidades formadoras e os Conselhos de Psicologia. Os cursos de graduação de Psicologia têm a enorme responsabilidade de formar os futuros psicólogos, por outro lado, é função dos Conselhos, entre outras coisas, “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo” e “zelar pela observância do Código de Ética Profissional” (BRASIL, 1971).

Nos dias de hoje, o Documento do CFP sobre a Formação de Psicólogas e Psicólogos (GRUPO DE TRABALHO FORMAÇÃO, 2012) adiciona que apesar da grande função do Conselho na atuação sobre a formação do psicólogo, é responsabilidade imediata dos centros universitários e associações científicas e profissionais, como a ANPPEP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia) e ABEP (Associação Brasileira de Ensino de Psicologia), cuidar dessas questões.

É inegável a relação entre formação e profissão, porém ainda não se superou o pensamento dicotômico, e estas instâncias indissociáveis não têm sido trabalhadas como tal. Holanda (1997) exemplifica que, já que deve ser garantida a ética do psicólogo, o ideal seria que durante a formação fosse proporcionado ao estudante condições para que construa o seu compromisso ético e desde então assuma um papel como transformador social. E, Paiva e Yamamoto (2010) afirmam que, ao isolarmos profissão e formação, temos como resultado não apenas “formações insuficientes e desconectadas da realidade social” (p.156), mas também geramos insegurança e angústia para os psicólogos ao se inserirem nos diversos campos de atuação.

A formação deve servir de resposta às novas demandas da atuação profissional ao ser um espaço de construção de superações das práticas já estabelecidas. Algumas mudanças na profissão podem ser identificadas, mas será que elas refletem na formação?

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uma mudança na população atendida, somando os segmentos socialmente excluídos. Por fim, o compromisso do profissional pela transformação social passa a ser colocado como importante. Porém, Gonçalves e Bock apontavam em 1996 que “a formação dos psicólogos não parece estar caminhando nesta direção” (GONÇALVES e BOCK, 1996, p.148). As autoras afirmam que as mudanças identificadas no trabalho de Bastos e Achcar (1994) pouco têm sido absorvidas pelos currículos de Psicologia e que ainda se está transmitindo um modelo de atuação baseado na visão liberal de homem deslocado de sua realidade social.

Segundo Bock (1997), a formação dos psicólogos tem sido dominada pela visão liberal, assim, os psicólogos têm-se formado na perspectiva da naturalização do homem e do individualismo. Assim, ela coloca uma série de elementos para basear a construção de um novo projeto de formação crítica, são eles: pluralidade, estímulo à pesquisa, criatividade, interdisciplinaridade, formação generalista, treino da prática e, fundamentalmente, uma formação colada à realidade brasileira. Este último ponto é confirmado por Mancebo (1997), ao afirmar que os cursos são alheios às necessidades brasileiras.

Convergindo nesta mesma visão de Psicologia, Azerêdo (2002) acredita que para responder às demandas da realidade brasileira, o grande desafio da Psicologia é introduzir a dimensão política na formação com o objetivo de alcançar uma nova prática de pensamento que atue contra o sistema de desigualdade. O que é corroborado pelo Grupo de Trabalho Formação do CFP (2012) ao afirmar que um dos maiores problemas da formação do psicólogo brasileiro é a ausência de um projeto ético-político para a profissão.

O Grupo de Trabalho Formação afirma que “o CFP está consciente da defasagem ético-política no que tange à questão teórica e técnica da formação do psicólogo” (2012, p.7) e que urge a necessidade de uma adequação da formação às novas demandas sociais. Adequar a formação às demandas sociais implica-nos definir quais delas são foco da nossa atuação. Para tanto, Bicalho et al. (2009) afirmam que:

[...] é preciso adquirir a clareza de que nosso trabalho profissional é também um trabalho político, nunca isento nem neutro. Nossas práticas envolvem uma concepção de mundo, de sociedade, de homem, de humano, exigindo um posicionamento sobre a finalidade da intervenção que fazemos, a qual envolve a certeza de que nossas práticas têm sempre efeitos, exigindo que tomemos, portanto, posições (p.33).

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3.3 Panorama dos cursos no Brasil

O levantamento dos dados do Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da Educação, realizado por Lisboa e Barbosa (2009), identifica que, em 2007, o psicólogo brasileiro está, em sua maioria, sendo formado “em um curso de graduação presencial de uma universidade privada com fins lucrativos localizada no interior do País, principalmente da Região Sudeste” (LISBOA e BARBOSA, 2009, p.734).

A partir do acesso ao Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da Educação (e-MEC), no dia 27 de setembro de 2013, foi realizado um panorama dos cursos de Psicologia na atualidade brasileira. A busca feita por bacharelado em cursos de Psicologia que esteja em atividade apresentou como resultado de 454 diferentes IES divididas nos 27 estados do Brasil.

A região Sudeste ainda é a de maior concentração de IES que oferecem cursos de Psicologia, apresentando o total de 43% (Gráfico 1). Em segundo lugar, tem-se a região Nordeste, com 21%, seguida da região Sul, com 20%. O Centro-Oeste apresenta 9%, e o Norte, 7%.

Gráfico 1 - Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao analisar este panorama, identifica-se que apenas o estado de São Paulo assume 18% das IES (Tabela 1), número próximo às regiões Nordeste e Sul, e superior às demais. Isto demonstra a desigualdade presente na distribuição de cursos de Psicologia em nosso país.

7%

21%

9%

43% 20%

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Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro

Norte Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste Sul Geral

Estad o

IES Estad o

IES Estad o

IES Estad o

IES Estad o

IES

AC 2 AL 4 DF 7 ES 12 PR 34

AM 8 BA 37 GO 13 MG 47 RS 33

AP 3 CE 11 MT 8 RJ 23 SC 24

PA 4 MA 3 MG 11 SP 82

RO 10 PB 9

RR 2 PE 16

TO 3 PI 7

RN 5

SE 4

Total 32 96 39 196 91 454

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em geral, tem-se que a realidade da formação em psicologia não mudou muito nos últimos cinco anos. Como dado complementar, Lisboa e Barbosa (2009) indicam que os cursos possuem um caráter mediano em relação aos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e que este dado deve ser lido como um problema a ser enfrentado pela Psicologia.

É apresentado aqui um panorama que demonstra a desigualdade dos cursos de Psicologia em relação à região. Yamamoto et al. (1999) afirmam que a produção científica da

psicologia no Brasil tem sua concentração geográfica (80%) no eixo sul-sudeste, e que esse dado indica uma “desigualdade na distribuição de recursos, na oferta de oportunidades educacionais e de formação científica” (p.558). Esse dado pode ser relacionado com a grande concentração de IES nas mesmas regiões brasileiras e escassez em outras, o que é consequência e acaba produzindo os mesmos fatores identificados por Yamamoto et al. (1999).

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4 POR UMA FORMAÇÃO PARA A REALIDADE BRASILEIRA

4.1 Análise da Legislação e Diretrizes Curriculares

A legislação da formação do psicólogo se deu concomitantemente à regulamentação da profissão, portanto seguem uma mesma visão de profissional. Segundo a Lei n. 4.119, que regulamenta a profissão do psicólogo:

Constitui função privativa do Psicólogo a utilização de método e técnicas psicológicas conseguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento (BRASIL, 1962, p.2)

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Quadro 4 – Disciplinas do Currículo Mínimo para os cursos de Psicologia

1. Fisiologia; 2. Estatística;

3. Psicologia Geral e Experimental; 4. Psicologia do Desenvolvimento; 5. Psicologia da Personalidade; 6. Psicologia Social;

7. Psicopatologia Geral;

8. Técnicas de Exame Profissional e Aconselhamento Psicológico; 9. Ética Profissional;

10. /12 Três dentre as seguintes: a) Psicologia Excepcional;

b) Dinâmica de Grupo e Relações Humanas; c) Pedagogia Terapêutica;

d) Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem; e) Teorias e Técnicas Psicoterápicas;

f) Seleção e Orientação Profissional; g) Psicologia da Indústria.

Fonte: Desenvolvido pela autora.

Já foi discutido neste trabalho que esta regulamentação reflete o caráter de profissional liberal dado ao psicólogo com sua prática voltada ao atendimento individual a partir de práticas “psicologizantes” dos sujeitos (BOCK, 1997). Do mesmo modo, Ribeiro e Luzio (2006) analisam que o currículo mínimo aponta de forma clara para a formação de um profissional que enxerga o sujeito de forma individual e tem como objetivo tratar problemas de ajustamento.

Segundo Ferreira Neto (2004), o Currículo Mínimo possuía um caráter conteudista e enxergava a formação como uma aplicação de conhecimentos. Para tal autor, isso possibilitava a importação de modelos teóricos estrangeiros sem uma devida crítica e contextualização deles para a nossa realidade. É apenas a partir das diretrizes curriculares de 2001 que é podemos identificar uma mudança da legislação da formação em relação ao compromisso social.

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Gráfico 1 –  Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do  Brasil..............35
Gráfico 1 - Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do Brasil
Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro
Tabela 4 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por Região
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Referências

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