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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUCSP Fernanda Pereira Penedo

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP

Fernanda Pereira Penedo

ESTRATÉGIAS E MARCADORES CONVERSACIONAIS NA

CONSTRUÇÃO DO DIÁLOGO EM

OS NOVOS,

DE LUIZ VILELA.

Mestrado em Língua Portuguesa

(2)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP

Fernanda Pereira Penedo

ESTRATÉGIAS E MARCADORES CONVERSACIONAIS NA

CONSTRUÇÃO DO DIÁLOGO EM

OS NOVOS,

DE LUIZ VILELA.

Dissertação a ser apresentada à Banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial da obtenção do título de mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Dino Preti.

Mestrado em Língua Portuguesa

(3)

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

__________________________________

(4)

Aos meus pais Alberto Penedo e Angelúcia Sereni Pereira Penedo e ao meu irmão Marcelo por todo amor e apoio recebido durante minha formação.

(5)

Agradecimento

Agradeço, primeiramente à Deus pela força e fé que se mantiveram forte até o final

deste trabalho.

Com muito carinho agradeço:

aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado, acreditaram e me incentivaram;

ao meu irmão, melhor amigo em todos os momentos difíceis;

ao meu orientador, meu mestre, professor do qual sinto muito orgulho pela orientação:

Dr. Dino Preti. Sou grata por todo conhecimento recebido;

a querida professora Ana Rosa pelo incentivo e credibilidade;

a professora Dr. Wilma pelas valiosas sugestões e considerações;

aos colegas de curso e de trabalho pela paciência durante este período importante

para mim.

(6)

A literatura não é outra coisa além de um sonho dirigido.

Jorge Luis Borges

Literatura é a imortalidade da fala.

(7)

Resumo

Este estudo tem por finalidade identificar marcadores e estratégias conversacionais utilizadas pelas personagens no diálogo de ficção. Utilizamos trechos retirados do

corpus selecionado para análise do diálogo construído, do romance Os novos, do

contista mineiro Luiz Vilella. Na obra, podemos destacar os esquemas utilizados pelas personagens em diferentes situações de comunicação e observar o rico exemplário de variações típicas da linguagem oral. O corpus não representa uma transcrição,

mas substitui as gravações de conversações em situações naturais. As construções das falas das personagens criadas por Vilela, muitas vezes se aproximam da realidade linguística falada do leitor. Vilela transmite informações inerentes ao processo interacional para a construção de seus diálogos, transformando seus textos em excelente fonte de estudo da conversação por meio de textos escritos.

Palavras-chave: Análise da conversação, estratégias e marcadores conversacionais.

(8)

Abstract

This study aims to identify markers and conversational strategies used by the characters in the dialogue of fiction. We use excerpts taken from the corpus selected for analysis of dialogue built, the novel The new, the storyteller mining Luiz Vilella. In the work, we highlight the schemes used by the characters in different communicative situations and observe the rich set of examples of typical variations of oral language. The corpus is not a transcript, but replaces the recordings of conversations in natural situations. Constructions of lines of characters created by Vilela, often approaching the reality spoken language of the reader. Vilela transmits information regarding the interaction process for the construction of his dialogues, transforming its texts into excellent source of study of conversation through written texts.

(9)

Sumário

Considerações iniciais………...13

Capítulo I………..…...…16

Corpus 1.1. Os novos, de Luiz Viela………..……….....16

1.2. O autor: Luiz Vilela ……….……...….16

1.3. Contexto histórico –Ditadura militar………..…...19

1.3.1. Fatores que antecederam o golpe de 64………....…..19

1.3.2. A República de 46 a 64 ………...……….....…20

1.3.3. Governo Dutra ………....…....21

1.3.4. O segundo governo de Vargas ………..……....22

1.3.5. Governo de Juscelino Kubitschek ……….……….……..22

1.3.6. Jânio quadros ……….……….…...23

1.3.7. O golpe de 1964 ……….…………..…...25

1.3.8. Cronologia do período da Ditadura ……….….…28

1.4. Sobre a obra ……….….……..…35

Capítulo II ………..…………..…39

2.1. A Fala e a escrita ……….………....39

2.2. Análise da conversação ………...50

2.3. Características organizacionais da conversação: turnos conversacionais………....…..52

2.4. Reparações e correções na conversação ...57

2.5. Organização de sequências: Pergunta e resposta ……….…………..….58

2.6. Estratégias conversacionais……….……….….…..61

(10)

2.6.2. Ironia na fala ……….66

2.6.3. Preservação da face...67

2.7. Marcadores conversacionais interativos ………..…….….…..68

2.7.1. Formas de tratamento na conversação ………..……….…..73

2.7.2. O contexto ou situação de comunicação ………….…….…………...….75

2.8. Tratamento dos dados orais ………..…….76

2.9. A conversação literária ……….....…..…79

Capítulo III ………...…..…83

A oralidade em Os novos, de Luiz Vilela...83

3.1 Estratégias conversacionais observada no corpus ………….…………...84

3.1.1. Discurso irônico……….……….……...85

3.1.2. Gírias e linguagem obscena...……….……….……..……….…..….89

3.2. Marcadores conversacionais como estratégia de interação observados no corpus....93

3.2.1. Sinais conversacionais verbais ……….………...….…..93

3.2.2. Duplicação na fala ………..…….96

3.2.3. Formas de tratamento a gente ………...97

3.2.4 Registro oral culto observado no corpus ………98

3.3. Organização conversacional ……….……….………….....101

Considerações Finais………..…….103

Referências bibliográficas………..….....105

(11)

Considerações iniciais

Temos, hoje, muito mais conhecimento sobre a oralidade e a escrita. Porém esse conhecimento não se apresenta satisfatoriamente em nossas práticas. Pretendemos com este trabalho divulgar e ampliar discussões acerca da oralidade para melhor compreensão dos usos da língua. Partiremos do princípio de que o uso da língua depende da intenção de comunicação, ou seja, não se produz um diálogo ou um texto, pensando somente na forma, na gramática e na morfologia a ser utilizada. A produção de sentidos depende, e muito, da intenção comunicativa, para dessa forma chegar a um discurso significativo adequado às práticas e às situações sociais.

Não faremos uma distinção rígida entre a fala e a escrita, mas trataremos das duas modalidades da língua conforme suas características relativas ao uso, à situação de comunicação, conforme propõe Marcuschi:

Em certos casos, as proximidades entre fala e escrita são tão estreitas que parece haver uma mescla, quase uma fusão de ambas, numa sobreposição bastante grande tanto nas estratégias textuais como nos contextos de realização. Em outros, a distância é mais marcada, mas não a ponto de se ter dois sistemas linguísticos ou duas línguas, como se disse por muito tempo. Uma vez concebidas dentro de um quadro de inter-relações, sobreposições, gradações e mesclas, as relações entre fala e escrita recebem um tratamento mais adequado, permitindo aos usuários da língua maior conforto em suas atividades discursivas (2007:9).

Este trabalho, desenvolvido e orientado pelo professor Dino Preti, tenta mostrar caminhos para que seja possível descobrirmos, no diálogo construído, marcadores conversacionais que se revelam na produção de textos ficcionais, levando em consideração o contexto histórico-cultural, ou seja, o retrato de uma sociedade conforme sua época e seus costumes. Contudo admitir que as variantes da oralidade sejam inclusas na escrita literária.

(12)

O interesse pela escolha do tema proposto justifica-se pela escassez de pesquisas realizadas sobre a questão da oralidade e o processo (organização) de interação por meio de sua utilização.

De acordo com (Tannen apud Siqueira, 2006): “o diálogo artificial pode

representar um modelo ou esquema internalizado para produção da conversação, um modelo de competência que os falantes têm acesso”. Por isso não trataremos o diálogo literário como representação de uma conversação natural, mas como um recurso de substituição das gravações. Optamos por um diálogo construído, isto é, um diálogo elaborado e criado por um autor, por mostrar na língua literária marcadores da oralidade, marcadores esses que tanto na fala quanto na escrita servem para melhorar a comunicação, a interação e a relação afetiva ou não, entre interlocutores.

Diante do exposto até aqui, definimos que para tal estudo seria oportuna a seleção do romance Os novos, de Vilela, obra publicada na dácada de 80 do

século passado. A selecionamos porque apresenta um diálogo construído por meio de estratégias e marcadores conversacionais muito semelhantes e próximos da fala.

Ao longo do romance o autor nos apresenta por meio de diferentes situações comunicativas, fatos históricos referentes ao povo brasileiro durante o período da ditadura militar. É possível percebermos na obra, situações que parecem ser relatos do período em que as pessoas eram proibidas de manifestarem suas opiniões contra o governo durante a ditadura por causa da pressão sofrida, e para que nenhum comentário de oposição ao governo fosse proferido. Vilela (1984) seleciona como palco o período de mais censura e repreensão da sociedade brasileira, a ditadura militar, ou seja, um regime comandado por militares. Todo o poder político centrava-se nesse regime autoritário que começou em 1º de abril de 1964 até 15 de março de 1985. De origem mineira, Luiz Vilela retrata as consequências do golpe de 1964. Fatos que também ocorreram em seu Estado de origem.

Outra razão pela escolha está no comportamento linguístico e no emprego de variantes na linguagem das personagens.

(13)

No primeiro capítulo a análise centra-se no contexto da obra, informando ao leitor as situações de produção do corpus selecionado.

Após breve apresentação de dados do contexto histórico da obra selecionada, no segundo capítulo, seguimos com uma questão crucial para a pesquisa: a relação existente entre a fala e a escrita dentro de um continnum

tipológico que defende a importância da fala e suas características. Analisaremos, portanto, cada uma das modalidades de usos da língua dentro da situação de comunicação, seja ela falada ou escrita, sem que haja rígidas distinções, e observando as relações entre elas para sustentar nossa análise. Servimo-nos das duas modalidades da língua para que haja comunicação. Por isso consideramos a fala e a escrita duas práticas sociais.

Com a intenção de analisarmos as marcas da oralidade no diálogo construído, faremos menção à teoria da Análise da Conversação, ciência responsável pela análise das ocorrências de interação em situações cotidianas que procura descrever aa formas de interações formais e informais.

Por fim, no terceiro e último capítulo deste trabalho, apresentaremos a análise das estratégias e marcadores conversacionais utilizadas por Luiz Vilela (1984) na construção do diálogo das personagens do romance, mas também mostrar ao leitor como as pessoas interagem e sustentam uma interação por meio do diálogo. As personagens são jovens estudantes e professores universitários. A linguagem apresentada no diálogo contruído mostra uma linguagem obscena, com palavrões e gírias, com repetições, com o intuito de representar no texto literário o modo como as pessoas interagem por meio da conversação natural, aquela aprendida por meio da inserção social do indivíduo em uma comunidade.

Nas considerações finais, verificaremos se os objetivos em relação à proposta foram atingidos. Assim como garantir que este estudo contribua para outras pesquisas linguísticas centradas na oralidade.

(14)

Capítulo I

Corpus

1.1. Os novos, de Luiz Viela.

Para que o objetivo desta pesquisa seja atingido, faz-se necessária a escolha cuidadosa do corpus. Com o intuito de exemplificarmos como a

oralidade é representada em textos literários, selecionamos dentre as muitas opções, aquela apresentada pelo escritor Luiz Vilela (1984). Trata-se de um autor que representa um papel fundamental para a literatura brasileira, utilizando como recurso na produção de suas obras, determinados diálogos cujas principais características se aproximam da realidade linguística. De modo que, ao fazermos a leitura, torna-se possível identificar as muitas semelhanças existentes.

Analisaremos nesse corpus, conforme a situação de comunicação,

algumas estratégias e alguns marcadores conversacionais comuns na fala. A análise ocorrerá sob o enfoque da teoria da Análise da Conversação. Por haver diversas situações de comunicação nesse romance, torna-se fácil as exemplificações que faremos no decorrer da pesquisa, de acordo com as estratégias e os marcadores conversacionais escolhidos por Vilela.

1.2. O autor: Luiz Vilela

(15)

Cresceu numa família que lia muito, sendo que na casa onde morava havia livros por toda parte. Pode-se inferir que seja este o motivo de tanto interesse pelos livros manifestado pelo autor, desde pequeno.

Ainda adolescente, já com 15 anos de idade, em Belo Horizonte, fez o curso clássico. Dando continuidade aos estudos, entrou para faculdade e formou-se em Filosofia. Não deixou de escrever durante sua formação e tornou-se conhecido por suas participações em concursos de contos na imprensa mineira.

Com 21 anos apenas, já teve outra importante participação: criou uma revista só de contos. Foi auxiliado, para a criação da revista, por outros jovens escritores. Foram os próprios autores que pagaram para que a revista fosse publicada, porque não conseguiram apoio financeiro. Marcaram época devido a grande repercussão da revista.

Em 1967, aos vinte e quatro anos, Vilela publicou seu livro de contos

Tremor de terra, obra recusada por vários editores. Com este livro participou de

um concurso em Brasília. Dentre os 250 escritores, Vilela ganhou o Prêmio Nacional de Ficção. Devido ao prêmio, Tremor de terra foi reeditado por uma

grande editora do Rio, tornando Vilela conhecido por todo o Brasil e reconhecido como a revelação literária do ano.

Foi elogiado por Nelson Werneck, um historiador, pelo biógrafo Raimundo Magalhães Junior e pelo humorista Stanislaw Ponte Preta. Foi escolhido como o escritor representativo de sua geração e logo inserido na galeria dos grandes prosadores brasileiros.

Vilela mudou-se para São Paulo, em 1968, para trabalhar como repórter e redator no Jornal da Tarde. Publicou, mais tarde, em 1979, o livro O inferno é

aqui mesmo, uma obra baseada em suas experiências e na realidade que

conhecia, nesse caso, o Jornal da tarde.

Em 1968, ainda, recebeu convite para participar de um programa internacional de escritores, o International Writing Program, permanecendo por nove meses nos Estados Unidos. Lá conclui mais um romance, Os novos.

(16)

um crítico mineiro de “fogos de artifício”. Prova disso foi a opinião de Temístocles Linhares, em O Estado de S. Paulo: “ se não todos, quase todos

os problemas das gerações, não só em relação à arte e à cultura, como também em relação à conduta e à vida, estão postos neste livro”. Fausto Cunha, em Jornal do Brasil, também teceu comentários sobre a obra: “sua geração não produziu ainda nenhuma obra como essa, na ficção.” (Vilela, 1989:222)

Luiz Viela percorreu vários países, mas fixou sua residência em sua cidade natal. Inspirado pelas grandes transformações da cidade escreveu seu terceiro romance, Entre amigos. Obteve mais um sucesso. Edilberto Coutinho,

em O Globo também comentou: “uma literatura, realmente, de valor universal,

na medida que retrata uma realidade bem nossa, dos nossos dias e de sempre”.

Recebeu prêmios nacionais de ficção, porém foi em 1968, no I e II Concurso Nacional de Contos do Paraná que recebeu importante observação de Antonio Candido, que fazia parte da comissão julgadora, afirmando o que para nós neste trabalho é fundamental: “a sua força está no diálogo e, também, na absoluta pureza de sua linguagem.”

Em 1973, com o livro O fim de tudo, ganhou o Prêmio Jabuti. O livro

foi publicado pela editora que Vilela, em companhia de um amigo, fundou em Belo Horizonte, a Editora Liberdade (Cf. Vilela, 1989).

Em um depoimento num encontro nacional de escritores, em Brasília, disse:

Escrevo ficção por uma necessidade de contar histórias, não importa a quem nem para quê. Uma necessidade que surgiu na adolescência e que com o tempo se tornou tão vital quanto comer e dormir, e, em certas circunstâncias, até mais. Hoje, não consigo me imaginar vivendo sem escrever. Parar de escrever seria uma espécie de morte – seria realmente morrer. (Vilela, 1989:224)

(17)

Algumas estratégias utilizadas por Vilela na elaboração de seus diálogos, criam no leitor a expectativa de uma conversação natural.

1.3. Contexto histórico – Ditadura militar

1.3.1. Fatores que antecederam o golpe de 64

Por meio de registros históricos elaborados pelo homem, podemos tomar ciência de fatos ou eventos que não presenciamos ou vivenciamos. Com esses registros passamos a conhecer a trajetória humana, ou seja, o caminho trilhado pelo homem até os dias atuais, bem como seus feitos, seu desenvolvimento ao longo do tempo. Entendemos os registros históricos como documentos que descrevem por meio da escrita, da música, da arte, o passado da humanidade, que por diversas vezes substituem a memória humana.

Muitos consideram uma arte escrever história. Uma arte em contar fatos reais ocorridos em diferentes contextos históricos e socioculturais.

Em alguns períodos da nossa história tivemos que enfrentar a falta de liberdade de expressão e um regime político militar influenciado pelo autoritarismo comandado por ditadores. Principalmente os que comandaram no período de 1964 a 1985.

(18)

regime conhecido como Estado Novo, para que pudesse governar com poder absoluto. Em 10 de novembro de 1937, mesmo ano em que a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi criada, assinou uma nova Constituição, a Carta de

1937, com características bem parecidas com a Constituição da Alemanha, no

governo de Hitler, da Itália, do governo de Mussolini e de Portugal, no comando de Salazar.

Quando ocorrido o golpe de Estado, não houve resistência nenhuma do povo ou de grupos da oposição. Porém Vargas não cumpriu com algumas promessas, como a de criar um único partido político no país. Em consequência disso, até mesmo seus aliados voltaram-se contra o governante. Após uma tentativa da tomada de poder, o governo reagiu com medidas muito severas como a instituição da pena de morte, a prisão e o exílio de seus adversários políticos. Foi nesse período que o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) passou a controlar a publicação artística de revistas, livros e jornais.

Em 1945 aconteceu o 1º Congresso Brasileiro de Escritores em que autores como Jorge Amado, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, pediam liberdade de expressão e demonstravam repúdio ao regime criado por Getúlio Vargas. Em seguida a esse acontecimento, um antigo colaborador de Vargas, em uma entrevista para o jornal Correio da manhã criticou o Estado Novo.

Ná época, conhecidos escritores faziam pedidos e se manifestavam publicamente. Dessa forma, era praticamente impossível impedir e controlar as manifestações públicas contrárias ao regime. Um novo golpe foi preparado pela força política conservadora e militar (Pedro, 2005:490-498).

1.3.2. A República de 46 a 64

(19)

Eurico Gaspar Dutra 1946 a 1951

Getúlio Vargas 1951 a 1954

João Café Filho (vice-presidente exercendo a presidência) 1954 a 1955

Carlos Luz (presidente da Câmara dos Deputados, exercendo a presidência de 9 a 11 de novembro por motivo de doença do presidente)

1955

Nereu Ramos (exercendo a presidência por deposição de Carlos Luz) 1955 a 1956

Juscelino kubitschek 1956 a 1961

Jânio Quadros (de 31 de janeiro a 25 de agosto) 1961

Ranieri Mazzili (presidente da Câmara dos Deputados, exercendo a presidência por alguns dias)

1961

João Goulart 1961 a 1964

1.3.3. Governo Dutra

Eurico Gaspar Dutra foi presidente, e assinou uma nova Constituição em 1946. Nela o Brasil se mantinha como República Federativa e respeitava os direitos adquiridos pelos trabalhadores após a Revolução de 1930. Embora quisesse manter uma constituição democrática, o governo Dutra se distanciava de seus princípios e novamente os sindicatos, além dos jovens que o criticavam, foram perseguidos. Por esta razão o governo de Eurico Gaspar Dutra tornou-se repressivo e antipopular.

(20)

movimentos foi mais dura que no período do Estado Novo. Mesmo assim, Dutra permaneceu no comando até 1951 com a eleição de Getúlio Vargas novamente na presidência.

1.3.4. O segundo governo de Vargas

No segundo governo de Vargas tivemos a nacionalização das fontes de energia e combustíveis, além da exploração do petróleo com a criação da Petrobrás.

A política de melhoria das condições de vida do trabalhador, levou as classes conservadoras, contra essa política, a se oporem ao governo de Getúlio. Muitos militares também demonstraram descontentamento com o governo.

Em agosto de 1954 a situação política piorou muito. Militares consideravam a política desse período perigosa por atender e priorizar reivindicações de trabalhadores, operários e dar oportunidade de ação para o Partido Comunista. Só aumentava a revolta da oposição(Pedro, 2005). O suicídio de Getúlio foi decorrência dessa disputa política.

Devido aos fatos ocorridos, para terminar o mandato de Vargas, assumiram a presidência: Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos.

1.3.5 Governo de Juscelino Kubitschek

Uma nova eleição colocou no poder Juscelino Kubitschek, que só pode ser empossado com a intervenção do ministro da Guerra.

Conservadores e militares tentaram anular o resultado da eleição que deu a vitória a Kubitschek.

(21)

desenvolvimento em cinco de governo”. Para que seus planos fossem atingidos, o mais importante era investir no desenvolvimento de dois setores: das indústrias de base e as de bem de consumo duráveis.

Apesar dos investimentos, a política econômica vigente trouxe problemas como o aumento das diferenças econômicas entre a população do campo e a da cidade, em paralelo com a concentração do desenvolvimento na região sudeste maior que em outras áreas do país.

1.3.6. Jânio quadros

Jânio foi eleito presidente do Brasil para o período de 1961 a 1965 com uma grande vitória justificada pela sua popularidade. Teve o apoio dos trabalhadores, de grupos mais conservadores da sociedade juntamente com a União Democrática Nacional (UDN), liderada por Carlos Lacerda.

Janio Quadros prometeu acabar com a corrupção e por esta razão usou em sua campanha uma vassoura como símbolo com o intuito de “limpar” o Brasil da desonestidade.

Após sua posse não tivemos o que foi prometido por Janio, que não apresentou o mesmo dinamismo da época de campanha e dessa forma perdia a simpatia popular (Santos, 1992:163).

Assim, o historiador Pedro (2005:486) nos confirma:

Sem um programa claro, Jânio confundia governar com punir, e administrar com proibir. Pautado por questões menores, não voltou a sua atenção para os grandes problemas nacionais. Estava mais preocupado em proibir corridas de cavalos nos dias de semana, biquínis nas praias e o uso do tradicional lança-perfume. Por outro lado, tomou medidas de caráter punitivo e vingativo contra getulistas e partidários de Juscelino, provavelmente atendendo à vontade dos políticos conservadores e reacionários da UDN.

(22)

O descontentamento contra o governo aumenta a cada dia. Mesmo assim, Janio apostava em sua política antipopular, que mais tarde resultou em uma crise política.

A situação piorou muito, quando Janio fez do Brasil uma nação líder entre os países subdesenvolvidos e estabeleceu relações comerciais e diplomáticas com países socialistas.

Até mesmo a UDN passou a criticar essas relações diplomáticas, e a comando de Carlos Lacerda iniciou uma intensa e forte campanha contra o governo. Em consequência Janio perdeu o apoio do congresso sentindo-se obrigado a renunciar seu cargo, de residente da República, após sete meses de mandato em 25 de agosto de 1961.

Sem que houvesse qualquer movimento popular pedindo sua volta, o presidente da câmara, Ranieri Mazilli, assumiu a presidência da República até que João Goulart, vice-presidente de Janio assumisse o governo.

Goulart já foi ministro do trabalho no governo de Getúlio Vargas e também vice-presidente de Juscelino Kubitschek.

Em seu governo defendia uma política favorável à classe trabalhadora. Mais uma vez militares e conservadores também tentaram impedir sua posse, porém a tentativa foi em vão, nada conseguiram e Goulart tomou posse do governo, dando prosseguimento aos principais objetivos de diminuir a inflação, impedir que empresas estrangeiras enviassem para o exterior o lucro que ganhavam no Brasil, nacionalizar algumas empresas estrangeiras e por fim fazer uma reforma agrária. Intencionou por em prática as Reformas de Base, ou seja, um plano de desenvolvimento nacionalista. Embora houvesse intenção de aplicar seu plano, não foi possível sua realização. O governo não conseguiu controlar a desvalorização do dinheiro, alta inflação e as reivindicações dos operários para o aumento do salário.

Descontentes com a situação, empresários, proprietários de terra, setores da classe média em parceria com militares, organizaram-se para a derrubada do presidente.

(23)

Partido Socialista Brasileiro (PSB) e de comunistas, desde que executasse as reformas de base.

A intensidade da agitação social e política nesse período era muito forte. Greves e manifestações nas ruas, tanto para apoiar, quanto para protestar contras as medidas do governo, tornavam-se frequentes.

O Brasil tornou-se um país dividido em grupos de interesses opostos. Por causa dessa rivalidade houve a queda de João Goulart em 1964.

1.3.7. O golpe de 1964

No início de 1964, em 13 de março, Goulart anunciou algumas medidas importantes, como a nacionalização de algumas refinarias e a reforma agrária, em um comício no Rio de Janeiro. Dias depois, em São Paulo, seus opositores realizaram uma manifestação, a “Marcha da família com Deus pela Liberdade”. Esse evento aumentou o clima para uma intervenção militar. (Santos, 1992:165)

A manifestação aconteceu no dia 31 de março de 1964, dando início a um novo período da história do Brasil. Militares assumiram o comando político do país (Santos, 1992:169);

Humberto de Alencar Castelo Branco 1964 a 1967

Artur da Costa e Silva 1967 a 1969

Junta militar (exercendo a presidência de 31 de agosto a 30 de novembro por doença do presidente)

1969

(24)

Ernesto Geisel 1974 a 1979

João Baptista Figueiredo 1979 a 1985

As indicações justificavam-se pela necessidade de se combater o comunismo e a corrupção.

Uma das características mais importante, valendo-se do ponto de vista político, foi o fortalecimento do governo federal.

No novo regime os presidentes militares governavam por meio de Atos Institucionais (AI), ou seja, leis elaboradas pelo poder Executivo.

Outra característica, tão importante, quanto marcante, foi o uso da força, da tortura e da repressão, marcadas pelas perseguições às pessoas que se opunham ao novo regime e aos que apoiaram as Reformas de Base e o governo de João Goulart, como aqueles que faziam parte da UNE, da Central Geral dos trabalhadores e outras organizações que tiveram seus líderes presos ou exilados pela ditadura.

Marechal Castelo Branco, como primeiro governante adotou medidas como o AI-1.

Foi eleito, em 1967, para substituir Castelo Branco, o Marechal Artur da Costa e Silva apresentando um governo com amplos poderes para: cassar mandatos, suspender direitos políticos, interferir na política dos Estados e municípios, além de suspender o direito de habeas corpus.

Uma junta militar formada em 1969 por ministros do exército da Marinha e da Aeronáutica, assumiu o mandato de Costa e Silva que havia adoecido gravemente. Foi nessa época que ocorreram muitos protestos, manifestações estudantis e greves operárias contra toda ação do governo.

Preocupados com essas manifestações da oposição, militares criaram uma nova constituição, instituindo o fim das imunidades parlamentares, prisão perpétua e pena de morte para os crimes políticos praticados pelos opositores do regime militar.

(25)

progresso extraordinário do governo ficou conhecido como “milagre econômico”. No entanto, esse milagre favoreceu apenas os industriais e parte da classe média.

No governo Médici, a censura aos meios de comunicação impedia que se publicassem livros, jornais e revistas. Era uma forma de inibir as pessoas que tinham intenção de expressar suas opiniões contra o governo.

Para dar continuidade ao trabalho de Médici, o General Ernesto Geisel assume em 1974 a presidência e não demorou para enfrentar dificuldades para dar continuidade no plano econômico, ou seja, o “milagre econômico”.

Concomitantemente a esse fato, houve um forte movimento pela volta das liberdades democráticas, com a participação do Movimento Democrático Brasileiro, da igreja, dos sindicatos, dos estudantes, intelectuais, da imprensa e até mesmo políticos que apoiaram o movimento pondo em risco o governo Médici.

Geisel assumiu o cargo da presidência até 1979, quando o General João Baptista Figueiredo foi empossado como novo presidente da República, enfrentando graves problemas econômicos e grande aumento da inflação. Em oposição a esses fatores negativos ao seu governo, o retorno gradativo à vida democrática foi um dos aspectos positivos de Figueiredo.

Logo o país começou a viver uma nova república, uma nova constituição elaborada mais tarde em 1988 para garantir ao Brasil que se mantivesse num regime presidencialista e que o governante fosse eleito pelo povo.

As reivindicações muitas vezes negadas pelos governos, nesta nova fase, foram atendidas, para o contentamento da população brasileira. Como relembra Mesquita a respeito desse período:

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com o sangue generoso das famílias brasileiras as escadas que conduzem à Brasília (Mesquita, 2009:19).

De acordo com Mesquita (2009:22):

É certo que a maioria da oficialidade preferira, ao longo dos anos, não quebrar a ordem constitucional, mas havia outros princípios mais importantes para a instituição militar: a manutenção da ordem social, o respeito à hierarquia, o controle do comunismo. Quebrados esses princípios, a ordem se transformava em desordem, e a desordem justificava a intervenção.

Para manter a ordem social e garantir melhorias para o país, houve a necessidade de um golpe de estado comandado por militares, dando início ao regime militar como forma de governo.

1.3.8. Cronologia do período da Ditadura

Diante do contexto histórico exposto até aqui, é possível fazermos inúmeras analogias entre a realidade e a ficção. Podemos resumir os fatos históricos que tiveram destaque em “Os novos”, no seguinte cronograma:

1961

25/08 Renúncia de Jânio Quadros

30/08 Ministros militares declaram-se contrários à posse de João Goulart

(27)

1964

17/01 Regulamentação da lei de remessa de lucros.

13/03 Comício da Central do Brasil ou “das reformas”.

19/03 Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade em São Paulo (SP), espécie de resposta ao Comício da central.

20/03 O chefe do Estado-Maior do Exército, general Castelo Branco, divulga circular reservada entre seus subordinados contra João Goulart.

21 a 29/03 9 “Marchas” da família, com Deus, pela Liberdade, em

diversas cidades de São Paulo.

31/03 Inicia-se o movimento militar em Minas Gerais com deslocamento de tropas comandadas pelo general Mourão filho.

01/04 a 08/06 42 “Marchas” da Família, com Deus, pela Liberdade em

São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Piauí , Paraná e Goiás.

02/04 João Goulart segue de Brasília pra Porto Alegre. De lá, sairia do Brasil.

02/04 General Costa e Silva autonomeia-se comandante-em-chefe do

Exército nacional e organiza o “Comando Supremo da Revolução”.

04/04 O nome do general Castelo Branco é indicado para a Presidência da república pelos líderes do Golpe.

09/04 Decretado o Ato Institucional que confere ao presidente da República poderes para cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos até 15 de junho de 1964, entre outros poderes discricionários. 10/04 A sede da UNE é incendiada por participantes do movimento político militar.

13/04 O Diário Oficial publica decreto que extingue o mandato de todos os membros do conselho diretor da Universidade de Brasília.

Ocorre uma invasão policial e a intervenção na UnB.

Abril GPMI – Grupo Permanente de Mobilização Industrial – foi o primeiro de uma série de instrumentos gerados para adptar o poderio bélico das Forças Armadas à nova doutrina de segurança.

13/06 Criado o Serviço Nacional de Investigações (SNI).

(28)

1965

Ato Institucional N.2 extingue os partidos existentes, atribui à Justiça Militar o julgamento de civis acusados de crimes contra a segurança nacional e confere ao presidente da república poderes para cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos até 15 de março de 1967, entre outros dispositivos.

Início A UNE convoca um conselho para eleger, com mandato-tampão, o presidente que a chefiará até o 27o Congresso, em julho. Alberto Abissâmara, de tendências progressistas, é escolhido.

05/02 Ato Institucional N.3 estabelece eleição indireta para governadores.

01/04 No dia 1o, o Conselho Universitário, presidido pelo reitor Pedro Calmon, dissolve a diretoria do CACO – Centro Acadêmico de Direito UFRJ.

12/04 No dia 12, agentes do Dops e a Polícia Militar impedem com violência uma reunião do CACO – Centro Acadêmico de Direito UFRJ. As aulas são suspensas.Agosto Surgem os Diretórios Acadêmicos Livres.

23/09 São feitas manifestações contra a Lei Suplicy, no Rio de Janeiro. 03/10 O general Costa e Silva é eleito presidente da república pelo Congresso Nacional.

20/10 O general Castelo Branco decreta o recesso do Congresso Nacional até 22 de novembro em função da não aceitação de cassações.

1966

1966 a 1973 É o período da ilegalidade da UNE.

Março Uma passeata em Belo Horizonte contra o regime militar é brutalmente reprimida. A violência desencadeia passeatas estudantis em outros estados.

28/07 a 02/08 Mesmo na ilegalidade, é realizado o XXVIII Congresso da UNE, em Belo Horizonte, que marca a oposição da entidade ao Acordo MEC-Usaid. O congresso acontece no porão da Igreja de São Francisco de Assis. O mineiro José Luís Moreira Guedes é eleito presidente da UNE.

Setembro As aulas na Faculdade Nacional de Direito são suspensas e 178 estudantes paulistas são presos durante um congresso realizado pela UNE-UEE, em São Bernardo do Campo.

(29)

Desenvolvimento Econômico e Social (Mudes).

14/09 Alunos da Faculdade Nacional de Odontologia entram em greve de protesto e colocam cartazes nas imediações da faculdade. Há choque entre os estudantes e policiais do Dops.

18/09 A UNE decreta greve geral.

22/09 A UNE elege o dia 22 como o Dia Nacional de Luta contra a Ditadura.

23/09 A polícia invade a Faculdade de Medicina da UFRJ e expulsa estudantes com violência. O episódio ficou conhecido como o Massacre da Praia Vermelha.

1967

24/01 Promulgada a nova Constituição do Brasil.

11/03 O general Castelo Branco edita nova Lei de Segurança Nacional.

15/03 O general Costa e Silva é empossado na Presidência da República.

Agosto É realizado o XXIX Congresso da UNE, em Valinhos (SP), na clandestinidade. Luís Travassos é eleito presidente da entidade.

1968

28/03 O estudante Edson Luís de Lima Souto é morto durante conflito com a PM no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro (RJ).

29/03 Marcha de 50 mil pessoas repudia o assassinato de Edson Luis de Lima Souto.

29/03 A UNE decreta greve geral dos estudantes.

30/03 O ministro da Justiça, Gama e Silva, determina a repressão das passeatas estudantis.

01/04 Inúmeras passeatas estudantis irrompem em várias capitais brasileiras.

22/05 Lei N. 5.439 estabelece responsabilidade criminal para menores de 18 anos envolvidos em ações contra a segurança nacional.

04/06 Sessenta e oito cidades são declaradas áreas de segurança nacional e, por isso, seus eleitores ficam impedidos de escolher pelo voto direto, os respectivos prefeitos.

21/06 Prisão de trezentas pessoas na Universidade federal do Rio de Janeiro. As aulas são suspensas.

(30)

26/06 Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro.

16/07 Greve de Osasco (SP) inicia-se com a ocupação da Cobrasma. 29/08 Invasão do campus da Universidade Federal de Minas Gerais por tropas federais.

30/08 Invasão do campus da Universidade de Brasília por tropas policiais resulta em violência.

02/10 Invasão do prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) pelo Comando de Caça aos Comunistas e outros grupos.

Outubro É realizado clandestinamente o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP).

12/10 Prisão de estudantes em Ibiúna durante congresso da UNE. São presas mais de 700 pessoas, entre elas as principais lideranças do movimento estudantil: Luís Travassos (presidente eleito), Vladimir Palmeira, José Dirceu, Franklin Martins e Jean Marc Von Der Weid. 13/12 Ato Institucional N. 5 torna perenes os poderes discricionários que atribui ao presidente da República. O Congresso Nacional é posto em recesso.

Com o decretado AI-5. Centros cívicos substituem os grêmios estudantis.

1969

Inicio A UNE tenta manter uma direção com a eleição de Jean Marc Von Der Weid através dos Congressinhos Regionais.

26/02 Decreto-Lei N.477 dispõe sobre infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino. Que penaliza professores, alunos e funcionários de estabelecimentos de ensino público (até 1973, esse decreto atingiria 263 pessoas, a maioria estudantes).

16/05 O Ato Institucional N. 10 , dentre outros efeitos, levaria centenas de professores universitários à aposentadoria.

01/07 Criação da Operação bandeirantes (Oban), embrião da polícia

política conhecida como “sistema Codi-Doi” que seria implantada em

todo o país nos moldes da Oban.

31/08 Junta Militar, formada pelos ministros militares, assume o poder em função da doença de Costa e Silva, impedindo a posse do vice-presidente da República, que não concordara com o Ato Institucional N.5.

(31)

05/09 O Ato Institucional N. 14 estabele a pena de morte.

30/10 Posse do general Emílio Garrastazu Médice na presidência da República, já que fora caracterizada a incapacitação definitiva do general Costa e Silva.

1970

Inicio Com quase todas as lideranças presas ou exiladas, o movimento estudantil realiza atos isolados, dentre eles uma missa pelo segundo aniversário da morte de Edson Luís.

10/02 Estabelecimento da censura prévia de livros e revistas pelo decreto-lei N. 1.077.

20/05 Início das operações oficiais do CIE.

20/05 Decreto N.66.608 cria o centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa).

1971

30/03 Decreto N.68.447 reorganiza o Centro de Informações da Marinha (Cenimar).

07/09 Morte de Carlos Lamarca

Novembro O governo passa a editar “decretos reservados”.

1972

Inicio A AP passa a denominar-se Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

O presidente da UNE, Honestino Guimarães, desaparece.

1973

30/03 Alexandre Vannucchi Leme, aluno da Universidade de São Paulo (USP), é preso e morto pelos militares. A missa em sua

memória, realizada em 30 de março na Catedral da Sé, em São Paulo, é o primeiro grande movimento de massa desde 1968.

14/09 A Arena homologa o nome do general Ernesto Geisel como candidato à presidência da república.

1974 - Inicio O Colégio Eleitoral homologa o nome do general Ernesto Geisel para a presidência da República.

É criado o Comitê de Defesa dos Presos Políticos na Universidade de São Paulo (USP).

1975

(32)

repressão ao comunismo e à subversão.

26/10 Anunciada a morte do Jornalista Vladimir Herzog em dependências do II Exército (SP).

1979

01/01 Extinção do AI-5.

15/03 Posse do general João Baptista de Oliveira Figueiredo como presidente.

28/08 Decretada a anistia pelo governo Figueiredo. 29/11 Fim do bipartidarismo

1980

27/08 Carta-bomba explode na sede da OAB e mata a secretária Lydia Monteiro. Desde janeiro diversas bombas explodiram ou foram

encontradas no país.

1981

30/04 Integrantes do DOI do I Exército explodem acidentalmente uma bomba que planejam usar num atentado durante show de música no Rio Centro (RJ).

1983

Inicia-se uma campanha pelas eleições diretas para a Presidência da República.

1984

25/04 - A emenda constitucional restabelecendo as eleições diretas para presidente da República é derrotada no Congresso Nacional.

1985

15/01 Tancredo Neves e José Sarney vencem no Colégio Eleitoral a disputa com Paulo Maluf pela Presidência da República.

15/03 Posse do vice-presidente José Sarney na presidência da república em função de doença de Tancredo Neves.

21/04 Morte de Tancredo Neves.

1988

(33)

2005

04/07 Criado pelo Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC o Memorial dos Direitos Humanos.

Fonte: (http://www.sohistoria.com.br/ef2/ditadura/p3.php. Acesso em 13/08/12)

1.4. Sobre a obra

A edição lida para análise é de 1984, cuja primeira edição foi publicada em 1971. A obra foi escrita em um momento em que a política do país passava por um período conturbado, influenciando muito a literatura da época. O período era de crise econômica, mas de tentativas de colocar em prática o milagre brasileiro, uma economia justa sem inflações e também de muita censura. Qualquer manifestação artística tinha de passar por órgãos responsáveis em analisar o conteúdo e informações apresentadas. Caso houvesse trechos ou mensagens que apresentassem conteúdo considerado subversivo, automaticamente eram proibidas as publicações.

Luiz Vilela busca retratar temas cotidianos e de suma importância para análise e reflexão sobre o comportamento do homem em sociedade.

Os novos, apresenta uma realidade sociopolítica e um período da história

em que a expressão de liberdade artística necessitava de autorização para divulgação, muitas vezes proibida:

(34)

sua força. Sua geração ainda não produziu nenhum a obra com o essa, na ficção.”( http://gpluizvilela.blogspot.com.br/p/noticias.html, 13/08/12)

Os comentários feitos sobre Vilela, sobretudo em relação a sua ousadia, contribui para compreensão da relação entre a obra e nossa realidade.

Por ser inspirado na revolução de 1964, não há como não fazer a comparação do romance com fatos históricos registrados. O Estado de Minas Gerais, onde nasceu Vilela, foi palco da revolução. Foi o estado em que muitas manifestações contra o regime militar aconteceram. Muitos estudantes foram presos pelos protestos contra o governo e pela imposição da ditadura militar. Assembleias foram realizadas pela população e por estudantes para que houvesse acordo de soltarem seus colegas universitários. Universidades ficaram fechadas ou foram invadidas por policiais para controlar as manifestações estudantis.

Esta realidade é a mesma relatada por Vilela em sua ficção. Durante a leitura, não há como não nos imaginarmos no período em que ocorreu a ditadura militar. Esta obra pode ser considerada um dos registros históricos de uma triste realidade da nossa história recente.

O romance apresenta o retrato de um grupo, que tem de tomar decisões sem que suas esperanças e sonhos sejam sufocados. Este grupo é composto por jovens escritores que viam na literatura a oportunidade para expressar seus anseios e sentimentos diante da situação social em que se encontravam. Porém enfrentavam com medo as represálias do governo da época.

Economicamente, o grupo de jovens escritores apresentado na obra não pertence a uma classe social desfavorecida. Apresentam formação acadêmica ou ainda são universitários, além de outros cargos como o de bancário e professor universitário.

(35)

cumpridas, apesar das dificuldades enfrentadas devido a um golpe militar, que parecia controlar até mesmo os pensamentos dos jovens.

Cada uma das personagens apresenta sua rotina, mas todos têm algo em comum: a literatura. Essa amizade é mantida pela mesma razão, a intenção de escrever e poder publicar suas obras.

O grupo de amigos já é conhecido devido a uma pequena publicação de uma revista intitulada Literatura. Por esta razão, tornaram-se conhecidos pelos

contos e poesias publicados nessa revista.

O intuito era tornarem-se grandes escritores. Embora houvesse essa vontade, perceberam que escrever não é uma tarefa fácil. As ideias eram muitas, mas sem dedicação. Seria praticamente impossível produzir algum texto.

Cada um a sua maneira tentava dedicar-se às suas produções. Cada um com sua dificuldade em concluir sua obra. Dessa forma, Vilela retrata mês a mês como os jovens escritores encaminham e organizam-se em suas produções. Alguns insistindo na produção de contos, outros de poesia.

No decorrer do novo ano, cada amigo tenta cumprir sua promessa: terminar sua obra.

O choque de gerações é bem notável por meio do diálogo construído por Luiz Vilela, mas são os conselhos dos amigos mais velhos, supostamente mais experientes também, que servem de apoio aos jovens em suas caminhadas como escritor.

Outro problema enfrentado pelos jovens escritores era a dificuldade encontrada para divulgar os textos escritos. Por causa da revolução de 64, muitos textos foram proibidos de serem divulgados por causa da censura. Os jovens enfrentaram muitas dificuldades até para discutir suas ideias. Publicamente temiam serem repreendidos.

Encontravam-se com frequência em uma universidade Nei, Vitor, Dalva, Zé, os jovens escritores.

(36)

quase nada era resolvido pela dificuldade em entrar em comum acordo. Durante toda a obra são narrados os diversos encontros entre os amigos e o modo como transcorria essa interação.

No diálogo construído por Vilela podemos perceber que a conversação é construída, conforme a situação de comunicação, que apresenta as características da linguagem de cada personagem. A construção do diálogo, nesse sentido, mostra-se como uma representação de nossa realidade linguística, como apresentaremos no terceiro capítulo desta pesquisa.

(37)

Capítulo II

2.1. A fala e a escrita

A oralidade é a forma natural e também muito antiga da linguagem humana. Embora, “apesar da longevidade da língua falada diante da puerilidade da escrita, esta última tem-se constituído o principal centro de interesse dos estudos linguísticos ao longo de muitas décadas”. (Silva,2009:151)

Não se sabe exatamente quando, com as contribuições a Análise da Conversação e da Sociolinguística, a oralidade passou a receber mais atenção por parte dos estudiosos. Mesmo assim, há insuficiência para uma distinção rígida entre pontos extremos que caracterizam a fala e a escrita.(Hilgert apud

Silva,2009: 152)

Não há como estabelecer critérios e chegar à conclusão de que a superioridade está relacionada a uma das modalidades da língua. A oralidade não é superior à escrita, tampouco a escrita superior a oralidade. Entretanto, definimos o homem como ser que fala e não um ser que escreve. Nem por isso

consideramos a escrita uma representação da fala. Até mesmo porque a escrita não reproduz muitos fenômenos da fala como os gestos, os movimentos do corpo, dos olhos, etc.

A fala e a escrita, como práticas sociais, possuem características próprias, mas não podem ser consideradas dois sistemas linguísticos. Diferem, por exemplo, no modo de realização: som (na fala) de um lado e grafia (na escrita) de outro, entre outras características.

(38)

muitas sociedades. Por esta razão foi considerada por muito tempo superior à fala, o que não passa de um equívoco.

Tanto a fala quanto a escrita são utilizadas em diferentes contextos sociais do cotidiano. São eles: o trabalho, a escola, a família, a vida burocrática e a atividade intelectual. Este fato, é enfatizado por Marcuschi: “fala e escrita são atividades comunicativas e práticas sociais situadas; em ambos os casos temos um uso real da língua” (Marcuschi, 2007:19).

Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante (idem,17).

Fávero (2005: 34-35), por seu turno tece as seguintes considerações:

O texto conversacional é coerente: o problema é que como ele obedece a processos de ordem cognitiva, muitas vezes, se torna difícil detectar marcas linguísticas e discursivas dessa coerência, pois ela geralmente não se dá com base nessas marcas, mas na relação entre os referentes; daí a importância da noção de controle referencial estabelecida com base na organização tópica, e é por isso que o estudo do desenvolvimento dos tópicos vem adquirindo cada vez mais ênfase, possibilitando análises discursivas que envolvem um maior número de fatores.

Muitos linguistas dedicaram-se a analisar as relações entre as duas modalidades de uso da língua sob a perspectiva da dicotomia, ou seja, a fala

(39)

De um lado, temos teóricos como Bernstein (1971), Labov (1972), Halliday (1985, uma primeira fase), Ochs (1979), representantes das dicotomias mais polarizadas e visão restrita. De outro lado temos outros autores como Chafe (1982, 1984, 1985), Tannen (1982,1985), Benveniste (1990), Halliday/Hasan (1989) que percebem as relações entre fala e escrita dentro de um continuum, seja tipológico ou da realidade cognitiva e social ( Marcuschi,2007: 27).

O primeiro grupo defende basicamente o código. Tal dicotomia foi precursora das normas gramaticais ou prescritivismo de uma única norma linguística, considerada como padrão, isto é, a que originou hoje o que chamamos de norma culta.

Já o segundo grupo afirma que a fala e a escrita são diferentes, embora a diferenças não sejam polares, mas graduais e contínuas. Vejamos as comparações e conclusões apresentadas por Marcuschi (2007: 45-46):

 as semelhanças são maiores dos que as diferenças tanto nos aspectos estritamente linguísticos quanto nos aspectos sociocomunicativos (as diferenças estão mais na ordem das preferências e condicionamentos);

 as relações de semelhanças e diferenças não são estanques nem dicotômicas, mas contínuas ou pelo menos graduais (considerando-se que o controle funcional do contínuo acha-se no plano discursivo);

 as relações podem ser mais bem compreendidas quando observadas no contínuo (ou na grade) dos gêneros textuais (que em boa medida se dão em relações de contrapartes, ocorrendo, em grau significativo, gêneros similares nas duas modalidades);

(40)

 não há qualquer diferença linguística notável que perpasse o contínuo de toda a produção falada ou de toda produção escrita, caracterizando uma das duas modalidades (pois as características não são categóricas nem exclusivas);

 tanto a fala como a escrita, em todas as suas formas de manifestação textual, são normatizadas (não se pode dizer que a fala não segue normas por ter enunciados incompletos ou por apresentar muitas hesitações, repetições e marcadores não lexicalizados);

 tanto a fala como a escrita não operam nem se constituem numa única dimensão expressiva mas são multissistêmicas (por exemplo, a fala serve-se da gestualidade, mímica, prosódia etc.; e a escrita seve-se da cor, tamanho, forma das letras e dos símbolos, como também de elementos logográficos, icônicos e pictóricos, entre outros, para fins expressivos);

 uma das características mais notáveis da escrita está na ordem ideológica da avaliação sociopolítica em sua relação com a fala e na maneira como nos apropriamos dela para estabelecer, manter e reproduzir relações de poder, não devendo ser tomada como intrinsecamente “libertária”.

E vale destacar que a conversa se apresenta em níveis, mais formais ou menos formais, por isso presenciamos em diferentes situações linguagens diferentes, como a conversa do dia-a-dia de um lado e palestras e conferências de outro. Mas como objeto de estudo da análise da conversação temos as conversas informais, ou em outros termos, a conversação natural, sem artifícios, menos formal. Nessas condições fica fácil perceber as diferenças entre fala e escrita. Essas diferenças ocorrem dentro de um continuum tipológico, conceito de Marcuschi. É ele que nos aponta variação estrutural, lexical e sintáticas, variações essas que diferenciam a fala da escrita.

(41)

que modo seremos interpretados? Será mesmo que nossa mensagem poderá ser decodificada? Essas questões representam nossas intenções no momento em que estamos redigindo um texto ou até mesmo depois de escrevê-lo.

Quando falamos, qualquer problema na interpretação ou compreensão pode ser imediatamente retomado e solucionado por meio de uma interrupção de quem nos ouça; além do mais, quando conversamos ou somos ouvidos, outros componentes da "fala" formam um ambiente propício: gestos, expressões faciais, tons de voz que completam, modificam, reforçam o que dizemos.

Silva (2009:153), fundamentado em Marcuschi, nos mostra com mais clareza, as relações entre a língua falada e língua escrita como um continnum.

Apresenta os extremos da oralidade de um lado, e extremos da escrita de outro, embora ocorra a alternância entre as modalidades, conforme a situação de comunicação.

Koch, 2006, (Cf. Negreiro, 2010:64), adota a mesma posição de Silva. Postula que fala e escrita pertencem ao mesmo sistema linguístico e constituem duas modalidades de uso da língua, cada qual com suas características específicas, sem que se possa pensar que a escrita seja mera transcrição da fala. Dessa forma acrescenta:

O que se verifica, na verdade, é que existem textos escritos que se situam no contínuo, mais próximos ao polo da fala conversacional (bilhetes, cartas familiares, textos de humor, por exemplo), ao passo que existem textos falados que mais se aproximam do polo da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais para altos cargos administrativos e outros), existindo, ainda, tipos mistos, além de muitos outros intermediários. (Cf. Negreiro, 2010:64)

(42)

Conforme o gráfico apresentado, entendemos o continnum como a

relação estabelecida entre o prototípico da fala e o prototípico da escrita, segundo a situação de comunicação. Em consonância a essa posição, consideramos as palavras de Silva (2009:157):

(43)

sistema de sons articuláveis, no tempo real, em contextos naturais de produção, incluídos outros elementos de natureza corporal, que preenchem, em teoria, “todas as condições linguístico-textual-discursivas” concebidas para um texto falado. Em outras palavras, possui, do ponto de vista medial, caráter fônico, e do ponto de vista concepcional, as condições de comunicação, que vão permitir as “estratégias de formulação” e imprimir as “marcas de verbalização” ideais de um texto essencialmente falado.

Por outro lado, a “língua escrita prototípica‟, a língua escrita propriamente dita, seria uma atividade social verbal de produção de texto. É executada graficamente, graças basicamente, a um sistema de letras articuláveis, chamado alfabeto, complementado por sinais de pontuação, de acentuação, numéricos, etc., que preenchem, em teoria, “todas as condições linguístico-textual-discursivas” concebidas para um texto gráfico e do ponto de vista concepcional, as condições de comunicação, que vão permitir as “estratégias de formulação” e imprimir as “marcas de verbalização” ideais de um texto essencialmente escrito.

Neves (2009:21), porém, salienta que a realização das duas modalidades da língua, falada e escrita, diferenciam em quatro campos: “o campo do envolvimento interpessoal; o grau e a localização temporal do planejamento; a natureza dos procedimentos de formulação; as características da organização do texto”.

Para a autora, a língua falada pode ser confundida com a conversação, já que a interação face a face é o veículo de comunicação mais usado na interação social em situações naturais.

(44)

interrupções, inserções, correções, superposições, etc. Esses fenômenos são típicos da emissão oral. No entanto, a escrita pode ser elaborada e reparada com privacidade quando houver necessidade de correção do texto. Por este motivo, consideramos a escrita um produto planejado previamente com ênfase em como “dizer para bem dizer”.

Para elucidar a relação entre a fala e a escrita, evitando distorções, é preciso considerar, portanto, a condição de produção, porque é ela que possibilita a realização de um evento comunicativo e distingue-se em cada uma das modalidades da língua, conforme Fávero (2005: 74), nos mostra no seguinte esquema:

Fala Escrita

─ Interação face a face ─ interação à distância (espaço

-temporal)

─ planejamento simultâneo ou quase à produção

─ planejamento anterior à produção.

─criação coletiva: administrada passo a passo

─ criação individual

─impossibilidade de apagamento ─possibilidade de revisar o texto

─ sem condições de consulta ─ consulta livre

─ a reformulação pode ser promovida tanto pelo falante como pelo interlocutor

─ a reformulação é promovida apenas pelo escritor

─ acesso imediato às reações do interlocutor

─ sem possibilidade de acesso imediato

─ o falante pode processar o texto, redirecionando-o a partir das reações do interlocutor

(45)

─ o texto mostra todo o seu processo ─ o texto tende a esconder o seu processo de criação, mostrando apenas o resultado

Fávero (2005: 72-73), apresenta-nos por meio de um esquema, os componentes necessários para que aconteça uma situação comunicativa,

falada ou escrita:

I – Papéis e características dos participantes A – Papéis comunicativos dos participantes

1- falante/ escritor 2- ouvinte/ leitor

3- audiência (facultativa) B – Características pessoais

1- estáveis: personalidade, interesses, crenças etc. 2- temporários: modos, emoções etc.

C – Características do grupo: classe social, grupo étnico, sexo, idade, ocupação, educação etc.

II – Relações entre os participantes A – No papel social: poder, status etc. B- Pessoais: preferências, respeito etc.

C – Extensão do conhecimento partilhado: conhecimento de mundo e específico

III - Contexto A – Físico B – Temporal

C – Extensão espaço-temporal compartilhada pelos participantes

IV – Propósito (finalidade do evento) A – Convencional

B - Pessoal

(46)

VI – Avaliação social

A – Avaliação do evento comunicativo 1 – valores partilhados por toda a cultura 2 – valores retidos por subculturas ou indivíduos B – Atitudes do locutor em relação ao conteúdo

1- sentimentos, julgamentos, atitudes 2- tom ou modo

3- grau de comprometimento em relação ao conteúdo

VII – Relação dos participantes com o texto: nível de envolvimento

VII – Aspectos linguísticos e paralinguísticos A – Fala:

1- léxico-sintático 2- prosódico 3- paralinguístico B – Escrita

1- léxico-sintático

Para findarmos as comparações realizadas até aqui entre as duas modalidades da língua, devemos considerar a natureza da concretização da produção. Na fala observamos marcas de não acabamento, enquanto na língua escrita, mesmo que provisoriamente, o texto apresenta-se, acabado. (Neves, 2009:77).

A língua falada não é desorganizada como estamos habituados a ouvir. Ela possui uma gramática própria, utilizada pelos falantes que a aprendem por meio do uso diário. Por esta razão, essa organização textual e interacional, presente na fala costuma apresentar marcadores conversacionais. Em seu vocabulário pode ocorrer o aparecimento de algumas gírias, termos pejorativos, depreciativos, frases prontas e às vezes linguagem afetiva do falante (Preti, 2004:125).

(47)

marcadas pela presença/ ausência dos recursos de produção face a face. Por isso, não podemos compreender a escrita como uma reprodução fidedigna da fala.

Com base em estudos nas teorias de comunicação de Charaudeau (2010:72), todo ato de comunicação possui duas instâncias, a de recepção e a de produção. A instância de produção, responsável por fornecer informações, passa a assumir duas funções: a de fazer saber e de aumentar o interesse no consumo de informações. Já a instância de recepção está ligada diretamente a aceitação da informação, segundo seus consumidores.

Todo ato de comunicação depende de uma situação de troca entre produção e recepção. Esta situação de comunicação compõe, assim, o quadro de referência comunicativo composto pelas restrições de espaço, de tempo, de palavras, ou seja, tudo que constitui valores simbólicos, mas de suma importância num contrato de comunicação, no qual qualquer indivíduo que queira se comunicar leve em consideração as restrições estabelecidas. Este contrato representa o acordo ou troca linguageira, perceptível nas características externas e internas dessa situação de troca, estabelecida numa espécie de “acordo prévio”.

O processo de comunicação, antes considerado linear, somente emissão e recepção, passou a ser visto como um modelo circular, ou seja, o receptor não só compreende o emissor, mas também colabora na produção da mensagem. A comunicação pressupõe a interação e o saber ouvir.

E por este motivo consideramos a conversação cotidiana, a conversação face a face um exemplo de interação. É o que podemos confirmar com as palavras de Bange (1983 apud Koch, 1995: 66):

(48)

Em amplo sentido, a conversação deve abranger não apenas os eventos cotidianos de comunicação, mas também as interações ocasionadas por motivos profissionais, como uma consulta médica, palestras, negócios, incluindo as que ocorrem no interior de instituições como a escola, o hospital, etc.

2.2. Análise da conversação

A Análise da Conversação passou a ter destaque na década de 1960. Era baseada na linha da Etnometodologia, estudos relacionados às práticas do cotidiano e na Antropologia Cognitiva. Está centralizada no aspecto da ação e interação, pelo caráter dinâmico pelo qual a realidade é construída pelos próprios atores em diferentes interações sociais. Teve origem no interior da Sociologia Interacionista americana.

Para a Etnometodologia é fundamental observar os fenômenos interacionais, bem como as conexões estruturais do processo interativo.

Dessa maneira, segundo os princípios da Etnometodologia, os estudiosos da Análise da Conversação, buscam investigar a organização do texto conversacional.

Hilgert (apud Mussalim, 2004:70), apresenta três níveis de estrutura

conversacional:

a) Macronível: estuda as fases conversacionais, que são abertura,

fechamento e parte central e o tema central e subtemas da

conversação;

b) Nível médio: investiga o turno conversacional, a tomada de

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