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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão : Segunda Turma Criminal

Classe : Apelação Criminal Nº Processo : 2002 04 1 007221-3

Apelante : SÉRGIO AZEVEDO MARÇAL Apelada : A JUSTIÇA PÚBLICA

Relator : Desor GETULIO PINHEIRO

Revisora : Desora APARECIDA FERNANDES

Júri. Nulidade do julgamento improcedente. Homicídio consumado. Tentativa de

homicídio. Confronto balístico. Prova. Legítima defesa rejeitada pelos jurados. Decisão de conformidade com as provas dos autos.

1. Improcedente a tese de nulidade do julgamento, por haver a acusação sustentado, em plenário, a existência de qualificadoras não-contempladas na pronúncia nem no libelo, se foi o réu condenado por homicídio simples e não se encontra registrada, na ata, essa irregularidade.

2. Afirmada pelos peritos a inexistência de elementos suficientes para concluir que o projétil extraído do corpo de uma das vítimas fora expelido pelo cano da arma

pertencente ao réu, afastada não restou a autoria do crime a ele atribuída, uma vez que a prova oral é induvidosa quanto a ter sido ele o autor dos disparos que as atingiram.

3. Diante da conclusão dos peritos de ter sido o veículo da vítima atingido por projétil de arma de fogo, bem como da existência de provas de que efetuara os disparos para repelir agressão injusta, incensurável a decisão dos jurados que rejeitou a tese da legítima defesa. Isso porque já estava cessada a contenda quando o réu, depois de efetuar os primeiros disparos, retirou-se do local para a ele retornar e novamente efetuar outros na direção das vítimas.

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da Segunda Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, GETULIO PINHEIRO – Relator,

APARECIDA FERNANDES – Revisora e ROMÃO C. OLIVEIRA – Vogal, sob a presidência da Desembargadora APARECIDA FERNANDES, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, de acordo com a ata do julgamento e as notas taquigráficas.

Brasília, 18 de maio de 2006.

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Desora APARECIDA FERNANDES Presidente

Desor GETULIO PINHEIRO Relator

R E L A T Ó R I O

Sérgio Azevedo Marçal apelou da sentença que o condenou a oito anos e três meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, como incurso no art. 121, caput, e art. 121, caput, c/c o art. 14, inciso II (por duas vezes), todos do Código Penal.

Segundo a denúncia, no dia 30/6/2, na Praça 3, na frente do bar do Baiano, no Setor Sul do Gama, o denunciado, com inequívoca vontade livre e consciente de matar, fazendo uso de arma de fogo, disparou várias vezes contra terceira pessoa, não a atingindo.

Assumiu, contudo, o risco de atingir Sandra Regina Gomes Rodrigues, Leonardo

Marques do Nascimento e Dilma Barbosa Oliveira, o que efetivamente ocorreu, as quais causaram a morte de Sandra e ferimentos em Leonardo e Dilma. O Resultado morte, em relação a ambos os feridos, não ocorreu por circunstâncias alheias à vontade do réu.

Alega o apelante a ocorrência de nulidade posterior à pronúncia, por ter o Ministério Público sustentado acusação diversa da contida no libelo, e que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, no tocante às perícias, e por não ter sido reconhecido que agiu em legítima defesa própria. Requer, assim, a anulação do julgamento ou a cassação do veredicto.

O Promotor de Justiça manifestou-se pelo não-provimento do recurso. Asseverou que a sustentação integral do libelo, para as três séries de quesitos, consta da ata de

julgamento, na qual não há registro de que se tenha postulado condenação por fatos diversos dos contidos na referida peça. Do conjunto probatório extrai-se a comprovação da autoria. A alegada excludente de ilicitude não restou configurada.

A Procuradoria de Justiça, no parecer emitido pela Drª Olinda Elizabeth Cestari Gonçalves, opinou pelo não-provimento do recurso. Alegou preclusão quanto à nulidade argüida e afirmou serem robustas as provas da autoria e da materialidade dos crimes. Rebateu, também, o argumento de que o réu agiu em legítima defesa.

É o relatório.

V O T O S

O Senhor Desembargador GETULIO PINHEIRO – Relator:

A apelação foi interposta com fundamento nas alíneas a e d do permissivo legal.

Examino, em primeiro lugar, a alegação da ocorrência de nulidade posterior à

pronúncia, por haver a acusação inovado em plenário, sustentando a incidência de

circunstâncias qualificadoras não contempladas na pronúncia nem no libelo.

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O apelante, com efeito, foi pronunciado por infração aos arts. 121, caput, e 121, caput, c/c o art. 14, inciso II, (duas vezes). No libelo de fls. 237/238 não está contemplada nenhuma circunstância qualificadora.

A ata da sessão do julgamento (fls. 387/390) não registra o incidente alegado nas razões.

Ao contrário, nela está consignado que o promotor de justiça “sustentou o libelo, para as três séries de quesitos”. O juiz-presidente, por seu turno, não formulou nenhum quesito a esse respeito. Ainda que houvesse ocorrido tal irregularidade, nenhum prejuízo teria acarretado à defesa, pois o réu terminou condenado por homicídio simples. Conforme dispõe o Código de Processo Penal, “Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa” (art. 563).

Diante do exposto, por esse fundamento nego provimento à apelação.

A Senhora Desembargadora APARECIDA FERNANDES – Revisora:

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

SÉRGIO AZEVEDO MARÇAL inconformado com a sentença emanada do Tribunal do Júri da Circunscrição Judiciária do Gama, que o condenou como incurso no art. 121,

§ 2º, incisos II e IV e art. 121, § 2º, incisos II e IV, c/c o art. 14, inciso II (duas vezes), ambos do Código Penal, e o apenou a oito anos e três meses de reclusão a serem cumpridos no regime inicialmente fechado, interpôs recurso de apelação.

Colhe-se de suas razões (fls. 403/427), que o apelo alcança dois aspectos do decisum, quais sejam: ocorrência de nulidade posterior à decisão de pronúncia (alínea a) e

decisão manifestamente contrária à prova dos autos (alínea d), em especial no tocante ao laudo técnico (Confronto Balístico) e, bem assim, quanto à excludente de ilicitude inerente à legítima defesa.

No que tange ao primeiro ponto da insurgência – nulidade após a decisão de pronúncia, consistente em sustentação discrepante da decisão de pronúncia e do libelo - razão não assiste ao recorrente. A uma, porque não logrou demonstrar a ocorrência de prejuízo, pois como é notório, em sede de nulidades, há de prevalecer o princípio pás de nullité sans grief. A duas, porque, observando os registros feitos na ata de julgamento (fls.

387/390), não se percebe qualquer manifestação no tocante à ocorrência da eiva apontada, o que torna manifesta a preclusão. E, por fim, ao revés das alegações recursais, consta da referida ata que o Promotor de Justiça sustentou integralmente o libelo.

Rejeito, pois, a nulidade aventada.

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA (Vogal:

Senhora Presidenta, ouvi com atenção a exposição feita pelo nobre advogado, e estou convencido, até agora, de que, por este fundamento, o apelo não pode ser provido.

Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador GETULIO PINHEIRO – Relator:

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Alegou a defesa, outrossim, que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, destacando, acerca de cada fato tido como delituoso, os argumentos considerados pertinentes.

No tocante à tentativa de homicídio contra Leonardo Marques do Nascimento, afirmou que os peritos, no exame de confronto balístico, afastaram a autoria do fato atribuído ao réu. Não é isso, todavia, o que concluíram no laudo de fls. 313/317:

“(...) Assim, em face do exposto, concluem os Peritos que o exame de confronto

balístico entre o projétil incriminado, descrito no item III e os projéteis padrão obtidos do revólver marca TAURUS, calibre 38, descrito no item II, embora houvesse

semelhanças nas larguras de ressaltos, cavados e justaposições de alguns microestriamentos, estes últimos se apresentam em quantidade e valor sinalético insuficientes para permitir apresentar afirmativa categórica quanto a ele ter sido expelido, ou não, pelo cano que esta arma apresenta” (fls. 316/317).

Os peritos somente não tiveram elementos para afirmar que o projétil extraído do corpo da vítima proveio da arma pertencente ao réu, não podendo ser excluída, contudo, essa possibilidade. A prova oral, contudo, confirma a imputação contida no libelo

Leonardo Marques Nascimento, ao prestar declarações na instrução criminal, foi categórico ao imputar ao réu a autoria dos disparos que o atingiram:

“(...) que foi o acusado aqui presente quem efetuou os disparos contra o declarante;

que quando do primeiro tiro estava de frente para o acusado e numa distância de dois metros e quando o declarante virou-se levou um segundo tiro que lhe atingiu nas costas; (...) que quando o acusado efetuou disparos contra o declarante ele estava em pé e no bar; que foi atingido pelo segundo disparo o declarante estava deixando o bar e com este disparo o declarante andou um pouco e veio a cair; que o acusado após efetuar o disparo contra o ora informante entrou em seu caminhão e saiu e depois ele voltou e o declarante ouviu mais um disparo” (fls. 69/70).

Posteriormente, em plenário, reafirmou sua acusação ao ora apelante:

“(...) logo em seguida, o denunciado voltou do caminhão, com a arma na mão e efetuou disparos na direção do informante; que foram cerca de 04 disparos; (...) que o

caminhão em que o denunciado foi pegar a arma é de cor branca; que o denunciado efetuou os disparos a uma distância de 02 a 03 metros; que o informante estava em pé quando levou os tiros; que recebeu dois tiros, um na coxa, de frente para o acusado e, quando virou, recebeu outro tiro nas costas” (fls. 358).

Rafael Freitas Rocha presenciou essa cena e na instrução fez o seguinte relato:

“(...) que viu o acusado, na primeira vez, dando 03 tiros, acertando Leonardo, que caiu ao chão, sendo que o depoente pegou Leonardo, colocou-o no carro e o socorreu” (fls.

366).

Genival Antônio do Nascimento, presente também no local, informou em juízo:

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“(...) que viu o momento que o acusado foi buscar uma arma numa carreta e voltou com a arma na mão; que ele entrou no bar e efetuou 03 tiros contra a pessoa de Leonardo; que o acusado nada dizia enquanto atirava; (...) que o acusado estava uma distância de cerca de dois metros e meio quando atingiu Leonardo; que Leonardo e o acusado estavam frente a frente quando ele foi atingido” (fls. 72/73).

Diante do exposto, dúvida não há de que o apelante atingiu a vítima Leonardo com disparos de arma de fogo.

A impossibilidade de se proceder ao exame de confronto balístico do projétil que atingiu Dilma Barbosa Oliveira, por ter permanecido alojado em seu corpo, não tem o condão de afastar a autoria dos ferimentos nela produzidos, uma vez que não só ela, como testemunhas presentes naquele local, disseram ter sido produzidos pelo apelante.

Ao prestar declarações na instrução criminal disse essa vítima:

“(...) que viu o momento do primeiro disparo no momento que a carreta passava e efetuou disparo para dentro do bar; que nesse momento a declarante se escondeu na parede do bar; que não contou quantos tiros foram efetuados; que cerca de quinze minutos o acusado retornou e a declarante saiu correndo, quando foi atingida; que não viu qualquer outra pessoa atirar a não ser o rapaz da carreta” (fls. 74/75).

As testemunhas já referidas contaram que o apelante, depois de haver atingido Leonardo e se retirado, retornou e efetuou novos disparos, vindo a atingir Dilma e Sandra Regina Gomes Rodrigues. Esta, conforme está provado pelos laudos de fls. 49/51 e 296/298, faleceu em decorrência das lesões produzidas pelo projétil da arma de fogo apresentada pelo réu à polícia.

Dilma e Sandra foram alvejadas na mesma ocasião. Nenhuma testemunha informou a respeito da presença de outro atirador no local, de modo que pudesse ser lançada alguma dúvida acerca da autoria do disparo que também atingiu Dilma.

A decisão do conselho de sentença, em afirmar que o ora apelante efetuou disparos de arma de fogo contra as vítimas encontra, assim, agasalho na prova dos autos.

Sustentou a defesa que o réu agiu em legítima defesa própria, pois teria atirado contra a turba que o perseguiu até seu veículo. Há nos autos, com efeito, notícia de uma briga com fregueses do bar, da qual teria participado. A refrega já havia cessado, no entanto, quando ele resolveu disparar sua arma contra as pessoas que lá se encontravam.

Confiram-se os seguintes depoimentos:

“(...) que chegou ao local dos fatos, cerca de oito horas da manhã, para assistir ao jogo da Seleção Brasileira; que não viu o denunciado no bar até a hora dos fatos; que não viu nenhuma discussão dentro do bar até a hora da ocorrência dos fatos; que em dado momento, por volta das 14:30 horas, aconteceu uma confusão, acrescentando que nesta confusão tinha a participação de alguns amigos do informante, quais sejam, Gladson, Rafael e Pablo; que não viu com quem tais pessoas discutiam e brigavam; que

presenciou a discussão mas não sabe dizer o que as pessoas diziam, mas viu ‘as

cadeiras voando’; que ocorreram disparos, afirmando neste momento que o autor dos

disparos é o denunciado aqui presente; que no meio da confusão os amigos do

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informante disseram que o denunciado foi ao caminhão, que o informante disse que não tinha nada com a confusão e lá ficou e, logo em seguida, o denunciado voltou do

caminhão, com a arma na mão e efetuou disparos na direção do informante”

(Leonardo Antônio Marques, fls. 357/358).

“(...) que se lembra que o dia dos fatos foi num jogo do Brasil na Copa, estava no bar do ‘Baiano’, sendo que no período da tarde, viu um tumulto, uma discussão, mas não viu quem estava na discussão, sendo que o denunciado estava na discussão; que o acusado estava do lado de fora do bar; que o acusado estava com seu caminhão, branco; que viu o acusado, na primeira vez, dando 03 tiros, acertando Leonardo, que caiu ao chão, sendo que o depoente pegou Leonardo, colocou-o no carro e o socorreu;

que viu o acusado entrar no caminhão; que quando estava socorrendo Leonardo, avistou o denunciado, voltando ao local dos fatos com um revólver na mão, com a mão para fora do caminhão, para baixo; que deixou o local dos fatos e foi levar Leonardo ao hospital” (Rafael Freitas Rocha, fls. 366)

“(...) hoje por volta das 16h00min o depoente estava no Bar do Baiano, situado na Praça 3, Setor Sul, desta Cidade, juntamente com Gladson e Leonardo, comemorando a vitória do Brasil na Copa, quando ali chegou o Conduzido em um caminhão Mercedes de cor branca; QUE o Conduzido desceu do caminhão e começou a discutir com um homem desconhecido, em seguida voltou até ao seu veículo, onde com uma arma em punho, efetuou dois disparos em direção do bar, não tendo atingido ninguém, em seguida entrou no caminhão, saindo em direção ao quartel da PM, voltando minutos depois, quando então parou seu veículo de frente a parada de ônibus e novamente, com a mesma arma em punho, efetuou mais três disparos, só que desta vez atingindo

Leonardo, Sandra e outra pessoa desconhecida” (Martírios Eimar do Nascimento, fls.

8/9).

“(...) que o acusado foi buscar a arma no momento da briga e quando ele voltou a briga já tinha parado; que não sabe o motivo da briga, mas sabe que o acusado era uma das pessoas que estava brigando no bar; que o acusado estava acompanhado de outros rapazes e quando dos tiros os amigos do acusado saíram correndo; que o acusado saiu sozinho no interior da carreta” (...) (Genival Antônio do Nascimento, fls.

72).

“(...) que estava dentro do bar, perto de uma escada, quando ouviu barulho, mas não sabia que era de tiros, de dentro do bar mesmo, a informante foi ver o que estava acontecendo, quando presenciou o denunciado, fechando a porta do caminhão, com a

‘ponta’ da arma, encostada na porta do caminhão, na janela, e efetuando disparos para dentro do bar; que a informante não sabe quantos disparos; que a informante ficou escondida atrás de uma pilastra; que o denunciado saiu com o caminhão para a direita e a informante encontrou sua amiga ‘Sandrinha’ esta dizendo que um amigo dela tinha sido atingido, muito nervosa dizendo que iria perder um amigo; que a informante viu o caminhão voltando e disse para ‘SANDRINHA’ correr, que

SANDRINHA não correu, mas a informante correu, descendo em direção aos outros bares, quando foi atingida por um disparo, nas nádegas; que nessa ocasião, o

denunciado, do caminhão, desferiu vários disparos; que quando foi atingida estava de

lado para o caminhão” (Dilma Barbosa Oliveira, fls. 361).

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Para comprovar a agressão injusta, por ele sofrida, louvou-se a defesa no laudo de fls.

127/135, em que os peritos concluíram ter sido seu caminhão atingido por pelo menos um projétil de arma de fogo. A promotoria de justiça, no entanto, lançou dúvidas pertinentes acerca dessa prova:

“(...) As testemunhas arroladas pela Defesa, é certo, indicaram que o réu foi vítima de agressões e que seu caminhão foi alvo de disparos de arma de fogo.

Essas testemunhas, no entanto, asseveraram que não viram nenhuma marca de impacto de projétil de arma de fogo no caminhão (cf. depoimentos de fls. 76/77 e 81/82).

Uma marca de impacto de projétil de arma de fogo, é certo, foi encontrada pelos peritos que realizaram o laudo de exame de veículo de fls. 127 a 135.

O acusado, no entanto, só encaminhou seu veículo para ser periciado após o fim da instrução e aproximadamente dois meses depois do fato. Qual o valor probatório de tal perícia e como vincular a marca de disparo encontrada no crime?” (fls. 439).

Parentes e amigos do apelante depuseram na instrução criminal e ratificaram parte de sua versão, ou seja, a de ter sido inicialmente agredido pelas pessoas encontradas no bar, com disparos de arma de fogo inclusive, e que só atirou uma vez, de dentro do caminhão, na direção do solo.

Diante de tais provas, poderia o conselho de sentença negar que o apelante praticou os fatos para repelir agressão a sua pessoa, uma vez que a briga já havia cessado com sua retirada na direção de seu veículo, de onde retornou para atingir Leonardo com um disparo de arma de fogo. Depois de se retirar dali, voltou para novamente efetuar os disparos que vieram a atingir as duas outras vítimas. Optaram os jurados pela versão que lhes pareceu mais verossímil. Não se pode afirmar, assim, que a decisão é manifestamente contrária à prova dos autos.

Posto isso, nego provimento à apelação.

A Senhora Desembargadora APARECIDA FERNANDES – Revisora:

De outro giro, no tocante à suposta contrariedade da decisão em relação às provas coligidas, também restei convencida de que os argumentos defensivos não devem prosperar. Senão vejamos.

Dos autos ressaem que, em um bar situado no Setor Sul do Gama, um grupo de pessoas assistiam, pela TV, a um dos jogos da Copa. Todavia, uma confusão tomou conta do ambiente e, entre a correria dos circunstantes, tiros foram deflagrados.

De ver-se que, três pessoas, dentre as que ali estavam, foram alvejadas pelos projéteis, sendo que uma das vítimas – Sandra Regina Gomes Rodrigues - não resistiu aos ferimentos e faleceu (Laudo Cadavérico – fls. 115/120)

Nesta sede, importa repelir o argumento da defesa, concernente ao exame balístico, cujo

resultado, pelo que aduz, teria sido negativo. Ora, como habilmente observou o Parquet,

em contra-razões (fls. 428/440), embora as conclusões periciais (fls. 316/317) não

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afirmem que o projétil que alvejara a vítima Leonardo tenha saído da arma do réu, também não excluíram essa possibilidade, na medida em que se posicionaram pela impossibilidade de uma afirmação categórica nesse sentido.

De ver-se, que, nada obstante a incerteza do laudo pericial, a testemunha Rafael Freitas Rocha (fl. 366/367), perante o Júri, asseverou que o réu teria sido o autor do disparo que atingira Leonardo, o que corrobora as palavras dessa vítima.

A alegada ausência de prova para a condenação resultante do tiro desfechado na vítima Dilma Barbosa Oliveira, também não merece acolhimento, pois tanto Leonardo Antônio Marques (fls. 357/360), quanto Dilma (fls. 361/363), ao serem ouvidas em plenário, não tiveram dúvidas em apontar o réu como o autor dos disparos que atingiram a ambos.

Ademais, a testemunha Genival Antônio do Nascimento, ouvida no curso da instrução processual (fls. 72/73), deixou inquestionável que as três vítimas foram alvejadas por uma única pessoa – o réu.

Por outro lado, a legítima defesa, propalada pelo réu, deixou de ser acolhida pelo escore de 7 a 0. À unanimidade, os jurados entenderam que as vítimas não agrediram

injustamente o réu, respaldando sua violenta reação.

De fato, embora existam depoimentos que indiquem que o réu fora alvo de agressões (fls. 368/369; fls. 372/373) e que o caminhão restou atingido (fls. 76/77; fls. 81/82), não se pode olvidar que o veículo não fora submetido à análise pericial em data próxima aos fatos e, que, embora tenham os experts concluído pela existência de uma perfuração de bala na lataria (fls. 127/135), é temerário afirmar que referida avaria decorrera da confusão havida no bar.

Enfim, o contexto probante é coeso e idôneo e, foi nele embasado que o Conselho de Sentença se pautou para condenar o réu, deixando de acolher as teses da defesa, porque não se revelaram as mais convincentes.

Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO ao apelo, para manter a decisão hostilizada por seus próprios e jurídicos fundamentos.

É o voto.

O Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA (Vogal:

Excelentíssima Senhora Presidenta, é sempre com satisfação que costumo escutar o nobre advogado Daniel Azevedo. Sobretudo (parece que faz algum tempo que ele não vem a esta tribuna (e lembro bem de Sua Excelência no cível, quando por lá estive prestando jurisdição. E naquelas oportunidades, no juízo cível, Sua Excelência foi muito mais elegante do que hoje.

Todas as vênias pedidas, fiquei constrangido em ouvir as menções que o nobre advogado faz ao promotor, que não é do feitio de Sua Excelência e penso que,

certamente, não escutarei da boca do nobre advogado a repetição desses adjetivos em

relação a qualquer membro do Ministério Público, e nem a qualquer outro operador do

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Direito, porque não é do feitio de Sua Excelência. Estou perplexo com o que ocorreu aqui nesta tarde.

Mas, eminente Presidenta, o caso em julgamento há de ser resolvido à luz da soberania do Tribunal do Júri. A este Tribunal, a esta Turma compete apenas dizer se o

julgamento foi manifestamente contrário à prova dos autos. Observe-se que o legislador não usa palavra alguma, gratuitamente, muito menos os advérbios e adjetivos, e usou a locução: manifestamente contrária à prova dos autos. Se não houver a inclusão deste advérbio, os jurados podem inclusive proferir decisão contrária à prova dos autos e não temos nada a consertar, porque não somos soberanos, mas o Tribunal do Júri o é.

No caso vertente, observe-se que admito, para fins de argumentação, que o caminhão foi atingido por disparo de arma de fogo deflagrado por algum daqueles integrantes. Vamos admitir como verdadeiro. O caminhão foi atingido por um disparo de arma de fogo e foi naquele instante. Mesmo assim, não estou autorizado, por este ângulo, a dizer que a reação do réu, ora apelante, se deu em legítima defesa, porque o art. 25 do Código Penal estabelece:

“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão atual ou iminente a direito seu ou de outrem”.

Um disparo contra o caminhão resultou em disparos diversos, agora, contra pessoas.

Então, digamos que fosse em legítima defesa, mas a proporcionalidade não restou guardada entre a ação do grupo que atacava o apelante e a ação do apelante. Portanto, não vejo aí a manifesta contrariedade do julgamento ao contexto probatório.

Há também uma negativa de autoria em relação a alguns, porque, segundo o laudo – o eminente Relator bem frisou – podia ter aquele disparo saído ou não do cano daquela arma. Ora, em assim sendo, duas versões já vêm do próprio laudo. Cumpre aos jurados escolher a que melhor lhes convier; ainda que não escolham a melhor. Escolheram uma das versões constantes da prova, uma das vertentes da prova. Como podia o Tribunal, que não é soberano, dizer que o Tribunal do Júri, este sim soberano, teria de fazer novo julgamento?

Com a devida vênia, penso que não, porque o julgamento poderia até ser contrário à prova, mas não era manifestamente contrário, e o “calcanhar de Aquiles” para a defesa nasce desse advérbio. O julgamento há de ser manifestamente contrário à prova dos autos. Se há duas versões, os jurados escolhendo uma delas, ainda que não seja a melhor, o Tribunal tem de acatar e dar como bom o julgamento.

Acompanho, portanto, o eminente Relator.

D E C I S Ã O

Improvido o apelo. Unânime.

Referências

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