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ARTIGO ORIGINAL CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004

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ARTIGO ORIGINAL

CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E CASOS DE LEISHMANIOSES EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENTROS DE SAÚDE E

HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004 HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004 HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004 HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004 HOSPITAIS DE JACOBINA-BA NO PERÍODO DE 2000 A 2004

Maria L Vieira

a

Ronaldo R Jacobina

b

Neci M Soares

c

Resumo

Resumo Resumo Resumo Resumo

As leishmanioses são doenças registradas nos continentes asiático, europeu, africano e nas Américas. Originalmente centrada no ambiente silvestre ou em pequenas localidades rurais, passou a ser identificada em centros urbanos, em parte devido à migração do mosquito transmissor (Phlebotominae). No Brasil, constitui-se um grave problema de saúde pública, ocorrendo na maioria dos Estados da federação, principalmente no Nordeste, sendo o município de Jacobina um dos principais focos da doença na Bahia. Com base nos dados da Secretaria Municipal da Saúde, foi realizado um estudo dos casos das leishmanioses nos pacientes atendidos nos Centros de Saúde e hospitais de Jacobina (BA), nos anos de 2000 a 2004. Foi encontrado o registro de 60 casos de leishmaniose tegumentar americana, com maior predisposição para o sexo masculino na faixa etária produtiva, e 45 casos de leishmaniose visceral americana, acometendo principalmente crianças menores de cinco anos. Durante o estudo foi constatada a ocorrência de pacientes atendidos em consultórios particulares, que ainda não tinham sido notificados ao Sistema de Vigilância Epidemiológica.

Palavras-chave: Leishmaniose tegumentar americana. Leishmaniose visceral. Jacobina. Brasil.

CASES OF LEISHMANIASIS IN PATIENTS TREATED IN HEALTH CENTERS AND HOSPITALS IN JACOBINA, BAHIA, BRAZIL, FROM 2000 TO 2004

Abstract Abstract Abstract Abstract Abstract

Leishmaniasis is a disease registered in the continents of Asia, Europe, Africa and America. Originally found in tropical environments or in small rural areas, it has been increasingly

a

Laboratório Regional do Estado – 16ª DIRES, Jacobina (BA).

b

Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA).

c

Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA).

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência: Neci Matos Soares, Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Rua Barão de

Geremoabo, s/n – Ondina. 40170-115 Salvador, Bahia, Brasil - E-mail: neci@ufba.br . Telefone: (71) 3237-2255.

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Revista Baiana

de Saúde Pública found in urban centers, in part due to the migration of the transmitting sand fly (Phlebotominae).

In Brazil, this disease constitutes a grave public health problem, occurring in most of the States of the federation, especially in the Northeast. The city of Jacobina represents one of the main focal points of the disease in Bahia. Based on the data from the Municipal Department of Health, a study was conducted with the cases of leishmaniasis in patients treated in health centers and hospitals in the city of Jacobina (BA) from 2000 to 2004. A record of 60 cases of American leishmaniasis tegumentaria were found with a greater predisposition in males in their productive age range, and 45 cases of American visceral leishmaniasis, mainly in children under five years of age. During the study, the occurrence of patients treated in private clinics, which had not yet been registered with the Epidemiologic Surveillance System, was verified.

Key words: American Leishmaniasis Tegumentaria. Visceral Leishmaniasis. Jacobina. Brazil.

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO

As leishmanioses, doenças causadas pelo gênero Leishmania, são transmitidas pela picada do mosquito do gênero Lutzomyia e apresentam diferentes formas clínicas: desde uma úlcera cutânea, em que o paciente pode curar-se espontaneamente, até a forma mais grave das leishmanioses, a forma visceral, que pode levar o paciente à morte quando não tratado.

1

As várias formas da doença são registradas nos continentes asiático, europeu, africano e nas Américas.

Devido a sua freqüência e letalidade, principalmente em indivíduos não tratados, atualmente, encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo.

1-3

O Brasil está entre os cinco países com maior número de casos desta endemia, que representa um grave problema de saúde pública, com destaque para a região Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

4

Nos últimos anos, tem-se constatado o crescimento dessas parasitoses em áreas domiciliares e/ou peridomiciliares, especialmente na região Nordeste, onde os determinantes sócio-econômicos — como condições de habitação, a pobreza e a fome, o processo migratório e a falta de saneamento básico — favorecem a expansão da doença.

2,4,5

A doença, originariamente centrada no ambiente silvestre ou em pequenas localidades rurais, passa a ser identificada em centros urbanos, devido à migração do mosquito transmissor, em função do desmatamento e da expansão das áreas urbanas, e da presença dos reservatórios, principalmente do cão doméstico.

2,4,6

A interação do homem com o meio ambiente é muitas vezes determinante na rede de causalidade múltipla dessa doença.

Em relação ao agente etiológico, são conhecidas em torno de vinte espécies de

Leishmania capazes de infectar o homem e causar quadros distintos da doença

7

, dependendo das

características de virulência da espécie, da resposta imune do hospedeiro, de fatores genéticos e da

associação com outras doenças.

8-10

Na leishmaniose tegumentar americana (LTA), os pacientes

(3)

podem apresentar a forma cutânea, que é caracterizada por lesões localizadas na pele, que pode curar-se espontaneamente ou evoluir para lesões crônicas, com cicatrizes desfigurantes. A mucocutânea manifesta-se com lesões ulcerativas e destrutivas das mucosas e a cutânea difusa caracteriza-se por lesões nodulares não ulcerativas e disseminadas.

2,11

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença crônica e progressiva que afeta vários órgãos internos, principalmente o baço, o fígado e a medula óssea.

3,12

Os seus principais sintomas geralmente são febre, anemia, hepatoesplenomegalia e progressiva perda de peso. Com a evolução, os pacientes podem apresentar manifestações hemorrágicas, infecções secundárias da pele e das vias aéreas superiores.

9

De acordo com os dados do Ministério da Saúde

13

, as leishmanioses se encontram em franco processo de crescimento e estão distribuídas em quase todos os estados brasileiros. A leishmaniose visceral é encontrada em quatro das cinco regiões, sendo o Nordeste a mais atingida, com aproximadamente 70% dos casos. Em 25 anos de notificação (1980-2005), os casos de LV somaram 60.969. Os estados do Nordeste com maior número de casos são a Bahia (com 32,5 %) seguido pelo Maranhão (16,9%), Ceará (14,1%) e Piauí (14%). Nestes estados, o coeficiente de incidência da doença tem atingido 20,4 casos /100.000 habitantes. Com relação à LTA, a análise do mesmo período (1980-2005) registrou 610.256 casos em todo o território brasileiro, tendo a Bahia 29,9% dos casos da região Nordeste. O coeficiente de detecção neste período oscilou entre 3,8 a 22,9 por 100.000 habitantes, com maior elevação nos anos de 1994/1995, com registros de 22,83 e 22,94 por 100.000 habitantes, respectivamente

13

. A partir de 2001 foram registrados casos autóctones em todos os estados e, em 2002, houve uma expansão da doença para diversos municípios, principalmente os das regiões Nordeste e Norte, com o maior número de casos registrados no período (cerca de 40% e 36,2%, respectivamente)

13

. No estado da Bahia, as leishmanioses são endêmicas em diversas localidades. Nas regiões sul e sudoeste do estado predominam a LTA

4

, levando a Secretaria Estadual de Saúde a criar um centro de referência no município de Jequié. A endemicidade da LV é mais predominante no nordeste do estado, sendo os municípios de Cipó, Juazeiro e do Conde com maior registro de casos (Oliveira, Teixeira, Moura e Silva, 2006, dados não publicados). No entanto, em algumas regiões como o extremo-norte da Chapada Diamantina a incidência é bastante elevada

14-16

e as estratégias de controle são pouco efetivas

4

, voltadas principalmente para as ações curativas, o que acontece geralmente em uma fase mais avançada da doença, pelas dificuldades de se realizar um diagnóstico precoce.

4,17

A despeito da possibilidade de suspeita das leishmanioses, com base em sinais

clínicos, faz-se necessária a confirmação pelo encontro do parasito ou a análise dos parâmetros

laboratoriais para auxiliar no diagnóstico. No entanto, o diagnóstico laboratorial das leishmanioses

demanda infra-estrutura e pessoal treinado. Na LV, o método mais utilizado para o diagnóstico

parasitológico baseia-se na observação das formas amastigotas, pela histopatologia e/ou citologia,

utilizando esfregaços com aspirado de medula óssea. Na LTA, a pesquisa de parasitos é feita,

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Revista Baiana

de Saúde Pública principalmente, utilizando material das bordas das úlceras. Apesar de parecer simples, nem sempre é possível confirmar o diagnóstico pelo exame direto, necessitando muitas vezes de semeadura do material em meio de cultivo e/ou inoculação em animais experimentais. Principalmente nos casos de LTA, em que os parasitos se tornam bastantes escassos nas ulcerações, à medida que a doença progride.

18

Assim, a imuno-histoquímica tem sido um método utilizado para confirmar o diagnóstico da forma tegumentar, com poucos parasitos nas lesões. Também a PCR (reação de polimerase em cadeia) e os métodos de pesquisa de anticorpos anti-Leishmania, a resposta imune celular específica, tanto in vivo como in vitro, podem confirmar e/ou auxiliar no diagnóstico das várias formas da doença.

2,3,18,19

Nos últimos dez anos, observou-se uma expansão geográfica das leishmanioses no Brasil, além da elevação da densidade de casos por área, em algumas regiões, inclusive na Bahia.

13

Provavelmente, as estratégicas de prevenção não têm sido suficientes para o controle desta endemia, uma vez que as diferentes formas das leishmanioses e as constantes mudanças dos seus padrões epidemiológicos dificultam as ações de controle.

2,4

Este estudo teve como objetivo analisar os casos das leishmanioses em pacientes atendidos nas unidades de saúde e hospitais da cidade de Jacobina, no período de 2000 a 2004.

MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS Área e População Área e População Área e População Área e População Área e População

O estudo foi realizado na cidade de Jacobina, município brasileiro, com uma área de 2.328,92 km

2

, localizada no semi-árido do oeste do estado da Bahia. A sua população está estimada em 76.429 habitantes e tem como principal economia a agro-pecuária e a mineração aurífera. A cidade é rodeada por serras, lagoas, grutas, rios, fontes, morros e fica a 330 km de Salvador, localizada no extremo-norte da Chapada Diamantina, altitude de 463 metros, latitude 11º10’50 Sul e longitude 40º31’06" Oeste. Apresenta clima tropical, com escassez de chuva.

Fonte de Dados Fonte de Dados Fonte de Dados Fonte de Dados Fonte de Dados

Os dados foram obtidos dos registros dos prontuários de 105 pacientes com

leishmaniose, atendidos nas Unidades de Saúde de Jacobina, sede da 16ª Diretoria Regional de

Saúde, no período de 2000 a 2004. Destes pacientes, 94 foram atendidos nas Unidades do Sistema

Público (54 com LTA e 40 com LV) e 11 em consultórios ou em clínicas particulares (6 com LTA

e 5 com LV). Estes últimos foram identificados no Serviço de Assistência Farmacêutica do

município, no momento da retirada do medicamento e não constavam no Sistema de Informação

de Agravos de Notificação (SINAN). O endereço destes pacientes atendidos na Farmácia Básica

permitiu a realização da busca ativa e o encaminhamento, com a máxima brevidade, para uma

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reavaliação clínica e realização de exames laboratoriais no Serviço Público. Após a confirmação do diagnóstico, os casos foram notificados ao SINAN e foram analisados com base na sintomatologia, na resposta ao tratamento e, numa parcela deles, na sorologia para leishmaniose.

Diagnóstico Diagnóstico Diagnóstico Diagnóstico Diagnóstico

Os pacientes com leishmaniose tegumentar (n=65) e leishmaniose visceral (n=45) foram diagnosticados com base nos aspectos clínicos e respostas ao tratamento. Apenas 11 dos pacientes com LTA e 10 com LV realizaram exames sorológicos para a pesquisa de anticorpos anti- Leishmania, por meio da ELISA (Ensaio Imunoenzimático) e da RIFI (Reação de Imonufluorescência Indireta). Em 5 pacientes com LVA foi realizada a punção de medula óssea.

As coletas de sangue e as punções foram realizadas no Hospital Regional Vicentina Goulart; os soros foram enviados ao Laboratório Central do Estado (LACEN), para realização dos exames sorológicos, e as lâminas com esfregaços corados pelo Giemesa, para pesquisa de Leishmania, para o Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Farmácia, UFBA.

RESULTADOS RESULTADOS RESULTADOS RESULTADOS RESULTADOS

Durante o período 2000 a 2004 foram diagnosticados 105 pacientes com leishmaniose, 60 com LTA e 45 com LV, atendidos nas unidades de saúde de Jacobina (BA) (Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1). Os casos de LTA, na sua maioria, 96,7% (n=58), são de pacientes residentes em Jacobina. Dos pacientes com LV, 82% (n=37) são residentes em Jacobina e os 12% (n=8) restantes são de outros municípios vizinhos.

Tabela 1.

Tabela 1.

Tabela 1.

Tabela 1.

Tabela 1. Casos de leishmaniose tegumentar Americana (LTA) e de leishmaniose visceral (LV) de pacientes atendidos nas unidades de saúde e hospitais de Jacobina – BA de 2000 a 2004

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – Jacobina – Ba.

(6)

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de Saúde Pública Todos os casos apresentavam quadro clínico bastante sugestivo da doença. Na LTA, a maioria dos pacientes apresenta a forma cutânea com única ulceração (Tabela Tabela Tabela Tabela Tabela 22222).

No diagnóstico laboratorial para pesquisa de anticorpos anti-Leishmania, dos 10 pacientes com LV, 6 tiveram resultados positivos tanto no ELISA quanto na RIFI. Dos 11 pacientes com LTA 7 foram reagentes em ambos os testes. Os resultados da RIFI tiveram títulos iguais ou superiores a 1:160. Dos 5 pacientes com LV que realizaram a pesquisa de Leishmania no aspirado de medula, apenas em 3 foi confirmada a presença do parasito.

A Tabela Tabela Tabela Tabela 33333 mostra que a maior concentração de casos de LTA ocorre nas faixas Tabela etárias mais produtivas (dos 60 casos, 33 foram na faixa de 30 a 60 anos e 18 na faixa de 15 a 29, que juntas perfazem 85% dos casos) e do sexo masculino (37 casos: 61,7%), enquanto a LVA atinge principalmente crianças na faixa etária de 1 a 4 anos (19 dos 45 casos de LV, ou seja, 42,2%), porém não há relevância na distribuição da doença quanto ao sexo.

Com relação à distribuição dos casos por área geográfica foi evidenciada uma maior concentração da LTA na zona urbana, com 39 dos 60 casos encontrados (65%) e uma predominância da LV na zona rural, com 26 (57,78%) dos 45 detectados (Tabela Tabela Tabela Tabela Tabela 44444).

As áreas de maior prevalência da leishmaniose em Jacobina são os bairros do Leader (15 casos de LTA e 5 de LV), Bananeira (8 casos de LTA e 6 de LV), Caixa D’água (7 casos de LTA Tabela 2.

Tabela 2.

Tabela 2.

Tabela 2.

Tabela 2. Formas clínicas das LTA e sinais e sintomas da LV de pacientes atendidos nas unidades de saúde e hospitais de Jacobina – BA de 2000 a 2004

Fonte: Secretaria municipal de Saúde – Jacobina - BA

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e 3 de LV) e Grotinha (5 casos de LTA e 4 de LV). São localizados em áreas de pé de serra, cujas residências construídas ao longo das encostas e matas propiciam abrigo para o mosquito vetor (Figura Figura Figura Figura Figura 11111).

Tabela 3.

Tabela 3.

Tabela 3.

Tabela 3.

Tabela 3. Distribuição de casos de leishmaniose tegumentar americana (LTA) e de leishmaniose visceral (LV) por faixa etária e sexo de pacientes atendidos nas unidades de saúde e hospitais de Jacobina – BA de 2000 a 2004

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – Jacobina – Ba.

Tabela 4.

Tabela 4.

Tabela 4.

Tabela 4.

Tabela 4. Distribuição de casos de leishmaniose tegumentar Americana (LTA) e de leishmaniose visceral (LV) por área geográfica de pacientes atendidos nas unidades de saúde e hospitais de Jacobina– BA de 2000 a 2004

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde 16ª DIRES

Os casos de leishmaniose identificados neste estudo, com base na busca ativa dos

pacientes atendidos no Serviço de Assistência Farmacêutica, representam 10,5 % do total. Vale

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de Saúde Pública ressaltar que um deles era um caso de gestante adolescente, apresentando quadro clínico bastante característico de LV, morando em condições extremas de pobreza, com a presença de 14 cães no domicílio (Vieira, Soares, Jacobina, 2007, dados não publicados).

Figura 1.

Figura 1. Figura 1.

Figura 1.

Figura 1. Mapa da área urbana de Jacobina (BA) - 2004

Os pacientes com acompanhamento ambulatorial foram tratados com o antimonial

pentavalente (Sb+5), Glucantime, 20 mg/kg por via intramuscular, uma vez por dia, durante 20

dias. Os pacientes hospitalizados receberam esta mesma dose, por via venosa, conforme protocolo

do Ministério da Saúde.

2.3

Na primeira etapa de avaliação, a maioria dos pacientes respondeu à

terapêutica, sem a presença de efeitos colaterais ao medicamento. Apenas três pacientes que

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apresentaram prurido intenso, exantemas, descamação epitelial voltaram à unidade hospitalar, onde foram reavaliados e medicados.

Dos 60 casos de LTA, 54 foram reavaliados e encerrados por cura clínica, 5 mudaram de domicílio e um foi a óbito por problemas cardiovasculares. Dos 45 pacientes de LV, 20 casos foram reavaliados e encerrados por cura clínica, 12 não foram localizados, 13 estavam em acompanhamento médico, na época da realização do trabalho.

DISCUSSÃO DISCUSSÃO DISCUSSÃO DISCUSSÃO DISCUSSÃO

Os casos de leishmanioses no Brasil têm se destacado pelo crescimento e expansão geográfica nos últimos anos. No entanto, o número de casos registrados provavelmente está aquém da sua real incidência. Mesmo assim, os dados não apontam para uma redução da doença nos últimos sete anos.

2-4,13,15

O Estado da Bahia acompanha a tendência de crescimento do Brasil, porém com um número de casos notificados muito mais elevados. Entre 1985 e 1988 foram registrados 8.360 casos novos de LTA com maior concentração nos municípios da Região Sul e Chapada Diamantina.

20

Uma elevação progressiva dos números de casos da doença no Estado foi sendo registrada até um pico máximo em 1994, com o coeficiente de detecção de 38,8/100 mil habitantes, mantendo-se superior à média nacional nos últimos anos.

20

A LV na Bahia apresenta o mesmo padrão cíclico dos demais estados. No entanto, em 25 anos de notificação (1980-2005) é o estado com maior número de casos de LV (com 32,5%), seguido pelo Maranhão (16,9%), Ceará (14,1%) e Piauí (14%).

13

Em 1996 foi registrado coeficiente de detecção de 13,1 casos por 100.000 habitantes, sendo o risco de adoecer seis vezes maior que o do país e duas vezes maior que o da Região Nordeste.

20

A cidade de Jacobina, situada no oeste da Chapada de Diamantina, é um dos

principais focos da doença no estado, com registros de casos desde 1934.

12

Vários estudos foram

realizados na região, envolvendo diversos aspectos da doença. Sherlock

21

ressalta os aspectos

clínicos e epidemiológicos, destacando a importância do cão como principal reservatório.

22

Badaró

e cols.

15

demonstraram que a incidência de LV em crianças moradoras de alguns bairros da

periferia de Jacobina foi de 4,3/1.000, no período de 1980 a 1984. Dezenove anos depois, os

dados disponíveis neste trabalho confirmam a permanência das leishmanioses na Chapada

Diamantina, identificando 105 pacientes com leishmanioses (60 com LTA e 45 com LV),

atendidos nas unidades de saúde de Jacobina (BA), durante o período 2000 a 2004 (Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1 Tabela 1). A

maioria dos pacientes com leishmaniose tegumentar americana e com leishmaniose visceral,

atendidos em Jacobina no período estudado, é residente do próprio município: 96,75% (n=58)

com LTA e 82,3% (n=37) com LV. O pequeno fluxo de pacientes com LTA (n=2) e com LV (n=8)

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de Saúde Pública de outros municípios vizinhos pode ser explicado pela presença do Programas de Saúde da Família implantado no interior do Estado.

A maior concentração de casos de LTA na faixa etária mais produtiva (15-60) e no sexo masculino está relacionada ao caráter ocupacional desta endo-epidemia, pois, com a exploração do trabalhador rural, em particular nas fases de uso do trabalho intensivo para desflorestamento, capina e colheita. Este processo tanto incentiva o ‘trabalho volante’ em áreas de desmatamento, quanto empurra o trabalhador e a sua família para as periferias das cidades de maior porte da região, como é o caso de Jacobina. Como se pode observar pelos dados obtidos do período estudado, a maioria dos casos de LTA está concentrada na região urbana, confirmando a tendência da urbanização da doença, que provavelmente vem ocorrendo pela migração do mosquito transmissor em processos de urbanização não programada.

23,24

O processo de expulsão dos trabalhadores rurais, referido acima, leva os migrantes a se concentrarem nas áreas de pé-de- serra, que são desvalorizadas, construindo residências precárias nas encostas e junto à mata, possibilitando uma maior interação do homem com o cão doméstico e com o mosquito transmissor.

4

Este fato pode ser observado neste trabalho, pela maior concentração de LTA em alguns bairros de Jacobina, tradicionalmente com características favoráveis a expansão da LV.

(Figura 1 Figura 1 Figura 1 Figura 1 Figura 1).

A LV era considerada uma zoonose rural e peri-urbana, com poucos casos encontrados na zona urbana, mas nas duas últimas décadas vem atingindo as áreas urbanas.

4

Esta expansão poderia ser explicada pelos mesmos fatores que levaram à urbanização da LTA, discutidos no parágrafo anterior. A despeito desta tendência, com 42,22% dos casos na zona urbana, ainda existe uma predominância dos pacientes com LV, atendidos em Jacobina, na zona rural (57,78% dos casos).

A falta de acompanhamento clínico e laboratorial dos pacientes eleva o número de casos não conclusivos, influenciando na subnotificação. Pacientes que são atendidos em clínicas ou consultórios particulares muitas vezes não são notificados no SINAN, tornando vulnerável o sistema de informação epidemiológica. Neste trabalho, a busca ativa dos pacientes atendidos na Farmácia Básica do Município permitiu notificar 11 casos de leishmanioses, o que representa 10,5% do total dos pacientes estudados, confirmando a importância da implementação das ações mais efetivas de vigilância à saúde.

Apesar de vários trabalhos sobre leishmaniose terem sido desenvolvido em Jacobina,

não é possível avaliar se houve uma queda do número de casos da doença, devido aos diferentes

tipos de estratégias desenvolvidas. Badaró e cols.

15

avaliaram a incidência da LV em crianças, por

áreas geográficas, enquanto no presente estudo foi possível avaliar o número de casos do

(11)

município de Jacobina e atendidos em Jacobina no período de 2000 a 2004. Assim, o registro de 37 casos de LV no município nos últimos quatro anos representa uma média de 9,25 casos.

Mesmo que, em 2003, não tivesse sido registrado nenhum caso de LV, o município de Jacobina está incluído na classificação de transmissão intensa, representada por número de casos maior ou igual a 4,4.

3

Segundo dados de 2005 da 16ª Diretoria Regional de Saúde, Jacobina (BA), em 1997, foram registrados 5 casos de LV. Destes apenas um foi confirmado e os demais ignorados;

em 1998, foram registrados 9 casos suspeitos de LTA, com apenas uma confirmação, ficando evidente, mais uma vez, a falta de registro e acompanhamento dos casos, além da descontinuidade dos trabalhos desenvolvidos.

A 16ª Diretoria Regional de Saúde, com sede em Jacobina, registrou 127 casos de LV no período de 2000 a 2004, representando 2,4% dos casos na Bahia (Oliveira, Teixeira, Moura e Silva, 2006, dados não publicados); assim, os 45 casos atendidos em Jacobina representam 35,4% e os de Jacobina 29,1% dos casos.

Dos pacientes incluídos no estudo, 32 eram menores de 10 anos (71,1%), sendo 21 casos (46,7%) em menores de 5 anos, confirmando dados da literatura

2,4,15

, embora com valores um pouco mais elevados que os do país (a faixa etária mais predisposta a desenvolver a LV no Brasil, a dos menores de 10 anos, respondem por 54,4%, sendo 41% dos casos registrados em menores de 5 anos

2,4

). A explicação dada para esta maior susceptibilidade das crianças tem sido o estado de relativa imaturidade célula imunológica deste grupo etário.

9

Outro fator relevante, que potencializa o anterior, é a desnutrição infantil, em geral grave nesta região, além de maior exposição das crianças ao vetor no peri-domicílio.

Dos 105 pacientes diagnosticados clinicamente com leishmaniose, apenas 21 realizaram exames sorológicos, para pesquisa de anticorpos (ELISA e RIFI) e apenas em 5 dos pacientes com leishmaniose visceral foi realizada a punção de medula óssea, para a pesquisa do parasito. Esses dados permitem constatar a falta de suporte laboratorial, o que levou a maioria dos casos a serem encerrados apenas com o acompanhamento clínico baseado na resposta ao tratamento. Além do mais, outros fatores, como condições de moradia, presença de cães domésticos, mudanças ambientais, condições climáticas favoráveis ao inseto transmissor refletem a permanência da doença.

A escassez de investimentos em saúde pública no Brasil, principalmente nas ações

preventivas, agravadas pela sua localização geográfica de país tropical, com clima favorável ao

desenvolvimento de diversas endemias, faz com que as leishmanioses continuem sendo grave

problema de saúde pública. Em Jacobina, medidas de reestruturação da rede para estabelecer um

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de Saúde Pública fluxo de informações eficiente, de apoio diagnóstico, além do avanço na construção da rede integrada de saúde, terão que ser priorizadas com a máxima urgência, para o controle desta endemia.

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Recebido em 14.02.2007 e aprovado em 25.04.2007.

Referências

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