• Nenhum resultado encontrado

ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

12 MACEDO, M.V. et al. 2016. Ensinar e aprender Ciências e Biologia com os insetos. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 12-23.

ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS

Margarete Valverde de Macedo

1,2

Vivian Flinte

1

Milena de Sousa Nascimento

1

Ricardo Ferreira Monteiro

1

RESUMO

O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, que utilizam apenas representações prontas, não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada e o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à formação de um cidadão crítico e participativo. Esse trabalho tem como objetivos apresentar e desenvolver sugestões de como utilizar os insetos no processo ensino- aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, de maneira a aproveitar melhor o potencial que esses organismos e estas disciplinas têm para a formação integral do indivíduo. Iniciamos justificando, em termos práticos e pedagógicos, o uso dos insetos como ferramentas de ensino na Educação Básica, chamando atenção para suas possibilidades e facilidades. Sugerimos e descrevemos conteúdos e estratégias que podem ser desenvolvidos a partir do trabalho com insetos, apresentando alternativas para diferentes perfis de infraestrutura escolar e explorando espaços dentro ou, principalmente, próximos da escola que permitam e estimulem observações, perguntas e debates. Consideramos também a importância da formação do professor, receptividade e apoio da escola para que os objetivos sejam alcançados.

Palavras-chave: aprendizagem; atividades; campo; Educação Básica; ferramenta de ensino;

laboratório; sala de aula.

ABSTRACT

Teaching and learning Science and Biology with insects

Teaching Science and Biology based solely on lectures, using only finished materials, does not allow students to experience themselves natural phenomena, important for developing skills and competencies necessary for critical thinking. In this work we suggest ways to use insects in teaching of Science and Biology in Basic Education, in order to better explore the potential of these organisms and school subjects for the formation of students. The benefits of using insects as educational tools in Basic Education are explained in practical and pedagogical terms, drawing attention to its possibilities and facilities. We suggest and describe contents and strategies that can be developed to work with insects, presenting alternatives for different school infrastructure profiles and exploring spaces within or close to the school that allow and encourage questions and debates.

Teacher formation and school support are important to achieve good results.

Keywords: activities; Basic Education; classroom; field work; laboratory; learning; teaching tool.

___________________

1Laboratório de Ecologia de Insetos, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

2Autor correspondente mvmacedo@biologia.ufrj.br.

(2)

13

INTRODUÇÃO

Apesar da estrutura ainda um tanto enrijecida da sala de aula, marcada pelo processo passivo de transmissão-recepção do conhecimento, a evolução de teorias e práticas educacionais tem aberto a possibilidade para novas formas de abordar conteúdos, de modo a estimular nos alunos o desenvolvimento de um conjunto de atitudes e habilidades, tais como: saber aprender, pesquisar, selecionar informações, identificar evidências, concluir e comunicar, explicar conclusões, entre outras (um detalhamento sobre as habilidades pode ser lido em CAZELLI & FRANCO, 2001).

O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, ainda muito comum, prejudica o aluno, pois o deixa em um estado permanente de objeto (DEMO, 2002). Na sala de aula, a utilização de representações prontas e acabadas não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada, durante a qual irão ocorrer as impressões estéticas motivadoras da conduta e do aprendizado, e a elaboração de hipóteses (característica fundamental do pensamento científico) sobre o fenômeno observado (FONSECA & CALDEIRA, 2008). Como afirmou CALDEIRA (2005):

“O ensino de Ciências não deve fundamentar-se na memorização de conteúdos distantes da realidade dos alunos, mas precisa permiti-lo a elaboração de sua própria interpretação. Mais do que ensinar ciências é preciso possibilitar o raciocinar sobre e através de fenômenos naturais. ”

A maioria das crianças são aprendizes concretos, capazes de pensar de forma hipotética apenas quando lidam com exemplos concretos. O pensamento formal se desenvolve plenamente somente em algum momento entre os 14 anos e a idade adulta. Assim, teorias e conceitos científicos podem parecer altamente abstratos para a maioria dos alunos, mesmo no Ensino Médio e na faculdade. Por isso faz sentido, para um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, que quanto mais oportunidades práticas e exemplos da vida real se puder fornecer na aula de Ciências, melhor (MATTHEWS et al., 1997). Nesse contexto, a adoção da pesquisa como pedagogia, como método didático, deveria ser uma tônica no ensino de Ciências. DEMO (2002), em seu livro “Educar pela pesquisa”, discutiu que pesquisa e educação não devem ser separados, pois a pesquisa não se basta em ser o princípio científico, ela precisa também ser princípio educativo. Assim, pesquisa é o meio e a educação, o fim. Para estimular a pesquisa no aluno, é fundamental que exista na escola e em sala de aula, ambiente positivo para se conseguir no aluno participação ativa, presença dinâmica, interação e comunicação fácil.

Nesse contexto, muito mais do que a mera aula expositiva, mesmo acompanhada de textos,

fotos, slides etc., o desenvolvimento do espírito científico requer que várias importantes habilidades

sejam trabalhadas, como a observação, o planejamento, a organização, a associação, a integração,

(3)

14

que tornam possível a mobilização de conhecimentos para a solução de problemas, em outras palavras, construir competências. Segundo PERRENOUD (1999), competência é:

“uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. ”

As aulas práticas em ambientes naturais, em laboratórios (quando existem na escola) ou na própria sala podem ser um ótimo recurso didático no processo de ensino-aprendizagem de Ciências e Biologia. Visitas a espaços não formais de educação (museus, exposições, feiras etc.) proporcionam também estímulos à curiosidade e ao interesse, facilitam o aprendizado e quebram a monotonia do ambiente tradicional da sala de aula. A utilização de trabalhos de campo não é uma estratégia de ensino muito comum no currículo da Educação Básica, talvez por exigir certa disposição e compromisso tanto do professor quanto do aluno, porém, possuem muitos aspectos positivos. As atividades em campo podem, por exemplo, representar um estímulo para os professores, que, com elas, têm possibilidade de inovação em seu trabalho. Por seu aspecto estético motivador, tais atividades proporcionam o envolvimento emocional dos alunos, levando-os à reflexão sobre valores, ao desenvolvimento de atitudes e habilidades. O contato direto com o ambiente proporciona a experiência do fenômeno natural íntegro, ou seja, como ocorre na realidade, reduzindo a fragmentação do conhecimento (SENICIATO, 2006).

Iremos, neste artigo, desenvolver sugestões de como, dentro do contexto apresentado até aqui, utilizar os insetos como facilitador do ensino e da aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, ou seja, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

POR QUE USAR INSETOS PARA FACILITAR A APRENDIZAGEM

No ensino de Ciências e Biologia, os insetos talvez sejam o grupo animal que melhor permita ao professor oferecer aos alunos oportunidades para a construção de conceitos concretos, desenvolvimento do pensamento científico e exemplos de vida real (MACEDO et al., 2001). Hoje, o consenso geral entre os educadores de Ciências é que atividades exploratórias como um elemento de questionamento têm mais sucesso em cativar o interesse, estimular o pensar, promover a aprendizagem pela pesquisa e desenvolver o pensamento científico. Nesse sentido, os insetos como ferramenta de ensino se sobressaem (MATTHEWS et al., 1987).

Há muitos motivos para usar os insetos em sala de aula. Primeiramente, sua enorme riqueza de espécies, diversidade de adaptações e sucesso evolutivo. São muito abundantes, podendo ser encontrados em praticamente qualquer lugar e em todas as épocas do ano em nossa região.

Possuem, em geral, tamanho reduzido e ciclo de vida curto, e passam por grandes mudanças físicas

(4)

15

durante o desenvolvimento, sendo assim excelentes modelos para utilização em demonstrações e experimentações com objetivos didáticos, sendo fáceis de manter, manusear e criar em laboratório.

Por fim, o entendimento dos insetos pode se constituir na base para uma compreensão mais ampla da natureza e de seus processos.

O QUÊ APRENDER COM OS INSETOS

Os insetos podem ser usados como modelos para estudos de diversos conteúdos de Ciências e Biologia, muitas vezes relacionados. A seguir exemplificamos alguns destes conteúdos, mas, certamente, a lista é ainda maior do que esta apresentada.

Aspectos da biologia (ciclo de vida, metamorfose) e do comportamento animal podem ser abordados com a criação de alguns insetos. Mostrá-los no ambiente, através de uma pequena saída de campo ou visita ao jardim da escola também é recomendável. Esse tipo de observação traz o importante elemento da realidade. Em atividades ao ar livre facilmente encontram-se insetos em diferentes estágios de desenvolvimento que podem ser trazidos para a sala ou para o laboratório e criados para observação do ciclo de vida. Pode-se observar o que o inseto está fazendo (repousando, alimentando-se, acasalando, colocando ovos, cuidando da prole etc.), e algumas de suas características, como tamanho, forma, cor, defesas.

A ecologia talvez seja o melhor campo para desenvolver conceitos relacionados aos insetos, através de práticas realizadas em sala, no laboratório e no campo. Pelo seu grande número, eles participam de virtualmente todas as cadeias e teias alimentares, além de estarem envolvidos nos diversos tipos de interações ecológicas, como parasitismo/parasitoidismo/predação (+ -), competição (- -) e mutualismo (+ +). São animais que ocorrem em todos os continentes e em praticamente todos os ambientes, desde terrestre a aquático, possuindo adaptações específicas para cada um, além de apresentarem comportamentos muito variados. Esses temas também remetem à importância dos insetos para o funcionamento dos ecossistemas e da necessidade de sua preservação e da conservação das áreas naturais. O entendimento das características dos insetos que levaram ao enorme sucesso do grupo também é uma discussão interessante neste contexto e que auxilia no entendimento da evolução não apenas dos insetos, mas também de outros grupos animais.

Em zoologia ao estudar os grupos animais, sua morfologia e suas relações filogenéticas em

mais detalhes, os insetos destacam-se pelo extraordinário número de espécies, formas e hábitos

diferentes. As diversas ordens de insetos com características morfológicas bem evidentes e facilmente

reconhecidas se apresentam como material bastante didático e prático no conhecimento/aprendizado

sobre classificações zoológicas de animais nas diversas categorias taxonômicas. Vários mecanismos

(5)

16

bioquímicos e fisiológicos básicos existentes nesses animais (que surgiram há mais de 400 milhões de anos) são compartilhados com a espécie humana, embora outros tantos tenham sofrido modificações ao longo de sua evolução. Assim, fica fácil entender porque estudos de fisiologia realizados com insetos tiveram tanto impacto no entendimento dos mecanismos fundamentais que governam o funcionamento dos seres vivos em geral. Como algumas espécies de insetos transmitem e causam várias doenças, o professor pode explorá-las, discutindo suas consequências, mas também suas causas tanto no contexto de programa de saúde, quanto no de ecologia. Um exemplo é o conhecido mosquito da dengue, para o qual o próprio homem cria condições para reprodução. A criação de alguns mosquitos (facilmente coletados pelo professor e pelos alunos) em sala ou no laboratório da escola pode ajudar no entendimento do ciclo de vida e formação de conceitos concretos.

Os insetos foram e ainda são muito usados como material para estudar genética (por exemplo, modelos de herança, cromossomos ligados ao sexo), biologia do desenvolvimento embrionário, mecanismos de ação de hormônios esteróides, aspectos da biologia celular, entre outros. A criação e experimentos com Drosophila melanogaster Meigen, 1830 (Diptera: Drosophilidae), a mosca-das-frutas, podem ser facilmente realizados em sala ou no laboratório para trabalhar alguns desses conceitos, inclusive alguns relacionados à evolução.

Os insetos também podem ser muito úteis em Educação Ambiental, em parte por seu potencial interdisciplinar, mas também por permitir discussões sobre as mudanças ambientais atuais.

Além disso, os insetos são responsáveis por alguns serviços ecossistêmicos essenciais para a nossa sobrevivência, como a polinização e a ciclagem de nutrientes, sendo, portanto, ótimos exemplos para serem trabalhados dentro da temática da Educação Ambiental. Alguns jogos e atividades lúdicas usando os insetos podem ser muito úteis para trabalhar conceitos relacionados à conservação.

Algumas espécies de insetos são importantes pragas na agricultura, enquanto que outras atuam justamente fazendo o controle biológico dessas pragas, ou seja, mantendo essas populações de pragas em densidades baixas, causando danos bem reduzidos. Ao falar sobre o controle de pragas, podem ser levantados alguns pontos interessantes de discussão, como quais características das formas de cultivo atuais propiciam o aparecimento de pragas, e o papel das interações (herbivoria, parasitoidismo) na regulação de populações das pragas, sejam elas plantas ou insetos.

COMO UTILIZAR OS INSETOS

A forma como os insetos serão utilizados no ensino de Ciências e Biologia depende muito do

assunto a ser tratado e do objetivo que se quer alcançar. A versatilidade do grupo permite que sejam

realizadas atividades de diferentes níveis de complexidade e em diferentes espaços, oferecendo,

assim, as mais diversas experiências de aprendizado aos alunos. Abaixo são descritos e

(6)

17

desenvolvidos alguns procedimentos gerais que podem ser usados para trabalhar temas de estudo em Ciências e Biologia e cujo ajuste do nível de aprofundamento pode tornar a atividade aplicável para turmas desde a educação infantil até o Ensino Médio.

Em campo

Não há dúvidas de que um trabalho de campo em uma unidade de conservação (Figura 1A) é a opção ideal, pela diversidade de animais, hábitos, comportamentos e interações que podem ser encontrados. Portanto, se esta alternativa é possível, ela deve ser a escolhida! Entretanto, sabemos que para isso são necessários diversos tipos de recursos e disponibilidade de tempo, entre outros. O interessante quando trabalhamos com insetos é que essas limitações não impedem que uma prática ao ar livre seja realizada, uma vez que os insetos podem ser encontrados em qualquer lugar. Em uma breve ida ao jardim da escola ou à praça mais próxima podem ser observadas formigas carregando folhas para o formigueiro, borboletas alimentando-se em flores, lagartas alimentando-se de folhas ou mesmo besouros escondidos em sua planta hospedeira, oportunizando momentos ricos para observação direta relacionada a diversos conteúdos de Ciências e Biologia. Interações, como herbivoria/parasitismo e mutualismo (ex.: polinização), e tipos de defesa, como camuflagem e coloração de advertência, entre outros fenômenos, são frequentemente observados, mesmo em pequenas áreas com vegetação. Nesse tipo de atividade, a curiosidade, a observação atenta e a investigação são a chave do sucesso, mas procure levar também alguns materiais simples, como lupa portátil, papel e lápis. Os alunos podem ser solicitados a anotar tudo o que observarem, como as partes do corpo, o tamanho e a cor do inseto, a planta hospedeira, hábitos e comportamentos, entre outros aspectos, dependendo do objetivo do trabalho de campo. Um celular ou máquina fotográfica, mesmo de um modelo simples, ajuda a fazer o registro das observações, inclusive para compartilhamento entre os colegas e desenvolvimento posterior, enriquecendo o conhecimento de todo grupo.

Por outro lado, se o objetivo da atividade em campo é coletar insetos para criação em

laboratório, outros materiais serão necessários. Grande parte dos insetos, como lagartas, besouros,

percevejos, cigarras, pode ser coletada de forma simples, manualmente, utilizando-se apenas sacos

ou potes plásticos transparentes para o transporte. Outros grupos de insetos exigem métodos de

coleta mais elaborados, como o uso de armadilhas e rede entomológica (Figura 1B). A coleta de

insetos vivos para criação exige também a preocupação com a coleta de seu alimento. Se o inseto se

alimenta de folhas, estas devem ser coletadas especificamente da planta onde o inseto foi encontrado,

pois espécies de insetos alimentam-se, em geral, de um ou poucos tipos de plantas. No caso de

insetos carnívoros, como louva-a-deus, por exemplo, outros insetos menores devem ser coletados

(7)

18

para sua alimentação. É importante também o registro de todas as informações de coleta, como local, data, nome do coletor, planta hospedeira, em uma etiqueta, para posterior registro na caixa entomológica, se esta for uma opção. Mais detalhes sobre métodos de coleta e montagem de insetos podem ser encontrados em ALMEIDA et al. (1998). Alternativamente, se possível, os insetos criados podem ser liberados de volta no local onde foram coletados e esta atividade pode também suscitar a discussão de diversos aspectos relativos à preservação e conservação, além de princípios e valores relativos ao respeito à vida e à natureza.

Um ponto importante é a necessidade de obtenção de licença para realização de atividades como as acima descritas em unidades de conservação. Procure acessar a página do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para obter orientações de como fazer essa solicitação. Este instituto criou um sistema, SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade) que agiliza a concessão dessa licença e realiza o controle de todas as atividades de pesquisa e didáticas em unidades de conservação.

Figura 1. Saída de campo para observação de insetos (A) e coleta de insetos com rede entomológica (B).

Em laboratório

A criação de insetos em laboratório pode ser uma atividade bastante enriquecedora para o ensino de Ciências e Biologia. Por possuírem curto tempo de vida, em poucas semanas pode ser observado todo o ciclo de vida de um inseto, seus hábitos alimentares e diversos comportamentos.

Pode ser criada uma rotina de cuidados dos insetos, com uma escala entre os alunos, todos se responsabilizando pelos insetos, trabalhando, além dos conceitos de biologia, senso de responsabilidade, disciplina e trabalho em equipe. Sugere-se um caderno único onde todos façam as anotações diárias referentes à criação. Insetos fitófagos (ou herbívoros), aqueles que se alimentam de tecido vegetal, são mais fáceis de serem criados, pois o seu alimento é mais fácil de ser mantido em laboratório. Os ramos da planta hospedeira devem ser mantidos em geladeira, dentro de sacos

A B

(8)

19

plásticos transparentes, com um algodão umedecido na ponta dos galhos; assim as folhas permanecem frescas e adequadas para alimentação por mais tempo. É importante separar um canto na sala ou no laboratório para a criação dos insetos, pois essa é uma atividade que pode durar de duas a três semanas, dependendo do inseto coletado e do seu estágio de vida. Deve-se tentar minimizar a diferença entre as condições encontradas no campo e as da criação; para isso, sugerimos que os insetos sejam mantidos em potes plásticos com tampa (Figura 2A) ou em aquários de vidro (terrários), forrados com papel toalha ou papel higiênico. Para manter a umidade, é preciso borrifar algumas gotas de água no papel, mas sem encharcar, para evitar a proliferação de fungos. O local da criação deve ser arejado e sem incidência direta da luz do sol. A cada dois dias o recipiente de criação deve ser limpo, o papel trocado e o alimento renovado.

Outra atividade interessante que também pode ser realizada é a preparação de uma pequena coleção de insetos em um meio líquido (álcool etílico a 80%) ou a montagem de uma caixa entomológica, que pode ser feita usando os insetos após a criação ou mesmo com insetos encontrados mortos. A coleção em uma caixa entomológica deve ser feita com insetos montados em alfinetes entomológicos e posteriormente secos. Para detalhes sobre a montagem de insetos, ver ALMEIDA et al. (1998). A escolha dos insetos que serão depositados na coleção didática da escola depende do objetivo pedagógico dessa atividade. Por exemplo, se o objetivo é exemplificar o ciclo de vida e os diferentes estágios de vida de um inseto, a coleção deve conter ovos, larvas ou ninfas, pupas (no caso de holometábolos) e adultos. Mas, se o objetivo é demonstrar a grande diversidade dos insetos ou usar esses exemplares para fins de identificação taxonômica, é importante conter adultos pertencentes ao maior número possível de ordens, utilizando caixas de madeira com tampo de vidro ou acrílico, e contendo cânfora e sílica, para armazená-los de maneira adequada (Figura 2B). O uso e/ou a elaboração de uma chave dicotômica (facilmente encontrada na internet) para identificar as diferentes ordens de insetos coletados ou já depositados na caixa entomológica da escola são atividades que treinam a observação e auxiliam o aprendizado das características dos grupos.

Figura 2. Lagarta de uma espécie de borboleta criada em pote plástico com folhas de sua planta hospedeira (A) e caixa entomológica mostrando a diversidade de insetos adultos (B).

A B

(9)

20 Em sala de aula

A realização de atividades práticas em sala de aula é de extrema importância para o aprendizado do aluno, uma vez que aumentam o envolvimento e a participação do aluno. Nesse contexto, o uso de jogos didáticos pode ser uma alternativa às metodologias tradicionais, contribuindo para a melhora no desempenho dos alunos (GOMES & FRIEDRICH, 2001). Diversos jogos podem ser elaborados com a temática sobre insetos, como palavras cruzadas, jogo da memória, dominó, jogo da velha, entre outros. O importante nesses jogos é sempre fazer a associação da imagem a algum conceito relacionado ao inseto, por exemplo, o jogo da memória pode associar uma imagem a informações sobre a ecologia do grupo. GRENHA & MACEDO (2005) desenvolveram Interação (Figura 3A), jogo de tabuleiro baseado nas interações dos insetos com outros organismos e com o ambiente, cujo objetivo é fornecer uma ferramenta que pode ser utilizada para apresentar, desenvolver e fixar conceitos como hábitos, formas de defesa, alimentação, interações, entre outros. Cada aluno participante é uma espécie de inseto e recebe uma carta explicativa com informações sobre a sua espécie. Durante o jogo, o aluno se depara com situações sobre as quais deve tomar decisões com base nas características da sua espécie para prosseguir.

Outros exemplos de atividades práticas que podem ser realizadas em sala de aula são a confecção de esculturas (Figura 3B), fichas (Figura 3C), painéis e maquetes. Ao final do semestre, essas atividades podem ser organizadas em uma exposição sobre insetos (Figura 3D), apresentando os trabalhos dos alunos. Esse momento da exposição é importante como coroação do trabalho de todo um período letivo, além de estimular o trabalho em equipe, o planejamento e a execução de projetos. Se a escola tem um evento durante o qual os alunos fazem apresentação de seus trabalhos ao público, este é um momento muito adequado para a “exposição de insetos”. Se a escola ainda não tem este tipo de evento, pode ser muito interessante que esta ideia seja considerada no âmbito das Ciências e Biologia, pois este pode passar a ser um rico espaço no qual a escola abre suas portas para a comunidade, fortalecendo os laços e tornando-se ainda mais relevante em seu contexto social.

QUAIS INSETOS USAR

Os insetos que podem ser facilmente usados em sala de aula são: Lepidoptera (espécies de

borboleta e mariposas comuns ou com importância econômica, como pragas de hortaliças),

Hymenoptera (formigas que possam ser criadas em terrários; abelha de mel, Apis mellifera),

Coleoptera (joaninhas e tenébrios são fáceis de serem coletados ou comprados, além daqueles

besouros que frequentemente se alimentam de feijão e amendoim), Diptera (mosca da fruta,

Drosophila melanogaster), Blattodea (baratas domésticas). Novamente chamamos atenção para o fato

(10)

21

de que a escolha de um ou outro inseto e sua forma de utilização vão depender dos objetivos da atividade e, obviamente, das condições que se têm na escola.

Figura 3. Alunos jogando Interação em sala de aula (A). Esculturas (B), fichas e modelos (C) são alguns dos materiais sobre insetos elaborados e apresentados em exposição aberta ao público no polo Petrópolis (D), como atividade final da disciplina Insetos na Educação Básica, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do CEDERJ.

DO QUE PRECISAMOS PARA COMEÇAR A USAR INSETOS EM SALA DE AULA

Infraestrutura nas escolas

É evidente que uma boa infraestrutura na escola facilita muito o trabalho nas Ciências e na Biologia, pois um laboratório grande e equipado, e condições que permitam saídas para trabalhos de campo podem abrir um leque de possibilidades de desenvolvimento de temas nestas disciplinas.

Entretanto, há opções de baixo custo que podem cumprir as funções de estimular o estudo e desenvolver ou fixar conteúdos sobre diversos temas. Neste contexto, o laboratório pode ser substituído por uma reorganização do mobiliário da sala durante o trabalho, de forma a permitir que os alunos se organizem em grupos, e um pequeno espaço destinado ao armazenamento do material quando este não estiver sendo trabalhado. O trabalho de campo pode ser feito em espaços externos

A B

C D

(11)

22

à escola, como um jardim, uma praça ou um terreno abandonado, pois sabemos que vamos encontrar insetos em qualquer um destes espaços.

Formação

O professor precisa estar preparado para empregar os insetos, tanto no sentido de disposição, valorização e estímulo, quanto em relação ao domínio do conteúdo necessário para o planejamento, a prática e a execução das atividades. Para tanto o professor deve ter tido uma boa formação inicial, mas saber também que cursos de formação continuada e estudos independentes podem ajudar bastante no sucesso desta empreitada. Recursos instrucionais, como guias práticos, livros especializados, textos em sites de universidades, podem ajudar os professores a superar sua insegurança quanto ao uso dos insetos e orientá-los em suas atividades. Não há dúvida, no entanto, que mais material de apoio aos professores e aos alunos precisam ser desenvolvidos e difundidos em nosso país.

Disposição

Se a infraestutura não é limitante e sua deficiência pode ser superada de outras formas, e se a formação necessária para propor e desenvolver atividades usando insetos nas Ciências e na Biologia também pode ser melhorada usando recursos já disponíveis, resta a disposição em tornar real esta possibilidade. É claro que a receptividade e o apoio da escola podem ajudar bastante, particularmente nas atividades extraclasse, e este apoio deve ser buscado em todas as iniciativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se deve esquecer que os insetos e quaisquer organismos, mesmo sendo usados como modelos, são seres vivos e, como tais, alguns cuidados devem ser tomados. Mais ainda, deve-se aproveitar a oportunidade de trabalho com eles para que alguns valores e atitudes sejam desenvolvidos. Dentre estes podemos destacar o respeito à vida e à natureza, a partir da compreensão de que todo ser vivo faz parte de uma teia de relações importantes na natureza e que a quebra de um elo desta teia pode ter um efeito em cascata de consequências desastrosas também para o homem.

É importante também que o professor tenha em mente que outros organismos podem e devem

ser usados no estudo de Ciências e Biologia. É muito provável que a partir da discussão do uso dos

insetos como ferramenta pedagógica o professor tenha ideias de como e quais outros organismos

podem ser usados, até mais apropriadamente, dependendo da situação!

(12)

23

Finalmente, estamos certos de que os problemas que envolvem o processo ensino- aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica são bem mais complexos de serem resolvidos do que a simples adoção de uma ou outra metodologia de ensino/aprendizagem.

Entretanto, esperamos apenas contribuir para reduzir a distância entre o possível e o ideal no ensino destas disciplinas tão importantes ao desenvolvimento de um cidadão crítico e participativo em nossa sociedade.

Sugestões de leitura

Almeida, L.M.; Ribeiro-Costa, C. & Marinoni, L. 1998. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. Holos, Ribeirão Preto.

Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Estudo dos insetos. Edgard Blucher, São Paulo.

Buzzi, Z.J. & Miyazaki, R.D. 1999. Entomologia didática. Editora da UFPR. Curitiba.

Gullan P.J. & Cranston, P.S. 1996. The insects: an outline of entomology. Chapman & Hall, London.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S, & MARINONI, L. 1998. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. Editora Holos, Ribeirão Preto.

CALDEIRA, A.M.A. 2005. Análise semiótica do processo de ensino e aprendizagem. Tese de Livre-docência. UNESP, Bauru.

CAZELLI, S. & FRANCO, C. 2001. Alfabetismo científico: novos desafios no contexto da globalização. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências 3(1): 1-18.

DEMO, P. 2002. Educar pela pesquisa. Autores Associados, Campinas.

FONSECA G. & CALDEIRA, A.M.A. 2008. Uma reflexão sobre ensino aprendizagem de ecologia em aulas práticas e a construção de sociedades sustentáveis. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia 1(3): 70-92.

GOMES, R.R. & FRIEDRICH, M.A. 2001. Contribuição dos jogos didáticos na aprendizagem de conteúdos de Ciências e Biologia. In: Anais do I Encontro Regional de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro.

GRENHA, V. & MACEDO, M.V. 2005. Jogo Interação: Aprendendo interações ecológicas a partir de um jogo sobre insetos.

In: Anais do I Encontro Nacional de Ensino de Biologia. III Encontro Regional de Ensino de Biologia: RJ/ES.

Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro.

MACEDO, M.V.; GRUZMAN, E. & FLINTE, V. 2001. O uso dos insetos na Educação Básica. In: Anais do I Encontro Regional de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro.

MATTHEWS, R.W.; FLAGE, L.R. & MATTHEWS, J.R. 1997. Insects as teaching tools in primary and secondary education.

Annual Review of Entomology 42: 269-289.

PERRENOUD, P. 1999. Construir as competências desde a escola. Artmed Editora, Porto Alegre.

SENICIATO, T.A. 2006. Formação de valores estéticos em relação ao ambiente natural nas licenciaturas em Ciências Biológicas da UNESP. Tese de Doutorado. UNESP, Bauru.

Referências

Documentos relacionados

1999, no qual os pesquisadores desenvolveram o seu estudo a respeito da produção bibliográfica em periódicos, livros, capítulos de livros e anais de eventos da área

Com apoio da médico e enfermeira, aproveitaremos as reuniões que ocorre na UBS para capacitar a equipe para a realização de exame clínico apropriado, para

 Para a realização desta lâmina, com uma pipeta pingar uma gota de cada cultura em lâminas, colocar a lamínula em um ângulo de 45°, deixá-la cair e pressionar com

Na colocação das armadilhas seguiu-se as indicações de Dreves & Langellotto- Rhodaback (2011), ou seja, estas foram colocadas ao nível dos frutos, em zonas

Quadro 5-8 – Custo incremental em função da energia em períodos de ponta (troços comuns) ...50 Quadro 5-9 – Custo incremental em função da energia ...52 Quadro 5-10

A referida pesquisa está dividida em quatro partes: na primeira, apresentamos uma reflexão sobre o uso do vídeo na sala de aula e os aspectos cognitivos e dificuldades de

Além disso, é relevante informar que os cenários das médias das taxas de captura em função das bandeiras para cada fase de vida são similares, pois as bandeiras que configuram entre

Figura 1 - Protocolo alerta triangular das ocorrências traumáticas de Urgências ou Emergências...5 Figura 2 - Fluxograma das solicitações telefônicas de urgência