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DIREITO E SAÚDE: A monetização da saúde do empregado nos adicionais de periculosidade e insalubridade

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Revista Científica da FASETE 2019.1 | 173

DIREITO E SAÚDE: A monetização da saúde do empregado nos adicionais de periculosidade e insalubridade

José Roberto Bechir Maués Filho Advogado, doutorando pela Universidade de Buenos Aires – UBA e mestrando em Direitos Fundamentais.

Especialista em Direito do Trabalho pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. Graduado em Direito pela Universidade da Amazônia – UNAMA. E-mail: robertomaues@gmail.com.

Kaique Campos Duarte Advogado, mestrando em Direitos Fundamentais pela Universidade da Amazônia – UNAMA. Especialista em Direito Penal e Processual penal pela Universidade Estácio de Sá – UNESA e Especialista em Direito Constitucional pela Damásio Educacional – DAMÁSIO. Graduado em Direito pela Faculdade Ideal – Faci | Wyden, Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID e Graduado em Segurança Pública pela Universidade Estácio de Sá – UNESA. E-mail: kaique.ma1507@gmail.com.

Océlio de Jesus Carneiro Morais Juiz Federal do Trabalho no TRT 8ª região, professor pós-doutor e pesquisador do programa de pós-graduação stricto sensu (Mestrado em Direitos Fundamentais) da Universidade da Amazônia – UNAMA; Professor do curso de pós-graduação lato sensu em Direito da UNAMA; Professor do curso de graduação em direito da Universidade da Amazônia. Acadêmico titular da cadeira nº 18 da Academia Paraense de Letras Jurídicas. Pós-doutor em Democracia e Direitos Humanos no IGC da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Pt.). Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Especialista em economia do trabalho e relações sindicais pela UNICAMP/CESIT/EJUD 8º R; 5.

Graduação em Comunicação Social (Jornalismo) UFPA; Graduação em Direito pela Universidade da Amazônia – UNAMA. E-mail: dejesus.ocelio@gmail.com.

RESUMO

O presente artigo pretende analisar acerca da proteção da efetivação de direitos fundamentais na esfera trabalhista, concebendo as conseqüências danosas do sistema capitalista que monetiza o risco à saúde do obreiro, exposto à condições nocivas em seus ambientes laborativos que confronta os direitos fundamentais, em especial ao princípio da dignidade da pessoa humana, constante em nossa Carta Maior. Dessa forma, abordar-se a problemática encontrada na monetização do direito à saúde, no que tange o pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Refletindo, se o obreiro exposto a agentes insalubres que são incapazes de serem neutralizados pela utilização de equipamentos de proteção individual, deveriam ter a compensação do empregador por gerar danos a saúde ou a vida do trabalhador. Nesse sentido, contemplando as aspirações das Convenções Internacionais e sua aplicabilidade na Justiça do Trabalho. O percurso metodológico trilhado no artigo é descritivo-explicativo, do ponto de vista dos objetivos, pois abordará as peculiaridades acerca do tema escolhido por meio de um levantamento bibliográfico. Sendo a pesquisa caracterizada como teórica, através da análise doutrinária será possível redesenhar as concepções acerca da temática que enseja a pesquisa realizada.

Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Dignidade da Pessoa Humana. Direito

à Saúde. Monetização da Saúde.

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LAW AND HEALTH: The monetization of the employee’s health in hazard pay

ABSTRACT

This article intends to analyze the enforcement of the fundamental rights in labor law, considering the harmful consequences of the capitalist system which monetizes the health risk of employees exposed to dangerous conditions in their work environments, which goes against the fundamental rights, specially the one of dignity of the human person, present in Brazilian constitution. Thus, we aim to approach the problems about the monetization of the right to health, in what concerns the application of hazard pay, reflecting if the employee who is exposed to unhealthy agents that are unable of being neutralized by the usage of individual protection equipment should receive a compensation by the employer for causing risk to the worker’s health of life. Accordingly, this work comprehends the demands of International Conventions and their applicability into Labor Law. The methodological technique is descriptive-explicative, from the point of view of the objectives aimed, once it approaches the peculiarities about this subject by means of a bibliographical research. This paper is characterized as theoretical, through a doctrinal analysis it makes possible to redesign the conceptions about this topic, which demands researches like this one.

Keywords: Fundamental Rights. Dignity of the human person. Right to health.

Monetization of Health.

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal do Brasil em seu art. 1º, inciso III, estabelece a dignidade da pessoa humana como o próprio fundamento em si da constituição do Estado Democrático de Direitos.

Por esta razão, não se pode admitir que este direito fundamental fosse violado no que tange ao meio ambiente do trabalho.

Além da busca pela proteção da efetivação de direitos fundamentais na esfera trabalhista, o

trabalho tem por finalidade abordar a problemática encontrada na monetização do direito à saúde,

em que podemos destacar, como exemplo, o pagamento dos adicionais de insalubridade e

periculosidade. Ora, se o trabalhador está exposto a agentes insalubres que são incapazes de

serem neutralizados pela utilização de equipamentos de proteção individual, a solução seria pagar

pela saúde que está sendo perdida?

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Mais uma vez, voltamos às conseqüências danosas de um sistema capitalista que gira entorno do capital – com a devida escusa da redundância utilizada para enfatizar a essência do sistema –, de modo que a forma encontrada para “neutralizar” esses ambientes degradantes tem sido o dinheiro, passando o trabalhador a dispor de direitos outrora indisponíveis, este é o famoso fenômeno da monetização da saúde.

Portanto, este artigo tem como finalidade basilar propor uma reflexão a respeito do tema a fim de que possa alcançar as aspirações das Convenções Internacionais e sua aplicabilidade na Justiça do Trabalho, para que o trabalhador seja o real beneficiado já que é o maior prejudicado por estar exposto a tantos riscos à sua saúde.

O percurso metodológico trilhado no presente artigo é descritivo-explicativo, do ponto de vista dos objetivos, pois abordará as peculiaridades acerca do tema escolhido por meio de um levantamento bibliográfico. Sendo a pesquisa caracterizada como teórica, através da análise doutrinária será possível redesenhar as concepções acerca da temática que objetiva a pesquisa.

Em virtude da complexidade do tema, é certo, que as dúvidas não serão exauridas, todavia, o objetivo é promover o debate quanto às práticas de praxe que não são questionadas, e quanto à realidade e a coerência daquilo que é julgado como correto.

2 ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

A Princípio, é indispensável entender o conceito e as características dos adicionais de insalubridade e periculosidade, para assim adentrarmos as suas distinções. “Os adicionais consistem em parcelas contra prestativas suplementares devidas ao empregado em virtude do exercício do trabalho em circunstâncias tipificadas mais gravosas” (DELGADO, 2017, p 857).

Nesse mesmo sentido, Bomfim, ainda completa que:

O adicional também se constitui em um sobressalário e possui natureza salarial apesar da finalidade precípua de indenizar a nocividade causada pela situação a que o empregado estava exposto ou submetido. O trabalho em local insalubre, perigoso, noturno, extraordinário e a transferência do empregado para outra localidade são situações que acarretam algum tipo de dano à saúde social, biológica ou mental do empregado e, por isso, ensejam o pagamento do adicional. Na verdade, o empregador paga um plus em virtude do desconforto e da nocividade do trabalho. (BONFIM, 2014. p.

853)

Na interpretação de Carlos Henrique Bezerra Leite:

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Revista Científica da FASETE 2019.1 | 175 Os adicionais são elementos componentes do salário e têm por escopo compensar o trabalho realizado em situações que exijam maior desconforto do empregado em razão do tempo e do lugar da prestação do serviço ou que representem maior perigo ou risco para a sua saúde (LEITE, 2017. p. 439 – 440).

Por fim, nada impede que em determinadas situações possam corresponder à percepção de adicionais de insalubridade, periculosidade ou mesmo penosidade pela via da negociação coletiva, principalmente o último caso que no Brasil ainda não foi regulamentado por lei, mas é muito encontrado, como por exemplo na construção civil.

3 DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA DIMENSÃO

Para João Batista Herkenhoff, os direitos humanos são “aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua natureza humana, pela dignidade que a ele é inerente” (HERKENHOFF, 1994. p. 30).

Numa perspectiva constitucionalista, Alexandre de Moraes prefere utilizar a expressão “direitos humanos fundamentais”, sendo este o:

Conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana. (MORAES, 2002. p. 39)

Neste viés, embora existam preferências de nomenclaturas, como as supracitadas, adota-se neste estudo teórico a expressão “direitos humanos”, por entender que esta expressão é suficiente para traduzir seu caráter fundamental constitucional.

Dito isto, infere-se que os direitos sociais são integrantes de uma das dimensões dos direitos humanos, classificados como direitos humanos de segunda dimensão, o qual trouxe maior enfoque à garantia da igualdade entre os indivíduos e a proteção dos direitos do trabalhador.

Antonio Enrique Perez Luño evidencia que os direitos sociais emergem da evidenciação de que a

“liberdade sem igualdade não conduz a uma sociedade livre e pluralista” (PEREZ, 1990, p. 48), sendo tal perspectiva essencial para que se atinja a efetiva preservação do mínimo existencial.

Desta forma, observa-se que a segunda dimensão trouxe a preocupação com os direitos sociais,

voltado para a perspectiva da preservação do mínimo existencial, o qual encontra essencial e direta

ligação com o direito fundamental à dignidade da pessoa humana, conforme segue a análise.

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3.1 O trabalho e a dignidade da pessoa humana

Ingo Wolfgang Sarlet conceitua a dignidade da pessoa humana como sendo a:

Qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão. (SARLET, 2008, p. 37)

Ato contínuo, Victor Hugo Nazário Stuchi discorre que:

A declaração Universal dos Direitos Humanos adotada e proclamada na Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 estabelece, de forma geral, que a dignidade é fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo e que toda as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sendo dotadas de razão e consciência, devendo agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Essa mesma Declaração estabeleceu uma estreita relação entre a dignidade e o trabalho humano ao declarar, em seu artigo XXIII, que toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana. (NAZÁRIO STUCHI, 2010, p. 228)

No Brasil, a sua Constituição Federal de 1988 trouxe uma série de fundamentos primordiais para a proteção do indivíduo, bem como a valorização do trabalho, sendo constituídos como fundamentos do Estado Democrático de Direitos, quais sejam: Soberania; cidadania; dignidade da pessoa humana; valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.

Ressalta-se que a Constituição Federal do Brasil trouxe, pioneiramente, ideais de ordem econômica e ordem social de maneira sincrética; onde buscou-se um equilíbrio entre estes. No que tange a ordem econômica, esta se encontra disposta no art. 170 da CF/88 do Brasil, o qual aborda a valorização do trabalho e a livre iniciativa, em que podemos destacar como principal objetivo, uma existência digna, com a proteção a busca da plenitude de emprego. Outrossim, o art. 193 da CF/88 do Brasil, trouxe o alicerce à ordem social, a qual também possui relação direta com o exercício do trabalho e tem por objetivo o bem-estar e a justiça social.

Demonstrada a essencialidade do trabalho como fundamento do próprio Estado Democrático de Direitos e alicerce, tanto para ordem econômica como para ordem social, “quando há o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social, manifesta-se o ideal de justiça social” (NAZÁRIO STUCHI, 2010, p. 228).

O exímio doutrinador Nazário Stuchi exemplifica o ideal de justiça social da seguinte forma:

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Revista Científica da FASETE 2019.1 | 177 Para visualizarmos a efetividade desse ideal de justiça social, devemos pensar em uma balança. De um lado vemos a propriedade, um dos princípios da ordem econômica que se manifesta claramente nas relações de trabalho na figura do empregador, pois ele detém o poder econômico e os meios de produção. Do outro lado está o trabalhado humano, um dos princípios da ordem social, presente nas relações de trabalho por meio da figura do próprio trabalhador, que entrega ao empregador toda a sua força de trabalho em troca de um salário. O ponto de equilíbrio entre a ordem econômica e a ordem social é a dignidade da pessoa humana. (NAZÁRIO STUCHI, 2010, p. 228)

Martins Romar relaciona a dignidade da pessoa humana e o trabalho, de maneira que, pela sua perfeita análise, o trabalho e a dignidade da pessoa humana caminham, necessariamente, juntos e em completude, senão vejamos:

A relação existente entre a dignidade humana e trabalho abrange três questões iniciais: (a) a dignidade se afirma a partir da garantia ao trabalho, ou seja, o fato de ter trabalho assegura ao homem dignidade;

(b) a dignidade somente é assegurada se o trabalho é decente, ou seja, não basta ter trabalho, é preciso que do trabalho decorram circunstâncias que asseguram ao trabalhador e à sua família uma vida digna;

e (c) o ordenamento jurídico deve assegurar ao trabalhador direitos fundamentais e deve prever mecanismos de proteção e efetivação de tais direitos. (grifos da autora) (ROMAR, 2008, p. 1287)

Deste modo, deve haver a garantia a um trabalho, sendo este instrumento dignificante do homem;

o trabalho deve ser decente o Estado precisa fornecer a devida tutela jurídica a estes direitos fundamentais.

Neste viés, frisa-se que as condições do meio ambiente de trabalho laboral estão intimamente relacionadas à proteção à vida e à saúde do trabalhador, o que implicam no respeito a sua dignidade humana, consagradas no texto Constitucional Brasileiro, pois,“se a vida é o bem jurídico mais importante do ser humano e o trabalho é vital à pessoa humana, deve-se respeitar a integridade do trabalhador em seu cotidiano, pois atos adversos vão, por conseqüência, atingir a dignidade da pessoa humana” ( MARQUES, 2007, p.21).

4 SAÚDE E SEGURANÇA NO AMBIENTE DE TRABALHO E A MONETIZAÇÃO DA SAÚDE

O marco inicial para que houvesse a preocupação com saúde do trabalhador deu-se em meados

do século XVIII, após a revolução industrial, com isto, adveio à modernização das máquinas em

que os operários prestavam serviços, começando a surgir doenças ou acidentes decorrentes de tal

trabalho. Passando assim a ocorrer à necessidade de medidas protetivas direcionadas ao

trabalhador, ou seja, normas destinadas a melhorar o ambiente de trabalho nos mais variados

aspectos, especialmente do ponto de vista da saúde.

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O princípio da proteção ao meio ambiente do trabalho decorre de outros princípios previstos no art. 7º da CF/88 do Brasil, dentre eles a saber do princípio da redução dos riscos inerentes ao trabalho disposto no inciso XXII, conforme se expõe:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social; XXII - Redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.

Contudo, conclui-se que a Constituição Federal do Brasil caracterizou o direito subjetivo público à saúde, tornando-se exigência do Estado, o que o tornou fundamental na supervisão e na efetiva aplicação da lei com a finalidade de prevenir e proteger os trabalhadores.

Nesse mesmo sentido, Ronald Amorim e Souza se manifesta:

Os locais de trabalho devem atender às exigências mínimas legais trabalhistas, independentemente daquelas municipais por meio do Código de Obras, e vão da altura do pé-direito das edificações aos pisos, às aberturas nos pisos e paredes, escadas, rampas de acesso, passarelas, corredores (CLT, arts.170/174); a adequada iluminação, seja natural ou artificial, sempre levando em consideração a natureza da atividade, em moldes a evitar sombras, reflexos incômodos, contrastes excessivos e ofuscamento (art. 175). Do conforto térmico também cuida a lei, exigindo a ventilação natural adequada ao serviço e, supletivamente, a artificial quando insuficiente aquela. O desconforto do ambiente, em virtude do frio ou do calor, ensejará o uso de vestes adequadas à circunstância ou de recursos técnicos que representem proteção aos empregados (arts. 176/178). As regras de proteção estendem-se, ainda, às instalações elétricas e sua operação, inspeção ou reparo (arts. 179/181), às precauções quanto à segurança na movimentação, armazenagem e manuseio de materiais (arts.

182/183), a prevenção de acidentes com a utilização de máquinas e equipamentos, seus reparos, limpeza e ajustes (arts. 184/186), além dos trabalhos com caldeiras, fornos e recipientes sob pressão (arts. 187/188). (Souza, 1992, p. 113)

Assim, Rocha aduz que “o meio ambiente de trabalho representa todos os elementos, inter- relações e condições que influenciam o trabalhador em sua saúde física e mental, comportamentos e valores reunidos no locus do trabalho" (ROCHA, 2013, p.127).

Segundo o art. 160 da Consolidação das Leis do Trabalho do Brasil, nenhum estabelecimento pode iniciar suas atividades sem uma prévia inspeção tampouco sem aprovação das instalações pela autoridade regional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho.

Portanto, a todos os empregados é garantido um ambiente de trabalho seguro e saudável,

respeitando assim, o princípio da dignidade da pessoa humana, ou seja, a saúde e a segurança no

trabalho englobam o bem-estar social, mental e físico do trabalhador, sendo responsabilidade da

empresa fornecer local adequado e seguro para o labor (trabalho).

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Ocorre que, em que pese à teoria da proteção dos direitos fundamentais seja demasiadamente protecionista e louvável em sua essência, de maneira completamente oposta, é permitido em nosso ordenamento jurídico o pagamento dos adicionais de periculosidade e de insalubridade para aqueles trabalhadores submetidos a condições insalubres ou perigosas de trabalho. Explica-se melhor: a palavra Insalubridade vem do latim “insaluber.bris” e significa tudo aquilo que origina doença. Segundo a Norma Regulamentadora nº. 15 de Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego Brasileiro, o termo insalubridade é usado para definir o trabalho em um ambiente hostil à saúde.

Pela legislação brasileira atualmente em vigor, o conceito de insalubridade está disposto no art.

189 da Consolidação das Leis do Trabalho Brasileiras, da seguinte forma:

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977).

Completa Vólia Bomfim Cassar:

Para compensar o trabalho realizado nestas condições, o empregador deve pagar ao empregado adicional legal integral, independentemente do tempo que o empregado ficar exposto ao agente nocivo e é calculado sobre o salário mínimo. Assim, percebe-se que insalubridade nada mais é que o instrumento legal de compensação ao trabalhador por períodos de trabalho exposto a agentes nocivos, com potencial para prejudicar a sua saúde de alguma forma. (BOMFIM, 2014, p. 861.)

“O adicional de insalubridade será devido à razão de 40% (grau máximo), 20% (grau médio) e 10% (grau mínimo), calculado sobre o salário mínimo (art. 192 da Consolidação das Leis do Trabalho Brasileira)” (MARTINS, 2012. p 677). Ou seja, visa remunerar o trabalho prestado sob tal condição, como forma de compensação ao empregador.

De outra forma, a palavra Periculosidade vem de perigo, que se origina do latim “periculum”, sendo qualidade ou condição de periculoso/perigoso, estando prevista na Norma Regulamentadora nº. 16, Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego Brasileiro, a qual especifica as situações em que será devido o mencionado adicional.

Neste passo, o adicional de periculosidade, nada mais é que o valor devido ao empregado exposto

a atividades perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e

Emprego.

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Assim reza o artigo 193 da Consolidação das Leis do Trabalho Brasileiro:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador (...) (Redação dada pela Lei nº 12.740, de 2012); I - Inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; (Incluído pela Lei nº 12.740, de 2012); II - Roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. (Incluído pela Lei nº 12.740, de 2012); § 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta. (Incluído pela Lei nº 12.997, de 2014)

Desta forma, conforme se diz a própria natureza do adicional de insalubridade e do adicional de periculosidade, os referidos adicionais têm por objetivo “compensar” financeiramente o trabalhador que se vê exposto a situações que prejudiquem tanto a sua saúde, quanto a sua vida em si. E neste exato ínterim, percebemos a crise dos direitos fundamentais, na medida em que se permite pagar por direitos fundamentais outrora indisponíveis do trabalhador, é o que chamamos de monetização da saúde.

4.1 Convenção Internacional nº. 155 da Organização Internacional do Trabalho – OIT

Segundo o Autor Brasileiro Bezerra Leite, as convenções internacionais foram:

Criadas pelo Tratado de Versailles (Parte XII), em 1919, sobre o fundamento de que a justiça social é a base para a promoção universal da paz permanente, as atividades da Organização Internacional do Trabalho- OIT, consistem, basicamente, na proteção e promoção mundial dos direitos humanos no campo das relações de trabalho. (LEITE, 2017, p. 821)

A Convenção Internacional nº. 155 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – “Segurança e saúde dos Trabalhadores” – adota diversas questões relativas à saúde, segurança e higiene no meio ambiente de trabalho, sendo ratificada em 10.07.1992 pelo Brasil, tornando-se uma norma supralegal.

Para a convenção internacional citada, a “saúde não tem relação apenas com a ausência de afecções ou doenças, mas também com os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e higiene no ambiente de trabalho.” (art. 3, “e”, OIT)

Já o item 2 do art. 4º da citada Convenção Internacional, afirma que:

A política nacional do meio ambiente terá por objetivo prevenir os danos para a saúde que sejam consequência do trabalho, guarda relação com atividade laboral ou sobrevenham durante o trabalho, reduzindo ao mínimo, na medida em que seja razoável e possível as causas dos riscos inerentes ao meio ambiente do trabalho. O art. 21 que nenhuma providencia na área de segurança e higiene do trabalho poderá implicar ônus financeiro ao trabalhador.

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Haja vista que por ser mais benéfica ao empregado deveria ser aplicada de maneira que o trabalhador pudesse fazer jus à percepção dos dois adicionais simultaneamente. Tendo em vista que o empregado ao exercer sua atividade, está exposto ao ambiente de trabalho insalubre e perigoso, desta forma, seria aplicado como norma contra legem.

O pagamento de adicional não irá diminuir os riscos em que o empregado estará exposto, muito menos arcar com todas as despesas que por ventura podem surgir após o labor, caso o empregado tenha conseqüências futuras.

Sendo assim, o Brasil ratificou um tratado que tem por base a simultaneidade dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, pois por ela, o empregado nem deveria estar exposto a nenhum risco. Verifica-se por fim, que a forma encontrada para “neutralizar” o ambiente degradante em que o empregado se expõe é o dinheiro, passando assim o trabalhador a dispor de direitos outrora indisponíveis. Sendo muito cômodo para o empregador apenas arcar com um tipo de pagamento e usufruir de todas as formas de trabalhado, mostrando que mais uma vez voltamos às conseqüências danosas de um sistema capitalista que visa única e exclusivamente o capital (lucro a todo custo).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme constatado, o presente estudo busca demonstrar a necessidade do bem maior da vida, priorizando assim, o respeito, bem como, a aplicação da norma maior, que se sobrepõem a qualquer outro direito, a vida do trabalhador. Nessa teia, o direito à saúde na sua essência tem vinculação plena com o direito à vida e não pode ser objeto de negociação pelo empregador, em razão de se tratar de um direito fundamental indisponível, garantido pela Constituição Federal de 1988 e pelos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

Nesse sentido o direito do trabalho encontra nítida relação com os direitos sociais e constitucionais, tudo isso para que se possam efetivar instrumentos já existentes no ordenamento jurídico pátrio em prol do respeito à saúde e a dignidade da pessoa humana do trabalhador.

Inferimos, por tanto, que a degradação da saúde dos trabalhadores e a conseqüente monetização,

afrontam o princípio da dignidade da pessoa humana, elencado como um dos alicerces de todo

nosso ordenamento jurídico e fundamento do Estado Democrático de Direito. Assim, a intenção

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do pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade jamais servirá como compensação hábil para elidir os danos causados a saúde ou a vida do trabalhador, já que valor algum será capaz de sanar sequelas que podem surgir ao passar dos anos de atividade daquele trabalhador, assim, acrescer valores a remuneração do empregado tornar-se a medida mais “conveniente” para que as empresas continuem sobrevivendo no mercado de trabalho em prol do detrimento dos seus empregados mais uma vez, sacrificando assim a saúde dos seus trabalhadores sobre o prisma mais uma vez da mera obtenção de lucro a qualquer custo, mesmo que esse custo chegue ao cumulo de envolver a diminuição da vida de um ser humano.

REFERÊNCIAS

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Referências

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