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ALIMENTOS O DEVER DOS PAIS EM FORNECÊ-LOS AOS FILHOS

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Tiago Ferreira de Carvalho

ALIMENTOS

O DEVER DOS PAIS EM FORNECÊ-LOS AOS FILHOS

Centro Universitário Toledo Araçatuba – SP

2013

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Tiago Ferreira de Carvalho

ALIMENTOS

O DEVER DOS PAIS EM FORNECÊ-LOS AOS FILHOS

Centro Universitário Toledo Araçatuba – SP

2013

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob a orientação da Prof.ª Priscila Simões Garcia Oliveira.

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TIAGO FERREIRA DE CARVALHO

ALIMENTOS

O DEVER DOS PAIS EM FORNECÊ-LOS AOS FILHOS

Aprovado em 28 de outubro de 2013

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Prof. Me. Diego Gustavo Pereira

______________________________________

Prof. Me. Marcus Vinicius Ferraz Homem Xavier

______________________________________

Prof. Me. Renato Alexandre da Silva Freitas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob a orientação da Prof.ª Priscila Simões Garcia Oliveira.

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RESUMO

O presente trabalho tem como tema o dever dos pais em fornecerem alimentos aos filhos necessitados, sendo este dever um dos efeitos da relação de parentesco e do poder familiar. A respeito do conceito de alimentos, em direito, não há divergência, de modo que se engloba tudo o que for necessário para atender às necessidades da vida do ser humano. Desse modo, devem os pais fornecerem aos filhos, que não podem provê-los sozinhos, o que for necessário para à sua subsistência, ou seja, o indispensável ao sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução e educação, visando assegurar uma vida digna ao alimentando, bem como o seu não perecimento. Assim, devido a sua grande importância no Direito de Família e no dia- a-dia forense, o presente trabalho busca analisar os casos em que os filhos poderão pleitear os alimentos, bem como a sua forma adequada.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentos. Relação de Parentesco. Poder Familiar.

(5)

ABSTRACT

The present research studies the duty of the parents to provide food to their children in need.

The said obligation is one of the effects of the parental relationship and the family power. The concept of what is food, in the eyes the law, is universally accept by all, in way that comprehend everything that is necessary to attend the necessities of a human being.

Therefore, the parents must provide to their children, which are incapable of maintaining themselves, what is necessary to their healthy lifestyle, which is clothing, a place to life, medical assistance and education, aiming to assure a respectable life, as well as the preservation that lifestyle. Due to the unimaginable importance of the Family Law, this paper seeks to analyze situations in which the children will be able to require, judicially, the basics needs of a human being, as well as the proper form to do so.

KEYWORDS: Food. Parental Relationship. Family Power.

(6)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS ALIMENTOS ... 9

1.1. Elementos Históricos da Família e dos Alimentos ... 9

1.2. Conceito de Alimentos ... 13

1.3. Finalidades dos Alimentos ... 14

1.4. Espécies dos Alimentos ... 15

1.5. Características da Obrigação Alimentar ... 18

II – A RELAÇÃO DE PARENTESCO E O PODER FAMILIAR ... 23

2.1. Parentesco ... 23

2.2. Conceito de Parentesco ... 24

2.3. Modalidades de Parentesco ... 25

2.3.1. Parentesco Natural ou Consanguíneo ... 26

2.3.2. Parentesco por Afinidade ... 26

2.3.3. Parentesco Civil ... 27

2.3.4. Efeitos do Parentesco... 29

2.4. Poder Familiar ... 31

2.4.1. Conceito de Poder Familiar ... 32

2.4.2. Quanto à Pessoa e Bens do Filho Menor ... 33

2.4.3. Suspensão, Destituição e Extinção do Poder Familiar ... 35

III – O DIREITO DOS FILHOS AOS ALIMENTOS ... 38

3.1. Pressupostos da Obrigação Alimentar ... 38

3.2. Diferenças entre a Obrigação Alimentar e o Dever de Sustento ... 40

3.3. Sujeitos da Obrigação Alimentar ... 41

3.4. Mutabilidade do Quantum da Pensão Alimentícia ... 43

3.5. Modos de Satisfação ... 44

(7)

3.6. Ação de alimentos ... 45

3.7. Cessação do Dever de Fornecer os Alimentos aos Filhos ... 47

CONCLUSÃO ... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 52

(8)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa tem como tema a obrigação dos pais de fornecer o necessário aos filhos que não podem prover à sua própria subsistência. No ordenamento jurídico brasileiro, enquanto o filho for menor civilmente, esse dever será chamado pela doutrina de dever de sustento, ao passo que ao atingir a maioridade civil passará a ser chamado de obrigação alimentar. Assim, conforme veremos, a principal diferença entre ambos será a necessidade de atender aos pressupostos no caso da obrigação alimentar.

Os alimentos visam, em primeiro lugar, garantir a subsistência da pessoa humana, de forma a se evitar o seu perecimento. Porém, em direito, a palavra alimentos abrange tudo aquilo que é necessário para atender as necessidades da vida, com o fim de garantir a sobrevivência da pessoa. Desse modo, a palavra alimentos, aqui, abrange tudo o que é indispensável ao sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução e educação, a serem fornecidos periodicamente ao alimentando.

Partindo desse dever dos pais em fornecer o necessário à subsistência dos filhos, este trabalho de pesquisa será dividido em 3 capítulos, desenvolvendo as seguintes informações.

Primeiramente analisaremos o surgimento da família e do instituto alimentos, juntamente com suas evoluções históricas. Assim, será visto, de forma breve, o surgimento e as principais alterações da obrigação alimentar presente em nosso ordenamento jurídico. Vale dizer que pretende-se, e se faz necessário, observar-se o conceito, finalidades, espécies e características dos alimentos.

A seguir, será feito um estudo a respeito da relação de parentesco e do poder familiar, de forma a conceituar ambos e pesquisar suas modalidades e efeitos.

Por fim, no terceiro e último capítulo, será feita uma pesquisa especificamente sobre o

dever dos pais em fornecer aos filhos o necessário para a sua subsistência. Desse modo, será

visto primeiramente os pressupostos da obrigação alimentar, seguido das principais diferenças

entre esta obrigação e o dever de sustento. Em continuidade, será analisado os sujeitos da

obrigação alimentar, a possibilidade de modificação do quantum a ser prestado, seguido dos

modos de satisfação desta obrigação e da ação de alimentos. Por último, estudaremos as

causas que cessam a obrigação alimentar.

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Ao final, observaremos que os filhos que não podem prover à sua própria subsistência, ou seja, o seu próprio sustento, sendo este maior ou menor civilmente, devem ser auxiliados pelos pais, fundamentando-se no dever de sustento ou na obrigação alimentar, a depender do caso.

Importante mencionar que o presente trabalho monográfico foi totalmente formulado com estudo doutrinário, bem como da legislação vigente. Assim, todo o material de pesquisa encontra-se devidamente citado dentro do próprio texto conforme as normas exigidas pela

ABNT, assim como listado nas referências bibliográficas.

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I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS ALIMENTOS

1.1. Elementos Históricos da Família e dos Alimentos

Desde o seu surgimento, a família passou por diversas mudanças, de modo que, nas primeiras civilizações de importância, tais como a assíria, hindu, egípcia, grega e romana, era considerada uma entidade ampla e hierarquizada, enquanto que nos dias atuais é considerada de forma mais limitada, sendo geralmente formada por pais e filhos menores que residem juntos (VENOSA, 2005, p. 19).

Assim, com o passar do tempo, a família foi alterando-se quanto as suas finalidades, composição e papel de pais e mães.

No estado primitivo das civilizações, o grupo familiar não era estabelecido em relações individuais, de modo que as relações sexuais ocorriam entre os membros que integravam a tribo, fazendo com que o filho não conhecesse o pai e sim apenas a mãe. Desse modo a família surgiu de modo matriarcal, por estar sempre a criança junto à mãe (FRIEDRICH ENGELS, 1997, apud VENOSA, 2005, p. 19).

Porém, para Pereira (1996, apud VENOSA, 2005, p. 19) “essa posição antropológica que sustenta a promiscuidade não é isenta de dúvidas, entendendo ser pouco provável que essa estrutura fosse homogenia em todos os povos”.

Venosa (2005, p. 19) acredita que posteriormente, ainda no estado primitivo, as guerras, e talvez uma inclinação natural, levaram os homens a buscar relações com mulheres de outras tribos, momento que historiadores consideram como a primeira manifestação contra o incesto no meio social, denominada exogamia.

A monogamia, por transformar o formato da família, fez com que o poder paterno

fosse exercido, vez que começou a buscar o benefício dos filhos através da criação de

pequenas oficinas em suas casas visando um fator econômico de produção, que só se alterou

com a Revolução Industrial, momento em que a família novamente sofreu alteração em sua

forma. Esse novo modelo fez com que desaparecesse a característica de unidade de produção

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e conseqüentemente o seu papel econômico e, no mais, fez com que adquirisse valores morais, afetivos, espirituais e de assistência recíproca entre os membros.

Presente no direito romano, o pater famílias, baseado no poder paterno, era exercido sobre a mulher, escravos e filhos, bem como sobre todos os seus descendentes não emancipados. Esse poder era exercido inclusive sobre mulheres casadas com seus descendentes. Em relação aos filhos, o pater possuía inclusive o direito de vida e morte. Esse direito, quase absoluto, era exercido pelo ascendente mais velho, que ao mesmo tempo era chefe político, sacerdote e juiz.

Gonçalves (2009, p. 15) observa:

No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade. O pater famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis). Podia, desse modo, vendê-los, impor-lhes castigos e penas corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral do marido.

Gonçalves (2009, p. 15) complementa dizendo:

O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com os seus descendentes. A família era, então, simultaneamente, uma unidade econômica religiosa, política e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais velho era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça.

Devido ao culto familiar, culto este dirigido pelo pater, era essencial que a família fosse no formato de grupo, por se tratar de um vínculo de religião doméstica e ao culto dos antepassados, onde, inclusive, a mulher ao se casar passava a cultuar aos deuses e antepassados do marido, fazendo oferendas e abandonando o culto do lar de seu pai. O pater também foi responsável por muito tempo pelo patrimônio familiar, o qual era administrado somente por ele.

Em relação à obrigação de prestar alimentos, devido a essas características pertencentes ao Direito Romano clássico, afirma Venosa (2005, p. 392) que:

No Direito Romano clássico, a concepção de alimentos não era conhecida. A própria estrutura da família romana, sob a direção do pater famílias, que tinha sob seu manto e condução todos os demais membros, alieni júris, não permitia o reconhecimento dessa obrigação.

Cahali (2006, p. 38) complementa esse entendimento, dizendo que:

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Segundo se ressalta, essa omissão seria reflexo da própria constituição da família romana, que subsistiu durante todo o período arcaico e republicano; um direito a alimentos resultante de uma relação de parentesco seria até mesmo sem sentido, tendo em vista que o único vínculo existente entre os integrantes do grupo familiar seria o vínculo derivado do pátrio poder; a teor daquela estrutura, o paterfamilias concentrava em suas mãos todos os direitos, sem que qualquer obrigação o vinculasse aos seus dependentes, sobre os quais, aliás, tinha o ius vitae et necis;

gravitando à sua volta, tais dependentes não poderiam exercitar contra o titular da pátria potestas nenhuma pretensão de caráter patrimonial, como a derivada dos alimentos, na medida em que todos eram privados de qualquer capacidade patrimonial; com a natural recíproca da inexigibilidade de alimentos pelo pater em relação aos membros da família sobre seu poder, à evidência de não disporem esses de patrimônio próprio.

Dessa forma, não há precisão histórica para definir quando a obrigação alimentícia passou a ser conhecida. O que se sabe é que, no direito romano, a obrigação alimentar surgiu, inicialmente, decorrente das relações de clientela e patronato, obrigação esta que nas relações de família passou a ter aplicação apenas na época imperial, considerando-se, portanto, a época de Justiniano como ponto de partida desse instituto no âmbito familiar.

Cahali (2006, p. 40) afirma que:

No direito justinianeu foi seguramente conhecida uma obrigação alimentar recíproca entre ascendentes e descentes em linha reta ao infinito, paternos e maternos na família legítima, entre ascendentes maternos, pai e descendentes na família ilegítima, com exclusão daquela constituída ex nefariis vel incestis vel damnatis complexibus; talvez entre irmãos e irmãs; e muito provavelmente pertencente a esse período a extensão da obrigação alimentar à linha colateral.

Na Idade média a família foi regulamentada exclusivamente pelo direito canônico, direito este formado por normas imperativas inspiradas na vontade de Deus ou na vontade do Monarca. Desse modo o casamento era considerado um sacramento, de forma que não podia o homem dissolver o que Deus uniu.

Em relação a obrigação de prestar alimentos, o Direito Canônico, devido as suas tradições e costumes, estendeu tal dever, inclusive em relações consideradas extrafamiliares.

Nas normas presentes nos Códigos elaborados no Brasil, a partir do século XIX, a família brasileira sempre foi colocada de forma muito parecida das romanas, bem como de forma aproximada do direito canônico, devido à grande influência religiosa.

Venosa (2005, p. 31) afirma que:

Os Códigos elaborados a partir do século XIX dedicaram normas sobre a família.

Naquela época, a sociedade era eminentemente rural e patriarcal, guardando traços profundos da família da Antiguidade. A mulher dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos direitos do homem. O marido era considerado o chefe, o administrador e o representante da sociedade conjugal. Nosso Código Civil é fruto direto dessa época. Os filhos submetiam-se à autoridade paterna, como

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futuros continuadores da família, em uma situação muito próxima da família romana.

Venosa (2005, p. 31/32) continua afirmando que:

O Estado, não sem muita resistência, absorve da Igreja a regulamentação da família e do casamento, no momento em que esta não mais interfere na direção daquele. No entanto, pela forte influência religiosa e como consequência da moral da época, o Estado não se afasta muito dos cânones, assimilando-os nas legislações com maior ou menor âmbito. Manteve-se a indissolubilidade do vínculo do casamento e a capitis deminutio, incapacidade relativa, da mulher, bem como a distinção legal de filiação legítima e ilegítima.

O Código Civil de 1916 disciplinou a obrigação alimentar familiar apenas como efeito jurídico do casamento, sendo através de legislações complementares posteriores, aos poucos, alterado sua regulamentação.

Nas palavras de Gonçalves (2001, p. 301/302):

Nosso Código Civil originalmente disciplinou a obrigação alimentar dentre os efeitos do casamento, inserindo-a como um dos deveres dos cônjuges (“mutua assistência”, art. 231, III e “sustento, guarda e educação dos filhos”, art. 231, IV), bem como mencionando competir ao marido, como chefe da sociedade conjugal,

“prover a manutenção da família” (art. 233, IV), além de fazer a obrigação derivar do parentesco (arts. 396 ss). A legislação complementar posterior, por força das sensíveis transformações sociológicas da família [...], introduziu várias nuanças na regulamentação do instituto.

A Constituição Federal de 1988 prevê o dever de assistência entre os membros da família, de modo a propiciar a manutenção de uma vida digna, por ser mais do que necessário que a pessoa se alimente adequadamente. Dessa forma, a Carta Magna de 1988, no âmbito familiar especialmente, buscando zelar pelo princípio da dignidade humana, impôs o dever de assistência mútua de solidariedade entre pais e filhos.

Dispõe a CF/88 em seu artigo 229, in verbis: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.

Portanto, há o reconhecimento da responsabilidade jurídica, além de moral, entre os membros da mesma família, sendo dessa forma incluído o dever de prestar alimentos, na forma prevista em lei.

Por estes motivos, Cahali (2006, p. 44) comenta:

Diante desse quadro extremamente complexo, esperava-se que o Código Civil de 2002 viesse a proporcionar um instituto atualizado e sistematizado, pelo menos para tornar menos dificultosa a sua utilização pelos operadores do direito.

Mas isso acabou não acontecendo, seja em decorrência do largo período de estagnação do anteprojeto e projeto, intercalada a sua tramitação com uma gama de

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profundas inovações no plano da legislação da família; seja, igualmente, pela falta de uma visão de conjunto do nosso sistema jurídico por aqueles que assumiram a responsabilidade pela nova codificação.

Conforme estudado, a família, desde o seu surgimento até os dias atuais, sofreu muitas alterações em sua forma. Portanto, com o passar do tempo e devido a suas alterações, surgiu a obrigação alimentar, presente em nosso ordenamento jurídico, e que, assim como a família, desde o seu surgimento, sofreu diversas mudanças.

1.2. Conceito de Alimentos

Muitos autores conceituam os “Alimentos”, porém todos no mesmo sentido, de forma que uma definição complementa a outra.

Gonçalves (2009, p. 455), afirma:

O vocábulo “alimentos” tem, todavia, conotação muito mais ampla do que na linguagem comum, não se limitando ao necessário para o sustento de uma pessoa.

Nele se compreende não só a obrigação a ser prestada. A aludida expressão tem, no campo do direito, uma acepção técnica de larga abrangência, compreendendo não só o indispensável ao sustento, como também o necessário à manutenção da condição social e moral do alimentando.

Portanto, os alimentos não devem ser compreendidos de forma restrita e sim amplamente, pois não abrangem apenas o necessário para o sustento do indivíduo, e sim o necessário inclusive para manutenção da condição social e moral do alimentando.

Para Cahali (2006, p. 15/16):

Adotada no direito para designar o conteúdo de uma pretensão ou de uma obrigação, a palavra “alimentos” vem a significar tudo o que é necessário para satisfazer os reclamos da vida; são as prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-las por si; mais amplamente, é a contribuição periódica assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem, como necessário à sua manutenção.

Desse modo, por serem prestações que visam satisfazer as necessidades vitais do alimentando, os alimentos devem ser fornecidos periodicamente.

Complementa Venosa (2005, p. 392) dizendo que:

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Assim, alimentos, na linguagem jurídica, possui um significado bem mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além da alimentação, também o que for necessário para moradia, vestuário, assistência médica e instrução. Os alimentos, assim, traduzem-se em prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir essas necessidades e assegurar sua subsistência.

Assim, a palavras alimentos, em direito, deve ser entendido de forma ampla, de modo a abranger o necessário para alimentação, bem como às demais necessidades do alimentando, ou seja, moradia, vestuário, assistência médica e instrução.

Rodrigues (2006, p. 374) vai mais além, dizendo que:

Alimentos, em direito, denomina-se a prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades da vida. A palavra tem conotação muito mais ampla do que na linguagem vulgar, em que significa o necessário para o sustento. Aqui, trata-se não só do sustento, como também de vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença, enfim, de todo o necessário para atender às necessidades da vida; e, em se tratando de criança, abrange o que for preciso para sua instrução.

Ressalte-se que nosso Código Civil, em seu artigo 1920, in verbis, prevê expressamente que os alimentos não são apenas o necessário para alimentação: “o legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor”.

Portanto se conclui que, no direito, a palavra “Alimentos” possui um sentido muito amplo, de forma a compreender tudo aquilo necessário para atender às necessidades da vida, à sobrevivência do ser humano, devendo abranger o indispensável ao seu sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução e educação, a serem fornecidos periodicamente.

1.3. Finalidades dos Alimentos

Conforme já estudado, no direito, os “alimentos” devem ser interpretados em um sentido amplo, compreendendo tudo o necessário a suprir as necessidades vitais e assegurar a subsistência de alguém que não pode suprir sozinho, através de prestações periódicas.

Assim, Rodrigues (2006, p. 375) afirma que “a prestação alimentícia tem um fim precípuo, isto é, atender à necessidade de uma pessoa que não pode prover à sua subsistência.

Cahali (2006, p. 35) complementa dizendo que:

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Os alimentos visam assegurar ao necessitado aquilo que é preciso para a sua manutenção, entendida esta em sentido amplo, propiciando-lhe os meios de subsistência, se o mesmo não tem de onde tirá-los ou se encontra impossibilitado de produzi-los.

Portanto, podemos concluir que a principal finalidade dos alimentos é garantir a subsistência, bem como suprir as necessidades vitais de quem não pode provê-la sozinho.

1.4. Espécies dos Alimentos

A doutrina classifica os alimentos segundo diversos critérios. Autores como Yussef Said Cahali, Washington de Barros Monteiro, entre outros, classificam os alimentos de acordo com sua natureza, quanto à causa jurídica, quanto à finalidade, quanto ao momento da prestação.

De acordo com os referidos doutrinadores, segundo o critério de sua natureza, os alimentos podem ser naturais ou civis.

Cahali (2006, p. 18) define claramente essas duas espécies, dizendo que:

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que é estritamente necessário para a mantença da vida de uma pessoa, compreendendo tão somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites do necessarium vitae, diz-se que são alimentos naturais; toda vida, se abrangentes de outras necessidades, intelectuais e morais, inclusive recreação do beneficiário, compreendendo assim o necessarium personae e fixados segundo a qualidade do alimentando e os deveres da pessoa obrigada, diz-se que são alimentos civis.

Dessa forma, podemos concluir que os alimentos naturais são aqueles que compreendem tudo o que é necessário para a sobrevivência da pessoa, enquanto que os alimentos civis englobam outras necessidades intelectuais e morais (MONTEIRO, 2004, p.

362).

O segundo critério de classificação dos alimentos é em relação à causa jurídica, podendo ser voluntários, ressarcitórios, legítimos ou legais.

Os alimentos voluntários são aqueles que surgem através de uma declaração de

vontade, podendo ser inter vivos ou causa mortis, se inserindo no direito das obrigações ou

das sucessões.

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Gonçalves (2009, p. 458), afirma que:

Os alimentos voluntários, que resultam da intenção de fornecer a uma pessoa os meios de subsistência, podem tomar a forma jurídica de constituição de uma renda vitalícia, onerosa ou gratuita; de constituição de um usufruto, ou de constituição de um capital vinculado, que ofereça as vantagens de uma segurança maior para as partes interessadas.

Os alimentos ressarcitórios, também conhecidos como indenizatórios, são destinados a indenizar vítima de ato ilícito como forma de indenização do dano ex delicto.

Ressalta-se que esse tipo de prestação alimentícia serve apenas como referencial ou parâmetro na fixação do dano indenizatório decorrente do ato ilícito, não se confundindo com os alimentos do Direito de Família (CAHALI, 2006, p. 25).

Os alimentos legítimos, também conhecidos como legais, surgem em virtude de uma obrigação legal, que pode decorrer do parentesco (iure snaguinis), do casamento ou do companheirismo.

Cahali (2006, p. 22), afirma:

Como legítimos, qualificam-se os alimentos devidos em virtude de uma obrigação legal; no sistema do nosso direito, são aqueles que se devem por direito de sangue (ex iure sanguinis), por um veículo de parentesco ou relação de natureza familiar, ou em decorrência do matrimônio; só os alimentos legítimos, assim chamados por derivarem ex dispositione iuris, inserem-se no Direito de Família.

Assim, apenas os alimentos legítimos são pertencentes ao direito de família, bem como permitem a prisão civil do devedor pelo não pagamento de dívida alimentícia, permitida na Constituição Federal, em seu artigo 5º, LXVII.

Entre as espécies dos alimentos, estão os classificados quanto à finalidade, que podem ser os alimentos em definitivos ou regulares, provisórios e provisionais.

Segundo Gonçalves (2009, p. 459), os definitivos são: “os de caráter permanente, estabelecidos pelo juiz na sentença ou em acordo das partes devidamente homologado, malgrado possam ser revistos”.

Portanto, mesmo com a possibilidade de posterior revisão, os alimentos definitivos são aqueles estabelecidos pelo magistrado, ou pelas partes com a devida homologação, a serem pagos em prestações periódicas, com caráter permanente.

Os alimentos provisórios são aqueles fixados incidentalmente ou liminarmente no

despacho inicial proferido na ação de alimentos que possui rito especial estabelecido pela Lei

n. 5.478/68, conhecida como Lei de Alimentos. Eles visam suprir necessidades do credor

(18)

enquanto espera a sentença de mérito, bem como possui natureza antecipatória, constituindo uma antevisão dos definitivos (DINIZ, 2007, p. 553).

Desse modo, quando fixados incidentalmente ou liminarmente, através do despacho inicial proferido pelo magistrado na ação de alimentos, com a finalidade de suprir as necessidades do credor enquanto não é proferida sentença, os alimentos serão chamados de provisórios.

Os alimentos provisionais, ou também conhecidos como “ad litem”, são aqueles determinados em medida cautelar e que visam manter o requerente durante a tramitação da lide principal e ao pagamento das despesas judiciais, inclusive honorários advocatícios (DINIZ, 2007, p. 553).

A principal diferença entre os alimentos provisórios e os provisionais é que enquanto aqueles exigem prova pré-constituída do parentesco, casamento ou companheirismo, estes necessitam do preenchimentos dos requisitos de toda medida cautelar, ou seja, “fumus boni juris” e do “periculum in mora”.

No mais, vale ressaltar que os alimentos provisionais conservam sua eficácia até o julgamento da ação principal, mas podem, a qualquer tempo, ser revogados ou modificados.

Outra espécie de classificação dos alimentos é em relação ao momento da prestação, podendo ser os alimentos classificados em pretéritos, atuais e futuros. Ocorre que, no direito brasileiro, essa classificação não é totalmente adequada, conforme se verificará a seguir.

Gonçalves (2009, p. 461) explica que:

São pretéritos quando o pedido retroage a período anterior ao ajuizamento da ação;

atuais, os postulados a partir do ajuizamento; e futuros, os alimentos devidos somente a partir da sentença. O direito brasileiro só admite os alimentos atuais e os futuros. Os pretéritos, referentes a período anterior à propositura da ação, não são devidos.

Portanto, o ordenamento jurídico brasileiro só admite cobrar os alimentos atuais e futuros, sendo vedado requerer os alimentos pretéritos, ou seja, anteriores ao ajuizamento da ação. No mais, vale dizer que não se pode confundir alimentos pretéritos com prestações pretéritas, por serem estas prestações vencidas e não cobradas.

Diniz (2007, p. 555) explica que os alimentos podem ser atuais, se pleiteados forem a

partir do ajuizamento da ação, e futuros, se devidos após prolatada a decisão. Acrescenta

ainda que os alimentos pretéritos não são devidos, nem se confundem com as prestações

pretéritas, vencidas e não cobradas, fixadas na sentença ou no acordo, que passam a ser um

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crédito como qualquer outro a ser cobrado pela forma de execução por quantia certa, nos termos do art. 732 do Código de Processo Civil.

Essa classificação é de total importância, pois só os alimentos atuais, representados pelas últimas 03 (três) prestações, é que autorizam a imposição de prisão civil do alimentante com o intuito de compeli-lo a suprir as necessidades atuais do alimentário.

Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, conforme Súmula n. 309:

Débito Alimentar - Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento da Execução e no Curso do Processo

O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. (BRASIL, 2013)

Após estudarmos as espécies de alimentos e suas subdivisões, estudaremos as características da obrigação alimentar que são de grande importância.

1.5. Características da Obrigação Alimentar

A obrigação alimentar, prevista em nosso Ordenamento Jurídico, possui várias características, estando entre elas a reciprocidade, impenhorabilidade, a divisibilidade, entre outras.

O direito à prestação alimentícia é recíproco, conforme dispõe o art. 1.696 do Código Civil de 2002, in verbis: “O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”.

Porém, essa reciprocidade não indica que duas pessoas devam prestar alimentos entre si simultaneamente, mas sim que o devedor de hoje pode tornar-se no futuro o credor.

Para Cahali (2006, p. 49) “a característica fundamental do direito de alimentos é representada pelo fato de tratar-se de direito personalíssimo”.

Essa característica vincula os alimentos a um direito da personalidade do indivíduo, pois visa assegurar a sua subsistência e integridade física. Desse modo, sua titularidade não pode ser passada a outrem.

Em relação ao dever de fornecer alimentos, se trata de uma obrigação transmissível,

sendo esta uma inovação do Código Civil de 2002, uma vez que o Código de 1916 não

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admitia essa possibilidade. Tal disposição estava prevista no artigo 402, que dizia que “a obrigação de prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor”. Desse modo, tal dever extinguia-se pela morte do alimentante, só respondendo os herdeiros pelos alimentos vencidos e não pagos, não constituindo mais pensão, passando a ser parte das dívidas que oneravam a herança (GONÇALVES, 2009, p. 464).

Com a entrada do Código Civil de 2002, passou a permitir a sua transmissibilidade, dispondo o artigo 1.700 que: “A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”.

Assim, ao se falar em transmissibilidade da obrigação de prestar alimentos, deve-se observar o artigo 1.694, bem como seu parágrafo único, que diz: “Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

Outra característica importante da obrigação alimentar é que se trata de uma obrigação divisível e não solidária, pois a solidariedade não se presume e sim resulta da lei ou da vontade das partes (artigo 264 do Código Civil). Assim, não havendo imposição através de texto legal, ela será divisível, ou seja, conjunta, respondendo cada devedor por sua quota- parte. É o disposto no artigo 257, do Código Civil, in verbis: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores” (GONÇALVES, 2009, p. 468).

Diniz (2007, p. 550) faz uma ressalva em relação alimentando idoso, dizendo que nesse caso a obrigação alimentar passará a ser solidária ex lege, cabendo-lhe optar entre os prestadores.

A divisibilidade fica clara na segunda parte do artigo 1.698 do Código Civil, que dispõe:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

No mais, os alimentos possuem outras características, como a irrenunciabilidade,

inacessibilidade, incompensabilidade e impenhorabilidade, todas previstas expressamente em

nosso atual Código Civil, em seu artigo 1.707, in verbis: “Pode o credor não exercer, porém

lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,

compensação ou penhora”.

(21)

Conforme se verifica no artigo transcrito acima, por ser uma das características desse direito a irrenunciabilidade, ele pode deixar de ser exercido, porém não pode ser renunciado.

Portanto, o não exercício desse direito não significa a sua renúncia.

Cahali (2006, p. 51) afirma que “a simples inércia no recebimento dos alimentos no máximo pode ser admitida como desistência voluntária dos alimentos, e não como motivo legal para a exoneração de encargo, ante a irrenunciabilidade do direito”

Gonçalves (2009, p. 478) vai mais além, dizendo que:

O direito a alimentos constitui uma modalidade do direito à vida. Por isso, o Estado protege-o com normas de ordem pública, decorrendo daí a sua irrenunciabilidade, que atinge, porém, somente o direito, não o exercício. Não se pode assim renunciar aos alimentos futuros. A não-postulação em juízo é interpretada apenas como falta de exercício, não significando a renúncia.

Quanto ao crédito alimentar, referente ao direito aos alimentos futuros, este não pode ser cedido a outrem, devido a seu caráter personalíssimo. Sendo assim, os alimentos são incessíveis em relação ao credor. No mais, vale dizer que o crédito formado por pensões alimentares vencidas será considerado um crédito comum, já integrado ao patrimônio do alimentante, pois este sobreviveu mesmo sem tê-lo recebido, de modo que este sim poderá ser cedido.

Para Cahali (2006, p. 103) o crédito alimentar não pode ser compensado, pois, em razão de seu caráter personalíssimo, visa assegurar ao alimentando os meios indispensáveis à sua manutenção.

A respeito de compensação, nos ensina Gonçalves (2009, p. 475):

A compensação é meio de extinção de obrigações entre pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Acarreta a extinção de duas obrigações, cujos credores são, simultaneamente, devedores um do outro. É meio indireto de extinção das obrigações.

Portanto, por ser a compensação meio de extinção de obrigações, total ou parcial, esta é vedada, devido ao prejuízo irreparável que poderá causar ao alimentando, já que o crédito alimentar visa garantir o mínimo necessário à sua subsistência.

Venosa (2005, p. 400), neste sentido, afirma que “tendo em vista a finalidade dos alimentos, qual seja a subsistência do necessitado, a eventual compensação dos alimentos com outra obrigação anularia esse desiderato, lançando o alimentando no infortúnio”.

Porém, para se evitar o enriquecimento sem causa pela parte credora, essa vedação a

compensação não é absoluta, de modo que ela será admitida quando o alimentante paga valor

(22)

superior ao alimentando, a título de alimentos, sendo neste caso considerado um adiantamento das parcelas vincendas.

Gonçalves (2009, p. 476) afirma que:

A jurisprudência, no entanto, vem permitindo a compensação, nas prestações vincendas, de valores pagos a mais, entendendo tratar-se de adiantamento do pagamento das futuras prestações. Nada impede que os valores pagos a mais sejam computados nas prestações vincendas, operando-se a compensação dos créditos. É que o princípio da não-compensação da dívida alimentar deve ser aplicado ponderadamente, para que dele não resulte eventual enriquecimento sem causa de parte do beneficiário.

Visando garantir a preservação da vida do Alimentando, através da pensão alimentícia, o art. 1.707 do Código Civil de 2002 (transcrito anteriormente), garantiu a impenhorabilidade do crédito alimentar.

Diniz (2007, p. 549) nos ensina que os alimentos são impenhoráveis “em razão da finalidade do instituto; uma vez que destina a prover a mantença do necessitado, não pode, de modo algum, responder pelas suas dívidas, estando a pensão alimentícia isenta de penhora.”

Essa característica visa proteger as prestações alimentícias recebidas, pois os alimentos destinam-se à subsistência do alimentando que não possui recursos para viver, bem como está impossibilitado de prover à suas necessidades através do trabalho.

Outra característica dos alimentos é a imprescritibilidade. Devido a esta característica, pode o alimentando pleitear tal direito quando necessitar de recursos materiais indispensáveis a sua sobrevivência.

Sobre a imprescritibilidade dos alimentos, Gonçalves (2009, p. 476) ensina que:

O direito aos alimentos é imprescritível, ainda que não seja exercido por longo tempo e mesmo que já existissem os pressupostos de sua reclamação. O que não prescreve é o direito de postular em juízo o pagamento de pensões alimentícias, ainda que o alimentando venha passando necessidade há muitos anos. No entanto, prescreve em dois anos o direito de cobrar as pensões já fixadas em sentença ou estabelecidas em acordo e não pagas, a partir da data em que se vencerem.

A prescrição do direito de cobrar as pensões fixadas judicialmente e não pagas, que ocorre em 02 (dois) anos a contar da data de seu vencimento, está prevista no artigo 206, parágrafo 2º, do nosso atual Código Civil, in verbis: “Prescreve: § 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem”.

No mais, vale ressaltar que no caso de execução de alimentos ajuizada por

alimentando absolutamente incapaz, não há que se falar em prescrição das prestações

mensais, nos termos dos artigos 197, II, e 198, I, ambos do Código Civil de 2002.

(23)

Os alimentos, uma vez pagos, devido à sua finalidade, bem como necessidade do alimentando, são irrestituíveis, ou seja, não devem ser devolvidos, mesmo que a ação de alimentos seja julgada improcedente.

Este é o entendimento de Gonçalves (2009, p. 474), que diz:

Os alimentos, uma vez pagos, são irrestituíveis, sejam provisórios, definitivos ou ad litem. É que a obrigação de prestá-los constitui matéria de ordem pública, e só nos casos legais pode ser afastada, devendo subsistir até decisão final em contrário.

Mesmo que a ação venha a ser julgada improcedente, não cabe a restituição dos alimentos provisórios ou provisionais. Quem pagou alimentos, pagou uma dívidas, não se tratando de simples antecipação ou de empréstimo.

Para Arnoldo Wald (1981, apud CAHALI, 2006, p. 127) a restituição é possível, sendo admitida no caso de quem forneceu os alimentos não os deviam, desde prover ser obrigação de um terceiro, pois o alimentando ao utilizar os alimentos não obteve nenhum enriquecimento ilícito. Para o autor, é possível quem forneceu os alimentos erradamente, por acreditar ser seu dever, requerer do terceiro, detentor desde dever, a restituição do valor pago a título de alimentos.

Os alimentos visam suprir as necessidades atuais ou futuras do alimentando, jamais as passadas. Sendo assim, jamais poderão ser requeridos baseados em dificuldades de seu passado. A única exceção à essa regra será no caso de alimentos fundados em convenção, testamento ou ato ilícito, ou seja, título estranho ao direito de família (DINIZ, 2007, p.

549/550).

Por este motivo, a pensão alimentícia deverá ser paga de forma periódica, não podendo ser paga de uma só vez, em uma única parcela, bem como em lapsos temporais longos.

Todas essas características da obrigação alimentar devem sempre serem observadas, pois este instituto presente em nosso ordenamento jurídico visa garantir a subsistência e suprir

as necessidades de quem não pode provê-la sozinho.

(24)

II – A RELAÇÃO DE PARENTESCO E O PODER FAMILIAR

2.1. Parentesco

Gonçalves (2009, p. 276) afirma que “as pessoas unem-se em uma família em razão de vínculo conjugal ou união estável, de parentesco por consanguinidade ou outra origem, e da afinidade”.

No direito Romano, diferente dos dias atuais, o conceito de família não era baseado no parentesco consanguíneo, mas sim no liame civil e principalmente religioso, sendo considerado da mesma família o membro que cultuasse os mesmos deuses. Não era o laço de sangue que estabelecia o parentesco, mas sim o laço de culto.

Na família romana eram incluídos todas as pessoas que estavam sob o mesmo pátrio poder. Além disso, possuía um sentido político, econômico e religioso. Com o passar do tempo, devido ao enfraquecimento da religião, a família passou a desempenhar função mais restritiva derivada do casamento e da mútua assistência, surgindo a família baseada no vínculo consanguíneo (VENOSA, 2005, p. 235/236).

Pereira (2000, p. 171) diz que “dentre as variadas espécies de relações humanas, o parentesco é das mais importantes e a mais constante, seja no comércio jurídico, seja na vida social”.

Desse modo, compreender a relação de parentesco é necessário por ser base para diversas relações no Direito de Família, bem como acarretar diversas repercussões nos demais ramos da ciência jurídica.

Orlando Gomes (apud Gonçalves, 2009, p. 277) explica sobre o conhecimento da relação de parentesco, dizendo:

Reveste-se de grande importância prática, porque a lei lhe atribui efeitos relevantes, estatuindo direitos e obrigações recíprocos entre os parentes, de ordem pessoal e patrimonial, e fixando proibições com fundamento em sua existência. Têm os parentes direito à sucessão e alimentos e não podem causar uns com os outros, na

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linha reta e em certo grau da colateral. O parentesco é importante ainda em situações individuais regidas por outros ramos do Direito, como o processual e o eleitoral”.

Desse modo, podemos concluir que a família sofreu diversas alterações em sua forma desde o seu surgimento, sendo nos dias atuais baseada no parentesco consanguíneo, surgindo dela inúmeras relações de Direito de Família.

2.2. Conceito de Parentesco

No entendimento de Venosa (2005, p. 235), “parentesco é o vínculo que une duas ou mais pessoas, em decorrência de uma delas descender da outra ou de ambas procederem de um genitor comum”.

Assim, haverá relação de parentesco entre duas ou mais pessoas quando uma delas descender da outra ou quando ambas descenderem de um genitor comum.

Nas palavras de Pontes de Miranda (apud GONÇALVES, 2009, p. 276):

Parentesco é a relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de autor comum (consanguinidade), que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que estabelece, por fictio iuris, entre o adotado e adotante.

Observamos que esse vínculo surgirá entre pessoas que descendem de um mesmo ascendente ou uma das outras, assim como por afinidade, no caso dos cônjuges dos parentes do outro, e, ainda, no caso de adoção.

Porém, Diniz (2007, p. 409), ao definir parentesco, vai mais além, dizendo:

Parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, entre adotante e adotado e entre pai institucional e filho socioafetivo.

Desse modo, o vínculo de parentesco existirá entre pessoas que descendem uma das

outras ou possuem tronco comum, entre cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, bem

como surgirá no caso da adoção, e, ainda, existirá entre pai institucional e filho socioafetivo.

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Para Gonçalves (2009, p. 276), o parentesco pode ser conceituado de duas formas, em sentido estrito, abrangendo somente o consanguíneo, definido de forma mais correta como a relação que vincula entre si pessoas que descendem uma das outras, como em sentido amplo, sendo o parentesco por afinidade e em decorrência de adoção ou de outra origem.

Desse modo, observamos não haver divergência doutrinária a respeito do conceito de parentesco, podendo este decorrer da consanguinidade ou da afinidade.

2.3. Modalidades de Parentesco

No Código Civil de 1916, em seus artigos 330 a 336, o parentesco era visto como resultado da consanguinidade, da afinidade que liga o cônjuge aos parentes do outro cônjuge e da adoção (MONTEIRO, 2004, p. 293).

O atual Código Civil não fez alterações a essas espécies de parentesco, porém, nos termos do artigo 1595, inseriu no alcance da afinidade a união estável. Vejamos o disposto no artigo 1595 do atual Código Civil: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade”.

Ademais, o art. 1593 do novo Código Civil dispõe que: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou outra origem”.

Sobre o transcrito artigo, afirma Monteiro (2004, p. 293): “Verifica-se o avanço nessa disposição, já que, antes, o parentesco civil era aquele que se originava exclusivamente da adoção”.

No mais, a Constituição Federal de 1988 proibiu qualquer diferenciação em relação aos filhos havidos fora do matrimônio e aos adotados, atribuindo à eles os mesmos direitos e deveres dos de filiação biológica. É o disposto no artigo 227, parágrafo 6, in verbis: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.

A regra Constitucional foi reafirmada no art. 1.596 do Código Civil, que dispõe: “Os

filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e

qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.

(27)

A doutrina pacífica divide o Parentesco em Natural ou Consanguíneo, Afim e Civil.

2.3.1. Parentesco Natural ou Consanguíneo

Pereira (2000, p. 171) define o parentesco consanguíneo como “a relação que vincula, umas às outras, pessoas que descendem de um mesmo tronco ancestral”.

É o mesmo entendimento de Monteiro (2004, p. 294), que afirma: “Parentesco por consanguinidade é o vínculo existente entre pessoas que descendem de um mesmo tronco comum”.

Diniz (2007, p. 409), neste mesmo sentido, afirma que o Parentesco natural ou consanguíneo “é o vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, portanto ligadas, umas às outras, pelo mesmo sangue”.

Essa espécie existe tanto na linha reta como na colateral, e será matrimonial, quando oriundo de casamento, e extramatrimonial, se proveniente de união estável, relações sexuais eventuais ou concubinárias. O parentesco poderá ainda ser duplo ou simples, a depender de derivar dos dois genitores ou somente de um deles, sendo irmãos germanos os nascidos dos mesmos pais, e unilaterais os que o são de um só deles, caso em que podem ser uterinos, se filhos da mesma mãe e de pais diversos, ou consanguíneos, se do mesmo pai e de mães diferentes (DINIZ, 2007, p. 409/410).

Portanto, será chamado de parentesco consanguíneo ou natural quando houver vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral.

2.3.2. Parentesco por Afinidade

O parentesco por afinidade se trata de um vínculo estabelecido entre o cônjuge e o

companheiro e os parentes do outro, nos termos do artigo 1.595, parágrafos 1º e 2º, do atual

Código Civil, in verbis:

(28)

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.

§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.

§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

Desse modo, afirma Monteiro (2004, p. 299) que “a afinidade é vínculo de ordem jurídica; ela não decorre da natureza, ou do sangue, como o parentesco por consanguinidade, mas tão-somente da lei”.

No mais, se trata de parentesco formado por vínculo estabelecido entre cada cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, porém de forma ilimitada em linha reta, mas limitada na linha colateral aos irmãos do cônjuge ou companheiro (MONTEIRO, 2004, p. 298/299).

Ressalte-se que o parentesco por afinidade, na linha reta, não desaparece com a dissolução do casamento ou da união estável que fez surgir.

Devido a seu caráter estritamente pessoal, bem como a seus limites traçados em lei, Monteiro (2004, p. 299) nos ensina:

Dessa regra decorrem as consequências seguintes: a) nenhum vínculo de afinidade existe entre os parentes dos cônjuges; b) os afins de cada cônjuge não são afins entre si (affines inter se non sunt affines, porquanto affinitas non parit affinitatem. Assim, cunhados não são afins entre si); c) no caso de segundo casamento, os afins do primeiro casamento não se tornam afins do cônjuge tomado em segundas núpcias.

Portanto, o parentesco por afinidade se trata de vínculo de ordem jurídica, estritamente pessoal e decorre somente da lei, não se admitindo estender além dos limites traçados.

2.3.3. Parentesco Civil

Trata-se de uma criação feita pela lei, pois é ela que denomina o vínculo que se

estabelece. O diploma legal de 1.916 considerava apenas como parentesco civil o originário

da adoção, porém, com a vinda do Código Civil de 2002, o artigo 1.593 possibilitou uma

(29)

ampliação da abrangência dessa espécie, ao dizer que: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem” (GONÇALVES, 2009, p. 277).

Desse modo, durante a vigência do Código Civil de 1916 o parentesco civil era apenas o decorrente da adoção. Com o novo Código Civil, ampliou-se a abrangência dessa espécie, passando a ser o parentesco civil aquele que resulte de outra origem que não seja a consanguinidade.

Quanto à adoção, pai e filho adotivo são parentes civis, sendo a relação jurídica que os vincula produto exclusivo da lei, que busca imitar a natureza (MONTEIRO, 2004, p. 298).

No mais, o vínculo estabelecido, no caso da adoção, entre adotante e adotado, se estende aos parentes de um e de outro. A adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, salvo para efeito de impedimento matrimonial (DINIZ, 2007, p. 411).

Porém, conforme já dito, com a inovação trazida pelo Código Civil de 2002, o parentesco civil não se restringe a adoção. Para Monteiro (2004, p. 294), a expressão “outra origem” “abre espaço ao reconhecimento da paternidade desbiologizada ou socioafetiva, em que, embora não existam elos de sangue, há laços de afetividade que a sociedade reconhece como mais importantes do que o vínculo consanguíneo”.

Diniz (2007, p. 411), sobre a socioafetividade nos ensina:

O parentesco civil abrange o socioafetivo (CC, art. 1593, in fine, e 1597, V), alusivo ao liame entre pai institucional e filho advindo de inseminação artificial heteróloga, gerando relação paterno-filial apesar de não haver vínculo biológico entre o filho e o marido de sua mãe, que anuiu na reprodução assistida.

Neste mesmo sentido, o Enunciado n. 103 do Conselho de Justiça Federal, aprovado nas Jornadas de Direito Civil de 2002, diz:

103 – Art. 1.593: o Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade sócio-afetiva, fundada na posse do estado de filho.

Complementando ao anterior, o Enunciado n. 256 do Conselho da Justiça Federal,

aprovado na III Jornada de Direito Civil, diz: “256 – Art. 1.593: A posse do estado de filho

(parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.”

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Portanto, o artigo 1593 do Código Civil de 2002, ao dizer que o parentesco será civil quando resultar de “outra origem”, que não seja a consanguinidade, possibilitou a ampliação da abrangência dessa espécie, que no Código Civil de 1916 restringia apenas a adoção.

2.3.4. Efeitos do Parentesco

Venosa (2005, p. 241) afirma que “As relações de parentesco afetam os mais diversos campos do Direito, desde os impedimentos que se traduzem em inelegibilidades da Constituição até os impedimentos para o casamento.”

Diniz (2007, p. 411), complementando, afirma que:

Na prática, grande é a importância dessas relações de parentesco, em razão de seus efeitos jurídicos de ordem pessoal ou econômica, que estabelecem direitos e deveres recíprocos entre os parentes, como a obrigação alimentar, o direito de promover interdição e de receber herança, com exceção do parentesco por afinidade, etc. Além do mais impõe o parentesco algumas proibições com fundamento em sua existência.

Desse modo, a relação de parentesco, independentemente de sua espécie, pode gerar efeitos jurídicos em diversas áreas de nosso Ordenamento Jurídico, efeitos esses que podem ser de ordem pessoal ou econômica, estabelecendo entre os parentes direitos e deveres recíprocos. Há também proibições que surgem devido a relação de parentesco.

No direito processual civil, podemos observar no artigo 405, parágrafo 2º, inciso I, do Código de Processo Civil, que dispõe:

Art. 405 - Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.

§ 2º - São impedidos:

I - o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consangüinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito;

Assim, de acordo com este dispositivo, em regra, estão impedidos de depor como

testemunhas o cônjuge, ascendente e o descendente em qualquer grau, o colateral, até terceiro

grau, de alguma das partes, seja consanguíneo ou afim.

(31)

Ainda em relação ao direito processual civil, Monteiro (2004, p. 295) afirma que “no direito processual, a presença dos aludidos vínculos entre as partes e o juiz, ou o serventuário de justiça, produz suspeição destes (Cód. Proc. Civil, art. 134, n. IV e V), impede a citação nas hipóteses do art. 217, n. II etc”.

Vejamos o disposto nos artigos 134, inciso IV, e 217, inciso II, do Código de Processo Civil:

Art. 134 - É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:

IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;

Art. 217 - Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o perecimento do direito:

II - ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, consangüíneo ou afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;

A respeito dos efeitos no direito penal decorrentes no parentesco, Monteiro (2004, p.

295) afirma que:

No direito penal, a existência de parentesco entre a vítima e o autor do crime pode acarretar agravação da pena (CP, art. 61, II, e), sua isenção e até mesmo exclusão do Ministério Público para oferecimento da denúncia, como ocorre nos casos do art.

181 e 182 do CP.

Existem ainda diversos efeitos que surgem a partir dessa relação, como no direito fiscal, em que o parentesco pode definir isenções, deduções ou o nível de tributação, e no direito sucessório, ao estabelecer as classes de herdeiros, bem como ao limitar na classe dos colaterais àqueles até o quarto grau. No direito constitucional e no direito administrativo, há restrições de parentesco para ocupar certos cargos (VENOSA, 2005, p. 241).

No direito eleitoral, nos termos do artigo 14, parágrafo 7º, da Constituição Federal de 1988, in verbis, poderá o parentesco provocar a inelegibilidade do candidato:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

(32)

Venosa (2005, p. 242), sobre os efeitos no direito de família, diz que: “fazem-se sentir com mais intensidade, ao estabelecer impedimentos para o casamento, estabelecer o dever de prestar alimentos, de servir como tutor etc”.

Portanto, a relação de parentesco é de grande importância em nosso ordenamento jurídico, por causar diversos efeitos nos mais variados ramos do direito, sendo um dos efeitos o dever de prestar alimentos, objeto desse trabalho de pesquisa.

2.4. Poder Familiar

O instituto conhecido hoje como Poder Familiar, surgiu em Roma, época em que era chamado de pátrio poder. Ele se tratava de um poder pertencente ao pai, que visava apenas os interesses do chefe de família. Ao se falar em seu aspecto pessoal, o pater possuía direitos como o de entregar o filho como indenização ou até mesmo de mata-lo. Em relação ao aspecto patrimonial, o filho não possuía nada, além de ser considerado um escravo.

Com o passar do tempo o poder familiar foi alterando-se, sendo que, modernamente, perdeu inteiramente seu caráter egoístico de que possuía (MONTEIRO, 2004, p. 346).

No Brasil, de acordo com o artigo 380 do Código Civil de 1916, o pátrio poder era exercido pelo marido, pois era considerado o chefe da sociedade conjugal, sendo que apenas em sua falta ou impedimento seria exercido pela mulher. Apesar de ambos os pais serem titulares do direito, seu exercício acabava não sendo simultâneo, mas sim sucessivo, já que a mulher apenas poderia exercer tal direito na falta ou devido a um impedimento do marido.

Desse modo, prevalecia a opinião do marido, salvo em caso de manifesto abuso de direito (RODRIGUES, 2004, p. 356).

Porém, o artigo 226, parágrafo 5º, da Constituição Federal de 1988, igualou os direitos e deveres à sociedade conjugal, de modo que acabou com a desigualdade existente até então, entre marido e mulher, a respeito do exercício do poder familiar. O artigo 225, parágrafo 5º, dispõe: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”

Em respeito ao dispositivo Constitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente

(Lei n. 8.069/90), em seu artigo 21, dispõe:

(33)

Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência.

Ressalte-se que, inicialmente, o transcrito dispositivo utilizava a expressão pátrio poder, sendo alterado essa expressão apenas no ano de 2009, pela lei n. 12.010, momento em que passou a ser utilizada a expressão poder familiar.

Já o Código Civil de 2002, para se adequar ao dispositivo constitucional, alterou o dispositivo presente no código de 1916. Em relação ao atual Código Civil, Rodrigues (2004, p. 357) afirma que:

O novo Código Civil, atento à igualdade entre os cônjuges, atribui o poder familiar durante o casamento (ou na constância da união estável) a ambos os pais, só assumindo um com exclusividade na falta ou impedimento do outro. E nesse exercício conjunto, divergindo os pais, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo (art. 1.631).

[...]

Ainda, para o caso de dissolução do casamento, ou da união estável, preserva-se o exercício conjunto do poder familiar, como já se fazia, limitando apenas o direito de um dos pais de ter os filhos em sua companhia, ressalvada a fixação de visitas (CC, art. 1.632, renovando o conteúdo do art. 381 do Código de 1916)

Portanto, todos os filhos, enquanto menores, estão sujeitos ao poder familiar. Vale ressaltar que não há mais distinção entre filhos legítimos, ilegítimos ou adotivos. No mais, ainda que a guarda seja confiada a terceiros, os pais não perdem o pátrio poder que possuem (VENOSA, 2005, p. 339).

2.4.1. Conceito de Poder Familiar

A doutrina não diverge a respeito do conceito de poder familiar, sendo pacífico o entendimento que se trata de um conjunto de direitos e obrigações pertencente aos pais que visa a proteção dos filhos, tanto em relação à pessoa como aos seus bens.

Neste sentido, Rodrigues (2004, p. 356) ensina que “o poder familiar é o conjunto de

direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos não

emancipados, tendo em vista a proteção destes”.

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Diniz (2007, p. 514) afirma que:

O poder familiar pode ser definido como um conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filhos.

Vale ressaltar que o poder familiar pertence à ambos os pais em relação à seus filhos e que deverá ser exercido de forma igual. No caso de divergência, poderá qualquer deles recorrer ao judiciário para a sua solução. É o previsto no art. 1631, do atual Código Civil, in verbis:

Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.

Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.

Para DINIZ (2007, p. 515), o poder familiar resulta de uma necessidade natural, pois o ser humano, durante sua infância, precisa de alguém que o crie, eduque, ampare, defenda, guarda e cuide de seus interesses, regendo sua pessoa e seus bens.

Dessa forma, cabe aos pais cuidar da educação dos filhos, tê-los sob sua guarda e companhia, devendo sustentá-los e cria-los.

2.4.2. Quanto à Pessoa e Bens do Filho Menor

Conforme já estudado, o poder familiar se trata de conjunto de direitos e obrigações pertencentes aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos menores não emancipados.

Desse modo, o artigo 1.634 do Código Civil, dispõe:

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I - dirigir-lhes a criação e educação;

II - tê-los em sua companhia e guarda;

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

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