• Nenhum resultado encontrado

NATÁLIA TOLEDO CINTRA DAMIÃO UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "NATÁLIA TOLEDO CINTRA DAMIÃO UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS"

Copied!
59
0
0

Texto

(1)

NATÁLIA TOLEDO CINTRA DAMIÃO

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA MELHORAR A ATIVIDADE COMPORTAMENTAL DE DOIS INDIVIDUOS CATIVOS DE

PUMA YAGOUAROUNDI (E.GEOFFROY, 1803).

SÃO PAULO 2014

(2)

NATÁLIA TOLEDO CINTRA DAMIÃO

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA MELHORAR A ATIVIDADE COMPORTAMENTAL DE DOIS INDIVIDUOS CATIVOS DE

PUMA YAGOUAROUNDI (É. GEOFFROY, 1803).

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Ciências Biológicas.

Orientador : Lilian Elaine Rampim Co-orientador: Esther Lopes Ricci

SÃO PAULO 2014

(3)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Lilian Elaine Rampim, por ter sido uma orientadora incrível, sempre disponível, arrumando um tempo para me auxiliar e ajudar em todas as etapas deste trabalho. Mas principalmente por ter acreditado em mim e por ter me dado este suporte até hoje, não existem palavras para lhe agradecer.

A minha orientadora interna, Esther Lopes Ricci e a minha colega Alice Vaz Batistuzzo. Foram as primeiras pessoas a me dizerem um “Sim” quando este trabalho era apenas uma ideia, me incentivando a não desistir deste sonho. Ao Zoológico Municipal de Guarulhos pelo aceite do projeto. Foi graças a Cristiane Bolochio e ao restante da equipe que possibilitaram a realização deste trabalho, me fazendo muito feliz e completamente realizada. A Sandra Campos e a veterinária Claudia, que me acompanharam, ajudaram e permitiram algumas mudanças eventuais de datas ao longo do projeto. A toda equipe técnica do Zoológico, que sempre me trataram muito bem e fizeram minhas idas a Guarulhos mais prazerosas.

Aos tratadores Péricles Alves, Carlos Ferrera e Rafael Correa, que por muitas vezes me fizeram companhia, me divertiram, me enturmaram e se demonstraram dispostos em me ajudar em tudo que eu precisasse com Carlota e Getulio, com certeza eu sentirei saudades.

Aos meus pais, Renato Toledo Damião e Rosana Alves Toledo Damião, por terem me suportado em muitos momentos de crise, por terem me educado e financiado todas as minhas necessidades. Sem vocês este sonho jamais seria possível, por isso digo que não existem palavras para agradecer todo o suporte e amor recebido até hoje, eu amo vocês.

A minha Tia Regina Toledo Damião, que com muito carinho me ajudou na correção deste trabalho.

Ao Fábio de Freitas Gargiulo, amigo e namorado que me ajudou em todas as etapas deste projeto. Pela paciência e por ter acreditado em mim, e não ter deixado eu desistir nos momentos em que eu achei que nada daria certo. A Julio

(4)

Amaro Betto Monsalvo, que sempre me inspirou e me deu o primeiro incentivo quando eu ainda estava pensando em fazer algo na área. Pela amizade linda que construímos e que levarei para sempre.

A todos os amigos e colegas que conquistei nesses anos de faculdade, em especial Gabriela Ambrosino, Edwin Antony, Marianna Manes, Alberto Junior e Sabrina Souza, vocês fizeram das aulas, trabalhos e encontros momentos muitos felizes e inesquecíveis.

Aos meus professores queridos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que jamais serão esquecidos por mim, deixo aqui meus sinceros agradecimentos e sentimento de carinho. Obrigada especialmente aos professores Waldir Stefano, Leandro Vieira, Magno Castelo Branco, Jurandyr Carvalho, Adriano Monteiro de Castro, Miriam Ribeiro, Oriana Favero e Jan. Gostaria de agradecer também a professora Paola, pela disponibilidade e atenção comigo e por todas as suas boas aulas.

Por fim, porém não menos importantes, aos meus queridinhos, Carlota e Getúlio. Com todo este tempo criei um grande carinho por estes animais, percebendo no meio do trabalho que meu desejo do enriquecimento ambiental funcionar era mais importante por eles do que pelos meus próprios resultados.

E finalmente a Deus, por ter me guiado para o caminho certo e por todas as capacidades concebidas.

Grata a todos que participaram de alguma forma deste trabalho. Com certeza depois desta experiência eu aprendi que quase nada é impossível e que todo o sonho vale a pena.

(5)

Resumo: O gato Mourisco (Puma yagouaroundi) é um felino neotropical com ampla distribuição no Brasil. Porém, ainda são poucos os estudos realizados com esta espécie em vida livre. Apesar de ser um dos felinos com maior distribuição geográfica, não são tão abundantes nos biomas brasileiros e nem tão conhecidos pela população quando comparados a outros felinos existentes nos zoológicos. Não existem muitos trabalhos de enriquecimento ambiental aplicado ao P. yagouaroundi, e sua importância está na busca de novos dados sobre esta espécie, que podem auxiliar no programa de educação ambiental, no sucesso de bem estar para estes felinos e para um possível auxilio nas pesquisas com estes animais em vida livre, uma vez que o declínio da espécie pode se tornar uma realidade num futuro próximo.

Os itens enriquecedores se basearam tanto em metodologias clássicas usadas para felinos, como em metodológicas não muito utilizadas e até inovadoras para esta os gatos. Apesar ter ocorrido algumas adversidades estressantes, foi possível, ainda sim, verificar a melhora comportamental dos dois indivíduos, e comprovar como um enriquecimento ambiental, apesar de ser uma ciência muito nova, é fundamental para os animais cativos. O estudo ocorreu com um casal da espécie, no Zoológico Municipal de Guarulhos, e possibilitou para uma melhora evidente na gama comportamental dos dois indivíduos. Contribuiu também para sugestões novas de enriquecimentos além do cronograma estipulado neste projeto, e para a verificação de um comportamento predatório de pesca, comportamento ainda não verificado em outras referências para o Gato Mourisco em cativeiro.

(6)

Summary:. The Moorish cat (Puma yagouaroundi) is a neotropical feline with a wide distribution in Brazil. However, there are few studies of this specie in wild life. Although being one of the widest geographic distributed felines, they’re not abundant on brazilian biomes and not as well known by people when compared with other felines in the zoo. The environmental enrichment it’s a relatively young science and there’s a paucity of data regarding the effectiveness of certain methodologies applied to some species. There’s the possibility of certain specie don’t respond to stimulus as others do, even if both belongs to the same category. Therefore this study aimed to apply new itens on envionmental enrichment and techniques usually recommended for felines, on two captive Moorish cats (p. yagouaroundi) at the municipal zoo in Guarulhos. The animals suffered several influences throughout the project, however it was possible to identify improvement in the couple’s activity after the enrichment. The intention was to improve the behavior of both felines, acting on stress reduction (aiming to improve its life quality in captivity) and consequently, increasing the interest of people about the species

Keywords: jaguarondi, Zoo, Stress.

(7)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição do Puma yagouaroundi………11 Figura 2. Mapa de localização do Zoologico Municipal de Guarulhos…………20 Figura 3. Distribuição dos recintos do Zoológico de Guarulhos………...21 Figura 4. Planta do Recinto………23 Figura 5. Vista Frontal do Recinto……… Figura 6. Individuo Macho, Getulio

Figura 7. Individuo Femea, Carlota

Figura 8. Garrafa com baratas vivas dentro Figura 9. Cortina de folhas

Figura 10. Sangue Congelado

Figura 11. Canela e Cravo em lascas distribuidos no recinto Figura 12. Alimento camuflado

Figura 13. Pneu suspenso com presa viva Figura 14. Recipiente contendo peixes vivos

Figura 15. Frequencia comportamental de Getulio antes do enriquecimento Figura 16. Frequencia comportamental de Carlota antes do enriquecimento Figura 17. Frequencia comportamental de Getulio perante ao enriquecimento Figura 18. Frequencia comportamental de Carlota perante ao enriquecimento Figura 19. Comportamento realizado por Getulio na fase P.O

(8)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Etograma utilizado para todas as etapas do projeto………… Tabela 2. Cronograma de Enriquecimentos realizados

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DR – Durante Enriquecimento PO – Pós Enriquecimento PR – Pré Enriquecimento

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

1.1 FELIDAE………08

1.2 PUMA YAGOUAROUNDI (É. GEOFFROY, 1803)...10

1.3 A IMPORTANCIA DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL…………...13

1.4 A IMPORTANCIA DOS ZOOLOGICOS………..………17

1.5 ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS………18

2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAIS………..22

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS………..22

3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA AREA DE ESTUDO………25

3.2 HISTORICO DOS INDIVIDUOS ESTUDADOS……….26

3.3 METODOLOGIA………..28

(10)

3.4.1 ITENS DE ENRIQUECIMENTO...31

3.5 RAZÃO DOS ITENS DE ENRIQUECIMENTOS AMBIENTAIS SELECIONADOS...32

4 RESULTADOS 4.1 PRIMEIRA ETAPA – ANTES DO ENRIQUECIMENTO………34

4.1.1 Indivíduo Macho…...………...……….34

4.1.2 Indivíduo Fêmea……….………...………..…35

4.2 SEGUNDA ETAPA- DURANTE O ENRIQUECIMENTO………..36

4.2.1 Indivíduo Macho………36

4.2.2 Individuo Fêmea………...38

4.3 Terceira Etapa-Pós Enriquecimento……….39

4.3.1 Individuo Macho………39 4.3.2 Individual Femêa...………...………...……….40 5 DISCUSSÃO………42 6 CONCLUSÕES………...48 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………..51 ANEXOS

(11)

10 1. INTRODUÇÃO :

1.1 FELIDAE:

A família Felidae pertence à ordem Carnivora, a qual é visível suas características morfológicas e dentárias, sendo adaptadas para um hábito completamente carnívoro. A importância destes predadores está relacionada ao equilíbrio ecológico, controlando o nível populacional de suas presas e mantendo assim a estrutura da comunidade em que vivem (TRIGO, 2003).

Por serem considerados predadores topo de cadeia alimentar, os felinos podem se tornar vulneráveis a qualquer fator antrópico, consequentemente resultando em alterações drásticas no modo de vida destes animais, podendo influenciar de maneira negativa na teia alimentar da região afetada. Atualmente, todos os felinos neotropicais, com exceção do gato doméstico (Felis silvestres

catus), encontram-se ameaçados em diferentes graus, porém a grande maioria esta

classificada em perigo (MACHADO, et al., 2008.p. 690; CARNIATTO, 2008).

A família Felidae é representada por todos os felinos viventes, dos quais são descendentes de um animal que existiu aproximadamente há 40 milhões de anos atrás, denominado Dinictis. Este ancestral em comum foi o primeiro animal a apresentar características semelhantes às dos felinos atuais, tendo seus dentes mais desenvolvidos e o cérebro proporcionalmente menor comparado ao seu corpo (SILVA, 2011). Porém a origem dos felinos é bastante controversa por falta de material fóssil, sendo alguns grupos mais comumente encontrados, e por isso são mais estudados (WERDELIN, 2010).

Segundo Silva (2011), os animais inclusos nesta família apresentam uma locomoção digitígrada, utilizando seus dedos durante o caminhar. Possuem quatro dedos nas patas posteriores e cinco nas anteriores, contendo garras retráteis

(12)

11 utilizadas na caça, com exceção do guepardo (Acinonyx jubatus), que possuem garras semi-retráteis que permanecem expostas durante a corrida também.

Os felinos são especialistas na camuflagem e no rápido avanço sobre a presa. Os sentidos são extremamente aguçados, principalmente a audição, o olfato e a visão binocular. É comum o grande desgaste e redução dentária, fator proveniente do alto consumo (praticamente exclusivo) de carne em sua dieta (TRIGO, 2003). A língua é um órgão modificado, com a presença de papilas filiformes, que dão auxilio na remoção de penas e pelos das presas capturadas e na higienização do próprio corpo (SILVA, 2011).

Distribuídos por quase todos os continentes, existem aproximadamente 37 espécies de felinos no mundo (GENARO et al., 2001). Pode haver ainda algumas publicações com dados diferentes sobre a quantidade das espécies. Isso ocorre pela diversidade de opiniões e métodos na classificação e sistemática dos gatos (TRIGO 2003).

De acordo com Genaro (2001), os felinos são divididos em grandes e pequenos gatos. Sendo representados no Brasil os de grande porte, pela onça-pintada (Panthera onca) e pela suçuarana (Puma concolor). Já nos de pequeno porte estão inclusas mais seis espécies, sendo estas por ordem de tamanho a jaguatirica (Leopardus pardalis), gato do Mato Grande (Leopardus geoffroy), gato palheiro (Leopardus colocolo), gato mourisco (Puma yagouaroundi), gato maracajá (Leopardus wiedii) e o gato do mato pequeno (Leopardus tigrinus). Em novembro de 2013 houve a descoberta de uma variação de Leopardus tigrinus, o Leopardus

guttulus, cuja descrição não se encontra no corpo deste trabalho pelo fato de não

haver ainda muitos estudos nesta nova espécie.

Os felinos, em sua grande maioria, apresentam hábitos noturnos e solitários, tendo em sua reprodução a poliginia quando em vida livre, devido ao macho compreender áreas que incluem duas ou mais fêmeas. Portanto, quanto aos hábitos

(13)

12 sociais mais frequentes nestes animais, é verificado entre a mãe e suas proles ainda dependentes e em períodos de reprodução, com exceção do modo de vida dos guepardos e leões (Panthera leo) que são mais sociáveis.

1.2 PUMA YAGOUAROUNDI (É. GEOFFROY, 1803)

Conhecido popularmente como gato-mourisco, o Puma yagouaroundi é classificado como um dos menores felinos encontrados no território brasileiro. Seu nome indígena, jaguarundi, refletiu em sua denominação científica (GENARO, 2001), tendo em seu histórico taxonômico uma mudança eminente de gênero, passando do Herpailurus para Puma, representado também pela suçuarana, a segunda maior espécie de felídeo encontrada no país (ALMEIDA et al., 2013).

No Rio Grande do Sul, o risco de ameaça para a espécie é considerado Vulnerável (VU). Já nos estados de São Paulo e Paraná, há deficiência de dados e, portanto, não foi incluso dentro da lista nacional (apud PEREIRA, 2009). Apesar da ampla distribuição no Brasil, o motivo de preocupação com a preservação da espécie se reflete nas baixas densidades em que o jaguarundi é encontrado dentro de seu território (ALMEIDA et al, 2013).

Este felino contém características que lhe proporcionam um aspecto bem diferenciado quando comparado aos outros gatos selvagens nativos. Suas orelhas e pernas são curtas, o corpo pode chegar a 60 cm e sua cauda por volta de uns 45 cm, com um peso normal entre seis a sete quilos. Possui uma coloração uniforme de cor marrom pardacenta, mas pode variar para tons mais acinzentados e avermelhados (GENARO, 2001; PEREIRA, 2009; VIEIRA, 2014).

A dieta compreende-se mamíferos de pequeno e médio porte, porém podem ser inclusos em seus hábitos alimentares alguns répteis, aves e até anfíbios. Com hábitos diurno, costumam ser encontrados quase sempre forrageando o solo e não

(14)

13 se apresentam como ótimos escaladores, apesar de se locomoverem muito bem nas árvores (GENARO, 2001; PEREIRA, 2009; ALMEIDA et al, 2013).

Sua distribuição se estende desde o sul dos Estados Unidos até o sul do Brasil, alcançando a Argentina, e estando presente em diferentes habitats (PEREIRA, 2009; SILVA et al., 2011 ; ALMEIDA et al., 2013; VIEIRA, 2014;).

Figura 1 - Distribuição do Puma yagouaroundi. Fonte: ALMEIDA et al., 2013

Quando em vida livre, são encontrados em florestas e vegetações secundárias, tendo o habito de frequentar beiras de rios, lagos e banhados (GENARO, 2001; VIEIRA, 2014). Porém pode haver ocorrência dos mesmos em florestas primárias, restingas e cerrados. Em ambientes alterados o P. yagouaroundi

(15)

14 pode se adaptar também a cultivos de milho, soja e cana-de-açúcar quando associadas a matriz natural, pois a expansão agropecuária é um dos fatores que afetam diretamente sua na distribuição de maneira negativa (ALMEIDA et al, 2013).

Apesar de serem diurnos e grandes forrageadores no solo, existe uma pequena dificuldade de encontrar estes animais em seu território natural. A carência de dados em vida livre, citada por Ferrarezi (2013) e Vidolin (2004), talvez possa ser explicada pela dificuldade de localizar os indivíduos, devido ao seu extenso território, como afirmou Vieira (2014). Essa ampla distribuição pode ser consequência das grandes distâncias percorridas pelo gato-mourisco dentro do seu enorme território. As estimativas mais comuns, encontradas na literatura para a área de vida deste felino variam entre 20 a 50 km2, havendo números excedentes ou

reducionais a estes, que dependem e variam conforme o local habitado, idade e sexo dos espécimes estudados (PEREIRA, 2009; ALMEIDA, 2013; VIEIRA, 2014).

Segundo Almeida (2013) e Ferrarezi (2013) o declínio da população da espécie é uma realidade que irá ocorrer num futuro próximo. As ameaças estão vinculadas principalmente com a perda e fragmentação de habitats, porém, outros fatores relacionados englobam a caça ilegal e defesa de território realizada pelos fazendeiros, que ocorre devido à predação de suas criações cometidas pelos carnívoros, além das colisões destes animais com veículos nas estradas (VIDOLIN, 2004; PIRES 2012; ALMEIDA et al, 2013; TRIGO, 2013).

Devido a estes problemas, as medidas de conservação recomendadas são as pesquisas na área da biologia da conservação, que visa à preservação das espécies expostas às mudanças ambientais. Ações conservacionistas, como a implementação de corredores ecológicos (canais de mata que interliga dois ou mais fragmentos isolados de floresta) e a própria educação ambiental, principalmente em áreas rurais onde ocorrem maiores índices de ataques e predação entre humanos, animais domésticos e animais carnívoros (VIDOLIN, 2004; PIRES, 2012; ALMEIDA et al, 2013).

(16)

15 1.3 A IMPORTÂNCIA DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL.

Segundo John D. Carthy (1980), o comportamento é definido como qualquer reação (podendo ser pouco obvias) que percebemos do animal em relação ao ambiente que o cerca, tendo como influencia os fatores internos variáveis. De maneira mais clara, o comportamento de um animal é tudo aquilo que ele faz ou deixa de fazer (DEL-CLARO, 2010).

O cativeiro impõe aos animais selvagens condições muito diferentes quando comparados ao seu ambiente natural (CAMPOS, 2005) podendo gerar estresse aos envolvidos, pois quando o ambiente é restrito há uma pobreza nos estímulos recebidos, tornando o ambiente menos dinâmico e mais rotineiro (MELLEN, 2001; COSTA et al, 2010).

Como toda grande área da biologia, a definição para o termo estresse varia e sofre alterações dependendo de quem o descreve. Porém muitos pensadores influentes como Moberg e Broom concordam que ‘o estresse ocorre quando condições adversas produzem respostas fisiológicas no individuo’ (apud RIVERA, 2002). Segundo Broom (2004) estresse refere-se as situações nas quais existe falência ou dificuldades de adaptação por parte do animal ao meio.

Conforme Rivera (2002) não é possível listar todos os estressores possíveis para um animal, devido às diferentes necessidades que variam entre tantas espécies existentes, porém todas estão relacionadas à causas ambientais, ecológicas, internas e/ou fisiológicas. A dor, desconforto, doenças, um manejo que leve a frustrações, estímulos indutores de medo e a incapacidade de realizar seus padrões comportamentais normais, são exemplos de condições que podem afetar o bem estar do felino (ou de qualquer outro animal) cativo (RIVERA, 2002; BROOM; MOLENTO, 2004).

(17)

16 Bem estar é o objetivo que se deseja alcançar com a aplicação do enriquecimento ambiental. Sua definição está restrita aos indivíduos estudados e não a uma população, tendo como descrição geral a combinação entre saúde física e psicológica (THE SHAPE OF ENRICHMENT, 2007). Porém, a definição melhor aceita no ambiente cientifico é a descrição de Broom, que diz que o bem estar de um indivíduo é o seu estado em relação as suas tentativas de se adaptar a um ambiente (BROOM, 2004 apud PINHEIRO, 2009).

O enriquecimento ambiental é um processo dinâmico, que visa melhorar os ambientes dos animais cativos. Com uma mudança ambiental realizada, espera-se aumentar as escolhas comportamentais dos indivíduos envolvidos, consequentemente ampliando a gama de comportamentos considerados apropriados para as espécies estudadas e proporcionando melhoria nos níveis de bem-estar do animal (THE SHAPE OF ENRICHMENT, 2007).

As consequências trazidas após uma resposta positiva ao enriquecimento ambiental são diversas. Geralmente, são observadas melhorias na saúde, envolvendo desde fatores físicos, imunológicos e de longevidade. Há uma redução no estresse e na agressividade em cativeiro, aumentando também a capacidade do animal de lidar com novas situações e mudanças de recintos. Além de incentivar uma expressão maior no repertório comportamental, o mesmo é modificado, passando a reduzir os movimentos anormais da espécie. Auxilia também no desenvolvimento de habilidades necessárias para a sobrevivência e resolução de problemas, favorecendo a situação dos animais para possíveis reintroduções. É capaz também de atuar melhorando a reprodução e o sucesso na criação da prole. A importância se aplica aos projetos de educação ambiental também, pois animais saudáveis e dinâmicos passam uma impressão positiva para o publico, atraindo e despertando curiosidade e interesse na conservação da espécie (THE SHAPE OF ENRICHMENT, 2007; NASCIMENTO, 2010; SAAD, 2011).

(18)

17 Apesar do programa de enriquecimento ambiental propor alternativas para identificar e solucionar os sinais de estresse e comportamentos anormais, ainda é difícil de mensurar as técnicas com o estado emocional do animal, pois não é possível obter evidências concretas de que as mudanças ambientais tenham desempenhado a substituição do estado emocional negativo do animal para o positivo (PINHEIRO, 2009; NASCIMENTO, 2010).

Portanto, dentre os objetivos que se desejam ser alcançados com a aplicação do enriquecimento ambiental, encontram-se primeiramente o bem estar, melhorando os níveis psicológicos e fisiológicos do animal; identificar e reduzir as fontes de estresse, evitando que a espécime retorne ou entre em um estado de estresse crônico (natureza mais constante, baixa previsão e não muito bem controlado); e eliminar os comportamentos aberrantes, auxiliando também no sucesso de reprodução e reintrodução (MELLEN, 2001).

Há cinco categorias de enriquecimentos ambientais as quais estimulam sentidos diferentes: físicos, alimentares, sensoriais, sociais e cognitivos. O físico está relacionado a qualquer alteração no recinto, incluindo desde objetos de manipulação pelo animal até plataformas e barreiras. Quando nos referimos ao alimentar, este inclui oferecer tipos diversificados de alimento, e também a modificação no modo e frequência com que estes são entregues aos animais. Os enriquecimentos sensoriais são itens introduzidos que provocam os cinco sentidos existentes do animal, podendo ser a utilização de sons, cheiros, objetos coloridos, alimentos com textura diferenciada dentre outros. O enriquecimento social envolve o contato com outros indivíduos (podendo ser ou não da mesma espécie). Por fim, os cognitivos são enriquecimentos que são notados pelos animais como um desafio, sendo muito utilizado junto à dificultação na obtenção do alimento (THE SHAPE OF ENRICHMENT, 2007; DIAS, 2010).

A aplicação de enriquecimentos ambientais, assim como o tratamento diário aos animais mantidos em cativeiro, devem respeitar as cinco liberdades de

(19)

Bem-18 Estar determinadas em 1979, pelo Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção da Inglaterra:

1. Liberdade de fome e sede – Fornecer alimentação e água de maneira apropriada conforme a espécie/ indivíduo, com condições de higiene e segurança. Manter um comportamento alimentar normal para a espécie. Proteger os animais de fontes alimentícias irregulares, como por exemplo, o público.

2. Liberdade de desconforto: Proporcionar cambeamento, técnicas e cronogramas apropriados para contenção dos animais. Levando em conta temperatura, ambiente, luz, umidade, abrigo, ventilação dentre outros fatores.

3. Liberdade de dor, ferimentos e doenças: Com a manutenção, observação e registros diários para a verificação da saúde, tendo cuidados médicos prontamente disponíveis.

4. Liberdade de medo e estresse: Recinto seguro contra fuga e invasão de outros animais. Evitando o contato físico e sensorial com a equipe técnica, visitantes e com outros animais que causem estresse.

5. Liberdade para expressar padrões normais de comportamento: Recintos e rotinas diárias que possibilitem a expressão normal do comportamento da espécie, como por exemplo, a limpeza e alimentação. Requer também um planejamento adequado de enriquecimentos introduzidos.

(THE SHAPE OF ENRICHMENT, 2007; apud ZANGANELLI, 2011; SAAD, 2011)

(20)

19 1.4 A IMPORTÂNCIA DOS ZOOLÓGICOS

Jardin des Plants foi o nome do primeiro jardim zoológico público, localizado na França, que foi fundado no século XVIII, por volta de 1795, com o intuito de resgatar animais provenientes de circos. Em 1826, outro parque foi aberto em Londres, com o objetivo de realizar pesquisas na área da Zoologia. Porém, houve necessidade de investimentos financeiros para manutenção do parque, abrindo o mesmo para visitação e shows turísticos, incentivando não somente o uso dos animais para a diversão da sociedade como também a busca de outras espécies em vida livre para serem integradas ao plantel já utilizado. Somente no século XX a Europa e os EUA demonstraram maiores preocupações com os recintos e o bem estar dos animais, que ainda sim, não passava de um interesse econômico, já que espécimes sem atividades comportamentais, não costumam atrair a maior parte dos visitantes até os dias de hoje (RODRIGUES, 2008).

Segundo Marino (2011), no século XX a função dos zoológicos foi modificada, deixando de serem apenas coleções de entretenimento ao publico, e passando a ter atividades que proporcionassem a conservação da fauna regional e global. Atualmente as instituições passam por mudanças, na tentativa de aperfeiçoarem cada vez mais seus atendimentos prioritários, dos quais se enquadram em desenvolver educação ambiental diretamente ligado com o lazer para a comunidade local. Além de proporcionar conhecimento para todas as idades, os parques tem a ambição em se tornarem referência para atividades de reprodução e sobrevivência animal (BROOM, 2004; MARINO, 2011). Outra finalidade atribuída a estes criadouros e zoológicos, além da preservação, se refere a exibição dos animais e a educação ambiental (SANTOS, 2005).

A reprodução em cativeiro que ocorre em zoológicos se tornou uma das soluções encontradas para tentar amenizar o risco de extinção e manter a linhagem genética destas espécies (MOREIRA, 2007).

(21)

20 Porém, o manejo e o cativeiro proporcionam aos organismos condições muito distintas das que são encontradas em ambientes naturais e de vida livre, podendo gerar alterações comportamentais como: aumento da agressividade, inatividade e estereotipias, atrapalhando assim a sociabilidade entre os indivíduos da mesma espécie e qualquer tentativa de acasalamento (CAMPOS, 2005).

Segundo Rivera (2002), o estresse pode ser gerado por diversas situações impostas ao animal, que se enquadram desde um manejo e transporte até a incapacidade de realizar as atividades de padrão comum do seu comportamento, no qual pode ocorrer quando o mesmo é restringido a um recinto de área pequena e sem muitas semelhanças com seu ambiente natural. Para que ocorra conservação, sem a diminuição do bem estar, existem técnicas de enriquecimento ambiental que visam manter uma qualidade ótima do estado psicológico e fisiológico, funcionando de forma a parecer uma terapia ocupacional.

Tal fato proporciona diminuição ou ausência do estresse no organismo observado e, consequentemente, visível melhora nos resultados de comportamento exploratório (MOREIRA, 2007) e reprodutivo, aos seus sinais patológicos e neurológicos (RIVERA, 2002).

1.5 ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS

O Parque foi fundado em Outubro de 1981, tornando-se legalizado como Zoológico Municipal de Guarulhos, apenas em 1982 através da Lei Municipal 2.634/82. Em 1987 adquiriu o funcionamento disciplinado através da Lei Municipal 3.212.

Sendo alterada ao longo dos anos, a vegetação inicial do zoológico era constituída apenas de pinheiros e eucaliptos, tendo hoje uma gama maior de árvores frutíferas. A preocupação do zoológico se manteve em deixar grande parte do espaço ocupado por vegetais nativos, e uma parte de espécies constituintes da

(22)

21 Mata Atlântica, favorecendo um espaço mais natural para os animais (ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS, 2006; COLEGHIN, 2009).

Localizado na avenida Dona Glória Pagnoncelli, número 344, no Bairro Jd. Rosa de França (Figura 02), o parque contém dentro de seus 70.000 m2 em média

100 espécies distintas, dentre elas mamíferos, aves e répteis, todos inclusos no sistema de alimentação equilibrado em termos nutricionais e valores energéticos. O zoológico abriga em torno de 400 animais, distribuídos em recintos distintos por toda a área de visitação (Figura 03), grande parte destes são representantes da fauna brasileira. Destes, muitos encontram-se atualmente ameaçados de em extinção, sendo o caso do urubu- rei (Sarcoramphus papa), jaguatirica (Leopardus pardalis), onça-pintada (Panthera onca), cachorro do mato (Cerdocyon thous), dentre outras espécies (ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS, 2006; COLEGHIN, 2009).

Dentro deste território é existente também o setor extra: ala restrita apenas ao corpo técnico. Os animais contidos nestes recintos isolados, assim como os que estão expostos ao setor de visitação, são manejados e tratados por profissionais capacitados, que são responsáveis pela higienização dos recintos, alimentação e ambientação diária de todos os animais do parque. Outros quesitos importantes estão relacionados ao monitoramento nas atitudes comportamentais, saúde, bem-estar e educação ambiental que são realizados pelos tratadores, biólogos e veterinários do Zoológico (ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS, 2006; PREFEITURA DE GUARULHOS, 2008).

Além de possuir 5 lagos, espaço para atividades infantis, posto policial, estacionamento e sanitários gratuitos aos visitantes, o zoológico possui outros setores que não são abertos ao público, de grande importância para a manutenção e atendimento aos animais, dentre eles são: Biotérios, Cozinha dos animais, Horta orgânica, Clínica veterinária, Sala de necropsia, Quarentenário, Laboratório e setor de Manutenção e viveiro de mudas. Garantindo assim eficiência e seriedade no

(23)

22 compromisso com atendimento e necessidades de todos os animais transferidos a instituição (ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS, 2006).

O zoológico tem como um dos principais objetivos contribuir para a conservação ambiental, não apenas com a reprodução das espécies e a pesquisa cientifica, mas também com a educação ambiental. Por isso, o projeto “Bicho Legal”, no qual divulga a empresa através de propaganda enquanto a mesma patrocina um equipamento ou construção do parque. Bicho Legal é mantido junto a outros programas, como Centro de Educação Ambiental (CEA) e o Museu com painéis e expositores (ZOOLOGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS, 2006).

Figura 02: Mapa da localização do Zoológico Municipal de Guarulhos Fonte: GOOGLE MAPS, 2014

(24)

23 Figura 03: Distribuição dos recintos dentro do Zoológico de Guarulhos conforme o site

(25)

24 2.0 OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

Introduzir elementos de enriquecimento ambiental que possibilitem uma diversidade maior e positiva nas ações comportamentais dos gatos- mouriscos do Zoológico Municipal de Guarulhos.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

Avaliar a influência dos diferentes enriquecimentos expostos a fim de avaliar a preferência pelos espécimes estudados

Propor uma variedade de técnicas e sugestões que influenciem no bem estar destes felinos mantidos em cativeiro;

Observar e analisar os comportamentos executados relatando se visualizado, algum comportamento inédito ou não publicado;

O presente trabalho também poderá contribuir para que haja um acréscimo na quantidade de dados já obtidos sobre a espécie Puma yagouaroundi, bem como proporcionar procedimentos rotineiros pela equipe técnica do zoológico, caso tenham resultados positivos comprovados através da prática de enriquecimento ambiental.

(26)

25 3. MATERIAL E MÉTODOS :

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO:

O recinto possui três metros de altura, cinco metros de comprimento e cinco metros de largura, totalizando em 25m2 (Figura 04). É composto por substrato de

terra, vegetação herbácea e arbustiva (Figura 05) sendo possível localizar dois abrigos de madeira na parte coberta do recinto, distantes um do outro (um no canto esquerdo e o outro no canto direito do recinto), sendo as aberturas dos abrigos posicionada lateralmente, evitando o contato direto dos animais com os visitantes mesmo dentro do refúgio.

Contém alguns troncos posicionados diagonalmente e apoiados uns aos outros. Estes sustentam uma plataforma possibilitando a escalada dos animais. No substrato encontram-se também troncos pequenos dispostos de maneira vertical e maciços.

(27)

26 Figura 05 – Vista frontal do recinto

3.2 HISTÓRICO DOS INDIVIDUOS ESTUDADOS

Um dos representantes deste estudo foi o gato-mourisco macho, de aproximadamente cinco anos de idade, situado no recinto de número 56 do zoológico municipal de Guarulhos.

Seu histórico individual informa que Getúlio chegou na Faculdade de Medicina Veterinária UNESP de Araçatuba através da polícia ambiental de Votupiranga. Em seguida, foi transferido para o Zoológico de Guarulhos, no ano de 2009, com aproximadamente três meses de idade.

A fêmea, batizada de Carlota, chegou ao parque no dia 03/06/2010 com aproximadamente 10 meses de idade e, inicialmente, demonstrou dificuldades na aproximação com seu companheiro Getúlio. Sabe-se que Carlota foi resgatada em São Carlos, em 25/11/2009, após ataque de cães domésticos. A mesma foi acolhida

(28)

27 por uma família, que ofereceu sua cadela como mãe adotiva. Pouco tempo depois, Carlota foi resgatada pela Polícia Ambiental e direcionada para o Zoológico de Guarulhos.

Carlota demonstrou sintomas expressivos de agressividade no período de Setembro de 2010, mas após seis meses tornou-se mais tranquila após aproximação com Getúlio, que não demonstrou sinais apreensivos frente à aproximação desde o início.

Os indivíduos acasalaram e Carlota ficou prenhe por três momentos distintos, porém, todas resultaram em natimortos, cuja causa ainda é desconhecida. Em função destas fatalidades, ambos foram castrados no ano de 2013.

(29)

28

3.3 METODOLOGIA

Durante as três etapas do projeto (pré, durante e pós enriquecimento), a metodologia utilizada para as observações foi Animal focal (DEL-CLARO, 2010), tendo 15 horas para cada fase, obtendo-se 45 horas totais de registro em todo o trabalho. Das 45 horas, foram reservadas 15 horas de análises em períodos vespertinos, que foram distribuídos em 5 horas para cada fase do projeto. Esta divisão de horários foi proposta na tentativa de realizar uma avaliação a respeito do período mais ativo dos espécimes estudados, auxiliando assim em uma conclusão final correta em relação aos enriquecimentos introduzidos no recinto e sua eficiência sobre os comportamentos executados por Carlota e Getúlio.

Baseando-se em Vieira (2014), para todas as etapas, as observações tiveram duração de 2 horas diárias, entre 09h30min e 11h30min para o período matutino, e das 13:30min as 15:30min para o período vespertino. Os períodos foram selecionados a fim de responder questões sobre influência do horário e temperatura do ambiente na vida dos animais cativos. Observando os indivíduos por 02 horas/dia fica mais evidente uma verificação na mudança comportamental, pois é possível anotar os comportamentos na transição destes dois períodos, ou seja, da manhã (9h30) até aproximadamente o início da tarde (11h30). Sendo assim, cria-se uma base comparativa entre períodos de maior atividade dos espécimes, bem como alterações na execução de alguns comportamentos frente às diferentes temperaturas do dia.

Os registros foram feitos de maneira consecutiva entre os indivíduos, sendo registrado cada comportamento executado, com base no tempo cronometrado. O tempo estipulado pela autora, foi de 30 segundos exclusivos para cada indivíduo, deixando 30 segundos também para o intervalo de cada animal, ou seja, durante os 30 segundos de análise focal em apenas um dos animais, este era o tempo de intervalo para o outro espécime do recinto. Este tempo foi escolhido pelo fato de que os animais, principalmente pelas manhãs, realizavam uma grande quantidade

(30)

29 de movimentos dentro de 30 segundos. A consequência de prolongar o tempo das análises, poderia ocasionar na perda de comportamentos realizados pelo indivíduo que estivesse dentro do intervalo, além de dificultar o registro do espécime incluso no momento da observação, devido a grande quantidade de comportamentos realizados. As análises da primeira etapa ocorreram nos seguintes dias da semana: terças, quintas e sextas-feiras, e tiveram inicio no dia de julho até agosto

Na segunda fase do projeto, os enriquecimentos foram introduzidos aos poucos para não desestimular os animais, sendo aplicado apenas um item por dia. As avaliações mantiveram o padrão de duas horas diárias entre 9h30 às 11h30min para períodos matutinos e 13h30 até 15h30 para vespertinos, modificando apenas os dias da semana para segundas, quartas, sextas-feiras e alguns sábados, tendo duração somente no mês de outubro.

Para as observações da fase final, o mesmo modelo de avaliação citado para as fases anteriores do projeto continuou sendo utilizado, mantendo os mesmos horários dos períodos vespertinos e diurnos, realizados de segundas, quartas, sextas-feiras, e eventuais sábados, e ocorreram no final de outubro até início de novembro

Foi utilizado o etograma descrito por Costa (2010) (Tabela 01) para catalogar os movimentos no pré (PR), durante (DU) e pós (PO) o enriquecimento ambiental.

(31)

30 Tabela 01 – Etograma utilizado para todas as etapas do projeto

(32)

31

3.4 MATERIAIS

3.4.1 Itens de Enriquecimento :

As técnicas de enriquecimento ambiental selecionadas foram: alimentar, sensorial e físico, envolvendo cognitivo. Todos avaliados pela equipe técnica científica do Parque, proporcionando e garantindo a segurança de Carlota e Getulio.

. 02 Caixas de papelão

. 02 Garrafas PET com baratas vivas em seu interior (Figura 08) . Cortina de folhas (Figura 09)

. 02 Cubos de sangue (Figura 10)

. Cravos e canelas distribuídos no recinto (Figura 11)

. Alimentos escondidos em dois locais distintos (fração da própria dieta) (Figura 12) . Pneu suspenso com 2 ratos vivos em seu interior (Figura 13)

. Bacia d’agua com 3 peixes vivos dentro (Figura 14)

As técnicas utilizadas para enriquecimento ambiental foram aplicadas nas seguintes datas (Tabela 02):

Tabela 2 - Cronograma de enriquecimentos realizados na segunda fase do projeto

Datas Enriquecimentos Horário Tempo de Observação

06/10/2014 Caixas de Papelão 9h30 2 horas 08/10/2014 Garrafas com Baratas 13h30 2 horas 10/10/2014 Cortina de Folhas 9h30 2 horas 15/10/2014 Cubo de Sangue 13h30 2 horas 17/10/2014 Canela e Cravo 13h30 1 hora 18/10/2014 Alimentos Escondidos 9h30 2 horas 20/10/2014 Pneu com Rato vivo 09h30 2 horas 24/10/2014 Bacia com Peixes vivos 09h30 2 horas

(33)

32 3.5 RAZÃO DOS ITENS DE ENRIQUECIMENTOS AMBIENTAIS ESCOLHIDOS

Alguns dos itens selecionados foram utilizados sem referência bibliográfica com o intuito de identificar novas preferências não descritas, podendo ser utilizado por outros zoológicos e até outras espécies de animais cativos. Dentre estes itens se enquadram os 03 enriquecimentos físicos: A caixa de papelão, o pneu e a garrafa com insetos dentro. A caixa de papelão, além de funcionar como um enriquecimento físico pode influenciar na reação dos animais como um enriquecimento tátil, sendo um local diferente para se acomodar se for preferível. Já a garrafa plástica com insetos em seu interior poderá funcionar também como um estímulo visual, podendo manter os animais entretidos por mais tempo.

Fatores olfativos são uma das principais maneiras de comunicação entre os felinos (apud DIAS, 2010), por isso foram introduzidos o Cravo e Canela, com o objetivo de tentar estimular o comportamento de marcação territorial, além de aguçar o faro.

Conforme Vieria (2014) os gatos-mourisco podem ser encontrados próximos de beiras de rios e riachos, e, em função desta informação foi colocado no recinto uma bacia de água com peixes vivos dentro, na tentativa de avaliar a interação dos indivíduos com a água e talvez um possível comportamento predatório de pesca. Este item pode se tornar além de físico um enriquecimento cognitivo e, por fim, alimentar.

Corroborando com dados de Rivera (2002), os animais podem sofrer estresse pela falta de uma arquitetura espacial adequada para sua espécie. O recinto dos gatos mourisco já tem em sua constituição duas alas de refúgio para os dois indivíduos, porém a Cortina de folhas foi introduzida na tentativa de fornecer um abrigo mais natural e menos limitado que possa oferecer uma redução no estresse e monotonia na vida dos indivíduos, em relação à visibilidade constante de visitantes.

(34)

33 Como opção de enriquecimento cognitivo, foi escolhido através do uso da literatura, sangue congelado em forma de cubos e trilhas de sangue que possam induzir a procura pelo alimento através do olfato e estimular um comportamento mais natural (SANTOS, 2005).

Figura 08 - Garrafas com baratas vivas dentro Figura 09 – Cortina de folhas

(35)

34 Figura 11 – Canela e Cravo em lascas espalhados ao longo do recinto

(36)

35 Fig. 13- Pneu Suspenso com Presa viva dentro Fig. 14 – Recipiente contendo peixes vivos

(37)

36 4.0 RESULTADOS

A metodologia “Animal focal” possibilitou a verificação de 21 comportamentos, nos quais foram agrupados em 9 categorias: Parado Inativo, Parado Ativo, Locomoção, Manutenção, Exploração, Alimentação, Vocalização, Brincando e Pacing.

4.1 PRIMEIRA ETAPA – ANTERIOR AO ENRIQUECIMENTO

As observações foram realizadas dentro do padrão estipulado na metodologia, tendo 5 horas de análises vespertinas e 10 horas para observações matutinas, totalizando em 15 horas. As observações foram realizadas dentre o mês de Julho e início de Agosto.

4.1.1- Individuo Macho

Padrões comportamentais apresentados por Getúlio antes da aplicação dos itens enriquecedores ilustrados no gráfico abaixo (Figura 15).

Figura 15 -Frequência comportamental de Getulio antes da introdução do Enriquecimento Ambiental. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

(38)

37 Foi possível notar que Getúlio se mostrou muito inativo durante a primeira fase do projeto, tendo em seu registro um número total de 644 na subcategoria

Deitado, 116 para a ação Sentado, restando apenas 12 para o Em Pé Inativo,

ressaltando que a preferência de Getúlio quando estava Sentado e Deitado foi em cima da Toca de madeira localizada no canto Direito em vista frontal. Outro fator que deve ser considerado foi a ausência do Pacing, tendo registro raro diante as observações (apenas 2 durante o PR). Em relação à categoria Manutenção verificou-se 136 comportamentos, dos quais 129 adentraram na inclusos na subcategoria Lamber. Este indivíduo não apresentou muitos atos de Observação (categoria não apresentada no Gráfico), tendo 72 registros com Face voltada para

fora do Recinto e 36 para Dentro do recinto, restando apenas 7 para os Visitantes

e 2 para Observação ao Tratador. 4.1.2 INDIVIDUO FÊMEA

O gráfico abaixo (Figura 16) representa a frequência comportamental de Carlota previamente à introdução do enriquecimento ambiental.

Figura 16 - Frequência comportamental de Carlota antes do enriquecimento 0 100 200 300 400 500 600 700 800

(39)

38 Para a Carlota, durante o PR ficou evidente, assim como no individuo Macho, o grande período inativo avaliado na primeira fase do projeto. Porém os números dentre as subcategorias ficaram distribuídos de maneira mais similar entre as ações

Deitar e Sentar, obtendo-se um valor de 346 e 321 respectivamente, destacando

que a preferência deste indivíduo era de sentar na frente da grade. Outro fator não visualizado no gráfico foi o parâmetro da categoria Observação, tendo de 169 registros, 106 para Face voltada para Fora do Recinto, 37 para Dentro do Recinto e 26 para os Visitantes.

Na categoria Locomoção, foi possível verificar 165 para Andando, 18

Correndo e o restante para Saltando e Escalando.

Em Manutenção os registros Lamber também mostraram-se elevados, contabilizando 187 de 199 movimentos respectivamente.

4.2 SEGUNDA ETAPA - DURANTE O ENRIQUECIMENTO

A segunda etapa obedeceu o cronograma de enriquecimentos ambientais (Quadro 02). Os itens foram aplicados separadamente em datas distintas e as observações mantiveram a metodologia estipulada da primeira etapa, alterando apenas os dias da semana para segundas, quartas, sextas feiras e sábados sendo as observações realizadas durante o mês de outubro. Nos gráficos desta etapa foram adicionados a categoria Sem visibilidade, devido a permanência dos indivíduos no cambeamento e na casinha, não sendo possível nestes momentos relatar os comportamentos executados.

4.2.1 – INDIVIDUO MACHO

Padrões comportamentais apresentados por Getúlio frente aos itens de enriquecimento ambiental (Figura 17).

(40)

39 Figura 17 – Frequência comportamental de Getúlio perante aos enriquecimentos

Nesta etapa do trabalho foi possível notar que a falta de visibilidade do Individuo Macho teve elevada significância, totalizando em 183 (de um total de 225) devido a sua permanência dentro do cambeamento. O restante refere-se ao ponto de refúgio, a casinha. Esse fato atrapalhou a coleta de dados de Getúlio, porém, após conhecimento individual obtido através do período passado com este indivíduo, é pouco provável que o mesmo tenha conseguido desempenhar comportamentos diferentes dos classificados dentro do Parado Ativo, Parado Inativo, Vocalização e Manutenção.

Nas categorias Parado Inativo, quando visto fora do cambeamento, foi possível verificar uma distribuição homogênea entre as subcategorias, variando entre 6 e 7 para cada tópico. Em Locomoção foi possível registrar 40 vezes para

Andando, 10 Saltando e apenas 5 em Correndo. Em Manutenção houveram

poucos registros, possibilitando apenas 9 movimentos para Lambendo.

Na categoria vocalização, um fator que chamou muito a atenção foi de que os registros todos foram contabilizados como Rosnando e nenhum Miando. Foi detectada a ausência total de brincadeiras (comportamento lúdico) e de quase todos

0 50 100 150 200 250

(41)

40 os itens de manutenção (exceção de lamber, afiar as unhas e urinar). Houve também um aumento pequeno na categoria Pacing.

Getúlio mostrou-se menos “sociável”, reduzindo também a categoria Observação em Face Voltada para Fora, e aumentando os índices de Face voltada

para o Recinto. Outra mudança perceptível foi referente ao seu ponto de descanso

habitual, trocando o topo da sua ala de refúgio (toca de madeira) pelo cambeamento e interior da toca de madeira.

4.2.2 – Individuo Fêmea

A Figura 18 apresenta a frequência comportamental realizada por Carlota durante o enriquecimento ambiental.

Figura 18 – Frequência comportamental de Carlota perante aos enriquecimentos

Carlota demonstrou considerável redução na categoria Parado Inativo, permanecendo o valor maior referente à categoria Deitado com um número 123, de um total de 209. Carlota demonstrou também uma redução em todas as subcategorias incluídas em Observações quando comparadas aos resultados da PR. Na fase DR as observações com Face voltada para fora foram de apenas 16,

para Visitantes e Tratadores apenas 9 cada, e 19 para Dentro do Recinto.

0 50 100 150 200 250

(42)

41 Foi possível registrar também que houve uma redução na Vocalização, mas devido ao ato de rosnar, que nesta fase do trabalho foi de apenas 5 de 19. O indivíduo alterou seu lugar de preferência, se tornando algumas vezes invisível devido a entrada no cambeamento e completamente distante da grade, onde costumava ficar na fase PR.

4.3 Terceira Etapa – Pós enriquecimento

As observações mantiveram a metodologia estipulada da primeira e segunda etapa, executando-se 10 horas de observações em períodos matutinos e 5 horas nos períodos vespertinos, seguindo 2 horas diárias nas segundas, quartas, sextas-feiras e sábados, e foi realizado entre o final do mês de outubro e início de novembro.

4.3.1 Indivíduo macho

A Figura 19 representa a frequência comportamental de Getúlio após a introdução do enriquecimento ambiental.

Figura 19- Comportamentos realizados por Getúlio na fase PO

A categoria sem visibilidade, para Getúlio se manteve no número 141, sendo que nenhum dos registros ocorreu no interior da casinha, somente no cambeamento. Como nas outras etapas, houveram poucos registros de Pacing e nenhum de Parado Ativo. Em vocalização, Getúlio se mostrou mais expressivo,

0 50 100 150

(43)

42 representando 11 registros, obtendo apenas um para Miando, e 10 Rosnando - todos para tratadores e alguns para Carlota no momento da alimentação. A categoria Manutenção se manteve bem equilibrada, obtendo 8 registros para

Lamber-se, 1 para coçando, 2 para ingestão de água, 1 para urinando,.

Comportamentos como afiar as unhas e defecar não foram observados. Na categoria Locomoção, os registros acompanharam 91 para Andando, 14 para

Correndo e 6 para Saltando - muitas vezes observado nos momentos que Getúlio

subia e descia do tablado (acima da casinha). O ato de brincar foi observado poucas vezes, sendo apenas 2 registros e nenhum com sua companheira Carlota. A exploração não foi tão frequente, porém sempre maior que Carlota, tendo 5 para

recinto e 3 para cambeamento.

4.3.2 Individuo fêmea

O gráfico abaixo (Figura 20) representa a frequência comportamental de Carlota depois da introdução do enriquecimento ambiental.

Figura 20 - Frequência comportamental de Carlota na fase PO

Em toda a etapa PO Carlota se manteve visível no recinto, não havendo a necessidade de manter a categoria Sem visibilidade em seu gráfico. Na categoria Locomoção, Carlota adquiriu o número correspondente a 124 registros Andando, 17 Correndo e 18 Saltando, mantendo um registro numericamente próximo da fase

0 50 100 150 200 250 300

(44)

43 PR. Os registros de Parado Inativo, tanto nesta fase quanto na DR ficaram próximos, obtendo-se 256, 148 para Deitado e 91 Sentado. Em momento algum Carlota foi observada Dormindo. Quanto ao Pacing, o número ficou bem próximo de DR, porém nestas etapas, o numero mostrou-se reduzido quando comparados a PR, constando em um número de 16 vezes realizado nesta etapa.

A categoria vocalização se manteve com números praticamente iguais, totalizando em 8 para rosnando e 9 para miando, tendo algumas vezes rosnado para seu parceiro Getúlio.

Por fim, a Manutenção se manteve com um alto registro de Lambendo-se, porém um número mais baixo quando comparado às outras etapas, registrando desta vez apenas 23 movimentos para esta subcategoria. O ato de afiar as unhas manteve certo equilíbrio somando-se 8 registros, bem como 7 para coçando.

(45)

44 5. DISCUSSÃO

O cativeiro se torna uma situação de desafio conforme as capacidades dos animais selvagens ali contidos. Muitas causas estressoras podem estar relacionadas com a tridimensionalidade e tamanho do recinto, a falta ou excesso de estímulos, o manejo e até a dieta. Porém outros fatores como barulho, temperatura, substrato não confortável e quantidade de indivíduos cativos no mesmo recinto podem ocasionar respostas ao estresse. O contato visual, olfativo e auditivo com predadores são outras opções que não devem ser descartadas, assim como a qualidade do contato entre visitantes do zoológico e tratadores, que na grande maioria dos casos são as principais fontes de estresse dos animais cativos (SILVA, 2004; CASTRO, 2009).

Os comportamentos estereotipados costumam ser uma resposta ao estresse, se tornando indesejado por não se obter um objetivo claro e uma função imediata, mas existe a hipótese de que esta ação gera resultados positivos, uma vez que se tira a atenção aos eventos externos e ambientes aversivos, reduzindo o estresse e a ansiedade (CASTRO, 2009).

Tratando-se de Carlota, foi possível avaliar alguns exemplos de comportamentos estereotipados, como o Pacing, o ato de lamber-se excessivamente e mordiscar-se algumas vezes, sendo considerados por Castro (2009) comportamentos anormais, que podem ser provenientes de más condições ambientais. Estas observações foram registradas, porém notou-se uma redução na fase DR nas categorias: Parado Inativo, Manutenção - que estava associado quase que inteiramente ao ato Lamber-se e ao Pacing, que consequentemente reduziu a categoria Locomoção.

Seu parceiro de recinto, Getúlio, mostrou-se, desde o início do trabalho muito mais inativo quando comparado com Carlota, obtendo grandes índices de Parado Inativo na fase PR, estando relacionada muitas vezes no ato de Dormir. Porém foi possível, assim como em Carlota, observar todas as categorias dos gráficos nesta etapa (PR), com exceção do Pacing.

(46)

45 Apesar da evidente redução das categorias importantes na indicação de um ambiente estressante, é importante relatar a ocorrência de uma reforma significativa em frente ao recinto dos mouriscos, a duração de 2 semanas e meia no mês de setembro. Esta reforma gerou muita poluição sonora repetitiva, que, consequentemente, afetou a vida e os comportamentos executados pelos indivíduos. Foi perceptível a alteração comportamental de Carlota e Getúlio dias antes de se iniciar a fase de enriquecimentos ambientais (PR).

Outro fator que pode ter influenciado os resultados, foi o fato de que estes animais foram transferidos, antes da reforma, permanecendo no recinto extra por 1 semana e meia, também no mês de setembro, tendo permanência de uma semana no setor extra, devido a uma rachadura do recinto original. Manejos e deslocamentos frequentes podem explicar o aparecimento da categoria Sem

visibilidade para ambos os indivíduos na fase DR, já que buscam refúgios em locais

aparentemente seguros.

Durante o enriquecimento ambiental, os primeiros itens não chamaram a atenção e não aguçaram curiosidade por parte dos animais. Dentre estes itens, se incluíram a Caixa de Papelão e a garrafa de plástico com baratas vivas dentro. No terceiro dia, o item adicionado foi a Cortina de folhas em frente ao cambeamento. Nesta mesma data, ambos os animais se mantiveram no interior do cambeamento – a cortina agiu como uma ala de refúgio, inexistente no início da avaliação. Pode-se afirmar que a cortina garantiu mais conforto e privacidade aos indivíduos, pois nesta data, as observações foram executadas dentro do horário de maior atividade destes animais (pela manhã) e com temperatura comum de aproximadamente 25oC.

Esta ferramenta mostrou-se tão eficaz e funcional para estes indivíduos, tornando-se permanente no interior de tornando-seu recinto (decisão tomada pela diretoria do zoológico).

O quarto item foi o cubo de sangue, que não provocou curiosidade nos indivíduos. Este foi oferecido durante a tarde de um dia quente, e o zoológico não apresentava movimentações intensas de visitantes. Nesta data, foi possível notar comportamento anormal da fêmea Carlota, que permaneceu por longos períodos

(47)

46 arrancando seus próprios pelos (apresentando falhas severas em seu pelos, na parte posterior do corpo), bem como realizando uma frequência comportamental ao longo de 1 hora, em que se baseava em deitar, ficar de pé, sentar, se lamber e deitar novamente. Frente a esta mesma ferramenta de enriquecimento, Getúlio se manteve ausente e não saiu do cambeamento neste dia.

Em resposta a estes índices severos de estresse, através da execução de comportamentos estereotipados, e o ato de se esconder se intensamente, realizado pelo Getulio, o zoológico deu início a um tratamento a base de medicamentos antidepressivos. Os animais começaram a receber este medicamento no dia 13 de outubro, um quarto de comprimido uma vez ao dia.

O medicamento denominado amitriptilina é um antidepressivo controlador de ansiedade e depressão, que pode ser usada como bloqueador dos ataques de pânico, podendo causar efeitos colaterais diversos como, tonturas, ganho de peso, ressecamento na boca, sonolência, problemas de visão, tremores e sensação de cansaço (BULAS.COM.BR, 2014).

Segundo Moreira (2001) pequenos felídeos podem apresentar perda de pelos por arrancamento, e essas situações estão na maioria dos casos vinculadas ao estresse e ocorre nos períodos mais quentes do ano. Este fato pode ser explicado através das elevadas temperaturas em que ocorreram as observações. A agitação causada pela obra, bem como contenções e manejos de transporte também podem explicar a excessiva perda de pelos de Carlota.

Após o início da medicação, no dia 13 de Outubro, os resultados em relação a pelagem foram positivos, sendo possível notar a recuperação antes mesmo de finalizar a fase de DR. Porém, a mesma medicação que ameniza determinado sintoma, pode ser responsável por trazer à tona alguns efeitos colaterais.

Conforme Baptista (2009) o ato de esconder-se pode ocorrer em situações de animais idosos e em horários de descanso do animal, porém estas questões foram descartadas, uma vez que Getúlio apresenta em sua ficha apenas 5 anos de idade e se manteve nas mesmas condições tanto no período matutino quanto no

(48)

47 vespertino. Duas possíveis justificativas acerca do aumento da inatividade de Getúlio ao longo de todo o projeto, se devem a alguns efeitos colaterais da medicação administrada ao indivíduo, bem como a visível dominância de Carlota sobre o recinto. Porém segundo Silva (2004) a passividade e apatia estão ligadas a sinais de estresse, assim como agressividade também, e Getúlio apresentou aumento sutil nos sinais de agressividade (representados com o ato de rosnar) junto à redução de suas atividades em todos os períodos de observação na fase DR.

Os outros itens adicionados demonstraram mais sucesso, principalmente por parte de Carlota. O quinto item foi o cravo e a canela em bastão. Após a introdução destas especiarias, foi possível verificar Carlota mais relaxada, sem apresentar movimentos de pacing, e retornando a frequentar a posição de sentar na grade, que não era mais verificado em DR, após a reforma. Foi possível notar também uma aproximação entre os dois indivíduos neste dia, por parte de Carlota, levando em conta que ela nunca permitiu um contato nas outras etapas das observações. Alguns felinos apresentam sinais de agressividade, sendo mais comum entre fêmeas e em animais não reprodutores (CASTRO, 2009), se enquadrando no perfil de Carlota na fase de PR. Quanto a Getúlio, o mesmo permaneceu no interior do cambeamento, porém foi possível observá-lo se alimentando e em locomoção, logo depois da adição do enriquecimento. As avaliações desta data foram realizadas no período vespertino, sendo possível afirmar maior gama de comportamentos por parte de Carlota e Getúlio.

Os enriquecimentos alimentares demonstraram maior interação direta por parte de Carlota e um aumento nas atividades de Getúlio de imediato. Nestes, se incluem o alimento escondido entre fibras de feno e folhas no recinto, ratos vivos no interior de pneu suspenso e peixes vivos dentro de bacia d’água. Nos três enriquecimentos foi possível verificar que a gama de comportamentos que Carlota executou apresentou elevada significância, porém a interação direta foi ainda maior com os peixes e os ratos vivos, podendo concluir que enriquecimentos alimentares com presas vivas são muito eficientes para este indivíduo. Para o pneu suspenso, a interação com o mesmo só ocorreu devido a presença do rato em seu interior,

(49)

48 porém foi relatado por tratadores que houve interação por parte dos animais com o pneu, uma vez que o mesmo se encontrava desalinhado no dia seguinte.

Para o último item resultados interessantes foram obtidos, uma vez que Carlota se manteve o tempo todo entretida com a bacia de peixes. Getúlio teve contato com o enriquecimento também, executando leves patadas na água e alguns sinais de exploração com o balde, porém, ainda se manteve, na maior parte do tempo, no interior do cambeamento. As avaliações dos comportamentos executados por Carlota frente a este mesmo estímulo foram excelentes, já demonstrou comportamento predatório de pesca. Este resultado teve extrema importância e naturalidade, tendo em vista que nunca haviam sido oferecidos peixes vivos ou mortos para estes indivíduos.

Ocorreram interações diferentes com os peixes quando comparado com os ratos vivos, obtendo atos de brincadeiras, exploração (cheirando), patadas e mordidas. Os tratadores confirmaram a ingestão dos peixes dispersos no recinto, por um dos indivíduos de um dia para o outro.

Na última etapa do projeto, Getúlio obteve maiores registros, uma vez que a categoria Sem Visibilidade foi reduzida de 225 para 141. Notou-se melhora na atividade Brincar, pois na fase DR não houve registro da mesma, porém incomparável com a fase PR, que se obteve um numero total igual a 13. O ato de alimentar-se aumentou quando comparado em todas as outras etapas, mas todas as observações ocorreram dentro cambeamento. A Locomoção também aumentou: a subcategoria Andando teve registros maiores do que nas fases anteriores. Apesar dos dados mostrarem maior atividade por parte do Getúlio, o Pacing não era realizado na fase PR, e as vocalizações (na fase PR) obtiveram um equilíbrio entre Rosnar e Miar. Mas na última fase Getúlio se mostrou rosnando mais do que miando. Logo após a obra, notou-se nesta última etapa, uma redução da exploração e do Parado Ativo também. A frequência de Getúlio no tablado (acima da casinha) era maior em PR, ausente em DR e em PO voltou a ser observada a frequência do animal nesta parte do recinto, mas o cambeamento ainda se torna a preferência atual do indivíduo macho.

(50)

49 Este mesmo macho demonstrou sinais de melhora da fase DR para PO, mas o principal objetivo é de tentar retornar ao que se registrou em PR, onde a gama de movimentos eram maiores e abrangiam todas as subcategorias (com exceção de Defecando, que não foi observado), porém não obtendo os mesmos números para Deitado e Lambendo-se (tendo os números 644 e 129 consecutivamente) considerados valores muito altos e exagerados.

Segundo Carniatto (2011) o comportamento de permanecer escondido pode estar relacionado a sinais de medo, estresse e apatia, por isso a redução da locomoção, das brincadeiras, o aumento do pacing e da categoria Sem visibilidade para Getúlio. Esses valores comprovam que o mesmo está sofrendo com as condições atuais do recinto e com o estresse que foi exposto aos sons da obra e manejos antes do enriquecimento ambiental. A medicação também pode estar interferindo no processo de passividade, uma vez que o mesmo provoca sonolência e letargia, porém outro fator que não se deve ignorar foi o aumento da temperatura no segundo semestre deste ano, podendo interferir também na frequência comportamental.

Carlota não obteve mais registros na categoria Sem visibilidade, sua Locomoção aumentou, obtendo um número equilibrado entre correr e saltar. Além de se manter mais ativa nesta última fase com altos índices em Andando quando comparado a DR, o ato de brincar obteve maiores registros também, porém não similares aos da primeira fase (PR). Foi possível observar maior frequência na alimentação. O ato de rosnar teve diminuição durante o enriquecimento, e o Pacing teve registros maiores em PO quando comparado a DR, podendo ser explicado também pelo fato de Carlota estar mais ativa e se locomovendo mais.

Conforme Silva (2004), as estereotipias podem estar relacionadas a diversos fatores, como a falta de espaço e de elementos de fuga para os animais no recinto, situações de ameaças, estímulos de outros animais e a aproximação do horário da refeição. Para Carlota foi evidente a realização do pacing em casos de vozes mais próximas do recinto, e seu posicionamento na grade com a face voltada para os visitantes, que se aproximavam. Devido a estes registros, gera-se a hipótese de que

(51)

50 Carlota pode praticar pacing como uma forma de aliviar a ansiedade perante aos visitantes, uma vez que é possível verificar o indivíduo levantar-se do fundo do recinto e se locomover até a grade na presença de pessoas, na grande maioria dos casos.

Referências

Documentos relacionados

Não se pretende com essa Emenda impor a criação de guardas municipais, que se mantem como competência dos municípios, mas, apenas, resolver aparente

30 - Com o objetivo de assessorar os sócios e funcionários da “ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE ILÊ AXÉ OPÔ AGANJU” na consecu- ção de seus objetivos estatutários, e principalmente,

Na forma do artigo 59, § 1º, alínea “c” e § 2º, da Lei Comple- mentar 7, de 7 de dezembro de 1973, notifico o contribuinte do Imposto sobre a transmissão “inter-vivos”, por

A Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed) está com inscrições abertas para crianças surdas, de 6 a 8 anos de idade. A Escola de Educação Especial de Surdos

discutir a autenticidade das diferenças entre a fala e a escrita, a partir do advento dos chats; refl etir sobre a difi culdade que os(as) estudantes podem apresentar durante

Não me pergunte a razão, pois não sei, apenas sinto — respondi para Heitor, amigo de criancice, engraçado.... e que sempre está presente em

"As redes sociais permitem aos adolescentes assegurarem online muitas tarefas que são importantes para eles: manterem-se ligados a familiares e amigos, fazer

Recentemente, a revista Plural Pluriel dedicou um número aos estudos de Timor-Leste, com o tema Cultures du Timor-Oriental: processus d’objectification (Culturas de