MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
PROCURADORIA-GERAL
CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO
FEITO PGT/CCR/ICP/Nº
12791/2013
CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Origem: PRT 2ª Região
Interessado(s) 1: SINTHORESP – Sindicato dos Trabalhadores em
Hotéis, Motéis, Posadas, Restaurantes, Bares e
Similares de São Paulo e Região.
Interessado(s) 2: Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda. (MC
Donald’s)
Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho
Assunto(s): - Temas Gerais 09.02.03.
Procurador oficiante: Elisa Maria Brant de Carvalho Malta
“RECURSO ADMINISTRATIVO – DESVIO/ACÚMULO DE FUNÇÃO DO ATENDENTE DE RESTAURANTE. Não configuração da irregularidade denunciada. Previsão expressa no contrato de trabalho das funções a serem desempenhadas pelo atendente. Pelo CONHECIMENTO e NÃO PROVIMENTO do recurso administrativo e pela HOMOLOGAÇÃO do arquivamento.”
RELATÓRIO
Trata-se de procedimento administrativo instaurado
com gênese em denuncia promovida pelo SINTHORESP – Sindicato dos
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Trabalhadores em Hotéis, Motéis, Posadas, Restaurantes, Bares e Similares
de São Paulo e Região em face de Arcos Dourados Comércio de Alimentos
Ltda. (MC Donald’s), noticiando o acumulo de função, uma vez que o
empregado é admitido para exercer a função de atendente de restaurante e
depois é obrigado a executar serviços de faxina, concomitantemente.
Em apreciação prévia fls. 28/29, a i. Procuradora
oficiante, determinou, in verbis:
“ 1 – Trata-se de procedimento instaurado em razão de recebimento de denúncia formulada pelo Sinthoresp em face da empresa Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., alegando acúmulo de função, uma vez que o empregado é admitido para executar serviços de faxina, concomitantemente (fls. 08/15).
2 – A atuação do Ministério Público do Trabalho está justificada, uma vez que, em sendo verdadeiras as alegações aduzidas na denúncia, vários dispositivos constitucional e infra-constitucional estão sendo violados.
Assim considerando,
a) Adoto para a presente
representação, o Procedimento Preparatório de investigação, devendo a secretaria proceder a autuação da mesma, fazendo as devidas anotações;
b) A seguir, inicialmente, intime-se a empresa para, no prazo de 10 (dez) dias, manifestar-se
circunstanciadamente a respeito da denúncia,
comprovando documentalmente suas alegações,
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firmado com o empregado admitido para exercer a função de atendente.”
A d. Procuradora propôs o arquivamento do presente
expidiente, fls. 151/155, nos seguintes termos, ad literam:
“Trata-se de investigação instaurada em face da empresa ARCOS DOURADOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, ante a notícia de que a mesma impõe acumulo de função, vez que o empregado que é admitido para exercer a função de atendente de restaurante, depois é obrigado a executar serviços de faxina, simultaneamente.
Em Apreciação Prévia de fls. 28/29, de 20/03/2012, foi determinada a intimação da empresa para manifestação circunstanciada a respeito da denúncia.
Em resposta à requisição Ministerial, em 09/04/2012, fls. 32/45, a denunciada juntou aos autos cópia do contrato social, procuração, substabelecimento, bem como requereu dilação de prazo para cumprir integralmente a determinação deste “parquet”, o que foi deferido, no despacho de fls. 58, de 29/04/2012.
Em seguida, a empresa apresentou suas alegações pugnando pela improcedência da denúncia, com consequente arquivamento, sob o argumento que o “acúmulo de função” tem expressa previsão no contrato de trabalho, bem como vai ao encontro ao disposto nos artigos 2º, caput, e 456, parágrafo único, ambos da CLT.
A denunciada reforça seus argumentos afirmando que todas as atividades desempenhadas pelo atendente de restaurante são devidamente informadas ao trabalhar na ocasião de sua entrevista de admissão, além de constar expressamente do contrato de trabalho (fls. 60/61 e 64), bem como coleciona precedente de E. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, relatado pelo Juiz Sérgio J. B. Junqueira Machado, (in verbis):
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(...).
Posto isto, entendeu-se por bem intimar o Sindicato denunciante para manifestação a respeito da defesa ofertada pela empresa (fls. 67).
Em atenção ao reclamo deste Órgão Ministerial, o Sindicado manifestou-se nos autos às fls. 85/96, em 31/07/2012, contrapondo todos os fundamentos trazidos pela empresa, dizendo, entre outros argumentos, que as cláusulas constantes no contrato de trabalho são genéricas. Para corroborar seu entendimento colecionou julgamento proferido pela 82ªVara do Trabalho de São Paulo – Capital, da lavra do Juiz Titular Anísio de Souza Gomes, reconhecendo caso de acúmulo de função de empregado que exercia, concomitantemente, a função de ajudante de cozinha e auxiliar de limpeza (Processo n.º 00025.2010.082.02.00.3).
Ao final, o Sindicato requereu designação de audiência administrativa para oitiva das testemunhas elencadas às fls. 88.
Em vista disso, em despacho de fls. 91, de 06/08/2012, determinou-se intimar novamente a empresa para que tomasse ciência a respeito da manifestação do sindicato denunciante.
Posteriormente houve a conversão do feito em Inquérito Civil, com a expedição da competente Portaria n.º1311 de 10/09/2012 de fls. 101.
Em resposta a intimação expedida às fls. 107/111, de 26/09/2012, a empresa investigada veio aos autos rechaçando os fundamentos trazidos pelo Sindicado, no sentido que não há contradição alguma entre a descrição do cargo (fls. 64) e o previsto na cláusula contratual (fls. 60), pois este último sinaliza apenas as principais atribuições. Na ocasião, a empresa enfatizou seus fundamentos dizendo
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que está agindo dentro da legalidade, trazendo aos autos diversos precedentes do TRT da 2ª Região que afasta a ocorrência de acúmulo de função e suas consequentes diferenças salariais.
Às fls. 112/115 e 139/146 o sindicato denunciante juntou cópias de reportagens, onde a empresa denunciada foi citada por suposta violação em outros direitos trabalhistas não ventilados nestes autos.
Após devidamente intimado, em fls. 133/135, de 10/01/2013, o sindicato denunciante apresentou endereço completo das testemunhas indicadas às fls. 88, para oitiva em audiência administrativa.
Considerando que as testemunhas arroladas pelo sindicato denunciante residem na cidade de Guarulho, determinou-se às fls. 137 de 22/01/2013, oficiar a PTM de Guarulho para que, por meio de Carta Precatória, o depoimento das testemunhas fossem tomados.
E, nos autos da Carta Precatória autuada sob o n.º 000053.2013, de responsabilidade da Exma. Sra. Procuradora do Trabalho, Procuradoria do Trabalho no Município de Guarulho, Rosemary Fernandes Moreira, as testemunhas indicadas foram intimadas e seus depoimentos colhidos na audiência administrativa designada para tal fim.
No termo de audiência de fls. 44/45, de 02/04/2013 (CP 53.2013), onde compareceu a testemunha THABATA SANTANA DOMINGUES dentre outros esclarecimentos informou que: trabalhou na empresa de setembro/2008 a novembro/2009; que a vaga oferecida era de atendente de restaurante, que lhe foi informado na ocasião da entrevista que as atividades a serem desenvolvidas compreendiam atendimento ao balcão, limpeza (chão, cozinha, banheiro, etc.), cozinha (preparação de lanches, etc.); que lhe foram exigidas exatamente as tarefas que foram citadas na ocasião da entrevista; que nunca fez carga e descarga de mercadorias; etc.
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No termo de audiência de fls. 46/47, de 02/04/2013 (CP53.2013), onde compareceu a testemunha MONIELLE CRISTINA DE OLIVEIRA MELO esta esclareceu, entre outras coisas, que trabalhou na empresa de
outubro/2008 a setembro/2011; que na entrevista foi
esclarecido que a vaga oferecida era de atendente de restaurante e que abrangia atendimento ao balcão, cozinha e limpeza; que a atuação em várias áreas era comum a todos os empregados da loja, que chegou a fazer descarga de mercadorias até o restaurante, utilizando-se para tanto de um carrinho; que não se sentia prejudicada pela variedade de tarefas, pois esta era uma prática comum a todos os trabalhadores da empresa; etc.
No termo de audiência de fls. 48/49, de 02/04/2013 ( CP esclareceu, entre outras coisas, que trabalhou na empresa de julho/2008 a julho /2009); que a vaga oferecida era de atendente de balcão, mas em caso de necessidade, poderia ocorrer o deslocamento para ajudar na limpeza do salão ou na cozinha, que a depoente compreendeu que poderia até mesmo abranger a limpeza dos sanitários, ect.
No termo de audiência de fls. 50/51, de 02/04/2013 (CP 53.2013), onde compareceu a testemunha ANA PAULA DOS SANTOS, esclareceu, entre outras coisas, que trabalhou na empresa de agosto/2008 a abril/2012; que a vaga oferecida era de atendente de restaurante, que lhe foi informado na ocasião da entrevista que as atividades a serem desenvolvidas compreendiam atendimento ao balcão, limpeza (chão, cozinha, banheiro, etc), cozinha (preparação de lanches, etc.); que nunca fez carga e descarga de mercadorias; etc.
Já o termo de não comparecimento de fls. 52, de 02/04/2013 (CP 53.2013), atesta que, apesar de
regularmente intimada, a testemunha EDINEIA DA SILVA
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Relatório de Remessa da Carta Precatória de fls. 53 de 03/04/2013 à esta Regional.
Pois bem. Considerando todos os documentos acostados aos autos, especialmente os esclarecimentos obtidos em audiência administrativa apresentados pelas testemunhas, em especial às alegações comuns trazidas por elas, no sentido que sabiam no momento da entrevista de emprego as diversas atividades que teriam que desenvolver; Considerando que o contrato de trabalho prevê expressamente o acúmulo de função; Considerando que a jurisprudência do E. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região é uníssora no sentido de afastar o acúmulo de função do atendente de restaurante, vez que às atividades exercidas são compatíveis com aquelas para as quais foi contratado, S.M.J., entendo que não restou comprovado o objeto da denúncia, mais ainda levando-se em conta o disposto no artigo 456 da CLT, especialmente nos termos explicitados às fls. 60/61, 64 (IC 1426.2012) e 44/51 (CP 53.2013 anexa).
Posto isto, verifica-se que o caso vertente não legitima a atuação do Ministério Público do Trabalho na tutela de interesses coletivos, difusos, ou individuais homogêneos e a ensejar a propositura de ação civil pública, uma vez que a denunciada, ao contrário do alegado, mantém seus empregados registrados.
Aliás, a atuação do órgão ministerial, através do inquérito civil público ou qualquer outro procedimento, justifica-se tão somente como instrumento para a busca de elementos de convicção e prova suficientes ao eventual ajuizamento de uma ação civil pública, sempre que restar caracterizada uma lesão a interesses difusos ou coletivos, o que in casu não aconteceu.
Por tais fundamentos, promove-se o
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Após intimação acerca do arquivamento do
expediente, a denunciante apresentou recurso, conforme fls. 165/177, in
verbis:
“Destarte as informações prestadas pelos depoentes a ilustre Procuradora apegou-se apenas ao fato de que em alguns depoimentos, os trabalhadores no momento de sua contratação aceitaram os termos que eram exigidos pela denunciada e que mantém seus empregados registrados, ignorando a subtração dos direitos trabalhistas que ali estavam e continuam presentes, contrariando aos princípios norteadores da função do Ministério Público do Trabalho.
Salvo o melhor juízo, a atuação do parquet foi inócua, posto que não acrescentou nenhuma melhoria nas condições do trabalho em prol dos obreiros, mesmo restando evidente através dos testemunhos, diversas irregularidades e subtração dos direitos trabalhistas.
Contudo, as práticas desempenhadas pela empresa, apesar da suposta informação ao trabalhador e da previsão contratual, merece repulsa por esta autoridade ministerial. Em rápida analise por parte do parquet aos documentos anexados pela empresa, verifica-se demasiada contradição entre o firmado e o provado.
Nota-se distinta a descrição de cargo com aquilo constante no contrato de trabalho. Isto por si só, já demonstra atenção redobrada, consoante a inequívoca condição do contrato de ser de natureza adesiva, importante sem alguma dúvida, a contratação de menores sob a égide da cláusula contratual combatida, como no caso da obreira MONIQUE CRISTINA DE OLIVEIRA MELO.
Por outro lado, resta controverso dizer que, em hipótese alguma os menores não trabalhavam em situações de movimentação de carga ou descarga de produtos, sendo que o testemunho da obreira diz totalmente o contrário fls., 46/47 de 02/04/2013 (CP 53.2013).”