Carências no acesso a serviços e
informalidade nas favelas cariocas
Dialogando com as pesquisas recentes
Sergio Guimarães Ferreira
Maína Celidonio
• Distribuição e crescimento populacional • Políticas públicas em favelas
• Favelas e bairros formais
Convergências: Censo 2000 x Censo 2010 Diferenças intra cidade: Censo 2010
• Favelas e informalidade urbanística • Favelas e informalidade habitacional • Favelas e informalidade empresarial
Distribuição e crescimento populacional
Censo 2010
• 2.227 aglomerados classificados como subnormais de um total de 10.504 setores censitários
• 1,39 milhões de habitantes em setores subnormais de um total de 6,32 milhões de habitantes na cidade
• 22% da população mora em aglomerados subnormais
Áreas de Planejamento favela não favela total
Centro 98.058 198.342 296.400 Zona Sul 173.760 835.410 1.009.170 Zona Norte 630.217 1.769.931 2.400.148 Barra/Jacarepaguá 228.787 681.168 909.955 Zona Oeste 263.511 1.441.262 1.704.773 Total 1.394.333 4.926.113 6.320.446
Políticas Públicas em favelas
Conceito de favelas
• Tanto o IBGE, quanto o Plano Diretor de 1992, usam três critérios para definir favelas: carência de serviços públicos essenciais,
urbanização irregular e ocupação ilegal da terra
Favelas como foco de políticas públicas
• Primeira fase: políticas de remoção, acompanhadas de construção de bairros proletários
• Segunda fase: programas de melhorias urbanísticas no local, sem remoção
• Política de “reconhecimento” a partir de projetos de infraestrutura está correlacionada com um forte aumento do número de
habitantes em áreas de favela, e principalmente, com um aumento grande da fração de pessoas residindo em áreas de favela
Favelas e informalidade urbanística
• Favelas surgiram a partir de invasões de terrenos públicos ou privados, ou de áreas de proteção ambiental
• Prefeitura não reconhecia.
– Não fazia parte do mapa da cidade.
– Ainda hoje, logradouros não são reconhecidos, mesmo em áreas de especial interesse social.
• Abramo (2003), para a favela do Jacarezinho,
encontra que 85% dos estabelecimentos não têm CNPJ, 80% não tem licença estadual ou municipal. • No Jacarezinho, 54% dos estabelecimentos
declararam não ter despesas com água, luz, lixo, e esgoto, e 78% não tem despesas com quaisquer taxas.
• Abramo (2003) mostra que 76% revelam não terem investido jamais em ampliação do espaço físico,
desde o início; e 62% não ampliaram o volume de atividades desde o “start up”.
• Hipótese: Isso resulta da dificuldade de acesso ao mercado de crédito formal, e do custo do mercado de crédito informal.
• Esses dados são corroborados por outras pesquisas. Por exemplo, Abramo (2003) mostra que em um
censo no Jacarezinho, 47% dos empresários
entrevistados disseram que todos os seus clientes são da favela; e 30% disseram que mais de 80% dos clientes são da favela.
• Hipótese: Formalização como investimento
necessário para acessar mercados mais distantes e impessoais (crédito, fornecedores, clientes, etc).
• Ou seja, a grande maioria dos empresário não se formaliza, não investe em atração de clientela fora da favela, não acessa crédito.
• Esse padrão geral é compatível com negócios em que predomina relações pessoais, e onde a clientela é formada por moradores da própria favela, ou no máximo, do próprio bairro.
• A maior parte dos empresários está satisfeito com o tamanho do negócio, dado que 62% das pessoas
respondem acharem o desempenho do negócio
ótimo ou bom, e 37% dos entrevistados acharem-no regular, na média das favelas do PAC.
• Em VG/PL, respectivamente 74% e 21%.
Favelas e informalidade empresarial
• Na pesquisa do Jacarezinho, 72% dos entrevistados respondem que não lucrariam mais se estivessem no bairro, e não na favela (Abramo, 2003).
• Ou seja, a visão de que é a favela (entorno) é a informalidade a causa da baixa taxa de retorno dos empresários pode ser verdadeira, mas não
corresponde à percepção dos empresários
entrevistados.
• A decisão pela informalidade é perfeitamente racional.
Favelas e informalidade empresarial
• Literatura internacional recente: opção pela informalidade é racional, e resulta de baixo capital humano.
– Modelo de cidades circulares, Avinash Dixit (2007): + distância, mais impessoalidade.
– Estudo empírico do World Bank (Chris Woodruff and others, 2012): Sri Lanka => subsídio para empresas se formalizarem => a maioria não apresentou resultados significativos tempos depois.
Favelas e informalidade empresarial
• A restrição é de capital humano. Portanto, programas de treinamento?
Efeitos da Informalidade
• Essa rede de informalidade é um alimento
para a ilegalidade.
– Milícias exploram as franjas informais – fornecem a TV a cabo ilegal, exploram o transporte irregular.
Clusters de informalidade geram externalidades para o resto da cidade.
– Polícia e burocratas exploram as margens da lei, cobrando taxas de permissão: ameaça UPP.
Efeitos da Informalidade
• Invasão do Estado de Direito deve ser
completa.
– Regras de transição negociadas: POUSO e UPP Social podem intermediar pactos.
– Legislação flexível: AEIS, Lei do Empreendedor Individual.
– Ser legal é contribuir para um bem público – deve ser subsidiado, mas deve ser coercitivo.