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Introdução à Ciência Geográfica D I S C I P L I N A. Geografia ratzeliana e seu contexto. Autores. Aldo Dantas. Tásia Hortêncio de Lima Medeiros.

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Aldo Dantas

Tásia Hortêncio de Lima Medeiros

Introdução à Ciência Geográfica

D I S C I P L I N A

Geografia ratzeliana e seu contexto

Autores

aula

(2)

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky Projeto Gráfico Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN) Revisora das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva (UFRN) Revisoras de Língua Portuguesa Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico Leonardo Chagas da Silva (UFRN) Revisora Tipográfica Nouraide Queiroz (UFRN) Ilustradora Carolina Costa (UFRN) Editoração de Imagens Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN) Diagramadores Bruno de Souza Melo (UFRN) Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

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2

Apresentação

F

riedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental importância para o processo de sistematização da Geografia moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projeto teórico, com forte caráter interdisciplinar, teve a preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra; as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; a influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as formações territoriais e, intimamente vinculada a estas, a dimensão política da relação homem-natureza.

Objetivos

Entender em que contexto histórico se desenvolve o pensamento ratzeliano.

Compreender a dimensão determinista da obra de Ratzel para a sistematização da Geografia.

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Contexto histórico

A

pós o falecimento, em 1859, dos dois principais pioneiros da Geografia moderna, Ritter e Humboldt, o desenvolvimento dos estudos geográficos acelerou-se, uma vez que esses dois estudiosos colocaram, por assim dizer, a pedra fundamental para a construção e evolução da Geografia como ciência. A seguir, estudaremos três aspectos gerais do desenvolvimento dessa ciência: o contexto político-econômico; a Geografia como ciência; e o ensino da Geografia.

Contexto político-econômico

Com o processo de expansão colonial, os conflitos entre populações nativas e o elemento europeu são cada vez mais intensos e demandam intervenções. O domínio político aparece como garantia de abertura real dos espaços ao comércio mundial e impõe o respeito aos interesses ocidentais.

A independência da América espanhola e portuguesa reduz fortemente o domínio ocidental sobre o mundo no século XIX. É nesse momento que surge o que os historiadores chamam de novo imperialismo (diferente do colonialismo de povoamento e comércio que floresceu entre os séculos XVI e XVIII) e que foi o resultado direto da industrialização. Com isso, intensificam-se a atividade e a competição econômica, os europeus disputam matérias-primas, mercados para seus produtos manufaturados e lugares onde investir seu capital. Para tanto, os políticos e industriais vão entender que somente garantirão as suas necessidades econômicas e de suas nações através da aquisição de territórios ultramarinos. Mil oitocentos e sessenta é um ano que marca um novo avanço ultramarino dos europeus, não mais apenas sob a égide de Portugal e Espanha.

Percebemos que no século XIX progride rapidamente a constituição de um espaço econômico mundial influenciado pelo desenvolvimento da navegação a vapor, o que provoca uma reviravolta na relação dos homens com as distâncias.

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A construção do Canal de Suez – ligando o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho –, terminada em 1869, promove a aproximação entre a Europa, a Ásia Meridional e Oriental e a Austrália; as estradas de ferro já haviam alterado o ordenamento espacial da Europa; a primeira estrada de ferro transcontinental é inaugurada nos Estados Unidos em 1866. Como já estudamos, a integração dos espaços continentais, após os oceânicos, intensificam-se no século XIX e integram esses espaços às relações internacionais: as imensidões interiores da Ásia e da África são finalmente integradas às redes mundiais de troca.

Em 1860, somente a Grã-Bretanha e os Países Baixos dispunham de verdadeiros impérios colônias. Entretanto, no espaço de uma geração, França, Portugal, Bélgica e Espanha dotam-se de colônias mais ou menos extensas. Por volta de 1900, o movimento se alastra para outros países, como é o caso da Itália e Alemanha que procuram aumentar o seu império ainda modesto. Um novo ator entra em cena, os Estados Unidos, e retira da Espanha as suas possessões no Pacífico e nas Antilhas, o Japão começa sua expansão sobre Coréia e China; e a Rússia anexa-se à Ásia Central.

A Geografia como ciência

Essas alterações provocam um re-ordenamento e uma necessidade cada vez maior da formalização dos saberes geográficos. Veja que, inicialmente, as práticas comerciais demandam conhecimento apenas das redes de portos, que permanecem em certa estabilidade, relacionadas às áreas produtivas e aos mercados que encontravam de modo geral, próximos ao litoral. As novas possibilidades de troca exigem outras formas de organização. É nesse contexto que vamos assistir à substituição das casas de comércio familiares por grandes firmas de exportação e importação que demandam cada vez mais conhecimentos ligados à Geografia para a formação de seus agentes deslocados para regiões remotas. É aí que as sociedades de Geografia comercial, marítima e colonial se multiplicam e dão respostas a essas necessidades.

A História e a Geografia que eram as ciências que vinham abordando os fatos humanos deixam de ser exclusivas nesse aspecto à medida que a Sociologia, a Etnologia, a Antropologia e as Ciências Políticas vão surgindo. É o período também de desenvolvimento da economia política.

Com o aparecimento de outras ciências no campo dos estudos humanos e sociais os geógrafos são confrontados com o problema da delimitação face aos novos campos científicos, os quais evidentemente não ignoram a dimensão espacial dos seus domínios.

Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publica o que seria o seu mais importante livro,

Origem das Espécies. Tal fato tem significado particular para a Geografia. A idéia de que os

seres vivos evoluem já estava formulada desde meados do século XVIII e início do século XIX. Lamarck (1744-1829) será o primeiro a fazer uma sistematização dessa idéia concluindo que o organismo se adapta ao meio onde está inserido e acaba por se modificar.

É durante a viagem de circum-navegação que realiza entre 1831 e 1836 a bordo do famoso Beagle que Charles Darwin formula a sua teoria. Darwin se depara, nas ilhas

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Galápagos com uma flora e fauna muito ricas e que não se assemelham às dos espaços continentais próximos. Para ele, essas diferenças explicam-se por meio da diferenciação no lugar e a partir de uma origem comum longínqua, e o único fator que pode explicar as diferenças das formas encontra-se no meio.

O evolucionismo darwinista leva à Geografia uma tarefa fundamental: a de identificar a diferenciação das formas vivas. Lembre-se de que a idéia de que a Geografia deve ter vocação explicativa e analisar os fenômenos em diversas escalas vem desde as obras de Humboldt e Ritter. A explicação geográfica estaria na relação entre os fenômenos locais, regionais e gerais e na relação do homem com o meio: o darwinismo é uma apelação ao desenvolvimento de uma ciência das relações dos seres vivos com o ambiente.

Um outro nome que vai influenciar os estudos da Geografia nesse período (e continua a influenciar ainda hoje vários ramos da ciência) é o do biólogo alemão Ernest Haeckel (1834-1919) que propõe em 1866, em seu livro Morfologia Geral dos Organismos, o termo ecologia para designar o novo campo de estudo: aquele que investigará as relações dos seres vivos com o ambiente.

O ensino de Geografia

O interesse por conhecimentos geográficos úteis à vida comercial internacional nunca havia sido tão grande como nas últimas três décadas do século XIX. Nesse mesmo período, a engenharia política dos estados europeus apontava em direção aos nacionalismos e essa tarefa recai, entre outros, sobre o ensino da Geografia na escola elementar, que teria a função de dar aos cidadãos uma consciência clara sobre o espaço em que se desenvolve a sua existência. Por outro lado, as elites tinham a necessidade de um bom conhecimento dos mapas e das rotas do comércio.

Na França, por exemplo, após a derrota de 1870 (derrota da França frente à Prússia), é confiado a Emile Levasseur um estudo (Relatório Levasseur) sobre as causas da inferioridade dos oficiais franceses frente aos prussianos. Esse relatório conclui que a inferioridade francesa recai no baixo nível dos oficias quanto ao conhecimento das línguas e da Geografia. O relatório recomenda que seja feita uma reforma do ensino, particularmente do ensino de Geografia. O essencial das recomendações desse relatório está presente, ainda hoje, nos programas do ensino primário e secundário da França (nas próximas aulas vocês estudarão como se deu o desenvolvimento da Geografia na França).

Nos outros países da Europa Ocidental ocorre o mesmo com o ensino da Geografia, pouco tempo antes na Alemanha e um pouco mais tarde na Inglaterra.

Como estamos vendo, em todo o nosso curso, o contexto intelectual no qual se desenvolve a Geografia modifica-se par e passo com as mudanças econômicas, políticas e culturais. E você deve estar lembrado que à medida que o Capitalismo se desenvolve exige mais racionalidade e respostas da ciência; é a fé na ciência e no progresso. Esse cientificismo que vai se firmando tem também a ambição de abarcar as realidades sociais tal como fez anteriormente com as realidades do mundo físico e biológico.

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Ratzel e a Antropogeografia

A

o longo do século XIX, a Geografia vai se desenvolver mais rapidamente na Alemanha do que na Grã-Bretanha. Nesta, a Geografia permanece vinculada aos modelos do século XVIII, no qual se privilegia a exploração das pesquisas históricas em detrimento do estudo das relações que estabelecem entre os grupos humanos e os meios em que vivem. Dessa forma, o impacto do evolucionismo de Darwin foi mais direto na Alemanha que em sua pátria.

Friedrich Ratzel (1844-1904) é filho de uma modesta família do Sudoeste da Alemanha. Na universidade, estuda Zoologia. Tem contato com o darwinismo através de Moritz Wagner que introduziu as teses do cientista inglês na Alemanha e se distingue pelo papel que dava às migrações para explicar a diferenciação das espécies. A primeira obra de Ratzel (Essência e

Destino do Mundo orgânico, 1869) é inspirada nesse mestre.

Ratzel participa ativamente, como militar, da guerra de 1870 contra a França e em seguida a sua carreira toma novos rumos, mas sua ligação com a política e com a conquista de território continua através das análises científicas que irá fazer criando mesmo um novo ramo da Geografia, a Geopolítica.

Depois da guerra, Ratzel parte para os Estados Unidos, como jornalista, onde passa vários anos. Nesse período, visita também o México. De volta à Alemanha, defende uma tese sobre a imigração chinesa na Califórnia.

Ao doutor Ratzel é designada, em 1876, uma cátedra de Geografia na Universidade de Munique. Em 1886, ele troca essa universidade pela Universidade de Leipzig, considerada de maior prestígio.

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A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das formulações de Humboldt e Ritter, autores que estudou detidamente. Mas essa concepção é estruturada também sob forte influência de Darwin.

Ratzel procura estabelecer leis gerais que rejam a influência do meio sobre os grupos humanos, dedicando-se ao estudo das relações que se desenvolvem entre as sociedades e o ambiente em que vivem, mas introduz uma outra idéia: o movimento é uma das características centrais do mundo vivo, em especial do homem. Essa idéia leva-o a interessar-se pelos fenômenos de circulação que as sociedades desenvolvem de um ponto da Terra a outro.

Veja no texto a seguir o que diz Antônio Carlos Robert de Moraes sobre a importância da obra de Ratzel.

A obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização da geografia moderna. Ela contém a primeira proposta explícita de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos. Foi, assim, de sua autoria uma das pioneiras formulações – sem dúvida a mais trabalhada – de uma geografia do homem. A importância de sua obra também emerge por ela ter sido uma das originárias manifestações do positivismo nesse campo do conhecimento científico. Ratzel foi um dos introdutores desse método – que posteriormente se assentou como dominante – no âmbito do pensamento geográfico. O significado de sua produção para o desenvolvimento da geografia pode ainda ser apontado no fato de ele ter aclarado aquela que viria a ser a principal via de indagação dos geógrafos, ou seja, a questão da relação entre a sociedade e as condições ambientais (MORAES, 1990, p. 7).

Ratzel dividiu a Geografia em três grandes ramos: Geografia Física, Biogeografia e a Antropogeografia. Vai dedicar seus estudos fundamentalmente a esta última.

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A Antropogeografia

P

ara Ratzel, a Antropogeografia seria dedicada a três questões básicas. A mais fundamental seria aquela voltada para a indagação da influência que as condições naturais exercem sobre os homens, sobre a sociedade e sobre a história. Para ele, a diversidade das condições naturais deveria também ser considerada na explicação para a diversidade dos povos

pois o substrato da humanidade seria a Terra, onde as sociedades se desenvolvem em íntimo relacionamento com os elementos naturais. O estudo da ação de tais elementos sobre a evolução das sociedades seria o objeto primordial da pesquisa antropogeográfica. (MORAES, 1990, p. 9).

A segunda questão colocada por Ratzel para os estudos da Antropogeografia é relativa à circulação e distribuição das sociedades humanas. Para ele, a localização dos grupos humanos estaria relacionada à mobilidade de seu passado, assim sendo, os estudos antropogeográficos deveriam se interessar em levantar dados sobre as áreas de origem de cada povo e os seus itinerários. Esse procedimento de pesquisa deveria fornecer elementos para se entender os condicionantes pretéritos, os quais migrariam com os povos.

A terceira questão de interesse da Antropogeografia deveria ser o estudo da formação dos territórios.

Além de ser o fundador da moderna Geografia humana, ao introduzir esta terceira questão, Ratzel será também o primeiro geógrafo a trazer para essa ciência a discussão sobre os elementos políticos na relação entre o homem e a natureza, tratados anteriormente apenas sob o ponto de vista técnico e econômico. Para ele, há na relação homem-natureza uma dimensão política essencial que se expressa e se materializa na propriedade e no Estado.

Positivismo e Determinismo

na obra de Ratzel

V

ocê já deve ter lido ou ouvido alguém fazer relação entre o nome de Ratzel e o Determinismo geográfico e/ou contrapondo este ao possibilismo de Vidal de la Blache (assunto que estudaremos na próxima aula). Iremos, então, tentar entender o que é o Determinismo e qual a ligação deste com a obra de Ratzel.

Como já vimos nas aulas 5 (Os tempos modernos), 6 (Espaço e modernidade), 7 (A institucionalização da Geografia) e 8 (A Geografia de Humboldt e Ritter), o período de transição da Idade Média para a Moderna e a conseqüente consolidação do Capitalismo foi um período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas, espaciais, culturais

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e também de grandes mudanças nas ciências e nas formas de pensar o mundo. Vimos ainda que as formas de pensar o mundo, originárias desse período, têm forte relação com o desenvolvimento das Ciências Naturais, principalmente a partir dos estudos de Física de Newton. Para este, o conhecimento deveria ser o resultado da observação, do cálculo e da comparação dos resultados, de modo a permitir a elaboração de leis.

Essa idéia de que a ciência deveria ser positiva se espalhou para todos os ramos das ciências, inclusive das chamadas ciências humanas e sociais, entre elas a Geografia.

Mas, é somente em meados do século XIX que surge o Positivismo. Embasado nas elaborações de Auguste Comte (1791-1857), o Positivismo fundamenta-se no palpável, no que é passível de comparação e de experimentação. Na concepção positivista, para se alcançar o conhecimento, a observação é imprescindível.

O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo, principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais. O Determinismo considerava o homem com um produto do meio, logo, deveria adaptar-se ao meio ambiente para que pudesse sobreviver. Para seus defensores, as condições naturais, especialmente a climática, determinam o comportamento do homem, interferindo inclusive na sua capacidade de progredir. Assim sendo, em áreas climáticas mais propícias (as zonas climáticas temperadas) floresceriam povos mais desenvolvidos. Tais idéias foram adotadas por alguns estudiosos da Geografia, e fora dela, que viam nelas a possibilidade de explicar a sociedade através de mecanismos que ocorrem na natureza.

É comum, nos manuais e nas obras de vulgarização e/ou divulgação, a associação do nome e da obra de Ratzel ao Determinismo geográfico. Como podemos ver nos trechos que se seguem.

“Na geografia, no entanto, as idéias deterministas tiveram no geógrafo alemão Frederic Ratzel seu grande organizador e divulgador, ainda que ele não tivesse sido o expoente máximo” (CORRÊA, 1991, p. 9).

“Assim, dirá Ratzel, o homem, em todos os seus planos de existência, tanto mental como civilizatória, é o que determina seu meio natural (teoria do determinismo geográfico)” (MOREIRA, 1989, p. 32).

“A visão positivista de causalidade introduz um empobrecimento na formulação ratzeliana que anula sua rica e complexa proposta de objeto. No equacionamento da problemática das influências, frente à normatização mecanicista, as condições naturais passam a ser vistas como lócus da determinação, como elemento de causação a partir do qual a história humana se movimenta. A sociedade passa a ser vista como elemento passivo, que apenas reage a uma causalidade que lhe é exterior. O homem torna-se, assim, efeito do ambiente” (MORAES, 1990, p.13).

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No entanto, hoje, existem vozes destoantes da idéia de que Ratzel possa ser vinculado, de forma tão simplista e grosseira a um Positivismo cego e a um Determinismo absoluto.

Veja o texto a seguir.

Será que podem ser feitas afirmações tão peremptórias a respeito de Ratzel? Afinal de contas, fala-se de um intelectual que, ao deparar-se com o problema das condições geográficas e das conseqüências etnográficas das migrações, constata: “Não podemos fugir das influências precisas de nosso ambiente, principalmente das que atuam em nossos corpos; lembro as que se referem ao clima e à oferta de alimentos. É sabido que também o espírito encontra-se sob influência dos caracteres gerais do cenário que nos cerca. Mas, por outro lado, o grau que essa influência desempenha vai depender, em grande medida, da força da vontade que a ela resista. Podemos nos defender dela, contanto que o queiramos. Um rio que, para um povo preguiçoso, constitui um limite para um povo decidido pode não ser uma barreira [...] não há coação nem nenhuma lei inflexível, mas sim amplos limites, dentro dos quais o homem consegue impor a sua vontade e até mesmo seu despotismo. E é isto precisamente que tanto dificulta todos os estudos sobre a relação entre história e ambiente natural, a ponto de podermos falar apenas de gerais especificadas. Pois há um fator nessa relação, nessa ligação, que não é precisamente calculável para cada caso isolado, porque é livre; trata-se da vontade humana” (RATZEL, 1906, p. 36). Citou-se apenas um exemplo, mas que deixa vislumbrar a acuidade de Ratzel ao elaborar o problema, evitando as simplificações grosseiras que a memória de geografia imputou-lhe. Como se vê, a sociedade, para Ratzel, não é um elemento passivo. Dependendo das características de cada povo, a relação homem-meio vai se dar de modo diferente; há casos em que o meio é realmente determinante, mas há também casos em que o homem enfrenta e domina as dificuldades que o meio lhe impõe, superando-as. Ratzel está preocupado em entender os diversos casos, mas sabe da impossibilidade de se estabelecerem leis gerais quando é o homem o objeto de interesse do conhecimento (MARTINS, 1992, p. 109).

Preste atenção também neste pequeno trecho de Las razas humanas, do próprio Ratzel.

Quando um investigador, completamente encharcado pela teoria evolucionista, encontra algum povo que, sob algumas ou muitas circunstâncias, se acha “atrás” de seus semelhantes, converte involuntariamente este “atrás” e, “abaixo”, quer dizer em um degrau inferior da escada pela qual a humanidade subiu desde o estado primitivo até o cume da civilização.

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Atividade 1



2

sua resposta

.

2.

Agora, desenvolva as questões seguintes.

“Parece que o Determinismo é algo intrínseco à discussão geográfica”. Escreva algumas linhas argumentando a favor ou contra essa afirmativa. Depois do exposto na aula, qual a sua avaliação sobre o Determinismo na obra de Ratzel?

Releia esta aula e preste atenção aos elementos que envolvem a discussão sobre o Determinismo geográfico; observe também o pequeno trecho que segue:

“Nós escrevemos no começo deste artigo que o determinismo estava no coração da geografia. Estaríamos tentados agora em dizer que não pode haver geografia sem determinismo e que isso deve estar presente constantemente no espírito do geógrafo” (PINCHEMEL; PINCHEMEL, 1997, p. 225).

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Leituras complementares

CARVALHO, Marcos Bernardino de. Geografia e complexidade. In: SILVA, Aldo; GALENO, Alex (Org.). Geografia ciência do complexus. Porto Alegre: Sulina, 2004.

Coletânea de textos inspirados no pensamento complexo de Edgard Morin e na idéia de transdisciplinaridade, na qual a Geografia é o centro propulsor. O texto de Carvalho faz uma análise profunda da obra de Ratzel e nos coloca frente a frente com disputas disciplinares ocorridas no final do século XIX e começo do XX, o que, segundo ele, é um dos elementos explicativos para o preconceito que se deu com relação à obra de Ratzel. É também desse período a pecha, imposta ao criador da Antropogeografia, de determinista. O autor defende a tese de que, ao contrário de determinista, Ratzel inaugura uma forma não disjuntiva de pensar o mundo. Encontraremos ainda nesta coletânea textos sobre Vidal de la Blache, sobre Geografia e fenomenologia, Geografia e poesia, Geografia e religião, Geografia e literatura, Geografia e cinema.

CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.

Neste livro, o autor discute dois conceitos fundamentais para a Geografia: região e organização espacial. Ele o faz trazendo à tona a história da Geografia e as correntes de pensamento que influenciaram esta ciência. No capítulo 2, faz uma boa discussão sobre a idéia de determinismo geográfico. Livro de leitura introdutória e obrigatória para o estudante de Geografia, pois além de trazer elementos para se compreender a história dela discute o conceito de região a partir dessa história e introduz de maneira clara a idéia de organização espacial, conceito fundamental para se entender a Geografia dos dias atuais.

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Resumo

MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de uma geografia. Revista

Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p. 105-113, jul./set. 1992.

Esse texto focaliza a obra de Ratzel a partir da uma reflexão crítica e faz uma revisão do lugar que sua obra ocupa na memória da Geografia. Analisa a abrangência de temas estudados por Ratzel e mostra quão redutoras são as leituras daqueles que relacionam de forma simplista a obra desse pensador ao Determinismo geográfico e às estratégias expansionistas da Alemanha.

Auto-avaliação

Leia o fragmento a seguir com bastante atenção e em seguida relacione-o arelacione-o crelacione-ontextrelacione-o em que se desenvrelacione-olveu a relacione-obra de Ratzel e a discussãrelacione-o srelacione-obre o Determinismo. Após isso, elabore um pequeno texto colocando no centro da discussão a seguinte idéia: Ratzel – pensador determinista. Você deverá entender que existe uma relação entre realidade histórica social e intelectual e a originalidade de cada pensador. No caso de Ratzel, ele é fruto de uma realidade histórica (séculos XIV-XVIII), cultural e científico. Do ponto de vista histórico, Ratzel assiste à consolidação do capitalismo e um novo momento de expansão colonial econômica, além da formação dos impérios. Do ponto de vista científico, é herdeiro de Humboldt e Ritter e de toda a tradição geográfica. Vai sofrer a influência do evolucionismo de Darwin e do surgimento das ciências sociais.

A aula contextualiza o período em que Ratzel, fundador da moderna Geografia humana, vive, assim como a influência que sofreu do desenvolvimento das ciências naturais, principalmente aquelas oriundas do evolucionismo darwinista. Discute as relações entre as elaborações ratzelianas e o positivismo, bem como a pecha de que seria ele o maior representante e elaborador do Determinismo geográfico. Mostra ainda que não se pode de forma simplista acusar esse pensador de se utilizar de um Determinismo absoluto.

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Os geógrafos não se contentam em estabelecer relações entre as condições naturais e os fatos geográficos tal como o habitat. Eles procuram as influências dos meios sobre as sociedades, seus comportamentos, seus caracteres, seus níveis de desenvolvimento. Seguindo uma cadeia causal linear e em curto-circuito com os relés intermediários, alguns geógrafos exprimiram condensações deterministas confinadas ao absurdo: como a relação entre os climas temperados e a densidade de telefones ou o clima quente e o grande número de filhos de uma família.

A sólida formação histórica dos geógrafos franceses e seu espírito de observação evitaram, na maior parte dos casos, a armadilha do Determinismo excessivo e trouxe uma posição mais amena.

Paul Vidal de la Blache já havia assinalado as contingências das relações homem-natureza. Seu mérito foi o de mostrar que não há Determinismo absoluto, mas que a iniciativa fica com as sociedades humanas. Vidal insiste sobre as múltiplas possibilidades de repostas dos homens às condições impostas pelo meio. Esta insistência fez Lucien Febvre (historiador) considerá-lo o teórico do Possibilismo.

O debate sobre o Determinismo e o Possibilismo fez a Geografia perder sua unidade. Ele provocou a dicotomia Geografia física/ Geografia humana. Cada um destes ramos se especializou num campo científico diferente: ciências naturais e físico-química para a Geografia física e ciências sociais e econômicas para a Geografia humana. Esta partição apenas reforçou as análises setoriais dos estudos geográficos (PINCHEMEL; PINCHEMEL, 1997, p. 25-26).

Referências

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.

MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de uma geografia. Revista

Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p. 105-113, jul./set. 1992.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

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Anotações

______. Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. (Coleção Grandes Cientistas Sociais). MOREIRA, Ruy. O que é geografia. São Paulo: Brasiliense,1989.

PINCHEMEL, Philippe; PINCHEMEL, Geneviève. La face de la Terre. Paris: Armand Colin, 1997.

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Ementa

n Aldo Dantas

n Tásia Hortêncio de Lima Medeiros

A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do pensamento geográfico. A relação sociedade/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu reflexo no ensino. A geografia brasileira. Atividades práticas voltadas para a aplicação no ensino.

Introdução à Ciência Geográfica

– GEOGRAFIA

Autores

Aulas º Semestre de 200  Impresso por: T exform Gráfica 01 O saber geográfico 02 A ação humana 03 A Geografia na Antiguidade

04 A Geografia na Idade Média

05 Os tempos modernos

06 Espaço e modernidade

07 A institucionalização da Geografia

08 A Geografia de Humboldt e Ritter

09 A Geografia ratzeliana e seu contexto 10 A Geografia vidaliana e o seu contexto

11 A abordagem regional vidaliana

12 Os movimentos de renovação

13 A institucionalização da Geografia no Brasil

14 O nascimento da Geografia científica no Brasil

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Referências

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