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A DIDÁTICA GERAL COMO DISCIPLINA ESCOLAR: ANÁLISE A PARTIR DE MANUAIS DIDÁTICOS

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Academic year: 2021

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PARTIR DE MANUAIS DIDÁTICOS

GARCIA, Tânia Maria F. Braga – NPPD/PPGE - UFPR taniabraga@pq.cnpq.br HEGETO, Leia de Cássia – NPPD/PPGE - UFPR leiahegeto@hotmail.com Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: CNPq e Bolsa REUNI

Resumo

A pesquisa tem como objetivo compreender elementos constitutivos da Didática Geral, enquanto uma disciplina para a formação de professores, a partir de manuais de didática publicados no Brasil. Para tanto, toma-se como ponto de partida o conjunto de produções científicas já realizadas no campo, as quais incidem sobre a Didática Geral como área de estudo e como disciplina escolar. A pesquisa é parte de um projeto mais amplo - “Ensinar a Ensinar: manuais destinados à formação de professores no Brasil” - cujo objetivo é analisar formas de ensinar nas escolas brasileiras, em diferentes tempos e disciplinas escolares. As pesquisas na área indicam que os estudos sobre os livros destinados aos professores vêm ganhando cada vez mais espaço e permitem análises sobre os processos de profissionalização docente com diferentes abordagens. Esses manuais contribuíram e contribuem para a formação de professores e constituem-se em fontes importantes de pesquisa nos estudos em torno do processo de ensino e aprendizagem, dos conteúdos e metodologias de ensino. Mas também se constituem em objeto da cultura escolar que materializa, em parte, os processos de constituição do código disciplinar das disciplinas escolares que compõem os currículos de formação docente, aspecto privilegiado por esta pesquisa. A partir da organização de uma base de dados e de um acervo físico, o estudo se propõe a desenvolver análises sobre a Didática Geral como disciplina escolar, apreendendo elementos de permanência e ruptura nos processos de constituição da disciplina no país a partir dos manuais. Neste texto, destacam-se os resultados de estudo bibliográfico realizado com o objetivo de identificar obras de Didática Geral e sobre a Didática Geral, publicadas a partir de 1990.

Palavras-chave: Didática. Manuais didáticos. Formação de professores.

Introdução

A pesquisa que originou este texto insere-se no “Projeto Ensinar a Ensinar: manuais destinados à formação de professores”, coordenado pelo Núcleo de Pesquisas em Publicações

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Didáticas (NPPD/UFPR) e tem como objetivo estudar a Didática como disciplina escolar, a partir da leitura e análise de manuais didáticos publicados no Brasil para o ensino dessa disciplina, desde o início do século XX.

Nesse sentido, destina-se a ampliar os estudos sobre os manuais de Didática Geral, a partir de abordagens específicas que, segundo Garcia (2006), contribuem para entender como esses manuais expressam elementos constitutivos do código disciplinar e, em decorrência, para rever o entendimento do papel que a disciplina Didática cumpre e tem cumprido na formação de professores, em especial para as séries iniciais. Segundo a autora, o interesse dos pesquisadores sobre esse tipo particular de manual, embora significativa, ainda é restrita no caso brasileiro1. Destacam-se os estudos sobre a leitura de professores e as coleções destinadas a professores, sobre os manuais destinados a professores em algumas disciplinas específicas como a Didática da História e a Didática Geral, ou ainda sobre a história dos manuais brasileiros.

Segundo Guereña, Ossenbach e Pozo (2005), o estudo sistemático dos manuais usados em instituições de formação de professores, embora incipiente na Iberoamérica, vem ganhando espaço e sua relevância está justificada na possibilidade de ampliar a compreensão sobre os processos de profissionalização dos professores ao longo do tempo.

De certa forma, pode-se dizer que o crescimento do interesse por esse tipo de manual insere-se em um processo mais amplo de valorização dos manuais escolares. A esse respeito Choppin (2004) afirma que “os livros didáticos vêm suscitando um vivo interesse entre os pesquisadores de uns trinta anos para cá”, evidenciando a expansão de um campo de investigação específico e bastante “complexo” (CHOPPIN, 2004, p.552).

Considerando-se que a análise desses manuais evidencia como determinados modos de ensinar se constituíram e consolidaram ao longo do século, Bufrem, Schmidt e Garcia (2006) apontam a necessidade de organizar acervos e de desenvolver pesquisas que buscam relações entre a temática dos livros didáticos e a formação de professores. As autoras indicam, portanto a importância de que eles sejam tomados como objetos de investigação e como material empírico.

1 O interesse pode ser entendido, aqui, na perspectiva de Pierre Bourdieu, para quem “A hierarquia dos domínios

e dos objetos orienta os investimentos intelectuais pela mediação da estrutura das oportunidades (médias) de lucro material e simbólico que ela contribui para definir”. (1998, p. 36).

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Revisão bibliográfica sobre o tema permitiu identificar lacunas nas pesquisas sobre manuais para professores, percebidas quando se aprofundam os estudos acerca das principais linhas de investigação desenvolvidas em diferentes países, com diferentes abordagens e finalidades, como destacado por Fernández Reiris (2005) e Garcia (2009). Portanto, optou-se por uma pesquisa para identificar e analisar manuais de Didática Geral com vistas a aprofundar os conhecimentos sobre essa disciplina escolar, contribuindo para ampliar as abordagens já existentes sobre o tema (CANDAU, 1984; CASTRO, 1991; OLIVEIRA, 1992, entre outros).

Procurar-se-á verificar nesses manuais não apenas a abrangência e variedade de temáticas que tem se tornado objeto de estudo na Didática, mas também a permanência de temas desde os primeiros manuais escritos na década de 1930. Contudo, para, além disso, a intenção é buscar novos elementos para compreender significados da inserção da Didática como disciplina escolar na formação de professores, trabalho que já vem sendo realizado desde 2003 pelo NPPD.

Tratando-se de uma das disciplinas “clássicas” dos currículos, ao lado da História da Educação e da Psicologia da Educação, por exemplo, a problemática em que se insere a pesquisa se justifica diante dos debates atuais sobre a formação docente nas licenciaturas e nos cursos de Pedagogia; em especial, torna-se relevante quando se constata a defesa e a presença de propostas curriculares que excluem a Didática Geral do conjunto de disciplinas oferecidas aos professores em formação.

Para este trabalho, optou-se por apresentar resultados de estudo no qual foram catalogados livros e artigos sobre a Didática Geral em circulação, escritos nas duas últimas décadas, com a intenção de localizar e identificar os manuais destinados especificamente ao ensino da Didática. Inicialmente, serão apresentados alguns elementos constitutivos do campo teórico em que a pesquisa está inserida; em seguida, serão apresentados os resultados do estudo realizado e as análises decorrentes do material empírico localizado. Ao final, as considerações apontam tendências e possibilidades na continuidade dos estudos.

A Didática como campo de conhecimento e como disciplina escolar: localizando o campo teórico em que se insere o estudo

O termo Didática é conhecido, como adjetivo, desde a Grécia antiga, “indicando que o objeto ou ação qualificada dizia respeito ao ensino.” (CASTRO, 1991, p. 15). Enquanto

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campo de estudo, a Didática tem seu surgimento a partir do século XVII, em países nos quais ocorria a Reforma Protestante e, portanto, com a missão de transformar não apenas a escola, mas a Humanidade, como destacado por Castro (1991, p. 16):

A inauguração de um campo de estudos com esse nome tem uma característica que vai ser reencontrada na vida histórica da Didática: surge de uma crise e constitui um marco revolucionário e doutrinário no campo da Educação. Da nova disciplina espera-se reformas da Humanidade, já que deveria orientar educadores e destes, por sua vez, dependeria a formação das novas gerações.

A preocupação dos primeiros autores - como Comênio em sua obra Didáctica Magna (1976) – era a proposição de um método, sustentado pelo princípio de “ensinar tudo a todos”, pautado por um forte ideal ético-religioso que acabou por influenciar por um longo período a trajetória da Didática, inclusive no Brasil. A tentativa dos primeiros autores, ainda segundo Castro (1991) é sistematizar conhecimentos pedagógicos colocando-os em um patamar diferente das práticas realizadas meramente por costume.

Na Europa ocidental católica, segundo Castro (1991), pensadores como Montaigne também haviam discutido a necessidade de mudanças nos procedimentos educacionais, mas sem dar a eles um lugar específico, como haviam feito os primeiros.

Segundo a mesma autora, Rousseau será o responsável pela “segunda grande revolução didática” uma vez que sua obra dá origem a um novo conceito de infância: “Sob certos aspectos ele aparece como continuador das ideias dos didatas, mas dá um passo além de suas doutrinas quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o método num procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros.” (CASTRO, 1991, p. 17).

Não se tem a pretensão, aqui, de refazer o percurso de construção do campo, mas apenas chamar a atenção para a problemática posta de forma precisa por Castro (1991) quanto ao objeto desse campo: a oscilação, ao longo do tempo, entre a ênfase no método de ensino e o sujeito ao interpretar a relação didática. As dificuldades enfrentadas pela Didática, segundo a autora, têm relação com “uma confusão” entre a disciplina e o que se conhece a respeito do seu campo: “uma disciplina, campo de estudos, ciência ou arte, não pode se confundida com os conhecimentos que se constituem o seu conteúdo próprio”. (CASTRO, 1991, p. 22).

Esta é a questão teórica que se deseja aprofundar, por meio de estudos empíricos sobre os manuais de Didática Geral que foram publicados no Brasil ao longo do século XX e na primeira década deste século. É a partir deles que se deseja explicitar novos elementos que

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contribuam para entender o percurso histórico da disciplina e, como conseqüência, contribuir para reposicioná-la no conjunto de conhecimentos imprescindíveis à formação dos professores, enfrentando o debate sugerido por Castro quanto à identidade da disciplina.

Correia (2000), ao se referir aos livros usados pelas normalistas nos antigos cursos normais defende que os manuais didáticos são tipos específicos de textos que foram fazendo parte das leituras promovidas pela escola com os futuros professores. Foram sistematicamente escritos para transmitirem determinados saberes, ordenando-os no interior de determinada disciplina do currículo. Como afirma Silva:

[...] os manuais para professores tiveram um conteúdo específico, ensinaram a ensinar, tratando de temas ligados ao desenvolvimento infantil, às técnicas de ensino, ao papel do professor, à organização da escola e das aulas, etc. Ou seja, se é verdade que tanto os manuais dos alunos quanto os dos professores podem ser considerados como produtos da cultura escolar, os livros das normalistas também dão a ver aspectos da constituição de um corpo de saberes profissionais docentes. (SILVA, 2008, p.117).

Além de permitir o estudo desses “saberes profissionais docentes” no campo da Didática, os manuais abrem a possibilidade de entender a constituição e natureza da própria disciplina. Nesse sentido, a investigação ancora-se nos estudos sobre a constituição das disciplinas escolares (CHERVEL, 1998; GOODSON, 1997).

Para Goodson (1997) os estudos sobre as disciplinas escolares contribuem e caminham “[...] no sentido de examinar a relação entre o conteúdo e a forma da disciplina escolar, e de analisar as questões da prática e dos processos escolares.”. (GOODSON, 1997, p.26). Nesse ponto Chervel (1990) indica que o papel da disciplina é amplo e se impõe ao colocar conteúdos harmonizados com as finalidades previstas e com os resultados de aprendizagem esperados. Ou seja, a função da disciplina consiste para Chervel em “[...] colocar um conteúdo de instrução a serviço de uma finalidade educativa.” (CHERVEL, 1990, p.188).

Para esse autor a função da escola não se limita ao exercício das disciplinas escolares, mas a um complexo de finalidades que se combinam e conferem à escola sua função educativa. Para Chervel (1990), a finalidade da escola se confronta com a própria história do ensino e o estudo desta depende em parte da história das disciplinas. A instituição escolar combina finalidades que a sintetizam como espaço de função educativa e de ensino e “as disciplinas escolares estão no centro desse dispositivo podendo estar a serviço de uma finalidade educativa”.

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Mas a pesquisa também se apoia teoricamente no pressuposto de que os manuais escolares podem ser entendidos como “elementos visíveis” do “código disciplinar”, conceitos tomados de CUESTA FERNÁNDEZ (1998) que os construiu para examinar o caso particular da História e que tem sido utilizado pelo grupo de pesquisa para o estudo dos manuais de Didática. Em outras palavras, trata-se de tomar os manuais didáticos como referência a partir da qual pode ser compreendida a instituição de saberes e práticas no campo da Didática, entendida como uma disciplina específica que compõe os currículos de formação de professores em diferentes graus de ensino.

Utilizando-se do conceito em seu estudo sobre o código disciplinar da Didática da História, Urban (2009) explica que:

Na análise sistematizada por Fernández Cuesta (1998), compreendeu-se que a Didática da História possui um conjunto de conhecimentos que foram historicamente se constituindo e, ao mesmo tempo, delimitando o seu espaço sob influências de formas de pensar o ensino e a aprendizagem da História, em diferentes épocas. (URBAN, 2009, p. 29).

Acredita-se que, assim como há um código disciplinar da Didática da História, pode-se pensar na existência de um código disciplinar da Didática Geral. Para isso, estudos têm sido realizados a partir de alguns manuais que compõem o acervo do Núcleo de Pesquisa. Entre eles, destaca-se aqui o “Tratado de Methodologia”, coordenado por Felisberto de Carvalho, cuja terceira edição data de 1909. Nessa obra, que está dividida em duas partes – Methodologia geral e Methodologia especial – a Didática é definida como “a parte da methodologia que procura, fórmula e demonstra as principaes regras a seguir no ensino” (p.10). Tem-se, portanto, uma evidência da preocupação com o método que já se apresentava na primeira década do século XX entre os professores e a presença de uma metodologia geral identificada como o campo da Didática. (GARCIA, 2010).

Outro manual examinado tem o título Didáctica (nas Escolas Primárias). Escrito por João Toledo, educador nascido em 1879 e formado em 1900 na escola Complementar de Itapetininga, o manual foi publicado em 1930, pela Livraria Liberdade, São Paulo. Este manual do início do século já foi objeto de estudos em outras investigações (SILVA, 2008; PINHEIRO, 2009), mas com objetivos diferentes do que se propõe neste caso, ou seja, a compreensão da Didática enquanto disciplina escolar a partir dos manuais como elementos visíveis do código disciplinar. (GARCIA, 2010)

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O conjunto de manuais examinados permite colocar em discussão a ideia de que haveria uma “mesma Didática” no Brasil, do início do século XX até a metade da década de 1970. Afirma-se que essa Didática “trata o ensino de forma acrítica e positivista, através do estudo dos seus elementos e subprocessos (aluno, professor, objetivos, planejamento etc.)” e que “enfatiza a dimensão técnica e pretensamente neutra do ensino” (OLIVEIRA, 1989, p. 35-36).

Como se observa na obra de Toledo, por exemplo, ainda que marcada pela preocupação em estruturar o ensino em lições, que são apresentadas como “sugestões (que) auxiliarão o professor novo e ainda sem prática” (p. 170), as análises permitem sua inserção no conjunto de debates educativos que estavam em circulação no seu tempo. Para além das questões específicas, técnicas, suas proposições e preocupações revelam sua perspectiva para a escola brasileira do seu tempo e sua Didática estabelece princípios organizadores para tal escola – “uma peça do organismo social”, mas que tem “um caracter local”, próprio de cada país (TOLEDO, 1925, p. 10).

Esse exemplo é tomado aqui para evidenciar as contribuições que a pesquisa sobre os manuais pode dar quando eles são tomados como elementos visíveis do código disciplinar. Pretende-se ampliar a compreensão da Didática como disciplina escolar desde as primeiras décadas do século XX, quando começam a circular os manuais específicos e explicitamente voltados para o ensino. Neste texto serão destacados sucintamente os dados relacionados às obras publicadas a partir de 1980 e já localizadas.

Resultados e considerações: a presença de manuais a partir da década de 1980

A pesquisa empírica orientou-se inicialmente na identificação, seleção e categorização de manuais de didática em circulação, escritos a partir da década de 1980. Como atividade exploratória, realizou-se uma busca na internet pelo termo “Didática”, em buscadores como o Google e Scholar Google. Nessa busca foram localizados aproximadamente 1.340.000 resultados, incluindo-se livros, capítulos de livros, artigos, dentre outros. Desse conjunto, examinado apenas superficialmente, foram selecionados em torno de 80 títulos entre livros e artigos sobre Didática Geral e foram descartados os títulos sobre as Didáticas Específicas.

A segunda etapa foi a realização de pesquisa em bases científicas, incluídas as seguintes bases: Capes, Scielo, Mannes, Eric, Revistas Cientificas de Educação e Bibliotecas de Universidades Estaduais e Federais brasileiras. As pesquisas nessas diferentes bases

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ocorreram com o intuito de verificar, confirmar e acrescentar títulos à base de dados em construção. Nessas bases acadêmicas foram localizados livros e artigos sobre Didática que, examinados em seu conteúdo, foram classificados nas seguintes categorias:

a) Livros que tratam da Didática como disciplina ou campo de conhecimento. b) Manuais de Didática, que tem como função ensinar a ensinar.

c) Artigos que tratam sobre o papel da Didática na formação de professores e sobre seu campo de pesquisa2.

d) Artigos que tratam sobre a Disciplina de Didática. e) Artigos que tratam sobre Manuais de Didática.

. A localização dos títulos em circulação permitiu uma primeira aproximação com os livros de Didática Geral escritos nas décadas de 1980, 1990 e na última década. Das 35 obras localizadas neste estudo, 8 foram categorizadas como manuais de Didática, ou seja, apresentam ao professor orientações para o ensino, ainda que com abordagens diferenciadas. As demais se constituem em obras que tratam de temas relativos ao campo de conhecimento, seja discutindo fundamentos da Didática, seja problematizando as relações entre pesquisa e didática, entre epistemologia e didática, currículo e didática, entre outras questões.

Entre esses, estão obras clássicas que aprofundam os debates no campo de conhecimento específico, como as de autoria de Maria Rita Salles de Oliveira (A reconstrução da didática: elementos teóricos e metodológicos; Didática: ruptura, compromisso e pesquisa); as de Pura Lúcia O. Martins (Didática teórica, didática prática; A Didática e as contradições da prática); e as de Ilma Passos A. Veiga (Didática: uma retrospectiva histórica). Esse conjunto inclui obras publicadas ao longo de todo o período estudado, incluindo reedições.

Neste texto, a intenção é apontar alguns elementos relacionados ao primeiro grupo, aqui denominados manuais de Didática Geral. Constatou-se a presença de reedições e de títulos novos o que sugere, em princípio, que tais livros continuem sendo lidos e estudados nos cursos de formação docente, seja nos cursos de pedagogia, licenciaturas ou cursos de formação em nível médio. Entre esses, encontram-se as obras de autores como José Carlos Libâneo – sucessivamente reeditada ao longo dos últimos quinze anos - e cuja estrutura é bastante conhecida pelos professores neste campo do conhecimento. Ao lado das discussões

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de caráter mais amplo, o autor expressa a preocupação em orientar as ações docentes, característica marcante dessa obra.

No entanto, também foram localizadas obras com a primeira edição nos últimos três anos, o que se toma como um indício da existência de demanda por esses manuais. É o caso, por exemplo, do manual Didática e docência: aprendendo a profissão, de Isabel de Farias e outras autoras, que também caminha na direção de orientar as ações docentes a partir da discussão de pressupostos e fundamentos, como se pode observar na explicação sobre a obra:

As autoras partem da premissa de que o fazer docente é uma atividade situada, não neutra e distante do improviso. Inclui reflexões sobre o ensino, seus pressupostos, determinantes sociais e modos de concretização. A escolha das temáticas nele abordadas se apoiou no inventário das pautas recorrentes ou ausentes nas publicações em circulação sobre o assunto, bem como na intenção de assegurar conhecimentos pedagógicos básicos que fortalecessem o trabalho docente numa abordagem crítica e contextualizada. (MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LIVRO, EDITORA LÍBER)

Para os propósitos da investigação, a localização desses manuais – como elementos visíveis do código disciplinar - permite afirmar que no conjunto de disciplinas de formação de professores a Didática Geral mantém-se como uma disciplina voltada a fornecer instrumentos para a organização do ensino. Nesse sentido, entende-se que as características das obras aqui destacadas são indicativas da permanência e do entendimento de que, enquanto disciplina escolar, a Didática tem uma face de discussão teórica e uma face de orientação para a prática, como destacado por Castro (1991, p. 23), o que não significa sua redução a “um rol de prescrições”.

No âmbito das discussões sobre a disciplina, talvez seja possível apontar caminhos que aproximem efetivamente os futuros professores, em seus processos formativos, das complexas questões do ensino, a partir da construção de eixos de reflexão teórica e metodológica que são próprios da Didática Geral, os quais estabelecem condições para o diálogo necessário com as Didáticas Específicas. O estudo dos manuais pode contribuir para esclarecer a constituição desses eixos ao longo do tempo e para perspectivar possibilidades.

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