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GESTÃO DA ÁGUA EM SITUAÇÕES DE ESCASSEZ NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

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Academic year: 2021

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1 GESTÃO DA ÁGUA EM SITUAÇÕES DE ESCASSEZ

NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Leonardo Brasil Mendes

Prof. MSc. do Curso de Direito da Associação Caruaruense de Ensino Superior; Avenida Portugal, 584, Bairro Universitário - Caruaru – PE – Brasil.

lbrasilmendes@yahoo.com.br

Resumo

Em ambientes semiáridos do nordeste brasileiro a água é naturalmente escassa, mas não se sabe se a situação de escassez é uma constante a ser considerada na gestão das águas no semiárido. O objetivo deste trabalho foi responder perguntas cujas respostas delimitam o conceito jurídico de situação de escassez de água, os direitos advindos das prioridades de uso e a questão do desenvolvimento sustentável no semiárido. A partir de estudos bibliográficos analisados concomitantemente com a Lei nº 9.433/97 foi possível determinar que a situação de escassez hídrica ocorre durante a seca quando não há mais água disponível e pode também ser presumida quando um município ou outro ente federativo decreta estado de emergência. Portanto, a a situação de escassez hídrica consubstancia não apenas o direito de prioridade de uso para o consumo humano e a dessedentação de animais, mas também todos os direitos derivativos da aplicação da norma durante a gestão da água. Conclui-se que a sustentabilidade no seminário está relacionada à gestão das águas, sendo necessário primeiro garantir a disponibilidade dos recursos hídricos para as gerações atuais para depois pensar nas futuras.

Palavras-chave: Política Nacional de Recursos Hídricos, Prioridades de uso, Seca.

INTRODUÇÃO

Nos países localizados em ambientes áridos e semiáridos, o desenvolvimento sustentável está relacionado a questões que envolvem a disponibilidade de água (BDOUR, 2012), além da pouca quantidade, a pouca qualidade torna este recurso ainda mais indisponível acirrando cada vez mais os conflitos sociais pela água (BDOUR, 2012).

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2 Economicamente, a escassez hídrica que caracteriza os ambientes áridos e semiáridos inibe os investimentos financeiros nestas regiões (BDOUR, 2012), a possibilidade de haver uma seca aumenta o risco de não haver retorno do inventimento e a ocorrência de seca, geralmente, compromete a produção.

No Brasil, os ambientes semiáridos se concentram em grande parte na Região Nordeste do Brasil e no norte do Estado de Minas Gerais e, historicamente, registram estiagem severas (SANTOS et al, 2012).

Segundo Campos e Stuart (2001, apud SANTOS et al, 2012), o vocábulo seca ganhou uma conotação intimamente relacionada à penúria, à fome, ao êxodo rural, aos carros pipas e às frentes de serviço, refletindo bem os impactos ambientais, sociais e econômicos sobre a população da região.

Para amenizar os efeitos da seca, algumas políticas públicas foram criadas, mas nem sempre são eficientes e atendem a necessidade de todos, é tanto que 1.196 municípios do nordeste brasileiro estiveram em situação de emergência no ano de 2012 (SANTOS et al, 2012).

No entanto, tais políticas públicas, assim como, o gerenciamento de recursos hídricos devem operar em concordância com a Lei nº 9.433/97. Segundo o Art. 1º, III, tal legislação: “A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais”.

Logo, observa-se uma alteração nas prioridades da Política Nacional de Recursos Hídricos em situações de escassez, mas muito pouco se sabe sobre o tema relacionado ao semiárido, onde a água é escassa por natureza.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é responder as seguintes perguntas quanto a situações de escassez de água no semiárido do Brasil: 1º as prioridades da Política Nacional de Recursos Hídricos seriam sempre o consumo humano e a dessedentação de animais ou estas prioridades se operam apenas em situações de seca?; 2º Em situação de escassez hídrica, quais os direitos advindos?; 3º Como é possível atingir o desenvolvimento sustentável priorizando apenas o consumo humano e a dessedentação de animais, ou seja, priorizando apenas a subsistência?

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3 MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica com a finalidade de levantar situações de escassez relevantes para o Direito, posteriormente, a legislação pertinente foi aplicada às situações levantadas para determinar os direitos advindos em situação de escassez hídrica. A partir do direito foram determinadas perspectivas para o desenvolvimento sustentável.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os ambientes semiáridos do Brasil se caracterizam por apresentarem variações climáticas sazonais marcantes, definindo uma estação chuvosa e estação seca (REICHMAN, 1984; PRICE e JOYNER, 1997; ARAÚJO et al., 2007).

Em um ano, a estação seca pode durar de 6 a 9 meses e totais pluviométricos anuais podem variar de 380 a 1.100mm (SAMPAIO, 1995; ARAÚJO, 2005; ARAÚJO et al. 2007). No entanto, as secas também podem se estender por mais de um ano suprimindo a estação chuvosa, devido ao deslocamento de massa de ar na atmosfera e a fenômenos eventuais como o El Niño e a La Niña (SANTOS et al, 2012).

Historicamente, estas secas prolongadas é que vêm causando prejuízos à produção e muitas vezes se tornando calamidade pública, como é o caso da seca de 1979 que se estendeu até 1983 que matou, segundo estimativas da época, de 700 mil a 3,5 milhões de pessoas (SANTOS et al, 2012).

Economicamente, destacam-se a agricultura e a pecuária, apesar de existirem outras atividades (AB’SABER, 2003).

Socialmente, de uma forma generalizada, a sociedade é marcada pela desigualdade entre proprietário de terra e campesinos que têm a sua mão de obra explorada e pouco acesso a água (NEVES, 2000).

Analisando o cenário montado com base na bibliografia, é possível entender as situações de escassez e as dinâmicas sociais que podem ocorrer.

Quanto à primeira pergunta, a semiaridez é constante por ser uma característica do ambiente, perdurando o ano todo. Mas a escassez da água não é constante, pois durante a estação chuvosa há água disponível e o ambiente não deixa de ser semiárido.

Portanto, apenas em situações de escassez de água é que as prioridades da Política Nacional de Recursos Hídricos serão o consumo humano e a dessedentação de

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4 animais É preciso destacar também que mesmo havendo seca pode não haver situações de escassez hídrica, pois a água pode estar disponível em cisternas, corpos d’água, barragens e poços.

Com isso, durante a estação chuvosa, o homem pode armazenar e consumir as águas pluviais e os animais saciarem a sede, havendo uma perspectiva de acúmulo de recursos hídricos e um comportamento da vegetação que passa a esverdear, não havendo assim situação de escassez hídrica.

A situação de escassez hídrica no semiárido brasileiro se caracteriza quando a vegetação perde suas folhas e não há mais água disponível nos corpos d’água e barragens.

Quando um município decreta estado de emergência, ou um estado mais grave, como ocorreu com vários municípios localizados no semiárido (SANTOS et al, 2012), a situação de escassez hídrica pode ser presumida, devendo então os entes federativos passarem a operar naquele município prioritariamente nos usos para o consumo humano e a dessedentação de animais.

No entanto, a presunção de situação de escassez hídrica deve ser absoluta, cabendo a qualquer ente federativo verificar a veracidade do decreto e, oficialmente, reconhecer ou não estado de emergência. A presunção também não se sustenta em propriedades privadas ou áreas do município que ainda possuem águas disponíveis em poços ou cisternas, por exemplo.

Quanto à segunda pergunta, a situação de escassez hídrica consubstancia o direito ao uso prioritário dos recursos hídricos para o consumo humano e a dessedentação de animais.

Segundo Machado (2012), o consumo humano compreende apenas as necessidades mínimas, podendo fazer parte do uso: comer, beber e higiene pessoal.

Já a dessedentação é a saciedade da sede do animal, geralmente gado, o que não inclui os procedimentos de abate (MACHADO, 2012).

Mas não são esses os direitos advindos com a situação escassez hídrica, havendo reflexos em outros dispositivos da Lei nº 9.433/97.

Esta Lei orienta no Art. 1º “A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”, mas estabeleceu no mesmo artigo a exceção à

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5 expressão “sempre”, dizendo o seguinte no inciso III: “em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais”.

Portanto, segundo esta Lei, um corpo d’água que, por exemplo, é usado para recreação, navegação e dessedentação de animais, dentre outros usos, havendo situações de escassez hídrica, a prioridade será a situação de escassez.

Ainda quanto ao exemplo acima, havendo situações de escassez hídrica, a água do corpo d’água poderá ser captada, tratada e distribuída para a população através da rede de abastecimento, mesmo que a captação reduza o nível do corpo d’água e comprometa a navegação.

Para tanto, o custeio das estruturas de capitação recém-instaladas no corpo d’água poderá ser feito pelo mecanismo tarifário de contingência adotado pelo órgão responsável pelo abastecimento e saneamento, nos termos da Lei nº 11.445/07:

Art. 46. Em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos tarifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda.

Deve ser destacado também que para fazer uso da água, é necessária a outorga do direito de uso pelo poder público. Portanto o recurso hídrico destinado ao uso para irrigação poderá, por exemplo, havendo situações de escassez hídrica e não se dispondo de fontes alternativas, ter a outorga do direito de uso suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado (Art 15, V da Lei nº 9.433/97).

Quanto à terceira pergunta, só será possível pensar no desenvolvimento sustentável no semiárido quando garantirmos recursos hídricos suficientes para as gerações atuais, para só depois pensarmos em mantê-los para as gerações futuras.

O desenvolvimento sustentável será possível no semiárido quando conseguirmos captar e armazenar a água durante a estação chuvosa e racionalizá-la durante a estação seca, restando ainda criar alternativas e estratégias para suportarmos as secas prolongadas.

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6 CONCLUSÃO

1. No semiárido do Brasil, as prioridades da Política Nacional de Recursos Hídricos não seriam sempre o consumo humano e a dessedentação de animais, porque durante a estação chuvosa não há situação de escassez hídrica.

2. A situação de escassez hídrica ocorre durante a estação seca quando não há água disponível, podendo também ser presumida quando o município ou qualquer ente federativo decreta estado de emergência.

3. Em situação de escassez hídrica, os direitos advindos não são apenas o direito de prioridade de uso para o consumo humano e a dessedentação de animais, mas todos aqueles que se consubstanciam a partir da aplicação da Lei.

4. A sustentabilidade no seminário esta relacionada à gestão das águas

AGRADECIMENTOS

À Associação Caruaruense de Cultura e Ensino Superior – ASCES pela disponibilização das fontes pesquisadas usadas no presente trabalho.

REFERÊNCIAS

AB’SABER. Aziz Nacib. Caatinga: o domínio dos sertões secos. In: AB’SABER. Aziz Nacib. Os domínios da Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 83-90.

ARAÚJO, E. L.; CASTRO, C. C.; ALBUQUERQUE, U. P. Dynamics of Brazilian Caatinga - A Review Concerning the Plants, Environment and People. Functional Ecosystems and Communities, 2007. v. 1, p. 15-28.

ARAÚJO, E. L.; MARTINS, F. R.; SANTOS, A. M. Establishment and death of two dry tropical forest woody species in dry and rainy seasons in northeastern Brazil. In: Nogueira, RJMC; Araújo, EL; Willadino, LG; Cavalcante, UMT, eds. Estresses ambientais: danos e benefícios em plantas. Recife: MXM Gráfica e Editora, 2005. p.76- 91.

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7 BDOUR, Ahmed N. Perspectives on a strategic Jordanian water project: the Red Sea to Dead Sea water conveyance construction. Journal of Emerging Trends in Engineering and Applied Sciences. 2012, v1, n 3, p. 121-126

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1997.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico.. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2007.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 20ª Ed. Editora Malheiros, São Paulo, 2012.

NEVES, Frederico de Castro. A seca na História do Ceará. In: SOUZA, Simone (org.). Uma Nova História do Ceará. Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 2000. p.76-102.

PRICE, M. V.; JOYNER, J. W. What resources are available for desert granivores: Seed rain or soil seed bank? Ecology. 1997, v 78, p. 764–773.

SAMPAIO, E. V. S. B. Overview of the Brazilian Caatinga. In: Bullock, S.; Mooney, H.A. e Medina, E., (Ed). Seasonally dry tropical forests. Cambridge: University Press. 1995, p. 35-58.

SANTOS, E.; MATOS, H.; ALVARENGA, J; SALES, M. C. L. A seca no nordeste no ano de 2012: relato sobre a estiagem na região e o exemplo da prática de convivência com o semiárido, no Distrito de Iguaçu/Canindé-CE. Revista Geonorte, Edição Especial 2, 2012, v 1, n 5, p. 819-830.

REICHMAN, O. J. Spatial and temporal variation of seed distributions in Sonoran desert soils. Journal of Biogeography. 1984, v. 11, p. 1–11.

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