REVISTA
DE DIREITO DAS SOCIEDADES
Ano I (2009), 1
Contratos públicos: subsídios para a dogmática administrativa 1
REVISTA DE DIREITO DAS SOCIEDADES
Ano I (2009), 1
Director: António Menezes Cordeiro
Comissão de redacção
António Menezes Cordeiro Diogo Costa Gonçalves Francisco Mendes Correia Ana Perestrelo de Oliveira
Propriedade da Faculdade de Direito de Lisboa (Instituto de Direito das Sociedades) NIPC ??????
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ÍNDICE
Editorial: a importância do Direito das Sociedades ... 5
ACTUALIDADE
ANTÓNIOMENEZESCORDEIRO
Uma nova reforma do Código das Sociedades Comerciais?... 11 ANTÓNIOMENEZESCORDEIRO
A nacionalização do BPN ... 57
DOUTRINA
ANAPERESTRELO DEOLIVEIRA
Os credores e o governo societário: deveres de lealdade para os credores controladores? 95 ANAFILIPA LEAL
Algumas notas sobre a parassocialidade no Direito português ... 135
MIGUELBRITOBASTOS
As consequências da aquisição ilícita de acções próprias pelas sociedades anónimas 185
JURISPRUDÊNCIA CRÍTICA
Sociedade por quotas – poderes do gerente – cessação de funções
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 29 de Abril de 2008 ... 227 Anotação por António Menezes Cordeiro... 233
BREVES RECENSÕES ... 237
NOTA BIBLIOGRÁFICA ... 241
NOTÍCIAS DAS SOCIEDADES
Legislação ... 245 Jurisprudência... 249
NO PRÓXIMO NÚMERO:
O Decreto-Lei n.° 247-B/2008, de 30 de Dezembro: cartão de empresa, cartão de pessoa colec-tiva e outras novidades
A crise planetária de 2007/2010 e o governo das sociedades O registo de quotas: reformas de 2006, 2007 e de 2008
Transposição da directiva dos direitos dos accionistas e alterações ao Código das Sociedades Comerciais – Processo de consulta pública n.° 10/2008
Editorial: a importância do Direito das sociedades
1. Aspectos práticos
I. De acordo com os números oficiais disponíveis tínhamos, em Portugal, no ano de 2006: 604 sociedades em nome colectivo, 382.833 sociedades comerciais por quotas, das quais 65.571 unipessoais, 22.886 sociedades anóni-mas, 32 sociedades em comandita e 2.551 cooperativas. No tocante a socieda-des por quotas e a sociedasocieda-des anónimas, convém salientar que, tendo em conta a população do País, os números são bastante mais elevados do que em países como a França, a Alemanha ou a Itália.
II. Ainda com referência a 2006, as sociedades comerciais por quotas, incluindo as unipessoais, alcançavam, entre nós, um volume de negócios de 152.646 milhões de euros e davam emprego a 1.926.848 pessoas. Quanto às sociedades anónimas: temos um volume de negócios de 169.404 milhões de euros e 845.834 pessoas empregadas. Podemos dizer, sem exagero, que o essen-cial da riqueza económica e humana passa, no nosso País, pelas sociedades. III. As sociedades são partes nos contratos comerciais mais significativos; elas são as grandes empregadoras; elas são significativos sujeitos tributários; elas são as principais litigantes. Se abstrairmos do foro pessoal, podemos considerar que não há causa ou situação jurídica relevante que não implique normas de Direito das sociedades. Desde a simples sociedade familiar à maior multinacio-nal: todas exigem a assistência de juristas formados e conhecedores no campo societário.
2. O Direito nacional
I.Temos insistido: o Direito das sociedades português é o mais complicado da Europa. Por razões de ordem histórica, que remontam ao Marquês de Pom-bal e à Lei da Boa Razão (18-Ago.-1769), o Direito nacional tem vindo a aco-lher os diversos esquemas desenvolvidos pelos demais ordenamentos: assistimos a especiais afluxos de inspiração francesa, a partir de 1833, de inspiração ítalo-espanhola, a partir de 1888, de inspiração alemã, a partir de meados do século XX, e de inspiração anglo-saxónica, a partir do início do século XXI. Tudo isso veio fundir-se com a cepa nacional, dando, ao conjunto, uma iden-tidade rica e complexa.
II.Após 1986, o Direito das sociedades absorveu a transposição de sucessi-vas directrizes europeias.Tais directrizes funcionaram, muitas vezes, como mais um veículo do Direito de inspiração alemã, com traços crescentes de influên-cia anglo-saxónica: mas sempre sob um pano de fundo de complexas negoinfluên-cia- negocia-ções inter-europeias. Em boa verdade: a transposição caiu em terreno fértil, uma vez que o Direito nacional, verdadeira singularidade nos Direitos do Sul da Europa, já estava muito germanizado, em termos de Ciência do Direito. Mas representou, no plano regulativo, um factor suplementar de complexidade.
III. Qualquer explicação de Direito nacional exige, em regra, uma intro-dução histórico-comparatística. O estudioso – e todos os práticos o são! – vê-se remetido para textos estrangeiros e para problemáticas longínquas, tudo isso com reflexos no Direito cuja aplicação tem em mãos. Mas não vai lidar com Direito estrangeiro: consumada a recepção, os elementos fundem-se na realidade nacional, tornando-se irreconhecíveis. Em suma: temos um Direito fascinante, mas muito complicado e trabalhoso.
3. A prolixidade legislativa
I. O Código das Sociedades Comerciais aproxima-se da sua trigésima reforma. Em média, ele tem vindo a ser alterado uma vez e meia por ano. As alterações introduzidas são, por vezes, de grande extensão e profundidade: pense-se na reforma de 2006. É certo que a prolixidade legislativa e a instabi-lidade dos grandes códigos pode ser seguida nos diversos Direitos europeus. Mas, no nosso, assume uma especial amplitude. As reformas sucessivas obede-cem, por vezes, a diversos postulados jurídico-científicos, o que leva, ao Código, fracturas e, até, oposições.
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II. A prolixidade das alterações ao Código das Sociedades Comerciais é dobrada por uma permanente instabilidade dos diplomas circundantes, com relevo para os Códigos do Registo Comercial e dos Valores Mobiliários. Mui-tos texMui-tos são substituídos antes de ter havido tempo para os analisar e para ponderar as consequências da sua aplicação. Em suma: boa parte do esforço dos operadores jurídicos centra-se em puras tarefas de determinação das fontes.
4. A jurisprudência e a doutrina
I. A realidade jurídico-societária portuguesa é, ainda, enformada por uma forte produtividade jurisprudencial e doutrinária. Os nossos tribunais têm sido crescentemente solicitados para resolver conflitos de interesses na área das sociedades. O número de arestos relevantes, para este nosso domínio, tem subido exponencialmente, nos últimos anos. E também a densidade jurídico--científica da produção jurisdicional é, hoje, irreconhecível: multiplicam-se as decisões de referência, os precedentes e as ponderações ético-valorativas.
II. A doutrina da área das sociedades, de expressão lusa, tornou-se inabar-cável. Ainda há poucas décadas dispúnhamos de umas quantas monografias. Hoje, elas contam-se por dezenas, em cada ano, sendo difícil, mesmo para os especialistas, manter em dia a sua leitura. A isso cabe acrescentar manuais, lições, comentários e inúmeros artigos de revistas.
5. As tarefas da RDS
I. A RDS tem, como tarefas:
– dar notícia das reformas societárias em curso ou em preparação, comen-tando-as;
– relatar as alterações das leis, no âmbito das sociedades;
– reportar os instrumentos europeus relevantes para o Direito das socieda-des;
– repertoriar as decisões judiciais do domínio das sociedades, comentando as mais significativas e explicitando as grandes tendências;
– recensionar as obras nacionais relevantes, para o Direito das sociedades e dar conta das obras estrangeiras de mais peso;
– publicar estudos de doutrina originais, sobre temas societários.
A importância do Direito das sociedades 7
II. Não há grande tradição de revistas especializadas, no nosso meio.Toda-via, a RDS vem corresponder a uma real necessidade do Direito nacional. Na base de uma equipa jovem, de alto nível e muito especializada, a RDS pode dar, a todos os interessados e por um baixo custo, uma base imprescindível para o desenvolvimento da sua actividade.
III.A RDS dirige-se a todos os juristas: pois a real dimensão do fenómeno torna o Direito das sociedades uma presença constante nos diversos casos con-cretos. Mas vai além. São visados: os magistrados, os advogados generalistas, os advogados de empresa, os gestores, os consultores, os revisores oficiais de con-tas, os auditores, os fiscaliscon-tas, os solicitadores, os agentes da administração cen-tral e local, os universitários e os estudantes de Direito, de Gestão e de Eco-nomia. Nas suas colunas irá surgir matéria distinta. Embora vocacionada para a Ciência do Direito, é preocupação da RDS usar uma linguagem simples, aces-sível a não-juristas, de nível universitário ou equivalente.
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