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ALCOBAÇA, ARCHEOLOGY AND PREHISTORY: APPROXIMATE TALK WITH OUR ANCESTRY.

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Academic year: 2021

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Revista Diálogos – Nov. / Dez. – 2019 – N.° 22A 127

ALCOBAÇA, ARQUEOLOGIA E PRÉ-HISTÓRIA:

CONVERSA APROXIMADA COM NOSSA

ANCESTRALIDADE.

ALCOBAÇA, ARCHEOLOGY AND PREHISTORY:

APPROXIMATE TALK WITH OUR ANCESTRY.

Edson José de Meneses Alves 1 Josualdo de Meneses Silva 2

Resumo

O presente artigo consiste no diálogo com o leitor sobre a relação de duas disciplinas no contexto dos grandes problemas do passado longínquo da humanidade. Trata-se da Arqueologia e da Pré-história. Os “mistérios” são as questões espinhosas que ambas enfrentam, mais que se oferecem pedagógica e educacionalmente. Também pontuará um excepcional lugar de representações sígnicas comunicacionais incorporados ao ambiente da caatinga por grupos “primitivos” que foram expostos no Sítio Arqueológico Alcobaça, em Buíque, município pernambucano.

Palavras Chave: Alcobaça; Arqueologia; Pré-História; Sítio Arqueológico.

Abstract

The present article consists of the dialogue with the reader on the relation of two disciplines in the context of the great problems of the distant past of humanity. This is Archeology and Prehistory. The "mysteries" are the thorny issues that both face, but are offered

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Graduando do Curso de Licenciatura em História pela Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Garanhuns.

E-mail: edsonjose355@gmail.com

2 Mestre em Arqueologia pela Universidade Federal do Sergipe (UFS).

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pedagogically and educationally. It will also mark an exceptional place of communicational sign representations incorporated into the caatinga environment by "primitive" groups that were exhibited at the Alcobaça Archaeological Site in Buíque, a city in the state of Pernambuco.

Keywords: Alcobaça; Archeology; Prehistory; Archaeological Site. INTRODUÇÃO

Estudar Arqueologia e a Pré-história é indispensável à sociedade de hoje? O assunto sobre uma determinada antiguidade humana que habitou o Brasil anteriormente a chegada dos europeus é necessário a nós, contemporâneos, distantes dela? O que podemos pensar sobre o modo de vida de comunidades pretéritas e o que nos ensinam aqueles grupos de caçadores coletores que constituíam aquela humanidade tão distante de nosso mundo atual? Mais ainda, na esfera do nosso interesse, as pinturas existentes no Alcobaça, como cogitá-las sem que se caia em uma taxonomia meramente técnica de uso da arqueologia?

Estudando a Arqueologia e a Pré-história a primeira sensação que nos ocorre é a de estar mentalmente sendo puxado através de um portal em um mergulho perturbador por um rio de percepções. Tudo isso, quando ficamos diante de imagens artisticamente produzidas a aproximadamente 3000 a.p.3. Por outro lado, elas confrontam nossas concepções de mundo. A relação Arqueologia e Pré-história nesse sentido é muito dinâmica. Enquanto a segunda está mais ligada à “teoria”, e interpretação dos dados e conceitos, da vida dos povos antigos, entre outros fatores, a Arqueologia se liga mais com a “prática”. Vale salientar sempre, que nesse artigo, quando relacionamos a palavra “primitiva” será para se referir aos primeiros habitantes a utilizar aquele lugar e deixar seus registros, não sendo, portanto, com o intuito de menosprezar ou diminuir aqueles grupos humanos.

3 A.P. O termo ap, em Arqueologia, significa "Antes do Presente". Tendo por base o

ano de 1950, se um determinado facto ocorreu em 10.000 pelo calendário gregoriano, pode também ser notado como 11.950 ap. Adota-se o ano de 1950 como marcador por conta dos testes atômicos realizados durante a 2ª Guerra Mundial que desequilibraram a concentração química de alguns isótopos na atmosfera.

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Para que ocorram melhores resultados em suas pesquisas e investigações, é preciso que o professor/arqueólogo tenha uma grande intimidade com o objeto que pretende investigar ou tema a ser estudado ou avaliado. Na relação sujeito/pesquisador e sujeito/pesquisado o que irá diferenciar um arqueólogo que está muito mais empenhado em chegar a novas descobertas do que o investigador comum, na qual, muitas vezes, não leva o real interesse e seriedade na pesquisa.

Em nosso tempo em que o documento escrito auxilia historiadores, biólogos, arquivistas, entre outras áreas, a descobrirem elementos sobre determinado assunto, diferentemente, a Arqueologia trabalha com os materiais e artefatos deixados pelo homem do passado muito antigo, tendo que lidar com episódios e contextos de uma época em que ainda não exista a escrita da forma que conhecemos hoje. Sendo assim, analisar os artefatos arqueológicos, em geral, ajuda a esclarecer nossas dúvidas sobre civilizações antigas que habitaram vários territórios antes de nossa presença no caso do Brasil. A Fenomenologia ajudará com contribuições, principalmente, para entendermos os sentidos das manifestações nos paredões rochosos, em particular, do Sítio Arqueológico Alcobaça.

O BRASIL E SUA ARQUEOLOGIA: UM RÁPIDO VOO

Antes de tecer ideias sobre o Sítio Arqueológico Alcobaça, localizado em Buíque, Pernambuco, que trataremos em seção mais adiante, precisa-se realizar um rápido voo sobre o Brasil e a sua Arqueologia. Para tanto, algumas questões devem ser postas. Como os estudos e as pesquisas arqueológicas iniciam aqui no Brasil? Quem ou quais foram os percussores? O caminho percorrido pela Arqueologia brasileira foi tranquilo, sem perturbações na sua arquitetura?

Iniciemos pela Arqueologia pré-científica, pois é assim que Gabriela Martin denomina de modo geral, e particularmente referindo-se ao Nordeste, ao afirmar que ela emerge sob um olhar encantador da miragem voltada para o velho mundo. Vários estudiosos europeus vieram ao Brasil. Nem eram especialistas na área. Todos aportaram aqui com outros propósitos, segundo a autora em questão, eram

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[...] viajantes, naturalistas, botânico, geólogos e paleontólogos [...] enviados por seus países para enriquecimento de coleções de museus europeus e também de antropólogos, estudiosos de sociedades primitivas remanescentes. Por isso, entre os cientistas do século XIX, antropólogos, confundem-se e complementam-se (MARTIN, 2005, p. 23).

O fato sobre o homem da Lagoa Santa (MG) é um típico caso clássico e fortuito do dinamarquês Peter Wilhelm Lund. Com sua

presença, o paleontólogo descobriu fósseis humanos naquela localidade ilustrando essa etapa da história da Arqueologia brasileira. Mais como em qualquer localidade do mundo, a Arqueologia brasileira tem seu trajeto e que ainda em franco devir e também teve seu momento de nascimento. Contudo, essa emergência vem embalada de algumas características próprias, digamos peculiares que a marcaram. Muitos simpatizantes da Arqueologia desconhecem, mais o Brasil foi pioneiro nesse campo dos estudos arqueológicos.

O primeiro precursor a ter a iniciativa de trazer a Arqueologia para o Brasil foi o Imperador Dom Pedro I (1822-1831). Este inicia a Arqueologia brasileira, importando e comprando os primeiros artefatos arqueológicos, como múmias egípcias e outros materiais. Esses objetos eram guardados no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que infelizmente, na noite do dia 2 de setembro de 2018, após um incêndio de graves proporções, viraram cinzas e acabaram perdendo-se para sempre. Felizmente, com o uso de uma tecnologia avançada, já está sendo criado um museu online, na qual, os internautas podem “passear” por dentro do Museu, através do meio digital, visualizando imagens e artefatos em uma animação de 3D.

Esse início da Arqueologia no Brasil liga-se a um enredo familiar real do filho do primeiro imperador, D. Pedro II (1831–1889). Depois de assumir o trono após a renúncia do pai e receber as devidas orientações para governar o Brasil, casa-se com uma princesa napolitana, e por meio desse arranjo político consegue coletar material arqueológico de Pompeia, da Etrúria e muitos outros lugares da região. O Museu Nacional do Rio de Janeiro fora projetado para ser rival do

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Museu Britânico e do Louvre, na França. Assim, além de competir na área com o país britânico, deixava de lado, também, a antiga metrópole, Lisboa.

O Imperador criou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro contemporâneo e similar à Academia Francesa. Nesse plano a Arqueologia desempenhava seu protagonismo. Fora forjada para estabelecer raízes entre o Velho Mundo (Arqueologia clássica e egípcia) e o Novo Mundo (Arqueologia pré-histórica). Tal interesse pela Arqueologia, expresso pelos dois imperadores brasileiros, fez com que ela tivesse um nascimento prematuro na história do país, em um contexto de imperialismo e de afirmação nacional.

Por outro lado, (MARTIN, 2005) nos informa que entre os relatos fantásticos do período pré-científico, uma cronologia obsessivamente bíblica com o desejo de justificar a existência de homens na América, e explicação religiosa pós-dilúvio e a inexistência de fatos arqueológicos semelhantes aos orientais, ou peruanos e mexicanos, pessoalmente, entendemos que tudo isso explica as atitudes dos imperadores brasileiros expondo esse quadro histórico formal da Arqueologia brasileira. Ainda nos fala (MARTIN, 2005), sobre uma longa pendenga envolvendo Ladislau Netto (diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro), um protegido do Imperador D. Pedro II em meados do século XIX.

Outra página disso tudo, (MARTIN, 2005) é a pitoresca história reinserida tantas vezes sobre a presença dos fenícios aqui no Brasil. Desde aquele século imperial, passando pela busca de vestígios dos egípcios no nosso Rio São Francisco ou de gregos na Amazônia até chegar ao ano de 1960 envolvendo dois pesquisadores americanos orientalistas da Brandeis, Massachusetts e outro da Universidade de St. Esprit Kaslik do Líbano que mesmo sem crédito científico reintroduzem o assunto dos fenícios novamente. Para não nos estendermos tanto, uma década depois (1970), o fato reaparece. Um suposto “cientista e arqueólogo”, americano, envolve a marinha brasileira no Rio de Janeiro para obter crédito e “achar” destroços de embarcações fenícias na Baía de Guanabara (MARTIN, 2005). Cremos que essa fantasia chega ao seu fim com esse episódio.

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A história da Arqueologia brasileira, sem assumir uma “cronologia correspondente a uma sequência” segundo Martin, divide-se em “uma fadivide-se de mitos heroicos, relatos de missionários, viajantes e aventureiros e moderna pesquisa científica” (MARTIN, 2005, p. 33). SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS: SUA IMPORTÂNCIA PARA A ARQUEOLOGIA

O Brasil tem incontáveis sítios arqueológicos estudados e catalogados todos os anos. Nesse contexto, muitas pessoas costumam confundir dois termos muito semelhantes, mas de significados distintos, são eles: “área arqueológica” e “sítio arqueológico”. Enquanto o primeiro se refere a uma área onde se encontra vários sítios arqueológicos, o segundo é onde se encontra vestígios de povos primitivos.

De acordo com a arqueóloga Gabriela Martin

Chamamos de áreas arqueológicas as divisões geográficas que compartem das mesmas condições ecológicas e nas quais está delimitado um número expressivo de sítios pré-históricos. Estes correspondem a assentamentos humanos onde se tenham observado condições de ocupação suficientes para se poder estudar os grupos étnicos que os povoavam (MARTIN, 2005, p. 87).

Um dos principais sítios arqueológicos depois do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, o Parque Nacional do Vale do Catimbau, nas divisas dos municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim, localizado no estado de Pernambuco, abriga nessa imensa área registros de pinturas rupestres datadas de até 3000 anos a.p..

Entre elas, encontramos vestígios importantes na forma de representações por meio de símbolos e pinturas rupestres. Todas, deixadas por caçadores coletores da nossa pré-história do Agreste de Pernambuco. Elas nos dão a chance de estudá-los.

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Na imagem percebe-se o testemunho desses homens “primitivos” do Alcobaça. Analisar essas gravuras, ou imagens da nossa pré-história, exige certa “intimidade” com elas. Ou seja, assim como a

Escola dos Annales sugere aos historiadores que deveriam “falar” com

o documento, interrogando-o para obter respostas às quais necessitam, é preciso fazer o mesmo àqueles registros. Para nós, são documentos especiais, registrados e produzidos sobre suportes da atividade comunicacional de uma coletividade. Questioná-las, e pensar com aqueles grupos sagazes em imaginação, que nos provocam e nos incitam a tentar conversar com eles de um passado tão longínquo, por meio das suas enigmáticas imagens é a tarefa desafiadora e fascinante. Nesse sentido, no derredor do nosso planeta, núcleos e institutos, fundações etc., em inúmeros países, tanto na Europa, na África, EUA e na América Latina, mobilizam-se em permanente contato e através de congressos nacionais e internacionais, dada a importância desses sítios para a arqueologia. Em meio a isso tudo, um pequeno relato. O diálogo da pesquisa arqueológica do Nordeste com o restante do Brasil acordou depois de um longo “sono” iniciado em 1940, segundo Gabriela Martin, e que durou aproximadamente 20 anos.

Embora os dados sejam fornecidos por Gabriela Martin, outros estudiosos entendem que a grande guinada experimentada pelo Nordeste veio em 1979 ao ser instituído pelo governo federal, a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara. E em 1986, a criação da Fundação do Museu do Homem Americano pela arqueóloga Niède Guidon e o apoio de diversas instituições somadas ao patrocínio da

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UNESCO e do Ministério da Educação. Portanto, com as instituições de Ensino Superior de todos os Estados do Nordeste, a pesquisa arqueológica, mesmo com dificuldades, continua sendo realizada. A vontade de “conversar” com o passado das coletividades da nossa pré-história, através das suas representações pictóricas e gráficas nos lembra de que, assim como no presente, no passado, o homem precisou de suporte para efetivar a sua comunicação. Segundo Josualdo Silva (2013)

A atual ambiência assente aos quadros-lousa de sala de aula, os postes públicos de sinalização de trânsito, entre outros, a recorrência a verticalidade dos suportes para comunicar testemunham uma prática antiga nos homens já encontrada nos remotos paredões rochosos nas várias regiões ecológicas do planeta. Com as signogravuras, esse fato não se manifesta diferente. A comunicação e sua subjetividade se dá (sic) na guinasse do agreste preservando a memória coletiva dos caçadores/coletores (SILVA, 2013, p. 103-104).

A “arte rupestre” traz em si uma carga de significações importantíssimas e amplas possibilidades de se trabalhar e debater, pois nos fornecerem pistas para a compreensão do modo de vida daqueles grupos através dos símbolos e suas imagens comunicacionais.

ALCOBAÇA DOS AMANTES DA ARQUEOLOGIA: LUGAR E ESPAÇO PEDAGÓGICO-EDUCAIONAL

Devido à localização do Alcobaça é comum haver desmoronamentos de blocos por motivos naturais e não pelo homem. Os grafismos lá encontrados são “puros” e também antropomórficos. As pinturas lá encontradas provavelmente foram realizadas com bastões de ocre e em alguns casos, a mão nua. Na visita ao loca, a guia mostrou aos viajantes, um material dos vários que eram feitos as pinturas nos paredões rochosos. A região do Alcobaça também foi usada como cemitério no passado pelos antigos moradores, havendo enterramentos sobre enterramentos, mais uma evidência da ocupação do Homem

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Americano em diversas eras na região do Vale do Catimbau, incluindo um período em que era comum queimar os ossos enterrados.

As pinturas intrigam arqueólogos, historiadores e curiosos. As pinturas e símbolos são signos a espera que alcancemos o caráter comportamental daqueles grupos de caçadores. Este fato repousa ainda na expectativa de que se encontrem respostas aos sentidos de seus possíveis significados. O silêncio dos paredões rochosos no meio a caatinga só não é absoluto, por causa daquelas pinturas. Pois estas pinturas falam. O que precisamos é saber o que elas falam, ou o que elas falaram. Será que algum dia as pesquisas e os estudos encontrarão respostas científicas?

Bem difícil de responder, isso porque, o estudante/pesquisador/arqueólogo vai usar para seu embasamento teórico parar falar a esse respeito esbarra diante da muralha dos sentidos possíveis e das significações das imagens. Muitas delas símbolos de um contexto e que as associações, ou aproximações com o mundo contemporâneo encontra-se ainda com um vazio. Isso gera mais dúvidas que certezas. Exemplo disso é uma pintura que aparece no paredão rochoso do Alcobaça. São quatro traços, ou barras, em paralela. Para a época, poderia ter inúmeros significados convencionais da comunicação daqueles povos “primitivos”. Aos olhos de uma pessoa simples, curiosa, ou outra de maior nível de leitura, do nosso mundo atual, poderá afirmar tratar-se de um sistema de contagem ordinal. Nesse caso, associando-se a uma ideia de quantidade? Nessa perspectiva, a Fenomenologia nos oferece perspectiva. O que diz Antônio Muniz de Rezende (1990) em Concepção fenomenológica da Educação: “A preocupação da fenomenologia é dizer em que sentido há sentido, e mesmo em que sentidos há sentidos” (REZENDE,1990, p. 17). Desse modo, a fenomenologia nos dá um fio de expectativa quanto à existência e localização de sentido ou sentidos daquelas imagens. Mais ainda, nos fazer perceber que há sempre mais sentido além de tudo aquilo que podemos dizer.

O mesmo autor ainda adverte,

Em termos psicanalíticos, a patologia do sujeito é frequentemente a da redução do mundo aos limites do

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“meu mundo”, que de tão pequeno pode tornar-se literalmente incompatível com a vida. Este, aliás, é um dos riscos mais frequentes que os psicanalistas nos fazem correr, o de reduzir o mundo ao mundo do sujeito, e mais ainda, ao mundo do sujeito inconsciente (REZENDE, 1990, p. 24).

Como o autor observa é preciso prudência e paciência para querer apropriar um significado de imediato ao avistarmos uma pintura pré-histórica em algum lugar que visitarmos. Falando de visita, a questão turística, o Alcobaça todos os meses, recebe centenas de estudantes, professores, arqueólogos e a população em geral, vão visitar esse sítio arqueológico. Esse lugar é um atrativo turístico. Um grande sítio e que turistas ficam admirados ao passar pelas trilhas que levam até os paredões rochosos, durante a caminhada, o turista ver espécies de plantas que só é possível a sua sobrevivência naquela localidade ou meio ambiente. Com o auxílio de Cida (Aparecida), uma guia que fica presente, instrui e ajuda o visitante do sitio. As pessoas podem ver outros tipos de vestígios como, fogueira da “pré-história”, restos de materiais, possivelmente, de uma cabana, dentre outros artefatos arqueológicos.

Além de ser uma local de visitas e estudos por pesquisadores, gera empregos através do turismo escolar. A presença de investigadores em busca de novas respostas sobre aquele lugar e suas primeiras populações a habitarem ali, é constante. O conhecimento pedagógico e educacional que se adquiri naquele espaço é algo que o diferencia de outro qualquer. Ao visitar o Alcobaça, é ter a certeza de se apaixonar pela arqueologia de aguçar os sentidos, de desejar saber mais sobre os nossos antepassados.

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LUGAR DE ENCONTRO PARA A COMPREENÇÃO ENTRE CIVILIZAÇÕES DO PASSADO E DO PRESENTE

Para entendemos a nossa vida atual, nossos costumes, crenças, hábitos, gostos, é preciso olhar para o passado e tentar compreender como as sociedades “primitivas” se comportavam. Marc Bloch em seu livro Apologia da História ou O ofício do historiador (1928) relata: “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente” (BLOCH, 2001, p. 65). Percebe-se a crítica que Bloch faz a quem quer compreender um tempo histórico ignorando o outro. Os dois tempos (passado e presente) se oferecem como forças distintas, porém cognitivas, importantes, que resultará em uma mútua compreensão do passado e do presente dialeticamente.

Bloch, através da Escola dos Annales, destaca nesse sentido da comparação passado-presente. Para ele, um é vinculado ao outro e, por isso, não podemos chamar a história de “ciência que compreende o passado”. É necessário fazer uma correlação entre esses dois períodos da história para que possamos compreender assuntos diversos. E é estudando e visitando o Alcobaça, percebemos costumes que eram praticados a mais de 3000 anos a.p. e que, na nossa atualidade, ainda praticamos, tais como: deixar registrado algo que queiramos (no caso

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daqueles povos eram através da pintura em suportes rochosos. Na nossa contemporaneidade, em cadernos, dispositivos de memorias etc.), a confecção de fogueiras, o uso da caça para sobrevivência, a ideia de acampar em um determinado território/lugar, entre outros.

Antônio Rezende (1990) adverte sobre o fascínio que é estudar o passado e argumenta que “Tudo quanto sabemos sobre o homem e sobre o mundo, graças à contribuição das ciências, deve ser posto entre parênteses, para que possamos redescobrir a experiência primitiva em toda sua riqueza”(REZENDE, 1990, p. 36).

Ao analisarmos essa “experiência primitiva em toda a sua riqueza” podemos perceber a relação entre o homem “pré-histórico” e a sua natureza (o meio ambiente) que habitou. O meio ambiente, onde lutavam todos os dias para sobreviver, foi sempre preservado, na medida do possível, por essas “civilizações” antigas, deixando um importantíssimo legado para as atuais civilizações de nossa contemporaneidade habituada a cada vez mais, destruir os ecossistemas em prol do capital, enquanto a nossa riqueza ambiental, tanto preservada por eles, é jogada para segundo plano.

CULTURA E O ALCOBAÇA

Estudar a história de um povo é importante para conhecer nossos antepassados, seus costumes, suas crenças, seus hábitos, enfim, toda a sua vida diversificada e é nisso que se encaixa a cultura. Em relação aos estudos culturais, o autor José Luís dos Santos adverte:

Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. A história registra com abundância as transformações por que passam as culturas, seja movida por suas forças

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internas, seja em consequência desses contatos e conflitos, mais frequentemente por ambos os motivos (SANTOS, 1987, p. 7).

Estudar o legado cultural do outro, tem grande importância para a Arqueologia. Pois vamos encontrar traços em comum que praticamos hoje e que já se fazia presente a milhares e milhares de anos noutras culturas. Exemplos disso é o cozimento de alimentos, a caça, a pesca, a religiosidade, algumas práticas sexuais, entre outros. Assim, poderemos um dia aprender com os erros e acertos do daquelas civilizações passadas.

Por falar em práticas, no caso das pinturas, salvo uma ou outra exceção, a maioria delas, não é pintada umas sobre as outras. Ora, se não existisse esse respeito ao qual estou relacionando, um grupo que viesse posteriormente aquele lugar, onde já havia pintura, poderia muito bem “apagar” aqueles registros ou pintar sobre elas pra mostrar seu ato de “superioridade”, mas não, ao contrário, pintaram no caso do Alcobaça, lateralmente separado, o que ajuda no estudo do arqueólogo para discernir mais e aprofundar diferentes olhares sobre aquelas pinturas, praticadas em diferentes épocas por outros grupos de novas sociedades.

ALCOBAÇA E FENOMENOLOGIA: UM ENCONTRO PARA COMPREENDER A RELAÇÃO ENTRE CIVILIZAÇÕES DE ONTEM E HOJE

Como já vimos, Bloch foi um grande defensor de estudarmos civilizações do passado e presente de forma dialógica. Visitando o Alcobaça, podemos observar um “choque de civilizações”, na qual, é possível ver características e modos bastante semelhantes entre os povos “primitivos” e os povos contemporâneos.

Para compreendermos e redescobrir a “experiência primitiva”, proposta por Rezende, a fenomenologia irar nos auxiliar com seus trabalhos e conhecimentos. Fenomenologia é uma metodologia e corrente filosófica que afirma a importância dos fenômenos da

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consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos. Um dos objetos de estudos da Fenomenologia é a questão relacionada ao símbolo e como ele é visto. Podemos comparar esses símbolos às figuras do Alcobaça e analisarmos ela de maneira mais concreta.

De acordo com Rezende,

[...] o símbolo reúne sentido(s) e nos remete a um sentido pleno, que, no entanto, é muito mais pressentido do que propriamente constatado. Constata-se s ausência do sentido pleno e não sua presença. É como ausente que ele está presente. Donde a íntima relação entre símbolo e a liberdade, está significando precisamente a possibilidade de outras alternativas (sic) além daquelas que se verificam numa determinada situação de mundo. Nesse sentido, a busca da verdade só é possível onde e quando há liberdade (REZENDE, 1990, p. 42-43).

O conceito da fenomenologia foi criado pelo matemático e filósofo Edmund Husserl (1859 -1938). Na fenomenologia de Husserl, todos os fenômenos do mundo devem ser pensados a partir das percepções mentais de cada ser humano. Assim, compreender tudo o que rola no Alcobaça, desde as trilhas, passando por restos de cabanas, fogueiras pré-históricas, até chegar às pinturas rupestres, é preciso analisar o contexto sociocultural que aqueles povos “primitivos” viviam.

PRESERVAÇÃO DO ALCOBAÇA ATUALMENTE E OUTROS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO

O Sítio arqueológico Alcobaça está sob o cuidado de pessoas que moram no entorno daquele lugar. A líder dessa equipe e guia do local, Cida, afirma que, infelizmente, o local está à mercê de criminosos que queiram invadir e depredar qualquer parte do sítio porque não está mais recebendo repasse de verba para cuidar da preservação e proteção desse berço da civilização local. O sitio, lamentavelmente, ainda não é tombado pelo IPHAN.

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Apesar desses inúmeros problemas, o sítio está aberto para o recebimento de turistas que queiram se deliciar e ficar frente a frente com vestígios deixados por civilizações “primitivas”.

Por ter um tamanho considerável de extensão de 98.312 km², Pernambuco possui um campo fértil para serem encontrado cada vez mais e mais sítios e áreas arqueológicas. Tendo seu território dividido em cinco mesorregiões: Agreste, Zona da Mata, Sertão, Região Metropolitana e São Francisco, o estado possui outros sítios arqueológicos, tais como:

* Fuma do Estrago, em Brejo da Madre de Deus;

* Sítio Peri-Peri, situado em Venturosa, no Agreste pernambucano; * Sítio Pedra do Tubarão, situado em Venturosa;

* Parque Nacional da Serra do Catimbau, situado nos municípios de Buíque, Ibimirim e Tupanatinga, todos em Pernambuco.

Infelizmente, em sua maioria, assim como o Alcobaça, texto de estudo em questão, não recebem a devida atenção dos órgãos competentes e fica há margem de vândalos, podendo destruir grandes riquezas sobre nosso passado. A única esperança, ao menos por enquanto, são os voluntários que empenham cada dia mais na conservação desses sítios e as visitas de escolas, universidades e público em geral, para visitar esses locais, demonstrando assim que aqueles locais ali representam e muito para nosso povo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de inúmeros retrocessos por parte do Governo brasileiro ao diminuir os investimentos para esse tipo de pesquisa, tivemos, recentemente, a criação da Lei que proíbe qualquer pessoa de destruir, demolir qualquer sítio arqueológico, bem como não pode causar qualquer tipo de dano às pinturas e objetos encontrados em qualquer sitio arqueológico, um importante órgão que está pra fiscalizar o cumprimento dessa lei é o IPHAN. .

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Após os estudos feitos através das diversas referências bibliográficas e também ao visitar por meio de aula a campo, o Sítio Arqueológico Alcobaça, ficou ainda mais perceptível o quanto a Arqueologia vem trazendo novos tesouros e riquezas para as nossas gerações e as futuras que vierem, colaborando por meio de inúmeras descobertas científicas elementos e fatores que o ser humano tanto se questiona e gostaria de obter respostas.

Estudar a Arqueologia e a Pré-história, bem como fazer visitas aos sítios arqueológicos é importante para compreender grandes aventuras que os nossos antepassados vivenciaram e que apesar das dificuldades que eles tinham para sua sobrevivência, conseguiram “evoluir” até as nossas sociedades contemporâneas. Leopoldo Gonzáles e Tânia Domingos descrevem em seu livro Cardemos da Antropologia

da Educação a seguinte frase: “O homem consiste essencialmente em

mudanças” (GONZÁLES e DOMINGOS, 2005, p. 41). E são, através dessas mudanças, hábitos, costumes, vestígios deixados pelos esses homens do passado, que a arqueologia e a pré-história têm em seu campo de pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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