Comportamento Cooperativo entre Cães
Gabriela Hemylin Ferreira Moura1, Karla Danielle Menezes Emerenciano1, Katherine da Silva Palmeira1, Raquel Andrade1,
Discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). E-mail: gabiliro@bol.com.br, kdmenezes@gmail.com, katherinepalmeira@yahoo.com.br, kell.fashionpink@hotmail.com
Resumo: O objetivo deste trabalho foi verificar comportamentos caninos ligados a ações cooperativas e as reações desses cães demonstradas durante este estudo. Foi notado que cães domésticos possuem uma natural "aversão à desigualdade", e que fazem "greve" se não forem tratados do mesmo modo como seus semelhantes. Para a realização do experimento os cães deveriam saber “dar a pata” e realizar o comando com um observador desconhecido. Foram testados quatro cães que atendiam essas exigências, acompanhados pelo dono, seu adestrador e por outro cachorro. Ao obedecer ao comando, os cachorros (avaliados isoladamente e em duplas) recebiam uma recompensa ou não recebiam nada pelo "trabalho" de dar a pata. Os resultados do experimento fornecem evidências para a presença de sensibilidade para uma distribuição injusta de recompensa entre cachorros. Os cães recusaram e hesitaram a responder ao comando humano sem recompensa e mostraram comportamento mais estressado em condição social (com presença de parceiro) devido ao contato visual comparado com a situação em que o cão era testado sozinho. A pesquisa revela ainda que os cães não tiveram essa reação apenas pelo fato de não estarem recebendo a comida. Na etapa em que os cães foram avaliados individualmente foi observado que estes realizaram o truque por mais de tempo antes de se desinteressarem. Essa pesquisa elucidou conhecimentos que podem auxiliar o manejo e adestramento de cães uma vez que explica aspectos do comportamento desses animais diante de situações em que eles são tratados de modo desigual desencadeando reações de estresse aos mesmos.
Palavras-chave: cães, comportamento, condicionamento, cooperação, injustiça, recompensa Introdução
Ao se tratar de cooperação em geral pode-se dizer que um elemento crucial para a evolução da interação entre os agentes envolvidos é a sensação de retorno pelos os esforços realizados, em relação a custos e ganhos. A injustiça parece ser um dispositivo poderoso para motivar seres humanos durante a execução de tarefas que exigem cooperação.
Investigações recentes indicam que primatas não humanos se recusam a participar na resolução de problemas e tarefas cooperativas, se para o mesmo esforço, uma “testemunha” (parceiro) obter uma recompensa e ele não. No entanto, pouco se sabe sobre cães, embora “aversão à desigualdade” seja uma reação também esperada em situações de cooperação ocorridas em outras espécies.
O presente trabalho teve por base um estudo realizado por pesquisadores austríacos, no qual foram testados cães (sozinhos e em duplas) que ao obedecer a um comando de “dar a pata”, recebiam uma recompensa ou não recebiam nada. Dar a pata é um comando usado, muito mais para divertir que para obediência, o que significa que geralmente é realizado em conexão com uma recompensa em uma situação descontraída. Sendo assim, dar a pata não exige muito esforço para o cão em termos de energia investida. Porém, quando recompensados injustamente os cães foram capazes de demonstrar sentimentos próximos ao que denominaríamos de inveja ou ciúme e a maioria deles paravam de dar à pata após quinze a vinte vezes.
Para comprovar tais resultados e registrar as reações desses animais diante de situações em que eles são tratados de modo desigual, o presente trabalho tem como objetivo recriar este estudo austríaco e verificar comportamentos caninos e suas reações ligadas a ações cooperativas.
Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido pelos alunos da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) no município de Natal/RN, que sempre em duplas, seguiram uma série de procedimentos
durante quatro dias de observações. Essa interação com os animais foi realizada aos sábados das 16:00 às 18:00 horas com intervalo de uma semana entre elas.
O experimento está organizado em sessões e etapas: as primeiras equivalem aos dias de observação e as segundas a uma divisão do experimento propriamente dito correspondendo a quatro etapas. Entre cada etapa do experimento foi dado um intervalo de cinco minutos.
Como pré-requisitos para a realização do experimento os cães deveriam saber “dar a pata” e realizar o comando com um observador desconhecido. Foram testados quatro cães que atendiam essas exigências, acompanhados pelo dono e seu adestrador. Ao obedecer o comando, os cachorros (avaliados isoladamente e em duplas) recebiam uma recompensa ou não recebiam nada pelo "trabalho" de dar a pata. Antes do início do experimento houve um aquecimento com os cães pelos seus adestradores para que os animais fossem estimulados a responder o comando ainda que por um desconhecido.
O experimento começou com avaliação dos cães sozinhos (etapa um). O experimentador (desconhecido) executou o comando “dar a pata” e recompensou o cão; nessa etapa, foi anotado quantas vezes ele realizou o comando e quantas vezes ele recusou dar a pata ao experimentador. Logo após, o cão não recebia a recompensa pela realização do comando (etapa dois). Sendo assim, observaram-se quantas vezes os cães isoladamente deram a pata sem ser recompensado e quantas vezes eles recusaram dar a pata ao experimentador.
Posteriormente os cães foram trabalhados em duplas e o comando “dar a pata” foi sempre executado intercaladamente entre um cão e o outro, ressaltando que o primeiro comando foi dado não ao cão avaliado e sim para o parceiro.
Na etapa três ambos receberam a mesma recompensa após o comando dar a pata. Foi registrado o número de vezes que responderam ou não.
No último momento (etapa quatro) um cão não recebia a recompensa e seu parceiro a recebia. Foi anotado o número de vezes que o cão testado (não recompensado) deu a pata e o número de recusas, na hora de responder ao comando.
Nas sessões foram observados os sinais de estresse (latir, coçar, bocejar, lamber a boca, evitar o olhar do parceiro) diante das diferentes situações avaliadas.
Foi utilizado durante o experimento máquina fotográfica digital, filmadora digital e um formulário no qual o seu preenchimento pelos proprietários dos animais trazia informações adicionais sobre o histórico de adestramento de cada cão do experimento.
Resultados e Discussão
Os resultados do experimento fornecem evidências para a presença de sensibilidade para uma distribuição injusta de recompensa entre cães. Os cães recusaram e hesitaram a responder ao comando humano sem recompensa e mostraram comportamento mais estressado em condição social (com presença de parceiro) devido ao contato visual comparado com a situação em que o cão era testado sozinho. Os cães também apresentaram altos níveis de estresse, aumentando o olhar para o parceiro quando esse foi recompensado e eles não.
Sobre os cães testados sabe-se que com premiação 100% dos animais responderam ao comando individualmente. O mesmo ocorreu com os cachorros quando trabalhados em duplas.
Porém, houve diferenças entre um cão que não recebeu recompensa na presença do parceiro que a obteve, comparando com a situação em que o cão testado está sozinho sem recompensa.
Quando dois cães, um ao lado do outro, foram requisitados a dar a pata para um dos pesquisadores que os recompensava de forma injusta (um cão realizava o truque e o outro cão é que recebia a guloseima) ele se negava a realizar o truque novamente, além de demonstrar sinais de estresse (se coçar, lamber, inquietação, desviar o olhar, latir, etc) revelando diante a intensidade dessas reações, que ver o parceiro ser recompensado é mais desgastante que não ser premiado estando sozinho.
A pesquisa revela ainda que os cães não tiveram essa reação apenas pelo fato de não estarem recebendo a comida. Na etapa em que os cães foram avaliados individualmente foi observado que estes realizaram o truque por mais de tempo antes de se desinteressarem. Os cães isoladamente responderam ao comando 24 vezes num total 60 tentativas sem receber nenhuma recompensa. Quando em duplas esse valor cai para 16 vezes justificando o que foi explicitado anteriormente.
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Ficha Cão
Nome Cão: Ruan
Nome Proprietário: Ana Rabelo
Idade: 1 ano e 6 meses
Raça: Maltês Sobre o Adestramento
Petisco preferido: Bifinho Tempo de adestramento
4 meses Comandos assimilados Junto
Senta Deita Fica Aqui Dar a pata Ficha Cão
Nome Cão: Dona
Nome Proprietário: Danielle Lyra
Idade: 1 ano
Raça: Maltês Sobre o Adestramento
Petisco preferido: Bifinho Tempo de adestramento
3 meses Comandos assimilados Junto
Senta Deita Fica Aqui Dar a pata Ficha Cão
Nome Cão: Fiona
Nome Proprietário: Nycole Sissinano
Idade: 2 anos
Raça: Border Collie
Sobre o Adestramento
Petisco preferido: Salsisha Tempo de adestramento
15 a 20 dias Comandos assimilados Senta
Ficha Cão
Nome Cão: Pitinha
Nome Proprietário: Nycole Sissinano
Idade: 2 anos
Raça: Border Collie
Sobre o Adestramento
Petisco preferido: Salsisha Tempo de adestramento
15 a 20 dias Comandos assimilados Senta