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MÉTODO PARA VIOLINO DE GAYLORD YOST: análise do aprendizado por meio de repetição e memorização

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Academic year: 2021

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THIAGO BRISOLLA

MÉTODO PARA VIOLINO DE

GAYLORD YOST: análise do

aprendizado por meio de repetição e

memorização

Projeto de Pesquisa apresentado a Comissão de Pesquisa da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para solicitar bolsa de Iniciação Científica.

Orientador(a): Prof(a). Dr(a) Eliane Tokeshi

São Paulo

2016

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Introdução

Embora a execução do violino seja uma arte e não uma ciência propriamente dita, sua natureza não exclui a possibilidade da observação científica e da aplicação de leis empiricamente estabelecidas na aquisição da habilidade motora por parte do estudante. Tal pensamento foi tomado muito seriamente pelo violinista e pedagogo Gaylord Yost (1888-1958), criador de uma linha de abordagem técnica do violino que ficou conhecida como “Yost System”, e que enxergava o estudo técnico do violino como um trabalho, acima de tudo, experimental. Este sistema, composto por 9 livros de exercícios1, toca em praticamente todos os aspectos técnicos do instrumento visando o desenvolvimento motor do estudante, tais como o de mudanças de posição de mão esquerda, o de golpes de arco, o do conhecimento espacial do espelho do instrumento, entre outros.

Talvez um dos aspectos mais relevantes sobre a eficácia do “Yost System” seja a economia do método frente a outros de técnica pura escritos até então. O sistema criado por Otakar Ševčík (1852-1934), por exemplo, anterior ao sistema de Yost, é composto por vários livros de exercícios de técnica pura, compreendendo uma imensa quantidade de exercícios sobre um mesmo tema, e, apesar de ainda hoje ser bastante utilizado, prima por uma abordagem por vezes excessivamente repetitiva de determinados padrões de digitação, padrões de mudança de posição, padrões de golpe de arco etc. Sendo assim, essa simplicidade do “Yost System” se, por exemplo, comparadas à abordagem de Ševčík pode gerar algumas questões: se o desenvolvimento da memória muscular do instrumentista para um determinado aspecto técnico do instrumento depende, a priori, da repetição de padrões, Yost teria seguido algum parâmetro ao estabelecer uma quantidade mais enxuta de repetições, tão significativamente inferior em quantidade à de seus predecessores? Ou até, essa quantidade de repetições teria sido empiricamente estabelecida? Poderia, inclusive, esse estabelecimento estar de alguma forma ligado aos até então recentes estudos empíricos da memória empreendidos pela nascente ciência da psicologia?

Sendo a repetição desses padrões, propostos pelos dois pedagogos, crucial para a memorização e retenção de determinadas informações de natureza motora, é notável o fato de que, pouco antes de Yost começar a implantar sua metodologia, a psicologia dava seus primeiros passos em direção ao estudo empírico da inteligência e da memória. Hermann

1 Bow and Finger Magic, Exercises for Change of Position, The Key to the Mastery of Bowing, The Key to

the Mastery of the Finger-board, The Key to the Mastery of Double Stopping, Scale and Arpeggio Studies, The Spivakovsky Way of Bowing, Studies in Finger Action and Position Playing, Studies in Pizzicato and Harmonics.

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Ebbinghaus (1850-1909) foi o primeiro pesquisador a investigar tais campos, e no final do século XIX havia proposto, através de experimentos, dois famosos modelos que explicariam o mecanismo de retenção de informações pelo ser humano: a Curva do Esquecimento, em que formulou a hipótese de que esta capacidade de retenção seguiria uma função exponencial2; e os estudos sobre o “Efeito da memória espaçada” (“Spacing effect”), em que se dedicou ao estudo da influência do tempo sobre a eficácia da acumulação de informações. Sobre esses estudos acerca do “Efeito da memória espaçada” é interessante notar como Ebbinghaus descobriu que, quando a exposição a informações de qualquer natureza é espaçada por períodos específicos, estas são bem melhor retidas do que quando essa exposição é repetida constante e insistentemente.

Esse conceito de espaçamento poderia estar refletido no sistema mais enxuto de Yost? Talvez, porém é muito difícil saber se Yost ou Ševčík tiveram contato com essas hipóteses de Ebbinghaus e de outros estudiosos. Seria interessante, no entanto, diante dos sistemas de repetições de padrões oferecidos por esses dois pedagogos, abordar a prática da técnica pura do violino sob o viés da bagagem oferecida pela psicologia, no campo da memória. Muito foi investigado neste tema desde Ebbinghaus, e pouquíssimo dessas informações foi aplicado no campo da prática instrumental.

Justificativa

Ao longo da história da prática do violino, foi criada uma grande variedade de abordagens técnicas, escolas, tratados e métodos. Alguns desses materiais foram abandonados no tempo, outros, modernizados, outros permanecem vivos como heranças perenes da tradição da prática do instrumento, e outros, ainda que bastante eficientes, permanecem pouco utilizados, sendo ofuscados pelos mais tradicionais. De qualquer maneira, apesar dessa gama de ferramentas pedagógicas construídas ao longo do tempo, nota-se uma carência de estudo no campo da excelência da prática do violino e da aplicabilidade dessas ferramentas. Este seria um campo que investigaria as bases psicológicas no âmbito da memorização e cognição envolvidas na aquisição dos padrões de exercícios propostos pelos notáveis pedagogos da tradição violinística, em busca de uma melhor eficácia no estudo. Em outras palavras, muito é falado sobre “o que” se estudar, e pouco sobre “como” se estudar, e para se falar sobre isso, faz-se necessário recorrer a

2 ; sendo R = retenção de uma informação, e = número de Euler, t = tempo e S = “força da

memória”, número obtido a partir de uma outra fórmula baseada na quantidade de repetições e exposição a uma determinada informação.

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pesquisas que abarcasse um recorte de intersecção entre os âmbitos supracitados da psicologia e o âmbito da prática violinística. Além disso, verifica-se que, inclusive, pesquisas que abranjam meramente esta intersecção entre psicologia cognitiva e música são escassas tanto no campo da prática instrumental quanto no da performance, sendo um campo que geraria frutíferas e pioneiras investigações. E é importante salientar que quando se fala da investigação no campo da “memória” musical, não se pretende simplesmente investigar os processos cognitivos envolvidos na memorização de uma partitura ou na capacidade de se tocar algo de cor, mas sim investigar os processos envolvidos na aquisição de determinadas habilidades predominantemente motoras, através dos exercícios compostos por padrões de repetição propostos por esses grandes pedagogos.

Ademais, tendo em vista o trabalho de Yost e suas proposições de padrões repetitivos mais enxutos, e sabendo que seus métodos se encaixam nesta categoria de trabalhos que, apesar da eficiência, permanecem pouco utilizados pelos professores violino, o estudo sobre o “Yost System” se mostra interessante. Primeiro porque a economia de seus métodos, como já dito, denuncia uma preocupação com excessos, e, portanto, uma preocupação diferente com a excelência do estudo; e segundo porque seria uma grande oportunidade de divulgar este método, que é ofuscado pela tradicionalidade do trabalho de seu contemporâneo Ševčík.

Objetivos

Considerando-se, portanto, tudo o que foi dito e, mais uma vez, este campo inexplorado de intersecção entre a psicologia cognitiva e o estudo da prática violinística, propõe-se um projeto de pesquisa cujo objetivo geral seja o de estudar sob a luz destas duas áreas o desenvolvimento da memória técnica do violinista a partir da prática repetitiva de padrões propostos pelos métodos dos pedagogos da área. Porém, a fim de se recortar o material a ser estudado, o objetivo específico desta pesquisa seria o de compreender a metodologia do

“Yost System”, no que concerne a fixação de aprendizado por meio de repetições,

apoiando-se em textos da área de psicologia sobre a memória, cognição e fixação de informações. Em uma próxima etapa, a pesquisa tem o objetivo de desenvolver uma sugestão de rotina de estudo desses métodos como finalidade de otimizar o aprendizado apoiando-se nos conhecimentos interdisciplinares.

Para esse recorte ser eficaz, propõe-se a análise de especificamente dois métodos de Yost integrantes do seu sistema que lidam primordialmente com a repetição: “Exercises for

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Change of Position”, que lida com a repetição de padrões de mudança de posição de mão esquerda; e o método “The Key to the Mastery of the Finger-board”, que lida com repetição de padrões de interrelação entre os dedos da mão esquerda. Ambos os métodos exploram o espaço do espelho do instrumento, o que envolveria, principalmente, o estudo da memória tátil e espacial, além da memória auditiva, que está sempre envolvida no estudo da prática musical.

Metodologia

A pesquisa se dará primeiramente através do levantamento bibliográfico sobre Yost e sobre seus materiais que versam acerca dos assuntos de mudança de posição e de interrelação entre os dedos - que seria a memória tátil do distanciamento entre dedos nas diversas posições do espelho - e que se utilizam da repetição de padrões como locomotiva para a fixação. Paralelamente a isso, iniciar-se-á um levantamento bibliográfico sobre materiais do campo da psicologia relacionados aos processos de memorização, a priori com ênfase nos processos motores e auditivos, aos processos propostos por Ebbinghaus e seus sucessores, e também um levantamento de pesquisas atuais na área da memorização musical. Posteriormente, será iniciado um levantamento bibliográfico sobre definições e metodologias acerca da prática da mudança de posição e interrelação dos dedos. Em outras palavras, uma pesquisa sobre como outros pedagogos do violino propõem, definem e explicam o aprendizado destes dois tópicos.

Numa segunda etapa, iniciar-se-ia um estudo mais profundo sobre a metodologia de Yost, em que se analisaria de que maneira funciona este método, quais são e como funcionam suas propostas de fixação. Sob a luz dos textos levantados na área de psicologia, seria investigado quais faculdades da memória estariam sendo estimuladas pelas repetições no processo de estudo deste método.

Numa terceira etapa, sob a clareza do material levantado, procurar-se-ia propor um esquema de prática eficaz deste método, no concerne rotinas e abordagens, que tentasse satisfazer tanto as informações obtidas no campo da psicologia como as do campo da prática instrumental.

Cronograma

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Resumo

No estudo diário do instrumento, os violinistas, de uma maneira geral, em seus livros se deparam mais com o conteúdo do que deve ser estudado do que com a forma de organizar e otimizar o estudo. Essa pesquisa investiga os métodos de Yost, que apresentam uma proposta de aprendizado de mudança de posição e interrelação de dedos mais sintética. Para compreender sua metodologia e recomendar um sistema de utilização, buscaremos o amparo da psicologia, com enfoque nos conceitos de Hermann Ebbinghaus que explica, entre muitas outras coisas, o aprendizado, a fixação de informações e a memória. Por meio de levantamento bibliográfico e estudo prático e analítico dos métodos, este projeto de pesquisa propõe verificar se uma união entre as áreas pode auxiliar na conquista de um estudo eficiente e de qualidade.

8/16 9/16 10/16 11/16 12/16 01/17 02/17 3/17 4/17 5/17 6/17 7/17 Levantamento bibliográfico X X X Estudos sobre conceitos na área da psicologia X X X Estudo da metodologia de Ševčík e outros pedagogos X X Estudo da metodologia Yost X X X X Elaboração de rotinas de estudo de Yost X X X Redação final da pesquisa X X X

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Bibliografia

BADDELEY, Allan et al. Memória. Trad. Cornélia Stolting. Porto Alegre: Artmed, 2011. BARBACCI, R.. Educación de la memoria musical. Buenos Aires: Ricordi, 1965.

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YOST, Gaylord. Exercises for Change of Position. Pittsburgh: Volkwein Bros. Inc., 1928. Partitura.

YOST, Gaylord. The Key to the Mastery of the Finger-Board. Boston: Boston Music Co. 1934. Partitura.

Referências

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