Estudo da qualidade do ar interior em creches e
infantários (projeto ENVIRH)
João Carlos Viegas, Manuela Cano, Susana Nogueira, Ana Luísa Papoila, Maria do Carmo Proença, Daniel Aelenei e Nuno Neuparth
OBJETIVO
Obter dados sobre a qualidade do ambiente interior em creches e
jardins de infância de modo a estudar a sua relação com a
ventilação dos locais e a saúde das crianças que os frequentam.
Tarefas específicas
1. Caraterísticas dos edifícios e padrões de ventilação
2. Avaliação da qualidade do ambiente interior
Universo Lisboa – 48 escolas Porto – 40 escolas Fase I Lisboa – 25 escolas Porto – 20 escolas
Fase II
Lisboa – 10 escolas Porto – 9 escolas
Fase III
Metodologia
de levantamento
• Dados recolhidos
– Localização
– Ocupação
– Caraterização da envolvente do edifício – Ventilação do edifício
– Climatização do edifício
– Aquecimento de águas sanitárias
– Cocção de alimentos
– Outras fontes de poluentes
– Patologias relacionadas com o
aparecimento de fungos e/ou bolores
– Práticas dos utilizadores – Opinião dos utilizadores
• Medição de CO2 (3 salas por escola,
Metodologia
•
Foram estudadas 143 salas de
atividade (82 em Lisboa e 61 no
Porto):
– Data e instante de início da medição,
– Área e pé-direito da sala, – Tipo de janelas,
– Posição das folhas das janelas (abertas ou fechadas),
– Número de crianças e adultos
presentes,
– Idade do grupo, – Temperatura do ar,
– Humidade relativa,
Metodologia
• Seleção de 20 das 40 escolas do Porto e 25 das 48 escolas de Lisboa:
– através do método de amostragem aleatória estratificada proporcional, em que o
número de elementos (escolas) selecionados em cada estrato (freguesias) é proporcional ao número de elementos existentes no estrato (tarefa 1).
• Seleção de 20 escolas das 45 consideradas na fase preliminar:
– foi efetuada uma análise de clusters através de um modelo hierárquico (método de Ward) com algumas das variáveis medidas no interior, nomeadamente teor médio de CO2, temperatura média e humidade média.
• Através do teste de Mann-Whitney:
– foi confirmada a diferença, com significado estatístico, entre as escolas de cada um dos
clusters.
• Para as variáveis quantitativas, dada a existência de outliers e de distribuições assimétricas:
– foram utilizadas a mediana e a amplitude interquartil (P25; P75) como medidas de localização e de dispersão, respetivamente.
• Para as variáveis categóricas:
Metodologia
•
Foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman:
– para estudar a associação entre algumas das variáveis contínuas.
•
Para a comparação da distribuição destas variáveis:
– foram utilizados os testes de Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis (dois ou mais grupos
independentes, respetivamente).
•
Para estudar a associação entre variáveis categóricas:
– foram utilizados os testes de Qui-Quadrado ou, sempre que necessário, o teste exato de
Fisher.
•
Para aprofundar o estudo da associação entre os níveis de CO
2e as
caraterísticas que se relacionam com a ventilação e que podem influenciar a
QAI:
– foram ajustados vários modelos de regressão linear simples e múltipla, considerando como variável resposta o teor de CO2.
•
Foi considerado:
– um nível de significância α = 0,05 e
– a análise dos dados foi efetuada com os programas SPSS 15.0 (Statistical Package for the Social Sciences, Chicago, Illinois, USA) e STATA (StataCorp. 2011. Stata Statistical Software: Release 12. College Station, TX: StataCorp LP.)
Características dos sistemas de ventilação e
climatização
Lisboa Porto Frequência absoluta Frequência relativa Frequência absoluta Frequência relativa Tipo de sistema de Ventilação Mecânica 0 0% 1 5% MistaExaustão mecânica na cozinha 19 76% 13 65% Exaustão mecânica na cozinha e
i.s. 1 4% 4 20%
Exaustão mecânica na i.s. 0 0% 1 5%
Natural 5 20% 1 5% Práticas de Ventilação Declaradas pelos Utilizadores Janelas Abertas Inverno 11 44% 2 10% Primavera / Outono 13 52% 6 30% Verão 23 92% 18 90% Tipo de Sistema de Climatização Aparelhos autónomos 23 92% 13 65%
Centralizado com fluido permutador de calor 2 8% 7 35%
Fonte de Energia Eletricidade 23 92% 13 65%
Gás 2 8% 7 35% Existência de Climatização Com aquecimento 22 88% 20 100% Sem aquecimento 3 12% 0 0% Com arrefecimento 20 80% 7 35% Sem arrefecimento 5 20% 13 65%
Teor de CO
2
nas salas de atividade
(Lisboa)
8% 40% 40% 12% 0% 20% 40% 60% 80% 100% < 1800 1800/2699 2700/3599 > = 3600 CO2[mg/m³]Teor de CO
2
nas salas de atividade
(Porto)
5% 45% 30% 20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% < 1800 1800/2699 2700/3599 > = 3600 CO2[mg/m³]Teor de CO
2
versus tipo de vedante da janela
•
Verificou-se que existe uma
associação significativa (p =0.012)
entre o teor de CO
2no ambiente
interior e o tipo de vedante
utilizado nas janelas (com as
janelas fechadas).
•
O tipo de vedante tem uma
influência determinante na
permeabilidade ao ar das janelas,
pelo que influencia a taxa de
ventilação e, assim, a QAI.
Diferença significativa
Sem vedantes Vedantes de borracha Vedantes de pelúcia D ió xi d o d e ca rb o n o [ p p m ]
Teor de CO
2
versus tipo de vedante da janela
Diferença significativa
•
Verificou-se que existe uma
associação significativa (p =0.012)
entre o teor de CO
2no ambiente
interior e o tipo de vedante
utilizado nas janelas (com as
janelas fechadas).
•
O tipo de vedante tem uma
influência determinante na
permeabilidade ao ar das janelas,
pelo que influencia a taxa de
ventilação e, assim, a QAI.
D ió xi d o d e ca rb o n o [ p p m ]
Sem vedantes Vedantes de borracha
Vedantes de pelúcia
Teor de CO
2
versus tipo de vedante da janela
Diferença não significativa
•
Verificou-se que existe uma
associação significativa (p =0.012)
entre o teor de CO
2no ambiente
interior e o tipo de vedante
utilizado nas janelas (com as
janelas fechadas).
•
O tipo de vedante tem uma
influência determinante na
permeabilidade ao ar das janelas,
pelo que influencia a taxa de
ventilação e, assim, a QAI.
D ió xi d o d e ca rb o n o [ p p m ]
Sem vedantes Vedantes de borracha
Vedantes de pelúcia
Teor de CO
2
versus posição da folha da janela
•
Verificou-se que existe uma
associação significativa (p <0.001)
entre o teor de CO
2no ambiente
interior e a posição das folhas das
janelas (abertas ou fechadas).
D ió xi d o d e ca rb o n o [ p p m ]
Tipo de folha móvel Posição das folhas Total de salas Abertas Fechadas Batente 9 59 68 13.2% 86.8% 100% Correr 13 22 35 37.1% 62.9% 100% Basculante 22 12 34 64.7% 35.3% 100% Total de salas 44 93 137 32.1% 67.9% 100%
Procedimentos de ventilação observados
versus tipo de folha móvel
•
Observou-se que se
mantêm abertas mais
folhas basculantes do que
folhas de correr ou de
batente; esta diferença é
estatisticamente muito
significativa (p <0.001).
METODOLOGIA da fase II
• O dióxido de carbono e monóxido de carbono foram determinados por leitura
direta utilizando o Photoacoustic Multi-Gas Monitor INNOVA
• As colheitas de microrganismos viáveis foram efetuadas com recurso ao amostrador
MAS-100 utilizando como matriz de colheita placas com Malt Extract Agar, Trypticase Soy Agar e Mac Conkey Agar para fungos, batérias totais e batérias gram-negativas
• PM10 foram colhidas utilizando Personal Environmental Monitors da SKC e filtros
PTFE, montados em série com bombas de amostragem pessoais sendo os filtros analizados gravimetricamente.
• A determinação de formaldeído foi realizadas utilizando o método NIOSH 3500
(visible absorption spectrometry)
• Compostos orgânicos voláteis totais foram determinados por cromatografia gasosa
de acordo com a norma ISO 16000 - part 6
Parâmetros químicos nas salas das
creches/jardins de infância
Contaminantes químicos Mediana1 (mg/m3) Mínimo (mg/m3) Máximo (mg/m3) Referência (mg/m3) % de salasConc. >Ref. I/O
LISBOA(n=73) Dióxido de carbono 1850 827 5630 1800 53 2,20 Monóxido de carbono 0,630 0,275 7,5 12,5 0 1,23 PM10 0,143 <0.007* 9,01 0,15 49 1,13 COVTs 0,153 0,038 6,44 0,600 18 2,36 Formaldeído <0,02* <0,02* 0,09 0,100 0 -PORTO(n=52) Dióxido de carbono 2541 642 5647 1800 73 -Monóxido de carbono 0,339 0,036 0,920 12,5 0 -PM10 0,116 0,040 0,420 0,15 35 1,49 COVTs 0,114 0,036 0,920 0,600 4 3,65 Formaldeído <0,02* <0,02* 0,362 0,100 0
Contaminantes microbiológicos Mediana1 (UFC/m3) Mínimo (UFC/m3) Máximo (UFC/m3) Referência (UFC/m3) % de salas
Conc. >Ref. I/O LISBOA (n=73) Total de batérias 3115 260 26280 500 97 13,1 Fungos 498 4* 10512 500 49 1,0 PORTO (n=52) Total de batérias 4432 510 18770 500 98 48,8 Fungos 300 15 1555 500 19 1,2
1- Distribuição não-normal |*LD –Limite de deteção
Parâmetros microbiológicos nas salas das
creches/jardins de infância
Tipo de folha móvel Bsculante Correr Batente 5000,00 4000,00 3000,00 2000,00 1000,00 0,00 67 66 C O2 in te ri o r -C O2 e x te ri o r
Diferença entre as concentrações no interior e no exterior de acordo com o tipo de folha móvel das janelas
Distribuição do teor de CO
2
por tipo de folha
Tipo de pavimento P25 Mediana1 [mg/m3] P 75 Madeira e cortiça 0,20 0,97 3,56 Mosaico 0,05 0,12 0,67 PVC 0,08 0,12 0,82 1 - Distribuição não-normal Conforto térmico
Em 33 das salas de atividades estudadas obtiveram-se PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied) iguais ou superiores a 15%, a maioria das mesmas devidas à sensação de frio.
Comparação de simulações com medição de
curta duração por gases traçadores
• As taxas de ventilação obtidas na simulação foram similares às obtidas por
medição direta de curta duração pelo método de decaímento de gases traçadores.
• Verifica-se assim que o conjunto de dados e parâmetros inseridos no programa de
simulação CONTAM são coerentes com estas medições.
Localização
Temperatura Vento Taxa de renovação de ar
Interior Exterior Velocidade Direção Medição Previsão
Sala 2 19.0ºC 14ºC 4.89 m/s 235º 0.35 h-1 0.31 h-1
Comparação de simulações com resultados
obtidos pelo método PFT
Sala
Medição por PFT Caudais obtidos por simulação [m³/h] Idade média do ar local [h] Taxa de renovação [1/h] Volume da sala [m³] Caudal [m3/h]
Janela fechada Janela aberta
Total Do exterior Total Do interior E 1.23 0.81 70 56.7 15.1 10.5 44.7 32.8 D1 1.15 0.87 28 24.4 16.1 0.0 45.0 0.0 D 1.56 0.64 62 39.7 21.2 20.9 49.9 41.7 C1 1.16 0.86 42 36.1 11.7 7.5 44.1 6.7 C 1.53 0.65 59 38.4 11.5 11.2 118.9 108.1 B 1.41 0.71 71 50.4 8.9 2.8 86.2 48.9 A 1.06 0.95 66 62.7 1.7 0.3 38.1 15.6
Resultados – Efeito do rumo do vento
• A velocidade do vento foi mantida
constante (4.0 m/s).
Resultados – Efeito do rumo do vento
• O caudal de ventilação varia
fortemente com o rumo do vento e o vento tem um efeito mais significativo quando incide nas fachadas este (90°) e oeste (270°).
Conclusões
• Verifica-se que na maioria das creches/infantários não existem meios de ventilação
dedicados nas salas de atividade.
• Em consequência disso a QAI apresenta num número significativo de salas
analisadas alguns contaminantes acima dos valores de referência do RSECE.
• Espera-se que este projeto de investigação possa clarificar qual o impacte que a
QAI destes locais tem na saúde respiratória das crianças.
• A simulação computacional tem potencial para prever adequadamente a ventilação destes locais.
• Com base nos resultados de simulações computacionais estão a ser desenvolvidas
recomendações para melhoria da ventilação
– de carater contrutivo tendo em vista eventuais reabilitações ou construção nova;
– de procedimentos dos ocupantes, tendo em vista uma melhoria imediata sem alteração dos meios