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DIABETES MELLITUS GESTACIONAL E AS DIFICULDADES PARA O AUTOCUIDADO / GESTATIONAL DIABETES MELLITUS AND THE DIFFICULTIES FOR THE SELF-CARE

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DIABETES MELLITUS GESTACIONAL E AS DIFICULDADES PARA O AUTOCUIDADO GESTATIONAL DIABETES MELLITUS AND THE DIFFICULTIES FOR THE SELF-CARE DIABETES MELLITUS GESTACIONAL Y LAS DIFICULTADES PARA EL AUTOCUIDADO

Joice da Silva de Souza1

Angélica Yukari Takemoto2

RESUMO

Objetivo: compreender como gestantes diabéticas vivenciam as dificuldades no autocuidado. Método: pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, realizada junto a cinco gestantes com o diagnóstico de diabetes mellitus gestacional. Os dados foram coletados por meio de entrevista gravada em uma Clínica da Mulher, localizada no município de Guarapuava, centro-oeste do Paraná e submetidos à análise temática de Minayo. Resultados: quatro categorias emergiram a partir da análise dos discursos: 1) O controle da alimentação com o diabetes mellitus gestacional, 2) Alterações no padrão do sono e repouso, 3) Dificuldade na prática de atividade física e lazer e 4) As mudanças nas atividades de vida diária. Considerações finais: destaca-se a relevância da implementação de estratégias que norteiem a gestante diabética para a compreensão da importância do autocuidado por meio de ações diárias adotadas pelos profissionais de saúde, com o objetivo de controlar a doença, bem como favorecer a evolução saudável da gravidez e do parto.

Descritores: Gravidez de Alto Risco; Diabetes Gestacional; Autocuidado; Teoria de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem.

1 Enfermeira. Atua na Clínica de Doenças Renais. Guarapuava, Paraná. E-mail: joicessilvasouza@gmail.com 2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade Guairacá. Guarapuava, Paraná. E-mail: angelica.takemoto@hotmail.com

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ABSTRACT

Objective: to understand how diabetic pregnant women experience difficulties in self-care Method: This is a descriptive and exploratory qualitative study carried out with five pregnant women diagnosed with gestational diabetes mellitus. The data were collected through an interview recorded at a Women's Clinic, located in the city of Guarapuava, in the center-west of Paraná and submitted to Minayo's thematic analysis. Results: there were four categories emerged from the discourse analysis: 1) Control of diet with gestational diabetes mellitus, 2) Changes in the pattern of sleep and rest, 3) Difficulty in the practice of physical activity and leisure, and 4) Changes in the activities of daily life. Final considerations: the relevance of the implementation of strategies that guide the diabetic pregnant woman to understand the importance of self-care through daily actions adopted by health professionals, with the objective of controlling the disease, as well as favoring the healthy evolution of pregnancy and childbirth are highlighted.

Descriptors: Pregnancy, High-Risk; Diabetes, Gestational; Self Care; Nursing Theory; Nursing Care.

RESUMEN

Objetivo: comprender como mujeres embarazadas diabéticas vivencian las dificultades en el autocuidado. Método: investigación cualitativa, de carácter descriptivo y exploratorio, realizada con cinco mujeres embarazadas con el diagnóstico de diabetes mellitus gestacional. Los datos fueron recogidos a través de entrevista grabada en una Clínica de Atención a Mujeres, ubicada en el municipio de Guarapuava, centro-oeste del Paraná y sometidos al análisis temático de Minayo. Resultados: cuatro categorías emergieron a partir del análisis de los discursos: 1) El control de la alimentación con el diabetes mellitus durante el embarazo, 2) Cambios en el patrón del sueño y reposo, 3) Dificultad en la práctica de actividad física y ocio y 4) Los cambios en las actividades de vida diaria. Consideraciones finales: se destaca la relevancia de la implementación de estrategias que norteen la mujer embarazada diabética para la comprensión de la importancia del autocuidado a partir de acciones diarias adoptadas por los profesionales sanitarios, con el objetivo de controlar la enfermedad, así como favorecer la evolución saludable del embarazo y del parto.

Descriptores: Embarazo de Alto Riesgo; Diabetes Gestacional; Autocuidado; Teoría de Enfermería; Atención de Enfermería.

INTRODUÇÃO

A gestação é um fenômeno fisioló-gico, que geralmente transcorre sem intercorrências. Porém, em algumas situações, determinada parcela de mulheres pode ser acometida por algum agravo, caracterizando a gestação de alto risco. A gestação de alto risco é definida como qualquer distúrbio ameaçador à saúde da mãe e/ou do feto. Tal ocorrência pode ser exclusiva da gestação ou decorrente de alguma patologia preexis-tente da mulher(1).

Nesse contexto, insere-se o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), que é caracterizado por qualquer nível de

intolerância a carboidratos, resultando em hiperglicemia de intensidade variável e identificada pela primeira vez no decorrer da gestação(2). Sua incidência

vem aumentando ao longo dos anos, sendo considerada uma das intercor-rências mais frequentes durante a gravidez. No Brasil, estima-se uma prevalência de 2,4% a 7,2% nas gesta-ções de alto risco. Se não diagnosticada e tratada precocemente e de forma adequada, essa condição pode trazer um aumento considerável dos riscos perinatais(3).

Dado ao exposto é imprescindível destacar a relevância do autocuidado da mulher com diabetes durante o período gestacional, a fim de evitar possíveis

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complicações. Compreende-se autocuida-do como a capacidade que o indivíduo tem de cuidar de si mesmo, desempe-nhando atividades em seu próprio benefício, a fim de manter a vida, a saúde e o bem-estar próprio(4). Contudo, o

indivíduo na realização do autocuidado pode apresentar déficits, os quais são focos da Teoria Geral do Autocuidado, proposta por Dorothea Orem(5).

De acordo com esta teoria, é necessário que a própria pessoa, assistida e orientada por profissionais de saúde preparados, estabeleça ações indispensá-veis e confiáindispensá-veis para manter o controle das condições prejudiciais para o desen-volvimento e regulação do corpo humano. Assim, os profissionais precisam delegar funções ao paciente, a fim de que suas necessidades de saúde sejam satisfato-riamente atendidas(5).

Para auxiliar no cuidado das gestan-tes com DMG, todos os profissionais de saúde, em especial, o enfermeiro – por, na maioria dos casos, consistirem-se como o principal elo entre a comunidade e os serviços primários de saúde – devem estar capacitados para diminuir os déficits de autocuidado, orientando, acompa-nhando e planejando os cuidados, com o objetivo de atuar de maneira eficaz na assistência de enfermagem prestada à gestante diabética(6).

É consenso que gestantes com DMG devem se autocuidar durante a gestação no que concerne ao padrão alimentar e de sono-repouso, atividade física, elimina-ções fisiológicas e a necessidade de farmacoterapia(7). Entretanto, pouco se

sabe acerca das dificuldades que elas vivenciam durante este processo. Portan-to, espera-se que o presente estudo possibilite melhorias nas condições dos cuidados de enfermagem prestados às gestantes diabéticas ao se conhecer de maneira mais profícua suas principais dificuldades no autocuidado. Vale ressal-tar para a importância da educação em saúde, uma vez que o comprometimento das gestantes diabéticas com o

autocui-dado tem sido pouco relatado na literatura, o que aumenta os riscos de complicações relacionadas à patologia.

Assim, o presente estudo teve por objetivo compreender como gestantes diabéticas vivenciam as dificuldades no autocuidado.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, pautado no referencial teórico da Teoria Geral do Autocuidado proposta por Dorothea Orem. A pesquisa foi realizada em uma unidade de Clínica da Mulher, localizada no município de Guarapuava, centro-oeste do estado do Paraná. Esta unidade é referência no atendimento ao pré-natal de gestantes de alto risco do município.

Fizeram parte do estudo mulheres, selecionadas aleatoriamente, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ser gestante, independente do trimestre gestacional, aguardando por atendimento na referida instituição; possuir idade igual ou superior a 18 anos; e apresentar diagnóstico clínico confirma-do de DMG. Por outro laconfirma-do, não houve critérios de exclusão das participantes. O número de entrevistadas não foi predeterminado, mas sim definido a partir da saturação de dados(8).

A coleta de dados ocorreu no mês de setembro de 2014, após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Univer-sidade Estadual do Centro-Oeste, sob o CAAE nº 31609514.0.0000.0106. A abordagem à gestante foi realizada após a consulta de enfermagem, iniciando primeiramente pelo esclarecimento da pesquisa, seguida da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias de igual teor. As entrevistas ocorreram na própria unidade de saúde, em um local reservado para sua realização. O anonimato e o sigilo da identidade de cada participante foram

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preservados pela substituição dos seus nomes por codinomes de pedras preciosas, pois elas possuem grande valor devido a sua beleza e brilho, o que coincide com o período gestacional.

Para a entrevista semiestruturada foram utilizadas perguntas abertas e fechadas. As perguntas abertas foram baseadas na seguinte questão nortea-dora: Quais são as suas dificuldades para se cuidar com relação ao diabetes? Já as perguntas fechadas tiveram como intuito a caracterização das participantes do estudo. Sob a permissão da participante, as entrevistas foram gravadas em áudio e duraram, em média, 40 minutos.

Na sequência, os discursos foram ouvidos e transcritos integralmente. Posteriormente, os depoimentos foram submetidos à análise temática de Minayo para a organização das categorias temáti-cas(9). Este tipo de análise consiste em

identificar os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presen-ça signifique algo para o objeto analítico a ser alcançado. Operacionalmente, a análise temática desdobra-se em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos, e por fim, a interpretação(9).

Este exaustivo processo analítico resultou na identificação de quatro categorias, a saber: “O controle da alimentação com o Diabetes mellitus gestacional”, “Alterações no padrão do sono e repouso”, “Dificuldade na prática de atividade física e lazer” e “As mudanças nas atividades de vida diária”. RESULTADOS

Caracterização das participantes Participaram do estudo cinco gestantes, as quais se encontravam na faixa etária entre 24 a 35 anos. Três gestantes eram casadas e apresentavam baixa renda familiar, além de quatro gestantes serem multíparas. Quanto ao trimestre gestacional de descoberta do

DMG, quatro gestantes descobriram no primeiro trimestre gestacional e apenas uma descobriu no segundo trimestre gestacional.

O controle da alimentação com o diabetes mellitus gestacional

Após a análise dos relatos, observou-se que algumas gestantes, apesar de terem entendimento sobre a necessidade de uma dieta adequada, possuíam dificuldades para manter a alimentação equilibrada, em decorrência, sobretudo, das dificuldades de abandonar os alimentos preferidos, bem como do controle dos horários e do tipo de alimento consumido, como é possível verificar nas falas a seguir:

Eu gosto de comer muita coisa doce e pão. Daí agora na gravidez tenho que parar, ainda mais tendo diabetes (Rubi).

Eu sei que tenho que cuidar do que eu como, mas é ruim ficar toda hora cuidando do horário e do que eu tenho que comer... com diabetes, quase não consigo comer muita coisa (Jade).

Em contrapartida, algumas partici-pantes que também estavam sensibi-lizadas acerca da necessidade do controle alimentar, referiram mais facilidade para organizar a dieta alimentar. Um dos motivos que favoreceram esta maior organização foi a possibilidade de afasta-mento das atividades laborais, permitian-do que a gestante pudesse controlar melhor os horários da alimentação.

Eu tenho um caderninho, eu anoto tudo que eu tenho que comer e o horário, faço bem certinho (Ametista).

A nutricionista me passou o que eu podia comer e o que eu não podia comer [...] como fiquei em casa, eu podia controlar melhor a alimentação e os horários (Esmeralda).

Alterações no padrão do sono e repouso

As participantes relataram dificul-dades em ter uma noite de sono tranquilo. Algumas delas apontaram

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dificuldades para iniciar e/ou manter o sono de forma adequada em decorrência do aumento da barriga e dos movimentos fetais intra-útero.

A barriga me incomoda, daí o neném fica mexendo, me lateja as pernas. Eu demoro para conseguir dormir (Jade).

O bebê se mexe demais, daí a barriga incomoda. Não consigo dormir direito, minha maior dificuldade é essa (Pérola).

Além da dispneia relatada por uma das participantes deste estudo, outra dificuldade para que as gestantes mantivessem adequado padrão de sono e repouso durante a noite eram as complicações do DMG. Por exemplo, duas participantes atribuíram a dificuldade para dormir à nictúria.

Durmo bem pouco, em média, cinco horas por noite [...] me sinto sufocada, não tem lado nenhum que eu me ajeite [...] levanto toda hora para ir ao banheiro (Esmeralda).

Acho que por ter diabetes, parece que vou até mais no banheiro do que o normal, tenho muita vontade de fazer xixi (Ametista).

Dificuldade na prática de atividade física e lazer

A terceira categoria aglutina as falas das participantes, permitindo compreen-der as dificuldades observadas para praticar atividades físicas e para vivenciar momentos de lazer. No que tange à atividade física, por exemplo, as gestantes relatam dificuldades para manter a periodicidade dos exercícios.

De vez em quando eu caminho, mas não são todos os dias. Daí quando eu caminho é geralmente em torno de uma hora (Pérola). Às vezes tento fazer uma caminhada de manhã, mas não consigo fazer todos os dias. Mas também é só a caminhada, mais nada

(Rubi).

Por outro lado, verificou-se que as atividades de lazer também foram prejudicadas pelo mal-estar ocasionado pela gestação, conforme as falas a seguir:

Eu não saio de casa [...] eu só quero dormir, não tenho vontade de ir a lugar nenhum

(Jade).

Depois que eu fiquei grávida, não fui mais viajar, porque eu passo muito mal, me dá muito enjôo no carro (Ametista).

Para além das alterações fisiológicas da gestação, uma das participantes refere que sua dificuldade de sair de casa para realizar atividades de lazer, está atrelada ao DMG e às restrições alimentares que envolvem o autocuidado.

Como eu não consigo comer de tudo, como minha dieta é diferenciada, eu já nem tenho vontade de sair de casa [...] fico só em casa mesmo, aí é melhor, não preciso ficar passando ‘vontade’ de comer coisa que não posso (Esmeralda).

As mudanças nas atividades de vida diária

Nota-se que, as gestantes diabéticas entrevistadas referiram dificuldades em exercer suas atividades laborais e da rotina domiciliar diária. Algumas conse-guiram afastamento do trabalho, já outras, por dificuldades financeiras, precisaram se manter no trabalho, mesmo enfrentando problemas de saúde.

Tive que parar de trabalhar quando eu estava com três meses, não aguentava ficar em pé por muito tempo (Esmeralda).

Não pude deixar de trabalhar porque tem que ajudar na casa. Tenho muita dor e canseira, mas tem que ficar até o final (Jade).

Outro empecilho para o autocuidado das gestantes se relaciona à dificuldade delas conseguirem se ausentar do trabalho para realizar exames e consultas médicas. Ainda que pareça que para os empregadores não há problemas com a necessidade de realizar os cuidados pré-natais, existe uma auto-cobrança das gestantes por manterem-se no local de trabalho, exercendo suas funções.

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Eu tenho que ficar saindo do trabalho para ficar fazendo consulta médica e exames [...] eu sei que é importante, o pessoal do trabalho não liga, mas é muito ruim ficar saindo do trabalho tantas vezes [...] (Pérola).

Outra atividade da vida diária das mulheres que acabou sendo impactada pela gestação e especialmente pela presença do DMG se relacionava às tarefas domésticas, as quais não eram realizadas na frequência e da forma como elas desejavam.

Por conta de estar grávida e do Diabetes, as atividades de casa também foram modificadas, acabo não fazendo nada. Não posso erguer peso, não tenho disposição para fazer nada

(Rubi).

DISCUSSÃO

Por meio dos resultados apresenta-dos foi possível identificar que existem diferentes dificuldades para a execução e manutenção do autocuidado entre as gestantes diabéticas. Algumas dificulda-des estão relacionadas ao DMG e outras à própria gestação, com déficit no atendi-mento às necessidades humanas básicas, englobando a alimentação, sono e repouso, atividade física e lazer e as atividades de vida diária.

As dificuldades no autocuidado com a dieta foram comuns entre as gestantes diabéticas, haja vista que a modificação da alimentação é fator primordial para o controle dos níveis glicêmicos durante a vivência do DMG(10,11). Apesar dessa

dificuldade em adaptar o cardápio, as gestantes estavam sensibilizadas acerca da importância de se buscar o controle glicêmico e, portanto, de se manter uma dieta adaptada e restrita.

O controle glicêmico realizado a partir da dieta tem ligação direta com o bem-estar materno, desenvolvimento fetal e nutrição do neonato. Alguns autores assinalam que a dieta da mãe traz vitalidade ao recém-nascido, e pode

evitar possíveis complicações posterio-res(12). Nesse contexto, a finalidade da

orientação para uma dieta balanceada e correta é proporcionar à gestante uma alimentação rica e com todos os nutrien-tes de forma adequada. Recomenda-se a realização de seis refeições diárias, po-rém, com a restrição de carboidratos(10).

Por outro lado, verifica-se que a alimentação da gestante com DMG pode interferir significativamente no convívio social da mulher. Quando se trata da interação social, uma atenção especial deve ser dirigida à gestante diabética, pois um dos fatores que pode fazer com que a mesma se afaste das atividades sociais está relacionado às restrições alimentares impostas pela dieta. Para isso, a negociação do enfermeiro com a gestante mostra-se como uma estratégia que pode evitar prejuízos na vida social da mulher com DMG(11).

Outro déficit no autocuidado identifi-cado neste estudo diz respeito ao padrão de sono e repouso. Pela dificuldade da gestante em iniciar e manter um sono tranquilo, algumas delas apontaram dificuldades para descansar/dormir, o que pode aumentar o nível de irritabilidade. O repouso é um processo relacionado com o descanso e a restauração da condição normal do organismo humano. Logo, torna-se importante que a pessoa conheça o seu metabolismo para manter o seu equilíbrio homeostático, respei-tando as suas capacidades pessoais(13).

Dessa forma, uma noite de sono tranquilo é necessário para as gestantes se sentirem bem e relaxadas.

O padrão de sono e repouso alterado/prejudicado já foi mencionado em outro estudo como uma das necessidades humanas básicas, mais facilmente modificadas pela gestação(10).

Por conseguinte, na vigência dessa alteração a gestante pode apresentar falta de concentração e humor altera-do(10). Isto precisa ser considerado pelo

enfermeiro na consulta de enfermagem, que deve orientar a mulher quanto a

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estas mudanças e seus reflexos no cotidiano.

Ainda, entre as gestantes diabéticas, a nictúria e a urgência miccional parecem influenciar de forma significativa no padrão de sono. Isto porque, muitas mulheres com DMG relataram vivenciar essa situação. E, além de impactar sobre o padrão de sono e repouso, é preciso destacar que estas alterações urinárias podem ser consideradas fatores de risco importante para o desenvolvimento das infecções do trato urinário(14,15).

Na privação do sono, a literatura afirma que ocorre o aumento dos níveis de glicose, decorrente da diminuição do metabolismo do indivíduo e níveis elevados de cortisol(16). Ou seja, a

dificuldade em manter o padrão de sono para gestantes diabéticas pode significar mais do que cansaço no dia seguinte, já que este interfere significativamente no controle metabólico, na produção de glicocorticoides e no aparecimento da resistência à insulina(17).

As dificuldades relacionadas com a prática de atividades físicas e de lazer também parecem comprometer os aspectos de autocuidado da gestante diabética. Percebeu-se, nas falas, que a intolerância a atividade física foi bastante comum. Durante a gestação de alto risco com o diagnóstico de DMG, a atividade física de baixa intensidade é recomenda-da, uma vez que esta auxilia no controle glicêmico, possui efeito diurético e melhora a auto-estima. Sendo assim, a mulher deve ser orientada para praticar atividades físicas com um período máximo de 30 minutos, com a frequência de três a cinco vezes por semana(10, 18).

Porém, alguns cuidados são necessá-rios para a prática de atividades físicas de forma segura, na condição de DMG, tais como: fazer um adequado controle glicêmico capilar antes e após o exercício, ter carboidrato de rápida absorção no caso de hipoglicemia durante a atividade, evitar exercício durante o pico insulínico e realizar o exercício após as refeições,

quando ainda há uma maior disponibili-dade da glicose circulante(19). Essas

orientações devem ser repassadas as mulheres pelos profissionais de saúde, durante o acompanhamento de pré-natal. Especificamente sobre as atividades de lazer, estas podem estar relacionadas com a qualidade de vida das gestantes, pois as mesmas acarretam benefícios importantes, como a satisfação com a vida e a sensação de bem-estar(20). Sendo

assim, é importante o incentivo diário para participar das atividades de lazer, com o objetivo de sentimentos de aceitação e alívio diante da situação em que se encontram.

Quanto às atividades de vida diárias, sejam elas relacionadas ao trabalho ou aos afazeres domésticos, as gestantes diabéticas mencionaram importantes dificuldades de autocuidado. Um estudo desenvolvido em São Paulo, junto a 66 gestantes diabéticas, revelou que o domínio físico da qualidade de vida de um indivíduo inclui os aspectos relacionados à fadiga, bem como a capacidade para o trabalho. Essa característica pode estar comprometida diante da gestação complicada pelo DMG, o que reforça a prioridade por uma abordagem holística, no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade nos protocolos de conduta diante das gestações de risco(21).

Frente as inúmeras dificuldades que as gestantes com DMG enfrentam no autocuidado, o enfermeiro, por ser um profissional dentro da equipe de saúde preparado para trabalhar as questões de educação para saúde, deve assumir seu papel no acompanhamento integral a essas mulheres. Sua atuação deve envolver a elaboração de uma proposta de plano de cuidados que visa à promoção da saúde e a prevenção de agravos. Uma boa prática de educação em saúde e uma comunicação eficiente entre o enfermeiro e a gestante podem promover a qualidade de vida e a saúde, com foco nos aspectos emocionais e psicológicos durante o desenvolvimento da gestação(22).

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Ainda, é preciso ressaltar que a orientação à gestante deve ser de fácil entendimento e com uma linguagem acessível, tornando-se uma medida a ser providenciada para se promover uma boa educação em saúde. Tal situação possi-bilita uma melhor qualidade de vida e condições de saúde apropriadas à pessoa com DMG(23).

Portanto, enfatiza-se a necessidade de profissionais qualificados para o atendimento dessa população ainda na atenção primária, local onde as mulheres com DMG geralmente realizam o acompa-nhamento da gestação de alto risco. Uma opção que pode ser incorporada nas unidades compreende a capacitação dos profissionais para o atendimento pré-natal de alto risco, o que facilitaria a detecção precoce dos casos que necessitariam de um cuidado de maior complexidade.

Há a necessidade de o profissional esclarecer à mulher que a patologia pode ser controlada, bem como suas complicações evitadas, desde que elas estejam envolvidas e comprometidas com atitudes de autocuidado. Ou seja, quanto mais atendimentos e consultas de enfer-magem essa usuária tiver à disposição, maior será o esclarecimento da mesma para o autocuidado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do presente trabalho, observou-se algumas dificuldades que as gestantes diabéticas apresentam para o seu autocuidado, principalmente referen-te à alimentação, sono e repouso, atividades físicas e de lazer e as alterações nas atividades de vida diárias.

Sendo assim, destaca-se a relevância da implementação de estratégias que norteiem a gestante diabética para a compreensão da importância do autocuidado por meio de ações diárias

adotadas pelos profissionais de saúde, com o objetivo de controlar a doença, bem como favorecer uma evolução saudável da gravidez e do nascimento do bebê.

Para tanto, o enfermeiro deve utilizar enfaticamente a prática de educação para a saúde, abordando os sinais e sintomas do DMG, suas complicações, os riscos de uma possível hipoglicemia, as ações que possibilitem um melhor autocuidado, entre outros. Porém, é importante que esse profissional certifique-se de que as orientações foram compreendidas por meio de um acolhimento empático, a fim de garantir um bom controle glicêmico e a adesão ao tratamento proposto.

É preciso considerar que o baixo número de participantes, devido à pouca quantidade de gestantes com DMG duran-te a coleta de dados, pode constituir-se uma limitação importante deste estudo. Porém, acredita-se que os resultados encontrados contribuíram de forma significativa para o aprofundamento da temática, gerando um importante conhe-cimento das dificuldades encontradas pelas gestantes diabéticas no período gravídico. Tais informações representam um conhecimento valioso para o atendimento das necessidades de saúde dessa população de forma integral e humanizada.

Finalmente, sugere-se que novos estudos envolvendo a questão das atividades laborais e cotidianas das ges-tações de alto risco sejam desenvolvidos. Também, é preciso que se aumentem as pesquisas que investiguem o autocuidado de gestantes de alto risco por outras condições sociais e/ou patológicas, uma vez que os déficits de autocuidado nas gestações de alto risco podem surgir com maior frequência, dificultando a realização das atividades cotidianas das gestantes.

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Contribuição individual dos autores: Souza JS: contribuiu na concepção e projeto; análise e interpretação

dos dados; redação do artigo e análise crítica relevante do conteúdo intelectual. Takemoto AY: contribuiu na redação do artigo; análise crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação da versão final a ser publicada. Todos os autores declaram ser responsáveis por todos os aspectos do trabalho, garantindo sua precisão e integridade.

Submetido: 01/04/2018 Aceito em: 14/09/2018

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