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Vista do O AMOR TERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DE FERIDAS CRÔNICAS

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O AMOR TERAPÊUTICO NO TRATAMENTO

DE FERIDAS CRÔNICAS

Luciana Campos de Olivas

Ciliana Antero Guimarães da Silva Oliveira

Enfermeira, Especialista em Saúde Coletiva, Terapeuta Holistica

Enfermeira, Professora Titular das Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica Universidade do Vale do Paraíba, UNIVAP.

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RESUMO

Estudo qualitativo percorre um novo caminho no tratamento de feridas crônicas em direção a uma nova visão de cura em busca do bem estar físico e mental, minimizando a dor e o sofrimento humanos, mantendo o equilíbrio do corpo e da Alma. Para isso se fez necessário adentrar na história de vida de cada indivíduo, conhecendo o significado da ferida para as pessoas que a vivenciam. Adultos portadores de feridas crônicas do Espaço Saúde Irene Augusto, de Lorena SP (FATEA) se dispuseram a vivenciar e conhecer o amor terapêutico na perspectiva da Gestalt-terapia e da arte terapia, submeteram-se a uma entrevista semi-estruturada com as seguintes questões: Antes do amor terapêutico: o que a ferida significa para o senhor ou a senhora? Depois do amor terapêutico: o significado da ferida mudou para o senhor ou a senhora? Com o amor terapêutico, o que acrescentou em sua vida? Como falar de suas feridas é expressar seus sentimentos mais profundos (feridas da alma), é falar de si mesmo. Recorremos ao procedimento Desenho – Estória proposto por Gregg M. Furth. Os resultados apontam que esses indivíduos, antes de serem assistidos com amor, “viver com uma ferida” significa: dor; vergonha; sofrimento; dependência; nojo; estranheza; isolamento; rejeição. Após o tratamento do amor terapêutico, foram capazes de refletir mais sobre si mesmos e a esperança de uma vida melhor. Observamos também uma forte relação da ferida física com a ferida emocional, a chamada “ferida da Alma”.

PALAVRAS-CHAVE:

Ferida crônica, Qualidade de vida, Sentimentos.

ABSTRACT

Summary qualitative study takes a new path for treating chronic wounds toward a new vision of healing in search of physical and mental well-being, minimizing pain and human suffering, maintaining the balance of body and soul. This became necessary to enter the life history of each individual, knowing the meaning of the wound for people to experience. Adults with chronic wounds of space Health Irene Augustus, Lorraine SP (FATEA) were willing to experience therapeutic and know love in the perspective of Gestalt Therapy and art therapy underwent an interview structured way with the following issues: before love therapeutic: what the wound meant for Mr or Mrs? After love therapeutic wound: the meaning changed to Mr or Mrs? With love, which added in your life? How to talk about his wounds is to express his feelings most deep (wounds of the soul) is talking about himself. We used the procedure proposed by Story Design – Gregg m. Furth. The results suggest that these individuals before being assisted with love, "living with a wound" means: pain; shame; suffering; dependency; disgust; strangeness; isolation; rejection. After the therapeutic treatment of love, were able to reflect more about themselves and the hope of a better life. We also have a strong relationship of physical wound with emotional wound, called "soul wound".

KEY WORDS:

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INTRODUÇÃO

O significado da palavra ferida ultrapassa a simples definição da continuidade da pele. Ao percorrer a história encontramos como sinônimo de ferida a palavra “chaga” que por definição significa: coisa que penaliza, desgraça, aquilo que deixa cicatriz física e na “alma”. Dessa forma, o cuidar da ferida de alguém vai além dos cuidados gerais ou a realização de um curativo. (DANTAS, 2003; SILVA, FIGUEREDO, MEIRELES, 2007)

A palavra ferida descreve também uma ruptura nos tecidos do corpo, tendo como causas as injúrias ou violência externa: uma vez que interrompe a integridade da pele e é considerada uma imperfeição.

Embora as lesões manifestem-se inicialmente no corpo biológico, repercutem nos planos psicoemocional e social das pessoas, podendo ser observadas, quando há dificuldade de retorno na cicatrização das feridas crônicas. (CARVALHO, SANDIGURSKY, VIANA, 2006)

As feridas podem ser classificadas em agudas e crônicas, sendo as crônicas aquelas onde há déficits, como resultado de uma lesão duradoura ou, com reincidência frequente; pode persistir por meses ou anos e, ocasionalmente, até podem durar toda a vida. (DEALEY 2001 apud FAGUNDES, FERRAZ, PRADO, CARVALHO, MAIA 2003)

Os seres humanos sempre enfrentam crises, mudanças e instabilidades; sejam elas quais forem, os nossos alicerces estão em ruínas. Sentimo-nos impotentes e incapazes de transformar essas situações conflituosas. Ficamos presos a uma relação distorcida, ao invés de integrarmos, ficamos divididos entre a consciência e sentimentos;isso contribui para desenvolvermos uma baixa auto-estima. (DANTAS, 2003)

Para que estas pessoas acometidas por lesões de pele (ferida crônica) venham a ter uma qualidade de vida melhor bio-psíquico-espirtual e sejam assistidas em sua integralidade, o amor é fundamental, porque é um instrumento extraordinário de cura interior (emocional). (Dethlefsen, Dahlke, 2007)

A Gestalt terapia e a arte terapia auxiliam nesse processo de conhecimento de quem somos nós, em busca de resgatar a identidade. A Gestalt terapia é um método psicoterapêutico que consiste em aumentar a consciência de si no indivíduo, na sua percepção da mente como uma configuração funcional uniforme, que não deve ser reduzida a fragmentos e partes. E a arteterapia é um método terapêutico que utiliza várias atividades artísticas, como desenho ou pintura; ajuda as pessoas a se expressarem e a aliviar problemas não resolvidos. Tudo isso contribui para aumentar a auto-estima e promove o bem-estar.

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Como o enfermeiro é um cuidador nato, se faz necessário que a assistência seja em sua totalidade. (Jonas, Levin, 2001)

OBJETIVOS

Objetivo Geral.

Identificar como o amor terapêutico pode auxiliar o portador de feridas crônicas, buscar uma qualidade de vida melhor.

Objetivos Específicos.

Mostrar a relação da ferida crônica, com a ferida da Alma (ferida emocional).

Identificar como a arte terapia pode auxiliar o portador de ferida crônica a expressar seus sentimentos em relação à ferida.

MÉTODOS

O presente estudo toma como foco o ser humano, a fim de aproximar o enfermeiro ao portador de feridas crônicas em questões que ainda dificultam o contato, impossibilitando que eles expressem seus sentimentos sobre a ferida e que possam refletir sobre a vida, ajudando a que tenham esperança de cura.

Vista a complexidade deste tema, será utilizada a abordagem qualitativa baseada no Amor, com o auxílio da Gestalt-terapia e tendo como instrumento de avaliação a arte terapia Desenho – Estória, proposta por Gregg M. Furth no contexto Junguiano.

PROCEDIMENTOS ÉTICOS E COLETA DE DADOS.

Solicitamos a autorização da coordenadora do Espaço Saúde Irene Augusto para a execução da pesquisa, sendo necessário o uso do espaço físico para a realização dos curativos por um determinado período e para a realização da coleta de dados.

Posteriormente à autorização, o projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, sem nenhuma restrição com o protocolo de aprovação nº. 196/96, analisado sob o aspecto ético – legal, atendendo às exigências do Conselho Nacional de Saúde.

O contato com os pacientes se deu no Espaço Saúde Irene Augusto, sendo os pacientes esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa e o sigilo quanto à sua identidade, bem como a possibilidade de desistirem da participação da

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mesma se assim quisessem. Os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo informados de que o estudo seria aplicado durante o tempo da realização dos curativos, diariamente.

ETAPAS DA COLETA

1ª. Etapa.

O contato com o paciente portador de feridas crônicas diariamente deu-se da necessidade de aproximação paciente/enfermeiro, em busca de maior conhecimento da realidade.

2ª. Etapa.

Realização dos curativos com momentos de reflexões sobre a vida, segundo a filosofia da Gestalt-terapia, cuja proposta é de que cada pessoa atinja uma real percepção de si, como um ser de relação. Tendo como meio de contato o diálogo, ele surge da interação.

3ª. Etapa.

Com o contato, percebemos a necessidade de um local mais reservado para refletir sobre questões mais profundas, porque falar da vivência de ser um portador de ferida é falar de si mesmo, e muitas vezes é doloroso.

4ª. Etapa.

Foram agendadas uma visita no domicílio de cada participante, para dar continuidade na coleta de dados. Para facilitar o diálogo em questão, foi utilizada a arte terapia, Desenho – Estória proposta por Gregg M. Furth.

5ª. Etapa.

Com o auxílio do desenho, foi realizada a entrevista com áudio, gravada, com as seguintes perguntas, elaboradas pelos pesquisadores.

1. Antes do amor terapêutico.

1.a - O que a ferida representa para o senhor (a)? 2. Após receber o amor terapêutico.

2.a- O significado da ferida mudou para o senhor (a)? 2.b- O que acrescentou em sua vida?

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Para a avaliação final foram comparados o Desenho – Estória com a entrevista.

INSTRUMENTOS.

Para a realização do desenho foram utilizados lápis preto, lápis de cores, folha A4.

Entrevista na qual utilizou-se um gravador, fita cassete para gravação. 7ª. Etapa.

ANÁLISE DOS DADOS.

7.1- Análises foram feitas através de desenhos espontâneos e são uma das ferramentas mais eficazes e acessíveis à disposição do analista. Um desenho desses é feito em poucos minutos, em qualquer lugar, desde um leito de hospital até uma sala de aula. As interpretações válidas de desenhos espontâneos podem ser feitas por qualquer pessoa responsável e compassiva – professor, pastor, médico, enfermeiro etc., desde que siga com cuidado as diretrizes que o autor Gregg M. Furth, baseado nas teorias de Jung, nos fornece. Três premissas são necessárias para a compreensão da linguagem dos desenhos. A primeira é a de que existe um inconsciente e que os desenhos originam-se no mesmo lugar em que se originam os sonhos. Somos indivíduos que se assemelham ao iceberg. Nessa análise de desenhos, não podemos deixar de lado marcas feitas por desenhos, considerando-as simples erros ou acidentes.

Depois de aceitar o inconsciente, a figura deve ser aceita como um método válido de comunicação com o inconsciente de maneira confiável para ajudar o paciente a crescer e se desenvolver. A validade de uma figura significa que ela demonstra (ou testa) o que pretende demonstrar (ou testar), por exemplo conteúdos reprimidos ou não desenvolvidos são ricos e relevantes. Em resumo, o conteúdo de um desenho está sempre embasado e bem fundamentado em fatos reais.

A terceira premissa é uma consideração essencial na interpretação de desenhos – que mente é corpo, psique é soma – estão inteiramente ligados. Por meio dessa conexão, eles se comunicam e cooperam entre si o tempo todo. Desenhos dessa natureza podem oferecer soluções para problemas difíceis. No trabalho com pessoas doentes, estes desenhos podem ser úteis ao ajudar o paciente a seguir sua jornada. Esta é a interpretação analítica dessas expressões; aprendemos a reconhecer nossas forças, conquistas e potenciais ainda não usados, levando-nos a um insight sobre quem realmente somos.

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Após o desenho e as reflexões dessas três premissas propostas por Gregg M. Fruth, foi possível realizar a gravação.

RESULTADOS

Estórias – “Contando sua vida” Análise individual.

Analisaremos primeiramente a entrevista semi-dirigida através de um questionário, juntamente com o desenho, confeccionado pelos sujeitos.

PERFIL DOS PARTICIPANTES.

O presente estudo foi desenvolvido com cinco pacientes/clientes do Espaço Saúde Irene Augusto, da FATEA, com idade entre 58 e 78 anos, sendo 3 mulheres e 2 homens.

Participantes Sexo Idade Tempo da Lesão

P1 – W. F. F 78 anos 28 anos P2 – H. A. O. F 63 anos 10 anos P3 – M. C. T. F 62 anos 12 anos P4 – J. R. B. M 59 anos 10 anos P5 – N. A. S. M 58 anos 05anos Tabela I

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Quadro I

Questões Participantes

1) Antes do Amor Terapêutico o que significava a ferida para o Sr. ou a Sra.?

P1 – “Incômodo, não podia sair porque estava vazando, muitas dores, sempre sem reclamar, porque Jesus estava comigo. Eu nunca reclamei, sempre alegre, trabalhando alegre.”

“Há muito tempo atrás, fiquei muito aborrecida com meu genro e filha. Precisei dormir lá, não tinha lugar, parti para a outra filha e fui muito bem recebida; não cometi nada e deixei passar. Também rezo e não tenho raiva. Trato como não aconteceu nada.”

“Uma filha morava comigo uns dez anos. Numa noite eles chegaram em casa e disse que ia mudar, porque o marido queria vender a casa e ia ser difícil arrumar uma casa correndo. Foi uma notícia muito forte, chorei muito (...) passei uns seis meses chorando, mas Jesus estava sempre comigo. Vendi, a casa e reparti o dinheiro e vim morar aqui.”

P2 – “Tristeza, não conseguia cuidar da casa, do meu netinho; por causa da diabete, precisei fazer uma operação, amputei os dedos do pé, fiz enxerto e deu rejeição; saiu umas bolas nos dedos, aí começou dar mal cheiro, não podia ir na igreja, tinha que colocar a cadeira lá fora para assistir a missa, as pessoas tampava o nariz. Aí eu afastava das pessoas. Passei a ficar em casa de vergonha, queria até morrer de tristeza. Era tão grande que não cuidava da minha ferida, até bicho apareceu.”

P3 – “A ferida representava para mim tristeza, mágoa, tudo. Imaginava que nunca mais fosse andar e vergonha de ficar perto dos outros, porque cheirava mal, parecia uma cratera. Eu tenho dois filhos excepcionais, um deles que tinha mais noção e trocava as faixas para mim, porque não tinha condição e da assistência para eles, e aí era assim: o maior que fazia a comida porque não agüentava ficar em pé.”

P4 – “A ferida representava tudo, eu sentia infeliz, vergonha dos outros, prejudicava no trabalho, não queria nem sair de casa porque minhas pernas eram horríveis e cheias de bolinhas vermelhas que pareciam sagu e muitas coisas mais.”

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P5 – “A ferida representava tristeza, nervosismo, acompanhada de dores, baixo astral; às vezes fui discriminado pelos companheiros de serviço e resolvi permanecer em casa, com muitas dores – chegou ao ponto de não conseguir mais cuidar de mim, até preparar a refeição era incômodo; para mim fazer minha limpeza pessoal. Tudo isso era difícil para mim. Fui discriminado por alguns funcionários do SUS de minha cidade, porque estava gastando muitas gazes, faixas e pomadas. Parei com o tratamento lá e resolvi continuar em outra cidade. Fui para casa de meu irmão continuar o tratamento. Para minha felicidade, nesta cidade tem um ambulatório de feridas. Lá fui recebido como gente, com respeito e amor. Falar da minha ferida era muito difícil, só consegui dizer que sentia muitas dores, e no fundo ia além das dores.

2) Após o Amor Terapêutico:

a) O significado da ferida mudou para o Sr. ou a Sra.?

P1 – a) “Sim, deu mais ânimo, porque depois de muito tempo achei que a ferida não iria fechar.”

P2 – a) “Mudou, eu senti mais à vontade, fui ``a missa, aproximei mais das pessoas. Com o Amor Terapêutico e sua ajuda comecei a cuidar de mim e que a cura depende de mim e do meu esforço. Passei a trocar as faixas, cuidar melhor da ferida e controlar a diabete. O que me ajudou a lutar foi a fé em Deus e você não tinha nojo de mim. Cuidou de mim como gente. Falar da minha ferida não foi fácil. Foi através do amor terapêutico e do seu carinho, e do desenho que fiz... comecei a falar de mim e até da minha ferida. P3 – a) “Com certeza tenho mais disposição para andar, lavar roupa, fazer comida. Com o Amor Terapêutico eu passei a cuidar de mim; comprar um desodorante, um batom, um brinco, para ficar mais incrementada. E a ferida está bem melhor, já consigo andar melhor.”

Observou-se nas conceituações contidas nos relatos dos participantes

vários aspectos relacionados à vivência de ser portador de ferida. Verificou-se que esVerificou-ses indivíduos sofrem tristeza, mágoa, discriminação, abandono, acompanhado de dores, o que contribui para a baixa auto-estima.

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P4 – a) “Mudou muito, me sinto outra pessoa, de bem com a vida. Antes não conseguia conversar com as pessoas olhando nos olhos e hoje faço espontaneamente. Graças ao Amor Terapêutico e às nossas conversas sobre a vida, percebi que minhas feridas tinham relação com a ferida emocional, “a ferida da alma”. Então comecei a pensar na minha história de vida. Há dez anos atrás, descobri que meu filho usava drogas. Eu caí numa tristeza muito grande. Não sabia lidar com a situação. Eu já bebia e passei a beber mais e as feridas aumentaram. Eu não tinha vontade de fazer nada e nem cuidar de mim mesmo. O que me ajudou foi o diálogo que tinha comigo. Com amor, nunca me discriminou. Quando perguntava se tinha parado de beber, eu dizia que sim, até que chegou no final da pesquisa teve uma conversa muito séria comigo e me disse que eu não estava mentindo para você, e sim para mim mesmo. Para mim, falar da minha ferida era difícil, eu tinha que falar de mim mesmo. Foi como o Amor Terapêutico e através do desenho que fiz consegui desabafar mais.”

P5 – a) “Estou quase curado. O significado continua o mesmo, com uma diferença: agora consigo falar de mim mesmo, porque como enfermeira cuidou de mim com carinho e dedicação. Quando estava fazendo curativo eu chorava de dor. Era até mal educado com você, e com amor e paciência continuava me ajudando, e que tudo era para o meu bem, e me fez entender que a cura depende de mim, do cuidado do meu corpo; comecei a cuidar mais de minha aparência visual, a fazer a barba e tomar banho com mais freqüência. O fato importante do Amor Terapêutico foi o contato de você comigo, através do diálogo e do carinho me trouxe a esperança de cura com esse tratamento. Deixei de fumar. Aconteceu algo desagradável e voltei a fumar, e quando perguntava sobre o cigarro eu mentia que não estava fumando e você percebeu a minha mentira e me disse que eu estava mentindo para mim mesmo. Prometi por mais uma vez parar de fumar. Com amor, conseguiu tocar em minha alma me dizendo: “não promete algo que não pode cumprir, mas pelo menos tente”. Com minha força de vontade – porque eu quero a cura de minha ferida – vou fazer o possível para não fumar. Mas só com amor não conseguia falar de minha ferida. Foi através de um desenho que fiz que consegui falar da minha ferida e expressar meus sentimentos.”

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b) O que o Amor Terapêutico acrescentou em sua vida?

P1 – b) “Atenção e amor que recebi ajudou muito. Percebi que tenho amigos e rezo sempre para eles.” P2 – b) “Agora quero ser feliz e ter uma vida melhor. Com o Amor Terapêutico aprendi a gostar mais de mim e cuidar mais da minha ferida. Ela não fechava, porque a ferida emocional não deixava, e foi o sofrimento da minha vida.!

P3 – b) “Acrescentou que agora estou mais feliz, alegre. O amor terapêutico me ajudou muito. Quando ia fazer o curativo a gente dialogava, trocava idéias; isso foi muito bom para mim. Agradeço a Deus e que ele tenha misericórdia de nós.”

P4 – b) “Com o Amor Terapêutico e com a graça de Deus já estou quase curado. Não sinto mais vergonha das minhas pernas, aumentou minha auto-estima, estou com a aparência mais saudável. Reconheci que sou alcoólatra mas quero deixar de ser para que minha casa se torne um doce lar. Vivo sozinho e às vezes sinto que vivo em uma cadeia, sem o carinho da família, porque minha esposa foi para outra cidade, cuidar do meu filho dependente de droga. O Amor Terapêutico me ajudou não ver só o passado, e sim pensar no futuro, amando a todos. Por isso vou lutar para ter minha família junto de mim e sermos mais felizes.”

P5 – b) “Agora sinto mais fezliz, nada mais de tristeza e baixo astral. Graças a Deus, em primeiro lugar, e ao Amor Terapêutico, estou bem melhor.”

Observamos, nas conceituações contidas no relato histórico de cada participante, todos marcados por tantos desamores da vida, furtos do abandono, da rejeição, preconceito, tristeza, angústias e dores... Tudo isso dificultava que eles expressassem os seus sentimentos mais profundos, que podem ser uma das causas do surgimento das lesões e que levam o indivíduo a perder a consciência de que são seres humanos, iguais a qualquer outro. A fé em Deus minimizou as dores desses indivíduos, como por exemplo P4, na sua resposta b) quando afirma: (...) “graças a Deus já estou quase curado (...)”; somente o amor é capaz de resgatar o que estava perdido, e foi através do contato, proposto pela Gestalt terapia, que é um processo básico de relacionamento, de interação, onde “o diálogo é que emerge quando eu e você buscamos o contato de forma autêntica”, como P3, também na sua resposta b): “(...) o Amor Terapêutico me ajudou muito. Quando ia fazer o curativo, a gente dialogava, trocava ideias. Isso foi muito bom para mim (...)” e com o apoio também da arteterapia – desenho, pinturas, etc. – que esses indivíduos

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conseguiram começar a se expressar e a avaliar os problemas não resolvidos, inclusive sentindo necessidade de cuidar de si mesmos, como no relato do

P5, b): “(...) foi através de um desenho que fiz, que consegui falar da minha

ferida e expressar meus sentimentos(...)”.

A relação da ferida física com a ferida emocional

P1 WF – No início recusava-se a desenhar, pois era difícil expor seus

sentimentos. Com amor e paciência resolveu se expressar. Quando perguntei o que fez, disse que era ela e o ex marido que jogavam cartas.

“Uma filha morava comigo uns dez anos. Numa noite eles chegaram em casa e disse que ia mudar, porque o marido queria vender a casa e ia ser difícil arrumar uma casa correndo. Foi uma notícia muito forte, chorei muito (...) passei uns seis meses chorando, mas Jesus estava sempre comigo. Vendi, a casa e reparti o dinheiro e vim morar aqui.” P1 – 1)

Em uma das nossas conversas, WF partilhou que há vinte e oito anos foi abandonada pelo esposo e foi nesta mesma época que surgiu a lesão.

Figura 1 – Desenho feito pelo paciente WF Figura 2 – Paciente WF no início do tratamento.

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P2 HAO – l) – Através do desenho observamos que a ferida a

impossibilitava de realizar suas tarefas cotidianas. “Tristeza, não conseguia cuidar da casa, do meu netinho; por causa da diabete, precisei fazer uma operação, amputei os dedos do pé, fiz enxerto e deu rejeição; saiu umas bolas nos dedos, aí começou dar mal cheiro (...)” 2) a) – “Falar da minha ferida não foi tão fácil. Foi através do Amor Terapêutico, do seu carinho e do desenho que fiz que comecei a falar de mim, e até da ferida.”

Figura 4 – Desenho do paciente HAO

Figura 5 – Paciente HAO no início do tratamento.

Figura 6 – Paciente HAO ao final do tratamento.

Após a confecção do desenho perguntamos o que tinha feito e disse que “desenhei uma árvore da felicidade, uma casa esculhambada, eu, a sobrinha e o netinho”. E quando perguntamos sobre o outro desenho, não soube dizer. Ficou pensativa e logo disse que “parece um caracol”. Avaliando a ferida física, o desenho tem a aparência de seu pé, porque esta informação está registrada em seu inconsciente, por isso não soube responder o que era.

P3 JAB – Levou uns quinze minutos para começar a confeccionar o

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Disse: “uma casa, dois coqueiros e uma cadeia”. Referente à casa, perguntamos o que estava escrito. Respondeu perguntando se não estávamos vendo. Provavelmente esta é uma das suas feridas emocionais. Notamos o que estava escrito: “doce lar”. Por isso não conseguia dizer, porque não condiz com sua realidade, pois vivia sozinho porque sua esposa estava distante, acompanhando o filho dependente de drogas, em outra cidade. O desenho dos dois coqueiros pode ter relação com suas feridas, pois se apresenta nos membros inferiores. Do outro lado do desenho fez uma cadeia. Quando perguntamos se não iria pintar, disse que “não merece pintura”. Isso retrata que se sente aprisionado. 2) b) – “Graças ao Amor Terapêutico e às nossas conversas sobre a vida, percebi que minhas feridas tinham relação com a ferida da alma (...)”

Figura 7 – Desenho feito pelo paciente JAB. Figura 8 – Paciente JAB antes do tratamento.

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P4 NAS – Ao confeccionar o desenho sentiu dificuldade, pois disse que

“nunca fui bom para desenhos”, mas insistimos que seria necessário e quando perguntamos o que desenhou disse: “uma casinha, um homem de braços abertos e outro com pernas esquisitas: uma mais grossa e outra mais fina”, simbolicamente tendo a aparência com a sua ferida física; desenhou também um copo riscado, que não mencionou. Por sabermos que ele foi alcoólatra, compreendemos porque ele riscou o copo. Isto está registrado no seu inconsciente, e é consequ ência de um emocional ferido. Também desenhou um celular com a palavra mãe, com a qual ele tem uma ligação. E ao término, disse “sonho com a liberdade”. Isso demonstra porque fez o homem de braços abertos.

Figura 10 – Desenho feito pelo paciente NAS. Figura 11 (ferimento paciente NAS antes do1° tratamento)

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Observamos que, através de cada história, deparamos com o emocional agredido, que muitas vezes pode ser apresentado através de uma ferida física. Quando o emocional não é curado, mesmo que esteja em processo de cicatrização, a ferida física pode retornar com mais força. Foi o que aconteceu com P4, NAS, ao retornar para a sua realidade do dia a dia. Após seis meses do seu retorno, como o emocional não foi tratado, a extensão da ferida foi bem maior que a anterior.

Figura 13 (ferida retorno - antes do tratamento)

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Foi retomado o tratamento com o Amor Terapêutico, após dez dias: Parece-nos evidente que o amor é um instrumento extraordinário no processo de cura.

CONCLUSÃO

Idealizamos esta pesquisa pensando na vida das pessoas que vivenciam as feridas crônicas e deparamos com sentimentos de abandono, rejeição, angústia, tristeza, ansiedade, desgosto da vida, distúrbios, traumas e deficiências físicas, além de abalos nervosos ou emocionais, que contribuem para o aparecimento de uma lesão, acarretando esgotamentos profundos.Tudo isso pode gerar outras consequências negativas para a saúde física, para o equilíbrio psicológico e emocional. Acreditamos que esses seres humanos possam vir a ter uma qualidade de vida melhor. É necessário que eles busquem o resgate de sua identidade, para que retomem sua vida social, e para tanto, é fundamental o amor, com o auxílio da Gestalt terapia e da arteterapia, pois elas têm o objetivo de resgatar no homem os sentimentos mais intrínsecos e mais profundos, com o intuito de norteá-lo nas novas descobertas, abrindo novos caminhos. É através da retomada da consciência de si mesmos que os portadores de feridas crônicas descobrem novas possibilidades de cicatrização, transformação e mudança.

“A doença é o grito de uma alma agredida.” (Peter Altenberg)

Tomamos a liberdade de questionar: será que os enfermeiros que assistem essas pessoas acometidas por feridas possuem uma visão holística, bio-psíquico-espiritual do indivíduo? Percebemos que na maioria das vezes os profissionais na área da saúde não querem ter vínculo com o paciente/cliente, dificultando assim o contato; consequentemente, a aceitação do tratamento e até a cura. Talvez seja por não terem experimentado ser um portador de ferida. Por isso não conseguem pensar na dimensão metafísica da lesão, que transcende o corpo físico e atinge os corpos espiritual, a alma, e emocional; diferentemente das feridas puramente físicas, que podem ser tratadas com produtos e medicamentos e técnicas que vão das mais simples, como limpeza de uma ferida, até as mais avançadas, como oxigenoterapia hiperbárica, a “ferida da alma”, que é guardada há 7 chaves. O enfermeiro, por isso, sendo um cuidador nato, deve tratar o indivíduo como um todo, sendo solidário, demonstrando respeito, afeto, sabendo ouvir sem medo, conversar para decidir juntos e compartilhar conhecimentos. Para isso é necessário que tenha um panorama geral da origem do paciente/cliente, e a partir daí traçar a sua intervenção para o bem estar e consequentemente obter a cura na sua integralidade. Portanto, o amor é um instrumento extraordinário de cura emocional e física.

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Tirar os espinhos do coração é curar nossas feridas.

Todos esses sentimentos fazem parte da vida cotidiana de homens e mulheres que a cada dia vivem mais oprimidos por feridas emocionais, resultantes do histórico pessoal e familiar, auto-condenações, rejeições de si mesmo e da própria história, entre outros. O que fazer diante de males que parecem tão poderosos? “A,MAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO” (Bíblia)

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Responsável pela submissão

Luciana Campos de Olivas Luciana_olivas@yahoo.com.br

Recebido: 28/11/2012 Aprovado em 15/12/2012

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