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Dinamica populacional de microrganismos e a conservação de alimentos

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE MATEM ´ATICA, ESTAT´ISTICA E COMPUTAC¸ ˜AO CIENT´IFICA

Departamento de Matem´atica Aplicada

Disserta¸c˜ao de Mestrado

Dinˆ

amica Populacional de

Microrganismos e a

Conserva¸c˜

ao de Alimentos

por

Roberta Regina Delboni

Mestrado em Matem´atica Aplicada - Campinas - SP

Orientador:

Prof. Dr. Hyun Mo Yang

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Agradecimentos

Aos meus pais, Jos´e Roberto e Palmira: foi com vocˆes que despertei o gosto pela Matem´atica. Agrade¸co pelo apoio imprescind´ıvel, pelo incentivo incondicional, pelo carinho, paciˆencia e compreens˜ao nos momentos dif´ıceis. Muito obrigada por tudo o que vocˆes tem me proporcionado!

Aos meus irm˜aos, Juliano e Emerson, pelo carinho, apoio e incentivo sempre.

Ao professor, Hyun Mo Yang, pela compreens˜ao, dedica¸c˜ao, e por todo o conhecimento e experiˆencia transmitidos durante uma trajet´oria que come¸cou na Inicia¸c˜ao Cient´ıfica, pela orienta¸c˜ao que permaneceu no Mestrado e espero continuar no Doutorado. Agrade¸co pela paciˆencia durante todos esses anos, pelo incentivo e pela possibilidade de trabalhar com Biomatem´atica e poder reunir em um mesmo trabalho duas ´areas t˜ao fascinantes.

Ao professor Marco Antˆonio Teixeira e professor Alain Jacquemard, pelas sugest˜oes para o aprimoramento deste trabalho.

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As pesquisadoras Izildinha Moreno e Renata Bromberg, por “abrirem portas”, anos atr´as, para realiza¸c˜ao de est´agio no Instituto de Tecnologia de Alimentos, uma pequena experiˆencia, por´em fundamental, para instigar a curiosidade por um assunto t˜ao interessante e princi-palmente, pela pesquisa. `A Izildinha pela aten¸c˜ao, prestatividade e contribui¸c˜oes para apri-moramento deste trabalho, e pela possibilidade de um novo trabalho colaborativo futuro.

Ao professor, Wilson C. Ferreira Jr., por compartilhar seu conhecimento em uma palestra sobre o tema “quorum sensing”, que despertou o meu interesse pelo assunto e fez mudar um

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pouco o rumo deste trabalho.

Aos professores do Instituto de Matem´atica da Unicamp (IMECC), aos que me incenti-varam e motiincenti-varam j´a na gradua¸c˜ao.

Aos meus queridos amigos do Laborat´orio Epifisma: Licia, M´arcio, Andressa, Norberto, Salvador, ˆAngelo. Juntos constru´ımos um ambiente agrad´avel e motivador, que contribuiu diretamente para a realiza¸c˜ao deste trabalho. Muito obrigada pela amizade e pela cola-bora¸c˜ao com discuss˜oes, programas e troca de informa¸c˜oes.

Aos novos integrantes do grupo: Lorena, C´ıntia, Rodrigo e M´arcio e `a todos aqueles que passaram pelo Epifisma: bi´ologos, m´edicos, matem´aticos, f´ısicos e estat´ısticos, comparti-lhando conhecimento atrav´es de semin´arios e palestras.

`

A todas as amizades conquistadas durante a gradua¸c˜ao e mestrado. As horas e finais de semana que compartilhamos e nos dedicamos aos estudos valeram a pena!

`

A secret´aria da SPG Tˆania, pela disposi¸c˜ao e prestatividade em esclarecer minhas in´umeras d´uvidas em processos burocr´aticos.

Aos funcion´arios da biblioteca, da inform´atica, da limpeza e do caf´e, que fazem parte do nosso cotidiano e que fazem a diferen¸ca pelo simples “Bom dia” com um sorriso.

`

A Funda¸c˜ao de Amparo `a Pesquisa do Estado de S˜ao Paulo (FAPESP), pela concess˜ao da Bolsa de estudos e apoio financeiro.

Aos colegas do grupo de ora¸c˜oes da Unicamp, pelo apoio nos momentos dif´ıceis e pela for¸ca espiritual.

Agrade¸co sobre tudo `a Deus, pela minha vida e de todas essas pessoas que fazem parte dela, por tudo que tem me proporcionado e por me guiar em todos os meus caminhos, renovando minhas esperan¸cas.

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vii

“Gra¸cas, por´em, a Deus que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de n´os, manifesta em todo lugar a fragrˆancia do seu conhecimento”.

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Um grande desafio para a ind´ustria de alimentos ´e, por um lado, atender a demanda dos consumidores por alimentos minimamente processados, livres de aditivos qu´ımicos e submeti-dos a tramentos t´ermicos mais bransubmeti-dos, devido ao forte apelo como “alimentos naturais”, mas, ao mesmo tempo, garantir a seguran¸ca microbiol´ogica destes produtos. Para abordar quantitativamente o controle biol´ogico como t´ecnica de conserva¸c˜ao, apresenta-se um modelo matem´atico da intera¸c˜ao entre bact´erias l´acticas e o pat´ogeno Listeria monocytogenes. A partir deste modelo, estuda-se a poss´ıvel a¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacteriocina, produzidos pela bact´eria l´actica, na redu¸c˜ao do crescimento da Listeria no alimento. Atrav´es do conhe-cimento bioqu´ımico de regula¸c˜ao da bioss´ıntese de bacteriocina, desenvolve-se outro modelo, com enfoque na bacteriocina nisina. Mostra-se o efeito da nisina na resposta do sistema que regula a express˜ao de genes necess´arios para a bioss´ıntese. Expandindo esse modelo, s˜ao inclu´ıdas equa¸c˜oes para descrever tamb´em o processo de bioss´ıntese, e avalia-se a resposta do sistema regulat´orio quando se aumenta a densidade de c´elulas da bact´eria produtora. Observa-se comportamento t´ıpico de histerese. Mostra-se, assim, o funcionamento do meca-nismo de “quorum sensing”, ou seja, a produ¸c˜ao da nisina regulada de maneira dependente da densidade celular, devido a uma transi¸c˜ao entre o estado ativado e desativado do sistema regulat´orio, que correspondem `as duas solu¸c˜oes estacion´arias assintoticamente est´aveis.

Palavras-chave: conserva¸c˜ao de alimentos, modelo matem´atico, sistema dinˆamico, “quorum sensing”, histerese.

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A major challenge for the food industry is the attending of demands of consumers for minimally processed foods, which do not contain chemical preservatives neither were sub-mitted to intensive heat treatments, but at the same time ensuring microbiological safety of these products. To study quantitatively the biological control as a technique of conservation, we developed a mathematical model to describe the interaction between lactic acid bacteria and the pathogen Listeria monocytogenes in the food. The steady states and dynamical trajectories analyses of the model allowed us to study the possible action of the lactic acid and the bacteriocin, produced by lactic acid bacteria, in the reduction of activity of Listeria in the food. Through the knowledge of the bacteriocin biosynthesis biochemical regulation, we developed other model focusing on the production of bacteriocin nisin. We then have shown the effect of nisin on the response of the system which regulates the expression of genes required for biosynthesis. This model was extended to include synthesis of nisin in order to study the dynamic of the regulatory system in a growing bacterial population. Both models demonstrate a typical behavior of hysteresis. Using the last model, we have shown the cell-density-dependent regulation of bacteriocin production, called mechanism of quorum sensing, which is the switch between two stable steady solutions corresponding to non-activated and activated states of the regulatory system.

Keywords: food conservation, mathematical model, dynamical system, quorum sensing, hysteresis.

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Sum´

ario

1 Introdu¸c˜ao 1

2 Intera¸c˜ao entre bact´erias l´acticas e Listeria monocytogenes 5

2.1 Bact´erias L´acticas . . . 7

2.2 Bacteriocinas . . . 8

2.3 Aplica¸c˜oes de Bact´erias L´acticas . . . 10

2.4 Modelo matem´atico . . . 11 2.5 Pontos de equil´ıbrio . . . 14 2.6 An´alise de estabilidade . . . 25 2.6.1 Equil´ıbrio trivial . . . 25 2.6.2 Equil´ıbrios n˜ao-triviais . . . 28 2.7 Resultados num´ericos . . . 35

2.7.1 Estabilidade do equil´ıbrio de coexistˆencia para fraca intera¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacteriocina com a Listeria . . . 35

2.7.2 An´alise de Bifurca¸c˜ao . . . 38

2.7.3 Estabilidade dos equil´ıbrios de coexistˆencia para forte intera¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacteriocina com a Listeria . . . 43

2.8 Possibilidades de Aplica¸c˜oes . . . 45 xiii

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2.9 Conclus˜oes . . . 53

3 Efeito de “Quorum sensing” em bact´erias l´acticas 55 3.1 Regula¸c˜ao da express˜ao de genes . . . 55

3.2 Modelagem matem´atica do efeito de “quorum sensing” . . . 59

3.3 Equil´ıbrio estacion´ario . . . 63

3.4 An´alise de bifurca¸c˜ao . . . 67

3.4.1 Avaliando o efeito do aumento da concentra¸c˜ao de nisina . . . 67

3.5 Simula¸c˜oes Num´ericas e Discuss˜oes . . . 71

3.6 Conclus˜oes . . . 79

4 Regula¸c˜ao da bioss´ıntese de nisina 81 4.1 O mecanismo de “quorum sensing” na produ¸c˜ao de nisina . . . 81

4.2 Modelo matem´atico de bioss´ıntese da nisina . . . 85

4.3 Equil´ıbrio estacion´ario . . . 90

4.4 An´alise de bifurca¸c˜ao . . . 94

4.4.1 Avaliando o efeito do aumento da densidade de c´elulas . . . 94

4.5 Simula¸c˜oes Num´ericas e Discuss˜oes . . . 99

4.6 Conclus˜oes . . . 104

5 Conclus˜oes Finais 111 A Teoremas Auxiliares 115 A.1 Regra de Sinais de Descartes . . . 115

A.2 Crit´erio de estabilidade de Hurwitz e de Routh . . . 116

A.3 Estabilidade Global . . . 118

B Obten¸c˜ao dos pontos de bifurca¸c˜ao 121

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Cap´ıtulo 1

Introdu¸c˜

ao

Tem aumentado significativamente, em todo o mundo, a frequˆencia de relatos sobre doen¸cas infecciosas de origem alimentar. Dentre os pat´ogenos associados a alimentos, destaca-se a Listeria monocytogenes, n˜ao apenas devido a sua capacidade de sobrevivˆencia aos mais diversos tipos de ambientes, mas, principalmente, devido `a severidade da doen¸ca relacionada, que apresenta taxa de mortalidade elevada, podendo chegar a 70% nas manifesta¸c˜oes mais graves da doen¸ca. A s´ındrome cl´ınica associada `a listeriose ´e semelhante `a causada pelo v´ırus influenza, podendo evoluir para meningo-encefalite, septicemia e endocardite, podendo ainda causar aborto e outras complica¸c˜oes em mulheres gr´avidas [42].

Um grande desafio imposto para a ind´ustria de alimentos ´e, por um lado, atender a de-manda dos consumidores por alimentos minimamente processados, livres de aditivos qu´ımicos e submetidos a tramentos t´ermicos mais brandos, devido ao forte apelo como “alimentos na-turais”, mas, ao mesmo tempo, garantir a seguran¸ca microbiol´ogica destes produtos. O sur-gimento de microrganismos tolerantes ao frio representa tamb´em uma grande preocupa¸c˜ao para a ind´ustria. Listeria monocytogenes ´e capaz de se multiplicar em uma ampla faixa de temperatura, representando um risco para a seguran¸ca de alimentos conservados atrav´es de refrigera¸c˜ao.

Bact´erias l´acticas s˜ao tradicionalmente utilizadas na produ¸c˜ao de alimentos e bebidas fer-1

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mentados, contribuindo para o desenvolvimento de sabor e aroma, e com potencial em inibir microrganismos indesej´aveis atrav´es da produ¸c˜ao de ´acido l´actico. S˜ao capazes de produzir, tamb´em, outras substˆancias inibit´orias como as bacteriocinas, que s˜ao compostos prot´eicos que inibem (efeito bacteriost´atico) ou destroem (efeito bactericida) esp´ecies relacionadas, e outras bact´erias tais como Listeria monocytogenes, Bacillus cereus, Staphylococcus aureus e Clostridium botulinum.

Bacteriocinas de bact´erias l´acticas s˜ao geralmente est´aveis ao calor, degradadas pela a¸c˜ao de enzimas proteol´ıticas do trato intestinal humano e n˜ao induzem altera¸c˜oes nas pro-priedades organol´epticas dos alimentos. Essas caracter´ısticas conferem a essas bacteriocinas interesse especial, devido ao seu potencial biopreservativo em alimentos, e representa uma op¸c˜ao atrativa para ind´ustria, podendo contribuir para o aumento da vida de prateleira dos alimentos. Al´em disso, a a¸c˜ao combinada do ´acido l´actico e bacteriocina tamb´em pode ser efetiva contra bact´erias oportunistas indesej´aveis em alimentos fermentados.

A contamina¸c˜ao microbiana de alimentos assume destacada relevˆancia tanto para ind´ us-tria, quanto para sa´ude p´ublica. Para a ind´ustria as perdas econˆomicas ocorrem devido a exigˆencia de recolhimento de alimentos contaminados, processos civis, al´em do impacto com a propaganda negativa. Para sa´ude p´ublica, a severidade da doen¸ca e custos com hospitaliza¸c˜ao e tratamentos tamb´em s˜ao not´orios.

Atualmente, existem muitas aplica¸c˜oes bem sucedidas de matem´atica em ciˆencias biol´ogi-cas, em especial na ecologia. Os modelos matem´aticos tˆem sido usados com bastante sucesso para descrever a dinˆamica de intera¸c˜ao entre diferentes esp´ecies, e no controle biol´ogico de esp´ecies nocivas. Por exemplo, para controlar o mosquito transmissor da dengue, utiliza-se de machos irradiados para controlar a popula¸c˜ao natural de Aedes aegypti [16].

T´ecnicas de modelagem matem´atica em microbiologia de alimentos s˜ao comumente apli-cadas para prever o crescimento ou inativa¸c˜ao de bact´erias deterioradoras e pat´ogenos de origem alimentar. Apenas recentemente tem sido dada alguma aten¸c˜ao para microrganismos ben´eficos tais como bact´erias l´acticas.

No segundo cap´ıtulo, desenvolvemos um modelo matem´atico que visa descrever as in-tera¸c˜oes entre bact´erias l´acticas produtoras de bacteriocinas e a Listeria monocytogenes no alimento. A an´alise est´atica e a dinˆamica do modelo, representado por um sistema de

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CAP. 1 • INTRODUC¸ ˜AO 3

equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias n˜ao-lineares, fornecem informa¸c˜oes sobre o comportamento das solu¸c˜oes, e, tamb´em, permitem estudar a poss´ıvel a¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacterio-cina, produzidos pela bact´eria l´actica, na redu¸c˜ao e inibi¸c˜ao do crescimento da Listeria no alimento.

A produ¸c˜ao de bacteriocinas em algumas bact´erias ´e parte de um mecanismo chamado de “quorum sensing”. O processo de “quorum sensing” em bact´erias consiste de um mecanismo de sinaliza¸c˜ao qu´ımica que altera a express˜ao gˆenica e ativa um comportamento cooperativo entre bact´erias da mesma esp´ecie, quando se atinge uma densidade celular limiar [1].

No cap´ıtulo 3, formulamos um modelo matem´atico baseado no conhecimento bioqu´ımico do sistema regulat´orio de bioss´ıntese da bacteriocina nisina, composto por dois componentes (histidina quinase e regulador de resposta), e a pr´opria nisina que, al´em de agir como pept´ıdeo antimicrobiano, tamb´em age como sinal que induz sua pr´opria bioss´ıntese. O objetivo desta modelagem ´e analisar a fun¸c˜ao da nisina como mol´ecula sinalizadora no mecanismo de “quo-rum sensing”, e avaliar a resposta do sistema regulat´orio quando aumenta-se a concentra¸c˜ao extracelular de nisina.

A transcri¸c˜ao dos genes para bioss´ıntese da nisina depende da concentra¸c˜ao extracelular desse pept´ıdeo que, por sua vez, ´e dependente da densidade da popula¸c˜ao da bact´eria l´actica produtora.

No cap´ıtulo 4, para avaliar a resposta do sistema regulat´orio quando aumenta-se a den-sidade das bact´erias produtoras de nisina, expandimos o modelo desenvolvido no cap´ıtulo 3, incluindo tamb´em o processo de s´ıntese dessa bacteriocina.

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Intera¸c˜

ao entre bact´

erias l´

acticas e

Listeria monocytogenes

Com o aumento do consumo de produtos refrigerados, a Listeria monocytogenes tornou-se um dos mais importantes pat´ogenos veiculados por alimentos a partir da d´ecada de 80, devido a diversos surtos de listeriose humana, epidemiologicamente ligados a alimentos. O primeiro grande surto que despertou o interesse de microbiologistas de alimentos para o problema da Listeria monocytogenes ocorreu no Canad´a em 1981 e o alimento incriminado foi salada de repolho industrializada. Depois desse epis´odio, em 1988 a Organiza¸c˜ao Mundial de Sa´ude (OMS) finalmente reconheceu que o consumo de alimentos contaminados ´e a rota prim´aria de transmiss˜ao da L. monocytogenes em humanos.

A Listeria monocytogenes est´a amplamente distribu´ıda na natureza podendo ser encon-trada em plantas processadoras de alimentos, nas m˜aos de manipuladores e na forma de biofilme aderido aos equipamentos [35]. Este microrganismo pode sobreviver numa faixa de temperatura de 1 a 45oC, tornando-se um risco para seguran¸ca de alimentos refrigerados [30].

Listeriose ´e o nome de um grupo geral de desordens causada pela L. monocytogenes, e que diferentemente de outras doen¸cas causadas pela ingest˜ao de alimentos contaminados, como

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6

a salmonelose que raramente ´e fatal, possui taxa de mortalidade elevada (aproximadamente 30%). Al´em disso, a contamina¸c˜ao de alimentos pela L. monocytogenes pode acarretar perdas econˆomicas substanciais aos produtores de alimentos.

Os surtos de listeriose tˆem sido associados com alimentos tais como: leite cru e leite pasteurizado, queijos (particularmente frescais), sorvetes, salsichas e lingui¸cas fermentadas (cruas), carne crua (todos os tipos), frango cozido ou cru e defumado.

Um total de 466 casos de listerioses foram reportados em [17], provenientes de 12 surtos graves ocorridos entre os anos de 1970 e 2002 nos Estados Unidos. O n´umero m´edio de casos por surto foi 39, sendo que queijo tipo mexicano foi o ve´ıculo identificado do maior surto relatado, envolvendo 142 pessoas. Houve um total de 121 mortes entre os 466 casos. Para outros pa´ıses, foram relatados 1058 casos de listeriose com um total de 257 mortes.

Hofer e colaboradores [21] analisaram 255 amostras de material cl´ınico humano coletadas de diversos estados brasileiros, entre os anos de 1969 a 2000, como sendo pertencentes ao gˆenero Listeria. Dessas amostras, 245 foram identificadas como Listeria monocytogenes, predominando os isolamentos em indiv´ıduos com meningite purulenta, e, em segundo plano, pacientes com bacterimias ou septicemia.

A ingest˜ao de alimentos contaminados com L. monocytogenes ´e particularmente perigosa para gestantes, rec´em-nascidos, indiv´ıduos com s´ındrome de imunodeficiˆencia adquirida, cir-rose, carcinoma e outras doen¸cas que provocam o comprometimento do sistema imunol´ogico. Para indiv´ıduos sadios, a doen¸ca se manifesta com sintomas de gripe e febre. Em mulhe-res gr´avidas, a listeriose pode provocar parto prematuro, infec¸c˜ao no rec´em-nascido, ou at´e mesmo aborto. No grupo de pessoas sens´ıveis, a bact´eria pode passar por diversos ´org˜aos, incluindo o c´erebro, podendo provocar meningite e encefalite. A meningite ´e a manifesta¸c˜ao mais comum ocorrendo principalmente em rec´em-nascidos e idosos. Seu desenvolvimento cl´ınico ´e fulminante, com ´ındice de mortalidade de 70%.

O surto mais recente de listeriose e de grande impacto ocorreu em agosto de 2008 no Canad´a. De acordo com o que foi divulgado na not´ıcia [43], at´e aquele momento existiam 53 casos de infectados e doentes, sendo que desse total, 20 morreram. Considerando que a manifesta¸c˜ao dos primeiros sintomas de listeriose podem ocorrer at´e 70 dias ap´os o consumo do alimento contaminado, ´e prov´avel que esses n´umeros sejam ainda maiores. A ind´ustria,

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que admitiu responsabilidade pelo surto, fechou sua f´abrica em Toronto at´e que as inves-tiga¸c˜oes das poss´ıveis falhas fossem conclu´ıdas, e retirou do mercado mais de 200 produtos por precau¸c˜ao. Al´em disso, foram abertos processos civis contra a empresa, em representa¸c˜ao das pessoas que adoeceram.

2.1

Bact´

erias L´

acticas

Bact´eria l´actica ´e uma nomenclatura gen´erica utilizada para designar um grupo cons-titu´ıdo por bact´erias Gram positivas com caracter´ısticas morfol´ogicas, metab´olicas e fi-siol´ogicas semelhantes, e que produzem ´acido l´actico como produto final do metabolismo de carboidratos. As condi¸c˜oes ´acidas do meio melhoram a competitividade das bact´erias l´acticas, por apresentar maior tolerˆancia ao pH baixo extracelular e intracelular.

De acordo com as suas estruturas das paredes celulares, as bact´erias podem ser coradas ou n˜ao pela t´ecnica de colora¸c˜ao de Gram. A parede celular dos microrganismos Gram positivos (colora¸c˜ao azul) ´e uma estrutura relativamente simples, composta de 50% de pep-tidoglicanos, 40% a 45% de pol´ımeros ´acidos e 5% a 10% de prote´ınas e polissacar´ıdeos. Por outro lado, a parede celular dos microrganismos Gram negativos (colora¸c˜ao vermelha) ´e constitu´ıda de: espa¸co periplasm´atico contendo enzimas, camada de peptidoglicanos, mem-brana externa que consiste em uma dupla camada lip´ıdica, e polissacar´ıdeos complexos que formam componentes importantes da superf´ıcie externa. A dificuldade em penetrar nesta camada externa complexa ´e a raz˜ao pela qual alguns antibi´oticos s˜ao menos ativos contra as bact´erias Gram negativas.

As bact´erias l´acticas s˜ao produtoras de uma variedade de substˆancias antimicrobianas incluindo: ´acido l´actico, diacetil, per´oxido de hidrogˆenio, di´oxido de carbono, ´alcool, alde´ıdo e bacteriocina. Todos esses compostos tˆem efeito antagon´ıstico no crescimento de bact´erias patogˆenicas e deterioradoras dos alimentos [22] [35], sendo que as bacteriocinas tˆem atra´ıdo grande interesse na ind´ustria de alimentos devido ao seu uso potencial como conservante “natural” [6] [9].

O efeito de conserva¸c˜ao atribu´ıdo `as bact´erias l´acticas, no processamento e estocagem de produtos fermentados, deve-se principalmente `a r´apida produ¸c˜ao de ´acido l´actico. Em

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SEC¸ ˜AO 2.2 • BACTERIOCINAS 8

sua forma dissociada, o ´acido l´actico atravessa passivamente a membrana citoplasm´atica, acidificando o meio intracelular a tal ponto que as fun¸c˜oes celulares s˜ao inibidas e o potencial de membrana anulado.

De acordo com os regulamentos da FDA (Food and Drug Administration), antimicro-bianos naturais usados como conservantes de alimentos tˆem que ser produzidos por micror-ganismos GRAS (Generally Recognized as Safe). Como muitas esp´ecies de bact´erias l´acticas tem o status GRAS, essas tˆem sido extensamente estudadas para a produ¸c˜ao de bacterio-cinas. Al´em da inibi¸c˜ao de L. monocytogenes, as bacteriocinas de bact´erias l´acticas podem inibir a multiplica¸c˜ao de outros microrganismos como Bacillus cereus, Staphylococcus aureus e Clostridium botulinum.

2.2

Bacteriocinas

As bacteriocinas constituem um grande e heterogˆeneo grupo de prote´ınas e pept´ıdeos sin-tetizados ribossomicamente e com propriedades antibacterianas. Variam quanto ao espectro de atividade, modo de a¸c˜ao, peso molecular, origem gen´etica e propriedades bioqu´ımicas [9] [25]. A inclus˜ao de compostos similares, com a¸c˜ao sobre uma diversidade maior de esp´ecies e cuja estrutura ´e formada por outros grupos funcionais (carboidratos, lip´ıdios), possibilitou uma defini¸c˜ao mais ampla de bacteriocina [4].

Bacteriocinas de bact´erias l´acticas podem ser divididas em duas classes distintas: lan-tibi´oticos (classe I), de tamanho pequeno (19 a 38 amino´acidos), contendo amino´acidos mo-dificados p´os-tradu¸c˜ao, tais como lantionina e metillantionina, e cujo principal representante ´e a nisina; classe II, que compreende bacteriocinas com 37 a 48 amino´acidos, hidrof´obicas, termoest´aveis, e que n˜ao contˆem lantionina, tais como pediocina PA-1, lactocina G, lactacina B. Alguns autores ainda consideram a existˆencia das classes III e IV [6], [13] e [39]. A classe III de bacteriocinas parece ser constitu´ıda de prote´ınas grandes e sens´ıveis ao calor, sendo exemplos: a helveticina J, helveticina V-1829, acidofilina e lactacina A. ´E sugerido que a quarta classe ´e constitu´ıda por bacteriocinas que formam grandes complexos com uma mis-tura indefinida de prote´ınas, lip´ıdios e carboidratos que s˜ao requeridos para sua atividade, sendo exemplos: plantaricina S, leuconocina 27 e pediocina SJ1 [7].

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Do ponto de vista metab´olico, bacteriocinas s˜ao geralmente consideradas como metab´oli-tos prim´arios, ou seja, produmetab´oli-tos que s˜ao formados a uma taxa que depende apenas da taxa de crescimento da bact´eria produtora. Entretanto, alguns estudos tˆem considerado bacteriocinas tais como pediocina AcH ou propionicina, como metab´olitos secund´arios [5]. Casos de metab´olitos prim´arios e secund´arios tamb´em tˆem sido descritos algumas vezes para a mesma esp´ecie e pept´ıdeo. Considerando a influˆencia das esp´ecies, o car´ater secund´ario ´e muitas vezes corretamente deduzido de casos em que a produ¸c˜ao do pept´ıdeo continua durante a fase estacion´aria da cultura produtora. Isso tem sido associado com a diminui¸c˜ao do pH final, que ativa enzimas envolvidas em mudan¸cas p´os-translacional da mol´ecula [45].

A primeira bacteriocina de bact´eria l´actica a ser descoberta foi a nisina. Durante ex-perimento realizado na Inglaterra em 1928, observou-se que uma linhagem especial de Lac-tococcus lactis tinha efeito inibit´orio sobre outras bact´erias. A substˆancia antimicrobiana dessa bact´eria foi tamb´em descrita em 1933 na Nova Zelˆandia e, em 1947, a bacteriocina respons´avel por essa a¸c˜ao inibit´oria passou a ser denominada nisina.

A primeira prepara¸c˜ao comercial de nisina foi feita em 1953, por´em a aprova¸c˜ao pelo FDA ocorreu apenas em 1988. Desde ent˜ao, tem sido aprovado seu uso para determinados tipos de alimentos, em cerca de 50 pa´ıses, inclusive no Brasil. Ap´os o reconhecimento da nisina como segura (status GRAS), houve um consider´avel aumento no interesse do estudo da nisina e outras bacteriocinas para aplica¸c˜ao em alimentos [28].

De maneira geral, o mecanismo de a¸c˜ao de bacteriocinas das classes I e II envolve, inicial-mente, a liga¸c˜ao da bacteriocina aos receptores espec´ıficos ou n˜ao espec´ıficos na membrana celular da bact´eria alvo. Neste est´agio, bacteriocinas s˜ao sens´ıveis a uma poss´ıvel a¸c˜ao de enzimas proteol´ıticas. Em seguida, ocorre inser¸c˜ao da bacteriocina na membrana causando a dissipa¸c˜ao da for¸ca pr´oton-motora e a agrega¸c˜ao de monˆomeros, resultando na forma¸c˜ao de poros, por onde a c´elula perde material intracelular, o que pode acarretar na perda de viabilidade da c´elula alvo [7].

A nisina possui um duplo mecanismo de a¸c˜ao. Ao ultrapassar a parede celular, liga-se ao lip´ıdio II, principal transportador de subunidades de peptidoglicano do citoplasma para a parede celular, interferindo, portanto, na s´ıntese desta estrutura. Al´em disso, a nisina pode usar o lip´ıdio II como uma mol´ecula carreadora para iniciar o processo de inser¸c˜ao

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SEC¸ ˜AO 2.3 • APLICAC¸ ˜OES DE BACT´ERIAS L ´ACTICAS 10

e forma¸c˜ao de poros na membrana celular, promovendo altera¸c˜ao na permeabilidade da mesma [3]. O efluxo de mol´eculas essenciais tais como: ´ıon pot´assio, amino´acidos e ATP (trifosfato de adenosina), atrav´es dos poros, ocasiona a altera¸c˜ao do potencial de membrana e do gradiente iˆonico, acarretando em morte celular [37].

O espectro de a¸c˜ao das bacteriocinas produzidas por bact´erias l´acticas ´e limitado `as bact´erias Gram positivas. No entanto, o uso de agentes quelantes como EDTA (´acido eti-lenodiamino tetra-ac´etico), ´acidos graxos ou a aplica¸c˜ao de estresse subletal, como calor ou congelamento, pode romper a camada de lipopolissacar´ıdeo (LPS) da parede celular das bact´erias Gram negativas, aumentando sua sensibilidade em rela¸c˜ao `as bacteriocinas [4].

2.3

Aplica¸c˜

oes de Bact´

erias L´

acticas

Com a crescente demanda por t´ecnicas de bioconserva¸c˜ao, a aplica¸c˜ao de bact´erias l´acticas como cultura iniciadora de fermenta¸c˜ao (starter ), ou como culturas protetoras, tem sido extensivamente explorada. Al´em de inibir o crescimento de pat´ogenos nos alimentos fermen-tados, tais como leite fermentado, iogurte, bebidas e salame, as bact´erias l´acticas podem proporcionar efeitos ben´eficos `a sa´ude. Esses alimentos contendo bact´erias promotoras de benef´ıcios `a sa´ude s˜ao denominados alimentos probi´oticos.

Uma grande vantagem da utiliza¸c˜ao de bacteriocinas como conservante de alimentos est´a relacionada com a seguran¸ca garantida aos consumidores, visto que as bact´erias l´acticas e seus metab´olitos, dentre os quais as bacteriocinas, tˆem sido consumidos nos alimentos fermentados h´a muito tempo sem causar efeitos nocivos `a sa´ude.

Para prevenir infec¸c˜oes de origem alimentar por L. monocytogenes, ´e necess´ario um con-trole r´ıgido no local de processamento de gˆeneros aliment´ıcios [18], bem como ´e importante que sejam pesquisadas maneiras de impedir a multiplica¸c˜ao da Listeria nesses produtos. Dessa maneira, a utiliza¸c˜ao de bact´erias l´acticas e/ou seus produtos metab´olitos como bio-conservantes pode oferecer uma alternativa bastante interessante.

A tecnologia de obst´aculos refere-se a manipula¸c˜ao de m´ultiplos fatores (intr´ınsecos e extr´ınsecos) designados para prevenir a contamina¸c˜ao bacteriana ou controlar o crescimento e sobrevivˆencia no alimento. Uma combina¸c˜ao de m´etodos de conserva¸c˜ao pode trabalhar

(23)

sinergisticamente ou pelo menos garantir uma maior prote¸c˜ao do que um ´unico m´etodo isolado, melhorando a seguran¸ca e qualidade do alimento [11]. As bacteriocinas que s˜ao est´aveis ao calor, por exemplo, podem ser aplicadas em combina¸c˜ao com tratamento t´ermico. Neste cap´ıtulo ´e desenvolvido um modelo matem´atico que descreve as intera¸c˜oes entre bact´erias l´acticas produtoras de bacteriocinas e a Listeria no alimento. O modelo pressup˜oe a capacidade de suporte do meio (alimento) como fator limitante para o crescimento da bact´eria l´actica e da Listeria. ´E considerada tamb´em a perda de estabilidade do ´acido l´actico e da bacteriocina no decorrer do tempo. A partir da an´alise do modelo obt´em-se informa¸c˜oes sobre o comportamento das solu¸c˜oes, e tamb´em analisa-se a poss´ıvel a¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacteriocina, produzidos pela bact´eria l´actica, para o controle da Listeria no alimento.

2.4

Modelo matem´

atico

Nesta se¸c˜ao ´e apresentada uma modelagem matem´atica do fenˆomeno biol´ogico de in-tera¸c˜ao da bact´eria l´actica e da Listeria monocytogenes. Consideramos que os principais metab´olitos com a¸c˜ao antimicrobiana produzidos pelas bact´erias l´acticas s˜ao o ´acido l´actico e a bacteriocina.

Denotam-se por X e L as popula¸c˜oes, respectivamente, de bact´erias l´acticas e de Listeria num dado instante t. As quantidades de ´acido l´actico e de bacteriocina produzidos pela bact´eria l´actica s˜ao representadas por A e B, respectivamente.

As vari´aveis e os parˆametros utilizados no modelo s˜ao apresentados na tabela 2.1. Para facilitar a coompreens˜ao da dinˆamica de intera¸c˜ao entre bact´eria l´actica e Listeria, ´e apresentado na figura 2.1 um diagrama de fluxo com os quatro compartimentos j´a citados anteriormente. Uma explica¸c˜ao detalhada sobre as hip´oteses consideradas ´e apresentada a seguir.

Os parˆametros relacionados `as bact´erias l´acticas s˜ao φ1 e µ1, que s˜ao, respectivamente, a taxa intr´ınseca de crescimento e a taxa de mortalidade das bact´erias. A equa¸c˜ao usada para descrever o crescimento das bact´erias l´acticas ´e a equa¸c˜ao para o crescimento log´ıstico.

(24)

SEC¸ ˜AO 2.4 • MODELO MATEM ´ATICO 12

Tabela 2.1: Defini¸c˜ao das vari´aveis e parˆametros utilizados no modelo matem´atico (2.1).

Vari´avel/Parˆametro Defini¸c˜ao Dimens˜ao

X Popula¸c˜ao de bact´erias l´acticas [concentra¸c˜ao]

A Quantidade de ´acido [concentra¸c˜ao]

B Quantidade de bacteriocina [concentra¸c˜ao]

L Popula¸c˜ao de Listeria [concentra¸c˜ao]

φ1 Taxa intr´ınseca de crescimento da bact´eria l´actica [tempo]−1

φ2 Taxa intr´ınseca de crescimento da Listeria [tempo]−1

µ1 Taxa de mortalidade da bact´eria l´actica [tempo]−1

µ4 Taxa de mortalidade da Listeria [tempo]−1

K Capacidade de suporte do meio [concentra¸c˜ao]

α1 N◦ de mol´eculas de ´acido produzidas por uma bact. l´actica adimensional

α2 N◦ de mol´eculas de bacteriocinas produzidas por uma bact. l´actica adimensional

δ1 Taxa de intera¸c˜ao do ´acido com a Listeria [tempo]−1

δ2 Taxa de intera¸c˜ao da bacteriocina com a Listeria [tempo]−1

η1 N◦ de mol´eculas de ´acido ligadas `a Listeria para desativ´a-la adimensional

η2 N◦ de mol´eculas de bacteriocina ligadas `a Listeria para desativ´a-la adimensional

µ2 Taxa de perda de atividade do ´acido [tempo]−1

µ3 Taxa de perda de atividade da bacteriocina [tempo]−1

l´actico e de bacteriocina produzidos por uma bact´eria l´actica. O ´acido l´actico e a bacterio-cina s˜ao metab´olitos produzidos durante o processo da multiplica¸c˜ao das bact´erias l´acticas, por´em simplificamos supondo que sua produ¸c˜ao ´e proporcional somente com a taxa intr´ınseca de crescimento. As taxas de degrada¸c˜ao ou de perda de atividade destes metab´olitos s˜ao representadas pelos parˆametros µ2 para o ´acido e µ3 para a bacteriocina. A atividade da bac-teriocina diminui provavelmente devido `a degrada¸c˜ao proteol´ıtica, a agrega¸c˜ao ou a adsor¸c˜ao `as c´elulas [32].

(25)

Figura 2.1: Esquema da dinˆamica populacional das bact´erias utilizando os compartimentos do sistema de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias (2.1). As flechas pontilhadas unidirecionais indicam a produ¸c˜ao por bact´erias l´acticas, enquanto flechas bidirecionais, indicam o consumo pela liga¸c˜ao com Listeria.

proporcional ao produto da popula¸c˜ao da Listeria e `a concentra¸c˜ao do ´acido l´actico, ou `a concentra¸c˜ao da bacteriocina. ´E assumido que a intera¸c˜ao tende a inibir o crescimento da popula¸c˜ao da Listeria e a diminuir a atividade do metab´olito envolvido na intera¸c˜ao. Os parˆametros δ1 e δ2 correspondem, respectivamente, `as taxas de intera¸c˜ao da Listeria com o ´acido l´actico e com a bacteriocina. A a¸c˜ao destes metab´olitos produzidos pelas bact´erias l´acticas ocorre na membrana citoplasm´atica da Listeria. Assim, supomos que tanto o ´acido l´actico quanto a bacteriocina s˜ao “consumidos” na intera¸c˜ao com a Listeria, e sofrem uma redu¸c˜ao de δ1AL e de δ2BL, respectivamente, em cada instante de tempo em que as intera¸c˜oes ocorrem. O parˆametro η1representa o n´umero de mol´eculas de ´acido l´actico ligadas `a Listeria para destru´ı-la, assim como η2 representa o n´umero de mol´eculas de bacteriocina ligadas `a Listeria para destru´ı-la. Desse modo, a popula¸c˜ao de Listeria sofre uma redu¸c˜ao de η1δ1AL e η2δ2BL quando ocorre intera¸c˜ao do ´acido l´actico e da bacteriocina com a Listeria.

O modelo inclui ainda um fator limitante para o crescimento natural das bact´erias l´acticas e a Listeria, representado pelo parˆametro K. Em outras palavras, o crescimento dessas po-pula¸c˜oes ´e limitado pela capacidade de suporte do meio, ou seja, pela limitada concentra¸c˜ao

(26)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 14

de nutrientes indispens´aveis, presentes no alimento. Assim, a taxa per-capita de crescimento das bact´erias l´acticas ´e φX = φ1(1 − X/K) e a taxa per-capita de crescimento da Listeria ´e φL = φ2(1−L/K), as quais diminuem linearmente com o tamanho da popula¸c˜ao. Finalmente, os parˆametros φ2 e µ4 representam a taxa intr´ınseca de crescimento e de mortalidade natural da Listeria, respectivamente.

De acordo com o que foi assumido anteriormente, a dinˆamica do modelo ´e descrita pelo seguinte sistema de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias n˜ao-lineares:

                                   dX dt = φ1 1 − X K  X − µ1X dA dt = α1φ1X − µ2A − δ1LA dB dt = α2φ1X − µ3B − δ2LB dL dt = φ2 1 − L K  L − µ4L − η1δ1AL − η2δ2BL, (2.1) onde Ω = {(X, A, B, L) : X ≥ 0, A ≥ 0, B ≥ 0, L ≥ 0} representa a regi˜ao de interesse biol´ogico.

Note que essa regi˜ao de interesse biol´ogico ´e positivamente invariante sob o fluxo induzido pelo sistema (2.1), pois analisando o campo vetorial, todos os pontos em Ω permanecem no interior dessa regi˜ao ou nas fronteiras.

2.5

Pontos de equil´ıbrio

O primeiro passo ´e analisar o modelo no estado estacion´ario. Na pr´oxima se¸c˜ao, analisa-remos a estabilidade dos pontos de equil´ıbrio.

As equa¸c˜oes no estado estacion´ario s˜ao obtidas igualando-se a zero todas as derivadas do sistema de equa¸c˜oes diferenciais (2.1):

(27)

                               0 = X φ1− µ1− φ1XK 0 = α1φ1X − A (µ2+ δ1L) 0 = α2φ1X − B (µ3+ δ2L) 0 = L φ2− µ4− φ2KL − η1δ1A − η2δ2B. (2.2)

Resolvendo o sistema de equa¸c˜oes (2.2), obtemos os seguintes pontos de equil´ıbrio:

• Ausˆencia de microrganismos, Q1. Corresponde a Q1 = (X1, A1, B1, L1) = (0, 0, 0, 0); • Ausˆencia de Listeria, Q2. Este ponto corresponde `a solu¸c˜ao Q2 = (X2, A2, B2, L2)

= φ1−µ1 φ1 K, α1(φ1−µ1) µ2 K, α2(φ1−µ1) µ3 K, 0  ;

• Ausˆencia de Bact´eria L´actica, Q3. Corresponde a Q3=(X3, A3, B3, L3)=0, 0, 0,φ2−µ4

φ2 K

 ; • Coexistˆencia da Listeria e bact´eria l´actica, Q4. Corresponde a Q4=(X4, A4, B4, L4),

onde as trˆes primeiras coordenadas s˜ao escritas em termos de L4 como

X4 =  φ1− µ1 φ1  K, A4 = α1(φ1− µ1) µ2+ δ1L4 K, B4 = α2(φ1− µ1) µ3+ δ2L4 K,

e a ´ultima coordenada L4 ´e a solu¸c˜ao positiva da equa¸c˜ao de terceiro grau

p(L) = a3L3+ a2L2+ a1L + a0 = 0, (2.3)

que resulta de φ2− µ4 −φ2L

K − η1δ1A − η2δ2B = 0, onde os coeficientes, com φ1 > µ1, s˜ao:

(28)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 16                                a3 = φ2δ1δ2 a2 = K(φ2− µ4)hφ2(µ2δ2+µ3δ1) K(φ2−µ4) − δ1δ2 i a1 = K(φ2− µ4)hδ1δ2K(φ1−µ1)(η1α1+η2α2) φ2−µ4 + φ2µ2µ3 K(φ2−µ4)− µ2δ2− µ3δ1 i a0 = K(φ2− µ4)hK(φ1−µ1)(α1η1δ1µ3+α2η2δ2µ2) φ2−µ4 − µ2µ3 i .

Observe que os pontos de equil´ıbrio Q2e Q4tˆem o mesmo valor para as bact´erias l´acticas, isto ´e, X2 = X4, mostrando que a dinˆamica que corresponde a X n˜ao ´e influenciada por seus produtos A e B. As concentra¸c˜oes do ´acido l´actico e da bacteriocina no equil´ıbrio correspondente `a coexistˆencia (Q4) s˜ao diminu´ıdas em rela¸c˜ao ao equil´ıbrio onde Listeria ´e eliminada (Q2).

Vamos primeiramente analisar as condi¸c˜oes para a existˆencia dos pontos de equil´ıbrio. Observe que as coordenadas do ponto de equil´ıbrio Q1 n˜ao dependem dos valores assumidos pelos parˆametros. Portanto o sistema (2.1) tem sempre este equil´ıbrio trivial. Al´em do ponto Q1, os demais pontos ser˜ao biologicamente vi´aveis, desde que sejam obedecidas as seguintes condi¸c˜oes:

1. Se φ1 > µ1 e φ2 < µ4, existe o ponto de equil´ıbrio Q2;

2. Se φ1 < µ1 e φ2 > µ4, existe o equil´ıbrio Q3;

3. Se φ1 > µ1 e φ2 > µ4, existem os pontos de equil´ıbrio Q2, Q3 e Q4, entretanto, para Q4 devemos ter a condi¸c˜ao adicional (veja detalhes a seguir) dada pela existˆencia da solu¸c˜ao positiva de (2.3); e

(29)

Existˆencia do Equil´ıbrio de Coexistˆencia de Bact´erias

Determinemos a condi¸c˜ao para a existˆencia do ponto de equil´ıbrio Q4. Considerando φ1 > µ1, como A4e B4est˜ao definidos como fun¸c˜ao de L4, para mostrar que existe o equil´ıbrio Q4, ´e suficiente mostrar que existe solu¸c˜ao positiva para a equa¸c˜ao (2.3). Primeiramente, para φ2 < µ4, observamos que os coeficientes da equa¸c˜ao (2.3) s˜ao todos positivos (a3 > 0, a2 > 0, a1 > 0 e a0 > 0) e, consequentemente, essa equa¸c˜ao n˜ao possui ra´ızes reais positivas. Neste caso, como mostramos antes, os equil´ıbrios s˜ao: apenas Q1, se φ1 < µ1, e al´em de Q1, Q2, se φ1 > µ1. Entretanto, se φ2 > µ4, o coeficiente a3´e positivo, mas a2, a1 e a0 dependem do sinal do termo entre colchetes.

Para facilitar a an´alise dos sinais dos coeficientes a2, a1 e a0, iremos reescrevˆe-los da seguinte maneira:                          a2 = K(φ2− µ4)  b µ2δ1−  δ1− b µ3  δ2  a1 = K(φ2− µ4)  mδ1−µ2 m  δ2− µ3  δ1− b µ3  a0 = K2(φ1− µ1)α2η2µ2 h δ2+ d  δ1− c d i , (2.4) onde m = K(φ1− µ1)(η1α1+ η2α2) (φ2− µ4) , b = φ2µ2µ3 K(φ2 − µ4). e c = µ3(φ2− µ4) K(φ1− µ1)η2α2, d = η1α1µ3 η2α2µ2.

Al´em da taxa l´ıquida de reprodu¸c˜ao das bact´erias l´acticas (rX = φ1 − µ1) e da Listeria (rL = φ2 − µ4), outros parˆametros importantes s˜ao δ1 e δ2, que s˜ao as taxas de intera¸c˜ao do ´acido, e da bacteriocina, com a Listeria. Por essa raz˜ao, considerando rX > 0 e rL > 0,

(30)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 18

examinaremos os termos entre colchetes dos coeficientes em (2.4), reescrevendo-os novamente de maneira a obter δ2 em fun¸c˜ao de δ1.

Assim obtemos para a2:  b µ2δ1−  δ1− b µ3  δ2  = 0 ⇔ δ2 =  b/µ2 δ1− b/µ3  δ1 = g(δ1), (2.5)

e ao analisar a fun¸c˜ao g(δ1) verifica-se que:

• O limδ1→∞g(δ1) = b/µ2. Logo, δ2 = b/µ2 ´e uma ass´ıntota horizontal para g(δ1), onde

b µ2 =

φ2µ3 K(φ2− µ4).

• Para δ1 = 0, tem-se g(0) = 0. Assim, g(δ1) intercepta o eixo δ1 quando δ2 = 0, e intercepta o eixo δ2 quando δ1 = 0.

• O limδ1→b/µ3g(δ1) = ∞. Logo, δ1 = b/µ3 ´e uma ass´ıntota vertical para a fun¸c˜ao g(δ1),

sendo b µ3 = φ2µ2 K(φ2− µ4) . Para o coeficiente a1:

 mδ1− µ2 m  δ2− µ3  δ1 − b µ3  = 0 ⇔ δ2 =µ3 m   δ1 − b/µ3 δ1− µ2/m  = f (δ1), (2.6)

e ao analisar a fun¸c˜ao f (δ1) verifica-se que:

• O limδ1→∞f (δ1) = µ3/m. Logo, δ2 = µ3/m ´e uma ass´ıntota horizontal para f (δ1), onde

µ3

m =

µ3(φ2 − µ4)

(31)

• Para δ1 = 0, tem-se f (0) = b/µ2. Assim, f (δ1) intercepta o eixo δ2 quando δ2 = b/µ2. Agora f (δ1) = 0 ⇔ δ1 = b/µ3. Portanto, f (δ1) intercepta o eixo δ1 quando δ1 = b/µ3. Esses interceptos correspondem a

b µ2 = φ2µ3 K(φ2 − µ4) e b µ3 = φ2µ2 K(φ2 − µ4).

• O limδ1→µ2/mf (δ1) = ∞. Logo, δ1 = µ2/m ´e uma ass´ıntota vertical para a fun¸c˜ao

f (δ1), onde

µ2

m =

µ2(φ2− µ4)

K(φ1− µ1)(η1α1+ η2α2). Finalmente, para a0:

h δ2+ d  δ1− c d i = 0 ⇔ δ2 = c − dδ1 = h(δ1), (2.7)

e, a partir da an´alise da fun¸c˜ao h(δ1), verifica-se que:

• Para δ1 = 0, tem-se h(0) = c. Logo, h(δ1) intercepta o eixo δ2 quando δ2 = c. Agora h(δ1) = 0 ⇔ δ1 = c/d. Portanto, h(δ1) intercepta o eixo δ1 quando δ1 = c/d.

Esses interceptos correspondem a

c = µ3(φ2− µ4) K(φ1− µ1)η2α2 e c d = µ2(φ2− µ4) K(φ1− µ1)η1α1.

Comparando os poss´ıveis valores para δ2 (µ3/m e c), e os poss´ıveis valores para δ1 (µ2/m e c/d), ´e f´acil de verificar que µ3/m < c, e que µ2/m < c/d. Nestas condi¸c˜oes, considerando as posi¸c˜oes relativas dos limiares de δ1 e de δ2, nos seus respectivos eixos, obtemos cinco configura¸c˜oes poss´ıveis, apresentadas na tabela (2.2).

(32)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 20

Tabela 2.2: Posi¸c˜oes relativas dos limiares de δ1 e de δ2 em seus respectivos eixos, con-siderando que µ3/m < c, e que µ2/m < c/d.

Caso Eixo δ1 Eixo δ2

(1) b µ3 < µ2 m < c d b µ2 < µ3 m < c (2) µ2 m < b µ3 < c d µ3 m < b µ2 < c (3) µ2 m < b µ3 < c d µ3 m < c < b µ2 (4) µ2 m < c d < b µ3 µ3 m < c < b µ2 (5) µ2 m < c d < b µ3 µ3 m < b µ2 < c

Finalmente, analisando os coeficientes temos que: (i) Para o coeficiente a2, da an´alise da fun¸c˜ao g(δ1):

Se δ1 < b/µ3, ent˜ao a2 > 0 para todo δ2 > 0. Se δ1 > b/µ3, ent˜ao a2 > 0 para δ2 < g(δ1); (ii) Para o coeficiente a1, da an´alise da fun¸c˜ao f (δ1):

Se δ1 > µ2/m e δ1 < b/µ3, ent˜ao a1 > 0 para todo δ2 > 0. Mas se δ1 > b/µ3, ent˜ao a1 > 0 para δ2 > f (δ1).

Se δ1 < µ2/m e δ1 < b/µ3, ent˜ao a1 > 0 para δ2 < f (δ1). Se δ1 < µ2/m, mas δ1 > b/µ3, ent˜ao a1 < 0 para todo δ2 > 0;

(iii) Para o coeficiente a0, da an´alise da fun¸c˜ao h(δ1): Se δ2 > c − dδ1, ent˜ao a0 > 0.

Desenhando as curvas f (δ1), g(δ1) e h(δ1) (equa¸c˜oes (2.6), (2.5) e (2.7)) para cada um dos cinco casos expostos na tabela (2.2), ´e poss´ıvel obter as regi˜oes no gr´afico δ1 × δ2 com os sinais dos coeficientes a2, a1 e a0 (veja figura 2.2).

(33)

Tabela 2.3: N´umero de ra´ızes reais positivas da equa¸c˜ao a3L3+ a2L2+ a1L + a0 = 0, considerando

diferentes possibilidades de combina¸c˜ao de sinais na sequˆencia dos coeficientes ({a3, a2, a1, a0}).

a3 a2 a1 a0 N◦ de ra´ızes reais positivas

+ + + − Uma + + − − Uma + − + − Uma ou trˆes + − − − Uma + + + + Zero + + − + Zero ou duas + − + + Zero ou duas + − − + Zero ou duas

O n´umero de ra´ızes positivas pode ser avaliado aplicando a regra de varia¸c˜ao de sinais de Descartes. Maiores detalhes sobre essa regra s˜ao apresentados no Apˆendice A. Considerando os sinais dos coeficientes, essa regra permite as possibilidades apresentadas na tabela (2.3). Afirma¸c˜ao 2.5.1. A equa¸c˜ao (2.3) possui no m´aximo duas solu¸c˜oes reais positivas.

Depois de uma an´alise da varia¸c˜ao dos sinais na sequˆencia dos coeficientes {a3, a2, a1, a0} da equa¸c˜ao (2.3), podemos afirmar que, quando δ2 < h(δ1), ou seja, quando a0 < 0, existe uma ´unica raiz real positiva para esta equa¸c˜ao. A ´unica possibilidade de existˆencia de trˆes ra´ızes reais positivas seria o caso abaixo da reta h(δ1), em que a2 < 0 e a1 > 0. Esta combina¸c˜ao de sinais, entretanto, n˜ao ocorre.

As retas δ2 = µ3/m e δ1 = µ2/m s˜ao as ass´ıntotas de f (δ1), enquanto que, δ2 = b/µ2 e δ1 = b/µ3, s˜ao as ass´ıntotas para g(δ1). Analisemos os casos (1) e (2) da figura (2.2).

Note que, em ambos os casos, b/µ3 < c/d, µ2/m < c/d, µ3/m < c e b/µ2 < c. Supondo que esses limiares sejam muito pequenos e que, µ3/m ≈ b/µ2, assim como µ2/m ≈ b/µ3. Se f (δ1) e g(δ1) interceptassem a reta h(δ1), no caso (1), e g(δ1) interceptasse h(δ1), no caso (2), obter´ıamos regi˜oes, abaixo da reta h(δ1), com valores de δ1 e δ2 onde a2 < 0 e a1 > 0.

(34)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 22 b / µ 3 µ2 / m c / d b / µ2 µ3 / m c δ2 δ1 a1 < 0 a2 > 0 a1 > 0 a 2 < 0 a1 > 0 a2 > 0 a1 < 0 a 2 > 0 a1 < 0 a2 > 0 (a) Caso (1) µ2 / m b / µ3 c / d µ3 / m b / µ2 c δ2 δ1 a1 > 0 a2 > 0 a1 > 0 a2 < 0 a1 < 0 a2 > 0 a1 > 0 a2 > 0 a 1 < 0 a2 > 0 (b) Caso (2) µ2 / m b / µ 3 c / d µ3 / m c b / µ2 δ2 δ1 a1 > 0 a2 > 0 a1 > 0 a2 < 0 a 1 < 0 a 2 > 0 a 1 > 0 a2 > 0 a1< 0 a2 > 0 (c) Caso (3) µ2 / m c / d b / µ3 µ3 / m c b / µ2 δ2 δ1 a 1 > 0 a2 > 0 a 1 > 0 a 2 < 0 a 1 < 0 a 2 > 0 a 1 > 0 a 2 > 0 a 1 < 0 a 2 > 0 (d) Caso (4) µ2 / m c / d b / µ3 µ3 / m b / µ 2 c δ2 δ1 a 1 > 0 a2 > 0 a 1 > 0 a2 < 0 a 1 < 0 a2 > 0 a1 > 0 a2 > 0 a1 < 0 a2 > 0 (e) Caso (5)

Figura 2.2: Diagramas que mostram as curvas f (δ1), g(δ1), e h(δ1), assim como as regi˜oes com

sinais dos coeficientes a2 e a1, considerando para os eixos δ1 e δ2, as posi¸c˜oes relativas para cada

caso apresentado na tabela (2.2). O coeficiente a3 ´e sempre positivo e, para todos os casos, a0 ´e

negativo abaixo da reta h(δ1), e positivo acima da reta. Linha em azul representa a fun¸c˜ao h(δ1),

(35)

Nesta situa¸c˜ao, com trˆes varia¸c˜oes de sinais na sequˆencia dos coeficientes, obter´ıamos uma condi¸c˜ao necess´aria para existˆencia de trˆes ra´ızes reais positivas.

Mostremos que essas intersec¸c˜oes n˜ao s˜ao poss´ıveis. • Intersec¸c˜ao de g(δ1) e h(δ1): casos (1) e (2). g(δ1) = h(δ1) ⇔  b/µ2 δ1− b/µ3  δ1 = c − dδ1. Com esta igualdade obtemos a equa¸c˜ao para δ1

(d)δ12+  b µ2 − c − db µ3  δ1+  cb µ3  = 0, (2.8)

cujo discriminante ´e

∆ =  b µ2 − c − db µ3 2 − 4dcb µ3. Escrevendo ∆ convenientemente temos

∆ = − b µ2  c − b µ2  − d 2b µ3  c d − b µ3  − 2d b 2 µ2µ3 + c  c − db µ3 − b µ2  .

Considerando que c > b/µ2 e que c/d > b/µ3, tanto para o caso (1), quanto para o caso (2), segue que os trˆes primeiros termos de ∆ s˜ao negativos. Basta verificar o ´

ultimo termo. Observando os diagramas (a) e (b) da figura (2.2), verificamos que a intersec¸c˜ao ocorreria se µ3/m ≈ b/µ2, e µ2/m ≈ b/µ3. Tomando a situa¸c˜ao limite onde µ3/m = b/µ2, e µ2/m = b/µ3, podemos reescrever o ´ultimo termo de ∆ da seguinte maneira: c  c − d b µ3 − b µ2  = cc − dµ2 m − µ3 m  , e, substituindo seus valores,

c  µ3(φ2− µ4) η2α2K(φ1− µ1)(η1α1+ η2α2)  [(η1α1+ η2α2) − η1α1− η2α2] = 0.

(36)

SEC¸ ˜AO 2.5 • PONTOS DE EQUIL´IBRIO 24

Portanto, como o discriminante ∆ ´e negativo, segue que a equa¸c˜ao (2.8) n˜ao possui solu¸c˜oes reais para δ1. Sendo assim, conclu´ımos que g(δ1) e h(δ1) n˜ao se interceptam nos casos (1) e (2). • Intersec¸c˜ao de f (δ1) e h(δ1): caso (1). f (δ1) = h(δ1) ⇔µ3 m   δ1− b/µ3 δ1− µ2/m  = c − dδ1. A partir dessa igualdade obtemos a equa¸c˜ao de segundo grau para δ1

(dm)δ21+  −2µ3η1α1 η2α2  δ1+ µ2  c − b µ2  = 0, (2.9)

cujo discriminante ´e

∆ =  −2µ3η1α1 η2α2 2 − 4(dm)µ2  c − b µ2  . Escrevendo ∆ convenientemente temos

∆ = −4dmµ2  µ3 m − b µ2  .

Por´em no caso (1), µ3/m > b/µ2. Segue assim que ∆ < 0 e, consequentemente, a equa¸c˜ao (2.9) n˜ao possui solu¸c˜oes reais para δ1. Portanto, f (δ1) nunca interceptar´a h(δ1) no caso (1).

Excluindo a possibilidade de trˆes ra´ızes reais positivas para a equa¸c˜ao (2.3), obtemos duas situa¸c˜oes distintas. Se δ2 < h(δ1), a equa¸c˜ao (2.3) ter´a uma ´unica solu¸c˜ao positiva (L4). Caso contr´ario, ou seja, se δ2 > h(δ1), a referida equa¸c˜ao pode n˜ao possuir raiz real positiva (caso em que todos os coeficientes s˜ao positivos), ou pode possuir duas ra´ızes reais positivas. Para o ´ultimo caso, as condi¸c˜oes necess´arias para existˆencia de duas solu¸c˜oes biologicamente vi´aveis s˜ao: a2 > 0 e a1 < 0, ou a2 < 0 e a1 > 0, ou ainda, a2 < 0 e a1 < 0.

(37)

2.6

An´

alise de estabilidade

A estabilidade local dos pontos de equil´ıbrio ´e determinada pelos autovalores da matriz Jacobiana do sistema correspondente (2.1), os quais s˜ao ra´ızes da equa¸c˜ao caracter´ıstica Ψ(λ) = det(J − λI) = 0, onde det ´e o determinante de uma matriz e I ´e a matriz identidade 4 × 4 . Se a parte real de todos os autovalores for negativa, ent˜ao o ponto de equil´ıbrio ´e local e assintoticamente est´avel [20].

2.6.1

Equil´ıbrio trivial

Vamos primeiramente analisar a estabilidade do ponto de equil´ıbrio trivial (Q1). Uti-lizando as taxas l´ıquidas de reprodu¸c˜ao de bact´erias l´acticas e de Listeria, podemos formular as condi¸c˜oes limiares para estabilidade desse equil´ıbrio, que representa a ausˆencia de micror-ganismos, conforme ser´a demonstrado no pr´oximo teorema.

Teorema 2.6.1. Se φ1− µ1 < 0 e φ2− µ4 < 0, ent˜ao o ponto de equil´ıbrio trivial Q1 ´e ´unico, e local e assintoticamente est´avel em Ω, e, se φ1− µ1 > 0 e φ2 − µ4 > 0, Q1 ´e inst´avel. Se φ1− µ1 ≤ 0 e φ2− µ4 ≤ 0 o ponto de equil´ıbrio trivial Q1 ´e global e assintoticamente est´avel em Ω.

Demonstra¸c˜ao:

A unicidade do ponto de equil´ıbrio trivial, quando φ1 − µ1 < 0 e φ2 − µ4 < 0, j´a foi discutida anteriormente.

A matriz Jacobiana do sistema calculada no ponto Q1 resulta em

J1 =                 (φ1− µ1) 0 0 0 α1φ1 −µ2 0 0 α2φ1 0 −µ3 0 0 0 0 (φ2− µ4)                 ,

(38)

SEC¸ ˜AO 2.6 • AN ´ALISE DE ESTABILIDADE 26

cujos autovalores s˜ao:

λ1 = φ1 − µ1, λ2 = −µ2, λ3 = −µ3 e λ4 = φ2− µ4.

O primeiro e o ´ultimo autovalores ser˜ao negativos se φ1 < µ1 e φ2 < µ4, respectivamente. Portanto, o ponto de equil´ıbrio Q1 ´e local e assintoticamente est´avel para φ1 < µ1 e φ2 < µ4. Se φ1 > µ1 e φ2 > µ4, os autovalores λ1 e λ4 ser˜ao positivos e, dessa maneira, Q1 ser´a inst´avel.

Quando φ1 ≤ µ1 e φ2 ≤ µ4, podemos provar, tamb´em, que Q1 ´e global e assintotica-mente est´avel em Ω. Os teoremas e resultados sobre estabilidade global, utilizados nessa demonstra¸c˜ao, encontram-se no Apˆendice A.

Para provar a estabilidade global e assint´otica do ponto Q1, definimos a seguinte fun¸c˜ao V : Ω → R dada por:

V = X + L. A derivada orbital de V ´e dada por

˙ V = X  φ1− µ1 −φ1 KX  + L  φ2− µ4 −φ2 KL − η1δ1A − η2δ2B  . Como  φ1− µ1− φ1 KX  < 0, e  φ2− µ4−φ2 KL − δ1A − δ2B  < 0,

quando (φ2− µ4) ≤ 0 e (φ1− µ1) ≤ 0 e, pelo fato de que X ≥ 0 e L ≥ 0 em Ω, segue que ˙

V ≤ 0. Al´em disso, conclu´ımos que ˙V = 0 ⇔ X = 0 e L = 0.

O conjunto contido em Ω tal que a derivada orbital ´e nula ( ˙V = 0), corresponde a S = {(X, A, B, L) : X = 0, A ≥ 0, B ≥ 0, L = 0}. Nesse conjunto, o sistema (2.1) reduz a

(39)

                                   dX dt = 0 dA dt = −µ2A dB dt = −µ3B dL dt = 0.

Dessas equa¸c˜oes tem-se que X(t) = 0, A(t) → 0, B(t) → 0 e L(t) = 0, quando t → ∞. Assim, o maior subconjunto invariante contido em S tal que a derivada orbital ´e nula ( ˙V = 0) ´e M = {Q1}.

Resumindo, assumindo que φ1 − µ1 ≤ 0 e φ2− µ4 ≤ 0, temos as seguintes hip´oteses do teorema de La Salle-Lyapunov:

(i) V ´e limitada em Ω, ou seja, existe k ∈ R tal que V < k no conjunto Ω. De fato, pois utilizamos equa¸c˜ao de crescimento log´ıstico para as vari´aveis X e L. Sendo assim, o m´aximo valor assumido por X e L em equil´ıbrio ´e, respectivamente, X = φ1−µ1

φ1 K e

L = φ2−µ4

φ2 K. Portanto, segue que V < k = X + L;

(ii) ˙V ≤ 0;

(iii) O maior conjunto invariante contido em S =n(X, A, B, L) : ˙V = 0o´e M = {Q1}.

Portanto, pelo teorema de La Salle-Lyapunov [20] toda trajet´oria que come¸ca em Ω e permanece limitada aproxima para o ponto Q1. Mostramos que o ponto trivial Q1 ´e assintoticamente est´avel e, como o dom´ınio de estabilidade assint´otica ´e todo o espa¸co onde o sistema dinˆamico est´a definido, segue que o ponto Q1 ´e global e assintoticamente est´avel se φ1− µ1 ≤ 0 e φ2− µ4 ≤ 0. 

(40)

SEC¸ ˜AO 2.6 • AN ´ALISE DE ESTABILIDADE 28

2.6.2

Equil´ıbrios n˜

ao-triviais

Correpondem aos equil´ıbrios n˜ao triviais aqueles designados por Q2, Q3 e Q4, onde h´a, pelo menos, uma das bact´erias.

Com rela¸c˜ao ao equil´ıbrio Q3, que representa ausˆencia de bact´erias l´acticas e prevalecˆencia de Listeria, temos o seguinte resultado:

Teorema 2.6.2. Se φ1 < µ1 e φ2 > µ4, ent˜ao o ponto de equil´ıbrio Q3 ´e local e assintotica-mente est´avel em Ω.

Demonstra¸c˜ao:

A matriz Jacobiana do sistema calculada no ponto Q3 resulta em

J3 =                 φ1− µ1 0 0 0 α1φ1 −µ2− δ1φ2−µ4 φ2  K 0 0 α2φ1 0 −µ3− δ2φ2−µ4 φ2  K 0 0 −η1δ1φ2−µ4 φ2  K −η2δ2φ2−µ4 φ2  K −(φ2− µ4)                 .

Os autovalores correspondentes s˜ao:

λ1 = φ1−µ1, λ2 = −(φ2−µ4), λ3 = −µ2−δ1  φ2− µ4 φ2  K e λ4 = −µ3−δ2  φ2− µ4 φ2  K. Os dois primeiros autovalores s˜ao negativos se φ1 < µ1 e φ2 > µ4, respectivamente; mas a ´

ultima condi¸c˜ao implica que os dois ´ultimos autovalores tamb´em s˜ao negativos. Portanto, o ponto de equil´ıbrio Q3´e local e assintoticamente est´avel se φ1 < µ1 e φ2 > µ4. Vale ressaltar que φ1 < µ1 e φ2 > µ4 s˜ao as condi¸c˜oes necess´arias para a existˆencia do ponto Q3. 

Vamos analisar as duas ´ultimas regi˜oes de varia¸c˜ao dos parˆametros φ1× φ2, dadas por φ1 > µ1e φ2 < µ4, e φ1 > µ1e φ2 > µ4. Na se¸c˜ao anterior mostramos que nesta ´ultima regi˜ao

(41)

os equil´ıbrios Q2 e Q4 devem ser poss´ıveis, desde que sejam satisfeitas algumas condi¸c˜oes adicionais.

A estabilidade local e assint´otica do ponto de equil´ıbrio Q2´e provada no teorema seguinte. Teorema 2.6.3. O ponto de equil´ıbrio Q2 ´e local e assintoticamente est´avel em Ω se uma das seguintes condi¸c˜oes ´e satisfeita:

(i) Se φ1 > µ1 e φ2 < µ4, ou

(ii) Se φ1 > µ1, φ2 > µ4 e δ2 > c − dδ1. Demonstra¸c˜ao:

A matriz Jacobiana do sistema calculada no ponto Q2 resulta em

J2 =                 −(φ1− µ1) 0 0 0 α1φ1 −µ2 0 −δ1α1(φ1−µ1)K µ2 α2φ1 0 −µ3 −δ 2α2(φ1−µ1)K µ3 0 0 0 (φ2− µ4) − (φ1− µ1)Khη1δ1α1 µ2 + η2δ2α2 µ3 i                 ,

cujos autovalores s˜ao

λ1 = −(φ1− µ1), λ2 = −µ2, λ3 = −µ3, e o ´ultimo λ4 ´e dado por

λ4 = (φ2− µ4) − (φ1− µ1)K  η1δ1α1 µ2 + η2δ2α2 µ3  .

O primeiro autovalor ´e negativo para φ1 > µ1, que ´e uma das condi¸c˜oes para este ponto de equil´ıbrio ser est´avel. A outra condi¸c˜ao de estabilidade ´e obtida do ´ultimo autovalor: (a)

(42)

SEC¸ ˜AO 2.6 • AN ´ALISE DE ESTABILIDADE 30

quando φ2 < µ4 (Listeria n˜ao reproduz eficientemente); (b) quando φ2 > µ4 uma condi¸c˜ao adicional ´e δ2 > c − dδ1. A ´ultima condi¸c˜ao matem´atica significa biologicamente que, quando Listeria reproduz eficientemente (φ2 > µ4), ent˜ao o ponto de equil´ıbrio Q2 ser´a est´avel se, e somente se, δ2 > c − dδ1, isto ´e, a bact´eria l´actica deve ter intensa atividade. Isso significa que quando a taxa de produ¸c˜ao l´ıquida de Listeria em rela¸c˜ao `a quantidade de bacteriocina que pode interagir efetivamente com a Listeria (representada por c) ´e muito alta, ent˜ao a a¸c˜ao inibidora do ´acido l´actico, representada pelo parˆametro δ1, deve tamb´em ser alta. Assim, ´e poss´ıvel controlar a contamina¸c˜ao do alimento com Listeria se a a¸c˜ao inibidora da bacteriocina (representada por δ2) tiver intensa atividade. 

Resumimos as regi˜oes de estabilidade de varia¸c˜ao dos parˆametros φ1×φ2 levando em conta os trˆes equil´ıbrios Q1, Q2 e Q3: (1) para φ1 < µ1 e φ2 < µ4, Q1 ´e local e assintoticamente est´avel; (2) para φ1 < µ1 e φ2 > µ4, Q3 ´e local e assintoticamente est´avel; (3) para φ1 > µ1 e φ2 < µ4, Q2 ´e local e assintoticamente est´avel; e (4) para φ1 > µ1 e φ2 > µ4, Q2 permanece est´avel para δ2 > c − dδ1. Esses resultados s˜ao apresentados na figura (2.3).

Taxa Intrínseca de Crescimento da Bact. Láctica ( φ

1 )

Taxa Intrínseca de Crescimento da Listeria (

φ 2 ) µ1 µ4 Q3 é L. A. E. Q 1 é L. A. E. Q2 é L. A. E. Q2 ou Q4 é L. A. E.

Figura 2.3: Diagrama que mostra as regi˜oes no gr´afico φ1 × φ2, onde cada um dos pontos de

equil´ıbrio, Q1, Q2 e Q3, ´e local e assintoticamente est´avel (L. A. E.).

Supondo que φ1 > µ1, φ2 > µ4, e quando a equa¸c˜ao p(L) = 0 admite uma ´unica solu¸c˜ao real positiva, ´e poss´ıvel provar analiticamente que, para valores de δ1 e δ2 pertencentes `a determinadas regi˜oes dos gr´aficos δ1× δ2, o ponto de equil´ıbrio Q4 ´e local e assintoticamente

(43)

est´avel. Este resultado ser´a apresentado no teorema (2.6.4).

Teorema 2.6.4. Se δ2 < c − dδ1, δ1 < b/µ3 e δ2 < b/µ2, ent˜ao o ponto de equil´ıbrio Q4 ´e local e assintoticamente est´avel em Ω.

Demonstra¸c˜ao:

A matriz Jacobiana do sistema calculada no ponto Q4 resulta em

J4 =                 −(φ1 − µ1) 0 0 0 α1φ1 −µ2− δ1L4 0 −δ1hα1(φ1−µ1)K µ2+δ1L4 i α2φ1 0 −µ3− δ2L4 −δ2hα2(φ1−µ1)K µ3+δ2L4 i 0 −η1δ1L4 −η2δ2L4 −φ2L4 K                 .

A equa¸c˜ao caracter´ıstica dada por Ψ(λ) = det(J4 − λI) = 0 pode ser escrita como Ψ(λ) = p1(λ) × p2(λ) = 0, onde p1(λ) = −(φ1− µ1) − λ, e

p2(λ) = λ3+ C1λ2+ C2λ + C3, (2.10)

(44)

SEC¸ ˜AO 2.6 • AN ´ALISE DE ESTABILIDADE 32                                                      C1 = (δ1+ δ2)L4+φ2L4 K + µ2+ µ3 C2 = η2δ1δ2  α2(φ1− µ1)K µ3+ δ2L4  L4+ η1δ1δ2  α1(φ1− µ1)K µ2+ δ1L4  L4+ δ1δ2L24+ µ2µ3 + (δ1+ δ2)  2φ2L4 K − (φ2− µ4)  L4+ (δ2µ2+ δ1µ3)L4+ φ2L4 K (µ2 + µ3) C3 = η2µ3δ1δ2  α2(φ1− µ1)K µ3+ δ2L4  L4+ η1µ2δ1δ2  α1(φ1− µ1)K µ2+ δ1L4  L4 + (δ1δ2L4+ δ2µ2 + δ1µ3)  2φ2L4 K − (φ2− µ4)  L4+φ2L4 K µ2µ3.

Um autovalor ´e facilmente obtido a partir de p1(λ) = 0, sendo que λ1 = −(φ1 − µ1) ´e negativo pois (φ1− µ1) > 0 por hip´otese.

Para garantir a estabilidade assint´otica do ponto Q4 ´e necess´ario analisar tamb´em, o sinal dos autovalores designados por λ2, λ3 e λ4, que s˜ao as ra´ızes da equa¸c˜ao p2(λ) = 0. Para essa an´alise ser´a utilizado o Crit´erio de Hurwitz que estabelece que, se C1 > 0, C3 > 0 e C1C2− C3 > 0, ent˜ao todos os autovalores associados ao polinˆomio (2.10) s˜ao negativos (se reais), ou tˆem parte real negativa (se complexos). Maiores detalhes sobre o crit´erio de Hurwitz s˜ao apresentados no Apˆendice A.

Verifica-se de imediato que, se L4 > (φ2−µ4)

2φ2 K, ent˜ao todos os coeficientes de p2(λ) s˜ao

positivos. Entretanto, n˜ao sabemos a priori o valor de L4, que ´e a solu¸c˜ao positiva da equa¸c˜ao p(L) = 0. Portanto, para verifica¸c˜ao das condi¸c˜oes do Crit´erio de Hurwitz, ser´a necess´ario reescrever C3 de maneira conveniente.

• Verifica¸c˜ao de que C1 > 0:

Claramente o coeficiente C1 ´e positivo, pois L4 corresponde `a solu¸c˜ao positiva da equa¸c˜ao (2.3), e todos os parˆametros s˜ao positivos.

(45)

• Verifica¸c˜ao de que C3 > 0:

Multiplicando o coeficiente C3 pelo denominador comum K(µ2 + δ1L4)(µ3 + δ2L4) e colocando L4 em evidˆencia podemos reescrevˆe-lo como

C3 =

L4

K(µ2+ δ1L4)(µ3+ δ2L4) × P (L4), (2.11)

onde denotamos P (L4) = ea4L4

4+ ea3L34+ ea2L24+ ea1L4− µ2µ3 a0 L4

, cujos coeficientes s˜ao                                                  e a4 = 2φ2δ2 1δ22 e a3 = δ1δ2K(φ2− µ4)  4 b µ2 δ1+ 3 b µ3 δ2−  δ1− b µ3  δ2  e a2 = 2(δ2µ2+ δ1µ3)  b µ2δ1−  δ1− b µ3  δ2  + 2φ2δ1δ2µ2µ3 e a1 = −K(φ2− µ4)(δ2µ2+ δ1µ3)  µ3  δ1− b µ3  + µ2  δ2− b µ2  + δ1δ2K2(φ1− µ1)(η1α1µ2δ2+ η2α2µ3δ1), e a0 = K2(φ1− µ1)α2η2µ2[δ2− (c − dδ1)] .

Considerando que L4 ´e positivo, para analisar o sinal de C3, basta verificar o sinal de P (L4).

Temos por hip´otese que δ2 < c − dδ1, ou seja, a0 < 0. Nestas condi¸c˜oes, garantimos a existˆencia de uma ´unica solu¸c˜ao biologicamente vi´avel para a equa¸c˜ao (2.3), e temos que o ´ultimo termo de P (L4) ´e positivo (−µ2µ3a0/L4 > 0).

Sabendo-se que (φ1 − µ1) > 0 e (φ2 − µ4) > 0, e considerando as hip´oteses de que δ1 < b/µ3 e δ2 < b/µ2, segue imediato que ea4 > 0, ea3 > 0, ea2 > 0 e ea1 > 0.

(46)

SEC¸ ˜AO 2.6 • AN ´ALISE DE ESTABILIDADE 34

Portanto, mais uma vez considerando que L4corresponde `a solu¸c˜ao positiva da equa¸c˜ao a3L3+a2L2+a1L+a0 = 0, conclui-se que P (L4) = ea4L4+ e4 a3L34+ ea2L24+ ea1L4−µ2µ3a0

L4 > 0 e, consequentemente, C3 ´e positivo.

• Verifica¸c˜ao de que C1C2− C3 > 0:

Denotemos C∗ = C1C2− C3. Efetuando os c´alculos obt´em-se

C∗ = b3L34+ b2L24+ b1L4 + b0, onde                                                              b3 = (δ1+ δ2)  δ1δ2+φ2 K  2φ2 K + 2δ1+ δ2  +φ2δ 2 2 K b2 = −(φ2− µ4)  δ1− b µ3   δ1 + φ2 K  − (φ2− µ4)  δ2− b µ2   δ1+ δ2+ φ2 K  +  δ1+ δ2+φ2 K  (δ2µ2+ δ1µ3+ η1δ1δ2A4+ η2δ1δ2B4) + µ2δ2φ2 K + (µ2+ µ3)δ1δ2+ 2 φ2 K(δ1µ2+ δ2µ3) b1 = −µ2(φ2− µ4)  δ1− b µ3  − µ3(φ2− µ4)  δ2 − b µ2  + µ2µ3  δ1+ δ2+ 2φ2 K  + (µ2+ µ3)(δ2µ2+ δ1µ3) + δ1δ2(η1µ3A4+ η2µ2B4) b0 = (µ2+ µ3)µ2µ3.

Considerando a hip´otese de que δ2 < c − dδ1, δ1 < b/µ3 e δ2 < b/µ2, e sendo A4, B4 e L4, coordenadas positivas do ponto Q4, ´e poss´ıvel verificar que b3 > 0, b2 > 0, b1 > 0 e b0 > 0. Portanto, segue que b3L3

4 + b2L24 + b1L4 + b0 > 0 e conclui-se que C∗ = C1C2− C3 > 0, como quer´ıamos demonstrar. 

No teorema anterior provamos que, para valores particulares assumidos pelos parˆametros δ1 e δ2, abaixo da reta h(δ1), o ponto de equil´ıbrio de coexistˆencia de bact´erias (Q4) ´e local e

(47)

assintoticamente est´avel em Ω. Isso n˜ao significa, entretanto, que para outros valores desses parˆametros, Q4 seja inst´avel. Pelo contr´ario, experimentos num´ericos fornecem evidˆencias de que basta ter δ2 < h(δ1) para que o equil´ıbrio Q4 seja local e assintoticamente est´avel. Por´em, esse resultado ´e dif´ıcil de se provar analiticamente, visto que n˜ao sabemos os valores assumidos por L4.

2.7

Resultados num´

ericos

Na se¸c˜ao anterior, provamos analiticamente a estabilidade local e assint´otica dos pontos de equil´ıbrio do sistema (2.1), para as situa¸c˜oes onde isso foi poss´ıvel. Lembremos que a equa¸c˜ao p(L) = 0 admite uma ´unica solu¸c˜ao real positiva quando δ2 < h(δ1), e, se δ2 > h(δ1), para determinados casos ´e poss´ıvel obter duas solu¸c˜oes reais positivas. Nesta se¸c˜ao ser˜ao apresentadas simula¸c˜oes num´ericas, assim como diagramas de bifurca¸c˜ao, para a an´alise dos casos de estabilidade, quando n˜ao foi poss´ıvel demonstra¸c˜oes anal´ıticas.

2.7.1

Estabilidade do equil´ıbrio de coexistˆ

encia para fraca

intera¸c˜

ao do ´

acido l´

actico e da bacteriocina com a Listeria

Analisemos agora o ponto de equil´ıbrio Q4, considerando que a equa¸c˜ao (2.3) para L admite uma ´unica solu¸c˜ao biologicamente vi´avel. Isso ocorre quando h´a uma fraca intera¸c˜ao entre bacteriocina e/ou ´acido l´actico com a Listeria, ou seja, quando (δ1, δ2) est´a abaixo da reta h(δ1). Quando φ1 > µ1 e φ2 > µ4, mas δ2 < h(δ1), Q4 deve ser local e assintoticamente est´avel. De fato, numericamente verificamos que, nesta regi˜ao de parˆametros φ1× φ2, todas as trajet´orias s˜ao atra´ıdas para o equil´ıbrio de coexistˆencia Q4. As simula¸c˜oes num´ericas do modelo foram realizadas utilizando-se o pacote MATLAB e o m´etodo num´erico Runge-Kutta de quarta ordem.

No teorema (2.6.4), foi provada a estabilidade local e assint´otica de Q4, assumindo-se que δ2 < c − dδ1, e, al´em disso, considerando que δ1 < b/µ3 e δ2 < b/µ2. Note que para o caso (4) (veja figura 2.2), essas condi¸c˜oes representam toda a regi˜ao abaixo da reta h(δ1). Entretanto, para os demais casos, mesmo assumindo que δ1 < b/µ3 e δ2 < b/µ2, n˜ao s˜ao

(48)

SEC¸ ˜AO 2.7 • RESULTADOS NUM´ERICOS 36

contempladas todas as regi˜oes abaixo da reta. Dessa maneira, as simula¸c˜oes foram feitas para δ2 < c − dδ1, mas considerando que pelo menos uma das outras condi¸c˜oes n˜ao sejam satisfeitas. Para isso, foram tomados valores arbitr´arios para os parˆametros tal que φ1 > µ1, φ2 > µ4 e δ2 < c − dδ1, e analisando cada caso em particular.

Na tabela (2.4) encontram-se conjunto de parˆametros utilizados nas simula¸c˜oes num´ericas.

Tabela 2.4: Valores de parˆametros que foram utilizados nas simula¸c˜oes num´ericas das trajet´orias dinˆamicas, considerando-se os casos (1), (2), (3) e (5) citados na tabela (2.2).

Casos φ1 φ2 K η1 η2 µ1 µ2 µ3 µ4 α1 α2

(1) 1 1 10 1 1 0, 9 0, 1 0, 2 0, 5 1 1

(2) 1 1 10 1 1 0, 8 0, 1 0, 2 0, 5 1 1

(3) 1 1 10 1 1 0, 8 0, 1 0, 2 0, 5 1 2

(5) 1 1 10 1 1 0, 8 0, 1 0, 2 0, 4 1 1

Al´em destes parˆametros, considerando sempre δ2 < c − dδ1, foram utilizados: (a) Para o caso (1), δ1 = 0, 04 (µ2/m < δ1 < c/d) e δ2 = 0, 01;

(b) Para o caso (2), δ1 = 0, 022 (b/µ3 < δ1 < c/d) e δ2 = 0, 001; (c) Para o caso (3), δ1 = 0, 023 (b/µ3 < δ1 < c/d) e δ2 = 0, 001 e (d) Para o caso (5), δ1 = 0, 001 (δ1 < µ2/m) e δ2 = 0, 04.

Denotamos as condi¸c˜oes iniciais, X0 = X(t = 0), A0 = A(t = 0), B0 = B(t = 0) e L0 = L(t = 0). A figura (2.4) mostra simula¸c˜oes num´ericas para os casos (1), (2), (3) e (5), representados por (a), (b), (c) e (d), respectivamente.

Observe que, para o caso (1) (figura 2.4(a)), foram considerados valores iniciais pr´oximo do equil´ıbrio trivial (Q1). Mesmo com um pequeno in´oculo de bact´erias, principalmente de Listeria, ambas popula¸c˜oes s˜ao capazes de se estabelecerem. A popula¸c˜ao de Listeria cresce

Referências

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