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DECISÕES RELEVANTES
CONSULTA:
Conselheiro Jerson Domingos “O ente federativo teria a responsabilidade (obrigatoriedade) do custeio da taxa de administração do Instituto de Previdência Própria?”
PROCESSO TC/MS: TC/116662/2012 PROTOCOLO: 1377005
ÓRGÃO: INSTITUTO MUNICIPAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE ROCHEDO ASSUNTO DO PROCESSO: CONSULTA
RELATOR: CONS. JERSON DOMINGOS
CONSULENTE: GILSON SANDIM DE REZENDE CARGO DO CONSULENTE: DIRETOR-PRESIDENTE
QUESITOS
Em apreciação à Consulta formulada pelo Sr. Gilson Sandim de Rezende, Diretor-Presidente do Instituto Municipal de Previdência Social do Município de Rochedo, em que o Consulente, via expediente protocolizado em 06 de setembro de 2012, submete a resposta deste Tribunal de Contas, o seguinte questionamento:
“1 – O ente federativo teria a responsabilidade (obrigatoriedade) do custeio da taxa de administração do Instituto de Previdência Própria?”
Cuidando-se na espécie de matéria afeita à jurisdição e competência desta Corte de Contas, versada sobre indagação inédita na esfera dos precedentes sobre a questão, o expediente foi recepcionado pela Egrégia Presidência como Consulta nos termos do artigo 185, parágrafo único, do Regimento Interno então vigente, vindo-me o processo para Relatório-Voto na qualidade de Conselheiro sucessor dos feitos então atribuídos à jurisdição do Conselheiro Valdir Neves – peça nº 01 – Ofício de Encaminhamento.
O aspecto indagado na Consulta foi inicialmente submetido ao crivo de posicionamento da Assessoria Jurídica da Presidência, que, por seu turno, concluiu via Parecer estampado na peça nº 2, que a indagação formulada sugere o recebimento da seguinte resposta:
“Diante da consulta ora apresentada, esta Assessoria Jurídica, em consonância com a legislação vigente, oferta a seguinte resposta ao questionamento suscitado pelo
2 Consulente:
Quesito nº 1 – O ente federativo teria a responsabilidade (obrigatoriedade) do custeio da taxa de administração do Instituto de Previdência Própria?
Resposta: Sim. Em razão do caráter contributivo, o custeio do regime próprio de previdência é de responsabilidade de todos os participantes obrigatórios, sem distinção. A Lei 9717/98 em seu artigo 6º, inciso VIII, prevê a possibilidade de criação de taxa de administração para custeio das despesas administrativas. Por seu turno, regulamentando essa disposição legal, a Portaria MPS 402/2008, no artigo 15, fixa o limite máximo dessa taxa, qual seja, 2% da remuneração dos participantes do respectivo regime.
Analisando-se o sistema de custeio do regime próprio, conclui-se que o recolhimento da aludida taxa se faz de forma solidária, ou seja, todos os participantes estão obrigados. Vale dizer, o Município (empregador público), enquanto contribuinte obrigatório, é responsável pelo custeio do RPPS, assim como os servidores municipais titulares de cargos efetivos, ativos, inativos, pensionistas, civis e militares, sendo, portanto, solidariamente responsável pelo pagamento da taxa de administração que vier a ser instituída.”
De sua banda, a Procuradoria de Contas emitiu o Parecer retratado na peça nº 3, pela qual, após apontar as presenças dos requisitos formais de Ordem Regimental para o cabimento da Consulta, concluiu opinando no sentido de que o processo comporta ser solvido com a oferta da seguinte resposta:
(...)
II – Que o quesito apresentado obtenha a seguinte resposta:
“1 – O ente federativo teria a responsabilidade (obrigatoriedade) do custeio da taxa de administração do Instituto de Previdência Própria?”
Resposta: Sim, por força do caráter contributivo dos Regimes Próprios de Previdência, a responsabilidade pelo custeio caberá tanto ao ente federativo, como aos servidores ativos, inativos e pensionistas.
A taxa de administração instituída em até dois por cento incidirá sobre base de cálculo formada pelo total de recursos previdenciários (custeado pelos obrigados) revertidos para o pagamento de remunerações, proventos e pensões aos segurados, no exercício financeiro anterior.”
3 DAS RAZÕES DO VOTO.
Analisada a consulta em seus aspectos prefaciais, constato que a mesma encontra-se devidamente instruída, observados como foram os pressupostos de admissibilidade e demais formalidades estabelecidos para o seu conhecimento, segundo os preceitos das normas Regimentais vigentes à época de seu ingresso neste Tribunal.
Quanto ao mérito da indagação já reproduzida no relatório acima, observo de início que a matéria comporta receber algumas considerações teóricas sobre a sua questão de fundo, partindo-se do princípio da autonomia dos entes federados assegurado pela Constituição Federal de 1988, que conferiu aos Municípios o direito/dever de criar um sistema próprio previdenciário para seus servidores.
Nessa ordem de ideia – subsidiado pelas observações feitas pelo Conselheiro-Relator que me antecedeu na jurisdição do feito em seu esboço de Relatório-Voto já então em vias de ser submetidos a julgamento quando recebi o processo – a passo adiante a tomá-los por empréstimo, transcrevendo-as em seguida:
“Dito regime próprio teve a regulamentação da sua instituição e funcionamento somente após dez anos da promulgação daquela Carta, com a edição da Lei Federal nº 9.717/98 de 28 de novembro de 1998, seguida da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, e da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003. Até então, a previdência social era vista como um direito do cidadão, que, em decorrência da implementação dos requisitos para aposentadoria, ou em virtude de sua incapacidade laborativa, via no Estado o dever de assegurar-lhe uma vida digna, suprindo suas carências.
Com a mudança de comportamento dos governantes, houve a tendência de implantar no setor público normas e conceitos até então aplicáveis somente ao setor privado (eficiência, economicidade, caráter contributivo dos benefícios previdenciários e equilíbrio financeiro e atuarial), através das Emendas Constitucionais nº 19, 20 e 41, deixando o Estado de ter a imagem de “pai de todos”, ou seja, pensava-se ser legítima, justa e viável a possibilidade de contribuir pouco (ou nada) para receber muito, desvinculando os conceitos de contribuição e benefício.
Aliado a este pensamento, restou clara a urgência de modificar o sistema de custeio previdenciário, vez que o sistema adotado pelo Regime Geral de Previdência Social – o
de repartição simples1 demonstrou ser ineficiente dentro da realidade atual, onde o
4 rápido envelhecimento da população associado à baixa taxa de fecundidade tende a agravar a questão previdenciária, já em níveis deficitários.
Assim, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 20/1988, em seguida “reformada” pela Emenda Constitucional nº 41/2003, um novo modelo foi idealizado na Constituição Federal. O caráter contributivo da Previdência Social (com equilíbrio atuarial e financeiro), expresso nos artigos 40 e 201 da Constituição Federal, o qual refletiu principalmente no setor público, até então custeado sem contribuição ou, quando esta existia, ocorria de maneira irrisória.
Logo, o caráter contributivo diz respeito ao financiamento dos Regimes Próprios de Previdência Social, só havendo concessão de benefícios se houver a respectiva contribuição. A outra característica, o equilíbrio financeiro-atuarial, visa assegurar a saúde financeira do regime. Assim, “equilíbrio financeiro” deve traduzir que todas as contribuições arrecadadas são suficientes para o pagamento de todos os benefícios devidos num determinado exercício financeiro.
Trazendo este conceito de equilíbrio financeiro – que consiste apenas num exercício – para uma variável temporal maior, a médio e a longo prazo, constrói-se a ideia de equilíbrio atuarial, uma vez que este envolve expectativa de pagamento de contribuições e recebimento de benefícios por muito tempo.
Desse modo, equilíbrio atuarial obedece à lógica elementar de que o valor cobrado deve cobrir os custos inerentes à operação. Destarte, o estudo atuarial para o cálculo das contribuições requer a aplicação de algum princípio de equivalência entre as obrigações das partes indicadas na relação jurídica previdenciária.
O princípio da solidariedade está estampado na Constituição Federal de 1988 no seu limiar. O art. 3º da referida Carta, em seu inciso I, quando nos fala dos objetivos fundamentais da República Brasileira, deixa claro que a solidariedade é o âmago do Estado brasileiro. Assim, é certo concluir-se que todo e qualquer sistema de Seguridade Social funda-se no princípio da solidariedade.
No caso do subsistema previdenciário brasileiro, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 40, ao tratar dos Regimes de Previdência dos servidores públicos, diz expressamente que estes são contributivos e solidários, na única referência expressa
pagam pelos inativos de hoje, na esperança de que novas gerações de contribuintes venham a fazê-lo quando passarem para a inatividade” (Oliveira, F.E.B. e Beltrão K., 1997. Reforma da Previdência. Rio de Janeiro: IPEA/DIPEA, Texto para Discussão no 508).
5 que faz sobre a solidariedade na Seguridade Social.
Importante ressaltar que esse caráter contributivo teve como consequência a imposição da instituição da vinculação obrigatória a algum sistema previdenciário por parte dos servidores públicos, seja ele Próprio – Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) – ou Geral – Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Nesse sentido, a Lei No 9717/98, que dispõe sobre regras gerais para a organização e o
funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em seu artigo 1º, inciso I, prevê que o financiamento desse regime próprio se dará mediante recursos provenientes dos entes políticos e das contribuições do pessoal civil, militar, ativos, inativos e pensionistas do respectivo regime.
Especificamente quanto à taxa de administração, a citada lei prevê sua criação no artigo 6º, inciso VIII. Regulamentando tal previsão, veio a lume a Portaria MPS nº 402/2008 que, em seu artigo 15, dispôs o seguinte:
(...).
Art. 15. Para cobertura das despesas do RPPS, poderá ser estabelecida, em lei, Taxa de Administração de até dois pontos percentuais do valor total das remunerações, proventos e pensões dos segurados vinculados ao RPPS, relativo ao exercício financeiro anterior, observando-se que:
I – será destinada exclusivamente ao custeio das despesas correntes e de capital necessárias à organização e ao funcionamento da unidade gestora do RPPS, inclusive para a conservação de seu patrimônio;
Fixou-se, portanto, o limite de 2% do valor total da remuneração, proventos e pensões dos segurados vinculados ao regime próprio de previdência, relativamente ao exercício anterior, para despesas de caráter administrativo.
E, em razão do caráter solidário, o custeio do regime próprio de previdência social é de responsabilidade tanto dos seus segurados quanto do ente político. Sendo assim, pode-se afirmar que o mesmo ocorre com a obrigação do pagamento da taxa de administração.
Portanto, em resposta ao questionamento feito pelo Consulente, verifica-se que o Município (empregador público), enquanto contribuinte obrigatório, é sim responsável pelo custeio do RPPS, assim como os servidores municipais titulares de cargos efetivos, ativos, inativos, pensionistas, civis e militares, sendo, portanto, solidariamente
6 responsável pelo pagamento da taxa de administração que vier a ser instituída.
Desse modo, por considerar úteis, revestidas de propriedade e coincidentes com a minha ótica, adoto e me encampo às colocações teóricas e legais acima transcritas, considerando-as suficientes para a necessária orientação da solução a ser dada como resposta à Consulta, dispensando, por desnecessário, o alongamento da discussão com o acréscimo de outros subsídios da mesma ordem.
CONCLUSÃO
De todo o exposto, acolho as posições da Assessoria Jurídica da Presidência, bem como as observações e opinião do Ministério Público de Contas, emolduradas com a transcrição das considerações acima transcritas, e VOTO no sentido de propor que a indagação do Consulente seja respondida por este Egrégio Tribunal Pleno, nos termos que se seguem:
“O ente federativo teria a responsabilidade (obrigatoriedade) do custeio da taxa de administração do Instituto de Previdência Própria?”
RESPOSTA
“Sim, por força do caráter contributivo dos Regimes Próprios de Previdência, a responsabilidade pelo custeio caberá tanto ao ente federativo, como aos servidores ativos, inativos e pensionistas.
A taxa de administração instituída em até dois por cento incidirá sobre base de cálculo formada pelo total de recursos previdenciários (custeado pelos obrigados) revertidos para o pagamento de remunerações, proventos e pensões aos segurados, no exercício financeiro anterior.”
Comunicado o resultado deste julgamento ao Consulente – com cópia integral deste Relatório-Voto e dos Pareceres da Assessoria Jurídica da Presidência e do Ministério Público de Contas – bem como dela dando-se conhecimento aos interessados, arquive-se o processo.