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Palavras-chave: Mulheres, Abolição, Abolição Pernambuco, Movimento abolicionista.

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AS MULHERES E O MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO DIARIO DE PERNAMBUCO (RECIFE, 1883-1888)

Jacilene de Lima Leandro

Graduanda em História pela UFRPE; jacilima.jll@gmail.com

Maria Emília Vasconcelos dos Santos

Professora adjunta à UFRPE; mariaemiliavas@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho se empenhou em investigar as trajetórias de moças e senhoras que

atuaram na militância antiescravista durante a década de 1880. Observamos o espaço público angariado pelas ativistas na cidade do Recife, campo de uma das maiores sociedades femininas do movimento abolicionista, denominada Ave Libertas. Esta associação iniciou suas atividades em 1884 e possibilitou a atuação de mulheres na capital, ocupando papel relevante na sociedade recifense. Os documentos disponíveis produzidos pelas sócias da Ave Libertas também foram averiguados em nossos estudos, os quais nos aproximaram da dinâmica de trabalho das abolicionistas. Através da Biblioteca Nacional Digital, acessamos o jornal Diario de Pernambuco, na procura de publicações com informações sobre as militantes envolvidas nas atividades abolicionistas. Com os dados analisados, identificamos eventos organizados pelas abolicionistas, como bazares, quermesses e festivais, nos quais algumas mulheres proferiram discursos políticos defendendo a causa do abolicionismo. Atuações que evidenciam a capacidade das ativistas em atuar politicamente e, por vezes, distante dos estereótipos da maternidade, filantropia e religião. Essas descobertas destacam a relevância da participação dessas mulheres, as quais ganham papel importante na história do movimento.

Palavras-chave: Mulheres, Abolição, Abolição Pernambuco, Movimento abolicionista.

INTRODUÇÃO

Alguns trabalhos historiográficos revelam a participação de mulheres no ativismo abolicionista, entretanto a maioria deles apresentam as ações femininas de forma pontual. Por isso, este trabalho buscou se aprofundar nas trajetórias de moças e senhoras que tiveram interesse em atuar no movimento abolicionista. Discutiremos aqui, acerca desta atuação feminina na cidade do Recife em fins do século XIX, através das análises de registros encontrados em nossa investigação.

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Inicialmente, averiguamos a obra de Pereira da Costa (1884), que agrupa notas e matérias publicadas em jornais sobre as festividades abolicionistas acerca da Abolição do Ceará, o que viabilizou a identificação de nomes femininos relacionados ao abolicionismo, resultando em uma listagem com quase 200 nomes. Usamos esses elementos como fio condutor em busca nos jornais Diario de Pernambuco e Jornal do Recife, entre os anos de 1880 e 1889, realizadas no sistema da Biblioteca Nacional Digital.

A hemeroteca nos possibilitou pesquisar os nomes das moças e senhoras como palavras-chave, assim encontramos episódios em que elas foram mencionadas em algum dos jornais da época. Algumas abolicionistas são localizadas em dezenas e outras em centenas de ocorrências relacionadas a clubes e ações abolicionistas, como também relativas às suas vidas privadas.

A maioria das mulheres pesquisadas estão ligadas as mobilizações antiescravistas através da Sociedade Ave Libertas, instituição criada por mulheres em Abril de 1884. As publicações nos jornais nos mostram que a direção desta associação foi composta apenas por moças e senhoras. Essas dirigentes escreveram o estatuto (FERREIRA, 1999, p. 205), o qual usamos como documento de pesquisa, nele encontramos os objetivos do grupo, métodos de ações e atribuições das suas sócias. Evidenciando a organização e empenho dessas mulheres em libertar os escravizados da cidade do Recife.

Para este trabalho, elegemos o Diario de Pernambuco como documento principal, o periódico teve grande circulação no século XIX, e assim como outros folhetos foram usados para a propaganda abolicionista. Grande parte dos anúncios das ativistas são encontrados nas seções de “publicações a pedido”, Luiz do Nascimento (1966) analisa como esses espaços abarcaram as declarações de cunho político a partir de 1883. Por possibilitar o uso de pseudônimos e a postagem de textos autorais, esses segmentos foram úteis para os abolicionistas. Nas colunas encontramos avisos da Ave Libertas com convites para sessões e informes do grupo.1

Mesmo que em menor número encontramos publicações jornalísticas com informações das vidas privadas dessas militantes, o que nos possibilitou identificar profissões, formações educacionais, círculo familiar e suas redes sociais. Algumas ativistas

1 Podemos ver em: Diario de Pernambuco, 21 de maio de 1884, Número 117, p. 5; Diario de

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foram reconhecidas como intelectuais por atuarem como oradoras e conferencistas em grandes eventos abolicionistas na capital, ganhando assim notoriedade e homenagens diversas.

MÉTODOS E RESULTADOS

Utilizamos algumas etapas metodológicas, organizadas para encontrarmos evidências sobre a atuação abolicionista feminina na Cidade do Recife. A princípio, selecionamos em repositórios acadêmicos digitais trabalhos referentes ao nosso tema, depois fizemos uma leitura refinada das pesquisas encontradas, o que nos orientou acerca dos assuntos já discutidos e nos habituou com as fontes usadas pela historiografia do movimento abolicionista.

Encontramos estudos abordando a participação feminina de maneira geral, como no livro de Angela Alonso (2014) que produziu uma história do movimento abolicionista para todo o Brasil. Nos deparamos também com investigações que apresentam as moças e senhoras como objeto principal de pesquisa, as quais se concentram em localidades específicas, como nas províncias de Minas gerais (MACENA, 2015), Amazonas (MENEZES, 2014), Rio de Janeiro(SILVA, 2014) e na cidade de Goiás (SANT’ANNA, 2006), assim como a obra organizada por Luzilá Gonçalves Ferreira(1999), que explora trajetórias de militantes abolicionistas no Nordeste. Com relação a província de Pernambuco identificamos os artigos das professoras Alcileide Nascimento (2012) e Ângela Grillo (2005), que tratam do cotidiano feminino no final do século XIX e sua atuação no movimento abolicionista, respectivamente. A pesquisa de Celso Castilho (2008), também é direcionada a província estabelecida para nossa investigação e apesar de não ter a participação feminina como tema central apresenta considerações relevantes. Todos esses trabalhos foram válidos e trouxeram dados para a construção da pesquisa aqui relatada.

Diante disso, buscamos documentos escritos por abolicionistas que nos possibilitassem uma seleção de nomes femininos ligados ao movimento. O principal deles foi organizado pelo intelectual Francisco Pereira da Costa (1884), intitulado “Pernambuco ao

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Ceará: o dia 25 de Março de 1884”. A obra apresenta um compilado de jornais pernambucanos comemorando a libertação do Ceará ocorrida em 1884, com textos e saudações. Integra também essa publicação abaixo-assinados organizados pelos abolicionistas, os quais apresentam nomes masculinos e femininos dos militantes divididos entre grupos e famílias abolicionistas.

Desta coleção extraímos mais de 100 nomes de mulheres, o que nos levou ao próximo passo da investigação, buscar esses itens nos jornais do acervo digital da Biblioteca Nacional2, seguindo a proposta do historiador italiano Carlo Ginzburg (1989), nos moldes do método nominativo3, afim de revisitar as trajetórias sociais das abolicionistas.

Elegemos o Diario de Pernambuco como documento principal da nossa investigação, nele localizamos os nomes femininos em dezenas e centenas de ocorrências. Esse periódico foi escolhido por ter sido um dos mais populares na sociedade recifense, proeminente, sem muitas interrupções nas publicações e por possuir seções diversas.

Atentamos que, os jornais absorvem o meio cultural em que estão imersos, por isso, segundo Marialva Barbosa (2010, p. 11), a partir da imprensa conseguimos remontar o circuito de comunicação da época, identificando os escritores, leitores e interpretações. Afinal, as notícias reconstroem os acontecimentos sobre alguma intenção e grande parte dos periódicos anunciavam visando um público específico, que poderia ser formado por mais de um grupo.

O Diario de Pernambuco, para atender as expectativas dos seus leitores, omitia algumas informações em publicações abolicionistas, como a natureza dos eventos ou nomes de escravizados. Entretanto, o movimento abolicionista ganhava cada vez mais popularidade, o que incentivou o interesse de jornais em abrir espaços para os ativistas, pois os anunciadores objetivavam ser porta-voz de grupos dominantes. Portanto, ao longo da campanha antiescravista o Diario aumentou as notícias sobre o abolicionismo, à sua maneira.

2 O acervo nos dá acesso a jornais desde 1740 até os dias atuais e nos permite buscar por palavras-chave, localizando assim ocorrências com as expressões procuradas, que são organizadas por décadas, locais e periódicos. Podendo ser acessado em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

3 Este método, também conhecido como método onomástico, é proposto por Carlo Ginzburg, no qual orienta o investigador no manuseio de nomes como guias para a pesquisa histórica. Para o teórico, o nome compõe uma espécie de teia, da qual é possível retirar uma “imagem gráfica do tecido social em que o indivíduo está inserido”, viabilizando também a reconstituição de trajetórias. GINZBURG, Carlo. O nome e o como. Troca desigual e mercado historiográfico. In: GINZBURG, Carlo; CASTELNUOVO, Enrico; PONI, Carlo. A Micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1989, cap. V, p. 169-178.

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Por esses motivos, Humberto Machado ressalta que é preciso ter cautela nas análises jornalísticas, pois as publicações não revelam verdades absolutas, e sim, “buscam influenciar os leitores de várias maneiras, de acordo, inclusive, com a sua posição política. Não esperemos encontrar isenção e imparcialidade por parte dos articulistas.” (MACHADO, 1991, p. 21) Ao analisar as publicações do Diario de Pernambuco, lidamos também com os embates políticos que ocupavam a imprensa na época.

A primeira questão que buscamos nas ocorrências dos jornais e na bibliografia, foi a maneira em que as mulheres entraram no movimento abolicionista. Para a historiadora Angela Alonso (2015, p. 243), a rede de ativismo abolicionista foi concebida com relações pessoais, profissionais e políticas, como o gênero feminino era posto de fora das decisões públicas, sua participação foi possível através de suas profissões, para aquelas que atuavam em áreas artísticas, como cantoras, atrizes e instrumentistas. Mas também através da família, ao acompanhar maridos, tios e pais (Ibidem, p. 101).

No início da mobilização antiescravista, os principais líderes encontraram dificuldades em organizar as promissoras “conferências-concerto”, pois existiam ameaças de repressão. Para isso, usaram algumas estratégias, como mudar os horários, iniciando no pós-almoço e pós missas, possibilitando a participação das famílias abolicionistas, nas quais as senhoras serviriam como escudo contra invasões. Entretanto, essas mulheres logo encontrariam outras ocupações no movimento (Ibidem).

Como algumas senhoras eram dedicadas às causas beneméritas, foram criadas algumas sociedades femininas afim de libertar crianças e mulheres escravizadas (Ibidem). A maioria das mulheres pernambucanas presentes nos indícios de nossa investigação, criaram ou fizeram parte da Sociedade Ave Libertas. Até aqui identificamos mais de 50 senhoras de nossa lista, designadas como sócias deste grupo.

Algumas das mulheres já participavam de ações abolicionistas através de outros grupos, entretanto, a libertação da província do Ceará teria incentivado a criação de muitas associações femininas, visto que, a estratégia adotada foi a persuasão de porta a porta, induzindo a abolição gradual em cada localidade e a fundação de clubes femininos ajudou neste progresso (Ibidem, p. 135). Assim, em 20 abril de 1884 iniciaria as atividades da Sociedade que em primeiro momento se denominou 25 de março, em homenagem à conquista

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cearense, mas por haver outras associações com o mesmo nome logo mudariam para Ave Libertas, expressão muito utilizada para saudar a liberdade.

Esta associação, permitiu mais espaço para as recifenses, além de abrir portas para novas mulheres no movimento abolicionista da cidade do Recife. Em notícias sobre as reuniões da sociedade encontramos proposta de novas sócias:

Figura 1: Descrição de Reunião da Sociedade Ave Libertas.

Fonte: Diario de Pernambuco, sábado, 23 de Maio de 1885, número 116, p. 3.

Essas publicações eram exibidas como resumos das ações da sociedade em suas reuniões, na figura acima, podemos ver as senhoras Carlota Vilella e Adelaide Porto

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propondo o título de “sócias efetivas” para mais 4 mulheres, que são unanimemente aceitas. Este processo de entrada na sociedade está prescrito no Estatuto da sociedade:

Art. 2º - São sócias as senhoras de família da Cidade do Recife e subúrbios que se inscreverem em um livro adaptado da Sociedade ou que forem propostas pelas sócias efetivas. (FERREIRA, 1999, p. 205)

Podemos notar, no terceiro parágrafo da Figura 1, que a presidente D. Leonor Porto propõe também a aprovação de homens como “sócios honorários”, esse e o título de “sócia benfeitora” implicavam apenas no reconhecimento de serviços prestados ao abolicionismo ou à sociedade Ave Libertas. Essas especificações também estão descritas no regimento:

§ 2º- São honorárias as que a Sociedade julgar dignas desse título por seus serviços prestados à causa de emancipação.

§ 3º- São benfeitoras as que fizerem donativos de uma ou mais libertação gratuita ou de um valor superior à quantia de 100$000 de uma só vez. § 4º- As sócias honorárias e benfeitoras poderão ser de qualquer nacionalidade, sendo extensivos aos homens estes títulos. (FERREIRA, 1999, p. 205)

Portanto, apenas as sócias efetivas exerciam ação direta nas obras realizadas pela associação. Ao analisarmos essas propostas de sócias, observamos que as militantes montavam uma teia de ativismo a partir das suas relações pessoais, expandindo o acesso à militância para amigas, colegas e parentes.

Em vista disso, buscamos publicações que explorassem aspectos da vida privada das investigadas, entretanto, elas foram escassas no Diario de Pernambuco. No Jornal do Recife, por sua vez, foram apresentadas amplas notas de falecimentos, nas quais identificamos mães e filhas que eram atuantes na sociedade Ave Libertas:

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Fonte: Jornal do Recife, terça 7 de Abril de 1931, Número 78, p. 2.

Neste anúncio, reconhecemos Leonor Porto e duas filhas, Adelaide e Albertina, que eram sócias efetivas da sociedade Ave Libertas, identificadas como atuantes em eventos organizados pela associação. Localizamos outras mulheres com laços de parentesco que atuavam juntas na entidade, como a professora Maria Prisciliana Vilella e sua filha que foi 2ª secretária da associação, Carlota Vilella4, as duas foram sócias e publicaram na edição única do Jornal Ave Libertas em 1885.5

Ao longo do tempo, o grupo se expandiu e realizou vários eventos para arrecadação de fundos. Faziam desde ações menores, como bazares e quermesses, até grandes festivais em teatros, como no anúncio encontrado:

Figura 3: Anúncio de Espetáculo em benefício da Sociedade Ave Libertas.

4 Encontrado em: Jornal do Recife, quinta 25 de novembro de 1886, Número 271, p. 2. 5 Jornal da Sociedade Ave Libertas. Recife, 8 de setembro de 1885. Ed. 1, p. 1-4.

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Fonte: Diario de Pernambuco, sexta 11 de Julho de 1884, Número 158, p. 5.

A publicação já anunciava o segundo espetáculo em benefício da sociedade, que seguia as características do movimento no Brasil, ocupando espaços públicos afim de angariar participação popular. Nos anúncios encontramos festivais nos teatros Santo Antônio e Santa Isabel.6 O dinheiro arrecadado servia para conquistas posteriores, como as compras da liberdade de cativos.

A programação desses eventos era recheada de atrações culturais, como concertos, óperas e peças teatrais. A associação também exibia libertações coletivas, prática recorrente nas conferências abolicionistas. Existiam também as sessões literárias com recitações de poemas, além dos espaços para oradores inscritos, os quais representavam sociedades abolicionistas e proferiam discursos contra a escravidão.

As moças e senhoras também discursavam nessas conferências, como a professora Maria Amélia de Queiroz (FERREIRA, 1999, p. 217), que participou em festivais organizados por outras sociedades e Carlota Vilella identificada em um evento como oradora da Ave Libertas.7 Essas atuações evidenciam a participação feminina distante dos estereótipos da maternidade, filantropia e religião. Ressaltando a importância dessas abolicionistas para o crescimento do movimento abolicionista na cidade do Recife.

6 Anúncio de evento no Teatro Santa Isabel: Diario de Pernambuco, Sabbado 6 de Setembro de 1884, número 206, p. 4.

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QUEM ERAM AS MULHERES ABOLICIONISTAS?

Em anúncios e trabalhos historiográficos as abolicionistas da sociedade Ave Libertas são adjetivadas como mulheres ilustres, de família e de estirpe, sinalizando que muitas sócias ocupavam as classes altas da sociedade. Além disso, nas ocorrências jornalísticas da senhora Leonor Porto encontramos dezenas de movimentações monetárias, feitas em viagens à vapor. Esses indícios não nos afirmam se as referidas abolicionistas continham grandes patrimônios, entretanto evidenciam que a maioria delas advinham de famílias importantes e abastadas na sociedade recifense.

Em fotos das dirigentes da Ave Libertas (FERREIRA, 1999, p. 86), não notamos traços de mulheres negras, entretanto, os detalhes biográficos das moças e senhoras engajadas nesta militância são encontrados em menor quantidade. Até o presente momento não temos indícios para atestar a presença de mulheres de pele escura no movimento abolicionista institucionalizado no Recife. Contudo, através da historiografia do processo de abolição nos deparamos com a participação de mulheres escravizadas e forras empenhadas nas lutas antiescravistas, em suas diferentes frentes.

Todavia, encontramos participação das ativistas institucionalizadas em clubes literários, musicais e grêmios de professores. Além de serem encarregadas de profissões como modistas, professoras, escritoras e musicistas. Os anúncios de aprovações em línguas, geografia e aritmética8 evidenciam o acesso à instrução escolar que algumas mulheres abolicionistas obtiveram.

A religiosidade das recifenses também foi reconhecida em nossa investigação, uma vez que, as mulheres foram encontradas em anúncios de festas católicas, como participantes atuantes e generosas doadoras. Mesmo que a Igreja não tenha auxiliado à luta antiescravista no Brasil, constatamos que a devoção de fé dessas mulheres se expandiu para a militância abolicionista que exerciam:

Figura 4: Detalhamento de festejos abolicionistas

8 Podemos ver em: Diario de Pernambuco, sábado 4 de dezembro de 1880, Número 280, p. 2 e Diario de

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Fonte: Diario de Pernambuco, sexta 27 de março de 1885, Número 70, p. 3.

A notícia acima revela detalhes da festa realizada por associações abolicionistas recifenses, na qual comemoraram o primeiro aniversário da libertação do Ceará. No segundo parágrafo notamos que o Bispo D. José Pereira da Silva Barros abençoa a bandeira da Sociedade Ave Libertas, o que reforça a religiosidade presente no grupo de mulheres, demonstrando que mesmo quebrando regras de comportamento feminino, a militância das abolicionistas ainda continha respaldo das regras impostas por uma sociedade patriarcal.

No entanto, a ação legitima o papel relevante que o grupo ocupou na sociedade, atestando como essas mulheres se sobressaíram na luta pela causa abolicionista, deixando em evidência a participação feminina nas discussões políticas.

As ações das moças e senhoras no final do século XIX impulsionaram a busca de cativos pela liberdade na cidade do Recife. Elas tiveram participação significativa nos desígnios do movimento abolicionista devendo assim, suas ações serem consideradas pela historiografia sobre esta temática.

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Ao identificar a dimensão da atuação feminina no abolicionismo, nos certificamos que este engajamento merece ênfase nos estudos historiográficos, afinal muitos fatores contribuíram com a história do movimento abolicionista, e a participação de mulheres demonstrou ser um caminho importante para alcançar algumas conquistas na província pernambucana.

Visto que, para além de comandar suas próprias ações, as abolicionistas mostravam suas ideias ao proferirem discursos nas conferências públicas. Esse espaço conquistado evidencia a capacidade das moças e senhoras em atuar politicamente diante de questões que, até então, estavam no domínio masculino.

Sendo assim, essa pesquisa se formula com o objetivo de dar destaque ao engajamento feminino no movimento abolicionista, para que suas contribuições políticas no final do século XIX não sejam apagadas

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Referências

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