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Emergência da topologia na física da matéria condensada

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Academic year: 2021

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(1)

Universidade Federal Fluminense

Centro de Estudos Gerais

Instituto de F´ısica

Gradua¸

ao em F´ısica

Hadassa Moraes de Faria

Emergˆencia da Topologia na F´ısica da Mat´eria Condensada

Niter´

oi-RJ

2017

(2)

HADASSA MORAES DE FARIA

EMERG ˆENCIA DA TOPOLOGIA NA F´ISICA DA MAT ´ERIA CONDENSADA

Trabalho de Conclus˜ao de Curso apresentado ao Programa de Gradua¸c˜ao em F´ısica do Instituto de F´ısica da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obten¸c˜ao do grau de Bacharel em F´ısica.

Orientador: Prof. Dr. MARCOS SERGIO FIGUEIRA DA SILVA

Niter´oi-RJ 2017

(3)
(4)

HADASSA MORAES DE FARIA

EMERG ˆENCIA DA TOPOLOGIA NA F´ISICA DA MAT ´ERIA CONDENSADA

Trabalho de Conclus˜ao de Curso apresentado ao Programa de Gradua¸c˜ao em F´ısica do Instituto de F´ısica da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obten¸c˜ao do grau de Bacharel em F´ısica.

Aprovado em 19 DEZEMBRO de 2017.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. MARCOS SERGIO FIGUEIRA DA SILVA - Orientador UFF

Prof. Dr. ANDREA BRITO LATGE UFF

Prof. Dr. ANNA MARIA N ´OBREGA CHAME UFF

Niter´oi-RJ 2017

(5)

v

Este trabalho ´e dedicado ao meu filho, Jo˜ao Henri-que, para Henri-que, um dia, ele possa viver em uma soci-edade que n˜ao apenas dependa da ciˆencia, mas tam-b´em a compreenda.

(6)

“Em seu encontro com a Natureza, a ciˆencia inva-riavelmente provoca um sentimento de reverˆencia e admira¸c˜ao. O pr´oprio ato de compreender ´e uma ce-lebra¸c˜ao da uni˜ao, da incorpora¸c˜ao, ainda que numa escala muito modesta, `a magnificˆencia do Cosmos.” Carl Sagan, O mundo assombrado pelos demˆonios.

(7)

vii

Agradecimentos

`

A oportunidade que me foi dada pela complexidade da vida e pela aleatoriedade do Universo, de poder admirar a natureza, compreender uma pequena fra¸c˜ao da magn´ıfica forma como o Cosmos se comporta e poder contribuir, de alguma forma, para o avan¸co da ciˆencia.

A toda minha fam´ılia, pelo suporte e apoio em todos os momentos. Em especial, ao meu filho, Jo˜ao Henrique, por ter me dado muita coragem e for¸ca para lutar pelos meus sonhos. `A minha m˜ae, Rosane Moraes de Faria, e minha av´o, Elisa Morais Lira Filha, por todo amparo que me deram, em todos os momentos que eu precisei e por sempre estarem ao meu lado, em quaisquer circunstˆancias. Ao meu pai, Jair de Faria, pelo incentivo desde cedo aos estudos e por sempre acreditar no meu potencial. Sem eles, minha caminhada n˜ao seria poss´ıvel.

Ao Douglas Montes de Souza, meu companheiro na F´ısica e na vida, por compartilhar comigo todos os momentos que essa gradua¸c˜ao e essa monografia nos proporcionaram. Tamb´em agrade¸co por me mostrar o qu˜ao profundo e belo ´e o significado da ciˆencia na nossa existˆencia, eu n˜ao a amaria tanto se n˜ao fosse vocˆe. Obrigada por nunca me deixar desistir, apesar de todas as dificuldades que passamos para concluir esse curso, vocˆe as conhece melhor que ningu´em. Obrigada por aprender e crescer junto comigo ao longo desses 4 anos. Esse diploma ´e nosso.

Ao Carl Sagan pelo incr´ıvel trabalho de divulga¸c˜ao cient´ıfica e por me mostrar o qu˜ao incr´ıvel e impressionante ´e o Universo e o qu˜ao prazeroso e satisfat´orio pode ser fazer ciˆencia.

Ao professor Dr. Marcos Sergio Figueira da Silva, pela orienta¸c˜ao durante a elabora¸c˜ao deste trabalho e pelos preciosos conselhos sobre a F´ısica e sobre o mundo.

Ao professor Dr. Marco Moriconi, por todo o conhecimento transmitido dentro e fora de sala e `

as inesquec´ıveis risadas e piadas ao longo desses anos.

Ao professor Dr. Lucas Mauricio Sigaud, pelo incr´ıvel bom humor e pelas hist´orias engra¸cadas compartilhadas e adquiridas nas disciplinas de F´ısica Experimental III, Laborat´orio de F´ısica Moderna e nos in´umeros encontros nos corredores do Instituto de F´ısica da UFF.

A todos os meus amigos de curso, em particular, ao Gabriel Soares, Maron Anka, Lucas Lima e Arthur Vieira, cuja ajuda em todas as disciplinas foi inestim´avel. Obrigada pelo companheirismo, conselhos e as boas risadas, ´e claro.

A todos os outros professores da UFF pela minha forma¸c˜ao acadˆemica.

E, por ´ultimo, agrade¸co a todos que direta ou indiretamente contribu´ıram para minha gradua¸c˜ao. Continuarei na busca pela pergunta para a Vida, o Universo e tudo o mais, pois a resposta j´a

(8)
(9)

ix

Resumo

O principal objetivo desse trabalho foi desenvolver um estudo de uma nova rota que se abriu para a F´ısica da Mat´eria Condensada, que ´e a intera¸c˜ao entre Topologia e F´ısica. Visando compreender as mudan¸cas geradas pela entrada da Topologia no estudo dos s´olidos, analisamos primeiramente a teoria de Landau das transi¸c˜oes de fase. Discutimos a aplica¸c˜ao da referida teoria, analisando as transi¸c˜oes de fase em materiais ferroel´etricos e supercondutores. Posteriormente, estudamos dois sistemas representativos dessa nova F´ısica: o efeito Hall quˆantico e o efeito Hall quˆantico de spin, enfatizando a discuss˜ao sobre a prote¸c˜ao topol´ogica dos estados de borda, e o po¸co quˆantico de HgTe/CdTe, um sistema que se assemelha ao efeito Hall quˆantico de spin, pois apresenta experimentalmente a fase de isolante topol´ogico, com estados de borda protegidos frente `a simetria de revers˜ao temporal.

Palavras-chave: Topologia na F´ısica. Transi¸c˜oes de fase de Landau. Efeito Hall quˆantico. Efeito Hall Quˆantico de Spin. Isolantes Topol´ogicos.

(10)

Abstract

The objective of this work was to develop a study of a new route that was opened in Condensed Matter Physics, which is the interaction between Topology and Physics. In order to understand the changes brought by the entry of Topology in the study of solids, we first analyze Landau’s theory of phase transitions. We discuss the application of this theory by analyzing the phase transitions in ferroelectric and superconducting materials. Afterwards, we study two representative systems of this new physics: the quantum Hall effect and the quantum spin Hall effect, emphasizing the discussion about the topological protection of edge states, and the HgTe/CdTe quantum well, a system that resembles the spin quantum Hall effect, since it presents experimentally the phase of topological insulator, with edge states protected by the time reversal symmetry.

Keywords: Topology in Physics. Landau’s phase transitions. Quantum Hall effect. Quantum Spin Hall Effect. Topological Insulators.

(11)

Lista de Figuras

2.1 Transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens. [1] . . . 4

2.2 Transi¸c˜ao de fase de primeira ordem. [4] . . . 7

2.3 Transi¸c˜ao de fase de segunda ordem. [4] . . . 8

2.4 Polariza¸c˜ao x Campo el´etrico para os estados ferroel´etrico e parael´etrico [7] . . . 9

2.5 (a) PS vs T para transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens. (b)  vs T para transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens.[6] . . . 10

2.6 Energia livre vs polariza¸c˜ao para diferentes temperaturas: (a) Para transi¸c˜ao de segunda ordem; (b) para transi¸c˜ao de primeira ordem. [6] . . . 11

2.7 −1 vs. T para: a) transi¸c˜ao de segunda ordem; (b) transi¸c˜ao de primeira ordem. [6] . . . 13

2.8 Solen´oide de comprimento L com N espiras. [9] . . . 14

2.9 Magnetiza¸c˜ao x campo magn´etico, para supercondutividade tipo I. [9] . . . 16

2.10 Diagrama de H x T, para a supercondutividade tipo I. [9] . . . 16

2.11 V´ortices no supercondutor do tipo II. [9] . . . 17

2.12 Diagrama de H x T, para supercondutividade tipo II. [9] . . . 18

2.13 M x H, para supercondutividade do tipo II. [9] . . . 18

2.14 Densidade de energia x parˆametro de ordem. [9] . . . 20

2.15 Magnitude do parˆametro de ordem em fun¸c˜ao da temperatura. [9] . . . 20

2.16 Calor espec´ıfico em fun¸c˜ao da temperatura. [9] . . . 21

3.1 Superf´ıcies topol´ogicas [18] . . . 23

3.2 (a) Trajet´oria cl´assica que para em t = 0; (b) Trajet´oria revertida p → −p. [12] . . . 24

3.3 Trajet´oria de um el´etron entre os p´olos norte e sul de um ´ım˜a. [12] . . . 25

3.4 Valores assumidos pelo invariante topol´ogico Q, quando H ´e continuamente transformado em H’. [11] . . . 29

3.5 Esquema que representa o Efeito Hall Cl´assico [14] . . . 30

3.6 Resistˆencia Hall x campo magn´etico `a temperatura T=1.9K. [16] . . . 33

3.7 Densidade de estados na presen¸ca de impurezas. [18] . . . 36

3.8 Rela¸c˜ao entre platˆos, m´ınimos na resistividade longitudinal e estados localizados. [18] . . 36

(12)

3.9 Estados Quirais x Helicoidais: (i) superior esquerda: um sistema unidimensional sem spin, com graus de liberdade direita e esquerda; (ii) inferior esquerda: esses 2 graus de liberdade s˜ao espacialmente separados em um sistema QH, ilustrado pela equa¸c˜ao simb´olica: 2 = 1+1. A borda superior s´o tem movimento para a direita e a inferior somente para esquerda. Os estados quirais podem contornar a impureza sem retroespalhar; (iii)superior direita: sistema unidimensional com spin tem o dobro de graus de liberdade em rela¸c˜ao ao sistema sem spin; (iv)inferior direita: esses 4 graus de liberdade est˜ao separados no sistema QSH com simetria de revers˜ao temporal. A borda superior tem spin up (ponto vermelho) se movendo para direita e spin down (cruz azul) se movendo para a esquerda e o inverso para

a borda inferior. [24] . . . 38

4.1 Estrutura zincblend do HgTe e do CdTe. Uma esp´ecie atˆomica ´e representada pela cor azul e a outra pela cor vermelha [29] . . . 41

4.2 Estrutura de bandas para HgTe e CdTe [30] . . . 42

4.3 Representa¸c˜ao da c´elula de simula¸c˜ao, onde o HgTe encontra-se “sanduichado”por CdTe. Na figura, os ´atomos em amarelo s˜ao os merc´urios, os vermelhos s˜ao os tel´urios e os azuis s˜ao os c´admios. [29] . . . 43

4.4 Po¸co Quˆantico HgTe/CdTe [30] . . . 43

4.5 N´ıveis de energia do po¸co de HgTe/CdTe pela largura do po¸co dQW. [34] . . . 43

4.6 Bandas de energia de E1(azul) e H1(vermelho) x espessura do po¸co d. [28] . . . 44

4.7 Parˆametros para o po¸co de HgTe/CdTe com diferentes larguras d. [30] . . . 45

4.8 Espectro de energia do Hamiltoniano efetivo Eq.4.1 do po¸co quˆantico. (a) No po¸co estreito (d < dc), existe um gap entre a banda de condu¸c˜ao e a de valˆencia; (b) No po¸co largo (d > dc), existem estados de borda sem gap, nas bordas esquerda (linha vermelha) e direita (linha azul). [30] . . . 46

4.9 (a) Em uma lente com revestimento anti-reflexo, a luz refletida pelas superf´ıcies superior (linha azul) e inferior (linha vermelha) interferem destrutivamente, levando a uma reflex˜ao suprimida.; (b) Dois poss´ıveis caminhos tomados por um el´etron em uma borda do efeito Hall quˆantico de spin quando espalhado por um impureza n˜ao-magn´etica. O spin eletrˆonico gira num ˆangulo de 180◦no sentido hor´ario ao longo da curva azul e no sentido anti-hor´ario ao longo da curva vermelha. Um fator de fase geom´etrico associado a esta rota¸c˜ao do spin leva `a interferˆencia destrutiva entre os dois caminhos. Ou seja, o retroespalhamento de el´etrons na borda ´e suprimido de uma maneira semelhante `a forma pela qual o reflexo dos f´otons ´e suprimido por um revestimento anti-reflexo. [30] . . . 48

(13)

Sum´

ario

Agradecimentos vii

Resumo ix

Abstract x

Lista de Figuras xii

1 Introdu¸c˜ao 1

2 Transi¸c˜oes de Fases 3

2.1 Fun¸c˜ao de Parti¸c˜ao . . . 3

2.2 Classifica¸c˜ao das Transi¸c˜oes de Fase . . . 4

2.3 Teoria de Landau . . . 5

2.3.1 Transi¸c˜oes de Primeira Ordem . . . 6

2.3.2 Transi¸c˜oes de segunda ordem . . . 7

2.4 Aplica¸c˜oes . . . 9

2.4.1 Ferroeletricidade . . . 9

2.4.2 Teoria de Ginzburg-Landau . . . 14

3 Topologia na F´ısica 22 3.1 Revers˜ao temporal . . . 24

3.1.1 Operador de revers˜ao temporal . . . 25

3.1.2 Revers˜ao temporal para part´ıculas de spin semi-inteiro . . . 27

3.1.3 Intera¸c˜oes com campo el´etricos e magn´eticos . . . 27

3.1.4 Consequˆencia da degenerescˆencia de Kramers . . . 29

3.2 Efeito Hall Quˆantico . . . 29

3.2.1 Efeito Hall Cl´assico . . . 30

3.2.2 Efeito Hall Quˆantico Inteiro . . . 32

3.2.3 Efeito Hall Quˆantico de Spin . . . 37

4 Isolantes Topol´ogicos 40 4.1 Estrutura de HgTe e CdTe . . . 41

(14)

4.3 Estados de borda helicoidais . . . 45 4.4 Prote¸c˜ao topol´ogica dos estados helicoidais . . . 48

5 Conclus˜oes 50

(15)

Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

As transi¸c˜oes de fase da mat´eria s˜ao muito comuns na natureza e at´e no nosso dia-a-dia, como por exemplo, a fus˜ao do gelo e ebuli¸c˜ao da ´agua. Portanto, as transi¸c˜oes de fase s˜ao um objeto de estudo de muita importˆancia na F´ısica Estat´ıstica e da Mat´eria Condensada.

Um sistema f´ısico apresenta simetrias, associadas ao seu Hamiltoniano. Segundo a teoria de Landau [3], uma transi¸c˜ao de fase ocorre quando um sistema sofre uma mudan¸ca ou quebra de simetria. O conceito de parˆametro de ordem, introduzido por Landau, est´a relacionado com essa quebra de sime-tria. Na fase desordenada seu valor ´e nulo e na ordenada n˜ao-nulo. Portanto, o parˆametro de ordem desempenha um papel fundamental na descri¸c˜ao das transi¸c˜oes de fase, a partir da teoria de Landau.

Diversos fenˆomenos f´ısicos puderam ser compreendidos `a luz dessa teoria. Uma transi¸c˜ao de fase poderia ser compreendida, definindo um parˆametro de ordem, associado `a quebra de simetria do sistema. Dentre eles, a transi¸c˜ao entre os estados f´ısicos, o fenˆomeno da ferroeletricidade e da supercondutividade. Em 1980, no entanto, Klitzing, Popper e Dordda [10] realizaram o experimento do efeito Hall quˆantico, submetendo um sistema de el´etrons bidemensional `a um campo magn´etico intenso sob baixas temperatu-ras, e assim, descobriram um novo tipo de transi¸c˜ao de fase. O efeito Hall quˆantico n˜ao pode ser explicado pela teoria das transi¸c˜oes de fase de Landau, pois n˜ao tem um parˆametro de ordem associado, ou seja, n˜ao h´a quebra de simetria. Esse efeito deu origem `a um novo estudo das transi¸c˜oes de fase, agora `a luz da Topologia. O efeito Hall quˆantico, foi a primeira evidˆencia de que a Topologia poderia ser usada para explicar transi¸c˜oes de fase da mat´eria.

Como o efeito Hall quˆantico ocorre na presen¸ca de um campo magn´etico intenso, apresenta quebra da simetria de revers˜ao temporal explicitamente. Posteriormente, foi descoberto o efeito Hall quˆantico de spin, cujas realiza¸c˜oes experimentais foram os po¸cos de HgTe/CdTe em duas dimens˜oes [28] e o composto de BixSb1−x em trˆes dimens˜oes [25]. Esse sistema ´e caracterizado por um volume isolante,

que apresenta um gap de energia, e estados de borda condutores, que preservam a simetria de revers˜ao temporal, diferentemente do efeito Hall quˆantico.

Ao inv´es de serem caracterizados por um parˆametro de ordem, o efeito Hall quˆantico e o efeito Hall quˆantico de spin, s˜ao caracterizados por invariantes topol´ogicos. No efeito Hall quˆantico, esse invariante ´e o n´umero de Chern, que nada mais ´e do que o valor quantizado da condutˆancia Hall em unidades de

(16)

e2

/~. J´a no efeito Hall quˆantico de spin, o invariante topol´ogico ´e o grupo de simetria Z2, com apenas

dois elementos 0 e 1. O invariante Z2representa fisicamente o n´umero de estados de borda est´aveis sem

gap.

Os isolantes topol´ogicos s˜ao materiais que possuem gap de energia dos estados de bulk e estados de borda que conduzem corrente. A condu¸c˜ao nos estados de borda se deve `a uma forte intera¸c˜ao spin-´

orbita. Por preservar a simetria de revers˜ao temporal, o efeito Hall quˆantico de spin pode ser observado nos isolantes topol´ogicos.

O po¸co quˆantico de HgTe e CdTe ´e um exemplo de isolante topol´ogico. Para fazer o po¸co cresce-se o HgTe sanduichado por duas camadas de CdTe. Como o Hg possui uma intera¸c˜ao spin-´orbita muito maior do que o Cd, suas bandas de condu¸c˜ao e valˆencia s˜ao invertidas. Quando a largura do po¸co ´e pequena o material se comporta como uma estrutura de CdTe pura. `A medida que a largura do po¸co aumenta, a camada de HgTe fica maior e, portanto, a intera¸c˜ao spin-´orbita fica mais forte. At´e que, para uma largura cr´ıtica dc ≈ 6.3nm o material passa a se comportar como uma estrutura de HgTe. Nessa

largura cr´ıtica ocorre uma invers˜ao das bandas.

Os isolantes topol´ogicos, mais especificamente o po¸co de HgTe/CdTe, apresentam o efeito Hall quˆantico de Spin. Sendo assim, possuem estados de borda topologicamente protegidos e s˜ao caracterizados pelo isolante topol´ogico Z2.

(17)

Cap´ıtulo 2

Transi¸

oes de Fases

As transi¸c˜oes de fase ocorrem quando o estado de equil´ıbrio de um sistema sofre altera¸c˜oes nas suas condi¸c˜oes de simetria, causadas pela varia¸c˜ao nos parˆametros externos do mesmo, como temperatura, campo magn´etico, press˜ao, etc. O estudo das transi¸c˜oes de fase ´e de extrema importˆancia para ´areas da F´ısica, como Mat´eria Condensada e F´ısica Estat´ıstica, j´a que s˜ao muito comuns na natureza.

Para descrever um sistema microscopicamente, ´e necess´ario conhecer o Hamiltoniano do mesmo. O Hamiltoniano apresenta invariˆancias frente a determinadas opera¸c˜oes de simetria, o que determina o seu grupo de simetria [4]. Transi¸c˜oes de fase ocorrem no sistema quando alguma invariˆancia ´e quebrada. As quantidades que sofrem varia¸c˜oes atrav´es de uma transi¸c˜ao de fase, s˜ao chamadas parˆametros de ordem [3].

2.1

Fun¸

ao de Parti¸

ao

A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao ´e respons´avel por codificar todas as propriedades de um sistema em equil´ıbrio termo-dinˆamico. A partir dela e de sua derivada, podemos determinar a maioria das vari´aveis termodinˆamicas, como a entropia, press˜ao, energia livre, entre outras. A express˜ao matem´atica para a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao (Z) ´e dada por:

Z =X

γ

e−H(γ)β, (2.1) onde γ s˜ao todos os microestados do sistema, H(γ) ´e a Hamiltoniana do sistema e β ´e 1/kBT . Na teoria

de Boltzmann [5], podemos definir a energia livre de Helmholtz como: F = −1

βln(Z). (2.2)

Obtendo a express˜ao para a energia livre, podemos encontrar tamb´em quantidades termodinˆamicas im-portantes, como por exemplo a entropia, atrav´es de suas derivadas em rela¸c˜ao a determinados parˆametros do sistema. A energia livre F (T ) ´e, matematicamente, uma fun¸c˜ao n˜ao anal´ıtica da temperatura, ou seja, apresenta derivadas n˜ao definidas em certos pontos ou singularidades. Quando esses pontos aparecem, dizemos que ocorreu uma transi¸c˜ao de fase.

(18)

A existˆencia de singularidades na energia livre de Helmholtz ´e um resultado direto da existˆencia do limite termodinˆamico, ou seja, a presen¸ca de um n´umero essencialmente infinito de graus de liberdade em um sistema termodinˆamico.

2.2

Classifica¸

ao das Transi¸

oes de Fase

As transi¸c˜oes de fase de um sistema termodinˆamico, por exemplo, a evapora¸c˜ao de um l´ıquido, apresenta dois comportamentos termodinˆamicos diferentes na curva de coexistˆencia, no caso do l´ıquido-vapor: em todos os pontos da curva, exceto o ponto cr´ıtico, calor latente ´e observado. No entanto, no ponto cr´ıtico, passamos continuamente da fase l´ıquida para o vapor, sem que haja calor latente.

Ent˜ao, podemos dizer que existem dois tipos de transi¸c˜ao de fase: transi¸c˜oes com calor latente e transi¸c˜oes sem calor latente. Em 1933, o f´ısico P. Ehrenfest [1] propˆos uma classifica¸c˜ao das transi¸c˜oes de fase baseada nos potenciais termodinˆamicos.

Segundo sua classifica¸c˜ao, a energia livre pode apresentar uma descontinuidade na sua primeira derivada ou nas derivadas de ordem superior [2]. Definimos, ent˜ao, transi¸c˜oes de fase de primeira ordem quando ocorrem descontinuidades nas quantidades termodinˆamicas, relacionadas com as primei-ras derivadas dos potenciais termodinˆamicos, por exemplo, a entropia,. J´a as transi¸c˜oes de fase de segunda ordem ocorrem quando os potenciais termodinˆamicos e suas primeiras derivadas s˜ao cont´ı-nuas, contudo suas segundas derivadas com respeito `as vari´aveis de estado, por exemplo, calor espec´ıfico e compressibilidade, s˜ao nulas ou se aproximam assintoticamente do ponto de transi¸c˜ao. Na figura 2.1, ´e poss´ıvel ver como se comportam a energia livre e suas derivadas em fun¸c˜ao do parˆametro de ordem, para as transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens.

(19)

5

2.3

Teoria de Landau

Apesar da classifica¸c˜ao de transi¸c˜oes de fase de Ehrenfest ter grande m´erito por revelar semelhan¸cas entre diferentes fenˆomenos como magnetismo, ferroeletricidade, supercondutividade e transi¸c˜ao l´ıquido/g´as no ponto cr´ıtico, ainda ´e uma vis˜ao limitada `a termodinˆamica do fenˆomeno.

O f´ısico L. D. Landau [3] notou em 1937, que a transi¸c˜ao de fase sem calor latente era acompa-nhada por uma mudan¸ca na simetria. No caso de um material ferromagn´etico, acima de sua temperatura de Curie, os momentos magn´eticos dos ´atomos est˜ao aleatoriamente distribuidos, gerando uma fase para-magn´etica. Abaixo desta temperatura, no entanto, possui uma magnetiza¸c˜ao permanente orientada em certa dire¸c˜ao (estado ferromagn´etico). Dizemos, portanto, que a simetria foi quebrada na transi¸c˜ao.

Quest˜oes de simetria s˜ao importantes no estudo das transi¸c˜oes de fase. Landau associou a no¸c˜ao de parˆametro de ordem a essas considera¸c˜oes de mudan¸ca ou quebra de simetria durante a transi¸c˜ao de fase. O parˆametro de ordem ´e, em geral, uma quantidade que ´e zero na forma menos sim´etrica (ou mais desordenada) e diferente de zero na fase sim´etrica (ou ordenada). Essa no¸c˜ao de parˆametro de ordem tem um significado qualitativo ´obvio: quando a temperatura diminui, a ordem do sistema aumenta. Quando um l´ıquido ´e resfriado, ele se solidifica passando pelo ponto de solidifica¸c˜ao (o s´olido ´e mais ordenado que o l´ıquido). Al´em disso, se um material ferromagn´etico ´e resfriado abaixo de seu ponto de Curie, a ordem magn´etica no sistema aumenta, surgindo uma magnetiza¸c˜ao macrosc´opica, o que evidencia a existˆencia de uma ordem magn´etica.

Para o magnetismo, o parˆametro de ordem ´e a magnetiza¸c˜ao, enquanto no caso da ferroeletri-cidade ´e a polariza¸c˜ao. A escolha desse parˆametro nem sempre ´e evidente. Por exemplo, no caso da supercondutividade, o parˆametro de ordem ´e a fun¸c˜ao de onda da fase superfluida dos el´etrons associados `

a supercondutividade.

Sendo assim, inicialmente, temos que definir um parˆametro de ordem ψ para o sistema. Como j´a hav´ıamos dito anteriormente, esta quantidade deve ser zero na fase desordenada (acima da temperatura cr´ıtica TC ) e diferente de zero na fase ordenada (abaixo da temperatura cr´ıtica TC ). Assim, definimos

um funcional para a energia livre, cujo m´ınimo determina a energia livre. ˜

F = F0(T ) + FL(T, ψ), (2.3)

onde, F0(T ) representa a fun¸c˜ao que depende da temperatura e FL(T, ψ) cont´em toda a dependˆencia do

parˆametro de ordem.

O funcional de Landau ´e considerado uma fun¸c˜ao anal´ıtica de ψ, que obedece todas as simetrias poss´ıveis associadas `a ψ, o que geralmente inclui a invariˆancia de transla¸c˜ao e rota¸c˜ao. Na fase desor-denada, assumimos que ψ seja igual a zero. Ent˜ao, pr´oximo `a transi¸c˜ao de fase, ´e esperado que ψ seja pequeno, ou seja, podemos construir o funcional de Landau atrav´es de uma expans˜ao polinomial do parˆ a-metro de ordem. Assumimos tamb´em que toda dependˆencia n˜ao trivial da temperatura no funcional de Landau est´a presente no termo de menor ordem da expans˜ao polinomial de FL(T, ψ), que tem a seguinte

forma: F (TC, ψ) = ˆ dv[1 2a0(T − TC)ψ 2+ ...], (2.4)

(20)

onde a0´e uma constante. Ap´os a constru¸c˜ao do funcional de Landau e minimizando-o como uma fun¸c˜ao

da temperatura, podemos determinar a natureza da transi¸c˜ao de fase.

A quantidade de termos necess´arios na expans˜ao depende da dimens˜ao do espa¸co e do parˆametro de ordem. Dependendo do grupo de simetria, a energia livre poder´a apenas conter as potˆencia pares de ψ, como o grupo de simetria das reflex˜oes. Ent˜ao usaremos a seguinte constru¸c˜ao para a energia livre:

F (T, ψ) = F (T, 0) + a 2ψ 2+b 4ψ 4+c 6ψ 6, (2.5) onde a = a(T − T0).

O sinal do termo que acompanha ψ4determina a ordem da transi¸c˜ao. Para transi¸c˜oes de primeira ordem a temperatura T0 ´e tal que satisfaz a rela¸c˜ao: T0 < TC. Para altas temperaturas, F (T, ψ) deve

ser m´ınimo em ψ = 0, sendo assim, o termo que acompanha ψ4 deve ser negativo. J´a para a transi¸ao

de segunda ordem, temos que: T0= TC e o parˆametro de ordem deve ser finito, contudo muito pequeno.

Assim, F (T, ψ) deve ter um m´ınimo em ψ 6= 0 e o sinal do termo de ordem 4 ´e positivo.

2.3.1

Transi¸

oes de Primeira Ordem

Para a transi¸c˜ao de primeira ordem, supomos a energia livre do tipo: F (T, ψ) = F (T, 0) + a 2(T − T0)ψ 2b 4ψ 4+c 6ψ 6, (2.6)

todas as constantes a, b e c s˜ao positivas e T0´e diferente da temperatura cr´ıtica. Assim, para calcular os

m´ınimos para esse energia livre, primeiro calculamos os pontos extremos:

∂F

∂ψ = a(T − T0)ψ − bψ

3+ cψ5= 0. (2.7)

Com isso, obtemos os seguintes extremos:

ψ = 0; ψ2= b ±pb

2− 4ac(T − T 0)

2c . (2.8)

A partir da Eq. 2.7, podemos escrever:

a(T − T0) − bψ2+ cψ4= 0. (2.9) Assim: T0= T + ψ2 a (cψ 2 − b). (2.10)

Utilizando a equa¸c˜ao para a energia livre 2.6, substituindo T por TC (temperatura cr´ıtica), obtemos:

F (TC) − F0= a 2(TC− T0)ψ 2b 4ψ 4+c 6ψ 6= 0. (2.11)

Agora, substituindo o valor de T0, pela express˜ao encontrada na Eq.2.10, conclu´ımos que:

ψ2=3b

4c. (2.12)

Por fim, substitu´ımos a equa¸c˜ao 2.12 na 2.11, e encontramos a express˜ao para a temperatura cr´ıtica do sistema:

TC= T0+

3b2

(21)

7 sabendo que F = U − T S, onde U ´e a energia interna do sistema e S a entropia. Podemos calcular a entropia desse sistema, a partir das equa¸c˜oes 2.6 e 2.12:

S = −∂F ∂T = − 1 2aψ 2= −3ba 8c . (2.14)

Figura 2.2: Transi¸c˜ao de fase de primeira ordem. [4]

Al´em disso, na transi¸c˜ao de fase de primeira ordem, podemos identificar um calor latente (L): L = −TCS =

1 2aTCψ

2= 3ab

8cTC. (2.15)

A existˆencia de um calor latente, indica a existˆencia de uma descontinuidade na primeira derivada, quando T = TC, o que caracteriza uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem ou descont´ınua.

Um gr´afico t´ıpico de uma transi¸c˜ao de fase de primeira ordem ´e apresentado na Fig. 2.2. Nesta figura, vemos que para T > TC existe um m´ınimo est´avel em ψ = 0, no entanto existem tamb´em dois

m´ınimos metaest´aveis. Os estados metaest´aveis correspondem a qualquer estado do sistema diferente do estado de equil´ıbrio mais est´avel, que tenha consigo associado uma restri¸c˜ao que impe¸ca a transi¸c˜ao imediata deste para o estado mais est´avel sem alguma perturba¸c˜ao significativa, de origem geralmente externa ao sistema. Quando T = TC , vemos que a energia livre apresenta 3 m´ınimos est´aveis, sendo um

deles em ψ = 0 e os outros dois calculados na Eq. 2.8. Para T < TC, os pontos calculados na Eq. ??

passam a ser os m´aximos globais.

2.3.2

Transi¸

oes de segunda ordem

Para a transi¸c˜ao de segunda ordem, supomos a energia livre do tipo: F (T, ψ) = F0+ a 2(T − TC)ψ 2+b 4ψ 4, (2.16)

(22)

onde a e b s˜ao constantes positivas, que independem da temperatura. Analogamente como fizemos para `

a transi¸c˜ao de primeira ordem, vamos calcular os pontos extremos da energia livre:

∂F

∂ψ = a(T − TC)ψ + bψ

3. (2.17)

Assim, os pontos extremos s˜ao:

ψ = 0; ψ2= a(TC− T )

b . (2.18)

Usando novamente a express˜ao F = U − T S e as equa¸c˜oes 2.16 e 2.18, calculamos a entropia: S = −∂F ∂T = − a 2ψ 2=a2 2b(T − TC). (2.19)

A partir desse resultado podemos calcular o calor espec´ıfico:

C = T∂S ∂T =      0 se T > TC a2T 2b se T < TC . (2.20)

O calor espec´ıfico apresenta uma descontinuidade finita, um salto na temperatura cr´ıtica, o que evidencia que essa energia livre corresponde a uma transi¸c˜ao de fase de segunda ordem ou cont´ınua.

Figura 2.3: Transi¸c˜ao de fase de segunda ordem. [4]

Um gr´afico t´ıpico de uma transi¸c˜ao de fase de segunda ordem ´e apresentado na Fig. 2.3. Nesta figura, temos que para T > TC existe um m´ınimo est´avel em ψ = 0. Quando T = TC, vemos que a

energia livre F continua apresentando um m´ınimo est´avel em ψ = 0. Finalmente, para T < TC, temos

que ψ = 0, que anteriormente era um ponto de m´ınimo, tornou-se um ponto de m´aximo e o sistema apresenta 2 m´ınimos est´aveis calculados na Eq. 2.19, semelhante ao que ocorre na transi¸c˜ao de fase de primeira ordem.

(23)

9

2.4

Aplica¸

oes

Existem in´umeros sistemas f´ısicos em que podemos aplicar a teoria de transi¸c˜oes de fase de Landau. Estudaremos em detalhe nessa se¸c˜ao a aplica¸c˜ao dessa teoria para o estudo da ferroeletricidade e da transi¸c˜ao dos estados normal e supercondutor, a partir do modelo de Ginzburg-Landau.

2.4.1

Ferroeletricidade

Um cristal ´e ferroel´etrico, quando nele se pode observar uma polariza¸c˜ao revers´ıvel. Em 1921, esse fenˆomeno foi relatado pela primeira vez por Joseph Valasek, durante o estudo das propriedades diel´etricas do sal Rochelle [N AK(C4H4O6).4H2O] [6]. O termo ferroeletricidade foi adotado, pois esses materiais

possuem um ciclo de histerese similar ao ciclo de histerese ferromagn´etica. Os materiais que possuem propriedades ferroel´etricas possuem uma estrutura cristalina bem definida e s˜ao diel´etricos, ou seja, n˜ao conduzem corrente el´etrica.

Se um campo el´etrico E ´e aplicado na dire¸c˜ao do eixo polar, todos os dipolos el´etricos se alinham nessa dire¸c˜ao. Tomando E = 0, a polariza¸c˜ao assume o valor P = PS, onde PS´e a polariza¸c˜ao espontˆanea

revers´ıvel. No entanto, se o campo E ´e revertido, todos os dipolos ser˜ao revertidos (polariza¸c˜ao reversa). Ent˜ao, se o campo el´etrico for zerado novamente, teremos P = −PS. Sendo assim, a polariza¸c˜ao pode

assumir dois valores: ±|PS|, dependendo do sinal do campo el´etrico quando ele foi desligado. Essa

polariza¸c˜ao aparece espontˆaneamente entre TCe TL(respectivamente, a maior e a menor temperaturas de

transi¸c˜ao). Na Fig. 2.5, podemos ver o comportamento da polaria¸c˜ao em fun¸c˜ao do campo el´etrico. Para temperaturas menores que TC, o comportamento ser´a de um material ferroel´etrico e para temperaturas

maiores que TC ser´a de um material parael´etrico.

Figura 2.4: Polariza¸c˜ao x Campo el´etrico para os estados ferroel´etrico e parael´etrico [7]

Podemos observar m´ultiplas transi¸c˜oes de fase em alguns cristais a altas temperaturas. As duas principais categorias de materiais ferroel´etricos s˜ao aquelas que sofrem uma transi¸c˜ao de segunda ordem, como o sulfato de triglicina (T GS), e aquelas que sofrem uma transi¸c˜ao de primeira ordem, como o

(24)

BaT O3 [8]. Uma transi¸c˜ao de segunda ordem ´e caracterizada por n˜ao haver altera¸c˜ao no volume na

temperatura cr´ıtica TC. Portanto, h´a uma mudan¸ca cont´ınua na estrutura do cristal em TC. J´a nas

transi¸c˜oes de primeira ordem, a mudan¸ca do volume na temperatura cr´ıtica TC ´e descont´ınuo.

Figura 2.5: (a) PS vs T para transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens. (b)  vs T para transi¸c˜oes de

primeira e segunda ordens.[6]

Podemos ver na figura 2.5a um diagrama de PS vs. temperatura para as transi¸c˜oes de primeira e

segunda ordens. No diagrama referente `a segunda ordem, PS diminui continuamente at´e zero, apesar da

sua derivada dPS

dT ser descont´ınua em TC, sendo assim, h´a um descontinuidade no calor espec´ıfico em TC.

No entanto, para o diagrama de primeira ordem, PS possui uma descontinuidade em TC, apresentando,

portanto, um calor latente. As mesmas propriedades cont´ınuas e descont´ınuas podem ser observadas para a constante diel´etrica , na figura 2.5b. A constante diel´etrica ´e experimentalmente obtida variando a temperatura acima de TC, via lei de Curie-Weiss, que determina a constante de Curie C [6].

 = (T ) = C (T − T0)

. (2.21)

A energia livre

A teoria de Landau permite descrever as transi¸c˜oes de fase, a partir do parˆametro de ordem, como vimos anteriormente. O parˆametro ´e diferente de zero abaixo de TC e zero acima de TC. Na ferroeletricidade,

o parˆametro de ordem ser´a uma medida da dura¸c˜ao da ordena¸c˜ao dos dipolos permanentes. Para o estudo da ferroeletricidade ´e conveniente utilizarmos a polariza¸c˜ao espontˆanea (PS), como o parˆametro

de ordem, j´a que pode ser medida facilmente. Sendo assim, temos a expans˜ao da energia livre de Landau, em fun¸c˜ao de PS: F (T, P ) = F (P = 0) +α 0P2 2 + βP4 4 + γP6 6 . (2.22)

(25)

11 Para um cristal sob press˜ao nula e com um campo aplicado E, temos que, pela termodinˆamica:

dF = −SdT + EdP, (2.23)

ou

E = (∂F/∂P )T. (2.24)

A partir dessas equa¸c˜oes e da rela¸c˜ao P = E, temos que:

1  = α

0. (2.25)

Usando a equa¸c˜ao obtida experimentalmente Eq.2.21, temos que:

1  =

T − T0

C . (2.26)

Sendo assim, podemos escrever α0, como:

α0= α(T − T0), (2.27)

onde α ´e independente da temperatura e igual `a C1. Com isso, a energia livre pode ser reescrita como:

F (P ) = F (0) +α 2(T − T0)P 2+β 4P 4+γ 6P 6. (2.28)

Figura 2.6: Energia livre vs polariza¸c˜ao para diferentes temperaturas: (a) Para transi¸c˜ao de segunda ordem; (b) para transi¸c˜ao de primeira ordem. [6]

Transi¸c˜ao de segunda ordem

Para a transi¸c˜ao de segunda ordem, temos que TC= T0, pois  −→ ∞ em TC. Isso corresponde `a α0= 0,

na Eq. 2.27. Com campo aplicado zero, o m´ınimo da energia livre determina a condi¸c˜ao de equil´ıbrio t´ermico para a polariza¸c˜ao.

(26)

Uma solu¸c˜ao trivial para essa equa¸c˜ao ´e P = 0. Para α(T − T0), β e γ positivos, essa ´e a ´unica solu¸c˜ao,

que ´e v´alida para T > T0. No entanto, para T < T0 e β positivo, o termo correspondente `a γP5torna-se

muito menor que os outros, podendo ser desprezado. Portanto, obtemos uma outra solu¸c˜ao:

PS = (α/β)1/2(T0− T )1/2, (2.30)

como o campo aplicado ´e nulo, chamamos PS, em vez de P . Note que β deve ser positivo e que PS muda

continuamente de zero em T > T0 para um valor finito em T < T0. Na Figura 2.5a, podemos ver esse

resultado.

A Figura 2.6a mostra a energia livre em fun¸c˜ao de P , para T acima e abaixo de T0. Podemos

notar que o m´ınimo muda de P = 0, quando T > T0, para valores finitos da polariza¸c˜ao espontˆanea

abaixo da temperatura cr´ıtica.

O valor do coeficiente α ´e obtido pelo comportamento diel´etrico abaixo da transi¸c˜ao. J´a o valor de β ´e obtido via Eq. 2.30, para PS logo abaixo de TC. O coeficiente γ pode ser obtido atrav´es de

corre¸c˜oes em PS para temperaturas baixas.

Outra express˜ao, que se relaciona com experimentos, pode ser obtida determinando a constante diel´etrica na fase ferroel´etrica logo abaixo de TC. Sendo assim, ignorando o termo γP6 na Eq. 2.28 e

usando a rela¸c˜ao E = (∂F/∂P )T, temos que:

E = α(T − T0)P + βP3, (2.31)

logo:

−1=dE

dP = α(T − T0) + 3βP

2. (2.32)

Substituindo na Eq. 2.32, P2 por P2

S e usando o valor de PS dado pela Eq. 2.30, temos:

−1= 2(TC− T )/C. (2.33)

A partir da Eq. 2.33, podemos ver que d/dT abaixo e acima de TCs˜ao sim´etricos, como pode ser notado

na Fig. 2.5b para a transi¸c˜ao de segunda ordem. No entanto, a melhor maneira de exibir esse resultado ´e plotar −1 vs. T . A Fig. 2.7 mostra o comportamento t´ıpico de −1 vs. T para as transi¸c˜oes de primeira e segunda ordens.

Transi¸c˜ao de primeira ordem

Para a transi¸c˜ao de fase de primeira ordem, o coeficiente β deve ser negativo e o coeficiente γ deve ser positivo. A Fig. 2.6b mostra a energia livre F em fun¸c˜ao de P , para β negativo e γ positivo. Quando T = TC, a energia F ´e nula para P = (−PS, 0, +PS), assim h´a dois estados est´aveis para o cristal

(ferroel´etrico e parael´etrico). Logo acima dessa temperatura, s´o P = 0 d´a o m´ınimo absoluto para F . E logo abaixo de TC, P = ±PS d˜ao os m´ınimos absolutos. Assim, a polariza¸c˜ao pula de zero `a PS em TC

e isso caracteriza uma transi¸c˜ao de primeira ordem.

(27)

13

Figura 2.7: −1 vs. T para: a) transi¸c˜ao de segunda ordem; (b) transi¸c˜ao de primeira ordem. [6]

(∂F/∂P )T = 0 = α(T − T0)P + βP3+ γP5, (2.34)

retirando a solu¸c˜ao P = 0, temos que:

(∂F/∂P )T = 0 = α(T − T0) + βP2+ γP4. (2.35)

Sabendo que quando T = TC e P = PS, F = 0. Logo, substituindo essas condi¸c˜oes na Eq. 2.28:

F (TC) = 0 = α 2(TC− T0)P 2 S(TC) + β 4P 4 S(TC) + γ 6P 6 S(TC). (2.36)

Na Eq. 2.35, substituimos P por PS(TC) e T por TC, Utilizando as Eq. 2.35 e 2.36, obtemos as seguintes

express˜oes, respectivamente:

α(TC− T0) = 3 16( β2 γ ); (2.37) e PS2= −3 4( β γ). (2.38)

Note que, para T0< TC e PS um n´umero real, o coeficiente β deve ser negativo e γ positivo.

Pode-se determinar o coeficiente α = C−1a partir de experimentos acima de TC(TC´e diretamente

medido). O valor de T0 ´e encontrado a partir do gr´afico de −1 vs. T , como mostra a Fig. 2.7b. Assim,

medindo a polariza¸c˜ao espontˆanea na temperatura cr´ıtica, os valores de β e γ podem ser calculados, a partir das Eqs. 2.37 e 2.38. Analogamente ao c´alculo realizado para a transi¸c˜ao de segunda ordem, usando novamente as Eqs 2.37 e 2.38, podemos mostrar que logo abaixo de TC:

−1= 4(TC− T0)/C, (2.39)

A Fig. 2.7b mostra o gr´afico de −1x T , para a transi¸c˜ao de primeira ordem, a partir do resultado obtido pela Eq. 2.39.

(28)

2.4.2

Teoria de Ginzburg-Landau

A supercondutividade ´e uma propriedade intr´ınsica de certos condutores, que submetidos a temperaturas muito baixas, tendem a conduzir corrente el´etrica sem resistˆencia nem perdas [9].

No caso dos supercondutores, o campo externo (H) e a magnetiza¸c˜ao (M ) s˜ao os parˆametros ter-modinˆamicos mais relevantes. Para determinar a energia do sistema, precisamos primeiramente calcular o campo magn´etico em um solen´oide com N espiras e comprimento L, como podemos ver na Fig. 2.8 . Sabemos que o campo magn´etico gerado por esse solen´oide ´e dado por:

Figura 2.8: Solen´oide de comprimento L com N espiras. [9]

H = N

LI ˆez, (2.40)

onde I ´e a corrente el´etrica que flui atrav´es das espiras do solen´oide.

Sendo assim o trabalho total dW realizado de I `a I + dI, pode ser calculado como:

dW = −N εIdt = N IdΦ

dtdt = N IdΦ = N AIdB = N V H.dB = µ0V (H.dM + H.dH), (2.41) onde A ´e a ´area da se¸c˜ao transversal, V = AL ´e o volume, ε = −dΦdt ´e a f.e.m induzida. Usamos tamb´em a identidade B = µ0(M + H).

O trabalho total pode ser dividido em duas partes: o trabalho magn´etico (µ0H.dM) e o trabalho

proveniente da auto-indutˆancia (µ0H.dH). Considerando somente o trabalho magn´etico e utilizando a

1o Lei da Termodinˆamica, temos que: dU = T dS + µ

0V H. dM. Assim: T = ∂U ∂S H = 1 µ0V ∂U ∂M. (2.42)

A energia livre de Helmholtz F depende da temperatura T e da magnetiza¸c˜ao M. Como os valores do campo magn´etico H e de T podem ser facilmente controlados no laborat´orio, ´e mais conveniente utilizar a energia livre de Gibbs G(T, H). Sendo assim:

F (T, M) = U − T S

(29)

15 Ent˜ao temos que:

dG = −SdT − µ0V M.dH, (2.44) e, portanto: S = −∂G ∂T M = − 1 µ0V ∂G ∂H. (2.45)

A partir da energia de Gibbs, a diferen¸ca da energia livre entre os estados normal e supercondutor pode ser calculada.

`e importante lembrar que na teoria de transi¸c˜ao de fase de Landau precisamos definir o parˆ a-metro de ordem, que deve ser zero acima de TC e diferente de zero abaixo de TC. Assim, no caso da

supercondutividade, o parˆametro de ordem ´e a fun¸c˜ao de onda ψ, pois:

ψ =      0 se T > TC ψ 6= 0 se T < TC . (2.46)

Quando ψ ´e zero temos o estado normal e quando ´e diferente de zero temos o estado supercondutor. No caso da supercondutividade ψ ´e um n´umero complexo, portanto a energia livre depende de |ψ|. J´a que o parˆametro de ordem ´e complexo, existe uma infinidade de m´ınimos correspondentes ao mesmo valor de |ψ|, que diferem na fase θ, pois ψ = |ψ|eiθ.

Supercondutividade do tipo I

Os supercondutores do tipo I, como o alum´ınio e o zinco, s˜ao aqueles cujo o campo magn´etico permanece zero dentro do supercondutor, at´e que a supercondutividade seja repentinamente destru´ıda [9]. O valor de campo onde isso ocorre ´e chamado de campo cr´ıtico HC. A magnetiza¸c˜ao M obedece a rela¸c˜ao M = −H

(em unidades efetivas) para todos os campos, menos para HCe se torna nula para campos acima de HC.

Na Fig. 2.9 podemos ver a rela¸c˜ao entre M e H nos supercondutores do tipo I.

A Fig. 2.10 mostra o diagrama de fase do supercondutor do tipo I para H e T . A partir desse gr´afico, pode-se avaliar a mudan¸ca na energia de Gibbs no estado supercondutor, integrando ao longo da linha vertical explicitada nessa mesma figura.

Integrando ao longo da linha vertical dT = 0:

GS(T, Hc) − GS(T, 0) = ˆ dG = −µ0V Hc ˆ 0 M . dH. (2.47)

Utilizando da rela¸c˜ao M = -H, ilustrada no gr´afico 2.9, podemos calcular a integral ´Hc

0 M . dH.

Portanto:

GS(T, Hc) − GS(T, 0) = µ0V

Hc2

(30)

Figura 2.9: Magnetiza¸c˜ao x campo magn´etico, para supercondutividade tipo I. [9]

Figura 2.10: Diagrama de H x T, para a supercondutividade tipo I. [9]

No campo cr´ıtico (Hc), os estados normal e supercondutor est˜ao em equil´ıbrio termodinˆamico: GS(T, Hc) =

Gn(T, Hc). Al´em disso, no estado normal M = 0, assim:

Gn(T, Hc) − Gn(T, 0) = ˆ dG = Hc ˆ 0 M dH ≈ 0, Gn(T, Hc) = Gn(T, 0) = GS(T, Hc). (2.49) Logo: GS(T, 0) − Gn(T, 0) = −µ0V H2 c 2 . (2.50)

(31)

Re-17 escrevendo em termos da energia de Helmholtz, F = G − µ0V H.M e fazendo H = M = 0, temos

que: FS(T, 0) − Fn(T, 0) = −µ0V H2 c 2 , (2.51) onde µ0V H2 c

2 ´e a energia condensada, que ´e a medida do ganho em energia livre por unidade de volume,

no estado supercondutor comparado ao estado normal `a mesma temperatura.

Supercondutividade do tipo II

Os supercondutores do tipo II tˆem dois campos cr´ıticos, o mais baixo HC1 e o mais alto HC2. Para

valores de campo baixos, a magnetiza¸c˜ao obedece a rela¸c˜ao M = −H e n˜ao h´a campo magn´etico dentro do supercondutor. No entanto, quando o campo excede o valor de HC1, o fluxo magn´etico come¸ca a entrar

no supercondutor ent˜ao o campo magn´etico deixa de ser nulo. Enquanto H cresce, o fluxo magn´etico cresce at´e chegar ao valor de HC2, quando a supercondutividade ´e completamente destru´ıda e M passa

a ser zero. Os campos cr´ıticos variam com a temperatura e se aproximam de zero perto de TC. Os

compostos NbN e Babi3 s˜ao exemplos de supercondutores do tipo II.

A explica¸c˜ao f´ısica para a fase termodinˆamica entre HC1 e HC2 foi dada por Abrikosov [9]. Ele

mostrou que o fluxo magn´etico entra no supercondutor na forma de v´ortices, conforme a Fig. 2.11. Cada v´ortice consiste numa regi˜ao de circula¸c˜ao de supercorrente em torno de um n´ucleo central, que se tornou essencialmente um metal normal. O campo magn´etico entra no supercondutor atrav´es dos v´ortices e a corrente circular expulsa o campo magn´etico que est´a fora do v´ortice. Conforme o valor do campo cresce, a quantidade de v´ortices aumenta, at´e que para valores acima de HC, o fluxo magn´etico permeia

totalmente o material, que deixa de ser supercondutor.

Figura 2.11: V´ortices no supercondutor do tipo II. [9]

Para os supercondutores do tipo II, a rela¸c˜ao entre H e T ´e a ilustrada na Fig. 2.12. Integrando ao longo da linha vertical, onde dT = 0, temos que:

GS(T, Hc2) − GS(T, 0) = µ0V Hc2 ˆ 0 M . dH. (2.52) A integral ´Hc2

0 M . dH ´e calculada a partir da ´area abaixo da curva de M , em fun¸c˜ao de H,

(32)

Figura 2.12: Diagrama de H x T, para supercondutividade tipo II. [9]

Figura 2.13: M x H, para supercondutividade do tipo II. [9]

Definimos Hc para o supercondutor do tipo II, como sendo:

Hc2 2 = Hc2 ˆ 0 M . dH. (2.53)

Por um processo an´alogo ao que fizemos para o tipo I, encontramos a energia livre de Helmholtz: FS(T, 0) − Fn(T, 0) = −µ0V

H2 c

2 . (2.54)

Note que, Hc s´o ´e uma medida conveniente para a energia condensada, portanto em Hc n˜ao h´a transi¸c˜ao

de fase. Calculando a entropia, a partir da energia livre:

s = S V = − 1 V ∂G ∂T, (2.55) sS(T, Hc) − sn(T, Hc) = −µ0Hc dHc dT . (2.56)

(33)

19 A transi¸c˜ao geralmente ´e de primeira ordem, ou seja, apresenta calor latente e descontinuidade nas primeiras derivadas da energia livre.

Transi¸c˜ao de fase na supercondutividade

Temos a primeira lei da Termodinˆamica, na presen¸ca de um campo externo dada por dU = T dS + µ0V H.dM. Contudo, como podemos controlar os valores de H e de T ´e mais conveniente trabalharmos

com a energia de Gibbs, ent˜ao:

G(T, H) = U − T S − µ0V H.M, (2.57)

Ent˜ao:

dG = −SdT − µ0V M.dH. (2.58)

Assim, obtemos as seguintes rela¸c˜oes:

S = −∂G ∂T, (2.59) M = − 1 µ0V ∂G ∂H. (2.60)

Com isso, a energia de Gibbs possibilitar´a o c´alculo da diferen¸ca de energia livre entre os estados normal e supercondutor. Relembrando que, na teoria de transi¸c˜ao de fase de Landau, precisamos definir o parˆametro de ordem, que ´e uma grandeza que assume o valor zero acima de TCe diferente de zero abaixo

de TC.

Para temperaturas pr´oximas `a TC, faremos uma expans˜ao para densidade energia livre (f = FV),

do tipo:

fS(T ) = fn(T ) + a(T )|ψ|2+

1 2b(T )|ψ|

4. (2.61)

Assumiremos b > 0 para a densidade de energia ter um m´ınimo. Sendo assim, se a(T ) > 0, teremos um minimo em ψ = 0, agora se a(T ) < 0, teremos dois m´ınimos em |ψ|2 = −a(T )

b(T ). Landau e Gindsburg

assumiram que para T > TC, a(T ) deve ser positivo e diminuir junto com T , at´e chegar a zero quando

T = TC. Na Figura 2.14, temos a diferen¸ca de energia livre entre os estados supercondutor e normal em

fun¸c˜ao do parˆametro de ordem |ψ|. Para T < TC, a energia tem m´ınimo em ψ0 e para T > TC o ´unico

m´ınimo ´e em ψ = 0

Como os coeficiente a e b, tamb´em s˜ao pequenos perto de TC, faremos uma expans˜ao em Taylor

neles: a(T ) ≈ ˙a(T − TC) + ... e b(T ) ≈ b. Portanto teremos valores para |ψ| diferentes de zero apenas

abaixo de TC: ψ =      0 se T > TC q ˙ a bp(TC− T ) se T < TC . (2.62)

A Figura 2.15 mostra a curva correspondente de |ψ| como fun¸c˜ao da temperatura. Podemos ver a mudan¸ca abrupta do zero para valores diferentes de zero perto da temperatura cr´ıtica TC.

(34)

Figura 2.14: Densidade de energia x parˆametro de ordem. [9]

Figura 2.15: Magnitude do parˆametro de ordem em fun¸c˜ao da temperatura. [9]

Podemos ainda calcular o m´ınimo para a densidade de energia livre usando a Eq. 2.61 e substi-tuindo em 2.62, obtemos:

fS(T ) − fn(T ) −

˙a

2b(T − TC)

2 (2.63)

A partir desse resultado, podemos calcular a entropia e o calor espec´ıfico:

sS(T ) − s(T ) = ∂f ∂T = − ˙a2(T − T C) b , (2.64)

para o calor espec´ıfico C = Tds dT: Cs− Cn=      0 se T > TC ˙ a bT se T < TC . (2.65)

Conclu´ımos que a entropia n˜ao possui descontinuidade, logo, trata-se de uma transi¸c˜ao de segunda ordem. Sendo assim, temos descontinuidade apenas nas derivadas de 2a ordem da energia livre, ou seja, apenas

no calor espec´ıfico. A Figura 2.16 mostra um exemplo de um gr´afico de calor espec´ıfico vs. temperatura, na qual podemos observar a descontinuidade no calor espec´ıfico, caracter´ıstica de uma transi¸c˜ao de fase de segunda ordem.

(35)

21

(36)

Cap´ıtulo 3

Topologia na F´ısica

Durante o s´eculo XX, a F´ısica da Mat´eria Condensada conseguiu classificar e descobrir novas fases da mat´eria, utilizando conceitos de quebra espontˆanea de simetria, em que uma transi¸c˜ao de fase ocorre quando uma das simetrias do sistema f´ısico ´e quebrada. Como vimos, a teoria que descreve esses tipos de transi¸c˜oes de fase ´e a teoria de Landau.

Apesar de bem sucedida, em 1980 foi descoberto um estado da mat´eria que n˜ao se ajustava segundo o paradigma de Landau. Esse ´e o estado caracter´ıstico do efeito Hall quˆantico inteiro (IQHS) [10]. Neste estado, um sistema de el´etrons bidimensional ´e submetido `a um campo magn´etico forte e temperaturas baixas. Como resultado, ´e obtido um sistema cujo interior ´e isolante, mas apresenta um corrente el´etrica quantizada e sem dissipa¸c˜ao na borda. Esse estado n˜ao ´e caracterizado por nenhuma quebra de simetria, mas por um invariante topol´ogico. A partir dessa descoberta, o conceito de ordem topol´ogica foi desenvolvido, permitindo uma nova classifica¸c˜ao de materiais, atrav´es da topologia.

Topologia (do grego topos, “lugar”, e logos, “raz˜ao”) ´e um ramo antigo da matem´atica que estuda os espa¸cos topol´ogicos, sendo considerado como uma extens˜ao da geometria. Duas superf´ıcies tˆem a mesma topologia se ´e poss´ıvel deformar uma na outra continuamente (isto ´e, sem rasgar nem colar), por exemplo, a superf´ıcie de uma esfera tem a mesma topologia que a superf´ıcie de um elips´oide.

Pelo teorema de Gauss-Bonnet [18] existe uma rela¸c˜ao entre a integral de superf´ıcie da curvatura gaussiana, feita sobre a superf´ıcie geom´etrica de um objeto M, e o chamado g de genus conhecido como n´umero de enrolamento, que classifica as superf´ıcies por sua topologia, dada pela Eq. 3.1. Desta forma, como visto na Fig. 3.1, uma rosca e uma esfera possuem g = 1 e g = 0, respectivamente, portanto, n˜ao existe uma transforma¸c˜ao que leve de uma at´e a outra sem que se rompa a superf´ıcie [18].

ˆ

M

KdA = 2 − 2g. (3.1)

A topologia estuda se os objetos podem ser transformados continuamente um no outro. Na f´ısica de mat´eria condensada, podemos perguntar se os Hamiltonianos de dois sistemas quˆanticos podem ser transformados continuamente um no outro. Se for esse o caso, podemos dizer que dois sistemas s˜ao “topologicamente equivalentes”.

Se consider´assemos os Hamiltonianos sem qualquer restri¸c˜ao, todos poderiam ser deformados 22

(37)

23

Figura 3.1: Superf´ıcies topol´ogicas [18]

continuamente em outros [11]. Sendo assim, todos os sistemas quˆanticos seriam topologicamente equiva-lentes. Isso muda drasticamente se nos restringirmos a sistemas com uma diferen¸ca de energia. Portanto, h´a um custo finito de energia para excitar o sistema acima do seu estado fundamental. Se um gap de energia estiver presente, ent˜ao o hamiltoniano do sistema n˜ao possui autovalores em um intervalo finito em torno do zero de energia. Assim, dois sistemas quˆanticos com gap s˜ao equivalentes topologicamente se seus Hamiltonianos puderem ser deformados continuamente entre si sem fechar o gap de energia.

A deforma¸c˜ao de um Hamiltoniano H em outro H0descreve uma mudan¸ca que ocorre no sistema quˆantico, quando um parˆametro externo ´e variado [11]. Essa deforma¸c˜ao pode ser parametrizada como:

H(α) = αH0+ (1 − α)H. (3.2)

Dessa forma, para α = 0, temos o Hamiltoniano inicial H e para α = 1, temos o Hamiltoniano final H0. Plotando o gr´afico de α, para dois Hamiltonianos H e H0 quaisquer, alguns n´ıveis podem atra-vessar o zero da energia. Quando isso ocorre, a condi¸c˜ao de que deve haver um gap de energia no sistema ´e quebrada. Contudo, n˜ao significa, necessariamente, que n˜ao haja uma transforma¸c˜ao cont´ınua entre H e H0. Somente significa que esse caminho espec´ıfico possui fechamento de gap, mas pode ser poss´ıvel encontrar outro caminho que n˜ao o feche.

Para saber se existe um caminho que conecta H e H0 sem fechar um gap, podemos contar o n´umero de n´ıveis abaixo de energia zero, isto ´e, o n´umero de n´ıveis de energia preenchidos. Na verdade, para os Hamiltonianos com gap, nenhum n´ıvel de energia pode passar por zero. Portanto, transforma¸c˜oes cont´ınuas existem entre os Hamiltonianos com o mesmo n´umero de n´ıveis de energia abaixo de zero. Uma vez que esse n´umero n˜ao pode mudar sob transforma¸c˜oes cont´ınuas, ´e chamado de invariante topol´ogico Q. Se o invariante topol´ogico muda quando H ´e transformado em H0, ent˜ao esses Hamiltonianos n˜ao s˜ao topologicamente equivalentes.

Na verdade, n˜ao ´e necess´ario contar o n´umero de n´ıveis de energia preenchidos para ambos H e H0, ´e suficiente manter o controle de cruzamentos no zero de energia. Sempre que um n´ıvel de energia cruza o zero , o n´umero de n´ıveis abaixo de zero energia muda, alterando o invariante topol´ogico, o que chamamos de uma transi¸c˜ao de fase topol´ogica.

(38)

transi¸c˜ao. Em outras palavras, ´e imposs´ıvel ir de um para o outro sem fechar o gap. Por outro lado, se houver a mesma quantidade de cruzamentos de baixo para cima como o contr´ario, o n´umero de n´ıveis abaixo da energia zero n˜ao muda. O invariante topol´ogico ´e, portanto, o mesmo para os Hamiltonianos inicial e final. Neste caso, deve haver uma transforma¸c˜ao cont´ınua entre eles que n˜ao fecha o gap.

Uma vez que identificamos um invariante topol´ogico, podemos classificar todos os Hamiltonianos quˆanticos de acordo com seu valor. Desta forma, criamos classes de Hamiltonianos que s˜ao topologica-mente equivalentes e podemos acompanhar todas as diferentes fases topol´ogicas que eles podem suportar.

3.1

Revers˜

ao temporal

Na mecˆanica cl´assica, suponha que existe uma trajet´oria de uma part´ıcula sujeita a um certo campo de for¸ca, conforme a Fig. 3.2. Em t = 0, a part´ıcula para e inverte o seu movimento: p → −p. A part´ıcula descreve a mesma trajet´oria. Se o filme da trajet´oria (a) for executado para tr´as como em (b), n˜ao h´a como saber se esta ´e a sequˆencia correta [12]. Se x(t) ´e uma solu¸c˜ao para:

m−→x = −¨ −→∇V (x), (3.3) ent˜ao −→x (−t) ´e tamb´em uma solu¸c˜ao para a Eq. 3.3.

Figura 3.2: (a) Trajet´oria cl´assica que para em t = 0; (b) Trajet´oria revertida p → −p. [12]

Se uma trajet´oria em espiral est´a sendo executada em um campo magn´etico B, podemos saber se a imagem em movimento ´e executada para frente ou para tr´as, comparando o sentido de rota¸c˜ao com os p´olos magn´eticos norte (N) e sul (S). No entanto, do ponto de vista microsc´opico, B ´e produzido por cargas se movendo atrav´es de uma corrente el´etrica; se pud´essemos reverter a corrente que causa B, ent˜ao a situa¸c˜ao seria bastante sim´etrica. Em termos da Fig. 3.3, descobrimos que N e S est˜ao invertidos. As equa¸c˜oes de Maxwell (Eq. 3.4) e a for¸ca de Lorentz (Eq. 3.5) s˜ao invariantes sob t → −t.

− → ∇ •−→E = 4πρ −→∇ ×−→B = 1 c ∂−→E ∂t + 4π−→j c − → ∇ ×−→E = −1 c ∂−→B ∂t . (3.4) − → F = −e[−→E +1 c − →v ×−→B ], (3.5) desde que:

(39)

25

E → E B → −B ρ → ρ j → −j v → −v. (3.6)

Figura 3.3: Trajet´oria de um el´etron entre os p´olos norte e sul de um ´ım˜a. [12]

Na Mecˆanica Quˆantica, temos a equa¸c˜ao de onda de Schr¨odinger para um part´ıcula sem spin, dada por: i~∂ψ∂t =  −~ 2 2m+ V  ψ. (3.7)

A partir da Eq. 3.7 ´e f´acil notar que ψ(x, −t) n˜ao manter´a a simetria de revers˜ao temporal, por causa da derviada de primeira ordem no tempo. Contudo, se tomarmos o complexo conjugado ψ∗(x, −t), a simetria de revers˜ao temporal ´e mantida. Sendo assim, a revers˜ao temporal tem rela¸c˜ao com o complexo conjugado. Portanto, se em um tempo t = 0, a fun¸c˜ao de onda ´e dada por:

ψ = hx|ai , (3.8)

a fun¸c˜ao de onda para o estado de revers˜ao temporal correspondente ´e dada por hx|ai∗.

3.1.1

Operador de revers˜

ao temporal

Suponha uma transforma¸c˜ao do tipo:

|αi → | ˜αi = θ |αi , |βi → ˜ βE= θ |βi . (3.9) D ˜β α˜ E

= hβ|αi∗, θ(c1|αi + c2|βi) = c∗1θ |αi + c∗2θ |βi . (3.10)

Uma transforma¸c˜ao como a Eq. 3.9 ´e dita anti-unit´aria se satisfazer a Eq. 3.10, onde θ ´e um operador anti-unit´ario.

Nesse caso o operador θ ´e um operador anti-unit´ario, definido pela Eq. 3.10. Um operador anti-unit´ario pode ser escrito da seguinte forma:

(40)

onde U ´e um operador unit´ario e K ´e o operador complexo conjugado que forma o conjugado complexo de qualquer coeficiente que multiplica um ket, ou seja:

Kc |αi = c∗K |αi (3.12)

Assim, definimos o operador de revers˜ao temporal como o operador anti-unit´ario Θ e o estado Θ |αi ´e o estado de revers˜ao temporal. A propriedade fundamental de um Hamiltoniano sob revers˜ao temporal ´e:

ΘH = HΘ (3.13)

Para um observ´avel Hermitiano A, temos que:

hβ| A |αi = h ˜α| ΘAΘ−1 ˜

βE. (3.14)

Dizemos que um operador ´e par ou ´ımpar sob revers˜ao temporal, se a Eq. 3.15 ganha um sinal positivo ou negativo, respectivamente.

ΘAΘ−1= ±A (3.15)

Combinando a Eq. 3.14 com Eq. 3.15, temos uma restri¸c˜ao nos elementos da matriz A, com respeito aos estados de tempo reverso, como mostra a Eq. 3.16:

hβ| A |αi = ±D ˜β A | ˜αi

. (3.16)

Se β ´e igual `a α, os valores esperados de A, s˜ao:

hα| A |αi = ± h ˜α| A | ˜αi∗. (3.17) Sendo assim, podemos calcular os valores esperados sob revers˜ao temporal para o momento da part´ıcula p. Como ´e esperado que, o valor esperado para p ganhe um sinal negativo, temos que:

hα| p |αi = − h ˜α| p | ˜αi∗. (3.18) Sendo assim o operador momento p ´e um operador ´ımpar, ou seja:

ΘpΘ−1= −p (3.19)

Calculando, agora, o valor esperado para o operador posi¸c˜ao x, sabendo que deve ganhar um sinal positivo, obtemos:

hα| x |αi = h ˜α| x | ˜αi∗. (3.20) Ou seja o operador momento x ´e um operador par:

(41)

27

3.1.2

Revers˜

ao temporal para part´ıculas de spin semi-inteiro

Para uma part´ıcula de spin semi-inteiro (em particular spin 1/2), temos que o autoestado −→S • ˆn com autovalor ~/2 pode ser escrito como:

|ˆn; +i = e−iSzα/~e−iSyβ/~|+i , (3.22)

onde ˆn ´e caracterizado pelos ˆangulos polar β e azimutal α. Aplicando o operador de revers˜ao temporal, temos que:

Θ |ˆn; +i = e−iSzα/~e−iSyβ/~Θ |+i = η |ˆn; −i . (3.23)

Por outro lado:

|ˆn; −i = e−iSzα/~e−iSy(β+π)/~|+i . (3.24)

Utilizaremos agora, a seguinte nota¸c˜ao:

e−iπSy/~|+i = + |−i , e−iπSy/~|−i = − |+i . (3.25)

Assim, a atua¸c˜ao do operador Θ em autoestado de spin 1/2 geral ´e:

Θ(c+|+i + c−|−i) = +ηc∗+|−i − ηc ∗

−|+i . (3.26)

Aplicando o operador revers˜ao temporal novamente, temos:

Θ2(c+|+i + c−|−i) = |η|2c+|+i − |η|2c−|−i = −(c+|+i + c−|−i), (3.27)

ou seja,

Θ2= −1, (3.28)

onde −1 ´e o operador identidade multiplicado por −1. De modo geral:

Θ2|j semi − inteiroi = − |j semi − inteiroi Θ2|j inteiroi = + |j inteiroi . (3.29) Assim, o autovalor de Θ ´e dado por: (−1)2j.

3.1.3

Intera¸

oes com campo el´

etricos e magn´

eticos

A intera¸c˜ao entre uma carga el´etrica sob a¸c˜ao de um campo el´etrico ´e dada da seguinte forma:

V (x) = eφ(x), (3.30)

onde ψ(x) ´e o potencial eletroest´atico. Como ψ(x) ´e uma fun¸c˜ao real do operador x, que ´e par para revers˜ao temporal, tem-se:

(42)

[Θ, H] = 0. (3.31) No entanto, a Eq. 3.31 n˜ao leva a uma lei de conserva¸c˜ao de energia, ou seja, n˜ao existe “conserva¸c˜ao do n´umero quˆantico de revers˜ao temporal”, pois:

ΘU (t, t0) 6= U (t, t0)Θ. (3.32)

Outra consequˆencia importante da invariˆancia da revers˜ao temporal ´e a Degenerescˆencia de Kramers [12].

Se H e Θ comutam e |ni e Θ |ni s˜ao o autoestado da energia e o estado de revers˜ao temporal, respectivamente, temos que:

HΘ |ni = ΘH |ni = EnΘ |ni , (3.33)

ou seja, |ni e Θ |ni tˆem mesmo autovalor de energia En. Se |ni e Θ |ni representam o mesmo estado, eles

devem diferir apenas por uma fase. Assim:

Θ |ni = eiδ|ni . (3.34)

Aplicando novamente o operador Θ na Eq. 3.34, temos que:

Θ2|ni = Θeiδ|ni = e−iδΘ |ni = e−iδe|ni , (3.35)

sendo assim:

Θ2|ni = + |ni . (3.36)

Contudo, a Eq. 3.36 ´e imposs´ıvel para sistemas com j semi-inteiro, para os quais Θ2 = −1. Portanto,

conclu´ımos que |ni e Θ |ni s˜ao estados diferentes, ou seja, deve haver degenerescˆencia. Isso significa que, um sistema composto de ´atomos com spin semi-inteiro possui um estado fundamental duplamente degenerado. Por exemplo, nos compostos de HgTe e CdTe, que quando combinados formam isolantes topol´ogicos [28]. A degenerescˆencia de Kramers ´e uma consequˆencia da invariˆancia da revers˜ao temporal. Para uma carga sob a¸c˜ao de um campo magn´etico externo −→B , o Hamiltoniano H deve conter termos do tipo:

S • B, p • A + A • p, (3.37)

onde−→∇ ×−→B =−→A e os operadores p e S s˜ao ´ımpares sob revers˜ao temporal. Esses termos, levam `a:

ΘH 6= HΘ (3.38)

Por exemplo, para um sistema de spin semi-inteiro o estado |+i e seu estado de revers˜ao temporal |−i n˜ao tˆem mais a mesma energia na presen¸ca de um campo magn´etico. Assim, a degenerescˆencia de Kramers, para um sistema contendo um n´umero ´ımpar de el´etrons pode ser levantada aplicando um campo magn´etico externo.

(43)

29

3.1.4

Consequˆ

encia da degenerescˆ

encia de Kramers

A principal consequˆencia da degenerescˆencia de Kramers para um sistema de spin semi-inteiro ´e o fato de haver degenerescˆencia, no m´ınimo, dupla para os estados. Hamiltonianos que possuem simetria de revers˜ao temporal tˆem a seguinte propriedade: cada autovalor En ´e duplamente degenerado, por causa

da degenerescˆencia de Kramers.

Figura 3.4: Valores assumidos pelo invariante topol´ogico Q, quando H ´e continuamente transformado em H’. [11]

Um Hamiltoniano H, com essa simetria, ser´a transformado em outro H0, conforme a Eq. 3.1. Se n˜ao houver cruzamento nos n´ıveis de energia quando α varia entre 0 e 1, os Hamiltonianos H e H0 podem ser transformados de forma cont´ınua. No entanto, se h´a quebra na simetria de revers˜ao temporal, esses Hamiltonianos n˜ao podem ser transformados continuamente, ou seja, deve haver n´ıveis de energia que passem pelo n´ıvel zero, conforme a Fig. 3.4.

Contudo, no caso da revers˜ao temporal, podemos notar pela Fig. 3.4, que cada cruzamento de energia faz o invariante topol´ogico Q dar um salto de 2 valores, e n˜ao de 1 valor, como anteriormente. Essa salto do invariante topol´ogio ocorre por causa da degenerescˆencia de Kramers. Sendo assim, conclu´ımos que a simetria de revers˜ao temporal restringe o invariante topol´ogico para ter apenas valores pares.

3.2

Efeito Hall Quˆ

antico

O efeito Hall quˆantico ´e uma vers˜ao do efeito Hall cl´assico em mecˆanica quˆantica, observado em sistemas de el´etrons bidimensionais submetidos a baixas temperaturas e fortes campos magn´eticos, em que a condutividade Hall assume valores quantizados.

(44)

Esse efeito foi descoberto em 1980 por Klaus Von Klitzing, Michael Popper e Gerhardt Dordda [10]. Em temperaturas da ordem de 4K, a resistˆencia Hall de um sistema eletrˆonico bidimensional apresenta platˆos em valores exatos de h/ne2, em que n ´e um inteiro.

No efeito Hall Quˆantico, o volume da amostra bidimensional ´e isolante e uma corrente el´etrica ´e transportada apenas nas bordas. O fluxo dessa corrente unidimensional evita dissipa¸c˜ao e d´a origem ao efeito Hall quantizado. O efeito Hall quˆantico ´e o primeiro exemplo de uma transi¸c˜ao de fase que n˜ao se enquadra na teoria de Landau. A quantiza¸c˜ao da condutˆancia Hall ´e explicada pelo fato dela ser um invariante topol´ogico, que s´o pode assumir valores inteiros em unidades de e2/h, independente dos

detalhes do material.

3.2.1

Efeito Hall Cl´

assico

Em 1879, Edwin H. Hall [14] tentou determinar se a for¸ca, devido ao campo magn´etico, que surge em um fio percorrido por uma corrente el´etrica era exercida em todo o fio ou apenas sobre as cargas em movimento no fio. Hall acreditava que essa for¸ca magn´etica atuaria sobre os portadores de carga fazendo com que a corrente se deslocasse para uma determinada regi˜ao do fio, e portanto, a resistˆencia do fio iria aumentar. Apesar de n˜ao observar tal aumento na resistˆencia do fio em seus experimentos, Hall sabia que de alguma forma a corrente el´etrica era alterada sem que a resistˆencia fosse modificada. Ele propˆos a presen¸ca de um estado de stress em uma determinada regi˜ao do condutor, devido ao ac´umulo de portadores de carga, que originaria uma diferen¸ca de potencial transversal, posteriormente conhecida como tens˜ao de Hall [14].

Figura 3.5: Esquema que representa o Efeito Hall Cl´assico [14]

Na Fig.3.5, apresentamos uma ilustra¸c˜ao do experimento de Hall. Um campo el´etrico Ex ´e

aplicado em um fio na dire¸c˜ao x e um densidade de corrente jx atravessa o fio. Al´em disso, um campo

(45)

31

FM = −

e

cv x B. (3.39)

Essa for¸ca desvia as cargas el´etricas na dire¸c˜ao negativa de y. Com isso, h´a um ac´umulo de carga nas laterais do fio, gerando um campo el´etrico na dire¸c˜ao y, que se op˜oe ao movimento das cargas. No equil´ıbrio, a for¸ca el´etrica gerada pelo campo tranverso (campo de Hall) Ey equilibrar´a a for¸ca magn´etica

FM e, assim, a corrente fluir´a apenas na dire¸c˜ao x.

No efeito Hall cl´assico h´a duas grandezas de interesse. A primeira ´e a magnetoresistˆencia, que ´e a raz˜ao entre o campo ao longo do fio Ex e a densidade de corrente jx:

ρ(H) = Ex jx

. (3.40)

A outra ´e a intensidade do campo transverso Ey. Como este se equilibra com a for¸ca magn´etica (FM),

espera-se que seja proporcional tanto ao campo magn´etico H quanto `a corrente ao longo do fio jx.

Portanto, definimos o coeficiente Hall como a raz˜ao entre essas quantidades.

RH =

Ey

jxH

. (3.41)

O sinal do coeficiente Hall determina o sinal dos portadores de carga. Se os portadores de carga forem negativos, o campo Hall ser´a na dire¸c˜ao y negativa e portanto RH tamb´em ser´a negativo. No entanto, se

os portadores de carga forem positivos, o campo Hall ser´a na dire¸c˜ao positiva de y, e, consequentemente RH ser´a positivo. O efeito Hall teve grande importˆancia por determinar o sinal dos portadores de carga,

como sendo negativo. No entanto, alguns materiais possuem coeficiente Hall positivo, o que n˜ao estava previsto na teoria, como por exemplo os elementos Be, Mg e Al [14]. Posteriormente, com a introdu¸c˜ao da mecˆanica quˆantica no estudo dos s´olidos, descobriu-se que os portadores de carga positiva s˜ao “buracos”, deixados pela falta de el´etrons e que podem se propagar.

Para encontrar o coeficiente Hall e a magnetorresistˆencia precisamos calcular as densidades de corrente jxe jy, para isso vamos usar o modelo de Drude [14]. A for¸ca que atua em cada el´etron ´e a for¸ca

de Lorentz F = −e(E + v x H/c) e τ ´e o tempo entre duas colis˜oes de el´etrons. Portanto a equa¸c˜ao de movimento para o momento de cada el´etron ser´a:

dp dt = −e(E + p mcx B) − p τ. (3.42)

No equil´ıbrio, a corrente ser´a independente do tempo, portanto px= py = 0. Logo:

0 = −eEx− ωcpy−

px

τ , 0 = −eEy+ ωcpx− py

τ , (3.43)

onde ωc´e a frequˆencia de c´ıclotron, que caracteriza o movimento de c´ıclotron de uma carga em um campo

magn´etico e ´e dada por:

ωc=

eH

mc. (3.44)

Multiplicando as Eq. 3.43 por −neτ /m, em que n ´e a densidade de el´etrons, e introduzindo j = −ne/mp temos que:

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