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Arquivos pessoais: implicações teóricas e a organização do Arquivo Filinto de Almeida

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE CIENCIA DA INFORMAÇÃO – GCI CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUIVOLOGIA

ELIZA SALGADO DE AGUIAR MACHADO

ARQUIVOS PESSOAIS: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E A ORGANIZAÇÃO DO ARQUIVO

FILINTO DE ALMEIDA

NITERÓI 2017

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Ficha catalográfica automática - SDC/BRO

S164a Machado, Eliza Salgado de Aguiar

Arquivos Pessoais: Implicações teóricas e a organização do Arquivo Filinto de Almeida / Eliza Salgado de Aguiar Machado. – Niterói: UFF, 2017.

58f.:il

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquivologia)- Instituto de Arte e Comunicação Social – Universidade Federal Fluminense.

Orientador: Renato de Mattos

1. Arquivologia. 2. Arquivos Pessoais. 3. Academia Brasileira de Letras. 4. Filinto de Almeida. I. Título.

CDU: 930.25

Bibliotecária responsável: Maria Margareth Vieira Pacheco Rodrigues - CRB7/5874

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ELIZA SALGADO DE AGUIAR MACHADO

ARQUIVOS PESSOAIS: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E A ORGANIZAÇÃO DO ARQUIVO FILINTO DE ALMEIDA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense como requisito para a obtenção do grau Bacharel em Arquivologia.

ORIENTADOR: Profº Renato de Mattos

Niterói 2017

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ELIZA SALGADO DE AGUIAR MACHADO

ARQUIVOS PESSOAIS: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E A ORGANIZAÇÃO DO ARQUIVO FILINTO DE ALMEIDA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense como requisito para a obtenção do grau Bacharel em Arquivologia.

APROVADO EM___ DE____________DE 2017.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Renato de Mattos (Orientador)

Universidade Federal Fluminense

Prof.ª Clarissa Moreira dos Santos Schmidt

Universidade Federal Fluminense

Profª. Raquel Louise Pret Coelho

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Ao meu pai (in memoriam) que sempre esteve presente mesmo na dor da saudade.

A minha mãe por todo o apoio.

Ao meu irmão, por nunca ter deixado eu desistir.

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AGRADECIMENTOS

“Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos”. Mais uma etapa dessa longa trajetória concluída. Inúmeras pessoas cruzaram, em algum momento, o meu caminho durante esse período e eu não poderia deixar de demonstrar minha imensa gratidão à elas. Gratitude a todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram a traçar essa história.

Ao meu pai, Lielton, meu início, meio e fim. Durante toda sua jornada aqui na terra lutou pelo nosso bem. Seu exemplo de força e coragem me torna, cada dia que passa, uma pessoa melhor. Onde estiver sigo os seus passos e te trago dentro de mim.

À minha mãe, Silmara, que apesar de todos os adventos da vida esteve ao meu lado. Obrigada por me apoiar e me incentivar a lutar pelos meus direitos e meus sonhos.

Ao meu irmão, Thiago, que nunca deixou que eu desistisse, por maior que fosse a tempestade. Obrigada por me ensinar que ao final de cada uma o sol sempre há de surgir.

Aos meus avós, Maria Ida e Silvério, por serem grandes exemplos de amor e afeto. Incentivadores, sempre estiveram presentes em toda minha educação e crescimento. Deixo aqui registrado meu enorme agradecimento pelos “puxões de orelha” e conselhos.

À minha tia e madrinha, Creuza. Não tenho palavras para descrever minha eterna gratidão por todos os esforços sem medidas. Compreensível em toda minha ausência, nunca deixou de demonstrar, mesmo distante, todo seu imenso amor, saudade e orgulho. Obrigada por tudo!

À minha professora do Infantil, Nereida Fátima, minha mais valiosa referência de mestre e educadora. Sua enorme paciência e generosidade marcaram minha infância e vida. Palavra alguma pode descrever a gratidão que sinto pela devota dedicação empenhada para me passar o devido ensinamento.

À minha professora, Clarissa Schmidt. Grande responsável por me apresentar ao “mundo dos arquivos”. O gosto e a paciência com que ministra as aulas foram grandes responsáveis pela minha formação acadêmica. É de imensa honra que a tenho em minha banca de Graduação.

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À chefe do Arquivo Mucio Leão, da Academia Brasileira de Letras, Maria Oliveira que apresentou-me ao universo dos arquivos pessoais, pelo qual me encantei. E com quem tive o prazer e a honra de trabalhar e trocar experiências durante dois anos.

À Juliana Amorim, coordenadora do Arquivo dos Acadêmicos da ABL. Mais do que minha ex-coordenadora, se tornou uma amiga. Obrigada por me ensinar durante os dois anos em que fui sua estagiária um pouco mais sobre os arquivos pessoais e sobre a vida. Obrigada por me receber tão bem durante minha pesquisa para este trabalho; por me acolher em sua casa, por ouvir minhas histórias, por compartilhar risos e lágrimas.

Aos meus colegas de faculdade, em especial à Dayane Silva. Mais do que meu eterno e único “grupo” em trabalhos realizados, se tornou um grande exemplo de pessoa e mulher. Gratidão por toda paciência e parceria durante todos esses cinco anos.

Ao Bernardo Lessa, pessoa muito importante em minha vida. Sem ele este último ano teria sido mais fatigante. Entrou em minha vida e caminhou comigo sem depreciar meus medos e aflições. Admirador de todo meu esforço e trabalho e dono de todo meu amor.

Aos meus amigos que encontrei ao longo da vida e que permaneceram comigo: Nanda, Raquel, May, Keiko, Ana, Lohayne, Conrado e Gabriel. “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”.

Por último, e nem por isso menos especial, minha notável gratidão ao meu orientador Renato de Mattos por me guiar, com enorme entusiasmo, nessa tarefa tão difícil, mas ao mesmo tempo prazerosa. Sem o seu apoio e incentivo esse trabalho teria sido ainda mais árduo. Sempre solicito e presente, esclarecia todas as minhas dúvidas e abraçava minhas ideias. Foi uma honra tê-lo como mentor. Que nossa jornada e cumplicidade permaneçam por muito tempo.

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Peço-lhes perdão, mas ... Declaro-me VIVO !

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RESUMO

Resultado de um estudo, por meio de uma pesquisa literária e minha experiência como estagiária no Arquivo Mucio Leão da Academia Brasileira de Letras, possui como o objetivo analisar a organização do Arquivo Filinto de Almeida. A revisão da literatura aborda o que são os arquivos pessoais e as problemáticas que envolvem os mesmos. Analisa a premissa de que os arquivos pessoais podem ser considerados arquivos no âmbito da Arquivologia. Além disso, disserta acerca da relação da Arquivologia, seus princípios e metodologia, aplicados aos arquivos pessoais. A abordagem metodológica aborda a história arquivística e a organização do arquivo de Filinto de Almeida, Julia Lopes de Almeida e de sua filha Margarida Lopes de Almeida. Investiga todas as etapas da organização de tais acervos, desde a biografia do produtor e história arquivística até sua organização, arranjo e instrumento de pesquisa.

Palavras-chave: Arquivologia. Arquivos pessoais. Academia Brasileira de Letras.

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ABSTRACT

Result of a study, through a literary research and my experience as an intern at the Archive Mucio Leão of Academia Brasileira de Letras, has as objective to analyze the organization of Arquivo Filinto de Almeida. The literature review discusses what are the personal archives and the problems involving the same. Examines the premise that personal archives can be considered in the sphere of Archivology. Moreover, it discusses about the relationship between the Archivology, principles and methodology, applied to personal archives. The methodological approach addresses the archival history and the organization of the Filinto de Almeida, Julia Lopes de Almeida and their daughter Margarida Lopes de Almeida. Investigates all stages of organization of such assets, since the producer's biography and archival history to your organization, arrangement and research tool.

Keywords: Archival Science. Personal Archives. Academia Brasileira de Letras.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fotografia de Filinto de Almeida ... 36

Figura 2 – Fotografia da Família Lopes de Almeida ... 37

Figura 3 – Fotografia de Julia Lopes de Almeida ... 40

Figura 4 – Fotografia de Rachel de Queiroz em sua posse na ABL ... 42

Figura 5 – Fardão Feminino. Modelo do vestido escolhido para posse da escritora Rachel de Queiroz na ABL ... 42

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Fundo e Coleção ..45 Quadro 2 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Série Filinto de

Almeida ... 47

Quadro 3 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Série Julia Lopes de

Almeida ... 47

Quadro 4 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Série Margarida

Lopes de Almeida ... 48

Quadro 5 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Série Iconografia .. 49 Quadro 6 – Quadro de arranjo do Arquivo Filinto de Almeida – Série Hemeroteca 50

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 16 1.1 OBJETIVOS ... 17 1.1.1 Objetivo Geral ... 17 1.1.2 Objetivo Específico ... 18 1.2 JUSTIFICATIVA ... 18 1.3 METODOLOGIA ... 19

2. O QUE SÃO ARQUIVOS ... 20

2.1 Arquivos Pessoais: registros, memória e provas ... 21

2.2 Arquivos Pessoais e suas implicações teóricas ... 26

3. A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS ... 31

3.1 O Arquivo Mucio Leão ... 33

4. O ARQUIVO FILINTO DE ALMEIDA ... 38

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva compreender as discussões acerca do estatuto arquivísticos dos arquivos pessoais e a aplicação dos princípios arquvísticos nos mesmos a partir de minha experiência profissional no Arquivo Mucio Leão, da Academia Brasileira de Letras. Na Arquivologia muito se debate se os arquivos pessoais devem ser considerados ou não arquivos e se as técnicas e metodologias da disciplina se aplicam nos mesmos. Neste sentido pretende-se aqui analisar essas questões e, principalmente, desempenhar um estudo de caso, fruto da minha experiência profissional, acerca deste assunto.

No primeiro capítulo será apresentado as problemáticas enfrentadas nos arquivos pessoais. Por muito tempo os arquivos pessoais foram considerados “coleções especiais” e os documentos que pertenciam a estes acervos eram considerados “raros”, “preciosos” e “verdadeiramente únicos” e, portanto, eram tratados sob a luz da Biblioteconomia. Além disso, por possuírem características singulares e elementos que os diferenciavam dos documentos administrativos, os arquivos pessoais não eram considerados arquivos, sendo os princípios e métodos arquivísticos ignorados na formação e organização de tais acervos.

Em 1898, com a elaboração do Manual dos Holandeses, a Arquivologia, suas teorias e princípios, foram consolidados. Este Manual é considerado um dos mais importantes instrumentos relativos à classificação, arranjo e descrição de documentos. Apesar disto a ênfase do mesmo se dá apenas aos arquivos administrativos, sendo os arquivos pessoais ignorados.

Neste Manual que os mais significativos princípios da Arquivologia foram consolidados. Os princípios da proveniência, de respeito aos fundos e o da ordem original são os que regem o fazer do arquivista. A aplicação desses princípios nem sempre se torna uma tarefa fácil, seja nos arquivos pessoais ou nos arquivos administrativos, e a partir disto surge a relevância do presente trabalho.

No segundo capítulo contextualizamos a Academia Brasileira de Letras e o Arquivo Mucio Leão. Inaugurada em 1897 a ABL surgiu com o intuito de cultivar a língua portuguesa e a literatura brasileira. Em seu Regimento Interno, foram estabelecidos as funções e responsabilidades do Arquivo Mucio Leão – nome dado em homenagem ao referido acadêmico. O Arquivo segue duas linhas de acervo: 1) dos acadêmicos; e 2) institucional, e é sobre o primeiro que se debruça este trabalho.

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No terceiro e último capítulo será analisada a metodologia aplicada ao Arquivo Filinto de Almeida. Almeida foi fundador e o primeiro ocupante da Cadeira número 3 da Academia. A organização deste arquivo se deu em oito etapas e, tanto em sua organização, quanto neste trabalho, foi analisado a aplicação e o respeito dos princípios e métodos arquivísticos, aplicados aos arquivos pessoais.

1 .1 OBJETIVOS

1.1.1. OBJETIVO GERAL

Até recentemente, os arquivos pessoais não possuíam, na Arquivologia, um papel central. Desde a elaboração do Manual dos Holandeses, em que os conceitos e práticas arquivísticas foram consolidados, os arquivos pessoais foram sendo preteridos. Porém, devido ao maior interesse pela pesquisa e história, os profissionais da área têm, cada vez mais, discutido as questões acerca dos arquivos pessoais.

Esses conjuntos documentais, produzidos, recebidos e/ou acumulados por uma pessoa física ao longo de sua vida, são dotados de singularidade, e refletem suas atividades e função social. Esses documentos, concebidos em qualquer estrutura ou suporte, representam a vida, as relações e funções do seu titular. Desta maneira, os arquivos pessoais são registros de determinado individuo no decorrer do tempo. Tais documentos revelam não somente a vida dos seus produtores, mas também, a própria sociedade.

Este trabalho propõe apresentar os conceitos da Arquivologia, principalmente o de arquivo pessoal; a relevância desses arquivos para a pesquisa e a sociedade; os problemas e discussões enfrentados por esses arquivos; e, sobretudo a importância do entendimento dos conjuntos de documentos pessoais como arquivos, sob a luz da teoria Arquivística.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os documentos de pessoas físicas são caracterizados por resultarem, na maior parte das vezes, de atividades que fogem aos rigores do ordenamento jurídico e, portanto, os documentos muitas vezes são de difícil identificação, diante disto, acredita-se que a aplicação das teorias e princípios arquivísticos se torna

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inacessível. Contrapondo esta ideia, este trabalhou tem intuito de analisar as problemáticas enfrentadas nos arquivos pessoais e a aplicação dos princípios arquivísticos na organização de tais acervos.

Cada vez mais, os arquivos de pessoas têm sido alvo de uma série de considerações relacionadas à sua natureza e, sobretudo, sobre a aplicação metodológica-prática adotada na sua organização. Há uma discussão se tais arquivos podem realmente ser considerados arquivos e se seu tratamento pode se dar à luz das teorias arquivísticas.

O presente trabalho busca, não somente analisar tais premissas, como, principalmente, apresentar minha experiência na organização de arquivos pessoais como estagiária na Academia Brasileira de Letras. Desta maneira, este estudo possuí como principais objetivos analisar o arquivo do escritor e acadêmico Filinto de Almeida, relacionar a arquivística conteporânea com a realidade encontrada neste arquivo e analisar a metodologia de organização aplicada no mesmo.

1.2 JUSTIFICATIVA

Por possuírem grande especificidade os arquivos pessoais sempre foram analisados e tratados de maneira distinta dos arquivos institucionais. Segundo Santos (2012)

a literatura arquivística clássica sempre tratou as diferenças entre arquivos institucionais e arquivos pessoais, estabelecendo uma posição bastante clara. Enquanto os primeiros representam um conjunto homogêneo e necessário, resultado de uma atividade administrativa, os documentos pessoais podem ser produtos de uma intenção de perpetuar uma determinada imagem, portanto fruto de uma seleção arbitrária, e se apresentam como agrupamento artificial e antinatural onde não é possível objetividade. (SANTOS, 2012, p.29)

Dessa maneira tal diferença não possibilitou em uma prática pertencente aos dois arquivos e resultou na dissociação dos arquivos pessoais de um conjunto orgânico. O tratamento e organização dos conjuntos pessoais devem seguir a prática do trabalho arquivístico, assim como suas teorias. Os arquivos pessoais segundo Lopez (2003)

[...] testam os limites dos princípios teóricos da Arquivologia, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, os reforçam, como única salvaguarda para que tais conjuntos não percam a unicidade e coesão arquivística que os caracterizam (LOPEZ, 2003, p.70)

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Este trabalho se tornou de suma importância, pois analisa os arquivos pessoais enquanto arquivos no âmbito da Arquivologia. Além disso, identifica na tarefa de organização dos arquivos pessoais a aplicação de critérios metodológicos da Arquivologia, bem como suas teorias.

1.3 METODOLOGIA

A fim de alcançar os objetivos apresentados, o trabalho foi realizado em duas etapas: revisão literária e estudo de caso. A revisão literária pretende buscar subsídios para o estudo dos arquivos pessoais e os conceitos e princípios arquivísticos aplicados, também, em tais arquivos. O estudo de caso fundamenta-se em minha experiência na organização do “Arquivo Filinto de Almeida”. Neste sentido, apresenta todas as etapas de tal organização, que compõe, basicamente, o estudo do produtor e do acervo, sua forma de acumulação e interferências e sua organização em si. Além disso, analisa os princípios e técnicas arquivísticas aplicados em tal documentação.

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2. O QUE SÃO ARQUIVOS

No Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística a Arquivologia está definida como “disciplina que estuda as funções do arquivo e os princípios e técnicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e preservação utilização dos arquivos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 37). Dessa maneira a Arquivologia se ocupa tanto dos aspectos teórico-metodológicos quanto da prática referente aos arquivos e aos documentos.

Os documentos de arquivo são aqueles produzidos, recebidos e/ou acumulados por entidades físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, no decorrer de uma determinada atividade. Segundo Camargo (2009), o que difere os documentos de arquivo dos demais é “a função que desempenham no processo de desenvolvimento das atividades de uma pessoa ou organismo (público ou privado), servindo-lhes também de prova” (CAMARGO, 2009, p. 28). Os arquivos são compostos, portanto, pelos conjuntos de tais documentos. Uma vez que os documentos são provas e registros das atividades exercidas por entidades físicas ou jurídicas, a relação deles com a entidade produtora ou acumuladora se torna ainda mais clara e evidente. Assim, os documentos de arquivo são:

[...]testemunhos inequívocos da vida de uma instituição. Informações sobre o estabelecimento, a competência, as atribuições, as funções, as operações e as atuações exercidas por uma entidade pública ou privada no decurso de sua existência estão registradas nos arquivos (BELLOTO, Heloísa, 2002, pgs. 7-8)

A Arquivologia é conhecida, portanto, como o estudo dos arquivos e suas funções e define as técnicas que devem ser utilizadas no ciclo vital dos documentos, ou seja, desde a sua produção e utilização até sua destinação final (eliminação ou preservação). Desta maneira tem como objetivo a gestão e organização de tais objetos a fim de dar acesso às informações que são indispensáveis para o funcionamento e tomadas de decisões tanto das entidades, de cunho privado ou público, jurídicas ou físicas.

Através das definições de Arquivologia e seus objetos, podemos perceber que a mesma trata tanto dos arquivos em geral, sendo eles arquivos públicos ou arquivos privados, de pessoas físicas ou jurídicas. Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística os arquivos públicos são aqueles de “entidade coletiva pública, independentemente de seu âmbito de ação e do sistema de governo do

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país.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.28). Já os arquivos privados são definidos como “de entidade coletiva de direito privado, família ou pessoa.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.35). A partir destas definições observa-se que existem duas linhas de pensamento: os arquivos administrativos, referente às administrações – públicas ou privadas, e os arquivos pessoais, relativos às pessoas ou famílias.

2.1 ARQUIVOS PESSOAIS: REGISTROS, MEMÓRIAS E PROVAS

Ao analisar as literaturas e as definições da área, percebemos que há uma distinção entre os arquivos de organizações e de pessoas. Há uma grande discussão entre os profissionais e acadêmicos da Arquivologia a respeito dos arquivos pessoais serem considerados ou não arquivos. Por possuírem vários elementos com diversas singularidades estes arquivos se diferem dos arquivos administrativos.

Conforme Lúcia Velloso, o arquivo pessoal pode ser compreendido como: [...] conjunto de documentos produzidos, ou recebidos, e mantidos por uma pessoa física ao longo de sua vida e em decorrência de suas atividades e função social. Esses documentos, em qualquer forma e em qualquer suporte, representam a vida de seu titular, suas redes de relacionamento pessoal ou de negócio. Representam também o seu íntimo, suas obras e etc. São, obviamente, registros de seu papel na sociedade, em um sentido amplo (OLIVEIRA, 2010, p.35).

De uma maneira ampla, os arquivos pessoais são um conjunto de documentos de origem privada produzidos e acumulados por pessoas físicas. Os documentos desse conjunto são relacionados às atividades desenvolvidas e aos interesses do seu produtor. Sendo assim, testemunham a trajetória de sua vida, suas relações pessoais e/ou profissionais e seus interesses.

Uma das questões levantadas com relação aos arquivos pessoais é a construção da memória dos seus titulares e a produção de “legados históricos” (HEYMANN, 2005). Outra questão é a aplicação da metodologia e dos princípios arquivísticos nos documentos constantes desses arquivos. Por possuírem características singulares, elementos informais e diferentes tipos documentais, os arquivos pessoais desafiam e dificultam essa aplicação.

Os arquivos pessoais são caracterizados, muitas vezes, como “produtos de uma intenção de perpetuar uma determinada imagem, portanto fruto de uma seleção arbitrária” (SANTOS, 2012, p.29). Por possuírem documentos relativos a pessoas e

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por exprimirem a trajetória dos mesmos, tais arquivos são vistos como uma materialização da memória individual.

Segundo Heymann (1997), a ênfase dos arquivos pessoais está na acumulação, ou seja, nem todos os documentos que integram o conjunto documental foi produzido ou recebido pelo titular e nem sempre estão relacionados a esse conjunto documental. Dessa maneira, acredita-se que apenas os documentos escolhidos e selecionados como mais importantes pelos seus titulares fazem parte desse conjunto documental, não possuindo organicidade e imparcialidade na produção do arquivo. Ainda seguindo a concepção da autora, essas ideias podem levar ao equívoco de que os arquivos pessoais podem ser o resultado de um esforço dos titulares de construção de sua memória.

De acordo com Heyamn (1997), diversos critérios podem nortear a acumulação dos documentos pessoaise, por essa razão, é preciso primeiro que se entenda a forma que se dá a acumulação. Segundo a autora, o indivíduo ao contar sua vida pode atuar como ideólogo de sua própria história, selecionando aquilo que ele julga mais importante para a construção da sua memória. Para Thomassem (2006), os arquivos

[...] funcionam como memória dos produtores de documentos e da sociedade de forma geral. Tanto os produtos de documentos públicos quanto privados mantêm registros para lembrar ou para serem lembrados. Eles precisam de suas memórias individuais e organizacionais para que possam manter sua capacidade de serem entendidos e de documentar a sua própria história. É importante para a sociedade que as organizações funcionem bem, que indivíduos e associações sejam responsáveis por seus atos, e que registros de valores culturais duradouros sejam preservados através do tempo (THOMASSEM apud OLIVEIRA, 2010, p.39).

Dessa maneira, segundo Oliveira (2010), o fato de ser atribuído um valor distinto daquele que justificou a produção do documento, referente ao valor secundário1, não significa que o valor primário2 não deixou de existir ou que não existiu. A autora analisa que o valor secundário “está centrado no conteúdo do documento e ao seu valor de informação3” (OLIVEIRA, 2010, p.39)

1

“Valor atribuído a um documento em função do interesse que possa ter para a entidade produtora e outros usuários, tendo em vista a sua utilidade para fins daqueles para os quais originalmente foi produzido” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.171)

2 “Valor atribuído ao documento em função do interesse que possa ter para a entidade produtora, levando-se em conta a sua utilidade para fins administrativos, legais e fiscais” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.170)

3 “valor informacional é a capacidade do documento de arquivo de fornecer informação sobre pessoas, coisas, fenômenos e outros assuntos de interesse para pesquisa” (EASTWOOD apud OLIVEIRA, 2010, p.39).

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A ilusão que o acumulo documental dos arquivos privados está pautado em determinados acontecimentos e fatos relevantes da vida do titular acaba sendo importante. É necessário que se conheça a trajetória da construção desse acervo; a atuação direta que teve o titular e terceiros que estabeleceu formas e critérios para a constituição desse acervo. Nesse sentido “a lógica do arquivo não reside nos documentos, mas na pessoa, o sujeito que os seleciona e arranja. Não é a produção do documento que interessa, mas a constituição da coleção.” (VIANA et. al, 1986, p. 66)

Apesar de não ser uma característica exclusiva dos arquivos pessoais, a acumulação ocorre com maior frequência nos mesmos, porém, apesar desse fato, os arquivos não deixam de exprimir seu sentido e relevância. De acordo com Fonseca (2015):

[...] a acumulação relativa ao recebimento dos documentos é comum a todo tipo de arquivo. Essa característica é resultado da forma como nossa sociedade compreende o sentindo dos arquivos [...] ou seja, nos Arquivos Pessoais a acumulação também representa a compreensão dos arquivos em toda sua importância, inclusive a memória. Porém, esse destaque e retorno social apenas ocorrerão após a compreensão e tratamento adequados aos documentos (FONSECA, 2015, p. 7)

Outro aspecto que Heymann (1997) aborda em seu texto é a monumentalização da memória de tais indivíduos. A partir do momento que o arquivo pessoal é depositado em uma instituição ou centro de documentação há certa valorização desta memória. Segundo a autora, o arquivo fica disponível como fonte de pesquisa depois de passar do domínio privado para o público . Dessa forma:

[...] os centros de documentação funcionam como locus privilegiado de avaliação desse capital simbólico, já que são instituições voltadas para a preservação daquelas memórias reconhecidas como histórias, ao mesmo tempo em que são capazes de conferir “valor histório” aos papéis que se encontram sob sua guarda (HEYMANN, 1997, p. 7).

Antes mesmo da inserção dessa documentação nesses centros, pode haver a divisão do conjunto documental. Muitas vezes partes dos acervos ficam com o cônjuge, herdeiros “diretos” e dispersos nos centros de documentação. Esse fracionamento pode levar a perda da organicidade e ordem original dos documentos e interferir futuramente em pesquisas. É preciso que se conheça sobre toda fase de acumulação, preservação e guarda desse acervo.

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Nos centros de documentação esses arquivos também sofrem com a interferência do trabalho dos arquivistas. Heymann (1997) destaca dois processos importantes deste profissional: a formação de dossiês e a descrição dos documentos. No primeiro a autora define os critérios que serão utilizados para a montagem dos dossiês4. No segundo é adotado um “conjunto de procedimentos que leva em conta os elementos formais e de conteúdo dos documentos para elaboração de instrumentos de pesquisa” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.67).

O estabelecimento desses processos acaba não sendo fácil, tanto nos arquivos pessoais, quanto nos arquivos institucionais. Muitas vezes um determinado documento pode tratar de múltiplos atos e pode acabar se perdendo. Uma maneira de minimizar as possíveis perdas de informação, segundo Heymann (1997), é a criação e a utilização remissivas, bem como a elaboração de descrições mais detalhadas.

O processo de descrição arquivística envolve a descrição e representação das informações de documentos, gerando instrumentos de pesquisa5. Esse processo é importante, pois garante a compreensão e conhecimento de um determinado fundo e/ou acervo. Oliveira (2010) destaca em sua obra a análise de Camargo (2008), em que chama a atenção para dois problemas no processo de descrição dos arquivos pessoais: o uso de categorias genéricas na estrutura do arranjo documental causando ambiguidade e sobreposições e a variedade de tipos documentais ainda não reconhecidos. Para o primeiro problema, Camargo (2008 apud Oliveira 2010) indica a utilização de uma abordagem específica, voltada para a produção do documento.

Após a descrição, a próxima etapa é a elaboração dos instrumentos de pesquisa. Os pesquisadores possuem acesso a tais instrumentos, e, a partir deles, é possível se conhecer, num primeiro momento, o conteúdo do acervo. Prévia a organização dos arquivos o conhecimento e estudo da trajetória do seu titular e construção do mesmo é primordial para que se possa reconhecer possíveis lacunas e interferências. Ao se tratar de arquivos pessoais é necessário levar em conta as ações do titular, as interferências de terceiros, o local de guarda e preservação do

4

“conjuntos documentais que serão descritos enquanto unidade” (HEYMANN, 1997, p.7)

5 Meio que permite a identificação, localização ou consulta a documentos ou a informações neles contidas. Expressão normalmente empregada em arquivos permanentes” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.108)

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arquivo. O papel do arquivista nesse processo é imprescindível. Cabe a este profissional

[...] assegurar a manutenção do vínculo de estreita correspondência entre documentos e atividades do organismo produtor, de modo a reforçar e tornar estável o efeito probatório que decorre dessa relação sui generis (CAMARGO, 2009, p.34).

Os documentos pessoais, assim como os institucionais, estão sujeitos a processos de interferências. Tanto o titular, quanto terceiros, podem influir no processo de ordenação, guarda e preservação desses documentos. O trabalho realizado nos arquivos pessoais deve levar em conta o:

[...] caráter arbitrário da configuração de cada um desses conjuntos, dada a independência e variedade das situações em que são gerados e acumulados os diversos documentos que os compõem, além das múltiplas interferências a que estão sujeitos. (HEYMANN, 1997, p.4).

Segundo Camargo e Goulart (2007), a presença de documentos que não possuem a força probatória dos que decorrem de transações ficam excluídos da área de competência dos arquivistas. Além disso, segundo as autoras, por se constituírem em um ambiente doméstico, os arquivos pessoais são vistos como impessoais e subjetivos.

Por serem vistos, muitas vezes, como um processo de construção de memória individual e por ter a dificuldade de aplicação dos conceitos e metodologias arquivísticas, os arquivos pessoais, segundo alguns autores, não podem ser considerados arquivos. Segundo Camargo e Goulart (2007)

[...] alguns autores, a partir de um entendimento superficial e linear dos princípios arquivísticos, proclamam a impossibilidade de se respeitar a ordem original dos documentos ou qualificam como subjetividade toda e qualquer intervenção praticada pelos profissionais da área, a ponto de afirmar que ‘tanto os arquivistas quanto os pesquisadores são contadores de história’ (CAMARGO; GOULART, 2007, p.36).

Para serem entendidos e tratados como arquivos, segundo Camargo e Goulart (2007), é preciso insere-los na definição de arquivo e assim enxerga-los como um conjunto orgânico6 além de analisa-los à luz do seu contexto de criação.

6 “Relação natural entre documentos de um arquivo em decorrência das atividades da entidade produtora” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.127)

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Os documentos, como já sabemos, tem sua origem no decorrer de determinada atividade e, assim, possuem o valor probatório. Nos arquivos de entidades jurídicas um ato é formalizado por diversas metodologias e procedimentos. O mesmo ato pode ocorrer dentro do universo dos arquivos, porém são concebidos de uma maneira mais informal. Lopez (2003) analisa que

[...] a informalidade caracteriza os procedimentos e os documentos gerados, o que não invalida o respeito aos princípios arquivísticos na organização de tais acervos. Pelo contrário, reforça a necessidade de tais princípios, como único modo de garantir a solidez das informações dos documentos (LOPEZ, 2003, p.70)

Para que se possa, portanto, assegurar as características e informações dos registros documentais é preciso que a aplicação dos conceitos e práticas arquivísticas sejam efetivados nos arquivos sem qualquer distinção. Conhecer o contexto de produção do documento, ou seja, para que foi criado é fundamental para que se entenda sua força probatória. Esse processo parte da análise de quem criou, onde, quando, como e para que foi criado o documento. Dessa maneira a primazia do contexto documental se dará em contrapartida ao conteúdo informacional.

2.2 ARQUIVOS PESSOAIS E SUAS IMPLICAÇÕES TEÓRICAS

Os manuscritos são conhecidos como um documento escrito à mão em um determinado suporte (papel, pergaminho etc) e sempre foram vistos com grande valor histórico e cultural. A fim de preserva-los, práticas consagradas pela biblioteconomia, como classificações temáticas, eram aplicadas. Durante um tempo esses manuscritos eram considerados parte de coleções especiais:

Considerados como coleções de documentos, os arquivos pessoais têm sido abordados por meio de critérios originários das bibliotecas, coerentes com a tradição de ali se depositarem as obras e os demais papéis de escritores. ” (Camargo, 2007, p. 37).

Em 1898, com a elaboração do Manual dos Holandeses os princípios e metodologias da Arquivologia foram consolidados. Esse manual foi elaborado por Samuel Muller, Johan Adriaan Feith e Robert Fruin. Em sua definição arquivo é o

[...] conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso, recebidos ou produzidos oficialmente por determinado órgão administrativo ou por um de seus funcionários, na medida em que tais documentos se destinavam a permanecer na custódia desse órgão ou funcionário (ARQUIVO NACIONAL, 1973, p.13)

No entanto, ao conceituarem “arquivo” os autores apenas englobam os documentos recebidos ou produzidos por uma determinada organização e ignoram

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os arquivos pessoais, sendo assim o primeiro marco teórico da Arquivologia não contempla os arquivos produzidos e/ou recebidos por pessoas ou famílias. Considerado que o Manual dos Holandeses é um dos mais importantes instrumentos técnicos relativos à classificação, arranjo e descrição arquivística, “esse enunciado tem grande impacto no que diz respeito ao reconhecimento dos arquivos pessoais enquanto arquivos, compreendido como um todo orgânico.” (LIRA, p.28, 2016)

É também no Manual dos Holandeses que os princípios arquivísticos são consolidados. São eles: o princípio da proveniência; de respeito ao fundo e à ordem original.

O primeiro é definido como “o princípio fundamental segundo o qual os arquivos de uma mesma proveniência não devem ser misturados com os de outra proveniência e devem ser conservados segundo a sua ordem primitiva, caso exista” (CONSEIL INTERNATIONAL DES ARCHIVES, apud ROUSSEAU & COUTURE, 1998). Por este princípio, os arquivos devem ser organizados de acordo com as atividades e competência do seu produtor, além disso, arquivos originários de uma determinada instituição ou pessoa devem ser mantidos em seu contexto, não sendo misturados a outros de origens diferentes. O princípio da proveniência está ligando intimamente com o princípio de respeito aos fundos. Quando se aplica a proveniência, automaticamente, o respeito aos fundos é obedecido. Segundo Lira (2016)

Identificada a proveniência, o produtor do arquivo, no caso dos arquivos pessoais, e a relação entre os documentos desse conjunto, não parece existir caminho mais apropriado que pela teoria arquivística para que seu contexto não seja perdido, bem como seu caráter probatório, no sentido de evidência das atividades, interesses e relações do titular. (LIRA, p.33, 2016) O princípio da ordem original diz respeito à conservação da organização original estabelecida pelo produtor. Segundo o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005) é o “princípio segundo o qual o arquivo deveria conservar o arranjo dado pela entidade coletiva, pessoa ou família que o produziu” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.137). Nos arquivos pessoais o que interessa, segundo Vianna et al (1986), não é propriamente a preservação da ordem física do conjunto documental, mas entender a acumulação como uma rede articulada no qual o produtor é o centro lógico. Sendo assim compreender a totalidade lógica do produtor e seu arquivo se torna indispensável frente ao conjunto de conteúdos informacionais

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dos documentos. Esse fator também pode ser observado na classificação em arquivos administrativos. Segundo Vianna et al (1986) a classificação se torna mais eficaz quando se conhece os trâmites documentais, a rede administrativa e as alterações e extinções de fluxos e setores.

Segundo Terry Cook (1997) a elaboração do Manual Dos Holandeses contou com experiências, quase que exclusivamente, de autores que tinham custodia de arquivos institucionais de governos. Dessa maneira a aplicação desses princípios e o tratamento documental, se tornou uma atividade, na maioria das vezes, voltada para os documentos institucionais, sendo os arquivos pessoais desconsiderados. Sendo assim, Catherine Hobbs (2016) acredita que como a teoria arquivística está ligada aos documentos de governo ou organizações os arquivos pessoais ocuparam o lugar de elemento secundário.

A teoria arquivística que perpassa os conjuntos de princípios e técnicas a serem observadas na produção, organização uso e preservação dos documentos abarca somente o contexto institucional. Esse fato originou o emprego de diferentes técnicas e metodologias nos arquivos pessoais, o que, segundo Camargo (2009) dificultou o “o reconhecimento dos atributos que permitiriam vê-los como conjuntos orgânicos e autênticos, marcadamente representativos das atividades que lhes deram origem” (Camargo, 2009, p. 28).

Como já mencionado, os arquivos pessoais são um conjunto de documentos produzidos e/ou acumulados por pessoas físicas ao longo do tempo e de suas atividades. Os documentos pessoais se diferem por possuírem diversos tipos documentais não-diplomáticos7 como cartas, cartões postais etc. Apesar disso, segundo Oliveira (2010) eles apresentam as cinco características arquivísticas: autenticidade, imparcialidade, organicidade, naturalidade e unicidade.

A autenticidade está ligada à criação e conservação dos registros documentais. Os documentos são autênticos porque são criados e conservados de maneira que matem sua forma, sem que sofram qualquer tipo de interferência que possam afetar seu poder de autenticidade. Segundo Duranti (1994) esta característica

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“ testemunho escrito de um ato de natureza jurídica, redigido em observância a fórmulas estabelecidas que se destinam a dar-lhe fé e força de prova. Assim, tipo documental não-diplomático é todo aquele que foge a essa regra, ou seja, tipo documental que por si, não possui fé e força de prova” (FONSECA, G.A. 2005, p.5)

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[...] está vinculada ao continuum da criação, manutenção e custódia. Os documentos são autênticos porque são criados tendo-se em mente a necessidade de agir através deles, são mantidas com garantias para futuras ações ou para informação, e ‘são definitivamente separados para preservação, tacitamente julgados dignos de serem conservados’ por seu criador oulegítimo sucessor como ‘testemunhos escritos de suas atividades no passado (DURANTI, 1994, p. 51)

A imparcialidade está ligada ao processo de criação do documento. Os documentos não são escritos a partir de uma determinada intenção ou para informação posterior. Eles são fiéis aos fatos e ações pelas quais foi criado, sendo naturalmente verdadeiros. No entanto, isso não quer dizer, segundo Eastwood apud Oliveira (2010) que “os produtores ou autores dos documentos sejam isentos de preconceitos” (EASTWOOD, p.127). Sendo assim a imparcialidade não diz respeito a neutralidade do produtor do documento, mas “ restringe-se ao porquê de sua produção e a permanência dessa característica ao longo do tempo” (OLIVEIRA, 2010, p.67).

A organicidade diz respeito à relação natural entre os documentos de um conjunto documental no decorrer da atividade do seu produtor. Segundo Duranti (1994) “o fato de os documentos de arquivo [...] acumularem-se natural, progressiva e continuamente [...] lhes garante uma coesão espontânea e estruturada” (DURANTI apud LOPEZ, 2003, p.74). Sendo os documentos arquivísticos a representação das atividades e funções sociais do seu produtor, eles estão ligados diretamente, segundo Oliveira (2010), ao lugar de cada indivíduo na sociedade. A naturalidade está intimamente ligada a este meio natural de acumulação dos documentos.

A unicidade está ligada ao propósito único do documento, ou seja, cada documento é exerce um papel único num determinado conjunto documental. Segundo a Duranti (1994) “a unicidade provém do fato de que cada registro documental assume um lugar único na estrutura documental do grupo ao qual pertence e no universo documental. ” (DURANTI, 1994, p. 52)

Dessa maneira, ao analisarmos um arquivo pessoal, podemos notar que as cinco características se tornam notórias. Os documentos de arquivos são registros seja de uma organização pública ou privada, de uma pessoa física ou jurídica ou de uma família, refletindo assim o fato e as transições que lhe deram origem. Cada

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documento exprime um fato em um determinado contexto de produção, assumindo um papel único e insubstituível no conjunto documental ao qual pertence.

A organização de arquivos, principalmente pessoais, deve ser embasada nos princípios da Arquivologia. O contexto de produção, ou seja, o princípio da proveniência e de respeito aos fundos, deve ser o fator principal para se entender um acervo arquivístico. Quando esse contexto é deixado de lado são também desconsiderados as transações, funções e atividades ligados à produção dos documentos. Segundo Oliveira (2010)

os documentos de arquivo que passam a ser parte do patrimônio histórico e cultural da sociedade ganham as características e os signos que representam os atos e os processos que lhe deram origem; e esses elementos devem ser identificados a qualquer tempo. O arquivista, ao proteger a imparcialidade e autenticidade dos documentos e ao buscar a representação das três características (naturalidade, organicidade e unicidade), confere aos arquivos a confiabilidade necessária aos mesmos para que sejam fontes de pesquisa para o usuário e para a perpetuação de suas origens” (OLIVEIRA, p. 69, 2010).

Deve-se entender que os documentos arquivísticos são produzidos em sucessão, eles são frutos e exprimem as atividades do seu produtor e são preservados como provas de tais atividades. Apesar de cada documento ser único em um acervo, sozinho ele não apresentará nenhuma informação. Eles devem ser entendidos em conjunto aos documentos da mesma espécie, produzidos através de uma mesma função.

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3 A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Ao contrário do que comumente é difundido, a ideia de uma Academia de Letras surgiu do desejo dos literatos Lucio de Mendonça e Medeiros e Albuquerque e não de Machado de Assis. Inspirada pela Academia Francesa, a Academia Brasileira de Letras (ABL) foi inaugurada no ano de 1897 com o objetivo de cultivar a língua e a literatura nacional.

As primeiras notícias de sua fundação foram divulgadas na Gazeta de Notícias (RJ) em 10 de novembro de 1896:

Aproveitando a circumnstancia de se achar na direcção do ministério do interior um homem de lettras, o Sr. Dr. Alberto Torres, pensou o Sr. Dr. Lucio de Mendonça, laureado escriptor e poeta, que era asada a occasião para dar vida a uma idea que occorrera logo nos primeiros dias da fundação da Republica, a creação de uma Academia, em que se congregassem os homens que tenham já dado as suas provas de amor pela arte da palavra escripta. A Academia de Lettras será fundada pelo governo, e o decreto de sua creação terá provavelmente a data de 15 de novembro; na mesma data o governo nomeará os dez primeiros membros d’esse instituto, e estes elegerão outros vinte e mais dez correspondentes, d’entre os escriptores nacionais residentes nos Estados ou estrangeiro. As vagas que se derem depois serão preenchidas por eleição (GAZETA DE NOTÍCIAS, n. 315, 1896)

No dia seguinte o Jornal do Commercio (RJ) também reservou um espaço em seu Jornal para a divulgação da fundação da Academia:

Disserão-nos que está resolvida a fundação de uma Academia de Lettras, que se comporá de 40 membros [...] esta idéa, de iniciativa do Dr. Lucio de Mendonça, foi bem acolhida pelo Sr. Dr. Alberto torres, Ministro do Interior [...]. A creação por decreto do Governo, terá a dat. De 15 de Novembro, para comemorar o 7º aniversário da proclamação da República (JORNAL DO COMMERCIO, p.3, 1896)

Apesar de ter sido idealizada sob a proteção do Governo tal fato não se concretizou. A Academia Brasileira de Letras foi fundada e constituída como uma fundação de caráter privado e independente e, antes de sua concreta inauguração, foram realizadas sete sessões preparatórias onde foram escolhidos os quarenta membros fundadores e aprovado o seu estatuto.

Em 20 de julho de 1897 foi realizada a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras no prédio Pedagogium localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro. Nessa sessão estavam presentes dezesseis acadêmicos, além de Machado de Assis, que pronunciou o discurso inaugural:

Senhores [...] não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova,

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naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão (ASSIS, MACHADO, 1897)

Sem sede própria, as sessões da Academia Brasileira de Letras foram realizadas no antigo Ginásio Nacional, no Real Gabinete Português e no escritório de Rodrigo Octávio. O Silogeu Brasileiro, primeira sede da Academia Brasileira de Letras, só foi conquistado a partir do decreto n° 726 de 8 de dezembro de 1900. A Academia permaneceu nessa sede até 1923 quando Joaquim Nabuco junto ao embaixador da França Raymond Conty conseguiu a doação do Governo Francês o prédio do pavilhão francês inspirado no Petit Trianon de Versalhes, localizado no Bairro Castelo, na cidade do Rio de Janeiro.

Entre os documentos que dispõe sobre as funções e constituição da ABL encontram-se o Estatuto e o Regimento Interno. O Estatuto é o regulamento que dispõe sobre o conjunto de regras e funcionamento da Academia Brasileira de Letras. Esse texto legal foi apresentado na sétima e última sessão preparatória da instituição realizada no dia 28 de janeiro de 1897 e ainda se encontra vigente.

Segundo o Estatuto, no seu 1° artigo parágrafo primeiro, a Academia Brasileira de Letras possuirá 40 acadêmicos no seu quadro de membros efetivos e 20 sócios correspondentes. Aquele que desejar fazer parte do quadro de acadêmicos da Academia Brasileira de Letras deverá se candidatar diante do falecimento de um membro e após votação poderá ser eleito ou não.

O Regimento Interno da Academia Brasileira de Letras foi elaborado em 2004 pela administração daquele ano e continua vigente. O Regimento dispõe sobre as realizações das atividades internas e da instituição como um todo. É neste texto normativo que encontramos as informações referentes ao Arquivo da ABL, nomeado “Arquivo Mucio Leão”, em homenagem ao referido acadêmico.

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3.1 O ARQUIVO MÚCIO LEÃO

Segundo Souza (2015) percebendo a necessidade de se dar uma organização definitiva aos arquivos da Academia na sessão do dia 16 de dezembro de 1943, onde a ordem do dia era “discussão do Projeto de Reforma do Regimento Interno da ABL”, o Acadêmico Mucio Leão apresentou a proposta da construção do Arquivo. O Projeto foi então aprovado, por unanimidade, na sessão do dia 23 de dezembro de 1943.

Anos depois, segundo Souza (2015), o Presidente da Academia Brasileira de Letras, acadêmico Austregésilo de Athayde, em 1970 ao ler o relatório da Diretoria e o Programa para o ano de 1970, atentou para a importância do Arquivo na instituição:

Quando cheguei aqui, a Academia dispunha apenas de 16 malas de flandres, dentro de uma cafua escura onde estavam os papéis das nossas memórias. Hoje dispomos de 40 fichários onde estão os arquivos, mas queremos dar uma expansão muito maior, porque eles não serão apenas da Academia, mas da vida literária do Brasil. Por enquanto, nós nos preocupamos apenas com o que diz respeito à Academia, para o futuro, porém, eles poderão compreender os papéis, as revistas, tudo aquilo que nos for entregue e que se relaciona com a vida literária do Brasil inteiro (ATHAYDE apud SOUZA, 2015, p.33)

O arquivo da ABL “tem por finalidade a preservação, a organização e a criação de facilidades para o acesso à documentação produzida, recebida e acumulada pela Academia e por seus membros” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2004, p.27.) O Arquivo é constituído por duas linhas de acervo: o “Arquivo dos Acadêmicos” e o “Arquivo Institucional”.

É competência do Arquivo dos Acadêmicos a organização e acessibilidade da documentação privada e pessoal dos mesmos. Os documentos são “únicos, diferenciados, com a marca, com a “impressão digital” de seus titulares.” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2003, p. 11). Os documentos pessoais, produzidos/acumulados por seus titulares formam um fundo arquivístico. Os documentos acumulados artificialmente pela própria ABL constituem uma coleção de documentos. Cada fundo/coleção recebe o nome do seu acadêmico, pois:

[...] o nome do titular, isto é, o acadêmico, fica como referência principal, “batizando”, sob a denominação maior de Arquivo, tanto o fundo arquivístico como a coleção de documentos (GUIA GERAL DOS ACADEMICOS, 2003, p.14)

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O Arquivo da ABL possui duas formas de organização: as coleções e os fundos de arquivos. Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística (2005) coleção é o “conjunto de documentos com documentos características comuns, reunidos intencionalmente” (DIBRATE, 2005, p.52), desta maneira as coleções são tratadas como uma reunião de documentos acumulados artificialmente por uma instituição ou por terceiros.

As coleções nos arquivos pessoais podem ser, segundo Schellenberg (2006), naturais ou orgânicas e artificiais. A primeira diz respeito ao conjunto documental que se forma no curso normal do indivíduo ou entidade. Os documentos deste conjunto pertencem a uma mesma fonte, reunidas de acordo com as ações que se referem. Enquanto isso, as coleções artificiais, são constituídas após as ações que se relacionam, ou seja, não ocorre no mesmo instante, e em geral derivam de diversas fontes.

No Dicionário de Terminologia Arquivística (2005), o fundo é conceituado como “conjunto de documentos de documentos uma mesma proveniência, termo que equivale a arquivo” (DIBRATE, 2005, p.97). Nesta definição não há uma clara delimitação do termo “fundo”. Segundo Terry Cook (2017) a ideia de “ato de produção” é o principal ponto para se entender o conceito do fundo arquivístico, ou seja, é compreendido como um conjunto de documentos que são produzidos ou recebidos como resultado de atividades relativas a funções de uma pessoa jurídica ou física:

Indivíduos e instituições produzem documentos naturalmente no exercício de suas funções e atividades normais. Criando efetivamente documentos, recebendo-os ou ainda partilhando e manipulando informações que são ou poderiam tornar-se documentos, eles produzem um agregado de material documentário, seja qual for a forma ou o suporte que reflete seu status

jurídico. O resultado da reunião “natural” ou “orgânica” dos documentos é chamado fundo. (COOK, 2017,

p.17)

O fundo arquivístico é responsável pela ordem necessária à organização do conjunto documental, ou seja, os arquivos devem se estabelecer diante deste cenário. O fundo, portanto, é o conjunto de documentos, sejam eles de qualquer natureza, reunidos, criados e/ou acumulados por uma pessoa física ou jurídica ou por uma instituição pública ou privada.

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Desta maneira a principal diferença entre a coleção e o fundo arquivístico é que o primeiro se trata de uma constituição artificial, reunidos intencionalmente e arbitrariamente; já o último é o resultado natural de um processo e resultado de determinadas atividades do produtor. Terry Cook (2017) atenta para um fato pertinente quando aborda que:

Ainda que os documentos produzidos pelo colecionador em seu trabalho de reunir a coleção obviamente constituam um fundo (ou parte de um fundo), o produto reunido – a coleção propriamente dita – não é um fundo. (COOK, 2017, p.17)

Em relação ao Arquivo da ABL, precisamente ao Arquivo dos Acadêmicos, os conjuntos documentais formados pelos documentos privados e pessoais, produzidos organicamente, recebidos e naturalmente acumulados pelos acadêmicos, constituem um fundo arquivístico. Esses documentos podem ser doados por herdeiros ou pelo próprio titular em vida. Por não haver nenhum termo legal de doação até 1997, não há registro do processo de doação dos arquivos pessoais para o Arquivo da ABL, porém é possível, em alguns casos, precisar a data de doação nas atas das sessões através de pesquisas.

Os outros documentos, acumulados artificialmente pela instituição, em nome do acadêmico, constituem uma coleção de documentos. Segundo Oliveira (2009) ponto de referência para a formação das coleções é o:

[...] acadêmico, e o critério poderia ser a utilidade do que foi guardado para produzir, celebrar e encenar ritualisticamente a memória do imortal. No entanto, alguns arquivos pessoais de acadêmicos doados à ABL são resultados de suas atividades, objetivos e funções, e podem não ter sidos reunidos apenas com o intuito de monumentalização num exercício de vaidade do titular, mas como uma consequência da relevância do acadêmico em sua área de atuação (OLIVEIRA, 2009, p.44)

Como já mencionado anteriormente, os arquivos pessoais, por serem considerados “coleções especiais”, foram tratados na perspectiva biblioteconômica ignorando-se a teoria arquivística. No Arquivo da Academia “o critério de organização adotado inicialmente nos arquivos da ABL era o biblioteconômico, utilizado até o momento da criação do cargo de Diretor do Arquivo, em 1943.” (SOUZA, 2015, p. 45). No entanto, o interesse por profissionais da área foi visto como necessário no final de 1926, quando o Acadêmico Constâncio Alves propôs a criação do cargo de “archivista”, independente das funções do bibliotecário, proposta, esta, não aceita.

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Na revitalização do Arquivo, em 1997, a equipe de profissionais, ao analisar o acervo, percebeu que os documentos eram tratados individualmente e possuíam fichas catalográficas organizadas em fichários. De acordo com Oliveira (2009) as fichas possuíam um código alfanumérico inseridos no documento, no entanto não foi possível identificar a lógica adotada nessa codificação.

Até 1943, com a criação do cargo de Diretor do Arquivo, foram aplicadas diversas formas de tratamento e organização dos acervos da Academia, inclusive as técnicas da Biblioteconomia. Após a criação do cargo de Diretor do Arquivo, segundo Oliveira (2009), este se transformou em um importante núcleo na Academia. Atualmente o Arquivo utiliza uma metodologia baseada na arquivística contemporânea, desenvolvida para os arquivos pessoais.

O arranjo físico dos documentos do Arquivo, até 1997, era dividido entre vivos e mortos, seguida pela ordem da ocupação da cadeira na Academia. Cada acadêmico possuía, segundo Oliveira (2009):

[...] um conjunto de pastas com documentos textuais (manuscritos e impressos), recortes de jornais e iconográficos. As séries, geralmente, eram as mesmas para todos: correspondência ativa e passiva, obras, notícias e críticas, eleição, posse, falecimento e sucessão. Essas quatro últimas séries acabavam por representar a dinâmica de entrada e a vivência acadêmica de um membro da Academia (OLIVEIRA, 2009, p.45)

Porém, diante a análise do perfil dos membros da academia, atentou-se para o fato da diversidade de profissões e atividades exercidas por eles. Sendo assim, de acordo com Oliveira (2009), mesmo diante de um grande número de coleções, a padronização das sérias, se tornou inviável. Os acadêmicos, além deste cargo, atuavam como políticos, jornalistas, advogados, médicos; desta maneira o arranjo utilizado no arquivo de um político, por exemplo, não serviria para o arquivo de um médico.

Em 1997, diante das comemorações do centenário da Academia, iniciou a revitalização do Arquivo. Na ocasião, foram contratados os serviços de consultoria do arquivista/conservador Sérgio Conde de Albite Silva. Nesta ocasião foi encontrado um laudo informativo da situação do acervo do Arquivo da Academia atestando a predominância de documentos textuais, audiovisuais e iconográficos. Como já mencionado, estes documentos foram acumulados sem qualquer tratamento ou técnica arquivística.

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O Arquivo da Academia é constituído por 293 arquivos de 151 de sócios correspondentes. Esses acervos são formados por fundos e/ou coleções de documentos referentes ao titular do arquivo. Entre esses documentos encontramos: documentos textuais, tais como manuscritos, recortes de jornais e revistas, diplomas, cartões de visita, além de cartazes, fotografias e registros magnéticos, entre outros.

Neste sentido, inicialmente, foi realizada a organização de todos os arquivos dos Patronos, considerados como coleções. Após esta etapa, passou-se para a organização dos 40 arquivos pertencentes aos fundadores. E, logo depois, a organização dos arquivos dos sucessores, conforme a data que tomaram posse na Casa. Num primeiro momento, é possível que os pesquisadores tenham acesso ao Guia Geral dos Acadêmicos (2003), no próprio site8 da Academia, para que tenham um contato prévio com o acervo.

O Arquivo da Academia tem como finalidade a preservação, a organização e a disseminação e aceso à documentação produzida, recebida e acumulada pela Academia e por seus membros. Diariamente o setor recebe inúmeros pesquisadores de diferentes lugares, além disso, com a rotina, muitos pesquisadores não conseguiam ir até a Academia para ter acesso ao mesmo. Diante disto surgiu a ideia de se utilizar uma base de dados online de acesso: o Sophia Acervo. Assim, qualquer pesquisador pode ter acesso aos documentos sem precisar ir até o Arquivo. Todos os arquivos dos patronos já estão disponíveis na base de dados no site da ABL – Sophia Acervo.

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4 O ARQUIVO FILINTO DE ALMEIDA

Francisco Filinto de Almeida nasceu no Porto, Portugal, no ano de 1857. Foi o fundador da cadeira nº. 3 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono Artur de Oliveira. Mudou-se para o Brasil por volta do ano de 1868, fixando-se na cidade do Rio de Janeiro. Durante sua adolescência, foi ensaiador de teatro e diretor de grupos amadores. Aos 19 anos, escreveu o entreato cômico “Um idioma”, representado em 1876, no Teatro Vaudeville. No ano de 1887 casou-se com a romancista Júlia Lopes de Almeida com quem teve quatro filhos: Margarida Lopes de Almeida, Afonso Lopes de Almeida. Albano Lopes de Almeida e Lucia Lopes de Almeida. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1945.

Figura 1 – Fotografia de Filinto de Almeida

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Figura 2 – Fotografia da Família Lopes de Almeida

Fonte: Arquivo Filinto de Almeida/ABL

Seguindo a lógica do Arquivo dos Acadêmicos, o arquivo referente à Filinto de Almeida possui uma coleção, reunida artificialmente pela Academia, e um fundo, sobre o qual será analisado mais adiante. A coleção de documentos possui documentos referentes à ABL, recortes de jornais, correspondências, fotografias entre outros.

A organização da coleção foi feita por um estagiário em 2006. A primeira etapa realizada para essa organização foi a contextualização do produtor. Nesta primeira etapa buscou-se adquirir conhecimento sobre a biografia de Filinto de Almeida. Neste sentido, foi realizada uma pesquisa a fim de identificar quem foi Filinto, sua trajetória de vida, produções acadêmicas e profissional.

A segunda etapa realizada foi a separação dos documentos por gênero. Foi realizada uma seleção, e, logo após, a separação dos documentos de acordo com seu gênero. Na coleção existiam documentos textuais e iconográficos. A terceira etapa consistiu na identificação do acervo. Para isto foram preenchidas fichas a fim de identificar as informações de cada documento, como tipologia, assunto, data,

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entre outros. A partir dessa identificação foi feito o levantamento dos seguintes documentos: produções intelectuais, correspondências enviadas e recebidas, produção intelectual de terceiros, documentos pessoais, biografias, fotografias e recorte de jornais. A quarta e última foi dedicada à construção do arranjo desta coleção.

Segundo o DIBRATE arranjo é uma:

Sequência de operações intelectuais e físicas que visam à organização dos documentos de um arquivo ou coleção de acordo com um plano ou quadro previamente estabelecido (DIBRATE, 2005,p. 37)

Desta maneira a coleção do Arquivo Filinto de Almeida foi dividida em seis seções: 1) Correspondências; 2) Produção Intelectual; 3) Documentos Institucionais; 4) Hemeroteca; 5) Iconografia; e 6) Diversos. Na série “Correspondências” foram reunidas todas as correspondências recebidas e enviadas por Filinto de Almeida. Na série “Produção Intelectual” foram reunidas as obras do escritor e na série “Documentos Institucionais” foram agrupados aqueles documentos referentes à atuação de Filinto de Almeida como Acadêmico na Academia Brasileira de Letras. Nas séries “Hemeroteca” e “Iconografia” foram reunidos recortes de jornais e iconografias, respectivamente. E na série “Diversos” foram agrupados aqueles documentos que não se encaixavam nas séries citadas (nesse caso a biografia, testamento e o álbum de recordação).

Na coleção, como se pode observar, há documentos que pertenciam ao Filinto de Almeida, dentre eles: correspondência, testamento e um álbum de recordações. Na época da organização do acervo tentou-se buscar informações referente à doação e acumulação dos referidos documentos, sem êxito. Assim, respeitou-se o princípio da proveniência e organicidade da coleção. Segundo Oliveira (2009)

[...] a formação desses conjuntos documentais denominados como arquivos, de acordo com o princípio da proveniência, seriam, de fato, coleções de documentos, pois teriam sido reunidos pela ABL e seus membros muitas vezes após o falecimento do titular. (OLIVEIRA, 2009, p.43)

Em 2008 foi realizada uma grande doação feita pelo neto de Filinto de Almeida e Julia Lopes de Almeida, Dr. Cláudio. Essa doação se referia à vida e obras do escritor Filinto de Almeida, além de documentos de sua filha Margarida Lopes de Almeida. Na ata da sessão do dia cinco de junho de 2008 foi identificada essa doação onde:

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