Patrícia Lopes1, Sandra Jacinto2, Guilhermina Romão3, Fátima Abreu4,
João Estrada5, José Ramos5, Rita Silva2
1Serviço de Pediatria, 2Serviço de Neurologia Pediátrica, 3Consulta de
Endocrinologia, 4Serviço de Pneumologia, 5Unidade de Cuidados Intensivos
Pediátricos (UCIP)
Hospital Dona Estefânia
Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
MACROSSOMIA, HIPERSOMNIA E ALTERAÇÃO DO CONTROLO DA
TEMPERATURA: DISFUNÇÃO HIPOTALÂMICA DE CAUSA DESCONHECIDA
Sandra Jacinto1, Rita Silva1, Patrícia Lopes4, Luís Nunes2, Guilhermina Romão3, Leonor Bastos Gomes5, Eulália Calado1
1 Serviço de Neurologia Pediátrica 2 Consulta de Genética Médica 3 Consulta de Endocrinologia 4 Serviço1 de Pediatria Médica 5 Neurorradiologia
Serviço de Neurologia - Hospital de Dona Estefânia - Lisboa
CASO CLÍNICO
ANTECEDENTES FAMILIARES
pais jovens, saudáveis, não consanguíneos
sem história doença neurológica, endocrinológica ou macrossomia
ANTECEDENTES PESSOAIS
IIG IP (1 gravidez ectópica), gravidez vigiada, sem intercorrências Parto 40sem, CST (incompatibilidade feto-pélvica por macrossomia) PN=4365g (p90) C=51 cm (p75) PC=36 cm (p50)
CASO CLÍNICO
ANTECEDENTES PESSOAIS Consulta de Pediatria Macrocefalia ecoTF’s normais PERÍMETRO CRANIANO Macrocrânia familiarCASO CLÍNICO
DPM
CASO CLÍNICO
3 ANOS Aumento ponderal excessivo
peso: p50 → >>p95 estatura: p50 → p95
Sonolência diurna excessiva
Apatia, lentificação psicomotora “Paragem” na aquisição de etapas
do DPM
CASO CLÍNICO
SETEMBRO / 2006 Prostração + vómitos + hipertermia de difícil controlo Convulsões generalizadas
Sem parâmetros de infecção
Insuficiência renal aguda (ureia=49 Cr=1,2 mg/dL)
CK=1755
Unidade Cuidados Intensivos Pediátricos
CASO CLÍNICO
NEUROLOGIA Sonolência, lentificação psicomotora
Exame neurológico sem outras alterações Facies dismórfico
EEG
traçado de sonolência e sono com estrutura adequada, moderadamente
HIPOTÁLAMO
REGULAÇÃO ENDÓCRINA. Neurohipófise . Adenohipófise
FUNÇÕES VEGETATIVAS
. Ciclo sono – vigília . Apetite . Controlo temperatura EMOÇÕES . Actividade / iniciativa . Memória . Humor
MACROSSOMIA HIPERSOMNIA GOLPE DE CALOR Estrutural Disfunção hormonal DISMORFIA
DISFUNÇÃO HIPOTALÂMICA
Genética Sotos Prader-Willi Metabólica Kleine-LevinCASO CLÍNICO
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
CASO CLÍNICO
CASO CLÍNICO
ENDOCRINOLOGIA Prolactina: 93,3 ng/mL (VR:7,7-49) 30min: 91,2 ng/mL 60min: 92,1 ng/Ml Função tiroideia TSH: 3.520 μIU/mL fT3: 2.21 pg/mL fT4: 0.89 ng/dL (VR: 0,93 - 1,77) T3: 138 ng/dL T4:6,28 μg/dL ACTH, cortisol (sérico e urinário): normal
GH, IGF1 e IGF-BP3: normal
Insulina e peptido C: normal
LH e FSH: normal
Perfil lipídico normal
CASO CLÍNICO
METABÓLICO Lactato e piruvato (sangue) Amónia
Aminoácidos e Ac. Orgânicos (S+U+LCR) CDG
Neurotransmissores no LCR
NORMAIS
Ác. homovanílico (HVA): ligeiramente ↓ Ác. 5-hidroxi-indolacético (5-HIAA): normal HVA / 5-HIAA: normal
CASO CLÍNICO
TESTE DE LATÊNCIAS MÚLTIPLAS Boa eficiência e manutenção da estrutura cíclica do sono Latências múltiplas: valores patológicos em 2 dos 5 testes
CASO CLÍNICO
TERAPÊUTICA Levotiroxina (50μg/dia)
Metilfenidato (7,5mg + 5mg)
CASO CLÍNICO
DEZEMBRO / 2006Hipotermia grave
Tt=30ºC
FC=50bpm TA:106/53 mmHg
Pouco reactivo, frio e extremidades cianosadas Edema das mãos
Leucopénia (3.260 com 1.190 neutrófilos) Trombocitopénia (83.000)
CASO CLÍNICO
RMN-CE Sobreponível à anterior EEG
Registo de sonolência sem actividade patológica
Muito breve período de vigília com electrogénese de base
CASO CLÍNICO
DOSEAMENTOS HORMONAIS Prolactina: 49 ng/mL TSH: 0,204 μIU/mL T3, T4 normais fT3:4,39 pg/mL fT4:1.35 ng/dL ACTH: 10,1 pg/mL Cortisol sérico: 7,04 μg/dL Cortisol urinário: 5,62 μg/24h (VR <18) Ritmo circadiano do cortisolCASO CLÍNICO
ESTUDO METABÓLICO Neurotransmissores no LCR (medicado com metilfenidato)
5-HIAA ↓ – défice serotoninérgico HVA e HVA / 5-HIAA - normais
Iniciou sertralina (12,5 mg noite) e aumentou metilfenidato 15+15mg Melhoria da pert comportamento e sonolência diurna
CASO CLÍNICO
AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO - GriffithsQuociente Geral: 62 Motricidade Grosseira: 59 Audição: 51 Realização: 70 Pessoal-social: 67 Coordenação olho-mão: 59 Raciocínio prático: 67
MACROSSOMIA HIPERSOMNIA GOLPE DE CALOR + HIPOTERMIA
Estrutural
Disfunção hormonal
DISMORFIA Genética
Sotos Prader-Willi Metabólica Kleine-Levin DISFUNÇÃO HIPOTALÂMICASÍNDROME DE SOTOS
Esporádico/ AD
Gene NSD1 (mutação ou delecção)
4 critérios major:
Macrossomia com idade óssea aumentada
Macrocefalia
Características faciais típicas
SÍNDROME DE SOTOS
Macrocrânia
Dolicocefalia
Alterações estruturais cerebrais características Fronte proeminente Hipertelorismo Palato alto Macrossomia fetal Crescimento “excessivo” na infância Atraso de desenvolvimento psicomotor
Atraso linguagem expressiva
Características observadas em 80-100% das crianças
Características observadas em 60-80% das crianças
Idade óssea avançada
Erupção dentária precoce
Dificuldades na motricidade fina Fendas palpebrais orientação
anti-mogólica
Mento proeminente QI >70
Dificuldades de aprendizagem
Infecções respiratórias de repetição Alteração do comportamento
(ansiedade, fobias, perturbação do sono, irritabilidade, estereotipias, hiperactividade)
SÍNDROME DE SOTOS
Icterícia neonatal Dificuldades alimentares Hiperlaxidão ligamentar Hipersalivação Nistagmo, estrabismo Disfunção autonómica(hipersudorese, flushing, dificuldade controlo temperatura) Convulsões Obstipação Escoliose Características observadas em <50% das crianças Características observadas ocasionalmente Anomalias cardíacas Intolerância à glicose Disfunção tiroideia Hemihipertrofia Neoplasias Estudo genético NSD1 – Cr 5q35
(Leids Universitair Medisch Centrum – Leiden – Holanda)
6 - 7 anos
Disfunção Autonómica • Estrabismo
• Obstipação • Refluxo GE
Agravamento da disfunção Hipotalâmica
• Agressividade e perturbação do comportamento • Perda do ritmo circadiano do sono
8 anos
• Agravamento da letargia
• Sem resposta a aumento de dose de metilfenidato • Intolerância progressiva ao esforço
Episódio de febre e expectoração rosada
Pneumonia hipoxemiante grave
• Má adaptação à ventilação não invasiva • Resolução da pneumonia mantendo hipercápnia grave (PCO2 > 100 mmHg) e hipoxémia
Hipoventilação central crónica
Hipertensão pulmonar secundária
Melhoria com ventilação nocturna por traqueostomia Obesidade + Disfunção Hipotalâmica + Hipoventilação Central Síndrome ROHHAD
• Síndrome de hipoventilação central congénita (mutação PHOX2B)
• Síndrome de hipoventilação central de início tardio, com disfunção hipotalâmica (1965)
Síndrome ROHHAD (Rapid-onset Obesity with Hypothalamic
dysfunction, Hypoventilation and Autonomic Dysregulation)
•Associação com tumores com origem na crista neural • Não foram encontradas mutações PHOX2B, TRKB, BDNF
• Manifestações clínicas (15/23 crianças)
• Desenvolvimento adequado 2-4A
• Obesidade início rápido na 1ª década (média 3A) • Disfunção hipotalâmica
• Desregulação autonómica (média 3,6A) • Hipoventilação central (média 6,2A)
• Monitorizar ventilação cada 3-6M
• Genética?
Doença monogénica?
• Constelação de sintomas consistentes e previsíveis • Recorrência familiar
• Gene candidato? PHOX2B (mutações não encontradas) • Gémeos monozigóticos discordantes
• Variação epigenética? Genes modificadores?
• Susceptibilidade genética + factor desencadeante?
• Paraneoplásica?
Tumores da crista neural presentes em 30-40% dos doentes
• Auto-imune?
Bons resultados com Rituximab e Ciclofosfamida
S
ÍNDROMEROHHAD
Prognóstico reservado
• Hipoventilação central progressiva
• Bradicárdia progressiva, por vezes com necessidade de colocação de pacemaker
S
ÍNDROMEROHHAD
DiscussãoPapel fundamental da abordagem multidisciplinar,
coordenada por um Pediatra Geral, para o diagnóstico e seguimento de síndromes raras, com manifestações clínicas muito diversas e complexas.
Importância de voltar a discutir e apresentar casos clínicos com novas hipóteses de diagnóstico.